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2.4. Autorretrato e Performance

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BIBLIOGRAFIA

BIBLIOGRAFIA

nada), de um ser em aparência fotografado. (SOULAGES, 2010: 23).

2.4. Autorretrato e Performance

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Etimologicamente relacionado com um “dar forma”, do latim “performare”, a palavra tem hoje um sentido mais abrangente (...). Foi associado às artes cênicas, como o teatro e a dança, apesar de etimologicamente não estar associado à ideia de espetáculo. O fato de este conceito estar sobretudo associado à ideia de encenação/ desempenho de papéis, aproxima-o hoje de outras técnicas artísticas e de outras linguagens, como a fotografia. O corte produzido pelos enquadramentos e montagens, a modificação que a luz introduz na forma dos objetos, a intervenção a nível das escalas e, sobretudo, a possibilidade de construir cenários como se de instantes da vida se tratasse, vieram mostrar como a fotografia é, também, um dispositivo propício à reinvenção de papéis. (MEDEIROS, 2000: 113).

Medeiros (2000) nos traz a ideia de que a performatividade da fotografia está voltada à construção de uma imagem de si pensada na presença virtual do outro/ espectador (p. 115), o que nos leva de volta à questão do discurso poético elaborado para um destinatário intrapsíquico, ao menos inicialmente, o que já foi mencionado no primeiro capítulo. A autora fala dessa antecipação quanto à possibilidade de interpretação do outro como um jogo, uma ideia alucinatória, havendo a necessidade de buscar no Outro uma “autorreferência estável”, e conclui:

Daí a flutuação pela auto-representação obsessiva, o centramento na imagem do corpo, a ideia de (se) representar, de exposição permanente de si, de exterioridade absoluta, que caracteriza a arte contemporânea com especial incidência na fotografia. Francesca Woodman10 é um bom

10 Francesca Woodman (1958-1981), fotógrafa norte-americana, começou a fotografar com cerca de 13 anos e, apesar de sua vida breve (deprimida, cometeu suicídio aos 23 anos), teve uma produção fotográfica bastante extensa, composta em grande parte por autorretratos e retratos femininos.

exemplo disso (MEDEIROS, 2000: 115).

FIGURA 26. Untitled. Francesca Woodman, 1978.

FIGURA 27. Da série Some Desorded Interior Geometries. Francesca Woodman, 1980-1981.

FIGURA 28. Francesca Woodman´s Notebook. Francesca Woodman, ano desconhecido.

Para Medeiros (2000), o caráter performativo da fotografia também é ampliado quando se constroem narrativas a partir de sequências de imagens, sendo um exemplo disso o trabalho de Duane Michaels (p. 116). Essa abordagem que a autora faz parece ser uma aproximação com a performance dos espetáculos, no sentido de haver aí a possibilidade de atuação de um corpo em movimento (poses variadas num tempo decorrido/ estendido), sendo que a construção de significados se dá na sequência das imagens e não em uma cena estática.

FIGURAS 29 A 34. Série Chance Meeting. Duane Michaels, 1969.

Eu-Rascunho

84 Em minha produção imagética, também existe uma tendência à construção de narrativas a partir de sequências de imagens. Seguem abaixo alguns exemplos.

FIGURA 35. Da Série Ensaio sobre o Abandono. Autoria própria, 2013.

FIGURA 36. Da série Não Siso. Autoria própria, 2011.

Pode ser que exista nesta forma de construção a possibilidade de tentar melhor orientar o espectador no sentido que o artista deseja dar à percepção de sua obra. Por outro lado, isso também pode se dar com o trabalho de edição de um conjunto que não componha uma narrativa linear, mas levem o receptor a um melhor entendimento do conceito do trabalho. Por fim, não podemos esquecer que obras que se apresentam sozinhas também podem dar conta de uma ampla narrativa e significação a partir dos elementos que a compõem e do contexto no qual a obra é inserida, por exemplo.

Medeiros (2000) nos lembra também que pelas possibilidades “miméticas e mecânicas” da fotografia, e por seu caráter performativo, o sujeito, pode, através do autorretrato, “destruir, reconstruir, ficcionar o seu Eu, com a garantia de que a imagem construída comporta consigo um estatuto de discrição quanto ao seu dispositivo falseante” (MEDEIROS, 2000: 117). Esta ‘discrição’ pode estar relacionada à crença (embora cada vez

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