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O PROCESSO CONTINUA

O PROCESSO CONTINUA...

Eu-Rascunho

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115 Este trabalho continua em aberto. Estudar o processo criativo é uma tarefa complexa, talvez infinita, e por isso deve ser continuada, já que, em um ano de estudo, algumas questões foram respondidas mas inúmeras permaneceram em aberto, enquanto tantas outras novas surgiram.

Do meu processo em particular foi muito interessante notar as mudanças de percurso: tanto este trabalho acadêmico, quanto as imagens e os textos poéticos foram alterando parte de sua ‘essência’ de acordo com as mudanças que ocorriam em minha vida pessoal; foi preciso adaptar todos os quereres ao meu tempo particular; alguns quereres deixaram de existir, outros se enriqueceram. E houve muitas dúvidas neste percurso, inclusive se eu conseguiria dar nexo a todas as ideias que eu tinha em mente quanto a este projeto e, diante de fases de enorme ebulição de pensamento e outras em que nada brotava deste solo, certamente o que mais me auxiliou a concretizar esta etapa foram as minhas anotações, porque anotei referências, anotei ideias, anotei esboços de imagens, anotei angústias. E pude revisitar essas páginas muitas vezes para que pudesse ir costurando pouco a pouco o que eu tentava expressar.

Ainda que eu saiba que a construção do projeto tenha se dado às custas de muita busca e de muito trabalho, fico tentada em alguns momentos a acreditar num quê de magia. A cada nova leitura, de repente, uma nova luz: como mágica, parece que exatamente aquilo que eu procurava, eu ia encontrando nas páginas mais inusitadas de livros diversos. E em fases em que eu não conseguia pensar em novas imagens ou não havia produção de textos poéticos, de repente, pronto! Pequenos insights iam surgindo, somando-se, e estava pronto um novo corpo de produção. Mas claro, abordamos neste trabalho que a inspiração não ‘cai do céu’; não cai mesmo. Tudo o que produzi foi fruto das partes que puderam se juntar à medida que a pesquisa ia acontecendo, à medida que a vida ia acontecendo, partes estas que ficavam ali escondidas em algum cantinho da minha memória (mental ou material) e que podiam vir à tona quando

uma espécie de ‘tensão superficial’ permitia que se juntassem numa mesma área e, trabalhadas, dessem origem a mais uma criação.

Pensando na produção fotográfica e particularmente nos autorretratos, fica claro que, independente da motivação com que sejam produzidos, por mim ou por outros artistas, existe uma vontade imensa de deixar-se como rastro no mundo. A fotografia permite que você entre nas casas e mentes das pessoas sem pedir autorização: enquanto pequenos objetos, impressões ou imagens digitais, mesmo que o receptor não as esteja buscando, as imagens podem surgir para ele em uma publicação, na tela de um site na internet, em um pequeno postal, etc. As imagens chegam sorrateiramente e quando o receptor percebe, foi atingido por elas. Sendo autorretratos, são pequenos fragmentos de indivíduos - que existem ou existiram - que chegam à vida do receptor, às vezes para encantá-lo, às vezes para perturbá-lo. Claro, às vezes esse sujeito também passa despercebido.

De qualquer forma, podemos dizer que o fotógrafo, assim como todo artista, tenta deixar no mundo um vestígio de sua passagem que sobreviva à sua própria existência, como os ossos após a morte.

“(...) o esqueleto, a ossatura, é o único resíduo sólido do Eu, a única coisa sustentável do ser a partir do momento em que deixa de respirar, mas ao mesmo tempo, o sinal mais evidente de que isso já aconteceu...” (Medeiros, 2000: 77)

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