Vizinhanças Geminadas

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vizinhanças

geminadas MaĂ­ra de Oliveira



A palavra “geminada” deriva do verbo “geminar” que significa “duplicar”, que está disposta em pares. Surge a partir do termo “casa geminada”, tipologia que une duas ou mais casas; em alguns locais é conhecida como “sobrado”. Assim como a casa, que se duplica e triplica, conforme seus arranjamentos, a vizinhança, segundo Enrico Rocha, “pode ser considerada o lugar que você mora, a cadeira do ônibus que você compartilha, a rua que você ocupa em dias de manifestação”



sumário introdução às vizinhanças [p.6] 1. etnografias autobiográficas [p.10] 2. vizinhanças [p.24] 3. a experiência da imagem [p.30] reflexões finais [p.38]


introdução às vizinhanças

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Este trabalho foi um processo que começou no início de 2016, depois de algumas buscas pelo tema de trabalho de conclusão de curso, voltei para o que estava perto de mim mesma todo o tempo (há 24 anos e alguns meses). O tema Vizinhanças Geminadas partiu da minha própria vivência em vilas e casas geminadas no bairro Jaraguá, em Belo Horizonte, em três momentos diferentes da minha vida, além de lugares próximos e um contexto específico no qual morei em Dublin, na Irlanda, que também fizeram parte dessa experiência como um todo. Mas além do assunto que escolhi, o processo de como fazê-lo foi algo mais importante na pesquisa, expandindo o campo para além da arquitetura. A etnografia do meu próprio território, que chamei de autobiográfico, sobre as vilas e geminadas, alcançou aproximações por meio de derivas, visitas, fotografias, vídeos, entrevistas, reflexões e trocas ao longo dos últimos meses.

A questão da imagem foi explorada quase como um modo “aleatório” nos registros fotográficos e audiovisuais, de diferentes tempos e lugares, criando uma atmosfera imaginária e fictícia para o trabalho, sobre um lugar (ou muitos lugares) que existem, re-existem e se misturam. Conheci a complexidade das vizinhanças, desde aquela que existia quando o bairro nasceu na década de 60, até as redes, que aproximam amigos vizinhos de diferentes partes do mundo. Porém, mais do que esses conceitos físicos e invisíveis sobre como nos conectamos um aos outros, existe a memória, a ficção e o imaginário, que revelam infinitos modos de habitar e se relacionar.

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1 etnografias autobiográficas A primeira questão que surgiu na minha cabeça quando decidi que o tema seria sobre vilas e casas geminadas foi Como estudar as vizinhanças? Então resolvi começar a fazer uma aproximação “de dentro” do campo, com as pessoas que faziam parte desse cenário, como o olhar que Magnani explica para uma etnografia urbana (2002). A questão da imersão em campos

já conhecidos e a abertura que o lugar já tem inicialmente facilita bastante o alcance das pessoas e as conexões que podem ser formadas. A prática etnográfica pode ser muito difícil e demorada, mas a partir de um contexto familiar como esse que eu tracei, há mais brechas para compreender diversas relações, já que faz ou ja fez parte de um cotidiano comum ao pesquisador.

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Os resultados, de certo modo imprevisíveis (isso porque eu já estava nesse contexto, então pode parecer que eu já tinha conhecimento de tudo o que se ocorria dentro desse meio) foram parte de um processo experimental, a partir do que eu recebia como retorno dessa busca pela memória, relações, vizinhanças e modos de se viver. Até mesmo por terem ocorridos desdobramentos que eu mesma não havia percebido no início. Então, num primeiro momento optei pelas derivas, num encontro inicial com o bairro, aliada a fotografia que me auxiliou a notar as invisibilidades desconhecidas por mim no bairro em que eu moro. As visitas foram, num segundo momento, uma forma de aproximação mais direta com o outro, onde pude sentar, tomar um café, comer um bolo, conversar, trocar histórias com algumas famílias, até chegar novamente na fotografia, que a partir desse ponto começou a ter outros significados, gerando comparações entre diferentes tempos e lugares, mas sempre de encontro com as relações de vizinhança. A pesquisa voltou-se, então, para a questão da imagem,

onde percebi que não se tratava apenas do meu olhar sobre toda a narrativa, mas era necessário que fosse algo polifônico e em movimento, de lugares e tempos diversos. O audiovisual entrou como uma maneira também de registrar e montar um documentário a partir de entrevistas filmadas com alguns moradores e ex-moradores de diversas vilas e casas geminadas. Inspirada em alguns filmes, como o Edifício Master, de Coutinho, e Um lugar ao sol, de Gabriel Mascaró, construí uma narrativa a partir de histórias de diferentes lugares que tinham pontos comuns (a relação com o vizinho, as mudanças ao longo do tempo, as vantagens de se morar numa geminada, as questões negativas e a privacidade, as histórias de amizade, o confronto com o morar vertical, como o espaço físico interfere nessas aproximações, etc).

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Mais do que apenas fazer esse registro já pretendia-se fazer um encontro, que chamei de troca, onde as pessoas veriam o filme, tanto as que participaram diretamente quanto outras que estavam ou não envolvidas com os lugares da pesquisa. Escolhemos um lugar para projetar o filme, no pátio que existe entre blocos de casas geminadas, na região onde moro; um espaço que criasse também uma oportunidade para conversas e reencontros, entre moradores atuais, ex-moradores e pessoas que sentiram vontade de estar ali.

Para chamar os 33 moradores, fiz um jornalzinho, onde havia um história quase fictícia, onde se misturavam fotos e acontecimentos de lugares e tempos diferentes, que causou nostalgia em algumas pessoas, mas também causou estranhamento por ser tão distante do imaginário de alguns leitores. No verso do jornalzinho escolhi 9 maneiras de se fazer novas vizinhanças, em tempos tão rápidos e fluidos, que poderia ser um jeito de cooperação e autogestão entre vizinhos, sendo uma delas em branco para que eles completassem. As dicas foram inspiradas por histórias reais durante o trabalho, minhas vivências pessoais e uma pesquisa da Politécnico de Milão sobre comunidades sustentáveis (Creative Communities).

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No dia 19 de novembro fizemos então a exibição do documentário na parede do pátio da vila, onde os moradores e outras pessoas que compareceram levaram comidas, bebidas e seus banquinhos. Uma série de fotos também ficaram expostas de forma aleatória, no que diz respeito ao lugar e ao tempo de seu registro, criando pontes entre narrativas que existiam em cada uma delas. Houve certa dificuldade de se criar uma espécie de discussão naquele momento, mas pude conversar com pequenos grupos sobre questões que me intrigavam pós filme, que vou falar mais a frente, na parte das reflexões finais desse livreto. A troca foi uma a experiência oposta ao que experienciei anteriormente, uma oportunidade que criei para que houvesse algum tipo de reação aos pontos que estavam se ligando. Primeiro, como uma forma de interferência indireta onde levo um história inventada, algumas fotos misturas e pequenas propostas reais para a vizinhança. E, depois, o momento de ver, ser visto e ver o outro, onde muitas vezes há identificação ou estranhamento, experienciado

no dia do filme assistido na vila. O cruzamento das histórias e fotografias criou uma permuta sobre os modos de se viver em vizinhanças de vilas e geminadas. Mas apesar de não ter acontecido nenhuma interferência direta no(s) lugar(es), a minha presença, de certa maneira, enquanto etnógrafa ou pesquisadora, movimenta e quebra a dinâmica cotidiana. Algo curioso (e inesperado) que ocorreu durante os meses da pesquisa foi uma festa junina organizada pelos moradores, que não acontecia há muitos anos. Ao longo desse percurso percebi, então, que a imagem tem um poder transformador e criador de imaginários, situações e até de acontecimentos através da memória e da nostalgia.

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fotografias

visitas

Registros da vida cotidiana nos bairros

derivas

Geminadas Jaraguá Vila Militar Geminadas Dona Clara

Jaraguá Dona Clara Vila Rica Aeroporto

Casas geminadas Vilas

junho

festa junina Vila Dona Clara

maio

julho

álbuns de família através das visitas

Vila Dona Clara

Vila Rica

visitas

fotografias

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video

fotografias entrevistas Registros de casas geminadas em Dublin

Rosângela e Helcio Ex-moradores Vila Dona Clara

Fotografias de álbuns de família

Eliane Geminadas Jaraguá

agosto

Edição das entrevistas para documentário

outubro setembro

novembro Fatima e Paulo Vila Dona Clara

Joana e Carlinhos Vila Dona Clara

Damaris e Julia Vila Dona Clara

Alzira Ex-moradora Vila Militar Marta Geminadas Jaraguá

entrevistas

entrevistas

Entrega de jornais e convite para o filme Exibição do documentário na Vila Dona Clara

troca

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2 vizinhanças

A questão das vizinhanças foi algo que guiou a pesquisa e de várias reflexões ao longo do processo. Um texto que li há muito tempo, nos primeiros períodos da graduação, e que me deixou curiosa sobre a relação entre a arquitetura e os corpos, a cidade, as relações próximas e cada vez mais distantes foi “As grandes cidades e a vida no

espirito”, de Simmel. E relendo este escrito identifiquei muitas reflexões com a pesquisa das Vizinhanças Geminadas, ainda que o texto tenha sido escrito há tantas décadas. E, ainda, pela maneira como podemos entender a arquitetura e tantos outros campos, que ultrapassam apenas o que se está construído e visível.

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A cidade grande, explicada por Simmel, é um pouco do que vivemos, e cada vez mais aumentada em número de pessoas e conexões, mas também é o lugar da rapidez, da fluidez das relações. “Na medida em que a cidade grande cria precisamente condições psicológicas - a cada saída a rua com velocidade e as variedades da vida econômica, profissional e social - , ela propicia, ja nos fundamentos sensíveis da vida anímica, quantum da consciência que ela nos exige em virtude de nossa organização enquanto seres que operam distinções, uma oposição profunda com relação a cidade pequena e a vida no campo, com ritmo mais lento e mais habitual, que corre mais uniformemente de sua imagem sensível-espiritual de vida”. Percebo a diferença da cidade grande e da cidade pequena, falada muitas vezes por Simmel, como algo proporcional ao ritmo que temos hoje, sobre a distância entre um e outro (não a

distancia física, mas sim o quanto conseguimos aprofundar tais relações). “Em parte por conta dessa situação psicológica, em parte em virtude do direito a desconfiança que temos perante os elementos da vida na cidade grande, que passam por nós em um contato fugaz, somos coagidos aquela reserva, em virtude da qual mal conhecemos os vizinhos que temos por muitos anos e que nos faz frequentemente parecer, ao habitante da cidade pequena, como frios e sem animo” Afinal, o viver cada vez mais próximo, como num apartamento cercado por vizinhos em todos os lados, não quer dizer que seja fácil acessá-los, ou de estabelecer relações, por menor que sejam. A casa geminada ou a vila aparece então como esse resquício do que temos da cidade pequena, onde o espaço construído “horizontal” dá essa oportunidade (o que não quer dizer que todos vão praticála).

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3 a experiência da imagem A imagem, fotográfica e audiovisual, representa nesta pesquisa um ponto de partida para imaginários, práticas e outros desdobramentos, a partir de narrativas poéticas, entre o real e o fictício, que se misturam de forma a tecer caminhos infinitos. Através de imagens, o observador pode se identificar diretamente ou indiretamente por referências de lugares ou tempos que a ela pode despertar, como uma ferramenta de reflexão do próprio espaço, do habitável, do não habitável, do que ja foi, das relações atuais e do que pode ser em tempos

futuros. A aproximação da arquitetura e das relações sociais foi apontada na imagem retratada pelos próprios moradores em seus álbuns de família por visões variadas externas e pelo meu olhar como pesquisadora. Olhar para o próprio espaço, para as próprias relações, gerou um momento suspenso, de voltar não só a passados e modos de habitar, mas pensar sobre o tempo e a liquidez das relações atuais, que vivenciamos no nosso espaço individual e compartilhado, até mesmo na cidade.

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Durante o processo do trabalho, entre amigos e colaboradores, descobri algo chamado “Nãofoto” (“nãofoto” ou “não foto”) explicada por Henrique Cacique1, que define o processo como um modo alternativo para registrar imagens, um registro por meio da palavra escrita de um estímulo visual, real ou imaginário. Pode ser

um pensamento, uma história ou interpretação de fatos manifestos em narrativas poéticas. A partir disso, percebi como o movimento criado pelas fotografias que colecionei durante a pesquisa, seja pelos álbuns de família ou por registros variados pessoais, puderam criar narrativas infinitas sobre tempos e lugares entrelaçados. Tais imagens passaram a ter uma potência maior do que individualmente, onde criam e re-criam paisagens, situações, estímulos e imaginários. Poderia ser esse então um meio (ou o inverso) de criar não-fotos?

1         Henrique Cacique Ministrou uma oficina realizada durante a segunda edição do Manifesto - Comunicação e Artes, realizado na PUC Minas São Gabriel nos dias 16 e 17 de maio, 2016. Algumas informações podem ser encontradas em www.verdelabsg. com/2016/05/laboratorio-de-fotografia-lab-sg. html

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Um dos trabalho que me inspirou nessa questão foi o “Movimentos Imagem”, da Priscila Musa. Do mesmo modo, em sua pesquisa, ela cruzou diferentes espaços e tempos e percebeu a potência que a imagem atinge entre diferentes mundos sensíveis e imaginários diversos sobre a vida e a cidade. “Não nos dizem de um lugar comum, mas de muitos lugares. E pode desconstruir os lugares e as visibilidades socialmente estabelecidas, inclusive essas de fotógrafa, fotografado e espectador.” (…) “movimentam afetos, sensibilizam os olhares e as câmeras, produzem imagens que vão afetar outros imaginários. A fotografia, o vídeo em relação com, entre, defronte, de dentro de movimentos, grupos, coletivos e sujeitos outros por vezes radicalmente outros. E pensar como um mundo pode ressoar no outro sendo que muitas vezes pode não haver equivalência comum entre eles.”

Na tese “Olhares Sobre a Arquitetura, Arquiteturas do Olhar”, Junia Mortimer fala sobre uma força de coesão e da sua potencialidade de movimentar estruturas teóricas que se conhecem sobre fotografia e arquitetura. “Essa agitação promove o aparecimento de outros modos de se relacionar com o real, que não são necessariamente novas abordagens fotográficas ou arquitetônicas, mas que compreendem práticas de construção – no sentido de representação ou de edificação do ambiente construído – que ficaram marginalizadas, esquecidas ou recalcadas por determinadas tradições dominantes.” E nesse ponto identifiquei semelhanças com o poder transformador do movimento da imagem fotográfica ou audiovisual, assim como a memória de lugares, que está diretamente ligada ao modo como nos relacionamos com o espaço arquitetônico e com as pessoas que ocupam os mesmos.

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“Essas práticas tendem a explorar, em diferentes níveis, a sensibilidade espacial do sujeito, buscando ativar as várias dimensões sensórias da experiência do corpo no espaço. Assim, por meio do caminho aberto por essas agitações, aquilo que deveria ter permanecido esquecido ou sepultado retorna ao real em novas formas, gerando estranhamentos em estruturas teóricas estáveis e familiares ao imaginário social.”

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Além dos álbuns de família que colecionei durante a pesquisa serem um simples registro, ao revisitar esse passado muitos anos depois com um olhar diferente, a fotografia funciona como uma ferramenta de acesso ao inconsciente espacial (a partir de teorias de Walter Benjamin e depois por Anthny Vidler, segundo Junia). “Ao trazer à tona o inconsciente visual, isto é, ao representar o espaço informado pelo inconsciente humano, o processo fotográfico – como o psicanalítico, ao qual Benjamin se refere – promove a emersão na superfície da imagem de aspectos esquecidos ou refutados dentro de uma cultura visual informada pelo consciente humano (…) Ao “ver” o inconsciente espacial na fotografia, queremos indagar sobre o espaço, seus processos de formação, suas dinâmicas que lhe fazem ser como ele aparece na fotografia. Dando a ver, assim, também novas possibilidades de se relacionar com o espaço que nos cerca.”

A experiência da imagem ocorreu desde o momento inicial, quando comecei a “reviver” os álbuns de fotografia com as famílias, associados às derivas do bairro, meu próprio olhar e às vivências da pesquisa, até o momento de troca, onde criei movimento entre lugares e tempos diversos. Representando, então, um processo de entender a arquitetura além do espaço construído, com desdobramentos sobre o que a imagem pode ser, criar e re-criar, sendo infinitas as possibilidades entre corpo e espaço, habitação e cidade, público e privado.

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reflexões finais

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tem, então, essa potência, como também pode ter o que chamo de estranhamento, um certo incômodo por um sentimento oposto ao da nostalgia, de nãoreconhecimento, assim como algo novo. Este não é um lugar que queremos estar, mas nos obriga a ver, pensar e reagir. A reação vai para dois lados: um onde há o descarte ou a recuso do que está colocado, o outro parte para uma reflexão sobre o que não é confortável naquele momento, o que pode se tornar algo mobilizador ou potencializador.

A palavra nostalgia tem a sua origem no grego “nostos”, que significa ‘volta para casa’, acrescido ao vocábulo “algos”, que por sua vez significa ‘dor’. Na Grécia Antiga, a palavra designava a dor que atingia aqueles que realizavam longas viagens. Essa “experiência” pode acontecer de variadas formas, através do contato com uma fotografia antiga, onde lugares que se modificaram ou de pessoas que não estão próximas, e permite uma viagem, assim como na origem grega; uma volta em lugares que queremos ir e voltar, como um lar aconchegante. A imagem

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O ponto que chamei de troca foi onde compartilhei um jornalzinho com moradores de um dos lugares da pesquisa, a partir de uma pequena história fictícia, algumas dicas para novas vizinhanças e um convite para assistirmos juntos ao documentário que produzi, num encontro no pátio da vila. A experiência de assistir ao filme no local foi interessante por diversos aspectos: pela presença de todas as pessoas que participaram das entrevistas (e suas reações em “se ver”), outras que se sentiram identificadas com tema por algum motivo, seja por fazerem parte daquele contexto em certa época, ou por sentirem curiosidade pelo tema, ja que vivenciaram realidades diferentes e tiveram certo “estranhamento”. Das 33 famílias, onde fui pessoalmente entregar o jornal e o convite, apenas cinco casas compareceram, dentre elas estavam duas famílias mais antigas diretamente envolvidas com o trabalho. A ausência de tantas pessoas talvez reflita o cenário que existe no lugar atualmente, onde não há vontade de aproximação, relações mais íntimas com quem

mora ao lado. Algo curioso foi o fato de duas ou três pessoas que chegaram apenas na janela de suas casas, ouviram, observaram (e até bateram palmas) mas não quiserem ir até o local do filme em si, onde se encontravam cerca de 35 pessoas. Alguns moradores falaram sobre as diferenças que existem hoje, das pessoas que moram há pouco tempo na vila e como muitos deles se sentem distantes desse passado sobre o qual muitos falam. Como alguns disseram, “é um ato falho dizer que ‘era muito bom..’, ‘éramos muito bons vizinhos’”. E será que não pode ser agora? O mesmo espaço existe desde 1988, salvo por pequenas modificações na fachada, mas nosso modo de se relacionar é diferente, por vários motivos sociológicos e contextos específicos que vivemos.

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A arquitetura, que cresce na horizontal, lado a lado, entorno de um lugar comum, pode sim criar situações interessantes, unir famílias, criar amizades, propiciar trocas cotidianas e conhecimentos diários. Mas existem tantos fatores entre o que é construído e o que é real, vivo, mutável, que não depende apenas de um único fator que defina esse contexto. A imagem, seja ela video documental ou fotográfica, desperta diversos comportamentos, dentre eles a nostalgia, como um mecanismo saudoso que podemos desencadear, por relacionar passados diversos, presente e futuro. Mas também provoca estranhamento, no sentido real de se sentir diferente ao que está sendo visto ou de criar imaginários quase fictícios de uma não realidade. Esse último, por meio de referências que temos do mundo que vivemos, assistimos em filmes, sonhamos ou imaginamos, pode levar quase a estimular a criar situações diferentes do que estamos costumados a viver e quase doutrinados a fazer e refazer cotidianamente.

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imagens capa e contra-capa: foto da autora, 2016. p.3 - p.4: foto da autora, 2016. p.6: “Renewing Durndale”. p.8 - p.9: foto de álbum de família cedido por Michelle Darc, 2016. p.10: foto da autora, 2016 p.12 - p.13: foto da autora, 2016. p.15: Jornal Jaraguá em Foco [ano VII, ed 75, julho de 2015]; foto de álbum de família cedida por Maria de Fátima Cotta. p.16: foto de Maria Clara Machado, 2016 p.20 - p.21: foto da autora, 2016 p.22: foto cedida pela comunicação social da aeronáutica, 2016; p. 23: foto de álbum de família cedido por Michelle Darc, 2016; “Renewing Durndale” p.24: Jornal Jaraguá em Foco [ano VII, ed 75, julho de 2015]. p.26 - p.27: “Renewing Durndale”; foto de álbum de família cedido por Michelle Darc, 2016; Jornal Jaraguá em Foco [ano VII, ed 75, julho de 2015]. p.28 - p.29: “Renewing Durndale”. p.30 - p.31: foto de álbum de família cedido por Michelle Darc, 2016. p.33: foto da autora, 2014 - 2016. p.35: foto de álbum de família cedida por Maria de Fátima Cotta, 2016; Jornal Jaraguá em Foco [ano VII, ed 75, julho de 2015]; foto de álbum de família cedido por Michelle Darc, 2016. p.36: foto de álbum de família cedido por Michelle Darc, 2016; foto de álbum de família cedida por Maria de Fátima Cotta, 2016. p.37: Jornal Jaraguá em Foco [ano VII, ed 75, julho de 2015]. p.38 - p.39: foto da autora, 2014. p.41: “Renewing Durndale”. p.42: foto de álbum de família cedido por Michelle Darc, 2016; “Renewing Durndale”. p.43: foto de álbum de família cedido por Michelle Darc, 2016.


bibliografia Creative Communities: People inventing sustainable ways of living. Edited by Anna Meroni. Edizioni Poli Design, 2007. EDIFICIO Master. Eduardo Coutinho. Brasil, 2002. 110 min. Lab SG apresenta: NÃO FOTO [www.verdelabsg.com/2016/05/ laboratorio-de-fotografia-lab-sg.html] acessado em novembro de 2016. MAGNANI, José Guilherme Cantor. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais, Fevereiro, V. 15 N. 49. Ampocs ,Brasil, p1129, 2002 MORTIMER, Junia Cambraia; HUCHET, Stéphane. Olhares sobre a arquitetura, arquiteturas do olhar : uma outra abordagem para o imaginário fotográfico contemporâneo do espaço construído. 2015. 2 v., enc. Tese (doutorado) -

Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Arquitetura. MUSA, Priscila Mesquita; MARQUEZ, Renata Moreira. Movimentos imagem. 2015. 298 p., enc. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Arquitetura. Renewing Durndale: problems and Potencial. [https://issuu. com/raydinh/docs/renewing_darndale__problems_and_ potential/39] Acessado em setembro de 2016. SIMMEL, Georg. As grandes cidades e a vida do espírito (1903). Mana, Rio de Janeiro , v. 11, n. 2, Oct. 2005, p. 577591 UM LUGAR ao sol. Gabriel Mascáro. Argentina, 2009. 66 min.


Este livreto faz parte do Trabalho de ConclusĂŁo de Curso do curso de Arquitetura e Urbanismo de MaĂ­ra de Oliveira orientado por Frederico Canuto Escola de Arquitetura Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2016




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