Entrevista
Ministro Marco Aurélio fala sobre o julgamento do mensalão, um dos mais empolgantes episódio jurídico recente do país, que ocupou as manchetes e as atenções de boa parte dos brasileiros.
+Cristão Ano 01 – Nº 00 | Dezembro / Janeiro 2013 | www.facebook.com/revistamaiscristao | Editora Millibros
Novos Ares trazem credibilidade a setores da sociedade antes desacreditados, esperança de cura de doenças e exemplo de fé para os cristãos.
Sudeste Asiático: a nova Macêdonia brasileira Fé que move turistas: Mais de 8 milhões de pessoas viajam embalados pelo turismo religioso Alcançando vidas pelas Redes Sociais: Cristãos descobrem nas redes sociais um terreno fértil para semear a Palavra de Deus
EDITORIAL
por Jairo Cesar Editor
A Revista +Cristão é uma publicação da Millibros Editora.
Novos Ares Contatos 61 9309-8998 redacao@revistamaiscristao.com jerrygaspar@revistamaiscristao.com
Diretor-Editor Jairo Cesar Diretor Executivo Jerry Gaspar Diretor Comercial David Malafaia Jornalista Mércia Maciel Diretor de Arte / Projeto Gráfico / Diagramação Thimóteo Soares Colaboradores Hosana Seiffert e Sérgio Seiffert, Eleazar Araújo (Zazo)
Expediente +Crsitão
Revisor Eleazar Araújo (Zazo) Articulistas Daniel Castro, Gilson Bifano, Hosana Seiffert, Jonas Vianna, Junior Sipaúba, Sóstenes Apolos, Wilna Célia e Zazo, o nego. Fotografia Cristiano Carvalho e Thimóteo Soares Impressão Estagraf Distribuição / Periodicidade Gratuita Bimensal Tiragem 10.000 exemplares
Publicidade Jireh Publicidade & Marketing SRTVN QD. 701, Conjunto C, sala 823b CEP 70310-500, Brasília - DF 61 9188-6948 / 61 9652-2321 Contato: David Malafaia e-mail: davidmalafaia@revistamaiscristao.com
A
pós um longo período de seca, uma das maiores expectativas dos moradores de Brasília é experimentar a pureza do ar que vem com as primeiras chuvas. A sensação é semelhante aos que, após anos de ditadura, corrupção, desmandos e outros vícios de exercício tirano de poder, percebem mudanças significativas na história de sua nação ou de quando alguém que carrega um problema, uma dívida, um longo período de desemprego e fardos pesados diversos, vivencia um momento de cura, perdão e liberdade. Isso é muito bom. Está nascendo um novo veículo de comunicação, fruto de muitas aspirações por algo que possa representar no meio midiático (extremamente assediado pelos diversos interesses corporativos e sectários) uma oportunidade de expressão, discussão de valores, troca de ideias, informações relevantes e inspiração. Essa novidade no ar, de certa forma, é uma exposição ou vitrine das produções e conquistas de uma parcela cada vez mais numerosa da população. Na edição de estreia não há como não comemorar um fato histórico marcante desta geração - o julgamento do mensalão pelo Supremo que renovou a esperança do povo na imparcialidade da justiça e na busca por um governo onde não haja privilégios de uma casta envolvida pelo poder. A verdade é que nunca se viu tanta gente grande ser condenada. Trata-se de algo novo, sem dúvida, que, apesar de não se saber em que vai dar esse inusitado momento vivido pela república, não significa que não deva ser comemorado como algo de novo no ar do Planalto Central. Pode ser que não signifique uma ruptura, uma mudança efetiva de padrões de comportamento ético das autoridades, mas, indubitavelmente, é um marco a ser observado. O que se espera é que o acontecimento ajude a produzir consequências que amadureçam a democracia. A entrevista com o Ministro Marco Aurélio e as reportagens sobre redes sociais, turismo religioso e missões no Sudeste Asiático, nessa edição inaugural, inserem os membros da comunidade cristã como atores no contexto dos temas mais abrangentes da atualidade, pois tratam de comportamento, ocupação, lazer e economia, em que um conteúdo desafiador ajuda a pensar e definir posições diante dos modelos de vida expostos na vitrine social. Os artigos, além de serem uma oportunidade de registrar as ideias e pensamentos de cabeças privilegiadas do meio cristão, permitem a discussão séria de temas importantes do nosso cotidiano. A Revista Mais Cristão chega para informar, encorajar, unir e edificar os cristãos. Comunicar com verdade, isenção e profundidade os fatos ligados ao universo cristão, bem como os temas do mundo contemporâneo relevantes, é nosso objetivo. Será pauta o jornalismo crítico, eventualmente investigativo e o participativo. A intenção é ser um canal de comunicação aberto à diversidade, ao diálogo, a discussões e debates, um espaço de pensamento e reflexão cristã que contribui para ensinar e educar. Será mais uma ferramenta de comunicação para divulgar a cultura cristã e todas as suas variáveis. Que os novos ares sejam apropriados por todos os brasileiros, como um vento a soprar liberdade de expressão, que permita experimentar uma nova atmosfera, sentir novos sabores, viver novas inspirações. A missão da revista de propor um conteúdo adequado à formação de uma vida ética e desafiadora em tempos de contrastes pode ajudar e trazer novos valores a quem deseja ser MAIS CRISTÃO, ou seja, desafiar a vi+ vência dos valores bíblicos – tão atuais e tão pouco vividos.
PREPARE-SE
SUMÁRIO
Pr. Sóstenes Apolos
Palavra Pastoral
Missões
08
Turismo
Fé que move turistas
14
Sudeste Asiático
Hosana Seiffert
18
Política
Daniel Castro
30
Direto e Cidadania
Gilson Bifano
Família e Casamento
Tecnologia
Alcançando vidas pelas Redes Sociais
33
Zazo
10
32 Missões
Sudeste Asiático
36
Conto e Crônica
Jonas Vianna
38
Música
Zazo, o nego
39
Dicas de músicas
Wilna Célia
14
40
Saúde
Junior Sipauba
42
Esporte
Entrevista
Ministro Marcos Aurélio
Capa Novos Ares
20 24
PASTORAL
por Pr. Sóstenes Apolos
Otimista?
Eu? S
e me perguntam se sou otimista, respondo que não. Então sou pessimista? Também não. Então eu sou o quê? Uma pessoa que tem fé em Deus. Parece um preciosismo bobo, mas não é. Eu explico. Se você pergunta a uma pessoa que se diz otimista por que ela acredita que as coisas vão dar certo, ela responde que acredita porque acredita e pronto. Se você não se dá por satisfeito e insiste na pergunta, é provável que ela diga que é por causa da “força do pensamento positivo” ou coisa parecida. E é aí que está a grande diferença entre ser um mero otimista e ser uma pessoa que acredita na ação divina. E há, pelo menos, três fatores importantes aí. O primeiro deles, obviamente, está na crença em que é Deus - e não a “força do pensamento positivo”, o destino ou qualquer fator impessoal - quem vai conduzir as circunstâncias a bom termo. Um exemplo bíblico é aquele do naufrágio em que o apóstolo Paulo se viu envolvido. Ninguém cria que ia sair vivo daquela situação. Ninguém, exceto o apóstolo. E ele deu a razão pela qual cria que não apenas ele, mas todos os participantes da viagem sobreviveriam: “Porque nesta mesma noite o anjo de Deus, de quem eu sou e a quem eu sirvo, esteve comigo, dizendo: Paulo, não temas; importa que sejas apresentado a César, e eis que Deus te deu todos quantos navegam contigo” (At 27.23 a 24). O segundo fator tem a ver com a nossa participação no processo. Sim, porque quem crê no Deus da Bíblia sabe que Ele age em função das atitudes, das ações e das orações daqueles que nEle creem. Então, quando eu digo que alguma coisa vai ter8
+crsitão - dEZEMBRO / Janeiro 2013
Sóstenes Apolos da Silva é agrônomo, teólogo e mestre em informática. É presidente da Assembleia de Deus Plano Piloto, em Brasília, e presidente da Convenção Evangélica das Assembléias de Deus do Distrito Federal. (CEADDIF)
minar bem, é porque eu estou, no mínimo, orando para que aconteça. Isso é extremamente importante. A Bíblia nos revela um Deus que age na Terra em parceria com o ser humano. Ele poderia fazer tudo sozinho, mas prefere contar com a nossa participação. Se queremos que as coisas andem bem, temos de fazer por onde. O terceiro fator tem a ver com a submissão a Deus. Quando eu digo que creio em Deus, estou deixando a porta aberta para Ele agir como quiser. Se Ele e eu trabalharmos juntos, provavelmente vamos conseguir fazer com que as coisas aconteçam do jeito que eu penso ser o melhor. Eu tenho uma razoável sintonia com Ele e, assim, Ele opera em mim “tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade para comigo” (Fp 2.13). Mas pode ser que a sintonia, em alguma situação específica, não esteja lá muito boa, e eu não tenha captado o que seja melhor acontecer dentro daquela situação. Então, Deus não vai fazer o que eu penso ser o melhor, mas sim o que é realmente o melhor. Ele pode fazer melhor do que eu estou pensando. Claro. E pode fazer diferente. E pode até não fazer nada. Ele vê o que eu estou vendo e o que eu não estou vendo. Vê o presente e o futuro. Enfim, não sou eu, com todas as minhas limitações, que vou dizer a Ele o que é melhor. E se as coisas não andaram como eu queria, não é porque eu não fui otimista o suficiente, mas porque Deus quis que fosse de outra maneira, e amém! Uma coisa é certa: enquanto houver gente disposta a trabalhar em parceria com Deus, muitas coisas boas vão acontecer por aqui. Disso eu tenho +absoluta certeza. Porque eu sei que Deus quer assim.
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TURISMO
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+CrISTテグ - dezembro / janeiro 2013
TURISMO
Fé que move
turistas por Mércia Maciel
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erusalém, Cafarnaum, Belém, Jericó. O roteiro até parece pontos-chaves de um estudo bíblico, mas, na verdade, é o destino de muitos cristãos que desembarcam nessas longínquas regiões para conhecer os lugares que foram palcos de relatos bíblicos. As terras por onde Jesus e seus apóstolos passaram são as que mais atraem evangélicos brasileiros de todas as denominações. Embora os católicos prefiram visitar os santuários da Europa, como os de Roma e os da cidade portuguesa de Fátima, também visitam Israel, onde se localizam o Monte das Oliveiras, o Túmulo Vazio, a
Via Dolorosa e muitos outros lugares vinculados à vida terrena de Cristo. O Ministério do Turismo estima que anualmente 8 milhões de pessoas viajem embalados pelo desejo de conhecer lugares bíblicos. Mal desarrumou as malas, o casal Lamércio e Matilde Braga já fazem planos para voltar a Israel. O auditor e a médica aposentados, membros da Igreja Memorial Batista de Brasília, engrossam o grupo de evangélicos que, movidos pela fé, escolhem seus destinos turísticos. Visitar as terras bíblicas é uma mágica viagem ao passado. Para Lamércio, a experiência foi única.
+cRISTÃO - Dezembro / Janeiro 2013
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Foto: Divulgação
“Hoje, a leitura da Bíblia tem outro significado. A compreensão contextualizada e vivencial dos espaços físicos e da realidade da época me aproximou mais ainda da Palavra de Deus. Israel é um lugar enriquecedor”, afirma o aposentado. Para as agências de viagens, esses números são uma bênção. Há vinte anos, a empresa baiana TKR trabalha com turismo voltado para o segmento cristão. Pioneira, a agência oferece roteiros religiosos e profissionais experientes para atuarem, de forma diferenciada, como guias que acompanham os grupos de viajantes. “Hoje, é grande a exigência por guias experientes. Eles fazem cursos de dois a quatro anos e aprendem arqueologia, história de Israel, antiga e contextualizada, e narrativas bíblicas”, explica a diretora comercial da TKR, Kátia Rejane Oliveira. A história da empresária com as viagens cristãs começou quando, aos 21 anos, então líder de jovens de uma igreja batista, foi despertada para profissionalizar o que já fazia de forma amadora – a organização de intercâmbios, caravanas para congressos, eventos e lazer. “Entrei nessa área por chamado, vocação. Era preciso oferecer ao povo cristão um serviço diferenciado e profissional”, relembra. Longe de ser uma peregrinação
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Foto: Divulgação
TURISMO
Vista para o Monte Sinal
mística, andar pelas terras dos patriarcas e profetas bíblicos é uma oportunidade única de crescer em conhecimento histórico, geográfico, arqueológico e cultural dos tempos narrados nos textos sagrados. Guiados por líderes espirituais, os viajantes recebem a orientação de estudiosos da Palavra que ministram estudos e momentos de reflexão. É o caso do pastor da Igreja Memorial Batista de Brasília, Josué Mello Salgado. Profundo conhecedor das Escrituras, há dois anos ele tem liderado caravanas de ovelhas sedentas por conhecimento e experiência espiritual. Segundo ele, quando o cristão vivencia a situação geográfica, sua percepção é diferente. “Eu costumo dizer que, em Israel, as pessoas estão sobre as páginas da Bíblia. Uma pregação sobre o conflito entre o profeta Elias e os profetas de Baal tem outro significado quando se está no cenário do episódio, no Monte Carmelo”, ilustra. Ainda segundo o pastor batista, Vista do Monte Carmelo para a cidade de Haifa em Israel depois de navegar
+cRISTÃO - dezembro / janeiro 2013
pelo Mar da Galileia, a leitura bíblica sobre a passagem em que Jesus acalma uma tempestade não será a mesma. “Imediatamente, você se transporta para aquele barco no qual fez um passeio e entende um pouco mais o que os discípulos vivenciaram”, acrescenta. Outros roteiros têm ganhado a atenção dos brasileiros. Nos últimos três anos, o turismo no Egito, na Turquia e na Jordânia teve crescimento em torno de 90%. Estima-se que na Turquia apenas 6% da população seja cristã. No entanto, o território turco abriga importantes marcos do cristianismo, como o túmulo de João, o apóstolo amado, que teria ido ao país cuidar de Maria, após a ascensão de Jesus. Ali também estão as sete igrejas descritas no livro do Apocalipse, nas cidades de Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. As comemorações dos quinhentos anos da reforma protestante, em 2017, já motivam o diretor da operadora de turismo US Travel, de São Paulo, Ubiratan Martins, a escolher os países que foram berço da maior reforma da fé cristã, como principais destinos de sua agência. “O povo cristão no Brasil não conhece sua própria história. Assim, há três anos, resolvemos
Foto: Divulgação
As pirâmides do Egito
aliar o turismo ao ensinamento de nossa história de fé”, afirma. Para isso, Martins não mede esforços. Os guias que acompanham os turistas são professores de teologia de renomadas faculdades do país. “Nossa proposta é didática, pois esses mestres em teologia levam conhecimento de alto nível e proporcionam ao viajante uma experiência sem igual”, resume.
UM PASSEIO COM OS REFORMADORES O roteiro da reforma protestante é imperdível. Em Wittenberg, na Alemanha, o turista conhecerá um pouco da história de Martinho Lutero, com visitas à Catedral onde o monge reformador fixou as 95 Teses com críticas às condutas da Igreja Católica. Lá também se encontra o túmulo do reformador. A viagem prossegue pelas rotas que Lutero, Calvino e Zwinglio fizeram na missão de consolidar o protestantismo, passando pela Suíça e Escócia, onde estão a casa em que viveu John Knox e a igreja onde ele pregou. Já a Inglaterra, país que mais exportou avivalistas cristãos, como John Wesley, é também parada obrigatória. Além de conhecer
os lugares marcantes da história do protestantismo, o visitante desfruta das belezas desses países, com suas aldeias medievais e uma natureza inigualável. “Sem dúvida”, relata Martins, “a beleza do roteiro é uma atração a mais. As regiões interiores da Alemanha e da Suíça, assim como as construções seculares desses países, encantam, pois conservam a cultura e costumes da época”, conclui animado. O Brasil também tem seus destinos religiosos. Segundo o Ministério do Turismo, mais de 370 municípios desenvolvem atividades turísticas relacionadas religião, quase metade deles com calendários de eventos fixos. Desses, 327 têm atrativos para católicos, 96 para evangélicos e 34 para religiões afrodescendentes. As opções evangélicas são, em grande parte, reservadas aos megatemplos, como o da Igreja Mundial do Reino de Deus, que construiu, em Guarulhos (SP), a Cidade de Deus, a qual chega a receber até 150 mil pessoas.
EVANGÉLICOS EM CRUZEIROS LUXUOSOS Pedro, Tiago e João num barquinho... e que tal você num transa-
tlântico? Os cruzeiros marítimos também estão ganhando espaço e se popularizando no meio cristão. Na companhia de pastores, cantores e bandas, os dias a bordo prometem ser inspirativos. “A programação exclusiva agrada quem procura conforto, entretenimento sadio e momentos de reflexão”, garante Toninho Rodrigues, responsável pelo site Cruzeiro Gospel, dedicado a organizar cruzeiros evangélicos. Há cinco anos, a empresa mineira navega pelas águas brasileiras e prepara, para março de 2013, um roteiro incluindo o grupo Logos e preleção do pastor Wander Gomes, da Primeira Igreja Batista do Recreio dos Bandeirantes (RJ). O interesse pelos cruzeiros marítimos tem levado o mercado a criar atrativos e viagens temáticas, chamando a atenção de líderes evangélicos que acabam fechando pacotes com empresas do setor para promover encontros dentro de navios. A Abremar – Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos contabiliza o aquecimento do setor, principalmente entre novembro e maio. Nos últimos dois anos, cerca de 900 mil turistas + embarcaram nessa viagem. +cRISTÃO - Dezembro / Janeiro 2013
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MISSÕES
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Sudeste Asiático
a nova Macedônia brasileira
por Hosana Seiffert Fotos: Sérgio Seiffert
Os sapatos ficam na entrada e se espalham pela escadaria que leva até um grande salão. Lá dentro, dezenas de vietnamitas se reúnem, a maioria deles bem jovens, rapazes e moças que deixaram seu país. Antes do culto, é servida a refeição. Uma comida típica, à base de arroz, frutos do mar e vegetais. São os rolinhos vietnamitas que se comem mergulhando-os em um tipo de molho picante, muito picante. +CRISTÃO - Dezembro / Janeiro 2013
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MISSÕES
A
cena é tão diferente quanto a comida. Afinal, não é comum no Ocidente, jantar entre os bancos da igreja, antes do culto. Para o grupo vietnamita, no entanto, é uma prática normal. A maioria vem de longe e passa o dia no templo. Ali não é apenas a casa de Deus, é a casa deles também. Todos se sentem à vontade. O jantar termina e começa o culto com a mesma alegria percebida durante a refeição. Tudo isso ocorre em um dos onze países do Sudeste Asiático. São onze grandes desafios. Ser cristão em um desses locais é correr risco. O Sudeste Asiático é considerado hoje um dos maiores focos de resistência ao cristianismo no mundo, graças ao islamismo, budismo, animismo e até ao comunismo. E os números impressionam. Hoje, mais de 540 milhões de pessoas vivem no Sudeste Asiático. A maioria concentrada no litoral, em pequenas vilas, em grupos familiares numerosos e predominantemente rurais. Essa, com certeza, é uma das áreas mais interessantes do planeta. Na mesma região é possível encontrar países fortemente desenvolvidos como a Malásia e outros listados entre as menores rendas per capita do mundo, como o Vietnã ou o Camboja.
Se você pensar em uma região onde convivem muitas religiões, pensou no Sudeste asiático. Nenhum dos países é homogêneo quando o assunto é fé. Essa é mais uma das características dessa área, conhecida como “formigueiro humano.” Na maioria dos países predomina o budismo. A região por não ser monoteísta, acaba se tornando bem tolerante na convivência com outras religiões, gerando um verdadeiro caldeirão de culturas e credos: taoísmo, confucionismo, xintoísmo, hinduísmo, animismo e até o cristianismo, protestante ou católico, além de seitas locais. É nessa mesma localidade que se encontram também os maiores países islâmicos do mundo, como a Indonésia. O Islã teve uma rápida expansão a partir do século XV e o processo de islamização foi influenciado por um forte fator comercial. Alguns historiadores acreditam que a Ásia passou não exatamente por uma conversão, mas pela islamização dos costumes locais. Atualmente, um dos grandes debates é a adoção de um estado religioso nos países do Sudeste Asiático, onde devem ser aplicadas as regras da Sharia, que é a lei islâmica. Em uma região de grandes contrastes econômicos, sociais e políticos,
“Países como Malásia e Singapura, conhecidos pelo multiculturalismo e pela diversidade étnica e religiosa, vivem profundos contrastes. De um lado, há uma aparente liberdade religiosa. De outro, líderes mulçumanos utilizam formas legais para oprimir a Igreja.”
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as correntes mulçumanas defendem o islamismo como fator de orientação e unidade social. Países como Malásia e Singapura, conhecidos pelo multiculturalismo e pela diversidade étnica e religiosa, vivem profundos contrastes. De um lado, há uma aparente liberdade religiosa. De outro, líderes mulçumanos utilizam formas legais para oprimir a Igreja. Em vários países, evangelizar é crime contra o Estado e existem fortes restrições ao trabalho missionário. Há casos, por exemplo, de leis que preveem o fechamento de uma igreja se a comunidade ao redor se sentir incomodada. Quem pertence a uma minoria religiosa, como os cristãos, pode sofrer vários tipos de discriminação, principalmente em serviços públicos. “Tudo será dificultado para eles, desde a emissão de um simples documento, como uma certidão de casamento, até a promoção no serviço”, conta um dos missionários brasileiros que trabalha em um país que adotou a lei islâmica na Constituição nacional. Para os convertidos a situação é ainda pior. A intolerância em relação a quem abandona o islamismo começa dentro da própria família. E é nessa conjuntura de Estados centralizados e ditatoriais, com grande intervenção na economia, inúmeros problemas sociais, com exploração de mão de obra barata e um grande esforço para expandir a indústria do turismo, em que a Igreja se insere. Existe nesses países um movimento que tem causado uma grande transformação em praticamente todas as áreas humanas. Um momento importante para que o mundo cristão volte os olhos para o Sudeste asiático. Passem a Macedônia - E foi exatamente esse o pedido de socorro de líderes asiáticos que estiveram no Brasil, oficialmente, pela primeira vez em 2010. A primeira Consulta de Missões para o Sudeste Asiático reuniu igrejas e agências missionárias brasileiras de vários Estados, em São Paulo, para entender um pouco mais sobre as oportunidades de expansão do Reino de Deus nos onze países da região que têm pelo menos 584 povos ainda não alcançados pelo evangelho. As possibilidades de parcerias e plantação de igrejas em países do Sudeste Asiático são inúmeras. Aos poucos, lideranças cristãs brasileiras e asiáticas começam a construir pontes de comunicação e de trabalho. O desafio em países fechados requer o envolvimento ainda maior da Igreja com o sentido integral de missões. O mandato cultural passa pelo cuidado com a criação como um todo: estratégias nas áreas de educação, saúde, desenvolvimento social, sustentabilidade e muitas outras. E o mandato evangelístico, entendido como a proclamação do evangelho, só é possível, em muitos casos, a partir de pontes cultu+ rais de convivência e amizade. +CRISTÃO - Dezembro / Janeiro 2013
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POLÍTICA POLÍTICA
por Hosana Seiffert
Voto e democracia
Hosana Seiffert é jornalista, editora executiva do Jornal do SBT Brasília, professora de Telejornalismo, especialista em Educação a Distância, mestranda em Missiologia pelo CEAM – Centro de Estudos Avançados de Missões. Missionária da AMIDE – Associação Missionária para Difusão do Evangelho.
Afinal, quem tem o poder? Deus ou o povo?
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inco de outubro de 1988. Você lembra o que estava fazendo nesse dia? Provavelmente, não. Afinal, lá se vão 24 anos. Mas basta uma simples procura pelos sites de busca para reavivar a memória, pelo menos, sobre a importância da data. Tudo bem. Vou poupar-lhe esse trabalho. No dia 5/10/88 era promulgada a Constituição Brasileira. A primeira depois da ditadura militar, que se instalou no país em 1964. A amargurada ditadura brasileira abriu espaço para a esperança democrática do voto. Ao longo de todos esses anos, a consciência popular se aperfeiçoou, caminhou para o desenvolvimento, assumiu responsabilidades, lutou por dignidade. A Lei da Ficha Limpa é o grande marco desse processo. A mobilização durou quase dois anos. Uma tarefa hercúlea: conseguir mais de 1,3 milhão de assinaturas em todos os estados brasileiros para apresentar ao Congresso Nacional um projeto de lei de iniciativa popular que impedisse a candidatura de réus em processos judiciais. O trabalho de “formiguinha” deu certo. Em setembro de 2009, foi entregue à Câmara dos Deputados o projeto de lei com mais assinaturas do que o necessário. As eleições de outubro de 2012 entram para a história como o primeiro pleito em que corruptos e criminosos foram impedidos de se eleger. A vitória é do país. Muita gente deixou de se candidatar simplesmente por pensar nas dificuldades que iria enfrentar para provar a ficha limpa. Mas o que ainda se viu foram casos de políticos que, mesmo com a candidatura barrada, entraram com recurso e partiram para
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+CRISTÃO - dezembro / Janeiro 2013
a conquista do voto. E o pior: conseguiram eleitores! O pleito terminou e restou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cerca de 2,6 mil recursos para analisar. Quase mil candidatos tiveram problemas em função da Ficha Limpa. Mais de 3,4 milhões de eleitores votaram em candidatos que concorriam com o registro negado pela Lei e outros problemas, como atraso em pagamento de multas e falta de documentos. Votos que se perdem a cada recurso negado pela Justiça Eleitoral. A pergunta é: o esforço pela aprovação da Ficha Limpa se invalida diante de pessoas ficha suja que insistem em se candidatar? Se invalida diante de eleitores, que a despeito da sujeira da ficha, insistem em votar nesses candidatos? Absolutamente, não. Apocalipse 22.1 dá o recado: “quem é mau, que continue a fazer o mal, e quem é sujo, que continue a se sujar. Quem é bom, continue a fazer o bem...” A Ficha Limpa não nos isenta de continuar convivendo com maus e bons na política. Então, o que será que realmente nos livra de corruptos e criminosos? Relembrar histórias da ditadura nos faz apreciar a democracia. Poder escolher nossos candidatos por meio do voto é um privilégio. Mas lembre-se: a Bíblia não prega a soberania popular. Prega a soberania de Deus. “Não há autoridade que não venha de Deus, e as que existem foram ordenadas por Deus”, é o que diz Romanos 13. Então, política não é um assunto apenas humano. É profundamente espiritual. Quer se livrar de candidatos conta suja? Que tal abrir os olhos para os fatos e depois fechá-los em oração e súplica + por sabedoria para votar nas próximas eleições?
ENTREVISTA
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+CrISTテグ - dezembro / janeiro 2013
Um Judiciário forte e
independente “O Supremo cumpriu apenas o seu dever.” por Mércia Maciel e Jairo Ribeiro Fotos: Cristiano Carvalho
É
o resumo apresentado pelo Ministro Marco Aurélio, ao falar de um dos mais empolgantes episódios recentes da vida do Brasil. O julgamento da Ação Penal nº 470, apelidado pela imprensa brasileira como “mensalão”, que resultou na condenação de figuras ilustres da política nacional, além de em-
presários e integrantes do sistema financeiro, e que ocupou as manchetes e as atenções de boa parte dos brasileiros com a esperança de ver decisões corretas e corajosas na mais alta corte do país. O carioca Marco Aurélio Mendes de Faria Mello, 66, é um dos onze ministros do Supremo Tribunal Federal e Vice-Presidente do Tribunal Superior Eleitoral. É casado, tem quatro filhos e um neto. É conhecido, de forma pejo-
rativa, como “Voto Vencido”, pelo fato de algumas vezes ficar isolado em decisões do tribunal, além de emitir opiniões irônicas e aplicar votos controversos. Nessa entrevista exclusiva à Revista Mais Cristão, o expert em legislação constitucional alfineta: “Não precisamos de leis para alcançar a correção de rumos. Necessitamos, sim, de homens, especialmente homens públicos, que observam as leis em vigor.” +cRISTÃO - Dezembro / Janeiro 2013
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Foto: Divulgação STF
ENTREVISTA ENTREVISTA
+Cristão: Ministro, o julgamento do chamado “Mensalão” é o mais emblemático caso de “crime de colarinho branco” da história do País. O julgamento modificou jurisprudências e enquadrou como ilegais práticas consideradas comuns na vida política, como o caixa dois. Os Ministros não amenizaram o ilícito e mandaram duro recado aos políticos, reprovando essa prática criminosa. O posicionamento firme do Supremo poderá alterar o modo de fazer política no Brasil? Ministro Marco Aurélio: Subsiste a eterna questão: no Brasil, não precisamos de leis para alcançar a correção de rumos. Necessitamos, sim, de homens, especialmente homens públicos, que observem o arcabouço normativo, as leis em vigor. Quanto à Ação Penal nº 470, conhecida, no linguajar popular, como “Mensalão”, realmente revela processo complexo, tendo em conta a multiplicidade de imputações e o número de envolvidos. O Supremo vem-se pronunciando a partir da prova existente no processo. Obviamente, o afastamento da impunidade conduz os cidadãos a estarem mais atentos à ética, a adotarem a postura que se aguarda do homem médio. Revela-se um momento auspicioso na vida nacional. 22
+cRISTÃO - dezembro / janeiro 2013
+Cristão: Oito dos onze Ministros que iniciaram o julgamento foram indicados pelo ex-Presidente Lula e pela Presidente Dilma. Houve quem apostasse na impunidade dos réus. Mas o STF mostrou independência e compromisso com a toga. Esse julgamento fortaleceu a Suprema Corte? Ministro Marco Aurélio: Quando o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou, em conjunto, os três primeiros integrantes – os Ministros Cezar Peluso, Carlos Ayres Britto e Joaquim Barbosa –, noticiou-se que estariam vinculados ao Partido dos Trabalhadores. Disse à época: perceba-se que não se agradece com a toga. A cadeira ocupada é vitalícia justamente para propiciar a mais absoluta independência, não bastasse a circunstância de a missão de julgar, personificando o Estado, ser sublime! Aquele que a implementa deve atuar segundo ciência e consciência possuídas, nada mais, acionando, acima de tudo, a formação humanística conquistada. +Cristão: Até que ponto o julgamento foi técnico e até onde foi político? Ministro Marco Aurélio: O julgamento da Ação Penal nº 470 mostra-se estritamente técnico. O Supremo não está enga-
jado em qualquer política partidária ou governamental. +Cristão: O Senhor proferiu memorável discurso contra a corrupção no último dia do julgamento, antes da dosimetria da pena. Aliás, durante todo o processo, as palavras de Vossa Excelência foram severas contra Partidos que, legitimados nas urnas, possuem apenas um projeto de poder. O Senhor tem esperança de essa prática nefasta ser abolida de vez? Ministro Marco Aurélio: No julgamento envolvendo os políticos, fiz questão de ler parte do discurso proferido em 2006, quando assumi a Presidência do Tribunal Superior Eleitoral. Naquele momento, com desassombro, veiculei que certas práticas se tornaram intoleráveis, tendo em conta o abandono de princípios, a inversão de valores, em que o dito passa pelo não dito e o certo por errado. A abolição total da corrupção, infelizmente, não é possível. Mas, funcionando as instituições – a Polícia, especialmente a Federal, o Ministério Público e o Judiciário –, proporciona-se o aperfeiçoamento no campo cultural. +Cristão: Conforme avaliação de Vossa Excelência, por que o julgamento do chamado “Mensalão”
não teve impacto mais significativo nas eleições municipais? O momento ajudou – uma vez que, nesses pleitos, o interesse do eleitor volta-se para os problemas locais – ou o brasileiro ainda não despertou para a responsabilidade do voto limpo e ético?
implementadas. Em 2002, houve grande progresso nesse campo, quando o Congresso Nacional aprovou a TV Justiça, e pude, no exercício da Presidência da República, em substituição ao titular, Professor Fernando Henrique Cardoso, sancionar a respectiva lei. Há de vingar sempre a transparência.
+Cristão: O julgamento teve a cobertura da imprensa, ao vivo. A Suprema Corte brasileira é a única a abrir as sessões para a sociedade acompanhar os trabalhos. Qual é a importância desse canal aberto com a população?
Ministro Marco Aurélio: Publicidade implica eficiência. Ministro Marco Aurélio: O eleiHoje os cidadãos acompanham o tor, e o voto é obrigatório, não +Cristão: É possível haver alguma dia a dia do Judiciário, têm conpercebe o valor da atuação. In- iniciativa parlamentar no sentido tato maior com o Direito, que, terpretando o próprio voto como de elaborar-se projeto de anistia alfim, rege a vida em sociedade único, considera-o irrelevante. aos condenados. Como o Senhor e, portanto, deve ser conhecido No entanto deveria compreen- avalia essa possibilidade, já venti- por todo integrante, pelo meder que se soma a tantos outros, lada no meio político? nos no tocante às regras básicas. resultando na escolha dos repreAliás, diz-se que Direito é bom sentantes. Precisasenso, e aqueles que des“A abolição total da corrupção, mos enfatizar a cidafrutam deste último predidania, pois o eleitor cado têm noções próprias à infelizmente, não é possível. deve ter presente o vida organizada. coletivo, e não o inMas, funcionando as instituições +Cristão: O Brasil está mudividual. Cada cidadão deve atuar como dando? pessoa política e ide- – a Polícia, especialmente a Federal, ologicamente engaMinistro Marco Aurélio: O jada. Isso não ocorre o Ministério Público e o Judiciário –, aperfeiçoamento é constante. nos dias atuais, mas O saber é uma obra inacabaestamos avançando proporciona-se o aperfeiçoamento da. Avançamos culturalmenaos poucos. Chegará te quando observamos as reno campo cultural.” o momento em que gras jurídicas estabelecidas e, o voto será, porque acima de tudo, atinamos para inerente à cidadania, um di- Ministro Marco Aurélio: A anis- a ética, que nada mais é que a obserreito e não um dever, e o finan- tia é, de início, instituto coletivo. No vância de princípios, de valores caciamento da campanha será es- caso, haveria discrepância se imple- ros à vida gregária. Sem dúvida, em tritamente público, com regras mentada de forma pessoal. Deve-se futuro próximo, teremos um Brasil rígidas. O financiamento misto, aguardar o desdobramento de pos- melhor, cujos cidadãos estarão mais considerado o viés privado, aca- sível título judicial condenatório. conscientizados dos direitos + e deveba saindo caro para a sociedade, res próprios à vida social. pois, quase sempre, existe a co- +Cristão: Como Vossa Excelência brança de uma contrapartida de avalia o trabalho da Procuradoriaquem foi escolhido nas urnas. -Geral da República? Apesar da mão firme, ela poderia ter avança+Cristão: Nesses quase três meses do mais sobre outros nomes que não de julgamento, o Brasil se acostu- apareceram no processo? mou com as formalidades e o vocabulário dos Magistrados. O jul- Ministro Marco Aurélio: Resgamento do chamado “Mensalão” saltei, em voto, a eficiência do aproximou a Suprema Corte da Ministério Público Federal. Já no sociedade, do povo? discurso de 2006, aludi à denúncia relativa à Ação Penal nº 470. Ministro Marco Aurélio: Na ad- Fiz referência ao subscritor, Doutor ministração pública, inclusive no Antonio Fernando Barros e Silva Judiciário, prevalece a publicida- de Souza. Quanto ao envolvimento de. Dessa forma, torna-se possível de outras pessoas, observem que cobrar eficiência, pois os contri- a iniciativa, a titularidade da ação buintes acompanham as práticas penal, é do Ministério Público. +cRISTÃO - Dezembro / Janeiro 2013
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Novos ares trazem credibilidade a setores da sociedade antes desacreditados, esperança de cura de doenças e exemplo de fé para os cristãos.
por Mércia Maciel
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nquanto muitos esperaram o cumprimento das vãs profecias da milenar civilização maia de que o mundo acabaria em 2012, o Brasil viveu, nesse ano, momentos importantes em sua história recente. E novos ares prometem arejar setores da sociedade até então desacreditados. Uma dessas mudanças teve como protagonistas 24
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os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que durante vários meses ocupou o calendário do país, com o histórico julgamento do chamado “mensalão”. O expresidente da Suprema Corte, Carlos Velloso, definiu o momento como de mudanças para a política brasileira. “O julgamento teve um caráter pedagógico. A sociedade quer ética e teve essa resposta do Judiciário”, afirmou. Na avaliação do ex-ministro, o STF honrou sua
tradição de julgar tecnicamente, com serenidade e nas provas dos autos, deixando de lado o clamor das ruas. “Cada vez que um tribunal se afirma como garantista de direitos, com julgamentos imparciais e justos, a sociedade deve regojizar-se”, constatou. Ainda segundo Velloso, a apreciação da Ação Penal mostrou, sobretudo, que as instituições brasileiras estão funcionando. “Temos um Judiciário independente e um
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poder Executivo democrático, que não tentou exercer influências e pressões sobre a Corte. Afinal, os réus eram pessoas ligadas a um governo e partidos que estão no poder. O maior legado desse caso emblemático é a certeza de que a sociedade pode confiar na Justiça brasileira”, finalizou o ministro aposentado, que ocupou uma das cadeiras do Tribunal por 16 anos. Doutora em Direito, Estado e Constituição, pela Universidade
de Brasília, e Mestre em Ciência Política, Soraia Mendes considera a Ação Penal 470 um marco para a Suprema Corte, principalmente pelo seu ineditismo. “O julgamento do mensalão é revestido de simbolismo. Até então, no Brasil, existia um senso de que rico e político não vão para a cadeia. Os crimes cometidos foram graves e envolveram valores fundamentais da República, tão caros para nossa democracia”, afirmou Soraia.
Mais do que novas jurisprudências formadas e históricas práticas políticas condenadas, o julgamento aproximou os magistrados do cidadão comum. Antes distantes, hoje, suas excelências são populares. As transmissões das longas sessões, pelo rádio e televisão, mostraram a rotina da Suprema Corte e transformaram o incompreensível juridiquês em expressões mais palatáveis. A marcante retórica e o tratamento cerimonioso entre os magistrados encantaram o porteiro Carlos Roberto de Oliveira, morador de Ceilândia, que assistiu a quase todas as sessões do julgamento do mensalão – ou, mais respeitosamente, da Ação Penal 470. Ele garante que, em pouco tempo, se acostumou com as expressões e formalidades dos magistrados. “No começo foi complicado, mas a cada sessão comecei a entender o que eles diziam. Como cidadão, acompanhei o julgamento esperançoso em ver nosso país tomar outro rumo. Virei fã do ministro Joaquim Barbosa”, afirmou o antenado Carlos Roberto. A professora aposentada Vannilda Rodrigues, do Sudoeste, também não desligou a televisão. Politizada, ela acompanhou o histórico julgamento, com atenção redobrada. “Já era tempo de vermos um Judiciário independente e forte. O cidadão quer ética acima dos interesses pessoais e partidários e essa é uma cobrança que devemos continuar fazendo a nossas autoridades”, afirmou categoricamente. FICHA LIMPA Outra mudança de rumo está nas urnas. As eleições municipais de 2012 estrearam a vigência da Lei da Ficha Limpa, que tornou mais rígidos os critérios de quem não pode se candidatar. Fruto de um projeto de iniciativa popular, aprovado em 2008 a lei passou por uma prova de fogo antes de entrar em vigor, mas saiu-se vitoriosa com a decisão do Supremo Tribunal Federal, que a declarou +cRISTÃO - Dezembro / Janeiro 2013
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constitucional. Um dos fundadores do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e um dos idealizadores da Lei da Ficha Limpa, o juiz de Direito no estado do Maranhão, Marlon Reis, ressaltou os avanços que a nova legislação trouxe ao fechar as brechas que ainda permitiam maus políticos disputarem cargos públicos. “Os novos critérios de inelegibilidade vão permitir que políticos fichassujas sejam banidos de nossa vida política”, afirmou. Titular da 58ª Zona Eleitoral do Maranhão, Marlon Reis foi o primeiro juiz brasileiro a exigir a divulgação antecipada dos doadores de campanha eleitoral, sendo seguido pelo TSE, nas eleições municipais de 2012. Segundo o magistrado, além da relevante pressão cívica, a lei despertou a consciência eleitoral dos brasileiros. “A maior contribuição dessa conquista histórica foi pedagógica, pois conseguimos chamar
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a atenção para a necessidade de eleições limpas, de candidatos corretos, de pessoas preparadas ética e culturamente para o exercício dessas funções”, afirmou animado. Ainda na avaliação de Marlon Reis, o retrato das eleições municipais de 2012 mostra que o país está amadurecendo. “Milhares de candidaturas foram impugnadas e houve um alto grau de renovação dos detentores de mandatos. Isso mostra um eleitor cada vez mais consciente e exigente nas escolhas de seus representantes, o que é fundamental para o fortalecimento da democracia”, afirmou. ACESSO À INFORMAÇÃO Mudanças profundas se avizinham também com outra iniciativa cidadã. Em maio passado, entrou em vigor a Lei de Acesso à Informação, com o objetivo de garantir a transparência dos dados públicos. Até então, o cidadão só podia solicitar informações que lhe
diziam respeito e aguardar a boa vontade do governo para liberá-las. A nova legislação não surgiu por acaso, mas é fruto de um processo histórico que começou com os ventos democráticos que embalaram a Constituição de 1988. Mas foram necessários 24 anos para que a exceção virasse regra. Com a vigência da nova lei, em maio passado, o Brasil passou a compor, ao lado de outros 91 países, o grupo de nações que reconhecem as informações guardadas pelo Estado como um bem público. DEVOLUÇÃO DE DINHEIRO DESVIADO Em agosto passado, acordo entre a Advocacia-Geral da União (AGU) e o Grupo OK garantiu a restituição aos cofres públicos de R$ 468 milhões. Os recursos correspondem ao desvio de dinheiro público da construção do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo, iniciada em 1992. A AGU já havia conseguido na Justiça, em julho do ano passado, decisão que determinou a transferência para o Tesouro Nacional de R$ 52 milhões em créditos do Grupo OK, responsável pelas obras. Um pastor presbiteriano esteve à frente dessas inéditas vitórias. Ex-diretor do Departamento de Patrimônio e Improbidade da AGU e pastor auxiliar da Igreja Presbiteriana de Brasília, o advogado André Mendonça comandou o grupo até agosto passado, quando desembarcou em Salamanca, na Espanha, onde fez curso de aperfeiçoamento. Na sua avaliação, é possível golpear a corrupção com ações efetivas e mudança de atitude. “É preciso que todos, a começar por mim, sejam agentes de transformação, por exemplo, não comprando produtos piratas, sendo ético no trabalho e com os colegas, cumprindo os deveres fiscais (para dar a César o que é de César, ainda que César seja injusto). Isso,
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certamente, nos legitima a cobrar justiça. É do somatório de pequenas ações mobilizadas que se realizam grandes mudanças, e os cristãos podem e devem ser esses agentes”, afirma. Durante os três anos e meio em que esteve à frente do Departamento, o servidor-pastor deu seu testemunho. Durante o expediente, sua Bíblia sempre esteve em cima de sua mesa de trabalho, como inspiração e fonte de leitura diária. “No mundo, Cristo realizou sua obra redentora, e é aqui que os cristãos devem agir como seus embaixadores, como agentes de transformação das realidades sociais e estruturais. Os cristãos devem, antes de tudo, ter a consciência de que temos direitos e deveres como cidadãos do Reino. Nesse contexto, devemos servir a todo instante: a Deus, na sociedade; e à sociedade, para Deus. Isso
porque a lógica de Deus é diferente: maior não é quem tem mais; maior é quem se faz menor para servir mais e melhor. Foi isso que Cristo fez por nós, e isso é ser cristão”, ensina o servo André Mendonça. O pastor auxiliar da Igreja Batista Central, Paulo De Velasco, também acredita que a construção de uma sociedade mais ética passa pela escolha do homem. Segundo ele, à luz das Escrituras Sagradas, a corrupção é decorrente daquilo que a Teologia chama de livre arbítrio – a liberdade de escolher entre o certo e o errado, entre a bênção e a maldição, entre a vida e a morte. “Desde o Começo dos começos, há uma tendência de o ser humano escolher a incredulidade e, em decorrência, a desobediência às recomendações da Palavra. Foi assim com Adão
e Eva; tem sido assim conosco. O que a “Serpente” fez, na realidade, foi oferecer ao primeiro casal uma “vantagem indevida” [“de serem (ambos, Adão e Eva) como Deus”]. Está aí a gênese da corrupção ativa e da corrupção passiva. Cada um com o seu interesse esquivo, enviesado, distorcido, procurando levar vantagem”, adverte De Velasco. Ainda segundo o pastor batista, a Bíblia está repleta de advertências para que o homem mantenha distância de práticas antiéticas. “O ser humano, cujo coração é ‘desesperadamente corrupto’, como diz o Livro de Jeremias, só tem uma saída: aceitar o amor e a redenção propostos pelo Senhor Jesus e, aprendendo a amálo, guardar os seus mandamentos e, guardando-os, ser seus imitadores”, ensina. +cRISTÃO - Dezembro / Janeiro 2013
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DESCOBERTAS BRASILEIRAS NA SAÚDE Mas as boas novas não vêm apenas do campo ético. O Brasil virou notícia internacional, na área científica. Coube a uma equipe de pesquisadores brasileiros o mérito de ter desenvolvido a primeira vacina do mundo contra a esquistossomose, doença crônica causada pelo parasita schistosoma, encontrado em áreas sem saneamento básico e considerada a segunda endemia parasitária mais devastadora do mundo, atrás apenas da malária. Em junho passado, o mundo conheceu o trabalho liderado pela carioca Miriam Tendler, que coordenou a equipe de cientistas do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. A vacina foi aprovada nos “testes clínicos de fase 1” — ou seja, mostrou ser segura e capaz de imunizar contra a doença. No início de 2013, deverá começar a segunda fase de testes, que será realizada em áreas endêmicas do Brasil e países da África. A expectativa é de que a droga seja produzida dentro de três a quatro anos. A pesquisadora é exemplo de perseverança. Miriam Tendler conta que, na década de 80, a falta de investimentos em pesquisas no Brasil quase a fez desistir do tra28
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balho. O passaporte carimbado para os EUA parecia ser a solução. Lá, desenvolveu seus estudos, mas a proibição imposta aos pesquisadores estrangeiros de levar seu material de pesquisa ao país natal foi mais um obstáculo. Obstinada, a pesquisadora não desistiu e, juntamente com a equipe de cientistas brasileiros, desenvolveu a vacina, primeira no mundo contra parasitas. Até então, só existiam doses contra vírus e bactérias. Depois de trinta anos de pesquisa, o tapete vermelho da comunidade científica foi estendido para o Brasil. “Estamos vivendo um momento ímpar. O fato de termos conseguido manter esse projeto por tantos anos deu ao país credibilidade para avançar nessa fronteira do conhecimento. Não foi fácil, pois existia a cultura cruel de que, lá fora, eles têm a tecnologia. Aqui dentro, nós temos as doenças. Conseguimos mudar isso”, comemora. EVENTOS INTERNACIONAIS Outro tapete vai ser estendido para o Brasil e, desta vez, a cor dele será o verde dos gramados dos estádios que vão receber os jogos da Copa do Mundo de 2014. E o ensaio para o mundial já vai começar. Em junho próximo, o Brasil sediará a Copa das Confederações, que reunirá os seis campeões continentais, o Brasil
(como país-sede) e o último campeão mundial (Espanha). O evento-teste vai aquecer as seleções para o maior encontro desportivo do mundo. E não adianta espernear. Mesmo quem não gosta de futebol deverá se render ao clima festivo que tomará conta do país. Os brasileiros querem exorcizar a derrota de 1950 e esquecer o “maracanaço”, quando a implacável seleção uruguaia silenciou o grito de campeão de mais de 200 mil fanáticos torcedores, que lotavam o Maracanã. O especialista em Direito Desportivo Gustavo Pires Souza, de Belo Horizonte, está animado e aposta no jeito alegre e receptivo do brasileiro. “Somos um povo caloroso, amigável e sabemos fazer festa como ninguém. O espírito cívico e o orgulho pelo país vão aflorar mais ainda. Será um evento sem igual”, afirmou. Mas que legado o evento desportivo trará para o país, juntamente com as Olimpíadas, que serão realizadas em 2016, também em solo brasileiro? Para Gustavo, eles deixarão contribuições relevantes, como a massificação da prática desportiva. “Para a agenda do esporte, o maior legado será o despertamento do brasileiro para outras modalidades. O Comitê Olímpico Brasileiro já está mapeando as que têm mais disputa de medalhas, como boxe e luta greco-romana, para incentivá-las por aqui”, afirma. Para o especialista, o maior investimento de um país não é na formação de atletas de alto rendimento, mas na prática desportiva como fontes primárias de saúde e educação.
CONFLITOS E PROMESSAS O ano de 2012 chegou ao fim com o acirramento dos conflitos entre o grupo Hamas e Israel, na Faixa de Gaza. O recrudescimento dos embates lança o olhar dos cristãos brasileiros para aquela região. Segundo o pastor Isaías
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SALVO DA EXECUÇÃO Veio do outro lado do mundo um exemplo de fé. Convertido ao Cristianismo, o pastor iraniano Yousef Nadarkhani, 35 anos, foi condenado à morte pelo governo de seu país por pregar o Evangelho a mulçumanos. Preso há três anos, sob acusação de apostasia, ele não negou sua fé, mesmo diante da ameaça de morte. A comovente e edificante história de Nadarkhani ganhou o mundo cristão, que pediu a sua libertação. No Brasil, a Frente Parlamentar Evangélica não mediu esforços na luta pela libertação do iraniano. O empenho dos deputados e de lideranças evangélicas contribuiu decisivamente para a campanha internacional pela libertação do pregador destemido, em setembro passado, como destacou o diário americano Christian Post, em sua edição virtual. Vice-Presidente da Frente, o pastor da Igreja O Brasil para Cristo e deputado federal Roberto de Lucena (PV/SP) foi uma dessas lideranças. Acompanhado de outros parlamentares, ele expressou pessoalmente ao embaixador do Irã no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, a preocupação quanto à preservação da vida e bem-estar do pastor iraniano e pediu um posicionamento da presidente Dilma Rousseff e do ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota. “Foi uma vitória da diplomacia, mas acima de tudo da fé. O povo cristão se uniu, orou e Deus honrou o testemunho do Pr. Nadarkhani ”, afirmou Roberto de Lucena, que ocupou a tribuna da Câmara dos Deputados para anunciar a libertação.
O pastor Yousef Nadarkhani
Lobão Pereira Júnior, da Igreja Presbiteriana do Cruzeiro, há uma visão equivocada das profecias bíblicas. Para o teólogo, que também é bacharel em História pela Universidade de Brasília, o conflito árabe-israelense não deve ser interpretado pela visão literal das profecias bíblicas. “Há uma linha, que é a do Dispensacionalismo, de que toda aquela terra pertence a Israel, por uma questão de promessa bíblica. Mas a posição da igreja reformada é de que não há uma promessa física, mas espiritual, pois os conflitos não fazem parte dos planos de Deus. O projeto dele é o mesmo para o Brasil, para o mundo: povo se convertendo. Eles estão defendendo uma posse de terra, numa interpretação equivocada da Bíblia”, ressaltou. Ainda segundo o pastor Isaías, os cristãos devem ponderar, olhar para esses dois países sem fazer uma defesa incondicional de Israel ou dos palestinos, como faz a imprensa. “Ali não há só heróis ou só bandidos, mas dois países com interesses econômicos. Devemos orar e abençoar Israel, como também todas as nações da terra”, resume. Para o Bispo Robson Rodovalho, da igreja Sara Nossa Terra, cada povo tem o direito a seu território conquistado legitimamente. “A terra de Israel lhe pertence por história, por tradição e dádiva de Deus, dada
por promessa. Mas também considero que a Palestina tem o direito legal de possuir seu espaço e encontrar os limites de seu território. É preciso construir pontes para que os dois sejam capazes de conversar e encontrar um caminho comum”, afirma. Ainda segundo Rodovalho, existe um paralelo profético entre a história de Israel natural e o Israel espiritual. “Israel natural é a nação israelita, Israel espiritual é a Igreja. Em 1948, a figueira floresceu, Israel natural foi estabelecido como nação. Em 1948, a igreja também ganha uma ênfase de evangelho, de força mundial, que ela não tinha tido dentro do segundo milênio. Assim, a Igreja começa a ganhar propulsão na evangelização, nas grandes campanhas, nos levantamentos dos grandes evangelistas como Billy Graham, Oral Roberts e outros grandes homens de Deus”, comemora Rodovalho. Ainda de acordo com o Bispo Rodovalho, à medida que Israel se estabelece como nação, a Igreja também se estabelece como instituição de respeito e de referência mundial. “Os dois movimentos acontecem simultaneamente, como um espelho espiritual. Enquanto Israel está tomando posse da sua terra, a Igreja, por seu lado, toma posse do seu território de influência, de liderança, de capacidade de abençoar as nações, de influenciar os governantes e as leis das nações”, resume. Para o Bispo Rodovalho, a Igreja vive momento de renovo espiritual e tem alcançado crescimento no Brasil e em outras nações, como Coréia do Sul, Argentina e Austrália. “Também temos ouvido falar muito da China, das igrejas subterrâneas, que são uma revolução imperceptível, mas real. Esse crescimento foi resultado de muita oração de nossa geração, de muita semeadura. Meu desejo é de que tudo isso venha com qualidade de vida dos cristãos verdadeiramente trans+ formados”, afirma esperançoso. +cRISTÃO - Dezembro / Janeiro 2013
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DIREITO&CIDADANIA POLÍTICA
por Daniel Castro
Eleições e
Cidadania
A
cidadania, em seu amplo sentido, constitui pedra fundamental na finalidade do Estado Democrático de Direito, principalmente com o advento da Carta Cidadã de 1988, pois possibilita aos indivíduos a plenitude do desenvolvimento, condicionando-se tal plenitude a uma igualdade social e econômica. Inúmeros são os conceitos de cidadania, porém todos estão ligados às definições básicas e fundamentais de democracia e igualdade, sendo o segundo princípio mola mestra da nossa Constituição. É a cidadania em sua essência que proporciona aos indivíduos, em um Estado democrático de direito, a possibilidade de os cidadãos exercerem seus direitos com igualdade, além de usufruírem deles em sua plenitude, em especial o direito ao sufrágio. O cidadão, quando no exercício de suas prerrogativas fundamentais, consagradas constitucionalmente, exerce participação no cenário político do país, podendo ser, digo, devendo ser consultado quanto às inúmeras decisões que dizem respeito à condução social, econômica e política da sociedade. Assim esse indivíduo, ao exercitar sua cidadania, desempenha papel fundamental no Estado Democrático de Direito, sendo que sua participação é associada ao resultado de contribuição para o progresso social, devendo acatar e respeitar as decisões tomadas em prol da coletividade. Reza a Constituição Federal, em seu artigo 14, que o voto é facultativo para os analfabetos, aos maiores de setenta anos e para os maiores de dezesseis anos e menores de 18 anos. Porém é obrigatório para os cidadãos entre 18 e 69 anos, sendo necessário justificar a ausência em qualquer seção eleitoral, no dia da eleição, sob pena de multa. Restou demonstrado, nas eleições deste ano, que mesmo o cidadão que não tem “obrigação” de votar está plenamente consciente de sua condição na participação nas decisões sociais, sendo ativamente participante nas votações de primeiro e segundo turno, conforme amplamente divulgado pela mídia escrita e televisiva. A mesma consciência é refletida nos demais indivíduos que foram às urnas em primeiro e segundo turno, a 30
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Daniel de Castro é advogado e chefe da Assessoria de Atendimento do Gabinete do Governador do Distrito Federal.
fim de escolherem seus futuros governantes. Essa consciência está aumentando a cada eleição, conforme noticiado pelo próprio Superior Tribunal Eleitoral, reflexo de expansão da cidadania. Ser cidadão, além de respeitar o seu semelhante, bem como as leis e o meio ambiente, é acima de tudo participar das inúmeras decisões no campo político, a fim de contribuir para o engrandecimento social. Desta feita, o exercício da cidadania nada mais é do que a participação em pequenos atos cotidianos, em especial no ato de votar. Por mais que muitas pessoas deixem de fazê-lo por causa da corrupção que se alastra no campo político, duas grandes questões surgem no tocante a esse tema: primeira - a grande contribuição que a mídia em geral tem dando à divulgação dos malfeitos dos políticos de todas as matizes; segunda - a possibilidade de minimizarmos essa situação tão somente com o comparecimento maciço nas urnas, elegendo os candidatos chamados “FICHA LIMPA” – só assim estaremos dando a nossa contribuição efetiva. O exercício da cidadania em sua plenitude gera inúmeros resultados positivos, pois as conquistas são reflexos dessa atividade. O voto, numa democracia, é uma conquista do povo e deve ser usado com critério e responsabilidade. O ato de votar é de fundamental importância para o cenário eleitoral, pois, além de representar uma ação de cidadania, possibilita a escolha de pessoas públicas que fazem e executam leis as quais interferem diretamente em nossas vidas. A escolha dos governantes é responsabilidade de todos aqueles que praticam a cidadania e pode representar inúmeras consequências, quando não realizada com maturidade. Vale lembrar que os políticos são pessoas responsáveis pela gerência e aplicação de nossos impostos, daí a necessidade de darmos valor a esse ato de cidadania. Por fim, o voto deve ser valorizado como verdadeira democracia, pois não podemos investir nossos sonhos em pessoas sem + propostas para uma melhoria de vida da coletividade.
CASAMENTO&FAMÍLIA por Gilson Bifano POLÍTICA
Dados
Gilson Bifano - Pastor e Diretor do Ministério OIKOS (Ministério Cristão de Apoio à Família). Escritor e conferencista na área de casais e famílias. Casado com Elizabete Bifano. Contatos: oikos@clickfamilia.org.br www.clickfamilia.org.br
preocupantes
e perguntas pertinentes
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se os números apontam a duplicação do índice de divórcios, dificuldades em abençoar os divorciados com uma ministração bíblica e consoladora? O número de divórcios tem também duplicado em nossas igrejas? Por que é tão difícil para a liderança combater o divórcio, mas, de maneira bíblica e pastoral, ministrar a graça, o encorajamento, o perdão ao divorciado? A igreja evangélica brasileira precisa se debruçar sobre esses dados divulgados pelo IBGE e responder a essas e outras perguntas; a partir daí propor as soluções, baseadas nos princípios bíblicos, para casais e famílias brasileiras. Não + podemos ficar alheios às tendências da sociedade.
Foto: Divulgação
R
ecentemente o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados do censo de 2010 dando conta de que 36,4% dos casais que vivem sob o mesmo teto não contraem casamento. Segundo o mesmo instituto, o número de casais que decidem não legalizar a união aumentou 8% em dez anos. Entre os mais pobres, os que não superam uma renda mensal de 311 reais por pessoa, a porcentagem de uniões conjugais não legalizadas é de 48,9%. No grupo de indivíduos com uma renda superior a 3.110 reais, a proporção de casamentos é de 80,3% e apenas 19,7% não fazem questão de registrar a união. A proporção de casamentos civis e religiosos caiu cerca de 6% em dez anos, chegando a 42,9% da população, enquanto os casamentos registrados apenas em cartório representam 17,5%, segundo o censo. Será essa a tendência da sociedade quando se trata de oficializar uma união conjugal? Quantos casais crentes estão adotando o mesmo comportamento? Temos, como igreja, conscientizado os jovens e os casais de que a união conjugal é um compromisso, um pacto que deve ser valorizado perante as leis e a própria igreja, ou apenas um consenso? Outro dado divulgado pelo IBGE foi em relação ao número de pessoas solteiras e divorciadas. A porcentagem de solteiros se manteve praticamente estável, representando 55,3% da população brasileira. Já o número de divorciados quase duplicou ao chegar em 3,1%, diferentemente da proporção de casais que vivem juntos, que caiu para 34,8%. A igreja evangélica ainda continuará desprezando os solteiros deixando-os à margem dos ministérios? Será que a única proposta que a igreja tem para os solteiros é levá-los, quase à força, ao altar? Por que ainda temos,
Alcanテァando vidas pelas redes sociais
+cRISTテグ - Dezembro / Janeiro 2013
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TECNOLOGIA
“Eu e o meu computador serviremos ao Senhor”. por Mércia Maciel
C
ristãos conectados descobriram nas redes sociais um terreno fértil para semear a Palavra de Deus. Basta uma rápida navegada em páginas virtuais, como facebook e blogs, para logo encontrar mensagens de fé e salvação. Jesus foi um comunicador por excelência. Para que o reino de Deus chegasse às pessoas, ele usava linguagem simples e recursos didáticos, como as parábolas. Seu exemplo foi seguido pelos apóstolos e primeiros seguidores, que utilizaram os meios de comunicação disponíveis à época, como cartas e viagens, para propagar o evangelho. Nos dias atuais, a tendência é aproveitar a poderosa influência da internet para evangelizar. Motivos para apostar no mundo virtual não faltam. Um em cada três brasileiros está conectado à internet e 79% deles utilizam redes sociais, o que representa 55 milhões de pessoas - uma seara pronta para a colheita espiritual. Os conectados gastam, em média, 23 horas e 12 minutos ao mês com a rede, segundo levantamentos recentes. Para quem não vê a internet como aliada da evangelização,
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+CrISTÃO - dezembro / janeiro 2013
estudo da missão Global Media Outreach (Alcance Global pela Mídia) mostra números animadores. Segundo levantamento realizado com mais de 100 mil pessoas em todo o mundo, mais da metade daqueles que se decidiram por Jesus por meio da rede mundial de computadores compartilham sua fé com outros e mantêm uma vida cristã com oração e leituras bíblicas diárias.
Facebook Curtir. Comentar. Compartilhar. As opções do facebook são instrumentos na propagação do evangelho. A última ferramenta, por exemplo, tem um poder de disseminar uma mensagem imediatamente. Com um simples clique, ela é compartilhada aos amigos, que poderão também repassá-la a outros, e assim por diante. Em pouco tempo, a mensagem pode chegar a milhares de internautas.
Há um ano e meio, Jaqueline Mendes, da Igreja Assembleia de Deus de Brazlândia, divide seus posts com informações gerais e mensagens cristãs. Para alcançar os 860 amigos virtuais, inclusive de outros países, como Portugal e Alemanha, ela fala de perdão, plano de salvação e encorajamento. Tudo em linguagem simples e direta. “As pessoas estão procurando e querem isso. Tenho muitos amigos que precisam ser alcançados e já estão começando a entender o plano de Deus para suas vidas”, explica animada. A jornalista Gizele Benitz também considera as mídias sociais um convite para o relacionamento com Jesus e uma oportunidade para falar da Palavra de Deus. Diariamente, ela inclui em sua página virtual pelo menos cinco mensagens bíblicas, na certeza de que a semente foi plantada. “Não podemos perder tempo. Nossa vida deve ser pautada pelas coisas espirituais, inclusive em nossa hora de entretenimento”, afirma. Para proclamar o evangelho, a jornalista ainda utiliza o twitter, tipo de microblogging que permite aos usuários enviar e receber atualizações pessoais de outros contatos, em textos de até 140 caracteres, conhecidos como tweets. Mas Gizele não lança mão das redes sociais apenas para evangelizar. Como está em contato com muitos adolescentes e jovens em sua igreja, seus posts também trazem mensagens de edificação e exortação à prática da vida cris-
tando resgatar seus contatos, filmes, joguinhos. Elbem não pensou duas vezes e transformou o incidente da amiga numa devocional sobre o tempo que o cristão dedica a seus equipamentos eletrônicos, verdadeiros ídolos da modernidade. O texto foi um dos mais comentados pelos internau(Elbem César, economista e membro tas. Antenado com o poder da Igreja de Cristo de Brasília) da rede mundial de computadores, ele criou um grupo virtual que conta com mais tã. “Oro sempre que vou publicar de 17.500 inscritos. Ao se cadastrar, a Palavra e, dessa forma, o retor- o visitante recebe os posts devociono é gratificante. Muitos dizem nais de seu blog. Segundo o músique estavam precisando daquela co, o retorno é gratificante. “Tenho mensagem naquele momento”, a convicção de que estou obedecenafirma com a certeza de que está do à ordem de ir e pregar o evangecumprindo o Ide de Jesus. lho. A mensagem virtual tem um Os blogs – páginas na web que poder incrível”, comemora. funcionam como diários online – Apesar das experiências com também são ferramentas úteis na êxito, a maioria das igrejas evanevangelização. Eles combinam tex- gélicas ainda não se despertou tos, imagens e links e, principal- para essa seara virtual. Pesquisa mente, permitem que o internauta recente indica que 78% dos entredeixe seus comentários de forma a vistados disseram que as igrejas interagir com o autor e outros lei- deveriam ser mais ativas nas re tores. Há dois anos, o economista Elbem César, membro da Igreja de Cristo de Brasília, sentia-se incomodado. Músico, ele queria servir a Deus em outros ministérios. Orou e a resposta veio rápida, como numa busca pela internet. Começava assim a história de um blog com devocionais que são postadas duas vezes por semana e acessadas por mais de quatrocentos internautas, diariamente, inclusive em países como Estados Unidos, Canadá e Alemanha. Os temas escolhidos por Elbem para suas reflexões fazem parte do cotidiano da vida cristã. Num de- Elbem César les, ele conta a conversa com uma amiga que lhe compartilhava o des sociais, enquanto 25% afirmadesejo de que Deus a “quebrasse” ram que suas lideranças encorapara que se tornasse totalmente javam o evangelismo online. Mas dependente dEle. Depois de uma existe uma estratégia para utilisemana, nada aconteceu até que zar a rede mundial de computaseu estimado tablet espatifou-se no dores em prol do Reino de Deus? Marcos Vinícius de Moraes, chão. Desesperada, percorreu inúmeras lojas na tentativa de conser- da Igreja Batista Celular Intertá-lo. Sem êxito, comprou um novo nacional (IBCI), no Gama, não e passou um final de semana ten- tem do que reclamar. Antenado,
“Cristãos conectados descobriram nas redes sociais um terreno fértil para semear a Palavra de Deus”
o pastor de sua igreja, Laudjair Guerra, incentiva o uso da rede mundial de computadores para evangelizar, por meio das redes sociais e do próprio site da igreja, que transmite seus cultos em tempo real. “O uso da internet é importante porque vivemos num mundo globalizado, com informações instantâneas. Como nossa juventude está conectada, não podemos desprezar o evangelismo virtual”, afirma Marcos Vinícius. O membro internauta da IBCI vibra quando enumera o retorno do uso da rede mundial de computadores para falar da Palavra de Deus. “Graças a uma frase sobre o plano da salvação, postada pelo twitter de uma das lideranças da igreja, uma pessoa desistiu de se suicidar, procurou nossa igreja e, hoje, é membro ativo”, lembra, entusiasmado. A internet também tem sido instrumento para o evangelismo virtual em massa. Em outubro passado, os internautas cristãos foram convocados para postar mensagens evangelísticas por meio de imagens, vídeos e palavras de fé. Essa foi a segunda edição do projeto criado por Wanderson Martins, técnico em eletrônica e idealizador da fanpage (página do facebook que pode ser seguida pelo usuário interessado em determinado tema) Sou Crente, e Daí? Wanderson comemora os bons resultados da iniciativa e garante que a internet é uma ferramenta viável para anunciar a Salvação. O evangelista virtual lembra uma experiência que marcou o seu trabalho nas redes sociais. Certo dia, um internauta acessou a página apenas para zombar dos discípulos de Jesus, com críticas e mensagens ofensivas. Mas depois da conversa que teve com Wanderson pelo computador, resolveu aceitar o senhorio de Cristo e pediu desculpas pelas ofensas. “O que nos deixa felizes é saber que muitas sementes foram plantadas e em breve Deus dará o crescimento”, + conclui Wanderson, animado. +cRISTÃO - Dezembro / Janeiro 2013
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CRÔNICAS&CONTOS
por Zazo
O Pendrive
B
ateu um certo pânico em Rogério, quando deu na falta do pendrive verde. O objeto, de tamanho minúsculo, porém de importância fundamental, simplesmente não estava pendurado em seu pescoço, como sempre costumava estar, justamente para evitar esquecimentos. Rogério havia sido convidado por um amigo, líder de juventude a levar uma palavra para os jovens. Era sábado, e a reunião, daquelas de “boca da noite”, começaria com alguns cânticos. Depois, alguém faria uma abertura e, por fim, ele teria a oportunidade. Mas cadê o pendrive? Apalpou tudo quanto é bolso da calça, daquelas do tipo do Exército, com bolso em tudo quanto é lugar, até na altura dos joelhos e tornozelos. Primeiro na base da correria. Depois, como quem realmente quer encontrar algo, isto é, de forma mais lenta, acurada. Tudo isso acontecia ao mesmo tempo em que lhe visitava a mente uma sensação de incredulidade. Como poderia ter deixado item tão importante para trás? Não, ele não faria isso! Haveria de encontrá-lo; sim, com certeza.
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+CRISTÃO - DEZEMRBO / JANEIRO 2013
Esse badulaque da informática já fazia parte de seu corpo. Ah, sim, havia também a bolsa que trouxera com o notebook. Certamente estaria lá. Assim, já se imaginava abrindo a maleta e dando um suspiro de alívio, bem próprio para a ocasião. “Ufa, achei!”. Mas não foi o que aconteceu. O “bichinho” não estava lá. Nessas alturas, os organizadores do evento já se juntavam, formando um grupo para aquela oração típica que se faz antes de começar qualquer coisa. Queriam sua presença, enquanto ele já não conseguia disfarçar um certo ar de perturbação que ia crescendo e dando matizes de significado ao rosto. Foi para o grupo, e todos se dirigiram ao gabinete pastoral. Eram umas quatro ou cinco pessoas. Calma, calma, não criemos pânico, diria certo personagem infantil de televisão. Tentou dizer a si as mesmas palavras e, sob a inspiração desse sentimento, pediu licença para ir ao carro. Poderia ter ficado no console, bem ali na frente. Deixou de participar da oração, mas o tal do pendrive poderia estar por perto, o que seria a salvação da lavoura... digo, da palestra.
Zazo é servidor Público e professor de Gramática e Oficina de Textos no Centro de Formação e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados; licenciado em Letras e pós-graduado em Língua Portuguesa; mestre em Missiologia, escritor e compositor musical.
Não estava. A tensão aumentou. As possibilidades de encontrar o objeto já se haviam esgotado. O sentimento de impotência diante de uma situação que começava a mostrar-se fora de seu controle deixava Rogério sem saber o que dizer. Por que esse minúsculo utensílio seria tão importante, dileto leitor? Afinal, nosso amigo não saberia o que dizer aos seus ouvintes? Em parte, sim. Trabalhara para isso com esmero. Anotara trechos bíblicos, fizera pesquisas, armazenara informações. A ideia era falar sobre relacionamentos saudáveis, tema interessante, visto tratar de um fenômeno quase que em extinção nos dias de hoje, inclusive na igreja – especialmente entre os mais moços. Rogério fizera o melhor. Digo mais: não havia negligenciado a oração, aquela motivação baseada na dependência de Deus. Por fim, vale dizer que o estudo estava bom, bem organizado, com fotos interessantes e slides de power point, frases de efeito proferidas por pessoas célebres, conceitos de gente abalizada e alguns outros recursos sem os quais a palestra perderia um bocado de seu efeito. Mas estava tudo arma-
zenado única e exclusivamente na “desgrama” do pendrive verde. E o pior é que ele não conseguia lembrar onde havia deixado o dito cujo. Se pelo menos sua memória desse um lampejo, faria uma ligação para a esposa ou o filho e pediria socorro. Afinal, a igreja de seu amigo não ficava tão longe de casa, talvez uns quinze minutos de carro. E como ele não assumiria imediatamente a palavra, poderia até funcionar, ainda que o “verdinho” chegasse durante sua fala. Não lembrou, mas telefonou assim mesmo. A mulher, já sentindo o pânico do companheiro, vasculhou a casa toda, mas não achou coisa alguma a não ser um pendrive azul. Não vale. Vencido, o palestrante avisou ao amigo que estava em apuros pela ausência do arquivo. Este, por sua vez, quis passar pelos mesmos estágios pelos quais Rogério havia passado, começando pela negação mental de que o fato estivesse acontecendo. Que se começasse a reunião com alguns cânticos, enquanto ele iria revisar o carro do amigo, ligar para a esposa, tudo de novo. E tome cântico...
Até que chegou a hora inevitável. O visitante foi conduzido à frente de todos. Apresentado, recebeu oração dos que lá estavam, tudo certinho. Quando abriu a boca, foi para dizer sobre o tema que lhe vinha queimando
o coração. Explicou aos jovens, de maneira singela, que não estava devidamente preparado, que a palestra perderia um pouco da base que havia juntado, visto que o arquivo havia sumido. Mas que, na essência, ele ainda sentia o que Deus queria falar àquelas pessoas. Entregou-se a Ele, de corpo e alma. E foi falando, falando... e foi também sentindo que algo sobrenatural acontecia enquanto ele explanava o tema, quando dizia passagens bíblicas que lhe vinham à mente e ao coração.
Algo estava acontecendo, pois os jovens estavam sendo tocados. Surgia no próprio auditório um sentimento de comoção, de arrependimento. Foi-se formando uma atmosfera de perdão. Aos poucos, viam-se aqui e ali alguns entre eles saindo de seus lugares para irem falar com outros. E de repente se abraçavam, choravam, acertavam ponteiros. Que coisa...! Era Deus agindo. Ao final da reunião, o Espírito Santo havia feito algo que o próprio Rogério não esperava, por mais que tivesse pedido por isso. Talvez lhe faltasse fé ou o apropriado sentimento de que ele era apenas o canal. Aquela reunião ficou marcada para sempre na vida dos que dela participaram. Todos se lembram dela e do que nela aconteceu. Ao voltar para a casa, nosso personagem ainda estava atônito com o que se passara. O dia seguinte era domingo. E na segunda-feira, chegando ao seu local de trabalho, ali estava, conectado ao computador, o pendrive verde. Simplesmente fora deixado para trás, na sexta-feira, + véspera do dia da palestra...
Enem 2011 682 pontos
Fonte:
MEC
O CBB continua entre as melhores escolas do DF. colegiobatista.com.br
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MÚSICA
por Jonas Vianna
Viva o
Poeta A os que não me conhecem ainda, muito prazer. Sou daqueles sujeitos inquietos, curioso por natureza, e ordinário, no sentido denotativo da palavra. Sigo um que “tem todos os nomes, mas ao mesmo tempo nome algum, quem a tudo põe limites e cujo limite é nenhum”, como tão bem escreveu Jorge, o Camargo, ao parafrasear pseudo-Dionísio Aeropagita. Estimo imensamente o rádio, veículo sagrado que me abrigou em suas entranhas, de forma que passei a assar meu pão de cada dia em seus fornos, os estúdios, já faz alguns anos. Sei um pouco de Português, algumas coisas em Inglês, uma meia dúzia de acordes no violão; e também fui instruído pelos ouvidos sobre o tipo de som mais apropriado para minha alma. E foi “ouvindo” os meus ouvidos que passei a notar uma coisa. O céu se abre. Sim, vez por outra, aquele teto azul espesso se rompe por minutos. E de lá descem umas gotas em formas de palavras, envoltas num material da cor do ar, que, ao atingir o bico da caneta do compositor, quilômetros abaixo, marca o papel com frases capazes de ferir, remediar, acalentar ou curar a alma dele mesmo e de tantos outros. Aconteceu isso, por exemplo, no dia em que Vítor e Ivan escreveram “Meu País” e “Aos Nossos Filhos”; Milton e Brant, a “Travessia”; João, a “Canção da Alvorada”, e por aí vai. Mesmo que olhos não tenham visto o fenôme-
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+CRISTÃO - DEZEMRBO / JANEIRO 2013
Jonas Vianna é jornalista. E-mail: jonas@thegreatloveofgod.net
no se desenrolar, ouvidos atentos o captaram. Aliás, que nome dar a esse assombro de contorno sobrenatural? A mais próxima descrição é encapsulada pelo termo “poesia”. Insisto em achar que poesia começa no céu, e a simbiose com a Terra é constante. Nada mudou nesse processo, exceto a sensibilidade para percebê-la, inclusive por parte de muitos no cenário cristão brasileiro, sobre o qual marcham as linhas adiante. Primeiro, ao capricho de um selo qualquer, foi inventada a tal “música gospel”. Colou feito chiclete em sola de sapato. Chiclete mastigado e ejetado sabe-se lá por quem. O lirismo e a poesia foram varridos para algum lugar depois da última faixa do v, naquela área onde a agulha ficava muda e o carrossel que carregava a bolacha grande parava de rodar. Desde então, grande parte das letras passou a rimar com grana, um milagre fonético, ao certo, não fora bancário. Nesse embalo, surgiu de tudo. Depois vieram uns com a proposta de aproximar o céu e a terra novamente, desta vez por meio de uma espécie de transe apelidada “adoração extravagante”. Colou também. Supostamente “apaixonada” pelo criador maior da arte, essa corrente provou não ter capacidade de recorrer à própria arte para embelezar suas canções. Ficou só na repetição. Tanto do “gospel” quanto do “extravagante”, surgiram as “estrelas”. Estas de brilho incrível.
Não pelo esplendor, mas pela façanha de se manterem no horizonte mesmo sem ter nada de interessante para mostrar. No fim das contas, o “gospel” e a “extravagância” criaram uma enxurrada de “artistas” sem arte, de “poetas” sem poesia, de falantes sem muito conteúdo, de ouvidos ensurdecidos, de comerciantes habilidosos. É certo que cada vitrola deva continuar tocando o disco que queira. E que a música desprovida de beleza continue a existir. Aliás, não acho que ela deva desaparecer por completo. Afinal, é o ruim que nos faz enxergar que o bom é melhor. Ideal seria, no entanto, que os cartolas da produção musical cristã no Brasil promovessem uma espécie de balanço no que lançam no mercado, de forma que a poesia ganhasse uma chance de se mostrar e, quem sabe, mais ouvidos tivessem a chance de percebê-la. Assim, um sem número de cantores e compositores que enchem a poesia de orgulho, finalmente, ganhariam um pouco mais de sol sob suas cabeças. Na impossibilidade de enumerar todos os nomes desse universo, peço licença para estabelecer um representante aqui. Trata-se daquele já mencionado no primeiro parágrafo. Ele sabe bem mais que Inglês e Português, códigos do seu ofício de tradutor; ou mais ainda que um vernáculo de acordes cultos no violão; ele aprendeu desde cedo a converter palavras em sentimentos. Jorge Camargo, um arauto da
poesia, é daqueles sempre atentos ao momento em que o céu se abre. Por isso a música dele nunca está desprovida do que vem lá de cima. Aos que ainda não o conhecem (desconfio que alguns), aqui vai uma recomendação. Ouçam “Definitivo”. O trabalho, lançado em 2012, reúne versões de um pouco do muito produzido por Jorge nas
últimas três décadas. De sonoridade acústica e arranjos limpos, o repertório desse disco é um convite aos ouvidos. Um convite a visitar o que veio antes e certamente o que virá depois na obra desse poeta, pois é virtualmente impossível não ser fisgado pela honestidade dos sons reproduzidos ali. O degustador de “Definitivo” (e
+Música
todos os seus antecessores) certamente vai enxergar que a poesia aproxima o céu da Terra. Ouvidos intoxicados, ou apenas privados de chance, ainda não perceberam tudo que é bonito de viver, os movimentos do beija-flor, a felicidade, o embelezar, a imensidão, o descanso, o mistério. E que tudo passa. Viva o poeta!
por Zazo, o nego
Polo É possível fazer rock’n’roll com mensagem cristã, letras contextualizadas, inteligentes e profundas? O álbum Polo, o segundo trabalho do cantor e compositor Hélvio Sodré, mostra que sim. Com catorze faixas, todas compostas por Sodré, o disco, lançado pela gravadora Salluz, pode ser o fim da procura para quem aprecia esse estilo musical. A faixa 02, intitulada Aquilo que Tem Mais Valor, desafia qualquer tipo de ouvinte: “Neste mundo tão plural / o que é preciso, afinal, para você? / O conflito é real / entre a cruz e o punhal / você precisa escolher / seu tesouro é indicação / de onde está seu coração / de tudo o que se pode nessa vida encontrar / aquilo que tem mais valor.” O que há de comum entre as canções é a forma como o autor expressa seu amor e compromisso com Jesus e o evangelho. E o trabalho, que poderia ser rotulado como rock, abre espaço para canções que inspiram contemplação e quietude, como Não Há Motivos, Quero Ser Teu, Ela Partiu e Você me Faz Tão Bem. Evidentemente, as levadas mais aceleradas estão presentes, como não poderia deixar de ser em se tratando de Hélvio e banda. Indicado para o público jovem, Polo pode ser adquirido por meio da página oficial do artista, www.helviosodre.com, ou pelo site www.artecrista.com.br. MPB contemporânea em alto nível O que Realmente Importa. Esse é o título do terceiro trabalho assinado pela capixaba Aline Pignaton, feito em produção independente. Dotada de uma voz singular, capaz de misturar uma interpretação natural, marota e quase adolescente com a personalidade de grandes cantoras, Aline reuniu um repertório à base de quatro mestres da composição cristã em atividade no Brasil: Gladir Cabral, Jorge Camargo, Edivan Freitas e Paulo Nazareth (este último, líder da banda Crombie). Essa “salada de frutas” contou com a produção de Rodolfo Simor, cuja sensibilidade conseguiu traduzir tecnicamente o melhor das expectativas de Pignaton. Resultado: o álbum é uma delícia para quem curte o som da moderna MPB, a ponto de deixar o apreciador confuso, caso resolva definir a melhor faixa. Ainda assim, vale mencionar a música-tema, composta por Edivan Freitas, como uma peça que qualquer “emepebista” gostaria de ter escrito. Enfim, tanto as letras quanto a simbiose melódico-harmônica em todo o trabalho tornam O que Realmente Importa um disco indispensável às prateleiras dos amantes da composição de sotaque nacional. Mais: uma excelente ferramenta para os que desejam levar a mensagem cristã - livre de jargões - a quem não a conhece. Por falar em composição, Aline surpreende ao encerrar o CD com uma de sua autoria, a faixa intitulada “Quem”, de apenas um minuto e dois segundos; um belo reconhecimento àquele que está por trás de tudo o que realmente importa. Interessados devem acessar www.alinepignaton.com.br. Letra e música para todos os estilos A dupla Rubem Amorese & Toninho Zemuner vem personificando, ao longo dos anos, uma perfeita interação entre letra e música. Amorese, além dos vários livros escritos e publicados pela Editora Ultimato, é também poeta. Seus versos têm encontrado a musicalidade de Zemuner, e o resultado dessa soma está disponível na página da Igreja Presbiteriana do Planalto (http://www.ippdf.com.br/), na coluna Música. Apresentando sempre as duas últimas produções da dupla, o site deixa à disposição do interessado as opções de baixar, ouvir e saber mais. Para quem deseja “abrir o baú”, basta clicar logo abaixo, no comando “mais músicas”. Um leque de mais de 150 produções de Rubem e Toninho se abrirá, podendo o usuário acessar “músicas de garagem”, isto é, ainda não finalizadas, e “músicas prontas”. A lista das prontas reúne várias coletâneas: Contando os Dias, Canto Novo, Corpo e Alma (volumes de I a IV), Hinos, Maranata, Reencontro e Tehellim - A Oração dos Salmos (volumes I e II). Os intérpretes, que incluem os próprios idealizadores do projeto, são os mais variados, cada um de acordo com o tipo de composição. A propósito, o que impera no acervo é a diversidade de estilos, sendo possível encontrar desde os ritmos mais formais e próprios para liturgias conservadoras até execuções mais descontraídas, como MPB e samba. Intérpretes como João Alexandre, Hélvio Sodré, Gláucia e Rogério Carvalho, Jajá Botelho, Thamiris Lima, Grupo Céu na Boca, Wesley e Marlene (a lista é grande) emprestaram suas vozes às coletâneas. O que torna o trabalho muito interessante é a capacidade que seus criadores têm de encontrar o tipo certo de voz para cada composição. Vale a pena conferir e baixar. É de graça. +cRISTÃO - Dezembro / Janeiro 2013
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DICAS DE SAÚDE POLÍTICA
por Wilna Célia
NÃO BASTA QUERER O MILAGRE
É PRECISO
Wilna Célia é pediatra pela UFMA e especialista em Gestão de Instituições de Saúde.
PARTICIPAR
M
inha atividade médica iniciou-se nos anos 1980. Àquela época já era membro das Assembleias de Deus. Aprendi na igreja a amar as pessoas e na Medicina como ajudá-las nas suas vicissitudes. Durante anos enfrentei, por diversas vezes, o dilema entre a fé e a ciência. Sentia-me confrontada por vários questionamentos éticos e religiosos quando, com uma crença simples e sincera, perguntava-me se Deus poderia realizar um milagre de cura ou se eu deveria agir usando apenas meus conhecimentos médicos. Um texto bíblico narrado pelo evangelista João (Jo 9.1-11) permitiu-me visualizar algo ao mesmo tempo simples e sublime: um milagre sobrenatural materializado com a utilização de ferramentas humanas. A cena é a do encontro de um cego com Jesus, que, de forma inesperada, coloca lodo nos olhos do homem e o manda lavar-se no tanque de Siloé. O Senhor Jesus poderia tê-lo curado apenas com uma palavra, como realizado em outras situações, mas decidiu que a ação do cego, participando ativamente do processo, seria importante para a conquista do seu milagre. Atualmente, o Ministério da Saúde trabalha para, junto a estados e municípios, realizar uma profunda mudança no sistema de saúde brasileiro, o SUS. O padrão da pirâmide populacional brasileira está mudando, e o “país de jovens”, em poucos anos, será um país de idosos. Silvio Fernandes Silva, em seu artigo sobre Redes de Atenção à Saúde, comenta que “há um progressivo crescimento das doenças crônicas em decorrência do envelhecimento da população mundial e de mudanças no estilo de vida contemporâneo. As transições epidemiológica e demográfica nos países são acompanhadas de aumento de incidência de doenças como hipertensão, diabetes, cânceres e depressão, com coexistência de enfermidades infectocontagiosas em índices elevados, outras denominadas emergentes e reemergentes como HIV/Aids, hanseníase, tuberculose, novas viroses respiratórias etc., além de expressivo aumento de causas decor-
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rentes da violência. Esse perfil nosológico, caracterizado por uma tripla carga de doenças – crônicas, infecciosas e da violência –, exige diferentes respostas dos sistemas de saúde”. Para atender a essas necessidades, os serviços precisam estabelecer vínculos mais estáveis e duradouros com os usuários, além de instituir mecanismos que assegurem longitudinalidade, por meio de linhas de cuidado que abranjam prevenção e promoção e orientem os usuários no seu caminhar nas redes de atenção à saúde. Essas são as propostas que estão sendo implantadas para garantir uma melhor assistência à saúde. Dentro dessa lógica de organização, há um princípio que consideramos muito importante e que se relaciona à passagem de João 9. Na organização da assistência à saúde, o papel, ou seja, a responsabilidade de promover a saúde e realizar a prevenção e o controle das doenças cabe à equipe de saúde, bem como aos usuários do SUS e aos parceiros da comunidade, que são as igrejas, as escolas, as associações de moradores etc. Sendo assim, nas epidemias de gripe ou de dengue e na questão do uso de crack, por exemplo, todos os parceiros têm o seu papel na assistência e manutenção da saúde. Voltando à cura do cego de nascença, o Senhor utilizou o lodo como matéria, deu a orientação para a cura, mas o cego realizou a sua parte do milagre, crendo e agindo em seu próprio benefício. Foi ao tanque de Silóe e, assim, concretizou-se o milagre. Na vida dos profissionais de saúde, embora muitos não tenham consciência disso, dá-se um verdadeiro milagre, quando somos inspirados a agir, quando nossa visão se abre para entender o problema e quando oferecemos a opção correta dentro da verdadeira necessidade do usuário. Existe aí uma oportunidade para a igreja, que surge com essa nova forma de organizar o SUS. No contexto exposto, somos uma ótima opção de parceria, quando nos dispomos a oferecer o poder transformador do evangelho, colocando-o como +um diferencial no controle da saúde dos indivíduos.
ESPORTE
por Júnior Sipauba
MENTE SÃ EM ACADEMIA SÃ
N
ão penso que as academias sejam locais apenas para a “malhação do corpo”, como também não consigo compreender o motivo do desinteresse de algumas correntes religiosas pelo corpo, optando assim pela “malhação da alma”. Vamos por partes. Quando penso numa academia, enxergo um espaço maravilhoso para o cultivo de valores e para a promoção da vida em todas as suas dimensões. Seria bem interessante termos em nossas academias passeios com motivação social, projetos envolvendo palestras com temas diversificados (depressão, a sacralidade do corpo nas tradições religiosas, ética, família etc.), atividades lúdicas e por aí vai. O corpo não é coisa nem obstáculo, mas é parte integrante da totalidade do ser humano; meu corpo não é alguma coisa que eu tenho, mas eu sou meu corpo. A tendência em fragmentar o homem em compartimentos estanques (a razão funciona quando se estuda; a emoção, quando se apaixona etc.) não é adequada. Essa fragmentação rapidamente conduz a uma desarmonia da personalidade. A conhecida máxima “mente sã em corpo são” atribuída aos gregos, mas que, na realidade, foi defendida pelo escritor satírico romano Juvenal, 128 d.C. - está ancorada na sabedoria da espiritualidade do Oriente, a qual ensina que o corpo e a mente estão intimamente relacionados. Vamos tratar agora do corpo no contexto da espiritualidade. Para muitos segmentos religiosos, o corpo representa sempre uma ameaça, um motivo para o pecado, uma espécie de depósito do mal pronto para entrar em estado de erupção a qualquer momento. Com isso, desenvolve-se uma profunda falta de zelo em relação ao físico. Parece até que quanto mais este é maltratado maiores são os sinais de uma espiritualidade saudável. As mulheres, de forma muito especial, sofrem bastante com esse tipo de percepção, pois qualquer tentativa de cuidar melhor da aparência é concebida como uma insinuação sexual, devendo, portanto, ser duramente condenada. O apóstolo Pau-
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+CRISTÃO - dezembro / janeiro 2013
Junior Sipauba é pastor presbiteriano, mestre em Aconselhamento, matemático, Licenciado em Ciências e faixa-preta pela Conferedação Brasileira de Taekwondo. É autor de HomemMúmia e Caminho para os Lugares Altos.
lo escreveu: “O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Tessalonicenses 5.23) O mais curioso, no entanto, é que, se tomarmos o cristianismo como referência, é possível reconhecer exatamente o contrário, pois a encarnação, a crucificação e a ressurreição de Jesus são eventos do corpo. Qual é a maior celebração cristã? É o ato de relembrar a entrega que Jesus Cristo fez de si mesmo em favor de toda a raça humana: “seu corpo partido” e “seu sangue derramado” (Mateus 26. 26-30). É interessante observar como ainda reproduzimos uma concepção grega da relação corpo e alma no nosso cotidiano. E qual era a concepção grega sobre corpo e alma? O corpo era concebido como uma prisão. Todo drama humano consistiria, para Platão (Séc. V. a.C.), na tentativa de domínio da alma superior sobre a inferior. Enquanto a alma intelectiva é superior, o corpo tem também uma alma irracional, de natureza inferior, dividida em duas partes: uma irascível, impulsiva, localizada no peito; outra localizada no ventre e voltada para os desejos de bens materiais e apetite sexual. Platão defende a ideia de que a alma é anterior ao corpo. Por isso, antes de aprisionar-se fisicamente, ela pertenceu ao mundo das ideias (o verdadeiro mundo, o inteligível, das formas acessíveis apenas à razão). Segundo Platão, ao encarnar-se, a alma teria se esquecido de tudo. Todo conhecimento é esforço para se lembrar do que a alma contemplou no mundo superior das ideias. O desafio está lançado: devemos buscar uma visão que integre todas as nossas realidades. É preciso buscar não apenas um corpo “sarado”, mas também uma mente “sarada”. Nossa esperança é que cada um busque uma vida que seja permeada pela integridade, que significa a qualidade de+ser inteiro ou completo. Viva a malhação integral!
5 u i n t a a ument a da Umamús i c a , umapa l a v r anas a l adees t a r .
T o d ap r i me i r aq u i n t a f e i r ad ec a d amê s
n oE s p a ç oN o v aV i d a( Á g u a s C l a r a s D F ) Q S0 5 , L o t e0 3 , L o j a s 1e2
f b . c o m/ q u i n t a u me n t a d a