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1.1.2. Cultura, memória e as escolhas do artista
E assim essa área se ilumina novamente (JUNG, 2008: 36-37).
A memória também tem um papel importante na construção da personalidade do indivíduo, na afirmação de sua identidade. As interações de cada indivíduo com seu ambiente são únicas e geram respostas individuais, mesmo que coletivamente possamos perceber comportamentos similares entre pessoas diferentes. A bagagem que cada indivíduo carrega é exclusiva dele, e isso faz com que esse indivíduo se diferencie dos demais.
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(...) A memória nos permite ter uma identidade pessoal: faz o vínculo entre toda a sucessão de eus que existem desde a nossa concepção até o momento presente. (YVES; TADIÉ apud SALLES, 2008: 83).
1.1.2. Cultura, memória e as escolhas do artista
A cultura pode ser vista como um espaço de elaboração e transmissão de conhecimentos, funcionando como uma memória coletiva. (SALLES, 2008: 66). Um aspecto fundamental dessa memória, que é analisado por Jerusa Pires Ferreira em Cultura é Memória, a respeito de estudos sobre Iuri Lotman, é que essa memória coletiva só existe se compartilhada, transmitida; como não é uma herança biologicamente hereditária, depende de comunicação: se não transmitida, tem sua longevidade comprometida (FERREIRA, 1994: 117-118).
Considerando-se que todo fenômeno de cultura só funciona culturalmente porque também é fenômeno de comunicação, e considerando-se que esses fenômenos só comunicam porque se estruturam como linguagem, pode-se concluir que todo e qualquer fato cultural, toda e qualquer prática ou atividade social constituem-se como práticas significantes, isto é, práticas de produção de linguagem e de sentido (SANTAELLA, 2005: 12).
Eu-Rascunho
41 O próprio desenvolvimento da técnica sobre uma materialidade pressupõe o desenvolvimento anterior de uma tecnologia, que surgiu como necessidade de um indivíduo (ou um grupo) inserido no seu tempo e espaço, em seu contexto social. Então, como afirma Ostrower, “a simples existência de uma matéria usada pelo homem diz respeito a todo um conjunto de fatores sociais” (OSTROWER, 2008: 40). Ou seja, as opções do artista pela materialidade também dependem de sua cultura; dependem, em alguns casos, de uma memória transmitida de geração a geração através do ensino de uma determinada técnica.
(...) Cultura: são as formas materiais e espirituais com que os indivíduos de um grupo atuam e se comunicam e cuja experiência coletiva pode ser transmitida através de vias simbólicas para as gerações seguintes (OSTROWER, 2008: 13).
Tratando da fotografia, Fontcuberta (2010: 54) nos aponta como o uso de uma tecnologia pode deixar rastros na obra: sendo a tecnologia usada na produção fotográfica fruto de um saber acumulado, o seu uso (“memória aplicada”) deixará na obra inúmeros rastros (“unidades de memória”).
Como já foi dito anteriormente, o artista faz suas escolhas de acordo com a bagagem de conhecimentos que carrega. Não se pode, então, pensar nas escolhas de um artista como aleatórias. As escolhas provêm de descobertas que surgem do seu trabalho, pesquisa e vivências; geram no artista a necessidade de busca, busca essa que vai determinar como o artista trabalha sobre a materialidade para expressar suas inquietudes. A busca pela melhor forma de se expressar pressupõe um objetivo, e a partir do objetivo, podemos falar em intencionalidade.
O gesto criador está sendo apresentado como um movimento com tendência. Tendência esta que age como um rumo vago que direciona o processo de construção das obras. O artista, impulsionado a vencer o desafio, sai em busca da satisfação de sua necessidade. Ele é seduzido