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1.1.1. A memória particular do indivíduo
1.1.1. A memória particular do indivíduo
Memória não é um lugar onde as lembranças se fixam e se acumulam. Cada nova impressão impõe modificações ao sistema. Como memória é ação, ou seja, essencialmente plástica, as lembranças são reconstruções: redes de associações, responsáveis pelas lembranças, sofrem mudanças ao longo da vida (SALLES, 2008: 69).
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A memória é nosso arquivo de impressões e experiências; um arquivo formado por elementos conscientes e inconscientes, e podemos pensar no inconsciente como uma forma de economia de energia. Imaginem se todas as informações estivessem presentes conscientemente o tempo todo: certamente chegaríamos à estafa pelo excesso de informações. Então, podemos fazer um paralelo do inconsciente com nossos arquivos de imagens digitais: nós fotógrafos, que trabalhamos com equipamentos digitais, produzimos e armazenamos atualmente uma infinidade de imagens; aqueles arquivos que acessamos o tempo todo, podemos deixar na nossa área de trabalho, para que possam ser encontrados mais facilmente. Os demais arquivos, deixamos em outra pasta, talvez um “HD externo” (não podemos deixar tudo na área de trabalho, nem mesmo no computador, porque sobrecarregam o sistema; a área de trabalho e o computador são o nosso consciente). Para acessar essas informações, é necessário um pouco mais de energia na busca; mas se utilizarmos as palavras-chave corretas, acessamos os arquivos que buscávamos – e ainda outros que podem não ter relação direta com nosso objetivo atual, mas que relacionam-se com a palavra que buscamos, imagens essas que talvez nem soubéssemos mais que existiam, mas que, vindo à tona, podem trazer novas ideias aos nossos projetos. À medida que vamos mudando as nossas necessidades, os arquivos que deixávamos na área de trabalho vão para o HD, e o caminho inverso também se faz. Dessa forma, organizamos as informações para aprimorar nossa capacidade de produção; assim também acontece com a nossa consciência.
Eu-Rascunho
39 Muitas dessas informações, às vezes, precisam ser apagadas para que se criem espaços de renovação. Por isso, o esquecimento, assim como a memória, também é importante. O esquecimento faz parte do mecanismo de otimização da memória.
O esquecimento, segundo pesquisadores desse tema, é enfrentado muitas vezes como algo devastador e irritante; deve ser visto, porém, como necessário para a sobrevivência da nossa memória saturada com excessos de informações. Em outras palavras, precisamos esquecer algumas coisas para lembrar de outras (SALLES, 2008: 73).
Nesse sentido, reforçando a afirmação de Salles, e também reforçando a ideia do inconsciente permitindo a dessaturação de informações do consciente, Jung (2008), em seu livro O Homem e Seus Símbolos, diz:
Este material torna-se inconsciente porque – simplesmente – não há lugar para ele no consciente (...). Esquecer, nesse sentido, é normal e necessário para dar lugar a novas ideias e impressões na nossa consciência. Se tal não acontecesse, toda a nossa experiência permaneceria acima do limiar de consciência e nossas mentes ficariam insuportavelmente atravancadas (JUNG, 2008: 40).
Nesse mesmo livro, Jung afirma que, sendo o esquecimento um processo normal, o que acontece é que, quando há desvio da nossa atenção de um determinado assunto a outro, os pensamentos conscientes perdem a sua energia específica. Assim, “o interesse se desloca, deixa em sombra as coisas com que, anteriormente, nos ocupávamos” (JUNG, 2008: 36), e faz a comparação desse processo com a seguinte imagem: quando nos interessamos por um determinado assunto, iluminamos essa área com um holofote, deixando as outras áreas na escuridão, sempre com flutuações nessa claridade. As ideias não deixaram de existir, apenas ficam num estado subliminar, podendo ser acessadas posteriormente, mesmo quando parecia que essas ideias haviam sido totalmente perdidas.