Revista +Cristão Edição06

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ENTREVISTA

Ano 02 – Nº06 | Abril 2014 | R$6,90

Guilherme Schelb, Procurador da República, especialista em segurança pública, autor do livro “Violência e Criminalidade Infanto-juvenil”, dedica-se com paixão contagiante ao tema da proteção à infância e se emociona ao reconhecer que as crianças brasileiras precisam de amor, e não de incentivo à erotização precoce.

+Cristão Ano 02 – Nº 06

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ABRIL 2014

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Editora Millibros

A COPA PARA CRISTO A AÇÃO EVANGELÍSTICA DURANTE O MAIOR EVENTO ESPORTIVO DO PLANETA Educação

As conquistas e os perigos do Plano Nacional de Educação

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A ditadura da beleza

A beleza é um estado de espírito? Ela é ou não fundamental?

Esquadrão de Cristo Dez anos evangelizando em duas rodas

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MAIS UMA UPA IN

É

Sala Vermelha

Sala de Coleta

O GDF acaba de entregar a UPA de Ceilândia. Ela é a maior do DF, uma das maiores do Brasil. São quase 2.500 m2 e conta com 300 funcionários entre médicos, enfermeiros, técnicos e terceirizados. Ela funciona 24 horas por dia e atende especialidades como clínica médica, pediatria, odontologia e exames. Com capacidade para atender 400 pessoas por dia, a UPA de Ceilândia tem também farmácia, sala de raio-x, eletrocardiograma,

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sala par Rec de C


A INAUGURADA: CEILÂNDIA.

ase a 24 ade ma,

É assim que este governo está mudando a saúde do DF.

Sala de Espera

Box de Emergência

sala de medicação e inalação, sala de urgência e sala de observação para adultos e crianças. O GDF já entregou 5 UPAs: Samambaia, Recanto das Emas, Núcleo Bandeirante, São Sebastião e, agora, a de Ceilândia. É assim que este governo está mudando a saúde do DF.

Secretaria de Saúde Governo do Distrito Federal

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EDITORIAL

A Revista +Cristão é uma publicação da Millibros Editora CNPJ: 03.640.579/0001-07

Contatos 61 9129-0990 jerrygaspar@revistamaiscristao.com redacao@revistamaiscristao.com

Expediente +Cristão Diretor Executivo Jerry Gaspar Diretor-Editor Jairo Cesar Diretor Comercial David Malafaia Direção de Arte, Design e Diagramação Aeroplano Comunicação Jornalistas Mércia Maciel Carmem Fortes Colaboração - Hosana Seiffert Revisores Eleazar Araújo (Zazo) e Josué Silva Articulistas Daniel Castro, Gilson Bifano, Hosana Seiffert, Julian Machado, Junior Sipaúba, Nilton Neto , Zazo, o nego. Fotografia Cristiano Carvalho e Thimóteo Soares Impressão Gráfica Brasil Distribuição / Periodicidade A Revista Mais Cristão é mensal. É distribuida em várias igrejas, livrarias evangélicas e bancas de jornais do Distrito Federal. Tiragem 10.000 exemplares

Publicidade Jireh Publicidade & Marketing Contato: David Malafaia

por Jairo Cesar

PARA A BOLA

P

ode ser que você já tenha ouvido que Jesus era contra o futebol, porque mandou ‘parábola’, tirar a trave e jogar a rede no mar. Na verdade o futebol já faz parte do linguajar comum, até na liturgia das igrejas. Há pastores que falam abertamente sobre seus times preferidos, e até em sermões são utilizadas expressões do melhor futebolês, como: - Vamos avançar no campo do adversário! - Em time que está ganhando não se mexe! - Não dá para entrar em campo de salto alto! Em tempos de Copa do Mundo, tudo gira em torno do que acontece nos gramados e dos jogadores, com seus salários milionários, que se tornam os protagonistas de um esporte que fascina as multidões. Há poucos dias um articulista de revista semanal comparou a taça de ouro da Copa, que está em turnê em diversas cidades brasileiras, a um bezerro de ouro, tal o fanatismo e idolatria que cerca o evento e seus personagens. Apesar do ufanismo de boa parte da mídia, que tem interesse em vender o espetáculo, percebe-se que a população está dividida. O Brasil não está unido para ver seu futebol campeão mais uma vez. Existe muita insatisfação com o Mundial. Enquanto uma parte da população está desinteressada pela Copa, outros protestam e fazem greves, revoltados com os altos custos de um evento de uma entidade (FIFA) bancados pelo Tesouro. Outra parcela dos cidadãos teme pela violência e perigos que podem tomar conta das ruas. Percebe-se que a organização da Copa mostra uma ostentação megalomaníaca, totalmente desnecessária para um país com tantos problemas sociais. Em um olhar mais apurado, parece faltar a noção aos governantes dos verdadeiros gargalos sociais e estruturais de infraestrutura, transporte, saúde, segurança. Produz-se uma Copa bilionária que contrasta com problemas sérios na educação e saneamento básico em boa parte do Brasil. É claro que há interesses políticos envolvidos na conquista da Copa. Em um ano de eleições, a demagogia pode falar mais alto. Será possível comemorar escondendo imagens de lixões, ônibus depredados, escolas fechadas, filas nos hospitais, violência, obras superfaturadas, preços dos hotéis, aeroportos inacabados? O governo conseguirá esconder a frustração das promessas não cumpridas? Como o cristão encara essa situação? Existe um bom time já comprometido com a propagação do evangelho, mesmo que as circunstâncias sejam adversas. A reportagem sobre o evangelismo durante a época da Copa mostra o contra-ataque da Igreja, na tentativa de enfeitar o passe e proporcionar algo mais que um espetáculo aos aguardados turistas/torcedores. É uma oportunidade única de apresentar o evangelho de Jesus Cristo a um grande número de pessoas. Pode ser que o melhor futebol, uma verdadeira paixão, não aconteça nos moldes desejados, mas mesmo que a bola não role nos campos de forma desplugada da política de outros interesses, pode-se ter a certeza de que a criatividade, a disciplina e o amor dos cristãos envolvidos no projeto Copa para Cristo poderá ser o grande diferencial para aqueles que decidirem trocar de time.

61 9188-6948 / 61 9652-2321 e-mail: davidmalafaia@revistamaiscristao.com

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Os artigos publicados nas seções “Pastoral”, “Casamento e família”, “Política”, “Direito e Cidadania”, “Dicas de Saúde”, “Qualidade de vida” e “Contos e Crônicas” são de inteira responsabilidade dos seus autores.

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+Agenda por Thimóteo Soares

QUINTA AUMENTADA DIA 05 DE JUNHO - 20H O baixista Jhoninha Medeiros apresentará músicas do seu primeiro CD, “Retomada” onde faz um convite de retomada à música que celebra a vida. Acompanhado por André Braz (bateria), Misael Silvestre (piano), Edilenio Souza (guitarra) e Elias (trompete), tocará composições próprias e outras conhecidas pelo público instrumental. Local: Espaço Nova Vida, QS 05, Lote 03, Lojas 1 e 2, Águas Claras/DF Entrada: Gratuita Info.: 61 3967-6292 / www.facebook.com/quintaumentada

FILADÉLFIA COUNTRY DIA 06 DE JUNHO - 19H A Igreja Batista Filadélfia anuncia a tradicional Filadélfia Country, a festa da Família Cristã. E este ano tem como atrações as bandas Xote Santo e Tempero do Céu, além de muitas surpresas e comidas típicas. Os ingressos podem ser adquiridos ao final dos cultos ou na secretaria. Local: Salão de Múltiplas Funções (Atrás da Feira do Guará) Entrada: R$15 Info.: 61 3381-2224 / www.ibfiladelfia.com.br

VALENTINE’S INVERSE DAY DIA 14 DE JUNHO - 21H A Valentine’s Inverse Day está em sua segunda edição, e não é uma festa somente para casais. A edição conta com os shows de André Stephan, Anne Késia e a banda Levafé (louvadeira). Tem também muita música eletrônica com o DJ Esh e outros estilos musicais. O evento conta com praça de alimentação e o Gospel Drinks. Local: ARUC, Área Especial 08 - Sres Cruzeiro Velho - DF Entrada: R$15 Info.: (61) 3361-1649 | www.valentines2014.tk

ENCONTRO ROMÂNTICO DIA 14 DE JUNHO - 20H A Terceira Igreja Batista convida casais para o Encontro Romântico, um evento exclusivo para casados e noivos, aberto também ao público. Comida e bebida à vontade para os casais, além de muita música, palavras e várias surpresas. Corra e garanta a sua entrada, pois as vagas são limitadas. Local: SCES Trecho 2 Cj. 52 Lote 40 Brasília-DF Entrada: R$50 Info.: (61) 3272-0847 | www.terceira.org.br

Divulgue o seu evento na Revista +Cristão. Envie um e-mail para: agenda@revistamaiscristao.com; coloque no campo assunto: Divulgação Evento e nos encaminhe todas as informações necessárias para a publicação

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SUMÁRIO

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| EDITORIAL

| ARTIGOS

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Agenda

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Pr. Nilton Neto

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Entrevista

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Hosana Seiffert

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As controvérsias da educação

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Gilson Bifano

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Julian Machado

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Daniel Castro

A beleza é um estado de espírito? Ela é ou não é fundamental?

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Zazo, o nego

Esquadrão de Cristo

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Zazo, o nego

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Junior Sipauba

Guilherme Schelb, Procurador da República

As conquistas e os perigos do Plano Nacional de Educação

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Eventos e congressos

A ditadura da beleza

Dez anos evangelizando em duas rodas

Palavra Pastoral Política

Casamento e família Saúde

Direito e Cidadania Contos e Crônicas Dicas de músicas Qualidade de vida

| CAPA por Mércia Maciel / foto Thimóteo Soares A COPA PRA CRISTO A ação evangelística durante o maior evento esportivo do planeta

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PASTORAL

por Nilton Neto

SERVIR OU SER SERVIDO? “Nenhum soldado em serviço se envolve em negócios desta vida, porque o seu objetivo é satisfazer àquele que o arregimentou” (2Tm 24).

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ecentemente tive uma nova oportunidade de ouvir um pastor amigo que é missionário em um país árabe. Embora já o tenha ouvido outras vezes, sempre saio impactado com os testemunhos e, principalmente, com a maneira como ele e os demais irmãos daquela região encaram o evangelho. Esse pastor havia sido militante de uma causa nacionalista e religiosa árabe. Era um soldado do terror. Quando veio para o Cristianismo, não perdeu a intensidade dessa militância, desempenhando-a com integridade sem medida, tornando-se um soldado do amor. Essa intensidade foi o que me confrontou, pois se tornou inevitável fazer uma comparação com o tipo de evangelho bem diferente que vivemos por aqui. O apóstolo Paulo é um exemplo dessa transformação de perseguidor a soldado do amor. Talvez por isso tenha usado a figura de um guerreiro quando escreveu falando dos combates da fé. Nesse manual de vida cristã, que é a segunda carta a Timóteo, Paulo associa a nossa caminhada à de um soldado que está em serviço, fazendo como contraponto à prioridade desse serviço justamente o envolvimento com os negócios desta vida. Acrescenta também que o objetivo desse serviço é satisfazer a quem o arregimentou. Por que Paulo destaca aquilo que chama de “os negócios desta vida” como opositores ao bom serviço? Porque eles servem para nos satisfazer. Eles não servem para satisfazer a Deus. Eles roubam o foco do serviço e do propósito de satisfazer àquele que nos arregimentou. Está aí um grande problema do tipo de Cristianismo que a igreja vive hoje. Realmente, com a mentalidade cristã vigente, ver aquele missionário e a vida que ele leva é um choque. Ele é o modelo exato desse soldado que Paulo fala para Timóteo, aquele que não se permite desviar do serviço por causa das coisas deste mundo. Parece-me que a igreja inverteu a lógica do versículo de Paulo e a do próprio evangelho. Se esse verso fosse escrito hoje, levando-se em conta a prática cristã atual, talvez ele saísse assim: “Nenhum cristão ocidental tem deixado de

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Nilton Neto é pastor da Igreja de Nova Vida do Guará-DF, Servidor Público Graduado em Direito, Pós-Graduado em Políticas Públicas.

se envolver com os negócios desta vida, porque o seu objetivo tem sido satisfazer a si mesmo”. A sua participação na comunidade da fé tem sido para servir ou para ser servido? É curioso como a prioridade da pessoa é refletida nas atitudes. As igrejas estão vazias de servos, mas cheias de críticos. É crítica para todos os gostos. Será que as críticas não estão expressando a frustração de alguém que veio à igreja para ser servido? Porque enquanto tivermos essa mentalidade nada vai estar bom. A maior consequência desse tipo de pensamento está naquilo que eu chamo de cultura da troca. Ela pode ser resumida assim: “Se não me serve, eu troco!”. Na cultura ocidental moderna, o que não serve é facilmente substituído. Nada mais se conserta. Não vale a pena, dá muito trabalho, o custo é muito alto. Aplicar isso em relação a coisas já é complicado. Não se trocam mais coisas por necessidade, mas, invariavelmente, por causa da moda, ou para a melhoria de um estado psicológico. É preciso fazer um up! Entretanto quando essa cultura da troca aplica-se a relacionamentos, aí fica muito complicado. É muito mais fácil trocar do que consertar. Trocam-se amigos, porque eles não servem mais. Troca-se o cônjuge com extrema facilidade, porque não serve mais – e isso dentro da igreja. Troca-se de igreja como se troca de camisa, porque ela não serve mais. Trocam-se pastores, porque não servem mais. Trocam-se irmãos em Cristo, porque não servem mais. Trocam-se chamados de Deus num estalar de dedos, porque não servem mais. Troca-se a Palavra por experiências místicas ou pela fórmula mágica do momento, porque ela, a Palavra de Deus, não serve mais. Troca-se o temor ao Senhor, porque ele não serve mais. Por fim, troca-se Deus com extrema facilidade, porque Ele não serve mais ao indivíduo ingrato, egoísta e insaciável, que é o homem que vive para ser servido, e não para servir. Por isso o impacto com as palavras e o exemplo daquele missionário. No Cristianismo que ele vive, não há espaço para a cultura de trocas. Algo está errado. Precisamos nos converter ao Cristianismo genuíno. Que Deus tenha misericórdia de nós! +

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ENTREVISTA

GUILHERME SCHELB Foto: Divulgação

Procurador da República fala sobre a proteção à infância e se emociona ao reconhecer que as crianças brasileiras precisam de amor e não de incentivo à erotização precoce

por Jairo Ribeiro e Mércia Maciel

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m cristão que usa todas as armas possíveis para proteger a infância. Pode se definir assim a vida do procurador da República Guilherme Schelb. Mestre em direito e especialista em segurança pública, apesar de todas as suas atividades profissionais, dedica-se com paixão contagiante ao

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tema da proteção à infância. Para isso, realiza palestras em escolas, universidades, hospitais, polícias civil e militar, igrejas e empresas. É autor dos livros “Segredos da Violência”, “Violência e Criminalidade Infanto-juvenil” e “Viver é Coisa Perigosa”. Schelb atuou em investigações criminais na Europa, Estados Unidos e América do

Sul. Foi responsável pelo combate ao crime organizado e à corrupção em órgãos públicos federais em ações de repercussão nacional e internacional. Aos 48 anos, falando à revista Mais Cristão, Guilherme Schelb emociona-se ao reconhecer que as crianças brasileiras precisam de amor, e não de incentivo à erotização precoce.

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+ Cristão – O senhor entende que existem no Brasil intenções de implantar políticas educacionais e culturais de erotização infantil, com a distribuição nas escolas de materiais que fazem apologia à erotização precoce de crianças e adolescentes?

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Guilherme Schelb – É uma corrente mundial patrocinada, inclusive, pela UNESCO. É lamentável que um órgão de orientação de nações utilize pedagogias e ideologias morais que tenham tal objetivo, a pretexto de esclarecer temas relevantes, como combater o preconceito ou orientação sexual, em face de doenças transmissíveis sexualmente. Mas o pretexto não se manifesta real, uma vez que a prática, na verdade, gera a erotização das crianças, a violação da dignidade delas, visto que são expostas a esses temas da sexualidade e da erotização, em profunda violação de direitos para a infância. + Cristão – Em 2011, o chamado kit gay (três vídeos e quatro cartilhas), produzido pelo Ministério da Educação, e livros paradidáticos com textos e ilustrações explícitas de relações sexuais destinados a escolas públicas do país causaram indignação na sociedade. Há denúncias de pais que leram, nos cadernos de seus filhos adolescentes, a tarefa de beijarem meninos e meninas, no final de semana, e relatarem a experiência. O Estado está extrapolando, nessas iniciativas? G.S. – É clara a política pública, no Brasil, hoje, de erotizar a infância. Os materiais didáticos infanto-juvenis, revistas e músicas estão num contexto que não é só dos governos federal e estaduais, mas de partidos políticos, movimentos sociais que, sob o argumento de combater discriminações injustas, na verdade, estão defendendo uma ideologia moral e sexual que implica a corrupção de valores e, principalmente, violação do direito da família a ter prioridade na educação dos filhos. Esse direito é constitucional, e o Brasil é signatário da Convenção de São José da Costa Rica, que confere à família esse direito exclusivo. E mais: essa convenção tem força de Cons-

tituição, e a norma determina que a família, os pais, terão o direito de que seus filhos só recebam educação moral de acordo com as convicções do núcleo familiar. Os pais têm que ser consultados e, mesmo diante dessa consulta – porque você pode até achar um pai que permite que seu filho assista a filme pornográfico –, há limites, em defesa da criança e do adolescente, que são pessoas em situação de vulnerabilidade psicológica para temas como violência, sexualidade e erotização. + Cristão – Há um movimento organizado em vários países, inclusive no Brasil, que defende a autonomia da vontade sexual da criança, reconhecendo que ela tenha desejos e deva satisfazê-los. Quais são os riscos de incitar o sexo como fonte de prazer para crianças e adolescentes? G.S. – A criança, mesmo um bebê recém-nascido, é um sujeito de direito – e não um objeto – e merece respeito. Só que estamos observando que essas crianças vêm sendo colocadas num palco em que elas decidem o que querem. Isso é o que pretendem e defendem os movimentos pedófilos e gays: a autonomia de vontade para crianças. E essa autonomia é fundamental para esses movimentos, porque eles querem que a criança decida o que é melhor para ela. E tem outro elemento importante, que é o chamado protagonismo infantil, que a princípio parece bom, mas na verdade é uma política que encobre o desejo. E desejo encoberto não é bom. As intenções devem ser sempre claras – principalmente, para fins sexuais. Por isso, nossa resistência e repulsa a esses movimentos e propostas de autonomia sexual para crianças. Elas merecem ser respeitadas, mas como serão respeitadas se começam a alegar que há crianças gays, por exemplo? Na verdade, isso é um preconceito desses movimentos, porque como eles vão aferir se a criança é ou não uma pessoa gay, em função de comportamentos até naturais do desenvolvimento infantil que vão passar a ser vistos preconceituosamente, como

“Os materiais didáticos... estão defendendo uma ideologia moral e sexual que implica a corrupção de valores.” (Guilherme Schelb)

se fossem gays? É um menino com fala fina, que tenha uma delicadeza no agir. Essa criança vai ser enquadrada como criança gay, de forma preconceituosa, pelos que dizem combater o preconceito. Essa doutrina da infância gay desconsidera uma questão fundamental que é o fato de a criança ser sujeito de direito, mas um sujeito especial. Porque ela está debaixo de orientação, formação, educação. Por quê? Porque ela está em desenvolvimento. A psicologia reconhece que ela está em sujeição a vulnerabilidades psicológicas, como não ter capacidade de lidar com fatos e temas da realidade. Por isso, ela tem que ser protegida, e nem propaganda nem informação deve ser dada a ela, por conta de sua fragilidade cognitiva. + Cristão – E como deve ser essa proteção? G.S. – Eu recorro ao direito dos animais. A natureza e a ciência nos revelam a existência de um macho e de uma fêmea. Os animais têm sexo e, nessa condição, de macho e fêmea, a criança tem que ser respeitada. É o direito dos animais tendo que ser trazido para as crianças, de modo a impedir, por exemplo, que uma mãe resolva dar um nome de menina para o seu filho. Ou a mãe que resolve que o filho de dez anos quer ser travesti e lhe aplica

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ENTREVISTA

G.S. – Houve um processo de ignorância de pessoas que, embora tenham formação superior, não conhecem a História, a Biologia, os rudimentos básicos da Sociologia e passam a confundir a defesa contra o preconceito e a discriminação, o que é correto. Então entendem que qualquer pleito de grupos minoritários se torna justo, simplesmente por ser protagonizado por grupos minoritários. Não. Minorias também praticam injustiças e podem propor coisas erradas. É preciso que a gente entenda que defender grupos minoritários de preconceitos e discriminação é uma pauta justa e verdadeira, mas nem por isso devemos nos estender à doutrina ou moral de que o adulto pode escolher livremente para a criança. A criança, não. Ela está submetida a uma formação e educação especiais. Não, não podemos, sob a bandeira de combater discriminação, erotizar e violar a dignidade humana da criança. + Cristão – O senhor já chegou a afirmar que a erotização infantil prepara o caminho para a aceitação social do sexo entre adultos e crianças. Esse risco é iminente? G.S. – Existem organismos internacionais, partidos políticos e, na Holanda, por exemplo, associações de grande extensão cujo alvo é legalizar, jurídica e socialmente, o sexo entre adultos e crianças. O movimento pedófilo é organizado e tem filosofia. Sei que é difícil falar sobre isso, dá náuseas, mas até o pedófilo, na sua loucura, alega-se de-

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Foto: Divulgação

hormônios. Isso é violação à condição biológica dessa criança. Se você for ao cartório dar um nome de menina a um menino, o notário não permitirá, porque é uma violação do direito infantil. Isso é apenas uma das manifestações de que não posso, como pai, professor ou médico, desrespeitar a sua dignidade biológica de sexo. + Cristão – E que papel a mídia está exercendo nessa erotização precoce de crianças e adolescentes?

fensor da infância, porque na sua visão pervertida, o sexo e atos libidinosos são “direitos da criança”. Então, isso vem apoiado pelo princípio da autonomia da vontade da criança e do adolescente. A princípio é algo interessante, pois é bom ouvir as crianças, elas podem colaborar; mas, com a desculpa de se reconhecer esse protagonismo infantil, na verdade se quer implantar o princípio de que meninos e meninas podem decidir o que é melhor para eles, inclusive manter relações sexuais, o que não podemos admitir.

intenso em algumas regiões. Mas a despeito disso, vemos situações ligadas à prática das relações sexuais de crianças com pais. Primeiro, muitos desses pais foram vítimas de violências sexuais na infância e praticam com seus filhos o que sofreram antes. Muitas vezes, essa prática é decorrente de uma moradia em que, muitas vezes, a família reside num cômodo só. Os filhos veem os pais mantendo relações sexuais, e inicia-se um processo de sedução da criança e do adolescente. Ainda há a questão do álcool e das drogas. Pesquisas mostram que, na maioria dos casos de violação sexual ou estupro, ou o autor ou a vítima consumiu (ou consumiram) drogas ou bebidas.

+ Cristão – Em algumas regiões do país, há a chamada “cultura do incesto”, um costume – até mesmo visto como obrigação – dos pais de iniciarem sexualmente as filhas. Para enfrentar essa perversa dominação de gênero, é preciso educação?

+ Cristão – Essas pequenas vítimas ainda são “invisíveis” para a sociedade?

G.S. – Existem várias regiões, no Brasil e no mundo, em que se observa essa prática. É um costume raro, embora seja

G.S. – As vítimas não têm voz e, muitas vezes, aceitam essa prática. Dissemina-se o costume dos carinhos sexuais

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nas crianças, sob o consentimento da família e da escola. E a criança, uma vez acostumada aos contatos menores – mas não menos insidiosos – de um adulto, fica estimulada aos atos libidinosos. Essa criança passa a gostar daquele abuso, de ser corrompida, acaba gostando. Mas é um abuso gravíssimo, pois uma criança de cinco ou seis anos não tem nenhuma vontade, mas está sendo conduzida a isso. + Cristão – A igreja evangélica já se atentou para a responsabilidade que tem no tocante ao enfrentamento de iniciativas que tentam influenciar crianças com práticas fora dos princípios bíblicos ou ainda não se deu conta desse desafio? G.S. – Eu oro para que a igreja se desperte em relação a esse tema e para que haja um despertar cívico dos pastores e lideranças, a fim de que entendam que criança é prioridade. Temos que reconhecer um estado de abandono na infância e temos que recuperá-la e evitar que isso ocorra dentro da igreja. Os pedófilos procuram a criança onde ela esteja e possam ficar escondidos. É o caso de escolas e igrejas – é o motorista de uma van escolar; um professor de escolinha de futebol ou alguém dentro da igreja cuidando de criança, dentro de uma sala. Não estou dizendo que essas profissões têm alguma suspeita, mas o local, sim. Quem trabalha com crianças deve ter os locais vigiados, com portas com vidro e muita iluminação. Afinal, a arquitetura ajuda muito para que os abusadores não se sintam seguros. E quem cuida dos locais nas igrejas? Os pastores devem ficar atentos para o fato de que também lá os abusos podem ocorrer se não forem tomados os cuidados. Eu penso que é necessário olhar a vida integral, e não apenas na igreja, que é um lugar de saída. As pessoas são alimentadas na igreja, mas têm que cuidar de vidas quando saem dela e que estão ao seu alcance, e não apenas da sua. Várias situações podem ocorrer. É necessário ter um olhar desperto.

+ Cristão – Nos dias atuais, é ingenuidade considerar que uma criança de doze anos, por exemplo, não saiba o que é ato sexual? Nesse contexto, os pais precisam dialogar para evitar que ela aprenda lá fora, com valores deturpados e sem os princípios cristãos e o adequado desenvolvimento cognitivo e emocional? G.S. – O Brasil é o maior destino mundial de turismo pedófilo. Portanto é interessante ter as crianças bastante ativadas nessa área para facilitar seus trabalhos. Aqui, as músicas e os programas são eróticos. A relação sexual é tratada como se fosse uma brincadeira, e a criança é criada em um ambiente onde o ato sexual é pouco mais do que qualquer outro ato biológico, ou até menos. Assim, ela estará muito propensa ao ato sexual precoce. Dessa forma, os pequenos não vão ser levados ao entendimento, à compreensão para a vida deles, mas a um ato que todo o mundo faz porque é legal. A criança merece a informação, mas contextualizada, na sua vida e pela família. E é a família quem cuida dos filhos, e não um professor que estimula a masturbação, nas escolas, como ocorre. Não é ele quem vai

“Afamília, a lei, a Constituição Federal e a Convenção de São José de Costa Rica, da qual o Brasil é signatátio, conferem à família a primazia da orientação moral de seus filhos.” (Guilherme Schelb)

conviver com a criança durante o dia e cuidar daquela que é assediada sexualmente por um familiar ou vizinho. Ele estimula a prática social, mas não será quem vai se responsabilizar depois. A família, a lei, a Constituição Federal e a Convenção de São José de Costa Rica, da qual o Brasil é signatário, conferem à família a primazia da orientação moral de seus filhos. + Cristão – Como o senhor avalia as propostas que integram a reforma do Código Penal Brasileiro quanto à dignidade infanto-juvenil? G.S. – Infelizmente, a proposta original de Reforma do Código Penal era uma aberração contra a infância e a adolescência, desde a redução da idade para consentimento do ato sexual, dos atuais catorze anos para doze, até a legitimação da prostituição de adolescentes. Esses são dois exemplos que constavam da proposta original. Um acinte, um abuso, um crime de responsabilidade. Vivemos um tempo em que as pessoas propõem o que querem, e é preciso refletir sobre essa situação. Foi uma ótima surpresa saber que o senador Pedro Taques, que ficou responsável pelo projeto, reviu e alterou essas propostas em seu relatório. Mas fica o alerta de que o próprio governo federal propôs coisas como essas. Com que legitimidade? Eu acho que é um tempo para estarmos atentos ao dia a dia. Materiais didáticos e políticas públicas estão sendo formulados à sombra, sem o conhecimento das pessoas, e isso não é democrático. + Cristão – Mesmo com tantos anos de luta nessa área, o senhor sempre se emociona ao falar do assunto. O amor e o cuidado são o combustível para continuar nessa dura batalha em defesa da infância? G.S. – Sem amor não poderemos fazer nada. O amor é uma proteção. O tema é de difícil compreensão para a nossa mente. O amor nos dá tranquilidade interior e nos permite cuidar melhor das pessoas. +

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POLÍTICA

por Hosana Seiffert

Hosana Seiffert é Jornalista, editora executiva do Jornal do SBT Brasília, professora de Telejornalismo, especialista em Educação a Distância, mestranda em Missiologia pelo CEAM – Centro de Estudos Avançados de Missões.

OBRIGAÇÃO OU PRIVILÉGIO?

M

ais de 200 milhões de brasileiros, cerca de 140 milhões de eleitores. Os números impressionam e a polêmica também. Voto obrigatório ou facultativo? Uma obrigação ou um privilégio? O tema é recorrente entre a legião dos insatisfeitos com a representação política brasileira. Quem defende o fim do voto obrigatório argumenta que a decisão de votar cabe ao eleitor e que o empenho dos candidatos na conquista dos eleitores seria muito maior. Por outro lado, mesmo com a obrigatoriedade do voto, mais de 22 milhões de pessoas deixaram de comparecer às urnas nas últimas eleições. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral isso significa cerca de 16 por cento dos eleitores cadastrados no país. Polêmica à parte, o fato é que o Brasil precisa mesmo é de uma consciência maior sobre cidadania e da compreensão clara sobre a importância de um Estado democrático. A questão é: como construir isso? Imagino dois caminhos: pela educação ou pelo sofrimento. O primeiro, mais trabalhoso, o segundo totalmente trágico. E o exemplo vem de um pequeno país, no ocidente africano: Guiné-Bissau. Tive o privilégio de acompanhar de perto o primeiro turno das eleições em Guiné, no último dia 13 de abril. O país foi colônia de Portugal até 1974, quando finalmente conquistou o reconhecimento da independência, depois de uma guerra armada de mais de onze anos.

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Veio a independência, mas não a estabilidade democrática. São quarenta anos de golpes militares, políticos assassinados, guerra civil e a amarga falta de desenvolvimento. Segundo a ONU, Guiné-Bissau encontra-se na 176ª posição no relatório de Desenvolvimento Humano de 2013, em uma lista composta por 186 países. A esperança de vida em Guiné-Bissau é de 48 anos de idade. Faltam hospitais, escolas, empregos e por vezes até água e luz durante vários dias na capital. O último golpe militar em Guiné-Bissau foi em 2012. Com os embargos econômicos e a pressão internacional, o governo provisório marcou então, as eleições gerais. Detalhe: o voto não é obrigatório. Mas o que se viu, foi um verdadeiro show de democracia. Ao todo, foram 13 candidatos à presidência e 15 partidos que concorreram a 102 vagas na Assembleia Nacional Popular. Mas o que realmente chamou a atenção foi a alegria do povo e a participação guineense nas urnas. Mais de 80 por centos dos 775.508 participaram das eleições no primeiro turno, sem voto obrigatório, sem transporte público, sem urna eletrônica, e sem uma estrutura eleitoral como a do Brasil. Por toda parte, da capital às aldeias, o sentimento guineense era unânime: de que o voto é o ato mais importante para mudar a história do país. O sofrimento dos últimos 40 anos forjou essa forte consciência de cidadania. O povo compreendeu que o voto é uma oportunidade única. Tomara que a consciência de além-mar chegue ao Brasil. +

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CASAMENTO&FAMÍLIA

por Gilson Bifano

Gilson Bifano é Pastor e Diretor do Ministério OIKOS (Ministério Cristão de Apoio à Família). Escritor e conferencista na área de casais e famílias. Casado com Elizabete Bifano.

DIVÓRCIO DOS FILHOS

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m dia desses, estava conversando com um pastor; e este, quase às lágrimas, compartilhou sua tristeza com o divórcio da filha. Falou também do seu sofrimento em relação à ausência do pai de seu netinho. Contou sobre o quanto sofre em saber e perceber claramente a falta que o netinho sente do pai e como isso o tem afetado. O conhecido evangelista norte-americano Billy Graham e sua esposa, Ruth, também experimentaram esse dissabor. Com as facilidades para as separações conjugais e por vivermos numa sociedade na qual os valores são cada vez mais relativos e o estilo de vida individualista, vemos que só faz aumentar o número de divórcios em nosso meio. A igreja não está imune a esse problema. O fim de um casamento afeta todos na família. Não somente os cônjuges e filhos sofrem com seu impacto, mas também os pais, amigos, parentes. Especialmente se essas pessoas envolvidas têm valores cristãos como norteadores de seu estilo de vida. Não deve ser fácil lidar com o divórcio dos filhos. Pesquisei na internet, e quase nada há escrito nesse sentido. Não posso escrever por experiência própria (pela graça de Deus). Mas creio que, ouvindo histórias diversas pelas igrejas onde ministramos e na própria vivência de aconselhamento e terapia, podemos dar algumas sugestões para os pais que experimentam essa triste realidade. Aqueles que têm filhos passando por processo de divórcio devem tomar muito cuidado para não acirrar ainda mais os ânimos dos cônjuges envolvidos. Não existe “divórcio bom”. Por mais amigável que seja, ele é sempre um combustível para alimentar a raiva dos cônjuges. Os pais destes devem ter muito cuidado nesse sentido. De-

vem procurar amenizar a ira no coração da filha ou do filho envolvido. Por outro lado, não devem tomar partido. Ser solidário é algo louvável, mas num divórcio há uma parcela de responsabilidade por parte de ambos. Costumamos afirmar que nos conflitos conjugais os dois estão certos e errados ao mesmo tempo. Achar que a filha é uma santa ou que o genro é cem por cento responsável pelo divórcio é incorrer numa grande inverdade. Os pais devem saber que os filhos que se divorciam já são adultos. Podem sofrer com a situação, mas devem sempre lembrar que eles são adultos e responsáveis por seus atos. Suas vidas continuarão a ter um caminho próprio. Muitas vezes, o que se vê é a filha ou o filho divorciado voltar para a casa dos pais. Essa volta pode ser uma realidade, mas antes devem considerar outras possibilidades. Um filho ou filha que experimentou o fim de um relacionamento conjugal e volta para a casa não é a mesma pessoa que partiu na época do casamento. Os pais devem estar cientes desse fato. Por outro lado, se há crianças envolvidas, os avós podem ajudar, mas sabendo que não ocuparão o lugar da mãe ou do pai ausente. Devem ter consciência de que continuarão sendo avós, e não pai ou mãe da criança dos que se separaram. Esse amigo que teve sua filha envolvida com o divórcio e ajuda na criação do neto contou o quanto é difícil dizer sempre para o menino que ele não é o pai, mas o vovô. Deve ser muito difícil essa atitude, mas ainda é a melhor a seguir. Por último, jamais deixar de orar. A oração é o melhor instrumento para amenizar a dor de um divórcio no coração de todos, inclusive a dor dos pais dos cônjuges envolvidos. + +CRISTÃO ABRIL 2014

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Foto: Thimテウteo Soares

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PARA CRISTO A ação evangelística durante o maior evento esportivo do planeta

por Mércia Maciel

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bola ainda nem rolou, mas um time já está se aquecendo para entrar em campo. Em lugar de passes, jogadas e gols, amor ao próximo e obediência à ordem de levar o Evangelho a toda criatura. Há quase dois anos, a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), em parceria com a Coalizão Brasileira de Esportes (CBE), AMME Evangelizar, Atletas de Cristo e Rede Evangélica Nacional de Ação Social (Renas), prepara equipes por todo o país para participar do movimento Joga Limpo, Brasil. Atletas, igrejas, denominações e organizações cristãs que aderiram ao programa atuam livremente, segundo seus projetos e objetivos. A iniciativa é ousada: nos arredores dos doze estádios que receberão as partidas da Copa do Mun-

do, em junho, e em hotéis e pontos turísticos, fiéis cristãos entregarão kits evangelísticos aos torcedores, enfatizando que a maior vitória está em Cristo Jesus e que as Escrituras podem gerar atitudes positivas no esporte e fora dele. Mais: além da evangelização, igrejas estão treinando jovens bilíngues para darem apoio ao turista estrangeiro, com mapas, orientações e literatura bíblica. Entre os materiais produzidos, está a Bíblia Sagrada, com suplemento do livro O Segredo da Vitória em doze diferentes capas que representam cada uma das cidades-sede da Copa, em várias línguas. Por todo o país, ministérios esportivos parceiros da SBB promovem clínicas de futebol, formando novos atletas com valores e princípios bíblicos.

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O nome do movimento é uma referência à expressão inglesa fair play (jogo limpo), conceito vinculado à ética e ao respeito no meio esportivo. Já a inspiração bíblica veio do Livro de Atos, o qual narra a visão que levou o apóstolo Paulo a ir de Atenas para Corinto, um dos mais importantes centros comerciais e de diversões do Império Romano e sede de um dos maiores eventos desportivos, os Jogos Ístmicos. Segundo os historiadores, o evento desportivo era realizado a cada dois anos, com disputas de provas hípicas, atléticas, literárias e náuticas. Ali, Paulo encontrou a oportunidade para anunciar o Evangelho e alcançar pessoas de todas as partes do mundo. Para o Assessor de Projetos Especiais da Sociedade Bíblica do Brasil, Eude Martins, a prática esportiva pode ser uma forte aliada na propagação das Escrituras. “Cremos que o esporte faz parte da criação de Deus, que nos fez com a capacidade de competir e desfrutar dele. As palavras atribuídas a Eric Liddell, no filme Carruagens de Fogo, resumem bem essa verdade: ‘Deus me fez para um propósito, mas Ele também me fez rápido, e quando eu corro, eu sinto o seu prazer’. A própria Bíblia traz inúmeras referências ao desporto, como a corrida em direção à linha de chegada para obter o prêmio e a vitória que vence o mundo”, assinala Eude. Ainda segundo o assessor de Projetos Especiais da Sociedade Bíblica do Brasil, evangelizar durante um evento desportivo, como a Copa do Mundo, é um desafio. “Primeiramente, põe sobre nós a responsabilidade de, assim como Paulo descreve, sermos exemplos nessa corrida! Para isso, temos no Senhor Jesus Cristo o maior de todos os ‘corredores’, nosso melhor modelo. E que, olhando para Ele, sejamos motivados a transformar o Joga Limpo,

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Foto: Evangelismo na copa

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Integrantes do Evangelismo na Copa em concentração na Copa das Confraternizações 2013

Brasil num verdadeiro movimento de despertamento e testemunho da mensagem do amor de Deus”, afirma confiante. Sabe aquele lance genial, com habilidade e técnica de jogador em rumo certeiro ao gol? Pois foi de Jogada Perfeita que o Ministério RBC Brasil, organização internacional e interdenominacional, batizou seu projeto de evangelismo na Copa de 2014. Responsável pela conhecida publicação Pão Diário, traduzida para 56 idiomas e distribuída em 156 países, o ministério começou a traçar sua estratégia evangelística assim que o Brasil foi anunciado como país-sede do Mundial. O objetivo do projeto também é o de apoiar e servir as diversas iniciativas de igrejas, organizações cristãs e projetos esportivos com materiais bíblicos contextualizados para esse evento único, em português, inglês, espanhol, francês, italiano e alemão. A experiência em publicações e em eventos de esportes em outros países caiu como luva e motivou o ministério. Além de folhetos e livretos evangelísticos, outros materiais com informações sobre o torneio, como tabelas de jogos, dados das cidades-sedes das partidas e curiosidades sobre as Copas do Mundo de Futebol serão distribuídos ao torcedor. Já as crianças terão um exemplar especial, o

Jogada Perfeita Júnior, com diversas atividades e depoimentos de vários atletas. Além do material impresso, outros recursos foram preparados, como sites e músicas. Animado, o coordenador do projeto, Wesley de Souza Oliveira, ressalta a importância da iniciativa. “Desde 1970, com o surgimento de Atletas de Cristo, a igreja evangélica brasileira começou a abrir as portas para o esporte. Hoje, podemos aproveitar de vários benefícios que ele pode promover, nas áreas de saúde, social e profissional. E por meio desses benefícios, fica muito mais fácil promovermos valores do Reino como amor, justiça e esperança”, constata. Os Gideões Internacionais, conhecida associação cristã de homens de negócio e profissionais, presente atualmente em 197 países, também formou um time de evangelizadores. A entidade, que distribui exemplares completos da Bíblia e do Novo Testamento, com Salmos e Provérbios, gratuitamente, em hotéis, escolas, hospitais, presídios e quartéis, preparou uma edição especial do Novo Testamento, com versões em português, espanhol e inglês. A equipe já entrou em campo e está colocando a publicação trilíngue nos hotéis das cidades-sede do Mundial. Segundo o Diretor Executivo dos Gideões Internacionais no

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menta que em território brasileiro ainda existem hotéis e escolas particulares fechados para o ministério dos Gideões Internacionais, mas nada que desanime o time de Cristo a pregar a salvação. A Copa das Confederações, realizada no ano passado, serviu de laboratório para as experiências evangelizadoras. Durante o torneio internacional, parceiros do projeto distribuíram 200 mil exemplares do livreto Jogada Perfeita. Boa parte do material foi entregue a torcedores do

Nordeste, sede da maioria dos jogos. Clínicas esportivas, jogos para a comunidade, projetos sociais e outras iniciativas também foram realizadas. “Apesar do bom resultado, percebemos que ainda era necessário maior engajamento da igreja evangélica. A adesão tem sido muito boa, mas ainda esperamos que esse processo seja mais intenso, já que faltam pouquíssimo tempo para os jogos”, enfatiza Wesley. “FOMOS TODOS CONVOCADOS” Sóstenes Aranha nem gosta muito de futebol, mas tem de sobra compaixão pelas almas perdidas. Ex-titular da seleção universitária de vôlei, ele é o responsável por preparar as equipes de evangelizadores que vão trabalhar durante os jogos que serão realizados em Brasília. A proposta também se estende a todas as cidades que vão sediar o Campeonato. Vice-presidente da Confederação Nacional dos Homens Presbiterianos da Região Centro-Oeste e presidente do Comitê Brasil de Evangelismo na Copa de 2014, Sóstenes, que frequenta a 2ª Igreja Presbiteriana

de Taguatinga, já conta as horas para o início da competição. A ideia de levar a Palavra aos torcedores surgiu em 2010, durante um congresso da denominação, no Rio de Janeiro. O aquecimento já foi feito no ano passado, durante a Copa das Confederações, quando cerca de duzentas pessoas, vestidas de camisetas com as cores da seleção brasileira, entregaram 40 mil Biblinhas a quem chegava para assistir à abertura do campeonato. Para a Copa do Mundo, serão distribuídos, nas cidades-sedes, um milhão de exemplares. Somente para Brasília estão reservadas 112 mil unidades. “O livrinho traz temas e versículos que impactam o leitor como o amor de Deus, vida eterna e relacionamentos. Além de levar a salvação a milhares de pessoas, a igreja será edificada. Fomos todos convocados para exercer essa missão de resgate de vidas”, conclama Sóstenes. A Copa das Confederações também serviu de treino para o projeto Jogada Perfeita, quando 200 mil livretos foram distribuídos entre torcedores brasileiros e estrangeiros.

Foto: Evangelismo na copa

Foto: Shutterstock

Brasil, Delcio Ferreira Manrique, a expectativa é alcançar a maioria dos visitantes estrangeiros que desembarcarão no país. “A Copa também será uma oportunidade para o evangelismo pessoal, quando do contato com pessoas que visitam a cidade. Temos orado por portas abertas para a distribuição da Palavra de Deus no Brasil e em todo o mundo. Sabemos que estamos numa batalha espiritual e, por isso, a participação das igrejas nesse esforço de oração é tão importante”, alerta Delcio. Ele la-

Evangelismo na Copa em ação

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Foto: Arquivo Jogada Perfeita

ALÉM DAS QUATRO LINHAS - FUTEBOL E SEXO Mais do que um evento esportivo, a Copa do Mundo agita o turismo do país-sede. Milhares de estrangeiros desembarcarão no Brasil para assistir aos jogos de suas seleções e conhecer as deslumbrantes belezas naturais e encantos do país. Mas, fora dessa sintonia, outro turismo, velado e à sombra, está pronto para agir: o sexual. Crianças fora da escola, intenso fluxo de turistas e fatores socioeconômicos ampliam os riscos de aumento da exploração de meninas e mulheres durante o mundial de futebol. Enquanto os olhos de milhares de pessoas, em todo o mundo, estarão voltados para dribles e jogadas, grupos de evangelizadores vão percorrer as principais zonas de prostituição de

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cada uma das doze cidades que sediarão jogos da Copa. A iniciativa é do Exodus Cry, ministério norte-americano que combate a escravidão sexual em todo o mundo. Durante os 31 dias do Mundial, em todas as cidades-sedes, grupos vão se revezar, por 24 horas ininterruptas, em oração, enquanto voluntários percorrerão os pontos de prostituição, levando uma palavra de libertação. Em Brasília, a Igreja Batista da Asa Norte abrirá suas portas para receber os intercessores. Serão 744 horas de oração pelo fim do tráfico sexual, pelos governantes e por um despertar espiritual do país. Na sala de oração, antes de sair a campo, os voluntários receberão treinamento da equipe de evangelizadores da organização Exodus Cry, que virão de Kansas City (EUA). Como estratégia de conquista e acolhimento, a sala também receberá meninas e mulheres que se prostituem nas ruas de Brasília e que queiram ouvir mais do plano de salvação e uma palavra de conforto. “Nosso objetivo é comunicar a compaixão e o amor de Deus. Realizaremos eventos de colheita, que são momentos para conversar com elas, tomar um chá, um café da manhã, testemunhar e falar de Deus para quem já perdeu a esperança”, projeta Milana Borges, uma das coordenadoras do projeto na capital federal. A iniciativa será feita em todas as cidades que vão sediar os jogos, sempre numa igreja evangélica. Segundo Milana, o projeto Liberdade Brasília é uma ação evangelizadora para resgatar vidas de um dos crimes mais hediondos. Para isso, seus organizadores apostam na oração. “Várias equipes de igrejas de Brasília que estão fazendo movimentos de evangelismo na Copa têm conversado conosco e trazido seus alvos de oração. Por isso, a sala ficará aberta para que esses grupos

tenham um lugar para interceder”, ressalta Milana, que frequenta a Igreja Metodista Ortodoxa. No ano passado, durante a Copa das Confederações, o grupo intensificou as orações. O resultado do clamor veio logo depois, com a prisão de três cafetinas que exploravam meninas e mulheres no Distrito Federal. “Nossas orações podem mudar cenários. Imagine o que pode acontecer quando a gente orar ininterruptamente, nos 31 dias de mundial, em todas as cidades-sedes? A igreja precisa acordar para o problema do turismo sexual e investir em missões urbanas. Assim, as autoridades, inclusive eclesiásticas, estarão mais sensíveis ao tema. Com o Brasil em evidência, queremos a imagem de nosso país profundamente alterada por nossas orações. A gente acredita que alguma coisa vai mudar”, explica. A preocupação de Milana se justifica. Segundo levantamento do jornal Folha de S. Paulo, nesse período, enquanto a bola rolar nas arenas desportivas, o mercado da prostituição deverá crescer em 60%. A OnG sueca ChildHood, especializada em proteção à infância, elaborou estudo sobre o aumento de casos de

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“Com o Brasil em evidêndia queremos a imagem de nosso país profundamente alterada por nossas orações.” (Milana Borges)

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Foto: Divulgação

Foto: Gettyimages

exploração sexual de mulheres e crianças em sedes de grandes eventos esportivos, nos últimos anos. O documento foi entregue à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Os dados preocupam. Na Copa de 2010, na África do Sul, foram registrados 73 mil casos de abusos contra mulheres (um aumento de 83%), nos dois meses entre a chegada das delegações e o fim do torneio. Na Alemanha não foi diferente. Em 2006, o país europeu contabilizou 20 mil casos contra crianças e 51 mil contra mulheres (49% a mais). Se levados em conta a dimensão territorial do Brasil e os fatores socioeconômicos, a história ameaça se repetir por aqui. Mas evangelizar embalado pelos gritos eufóricos da torcida e pela ansiedade que antecede as partidas é uma estratégia acertada? Sóstenes Aranha garante que sim. “Evitamos sair em grupo. De dois em dois, abordamos as pessoas. Aqueles que nos dão oportunidade para uma breve exposição evangelística recebem uma palavra e o material, que cabe no bolso. Chegamos duas horas antes do início da partida, para que as

Wesley de Souza Oliveira, coordenador do Programa Jogada Perfeita

pessoas tenham tempo de parar ou receber a Biblinha, sem que a abordagem atrapalhe o clima festivo dos torcedores”, observa. Ele lembra-se de que, na Copa das Confederações, um senhor recebeu o material evangelístico e foi embora. Minutos depois, voltou com um grupo de catorze jovens para que também eles recebessem os livretos e orações. “Foi uma grata surpresa. Aquele homem recebeu as Boas Novas e quis reparti-las. Plantamos e não voltamos com as mãos vazias”, lembra Sóstenes, animado. Segundo Eude Martins, a estratégia evangelística

deve ser discreta, inclusive quanto à divulgação na mídia. “Não haverá grande divulgação nos meios de comunicação porque a FIFA opõese radicalmente a qualquer ação de natureza religiosa em seus eventos esportivos. Quanto mais discreta for a mobilização cristã, melhor”, aconselha. Já a preocupação com os protestos, que no ano passado tomaram as ruas e que devem se repetir durante a Copa, está no planejamento de todas as iniciativas evangelizadoras. Segundo Wesley de Souza Oliveira, a oportunidade de sediar os jogos

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Foto: Arquivo Jogada Perfeita

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se transformará numa vitrine para mostrar os princípios bíblicos. “Este é o momento de sinalizarmos os valores do Reino de Deus, por meio de nosso serviço à comunidade local e internacional. Se pudermos criar um ambiente onde esses valores possam ser demonstrados, certamente realizaremos nosso papel. Isso estará exposto em nossos materiais bíblicos e em todas as ações comprometidas com a mensagem do Evangelho”, resume o coordenador do programa Jogada Perfeita. Já para o Assessor de Projetos Especiais da Sociedade Bíblica do Brasil, as ações programadas para a Copa das Confederações foram prejudicadas pelos movimentos populares violentos, que assustaram os grupos que estavam mobilizados. “A grande lição foi a de evitar eventos nas proximidades dos estádios e trabalhar mais no interior das arenas, com evangelismo pessoal discreto, e nos bairros afastados dos estádios, onde haverá mobilização

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“Este é o momento de sinalizarmos os valores do Reino de Deus, por meio de nosso serviço à comunidade local e internacional. Se pudermos criar um ambiente onde esses valores possam ser demonstrados, certamente realizaremos nosso papel.” (Wesley Oliveira)

popular para assistir aos jogos”, observa Eude Martins. Todas essas experiências evangelísticas serão estendidas às Olimpíadas de 2016, que acontecerão no Rio de Janeiro. E quem driblou as dificuldades para falar do amor de Deus aos torcedores foi Hugo Ferreira, 24 anos, da Segunda Igreja Presbiteriana de Taguatinga. Fanático por futebol, ele fez parte do time de evangelizadores que dedicou um pouco de tempo para falar do amor de Deus a torcedores, por ocasião da Copa das Confederações, e já se prepara para entrar em campo durante o mundial, em junho. Animado, o universitário assistirá a dois jogos, no estádio Mané Garrincha, mas não abre mão de partir para a ofensiva e resgatar almas que precisam de salvação. “Mais uma vez, estou pronto para evangelizar. Foi uma experiência incrível e estarei firme na propagação do Evangelho que salva vidas”, afirma animado, sabendo que nesse jogo é mais do que um vencedor. +

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SAÚDE

por Julian Machado

Julian Rodrigues Machado é médico ortopedista, Presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia do Distrito Federal e Pastor na Igreja evangélica Sara Nossa Terra.

A MEDICINA E A BÍBLIA NOS ÚLTIMOS DIAS

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m Abril do ano passado, o jornal americano The New York Times perguntou-se num artigo se estamos vivendo o fim dos tempos ou a aurora de uma nova era. Parece uma pergunta besta, mas faz sentido: nos dias de hoje, temos mesmo que conviver com duas narrativas aparentemente opostas. Segundo uma delas, vivemos o apocalipse, o clima vai nos matar, as espécies estão todas se extinguindo, as cidades pararam, vamos todos nos afogar numa maçaroca de lixo, trânsito e SPAM. Já a outra história diz que nunca progredimos tão rápido, que um computador de mesa de hoje é mais potente que um supercomputador militar que ocupava uma sala em 1996, que os avanços da genética e da neurociência, somados ao poder da colaboração e da conexão, vão criar a época mais igualitária, democrática e produtiva da história da humanidade (o texto do Times, era do colunista Anand Giridharadas). A palavra de Deus no livro de Daniel nos previa todas essas coisas. Em Daniel 12.4, anunciava-se a multiplicação da ciência e, no livro de Mateus, no capitulo 24, vemos o caos recorrente nesses dias. Como médico, cientista e cristão, tenho uma opinião muito firme sobre tudo isso, acredito realmente estarmos vivendo os últimos dias. Mas certamente não sabemos quanto tempo isso vai durar. Estamos atualmente em uma sociedade amoral, na qual os nossos defeitos são expostos na mídia, e essa mesma mídia tem capacidade de manipular a opinião pública. Mas qual é a ética de quem controla essas mídias? Quem são essas pessoas ou grupos, quais os seus interesses? Como a igreja deve se portar nestes tempos? Perguntas difíceis, mas pertinentes e relevantes nos dias atuais. Como médico, vivo o lado do crescimento da ciência de forma espantosa, com muita satisfação, fazendo parte do corpo de pesquisas como de células tronco adultas

e sua aplicação na medicina, a melhora nas aparelhagens médicas e nos implantes que usamos em cirurgia, na capacidade cada vez maior de resolvermos coisas sobre as quais não tínhamos antes sequer a possibilidade de iniciar um tratamento. Esse crescimento é grandioso e tem salvado muitas vidas. Mas qual é o preço ético e moral de tudo isso? Como pastor, vivencio o outro lado, da sociedade amoral, do caos social, da falta de valores e referências, da banalização da família da ridicularização dos princípios éticos cristãos. Da substituição desses princípios por algo “politicamente correto”. Jesus nunca foi assim e, se Ele é o meu exemplo como cristão, devo permanecer seguindo o que Ele nos ensinou. Não estou fazendo uma apologia antitecnológica. Acredito, como está escrito no apócrifo Eclesiastico, que é um livro Hebraico histórico, escrito por Ben Sarec, cerca de duzentos anos antes de Cristo, que as maravilhas da ciência e da medicina foram criadas por Deus, para serem usufruídas por nós, os seres humanos. Mas devemos tomar cuidado, como cientistas e como cristãos que somos, em não embarcar na onda amoral da sociedade, em que os fins justificam os meios. Em que animais têm mais valor que seres humanos; em que o certo e o errado se mesclam, formando uma massa na qual o que estava errado, dependendo da situação, pode ser correto. Precisamos, sim, buscar os princípios éticos e morais que nos norteiam como cristãos, para assim nos posicionarmos dentro da sociedade, fazendo a diferença também no meio científico e assim influenciando essa sociedade caótica em que vivemos. Precisamos parar na beira da estrada, como diz Jeremias 16.6, olhar para trás e buscar os marcos antigos, os verdadeiros princípios que o Senhor nos deixou e nos lembrar que o maior deles é o amor. +

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EDUCAÇÃO

AS CONTROVÉRSIAS DA EDUCAÇÃO As conquistas e os perigos do Plano Nacional de Educação

por Mércia Maciel

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s livros e cadernos são guardados com carinho na surrada mochila. Com o peito cheio de esperança, o pequeno Pedro Augusto, morador da Cidade Ocidental, a 48 quilômetros de Brasília, acorda cedo e, com a mãe, pega dois ônibus até chegar à escola. É lá que seu futuro poderá ser desenhado. Pública, a unidade educacional está longe de ser a ideal, mas é a esperança de dias melhores. Brasil afora, o cenário é dramático. Em boa parte das escolas públicas, falta tudo – material escolar, carteiras, água potável, banheiro e até mesmo sala de aula. Alunos sentam-se no chão batido ou debaixo de sombra de árvores. Nem parece escola. Alagoas, Pernambuco

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e Maranhão – estados que tiveram a média de notas mais baixas na mais recente avaliação do Pisa (Programa de Avaliação Internacional de Estudante) – são o retrato do descaso. Em janeiro passado, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) revelou um cenário nada animador para Pedro Augusto. Segundo o Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos, apesar dos avanços, o Brasil não conseguirá cumprir, integralmente, até 2015, os seis objetivos estabelecidos, em 2000, na Cúpula Mundial de Educação, em Dacar, para melhorar a qualidade do ensino. Segundo a UNESCO, o problema está relacionado com a má qualidade da edu-

cação, falta de atrativos nas aulas e de treinamento adequado para os professores. Em seu relatório, a entidade afirma que, no Brasil, muitos alunos chegam a sair da escola com dificuldades em leitura e em fazer operações matemáticas básicas. A diretora-executiva do movimento Educação Para Todos, Priscila Cruz, compartilha dessa visão. Segundo ela, a cada ano, os resultados da aprendizagem gritam a necessidade urgente de se investir em educação. “Não há uma bala de prata, para acertar, em cheio, determinada área. É preciso mudar várias políticas educacionais, mas as ligadas ao professor são urgentes e têm maior impacto. Defendemos que os recursos sejam mais e mais bem utiliza-

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Foto: Divulgação

dos no professor, na sua formação, nos salários, nas condições de trabalho e na formação continuada desses profissionais”, afirma. A reclamação de Priscila Cruz pode se traduzir em números. Segundo o Ministério da Educação, no Brasil, atualmente, menos de 10% dos docentes estão fazendo cursos de formação custeados pelo governo federal. Numa iniciativa para acabar com os problemas que ainda afligem o ensino brasileiro, o Executivo encaminhou, ao Congresso, em 2010, projeto que estabelece metas a serem cumpridas nos próximos dez anos. O Plano Nacional de Educação (PNE) prevê a destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a área – atualmente, são investidos 5,3% desse montante. O texto traz, ainda, entre outros, os objetivos de universalização da educação infantil na pré-escola para crianças de 4 a 5 anos; ampliação da oferta de educação infantil em creches; elevação da taxa de analfabetismo e valorização dos profissionais de educação básica, que receberão formação de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam. Segundo o relator do projeto na Câmara dos Deputados,

Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e titular do Fórum Nacional de Educação

Ângelo Vanhoni (PT/PR), a proposta é uma contribuição audaciosa que colocará o Brasil em um patamar invejável quanto à inclusão de crianças que estão fora da escola e à melhoria educacional. O projeto já foi aprovado pelo Senado e retornou para nova avaliação pela Câmara dos Deputados. O coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação – rede composta por mais de duzentas entidades – e titular do Fórum Nacional de Educação, Daniel Cara, está preocupado com as mudanças feitas pelos senadores. “Eles deram ênfase à expansão de matrículas e retiram a estratégia que previa a responsabilidade da União em ajudar estados e municípios com investimentos de recursos para a educação básica. Já a Câmara traz a expansão do ensino com mais qualidade, um padrão mínimo. Ainda não é o ideal, mas é um começo”, reitera. Ainda segundo Daniel Cara, a educação brasileira está muito aquém do padrão mínimo de qualidade previsto na Constituição. “Nos últimos anos, temos tido melhoras lentas e tímidas e estamos muito distantes de garantir o direito de educação das pessoas. É preciso entender que direito à educação não é só matrícula, mas acesso com qualidade. E, nesse âmbito, estamos muito mal. Sem contar que somos deficitários também no número de matrículas – são poucas para as creches, insuficientes para o ensino médio e, para o ensino superior, o cenário é pior ainda”, constata Cara. Não é exagero do mestre em Ciências Políticas. Segundo o estudo “Uma escala para medir a infraestrutura escolar”, realizado por pesquisadores da Universidade de Brasília e da Universidade Federal de Santa Catarina, apenas 0,6% das escolas brasileiras têm infraestrutura próxima da ideal para o ensino, ou

“Nos últimos anos, temos tido melhoras lentas e tímidas e estamos muito distantes de garantir o direito de educação das pessoas” (Daniel Cara)

seja, biblioteca, laboratórios de informática e de ciências, quadra esportiva e dependências adequadas para atender a estudantes e a suas necessidades básicas, como banheiro e bebedouros. Em 2012, a tímida e questionadora catarinense Isadora Feber, de 14 anos, saiu do anonimato e ganhou a admiração do país ao colocar a boca no trombone, ou melhor, nas redes sociais, para criticar a falta de estrutura de sua escola. No Facebook, ela criou a página Diário de Classe – A Verdade. Na fanpage, a estudante do ensino fundamental de uma escola pública de Praia do Santinho, em Florianópolis, contou os problemas que os alunos enfrentavam com a falta de infraestrutura da unidade educacional. Postagens de fotos de ventilador quebrado, quadra de esporte sem pintura e gasta, merenda de baixa qualidade nutricional e rotina em sala de aula (inclusive a falta de professores) mostravam a situação de penúria da escola. Ela conta que, no início, nada foi feito para corrigir os problemas, até que os veículos de comunicação passaram a mostrar a sua história e, em quinze dias, os problemas postados na página virtual estavam resolvidos.

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Isadora se inspirou na iniciativa Martha Payne, uma menina escocesa de 9 anos que fez um blog para reclamar da merenda, pouco saudável, servida em sua escola. Entre os aspectos avaliados, a estudante analisava a qualidade da comida, a quantidade de garfadas em uma porção e o número de fios de cabelos encontrados. O blog “Never Seconds“ (“Nunca repetir o prato”, em tradução adaptada) teve mais de um milhão de acessos e rendeu uma visita do conselho municipal à escola da menina. O cardápio da escola mudou, mas a pequena escocesa não aposentou as postagens críticas. A blogueira brasileira também não se intimidou, mesmo com o descontentamento de alguns professores e funcionários da escola e até mesmo de ameaças que recebeu. A iniciativa ganhou a simpatia do país, e Isadora foi convidada a participar de programas de TV, seminários e premiações. Com discurso de gente grande, aconselha seus amigos a exercerem sua cidadania. “Precisamos perceber que temos mais direito do que isso que nos oferecem. Não podemos nos acomodar e deixar que as autoridades nos deem uma educação de baixa qualidade. Temos que lutar para que nos deem o melhor, pois essa é obrigação deles. Eu sofri muitas represálias, mas não desisti”, afirma. A adolescente, que quer ser jornalista, já saiu da escola de ensino fundamental e, agora, cursa o ensino médio. Dois anos depois, a maioria dos problemas apontados voltou, mas ela não desiste de lutar. Isadora criou uma ONG para ajudar alunos de escolas em más condições a encontrar soluções viáveis para cada caso, além de realizar projetos educacionais e organizar minicursos profissionais para os alunos e de atualização e aperfeiçoamento para professores. A ONG recebe denúncias e pedidos de ajuda

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EDUCAÇÃO

Capa do livro Diário de Classe, de Isadora Faber, publicado pela Editora Gutenberg

de estudantes de escolas públicas em dificuldade por todo o Brasil. Ela escreveu um livro sobre sua iniciativa, que deve ser lançado em breve. AS CONTROVÉRSIAS DA IDEOLOGIA DE GÊNERO Mas, e quando o problema está além da falta de infraestrutura e de recursos que assegurem ensino de qualidade? E quando o conteúdo dado em sala de aula traz preocupação aos pais e mesmo a profissionais da área?

“Não podemos nos acomodar e deixar que as autoridades nos deem uma educação de baixa qualidade. Temos que lutar para que nos deem o melhor, pois essa é a obrigação deles.” (Isadora Faber)

Em 2011, uma iniciativa do governo federal provocou a grita geral de pais, organizações cristãs e sociedade civil. O polêmico kit gay, como ficou conhecido o material destinado a combater a chamada homofobia nas escolas, trouxe à tona o debate sobre pedagogias e ideologias que estão sendo levadas à sala de aula. O kit, resultado de um convênio firmado entre o Ministério da Educação, em parceria com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e a ONG Comunicação em Sexualidade (Ecos), continha vídeos, boletins e cartilhas com abordagem do universo adolescente homossexual que seriam distribuídos para 6 mil escolas da rede pública, em todo o país. Um dos vídeos conta a história de Ricardo, um menino de 9 anos que entra no banheiro da escola, observa um coleguinha e se diz apaixonado por ele. Na sequência, em sala de aula, a professora chama-o de Ricardo, mas ele retruca e diz que seu nome é Bianca. No final, ele estimula os amigos a assumirem sua identidade homossexual. Depois dos protestos, o projeto do kit foi abortado pelo governo federal. A presidente Dilma Rousseff chegou a classificá-lo de inadequado. Agora, é uma das diretrizes do Plano Nacional de Educação que tira o sono de organizações cristãs e coloca luz numa agenda política e social considerada perigosa e destrutiva. O texto do projeto traz como uma das diretrizes da educação brasileira a inserção da chamada ideologia ou identidade de gênero. Para quem nunca ouviu falar nesse termo, a explicação. A ideologia de gênero, ou IG, como já está sendo chamada no meio pedagógico, defende que o sexo biológico com o qual a pessoa nasce não define a sexualidade do indivíduo. Complicado? Para essa linha de pensamento, há um sexo biológico e outro social. Assim, a

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Segundo o deputado petista, o artigo foi fruto de intensos debates, na Câmara, com entidades que representam movimentos de mulheres, homossexuais (LGBTT) e de negros. “Tivemos que acolher a perspectiva de que o PNE apontasse para um novo momento na consolidação de valores da sociedade brasileira, olhando a escola como um espaço privilegiado sobre essa dimensão. Assim, a formulação a que chegamos foi essa”, reafirma. Para Ângelo Vanhoni, ao promover a superação das desigualdades educacionais, o PNE cumpre o dever constitucional de promover o bem

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criança nasce sem sexo definido, uma vez que feminino e masculino são uma construção social, meramente convencional, de modo que cada um pode escolher o que quiser ser, a qualquer momento. Na Suécia e na Holanda, já existem escolas onde não se pode chamar o aluno de menino ou menina, mas apenas de criança, uma vez que, pela ideologia de gênero, eles devem decidir o que querem ser quando crescerem. A tramitação do projeto teve idas e vindas. A proposta foi aprovada na Câmara, com ênfase, para a superação das desigualdades educacionais e para a promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual. No Senado, como Casa Revisora, depois de duras críticas de líderes evangélicos e católicos, o relator, senador Álvaro Dias (PSDB/PR), reformulou o texto e dele retirou os termos gênero e identidade de gênero, substituindo-os por todas as formas de discriminação. Entretanto, ao retornar para a Câmara, em respeito ao devido processo legislativo, o relator Ângelo Vanhoni restabeleceu a redação aprovada pelos deputados.

Ângelo Vanhoni, relator do PNE na Câmara dos Deputados

de todos, sem distinção de qualquer natureza. “O Plano Nacional obedece nossa Constituição e as garantias individuais de que todos são iguais perante a lei e que não haverá nenhuma distinção. Quando falamos em igualdade de gênero, asseguramos que não ocorram nas escolas discriminações e que nossas crianças aprendam a tolerar aqueles que têm alguma opção diferente. Você consolida preconceitos, na sociedade, ao longo do processo educacional”, ressalta Vanhoni. No entanto, na avaliação da assessora jurídica das Frentes Parlamentares Evangélica e da Família, da Câmara dos Deputados, a advogada e pastora Damares Alves, com o pretexto de combater a discriminação, a ideologia de gênero está chegando sorrateiramente. Damares ficou conhecida nacionalmente depois que o vídeo de uma pregação que fez sobre os livros que estão sendo distribuídos às escolas públicas sobre educação sexual caiu na internet. As publicações trazem textos e ilustrações explícitas sobre relações sexuais e masturbação para crianças e pré-adolescentes. “Se a diretriz do PNE for, realmente, de combater a discriminação e o preconceito, o texto aprovado no Senado é o mais adequado. Se essa intenção não for clara, só poderei concluir que os gestores de educação estão sendo, no mínimo, ingênuos, ou usados por movimentos

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EDUCAÇÃO que visam à erotização infanto-juvenil ou ainda eles têm mesmo essa intenção”, resume Damares. Ainda segundo a pastora que há 35 anos combate a erotização de crianças, mesmo sem a aprovação do Plano Nacional de Educação, o ensino de identidade de gênero na educação básica já é uma realidade no país. Ela cita como exemplo a iniciativa do Governo do Distrito Federal que, em 2012, publicou a resolução 1/2012, que trazia, no artigo 19, os conteúdos dos componentes curriculares obrigatórios da educação básica - “VI - Direitos da mulher e outros assuntos com o recorte de gênero nos currículos dos ensinos fundamental e médio”. A resolução provocou reação dos educadores e causou confusão, uma vez que os professores e os pais de alunos não entenderam o que era “recorte de gênero”. Para sanar as dúvidas, o Conselho de Educação do Distrito Federal publicou a Recomendação 02/2013, com a seguinte redação: “Para a adequada compreensão do referido inciso VI do artigo 19 da Resolução nº 1/2012 – CEDF, é valido recorrer ao conceito de gênero, criado para distinguir a dimensão biológica dos sexos feminino e masculino da sua dimensão social, baseando-se no raciocínio de que há machos e fêmeas na espécie humana, no entanto, a maneira de ser homem e de ser mulher é realizada pela cultura”. Segundo Damares, o texto é irrefutável. “Ele deixa clara a ideologia de gênero e a percepção de que, na humanidade, existem os sexos macho e fêmea, mas que ser um ou outro depende da relação cultural, da forma como você se sente, em qualquer momento da vida. É isso que queremos que os professores ensinem a crianças da escola básica?” questiona. Na avaliação da pastora Damares, nas escolas, é possível trabalhar

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o combate à discriminação e ao preconceito sem que haja doutrinação das crianças e patrulhamento ideológico. A mesma percepção tem a psicóloga, teóloga e escritora cristã Marisa Lobo, que ganhou notoriedade depois que participou de uma audiência pública, na Câmara dos Deputados, em meio aos acirrados debates sobre o projeto que foi apelidado pela mídia como “cura gay”, no ano passado. Ela também repudia o texto do PNE e critica a desconstrução da heterossexualidade. “Afirmar que a criança não nasce predisposta a encontrar o sexo oposto é incentivá-la a procurar pelo prazer no mesmo sexo como uma coisa natural. Cada qual tem o direito de seguir seu caminho e todos têm que respeitar. Mas não podemos aceitar que uma ideologia seja imposta na escola”, defende. Ainda segundo a psicóloga, a criação de gênero neutro induz a uma mudança de cultura, de forma ditadora, apenas para atender a uma militância ativista de gênero. “Isso não eliminará o preconceito. Se engolirmos essa mentira por dez anos, como quer o PNE, nossas crianças vão ser doutrinadas a acreditarem numa pluralidade da sexualidade que pode existir, mas não ser colocada como algo inquestionável, uma vez que vai contra a natureza biológica e reprodutiva”, reafirma. Ainda consoante Marisa Lobo, uma criança de 6 ou 7 anos, por exemplo, poderá ser induzida a escolher um sexo diferente do seu sexo biológico. “Se ninguém nasce, mas se faz homem e mulher ao longo da vida, como fica a cabeça de uma menina, por exemplo, que biologicamente tem os órgãos sexuais femininos, mas tem alguém que diz que ela pode ser um menino? Isso é uma loucura, um relativismo perigoso”, alerta. A psicóloga critica a ausência

da sociedade nesse debate. “Não podemos ser pautados pela ideologia de uma minoria ativista. No entanto, entendo que a pessoa pode ser homossexual e isso deve ser respeitado. Nenhuma religião ou ideologia pode impor o que ela deve ser. A homossexualidade não é um ato de escolha, mas é aprendida, muitas vezes, inconscientemente, pois a pessoa acha que nasceu assim”, afirma. O deputado Pastor Marco Feliciano (PSC/SP), que no ano passado presidiu a Comissão de Direitos Humanos, sob pressão dos movimentos gays, também protestou contra o texto do PNE. Ele reafirma que, como cristão e cidadão, é contra qualquer forma de preconceito, mas rejeita o termo ideologia de gênero. “A expressão é vaga e faz a construção do ser humano como um ser social, ou seja, a pessoa nasce sem saber o que ela é. Aí, vem uma professora dizer para uma criança de 6 anos que ela não é homem nem mulher, que tem que dar um tempo e esperar seus hormônios dizerem o que ela é? É um absurdo sem tamanho. Aquilo que estava no ‘kit gay’, querem colocar numa lei”, protesta.

“Cada qual tem o direito de seguir seu caminho e todos têm que respeitar.Mas não podemos aceitar que uma ideologia seja imposta na escola.” (Marisa Lobo)

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O parlamentar alerta, ainda, que, meus filhos dizendo a eles que prin- gênero, e não pela biologia, não hase o PNE for aprovado com a ideo- cípios seguir e nos obrigando a acre- verá mais sentido em sustentar que logia de gênero, o papel dos pais na ditar no inacreditável – que Deus a família é resultado da união entre orientação sexual ficará em segundo está errado – e que o que sempre homem e mulher. “Se a biologia for plano. “Se virar lei, um pai ou uma tivemos como certo é um equívoco. subvertida pela psicologia, o projeto mãe não poderá chegar a uma esco- É hora de agir, de exigir dos deputa- de Deus poderá ser transformado pelo la e dizer que não quer que seu filho dos uma postura contra esse ataque homem. Como a ideologia de gênero aprenda nessa cartilha. Lei tem que que sofremos dia a dia. É preciso tem inspiração marxista, a ideia é diser obedecida, não pode ser questio- pressionar”, afirma. zer que ela é uma instituição ‘opressonada. O pai vai discutir com quem? O garçom Carlos Alberto Men- ra’ frente a tantos novos gêneros que Se virar lei, o Estado interferirá no des, da Assembleia de Deus, na Ci- aparecem a cada dia”, explica. ensino de nossos filhos. Questões dade Estrutural pai de três filhos, A assessora jurídica também demorais têm que ser com pai e mãe. um deles adolescente, também está fende que a educação sexual deve A escola deve se limitar a ensinar a preocupado com o que pode vir pela ser dada em casa. “Não podemos criança a ler e a escrever e a ser um frente. “Não há lugar para ideias terceirizar o tema para a escola. ser humano melhor, a não ter pre- como essa, que afrontam a Palavra Quem tem que falar de sexo para conceito nem discriminar ninguém, de Deus. Nisso tudo vejo a tentati- os filhos são os pais. No passado, mas não fazer apologia a isso”, rei- va de destruir a família. Se Deus fez eles se omitiam porque tinham tera Feliciano. O parlamentar ainda homem e mulher, onde se encaixa o vergonha e pudor excessivos. Mas questiona a legitimidade da IG, no gênero neutro?”, questiona. esta geração não pode se omitir Plano Nacional de Educação. “Se o Para Damares Alves, uma vez que porque o tema está à mesa, escanser humano nasce um ser amorfo e a sexualidade for determinada pelo carado. Se os pais não tocarem no vai se descobrir homem ou muassunto, a escola vai tocar. Essa lher depois, se isso é de foro ínmissão é deles e a forma como se timo, por que os educadores têm deve falar de sexo é dos pais, que de se intrometer nessa história?”, não devem adiar esse momento indaga. O parlamentar ressalta e nem deixar que os movimenainda que, no Congresso, existos falem do assunto com seus tem mais de vinte projetos de lei filhos ou que a escola ocupe um em tramitação que contemplam lugar que é da família”, aconsea identidade de gênero. Um deslha. Ainda segundo ela, os pais ses textos propõe a inserção, nas precisam parar para refletir. “A metas da Lei de Diretrizes e Bases criança já nasce pronta para o da Educação Nacional (LDB), a sexo. O ser humano é sexual. expressão “igualdade de gênero”. Se isso for despertado cedo, ela O contador Fábio Xavier não também vai querer cedo. Deixamos erotizar nossas crianças, ao poupa críticas à intenção do gosom de rebolados, com Carla Peverno de trazer a identidade de rez e, agora, com o funk. Se fomos gênero para as salas de aula. capazes disso, temos que fazer o “Combater o preconceito não é movimento contrário e devolver obrigar todos a serem iguais ao Alves, pastora, advogada e assessora jurídica das a ingenuidade e pureza da infânque pensam os governantes. Não Damares Frentes Parlamentares Evangélicas e da Família, da Câmara cia”, conclui. + quero um professor que educa dos Deputados

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A DITADURA DA BELEZA

O que é ser belo? A beleza é um estado de espírito? Qual é o padrão de beleza ideal? Quanto tempo uma pessoa deve gastar por dia com a sua aparência? A beleza é ou não fundamental? por CARMEM FORTES

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a poesia “Receita de Mulher”, de Vinícius de Moraes, a beleza é fundamental. E esse pensamento não vem de agora. Há 2.500 anos, no Império Persa, as jovens, antes de se apresentarem ao rei Assuero, passavam por doze meses de tratamento de beleza com óleo de mirra, perfumes e cosméticos – artifícios usados naquela época para deixarem as mulheres mais bonitas. A partir da expressão “gosto não se discute”, podemos entender a subjetividade da beleza. Ela pode variar de cultura para cultura. No nordeste da África Ocidental, uns “quilinhos a mais” são sinal de status dentro do universo feminino. No sul da Ásia, as mulheres precisam alongar o pescoço com anéis de metal para se tornarem belas. Já as latinas se destacam por suas curvas e a pele morena. A psicóloga da Saúde e professora do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília, Eliane Feidl, ex-

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plica que, muitas vezes, os padrões culturais de beleza impostos pela sociedade influenciam na formação corporal e no modo como uma pessoa se relaciona consigo mesma. Estudos apontam que a beleza é um valor universal, mas que está sujeito a mudanças, pois depende dos olhos de quem vê. “Os padrões referenciais de beleza estão associados à cultura dos povos. O que é considerado belo na África ou no Irã pode até parecer estranho no Ocidente, onde os holofotes estão voltados para pessoas loiras e magras”, acrescenta Eliane Feidl. Rechonchudas, seios fartos, ancas bem definidas, tipo violão, cintura fina, polegadas a mais ou a menos, magrelas, saradas, esculpidas e delineadas. Os conceitos do que é belo também mudaram ao longo das épocas. Mas, a beleza retratada por pintores, eternizada nas lentes de fotógrafos e exaltada pelo poeta Vinícius de Moraes, e por tantos outros compositores

e artistas, até hoje, continua fundamental. Em pleno século XXI, a beleza estética nunca foi tão valorizada pela sociedade e explorada pelos veículos de comunicação. Diariamente, mulheres e homens, com físicos maravilhosos e aparências impecáveis, invadem o palco de todas as pessoas por meio dos programas de televisão, filmes, revistas, jornais e outdoors colocados em pontos estratégicos das cidades. E, como num abrir e piscar de olhos, modelos lindíssimos vendem padrões inatingíveis de beleza, que seduzem olhos e, rapidamente, são arquivados no inconsciente, provocando uma busca incansável para se chegar à tão desejada perfeição. Para alcançar o estereótipo do perfeccionismo corporal estampado nos veículos de comunicação e no mundo dos famosos, o céu é o limite. Pesquisas e mais pesquisas mostram que nunca as mulheres, e até mesmo os homens, gastaram tanto com cosméticos, vestuário,

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salões de beleza, procedimentos estéticos e cirurgias plásticas. Essa “cultura ao corpo perfeito” alimenta a indústria da beleza, que registra faturamentos milionários. No Brasil, o mercado de cosméticos ocupa o terceiro lugar no ranking mundial, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e do Japão. Em 2012, as vendas do setor ultrapassaram 84 bilhões de reais, números comemorados pela Associação Bra-

sileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. OPÇÃO OU DITADURA? Apesar de investir tanto dinheiro e tempo na aparência, as pessoas continuam insatisfeitas consigo mesmas e com a imagem refletida no espelho. E essa corrida desenfreada pelos padrões inatingíveis de beleza tem escravizado centenas de milhões de vidas no mundo inteiro. Mas, afinal

somos livres ou estamos presos a um tipo de ditadura? No dicionário, a palavra ditadura significa que uma única pessoa exerce o poder sobre as demais, impondo a sua vontade e exigindo que obedeçam a ela. No universo da beleza, ela pode ser identificada a partir do momento em que milhares de pessoas mudam o estilo de vida e a forma de cuidar da aparência para seguirem padrões estéticos difundidos pela mídia.

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Para o pesquisador de Psicologia e psiquiatra Augusto Cury, autor do livro “A Ditadura da Beleza e a Revolução das Mulheres”, toda vez que uma pessoa abre mão da sua própria forma de ser para assumir estereótipos inatingíveis de felicidade inatingíveis, pode estar abrindo uma janela no inconsciente para um grande conflito interior, que leva ao sofrimento e à rejeição da sua autoimagem. A publicação, que já ultrapassou 2,5 milhões de cópias vendidas no Brasil e em mais 40 países, traz um alerta sobre as consequências do que ele considera a maior tirania de todos os tempos e uma das mais devastadoras da saúde mental do ser humano. No prefácio do livro, o médico afirma que cerca de 600 milhões de mulheres sentem-se escravas por essa terrível ditadura. O grito de alerta do escritor ecoa em congressos nacionais, internacionais e nas redes sociais. Em uma palestra disponibilizada na internet, Augusto Cury explica que a autoestima é um estado de espírito, um oásis que deve ser procurado no território da emoção. No livro e nas palestras, o escritor incentiva que cada mulher, homem, adolescente e criança tenham um romance com a própria vida, pois todos possuem uma beleza física e psíquica particular e única. “Sem autoestima os intelectuais se tornam estéreis, as celebridades perdem o brilho, os anônimos ficam invisíveis, os homens transformam-se em miseráveis, as mulheres não têm saúde psíquica, os jovens esfacelam o encanto pela existência,” conclui o psiquiatra. A obsessão pela forma física perfeita e o desejo de ter a mesma silhueta “supermagra” de top models consagradas, que são símbolos de beleza, têm sido verdadeiras armadilhas para jovens, e até adolescentes, no mundo. Em nome da perfei

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Augusto Cury, psicólogo, escritor, autor do livro A ditadura da Beleza

ção, elas vão a extremos: muita malhação, cirurgias plásticas, dietas, tratamentos estéticos “milagrosos” e chegam até a passar horas intermináveis sem comer, apesar de terem acesso a uma mesa farta e saudável de alimentos. Mas a vaidade excessiva adoece e pode desencadear doenças graves e até fatais. No topo da lista estão a Anorexia nervosa, quando uma pessoa se recusa a se alimentar ou come muito pouco; a Bulimia, marcada pela compulsão excessiva por comida e a provocação do vômito; o Distúrbio Dismórfico Corporal, caracterizado pela imagem distorcida do corpo e a Vigorexia, transtorno causado pela prática exagerada de exercícios físicos. Dados da Organização Mundial de Saúde apontam que os transtornos alimentares são mais comuns nas mulheres e podem afetar entre 1% e 4% da população feminina mundial ao longo da vida. Mas o problema também atinge os homens, que respondem por cerca de 25% dos casos diagnosticados. “Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonita do que eu?” A famosa indagação de uma rainha má em uma história do mundo infantil reflete preocupação do ser humano com a aparência e o desejo de ser belo. Hoje em dia, a relação de muita gente com o espelho, em especial as mulheres, está deixando a desejar. Pes-

quisas realizadas por multinacionais de cosméticos revelam que somente 2% a 4% das mulheres do mundo se acham bonitas. 96% a 98% não estão satisfeitas com a própria aparência. A barriga e os seios são as partes do corpo que mais incomodam as mulheres. O glúteo ocupa o terceiro lugar de insatisfação no universo feminino. Para corrigir essas imperfeições, milhares de brasileiros têm trocado os exercícios físicos por uma forma bem mais rápida para fazer as pazes com o espelho: a cirurgia plástica. O Brasil é o segundo no ranking mundial desse procedimento estético. Só em 2011, foram realizadas 905 mil operações plásticas. A lipoaspiração é a cirurgia mais popular entre os brasileiros, seguida pelo aumento de mamas e a abdominoplastia.

“A autoestima é um estado de espírito, um oásis que deve ser procurado no território da emoção.” (Augusto Cury)

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Para o cirurgião plástico Lúcio Marques, que atua na área há mais de dezoito anos, a insatisfação feminina com a própria imagem está atrelada ao forte apelo da mídia que associa o sucesso e a felicidade a modelos e atrizes bonitas e bem cuidadas. Para ele, sempre houve exageros para se chegar aos padrões de beleza inatingíveis. O cirurgião lembra que no século XVIII, por exemplo, as mulheres lançavam mão de alguns segredos, como o espartilho, que apertava a cintura e valorizava os contornos, perucas e muita maquiagem para manter a aparência jovem. O médico não avalia que o crescimento das cirurgias plásticas seja fruto da corrida obsessiva pelo corpo perfeito, mas pelos preços que estão mais acessíveis às classes mais populares. Dr. Lúcio ressalta que o cirurgião plástico não opera milagres, ele faz correções que vão ajudar a melhorar a autoestima e os contornos corporais. “O lado positivo é que a cirurgia plástica muda o estado de espírito das pessoas. Depois do procedimento, elas saem felizes, de bem com a vida. Isso acontece com 70% a 80% dos meus pacientes”, afirma Marques. O tempo não para. O corpo envelhece, mas mulheres e homens correm contra o relógio para manter uma aparência eternamente jovem e saudável – um desafio diário que requer uma boa dose de disciplina, determinação e muita força de vontade. Uma receita seguida à risca pela professora de educação física e personal trainer, Larissa Sampaio. Há 21 anos, desde que entrou no mundo fitness, ela gasta em média uma hora e meia por dia com ginástica localizada, musculação e skate. O resultado não poderia ser outro: corpo sarado e esculpido, o cartão de visita que atrai muitas alunas. Ela

argumenta que diante de uma vida tão estressante, que afeta em cheio a saúde das pessoas, um caminho para evitar doenças, deixar a saúde em ordem e ainda ficar com o corpo em forma e bonito é praticar uma atividade física regularmente ou fazer algum esporte que dê prazer. Larissa Sampaio, todavia, reconhece que tanto dentro das academias como fora delas há exageros. “Hoje, as mulheres e também os homens querem resultados rápidos. Então, em nome de um corpo perfeito, extrapolam limites, sobrecarregam na malhação, tomam anabolizantes e, em tempos recordes, ganham um físico com a musculatura invejável. Só que eles esquecem que o corpo humano não é uma máquina. Ele precisa de tempo, respeito, amor e muito cuidado”, alerta a personal trainer. Larissa não esconde que a preocupação com a aparência vai além do espaço das academias. Ela revela que, para chegar aos quarenta anos de bem com o espelho, além da atividade física, não dispensa cremes de rejuvenescimento, massagens, salão de beleza, uma alimentação para lá de saudável e até uma cirurgia para colocar silicone nos seios. Ela afirma que procura se cuidar com equilíbrio, pois quer ter uma velhice saudável. “O segredo está na harmonia e em ser feliz. Devemos cuidar da aparência, pois ela é o nosso cartão de visita dentro da sociedade. Podemos caprichar todos os dias para ficarmos bonitas, mas não podemos nos esquecer de que também somos emoções”, acrescenta a personal brasiliense. ALIMENTAÇÃO E BELEZA No universo da beleza, o que comemos faz toda a diferença. Estudos mostram que os hábitos alimentares refletem na aparência. Para se ter pele, unhas, cabelo e corpo bonitos e saudáveis, as pessoas devem ficar

atentas com a alimentação. Às vezes, os abusos ou os pequenos deslizes cometidos por não resistir às tentações de uma mesa farta se transformam em uns quilinhos a mais, gordura localizada e nos famosos “pneuzinhos”, que incomodam muita gente. A fim de resgatar o peso mais indicado pela balança e retomar a forma física, o que não falta são dietas “milagrosas”. No mundo existem centenas delas. No Brasil, por ser um país tropical, com uma infinidade de praias, o brasileiro vive de dietas para não ver defeitos na hora de usar roupas de banho. Uma pesquisa realizada pelo Ibope, há quatros anos, mostrou que 40% das mulheres e 29% dos homens fazem regime constantemente. O levantamento ouviu 19 mil pessoas com mais de dezoito anos e revelou que parte dos hábitos alimentares dos brasileiros não traz só benefícios. Para a nutricionista funcional Patrícia Torsani, a alimentação e o exercício físico são os pilares para corpo e mente saudáveis – segundo ela, a combinação ideal para uma vida produtiva e feliz. Há catorze anos, a profissional atua na área e ajuda seus pacientes, de forma harmônica, a perderem peso, sem terem que passar pelas tradicionais e rigorosas dietas alimentares. Para oferecer um tratamento diferenciado, Patrícia investiu em mais dois cursos acadêmicos (Educação Física e Coaching) e montou uma empresa de consultoria. No seu consultório, a palavra de ordem é “leveza, e não magreza”. Dentro dessa linha, ela explica que o primeiro passo é colocar ordem no estresse interno e depois organizar o físico, a parte externa, sem a tirania exigida nas dietas “milagrosas” e convencionais. “Eu não posso mudar o biotipo das pessoas, mas posso extrair dele a melhor versão”, afirma a profissional.

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BELEZA Patrícia Torsani argumenta que to, que analisou o comportamenessa percepção harmônica de ema- to de três mil britânicas, levou em grecer foi construída a partir de uma conta uma saída à noite por semaexperiência pessoal. Apesar de ser na. As brasileiras não ficam atrás uma nutricionista, com uma rotina e mostram que são muito vaidoestressante para manter o casamento, sas. Entre os cuidados diários com dois filhos e dois cursos feitos simul- aparência, em que entram corpo, taneamente, o físico saiu dos trilhos pele, estilo, o cabelo ganha a atene a balança pesou dezesseis quilos a ção especial. Elas gastam todos os mais. A partir daí, ela descobriu que dias, em média, 35 minutos com a precisava fazer um ajuste por dentro produção das madeixas. e por fora. Ela desacelerou o ritmo E no mundo cristão, cuidar da de vida, cuidou da parte emocional e aparência é proibido? Qual é o pametabólica e abriu um espaço maior drão de beleza de Deus? na agenda para a atividade física. O pastor André Manzoni, presiSem cobranças e pressões, eliminou dente do Ministério Apostólico Jeo excesso de peso e resgatou a forma sus, o Pão da Vida, afirma que não física desejada. “Não passo dieta res- existe nenhuma proibição em cuitritiva. Meus clientes aprendem a ter dar da aparência, de ir a uma acauma vida organizada, abastecida e demia, e de se vestir bem. Para ele, valorizada. O meu foco está na leveza a beleza está relacionada a todo um interna e externa das pessoas. E essa contexto do ser humano, que englomudança de percepção faz toda a di- ba estado de espírito e bem-estar ferença na balança e na própria vida”, físico. O pastor considera importanressalta a nutricionista funcional. te cuidar da aparência, mas respeiQuanto tempo uma mulher gasta tando os padrões de beleza de cada com rituais de beleza para se manter impecável? A resposta não é fácil, pois essa rotina de cuidados diários varia de mulher para mulher. Mas uma coisa todo mundo sabe, elas demoram muito se arrumando. Uma pesquisa feita por uma clínica de beleza, em abril do ano passado, na Inglaterra, mostra que as britânicas gastam 475 dias, o equivalente a um ano e três meses de suas vidas, se maquiando. A mesma pesquisa revela que na produção para uma saída noturna – que envolve tomar banho, passar cremes, maquiar-se, arrumar o cabelo e se vestir –, elas levam em média uma hora e doze minutos. E os homens? Eles usam apenas três meses da vida para se arrumarem. O levantamen- A nutricionista funcional, Patrícia Torsani

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“Os padrões culturais de beleza impostos pela sociedade influenciam na formação corporal e no modo como uma pessoa se relaciona consigo mesma“ (Eliane Feidl)

pessoa. André Manzoni afirma que cuidar do corpo é saudável, o que não devemos é ficar presos a estereótipos fabricados pelos meios de comunicação e pela sociedade. Ele ressalta que seguir esses padrões midiáticos se torna pesado, gera ansiedade e aprisiona as pessoas a valores que expressam uma felicidade passageira. Argumenta que a insatisfação é uma característica do ser humano, que precisa de fatores externos para sua aceitação pessoal. Na visão do dirigente evangélico, a ausência de Deus na vida do homem o torna frágil diante de tantas exigências impostas por uma ditadura da beleza, que o escraviza e o torna infeliz. O pastor explica que o padrão de beleza de Deus não está associado ao exterior do homem, pois “Ele” não olha para aparência, nem para o

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cuidarem da saúde, pois ela precisa estar em forma, para corresponder a tantas demandas, trabalho, casa, filhos e realizar a obra de Deus”, explica a profissional evangélica. Ela lembra que Deus, ao criar o mundo, inclusive o homem, apreciou a sua obra criadora e viu que tudo era bom. Dentro dessa concepção, a personal trainer defende que o cristão deve cuidar da forma física, da saúde, e que não deve considerar isso um empecilho para ter uma vida em comunhão com Deus. Para a webdesigner Renata Penna, que é evangélica há dez anos, a beleza é importante, mas não é fundamental. Ela afirma que, hoje, no mundo, há uma supervalorização do belo e, no Brasil, país tropical, com muitas praias, ter um corpo esculpido e sarado é a chave do sucesso. A funcionária da TV NBR, assim como a personal trainer Débora Braga, acredita que é possível conciliar uma vida com Deus e ter tempo para cuidar da forma física e da saúde. “Nós fomos feitos à imagem e semelhança de Deus, que nos deu um corpo, templo do Espírito Santo, um bem precioso para a gente cuidar. Então, temos que ter a melhor aparência. Somos um povo alegre e bonito. Deus nos fez belos”, ressalta a webdesigner, que congrega na Bola de Neve Church, em Brasília. Renata é uma mulher bonita e tem um tipo físico que chama atenção, mas conta que já enfrentou problemas com a balança. Há dois anos, antes de casar, ela estava com uns “quilinhos a mais”, então, decidiu dar uns retoques na sua autoimagem. Fez uma lipoaspiração, colocou silicone nos seios, para entrar impecável na igreja. Ela destaca que as cirurgias plásticas não afetaram em nada a sua vida espiritual. “O exterior reflete o que nós temos dentro. A virtude está no equilíbrio”, conclui.

Foto: Divulgação

biotipo de ninguém. Deus está interessado no coração e na alma do homem. Manzoni acredita que, como o homem é a imagem e semelhança de Deus, temos que estar na presença dEle para alcançarmos a verdadeira felicidade e uma beleza plena. “O homem é a coroa da criação. Deus se agrada do homem. A beleza do homem depende de ele ter um relacionamento com Deus. Na presença de Deus, o homem se sente alegre, feliz e completo. E como está no livro de Provérbios, o coração alegre aformoseia o rosto”, completa o pastor. No espelho de Deus, todos são belos. Independentemente do status, tipo físico, cor da pele ou dos olhos. A beleza para Deus está no interior e nas virtudes, que são renovados a cada dia, à medida que o homem se aproxima do seu Criador. A mulher bela aos olhos de Deus é virtuosa, e o seu valor muito excede o de finas joias. Ela é sábia, companheira, tem espírito manso e quieto, teme o Senhor e nEle confia, cuida da casa e dos filhos. Na Bíblia, Pedro, um dos discípulos de Jesus, exorta as mulheres a não exagerarem a aparência física, dando a ela mais valor que à beleza interior. Mas não há condenação em ser cristã e cuidar da aparência. A professora de Educação Física e Personal Trainer Débora Braga, que congrega na Igreja Cristã Maranata, em Brasília, entende que a boa aparência é um reflexo de um interior em harmonia com Deus. Para ela, que há dezessete anos atua no universo fitness, um pouco de vaidade não é pecado, afinal, é importante cuidar do corpo que é o “templo do Espírito Santo”. Ela argumenta que, hoje, muitos homens e mulheres cristãos têm frequentado academias em busca de qualidade de vida com foco na saúde. “Os crentes têm cruzado as portas das academias não para exibirem seus corpos, mas para

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BELEZA

Marcela Lourenço pastora da Bola de Neve Church em Brasília

Com uma larga experiência de quase 32 anos como cirurgião plástico, Edmilson Lúcio da Silva afirma que, para o homem, a beleza é fundamental. Essa constatação pode ser entendida porque as pessoas passam a maior parte de suas vidas em um mundo físico, no qual o corpo está sujeito a emoções e aos padrões impostos pela sociedade. O médico, que é evangélico, argumenta que a beleza está presente no mundo desde a sua criação e o reconhecimento dela é um instinto natural. Segundo ele, existem estudos que mostram que a criança, mesmo sem ter sido ensinada, reconhece claramente o belo. Para o cirurgião plástico, essa valorização excessiva da beleza, observada nas últimas décadas, é fruto de uma sociedade consumista e exigente. “Essa ditadura da beleza é um desvirtuamento da noção do belo. O belo tem seu lugar. Ele é desejado. Ele é ansiado. Aí, entra a cirurgia plástica para tentar trazer o equilíbrio na autoimagem das pessoas”, destaca o médico. Em mais de três

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décadas de profissão, o cirurgião já perdeu as contas de quantas cirurgias plásticas realizou, mas sabe muito bem que seu bisturi ajudou centenas de pessoas a resgatarem a autoestima e a ficarem de bem com a vida. Para ele, no meio cristão, o cuidado com a aparência física pode ser visto como uma coisa carnal, que vai ameaçar a fé e o relacionamento com Deus. O cirurgião plástico discorda dessa linha de pensamento, por entender que o homem convive muito mais com o corpo do que com o espírito, portanto, ele precisa cuidar da forma física. “Não vejo problema quanto ao cristão fazer uma cirurgia plástica, ter tempo para ir a uma academia, salão de beleza, praticar um esporte. O erro está em viver em função da aparência, o famoso culto ao corpo. Deus deve estar no centro da vida do cristão”, afirma o médico evangélico. A versão moderna da mulher virtuosa mantém, até hoje, características da que foi descrita por Salomão no livro de Provérbios. Ela é sábia,

prudente, esposa, mãe, dona de casa e temente a Deus. Mas no século XXI, a mulher virtuosa, além de cuidar do bom andamento da casa, da sua família, das coisas espirituais, ela trabalha e não descuida da sua aparência. Marcela Lourenço, que há sete anos é pastora da Igreja Bola de Neve, em Brasília, afirma que as mulheres e homens cristãos também estão vivendo essa cobrança da sociedade por padrões inatingíveis de beleza. Ela acha importante que todos valorizem o seu padrão estético e aprendam a amar a si mesmos. Para a dirigente evangélica, o desejo do homem de querer aperfeiçoar a obra do criador é saudável, porém o erro está quando ele se deixa dominar por esse desejo. “Isso é um sinal de que nunca teve uma vida plena com Cristo”, acrescenta Marcela. A pastora alerta que, mesmo estando na presença de Deus, o cristão precisa vigiar para não ceder a tantas pressões impostas a ferro e fogo por uma ditadura da beleza. A jovem pastora, de 31 anos, argumenta que o povo cristão deve cuidar da aparência, do corpo, pois isso não está relacionado ao pecado da luxúria nem da vaidade. Para ela, durante muito tempo, o cristão conviveu com uma ideia equivocada de que, ao cuidar do bem-estar físico, ele estava deixando de lado a sua espiritualidade. Marcela ressalta que esse pensamento tem mudado. “Hoje, as mulheres de Deus cuidam da aparência, fazem ginástica, andam maquiadas e bem vestidas, mas servem a Deus com muito temor e tremor no coração”, conclui a pastora. +

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DIREITO&CIDADANIA

por Daniel Castro

Processo Eleitoral 2014, a Copa Eleitoral dos Brasileiros e as eleições de 2014

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proxima-se mais uma Copa do mundo, e sua celebração será em solo nacional. O que se espera é a consagração do hexa, um dos maiores sonhos da nação de chuteira. Neste ano, outra “Copa” também será realizada no Brasil e acontecerá em 05 de outubro de 2014. Não será decidida por chuteiras, bolas ou gols, mas terá a mesma empolgação para nós, brasileiros. Será o momento de consagrarmos nosso sufrágio, elegendo aqueles que conduzirão por quatro anos nossa nação em inúmeras partidas oficiais. A próxima eleição terá para a partida principal a escolha do nosso centroavante (Presidente da República junto com o seu reserva, vice-presidente) e uma escalação de 27 governadores, 27 senadores, 513 deputados federais e 1.059 deputados estaduais. Em outras palavras um timaço de peso para jogar até 2019 e encher nossos olhos de gols e nossos corações de esperança. Como em uma Copa do Mundo, as eleições são regidas por leis e árbitros próprios (juízes eleitorais), e estes já mencionam: “A regra e clara!”. E para isso aplicarão o Código Eleitoral (Lei nº 4.747/1965) a Lei nº 9.504/97, com importantes mudanças no campo da Lei da Ficha Limpa, evitando jogadas desleais e mandando para o chuveiro aqueles que infringirem as regras. Mas não é tudo. O TSE ainda pode intervir no jogo e aprovar regras que venham adequar a partida da melhor maneira possível, definindo os efeitos do jogo e suas consequências no campeonato. E assim o campo estará pronto, verdinho... para que a bola corra de maneira coesa, sem obstáculos

Daniel Castro é pastor, advogado e pedagogo.

ou buracos que impeçam o desenrolar de uma boa partida e acima de tudo de um bom futebol. Mas nesse cenário mágico de êxito e alegria, o papel do cidadão é essencial, pois não atua apenas como mero espectador, mas com total autonomia para decidir como um técnico e alterar o elenco em campo. Só existe uma condição para que isso aconteça: votando, escalando seu time com primor e buscando referência dos jogadores. Melhor: fazendo uma retrospectiva de suas jogadas e de suas conquistas e utilizando-as em favor do time. Copa do Mundo e Eleições, duas importantes marcas para o país. Ambas serão lembradas por longos e longos anos; e suas particularidades, guardadas. Ressaltando que o resultado das Eleições permitem melhorias urbanas continuamente, passando pela decisão de construção de estádios, de hospitais, de expansão e melhoria de transportes urbanos – metrô, ônibus, ciclovias –, aeroportos, estradas, entre tantos outros. Nesse campeonato todo o povo ganha, e isso não se resume ao simples caneco, chamado por todos de taça, mas a vitória da democracia. O papel dos técnicos (cidadãos) é tão importante quanto o dos jogadores, sendo suas decisões preponderantes para a continuidade da felicidade geral da nação. E assim possamos torcer muito para a Seleção Brasileira na Copa, mas que possamos vestir a camisa da democracia e votar com consciência o destino da nação para os próximos quatro anos de jogos, que temos pela frente neste imenso Estádio chamado Brasil. + +CRISTÃO ABRIL 2014

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MISSÕES

ESQUADRÃO DE CRISTO Evangelismo em duas rodas

por Carmem Fortes

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la desperta paixão em homens, mulheres e em pessoas de todas as idades espalhadas pelo mundo afora. O ronco do seu motor mexe com as emoções e alimenta o desejo por aventuras. A motocicleta foi uma das invenções mais importantes e significativas do século XIX. Ela revolucionou o seu tempo, seduziu mentes e corações e, de lá para cá, fez uma legião de adeptos que foram atraídos para o mundo das duas rodas à conta de diversão, trabalho, hobby, preços acessíveis, facilidade de locomoção e fuga de engarrafamentos e do estresse dos grandes centros. Enfim, motivos não faltam para explicar por que a moto ganhou fama e virou a ca-

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beça de tanta gente. Ela surgiu há mais de 130 anos, mas a sensação de quem a dirige, até hoje, é quase sempre a mesma: muita adrenalina, liberdade e prazer. Ser um motociclista é mais que um estado de espírito e um jeito de ser; é um estilo de vida seguido por milhares de pessoas. A paixão pelo motociclismo aproxima amigos, famílias e colegas de trabalho que querem muito mais do que a satisfação de se aventurar pelas estradas e desfrutar de momentos emocionantes. Embalados pelo mesmo sentimento, eles descobriram na moto um novo meio de realizar sonhos e vencer desafios como evangelizar sobre duas rodas. E foi exatamente com a missão de rodar com

os motociclistas para levar até eles a mensagem do evangelho que surgiu, em agosto de 2004, o Esquadrão de Cristo Ministério Motociclístico. Em dez anos, o grupo cristão pisou fundo no acelerador da fé e foi além das fronteiras das igrejas e dos cultos tradicionais para levar o motociclista a ter um encontro pessoal com Deus. O presidente nacional do Esquadrão de Cristo, pastor André Fernandes, mais conhecido como Geleia, explica que a ordem dada por Jesus, “Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura”, é vivenciada pelo grupo diariamente, de uma maneira não convencional, dinâmica e alegre, para alcançar pessoas que, em situações normais, não cruzariam as portas de uma igreja.

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um bom relacionamento com o meio. “Estávamos num grande evento de motos e vimos ali um enorme campo missionário que precisava ser conquistado. Lá havia muitas pessoas que careciam ter acesso ao amor de Cristo. Depois disso, minha esposa e eu colocamos o pé na estrada e começamos a rodar atrás dessa nova missão”, conta o líder. E a fé sobre duas rodas foi colocada em prática. Geleia e integrantes do Esguadrão de Cristo percorreram

bares, shows de rock, eventos motociclísticos, lugares bem diferentes dos templos tradicionais, para falar do amor de Deus. Dessas experiências, nasceu o motoculto, uma cerimônia religiosa feita por motociclistas e para motociclistas. E logo a iniciativa conquistou adeptos e entrou para a agenda desses aventureiros das estradas, que, acompanhados de suas máquinas, todo mês passaram a fazer uma pausa para ouvir a Palavra de Deus.

Foto: Charles Damasceno

No ide sobre duas rodas, a moto funciona como uma ferramenta estratégica para encurtar a distância entre o motociclista e Jesus. O desejo de evangelizar num mundo povoado por centenas de tribos, grupos e clubes de motociclistas levou o pastor André Geleia e a esposa, pastora Esmeralda Fernandes, a criarem o ministério. Mas essa missão só virou realidade depois de rodarem milhares de quilômetros com os motociclistas – tempo suficiente para afinar

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O encontro sempre acontece na última quinta-feira do mês. O motoculto, realizado em Vila da Graça, no Parkway, em Brasília, reúne cerca de duzentos motociclistas que se desligam por algum tempo do universo das motos e começam a rodar pelo mundo da Bíblia, numa estrada nova, guiada por Jesus. Eles louvam e ouvem o evangelho de forma contextualizada para aquela coletividade. Um dos momentos esperados da celebração é a unção de capacetes e das chaves das motos da galera presente. O pastor André, que dirige o encontro, lembra emocionado do primeiro culto, que aconteceu no Adam’s - Lava a Jato e Bar. Na igreja improvisada, com apenas um violão e um microfone, o vocalista da banda “Livre Arbítrio” deu o tom e pregou para um público diferente e cheio de estilo. Homens e mulheres tatuados, alguns de cabelos longos, vestidos de calça, colete e jaqueta de couro, além de um capacete em punho. E foi nesse ambiente propício para um show de rock e comum de se ver nos eventos de moto, que a porta do Cristianismo foi aberta para muitos motociclistas. Em quase uma década, mais de cem motocultos foram realizados e muitas bênçãos foram concedidas, como cura de enfermidades e conquistas de emprego. Geleia afirma que o ministério motociclístico não é uma igreja nem uma denominação. “Somos uma grande família, formada por amigos e irmãos, unida por um amor fraternal e a paixão pela moto”, ressalta. Além dos motocultos, o Esquadrão de Cristo se reúne uma vez na semana para orar e estudar a Bíblia. O encontro acontece toda quintafeira e é conhecido no meio como Roda – Reunião de Oração Dirigida por Amigos. O grupo missionário é

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Foto: Charles Damasceno

MISSÕES

André Fernandes, pastor e presidente nacional do Esquadrão de Cristo ao lado de sua família

alicerçado em valores como amizade, família, companheirismo, respeito, honra, ajuda mútua, solidariedade, fé e fidelidade a Deus. O Esquadrão procura estar presente em todos os eventos motociclísticos da cidade e de outros estados. Afinado com a rotina dos estradeiros, o ministério criou uma página na internet em que os amantes de motos podem fazer uma viagem pelos acontecimentos, normas de segurança e novidades relacionadas ao seu universo. Ao longo de quase dez anos, entre encontros, reuniões de oração e viagens, o ministério voltado para adeptos do motociclismo já cruzou as fronteiras de Brasília e chegou em sete estados: Goiás, São Paulo, Paraíba, Pernambuco, Ceará, Paraná, Mato Grosso e Minas Gerais, além de dois países: Itália e Estados Unidos. Hoje, cerca de trezentas pessoas já fazem parte desse pequeno exército de evangelistas. Para ingressar nas fileiras do Esquadrão, o interessado tem pela frente, no mínimo, um ano de treinamento. Primeiro ele passa por um período de adaptação para conhecer melhor o trabalho do grupo. Vencida essa etapa, o aspirante

ganha um colete preto sem o símbolo do Esquadrão de Cristo, que é uma cruz amarela, usada para lembrar o sacrifício de Jesus e o poder de Deus. Nessa etapa, conhecida como Alfa, ele aprende sobre hierarquia, honra, respeito e regras básicas para rodar com responsabilidade sobre duas rodas. Na última fase, CV, o motociclista aspirante trabalha o caráter e valores do homem, da mulher e da família cristã. O pastor José Alberto Lobo comanda essa etapa final do treinamento. Com 65 anos, o engenheiro, que é um

“Somos uma grande família, formada por amigos e irmãos, unida por um amor fraternal e a paixão pela moto” (Pr. André Fernandes)

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dos mais velhos integrantes do grupo, ministra o curso “Casados Para Sempre”, no qual ensina princípios para fortalecer os relacionamentos de casais e dos laços familiares. Ele afirma que esses ensinamentos têm evitado separações em lares cristãos. Ao final de toda essa preparação, o pretendente ingressa no Esquadrão de Cristo e ganha o tão almejado colete preto com a cruz amarela, símbolo de muita admiração e respeito no meio dos motociclistas. Carlos Eduardo Spindolla, o Kadu, não esconde o orgulho de vestir esse colete e de fazer parte, desde 2008, do grupo de motociclistas cristãos. Nem mesmo um grave acidente de moto que sofreu durante o ano seguinte foi capaz de tirá-lo das pistas e fazê-lo desistir da missão de evangelizar sobre duas rodas. Do livramento de morte, guardado até hoje na memória, ficou a certeza de que Deus agiu em seu favor. A difícil experiência serviu para Kadu ficar antenado nos riscos de acidentes nas estradas e vias públicas do Brasil, país considerado o segundo no ranking mundial de vítimas fatais em acidentes de trânsito envolvendo motocicletas. São mais de sete mortes para cada 100 mil habitantes. O crescimento da

frota nacional, que já atinge 20 milhões de motos, aliado à imprudência, figura como um dos motivos para essa triste realidade. Por isso, dentro do Esquadrão de Cristo, o tema segurança é levado muito a sério entre aspirantes e veteranos. Carlos Eduardo, que hoje é líder de aspirantes, explica que, durante o treinamento dos futuros integrantes, dois aspectos são analisados: o comportamento como cristão e como motociclista. Ele até brinca e diz que “no Esquadrão, é um olho na estrada e o outro no espírito”. Para o veterano Celso Roberto Firmino, que está no Esquadrão de Cristo praticamente desde a sua fundação, o colete preto com a cruz amarela, que todos recebem quando concluem o treinamento, não é apenas uma simbologia que revela uma identidade do grupo, mas mostra um compromisso de servir a Deus, evangelizar os corações necessitados e lutar para que o motociclista seja mais respeitado pela sociedade. Os motoclubes brasileiros, que surgiram em uma época conservadora, no começo do século XX, trabalham para mudar a imagem do motociclista, ainda associada a gangues de arruaceiros e desordeiros. Há algumas décadas, essas associações vêm promovendo

eventos que ajudam a aproximar os condutores de motocicletas da comunidade e a vê-los com um novo olhar, mais humano e fraterno. Para Celso Firmino, que tem na bagagem mais de 150 mil quilômetros de estradas e centenas de eventos motociclísticos, como o Brasília MotoCapital, que acontece na capital federal, essa mudança já pode ser percebida. “Hoje muitas pessoas não veem só a aparência irreverente e o estilo aventureiro dos motociclistas. Elas estão vendo também o coração solidário e amigo dos estradeiros”, conclui o veterano do Esquadrão de Cristo. O ministério motociclístico cristão não economiza combustível para evangelizar e tem parada obrigatória em todos os eventos voltados para o universo das duas rodas realizados em Brasília e alguns que acontecem longe do Planalto Central. O Esquadrão de Cristo é uma família que roda unida, professa a mesma fé cristã e adota como manual de vida a Palavra de Deus. A cruz amarela estampada nos coletes do grupo missionário já fez história e conquistou a confiança e o respeito dos motociclistas. O reconhecimento do trabalho realizado por essa iniciativa pode ser observado a cada Brasília Moto

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MISSÕES apaixonados. Na tenda do Esquadrão de Cristo, quatro casamentos foram realizados. As noivas não chegaram de carro, vieram sobre duas rodas – um casamento diferente. No lugar do terno, jaquetas de couro. As noivas não abriram mão dos vestidos brancos, mas usaram acessórios bem próprios dos motociclistas. Em todas as cerimônias, dirigidas pelo pastor André Geleia, não se ouviu a tradicional marcha nupcial. O “sim” dos noivos foi embalado pelo som ao vivo de bandas de rock. O universo sobre duas rodas, há até bem pouco tempo, era masculino. Mas agora o mundo das motos também é das mulheres. As máquinas estão povoando a cabeça feminina e despertando paixão. É só andar pelas ruas para perceber rapidamente que as mulheres deixaram a posição de garupa para pilotar suas próprias motos. Em apenas dez anos, o número de amantes do motociclismo entre o público feminino aumentou em 70%. No Esquadrão de Cristo, elas também desembarcaram para ficar e deram um tom mais delicado num espa-

Foto: Charles Damasceno

Capital, realizado sempre em julho. Há dez anos, desde o primeiro evento, o Esquadrão de Cristo abre todas as noites do maior encontro de motociclismo da América Latina e o terceiro maior do mundo. Na décima edição do evento, no ano passado, a rotina não foi diferente. Só que dessa vez foi diante de um público recorde de quase 400 mil pessoas. O esquadrão ficou pequeno para tanta gente que veio de várias regiões do país e até mesmo do exterior. Embalados pelo som de grandes clássicos do rock mundial, do velho Raul Seixas e de outras bandas de música brasileiras, os motociclistas cristãos fizeram uma viagem em alta velocidade pela Palavra de Deus e evangelizaram corações de várias tribos, raças e credos religiosos. O Brasília MotoCapital reuniu, no Parque de Exposições da Granja do Torto, cerca de 80 mil motos que trouxeram, em suas garupas, histórias de vida e de grandes amores. O encontro não foi um local só para falar das paixões pelas motos. Acabou sendo o palco ideal para troca de alianças e união de corações

O Esquadrão de Cristo reunido no maior evento motociclístico do Centro-Oeste, o Brasília Moto Capital

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ço anteriormente dominado por homens. Patrícia Firmino, esposa do veterano Celso, há um ano, quando tirou sua carteira de motorista, começou a pilotar sua própria moto. “Foi uma emoção incrível, uma sensação de liberdade que até então não conhecia, descreve Patrícia. Dentro do ministério motociclístico, o trabalho das mulheres está focado na família. Nesse sentido, elas buscam o fortalecimento das relações entre os casais e também entre pais e filhos – uma tarefa embasada em valores como solidariedade, honra, respeito e amor de Cristo, que muitas vezes são deixados de lado pela sociedade moderna. Mas a missão feminina no Esquadrão não para por aí. Patrícia explica, que nos eventos e no próprio dia a dia, elas estão sempre ligadas e prontas para servir quando o assunto é evangelizar. Para Adriana da Costa Pinto, pertencer ao Esquadrão de Cristo é a realização de um sonho. Ela relata que, quando viu o grupo missionário pela primeira vez, em um encontro motociclístico, ficou apaixonada. Adriana fala que foi amor à primeira vista. Mas a paixão foi mantida de longe por seis anos. Em 2013, o namoro virou casamento sem espaço para separação. Ao cruzar as portas do ministério motociclístico, ela conta que teve a certeza de estar no caminho certo para evangelizar vidas que não conheciam o amor de Deus. Há um ano, Adriana e o marido Omar são aspirantes. Eles mergulharam num mundo novo, cheio de responsabilidades e deveres. Adriana espera ansiosa o final do treinamento para receber o tão sonhado colete preto com a cruz amarela, peça que falta no seu uniforme de motociclista, para ingressar nas fileiras do Esquadrão de Cristo e levar o evangelho para toda e qualquer criatura sobre duas rodas. +

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Curso básico de

Teologia e Missiologia

Em EaD

Conteudistas

Pr. Valdeir Contaifer Bacharel e mestre em teologia pelo Seminário Teológico Betel do Rio de Janeiro; doutorando em Ministérios Globais pelo Fuller Theological Seminary; diretor geral do Centro de Estudos Avançados de Missões da AMIDE; pós-graduado em História de Missões, Antropologia e Inculturação, Didática do Ensino Superior; terapêutica na Igreja, e Dinâmica do Crescimento da Igreja na América Latina.

Nancy Araújo Trabalha na Associação Missionária para Difusão do Evangelho; bacharel em Teologia com Concentração em Missiologia e Licenciatura em Educação Religiosa, pelo Instituto Bíblico Betel Brasileiro - João Pessoa-PB; mestre em Missiologia pelo Centro Evangélico de Missões - Viçosa-MG; pós-graduada em EaD pela Universidade do Norte do Paraná; coordenadora de EaD da AMIDE.

Pr. Weber Silva Pastor auxiliar da Igreja Presbiteriana de Brasília, tem especialização em Aconselhamento e Psicologia Pastoral pela Escola Superior de Teologia – São Leopoldo-RS; especialização em Teologia Urbana pelo Centro Universitário Filadélfia – Londrina-PR; bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de Brasília; bacharelado em Ciências Contábeis pela União Pioneira de Integração Social - DF.

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Objetivo Auxiliar líderes, membros de igrejas e pessoas vocacionadas ao ministério local e transcultural que, não dispõe de tempo para estudar no Seminário presencial. O curso é totalmente on-line com uma didática dialógica, onde busca aproximar o aluno das temáticas estudadas, para uma compreensão clara dos conteúdos.

Conteúdo O curso é composto por cinco blocos*, a saber:

Doutrina Bíblica Aconselhamento Cultura Bíblica Teologia Prática Cultura Missionária (*) Cada bloco dispõe de três disciplinas.

Curso com duração de um ano letivo. Investimento - 120,00 mensais. Início das aulas - 28 de julho Maiores informações:

eadamide@gmail.com (61) 3298-6700 http://ead.amide.org.br

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CRÔNICAS E CONTOS

por Zazo, o nego

PARTITURAS

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orquestra já havia chegado na sexta-feira. Faltavam apenas o maestro e um dos trompetistas. Estes vieram no dia seguinte. Os integrantes eram todos voluntários e haviam sido recebidos por um dos principais dentre os coordenadores do projeto “Arte Cristã na Cidade”. O lugar era um centro urbano de médio porte cujo nome é melhor não mencionar. A chegada de todos eles havia acontecido na sexta-feira, pois, segundo o regente, a ideia era fazer um último ensaio no sábado de manhã, sob a orientação do primeiro violinista. Agora, lá pelo meio-dia e uns quebrados, com a chegada dos dois últimos, o coordenador preferiu não mandar representante e foi ao modesto aeroporto, a fim de recebê-los. O único detalhe da história é que o anfitrião, apesar dos contatos anteriores, não sabia qual dos dois recém-chegados seria o condutor da orquestra. Esse particular não ficara sob sua responsabilidade. Mas, ao que parece, dirimiu sua dúvida sem grandes dificuldades. E assim recebeu os músicos com o mesmo calor humano do dia anterior, desta vez concentrado em apenas dois deles, o que tornava a tarefa mais fácil. Todos os instrumentistas, que por sinal haviam terminado o planejado ensaio, já estavam acomodados em casas de pessoas ligadas à iniciativa cultural – explicava o representante do projeto. Eram famílias que gentilmente haviam cedido um espaço de suas residências para os acomodarem. Logo, seria esse o destino do trompetista. Já ao maestro estava designado um local mais reservado, a fim de que desfrutasse de alguma privacidade e merecido descanso, num hotel confortável e bem próximo ao centro, onde aconteceria o concerto. “Afinal, maestro é maestro! Pressupõe-se que saiba mais que os outros, que tenha estudado mais, caso contrário não estaria habilitado a conduzi-los. Nada mais justo”, concluía o recepcionista sorrindo. Homem de palavra fácil e de uma simpatia quase incomum, o coordenador falava com indisfarçável euforia de tudo o que havia sido realizado até o momento. Estava feliz e transmitia isso aos artistas da música que acabavam de chegar. Ele e os demais membros da equipe planejaram tudo com muito carinho, cuidado, critério, seriedade, antecedência e (por que não dizer?) profissionalismo. E na semana que agora chegava ao ápice, desde a quarta-feira, vinham sendo realizadas exposições de manifestações artísticas as mais diversas e shows de quase todos os tipos.

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Zazo é servidor público e professor de Gramática e Oficina de Textos no Centro de Formação e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados.

Pessoas de municípios próximos haviam chegado para prestigiar o “Arte Cristã”. Até as pousadas e hotéis estavam se dando bem com a coisa. A divulgação tinha sido excelente. E a apresentação da orquestra de voluntários fecharia tudo com chave de ouro, pois aconteceria no teatro municipal e contava com a presença de autoridades locais. E mais: se a proposta vingasse, tudo indicava que no ano seguinte poderia acontecer o mesmo evento, só que com a experiência depois do sucesso da primeira vez. Outra: a secretaria de cultura do estado dava um aval positivo a essa possibilidade. Melhor? Impossível! Momento inicial resolvido, recepção concluída, músicos devidamente alimentados e hospedados, com o detalhe do maestro no hotel... Ufa! Tudo em ordem. Missão cumprida até o momento ou, como se diz no meio militar, “serviço sem alteração”. E foi a tarde. Uma hora antes da apresentação orquestral, nosso anfitrião resolve aparecer no teatro e vê uma cena imprevista: a orquestra passava alguns trechos da peça que ia apresentar, fazia seus preparativos finais. Normal. Mas quem regia era o trompetista. Como assim...? Bom, talvez os dois andassem sempre juntos, talvez tivessem ideias em comum, e o maestro cedera a condução para o conduzido, a fim de treiná-lo. Isso, explicado! Mas... cadê o regente? Não o viu, até porque sua visão não era das melhores. Bem que procurou, mas largou pra lá. Detalhe besta. Tinha outras tarefas a cumprir. Veio a hora do concerto e, para espanto do simpático coordenador, o maestro – ou pelo menos quem comandava o concerto – continuava sendo aquele que julgara ser o trompetista. E na medida em que a apresentação corria, foi percebendo, não sem algum pesar, que havia cometido uma gafe enviando o instrumentista para o hotel e o maestro para uma das casas. Mas por que ninguém lhe dissera nada? Por que eles mesmos não o haviam corrigido? Por que cargas d’água ele havia pensado que o trompetista era o maestro, e não o contrário? E agora, com a boca seca por dentro, cobrava de si mesmo o porquê de não ter se informado direito, preferindo seguir uma intuição traiçoeira sobre quem era quem. Com qual critério ele decidira isso? É que o profissional da batuta era negro. E jamais passara pela cabeça do coordenador que, entre um trompetista loiro e um maestro negro, este último pudesse ser aquele que tinha estudado mais e sabia mais que os outros, a ponto de conduzi-los. Afinal, maestro é maestro! Nada mais justo. +

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+Música

por Zazo, o nego

Uma bela voz e boas releituras É o que o ouvinte vai encontrar no CD Aquela Paz, de Patrícia Rezende, em lançamento. A cantora, que foi uma das concorrentes da edição de 2012 do programa The Voice, da Rede Globo, apresentou seu álbum no último encontro do evento Quinta Aumentada, em Águas Claras. Em seu primeiro trabalho, Patrícia propõe diversas releituras, reunindo um repertório que já começa bem, com Doce Nome, de Gláucia Carvalho, e segue com Deixa Tudo, de Maurílio Santos. A lista inclui medleys que colocam sob uma mesma percepção musical canções que marcaram a história recente da musicologia cristã brasileira, pelas veias de compositores como Adauto José, Paulo César (Logos), Álvaro Tito, Marcos Góes e Sérgio Pimenta, entre outros; tudo adornado por arranjos vocais e instrumentais belíssimos, sob a produção de Ed Oliver e Társis Malta. Só para que se tenha uma ideia, a faixa 04 é uma junção de Mão no Arado (Clássico do Grupo Logos), Teus Altares (Jorge Camargo e Guilherme Kerr) e Portas Abertas (Logos, outra vez). Enfim, uma bela coletânea. Produção geral de Ed Oliver e Társis Malta. Aos interessados segue a dica: www.patriciarezendeoficial.com.br ou www.facebook.com/patriciarezendeoficial.

Um “passarim” de Minas “Se música tivesse cheiro, a do Ivan teria cheiro de terra, cheiro de natureza, cheiro de Brasil; melhor ainda, cheiro do bom perfume de Cristo”. A afirmação é de Luís Fernando Nacif Rocha. Nada poderia descrever melhor o álbum do cantor e compositor Ivan Melo, de Belo Horizonte, cujo “mineirês” já se denuncia pelo título: “Som de Passarim”. A música leva o jeito da região Sudeste, em seu viés mais refinado; as letras, inquestionáveis, emolduradas por melodias, harmonias e ritmos tipicamente nacionais, indicam a plena possibilidade de serem trabalhadas canções de louvor e edificação cristã ao jeito brasileiro. Tudo isso com um toque de requinte resultado da produção musical de Dalton Bianchi. Das dez faixas do CD, cinco são de autoria exclusiva de Ivan e duas resultam de parcerias do cantor com Ezequias Pinheiro. No mais, as contribuições vêm de Dalton Bianchi, do próprio parceiro Ezequias e do saudoso Jorge Rehder. Tudo isso mantém o clima “emepebístico” da obra. Lá pelas tantas, uma surpresa agradável: João Alexandre interpreta Palavras, a faixa 06, um dos destaques do álbum. Destaque também para a faixa que dá nome ao CD. Som de Passarim é recomendado aos apreciadores da MPB contemporânea. Mais informações pelo e-mail ivanmelo06@yahoo.com.br.

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QUALIDADE DE VIDA

por Júnior Sipaúba

Junior Sipaúba é pastor presbiteriano, mestre em Aconselhamento, matemático, licenciado em Ciências e faixa-preta pela Conferedação Brasileira de Taekwondo.

Você já comeu banana hoje? “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus” (Gálatas 3.28).

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mundo comentou o episódio racista envolvendo o jogador Daniel Alves na partida do Barcelona contra o Villareal, quando um torcedor do time adversário atirou uma banana em sua direção. Após várias celebridades e anônimos terem prestado apoio ao lateral da Seleção Brasileira utilizando a hashtag #somostodosmacacos em seu posts, o próprio atleta se manifestou utilizando uma rede social para expressar seu “orgulho” de ser brasileiro. Depois do lamentável episódio, fiquei pensando em nossos preconceitos cotidianos que não são expostos para a grande mídia e não são submetidos à opinião pública, mas estão muito presentes em nossos julgamentos frequentes. Conversava com um pastor que confessava sua dificuldade em lidar com nordestinos, não suportava o jeito de falar e de ser do nordestino. Uma estudante afirmou em uma conversa particular que jamais namoraria um negro, pois sua família também não aprovaria esse relacionamento. Estava dando uma carona para duas pessoas que conversavam livremente durante o percurso, quando, de repente, fui surpreendido com a fala “ele é negro, porém é um bom advogado”. Recentemente perguntei a um conhecido sobre o time que enfrentaria numa partida de futsal, ele simplesmente respondeu: “são aqueles peões ali”, apontando para o

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time oriundo de um contexto socialmente carente de Brasília. Vou parar por aqui, pois ficaria o artigo inteiro citando casos e mais casos e faltariam páginas para exemplificar nosso polido racismo. Em minha percepção, nós jogamos “bananas” nas pessoas com uma certa regularidade, mesmo que inconscientemente. Temos uma grande dificuldade em enxergar o núcleo indestrutível presente em todo ser humano: o fato de ser criado à imagem e semelhança do Criador. O problema é que o outro exige de nós uma resposta, o outro sempre nos relativiza. Ter conceitos é bem diferente de ser preconceituoso. Hoje temos vários movimentos na sociedade que não toleram pessoas com conceitos definidores de identidade, pois são logo classificados como radicais, medievais, homofóbicos, extremistas e por aí vai. Eu não concordo, à luz da teologia bíblica, com a afirmação “somos todos macacos” e também não encontro bases sólidas na ciência para tal afirmação, porém achei criativa a atitude do Dani Alves: comeu a banana, uma fruta de valor nutricional indiscutível que representa uma excelente fonte de energia de rápida absorção e fácil digestão devido ao seu teor de carboidrato. Contém vitaminas (A e C) e minerais (cálcio, magnésio, selênio, fósforo e potássio). Já comeu sua banana hoje? +

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