Revista +Cristão Edição02

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ENTREVISTA

Ano 01 – Nº02 | Mai /Jun 2013 | R$6,90

Sônia Mendes, em entrevista exclusiva à +Cristão, fala sobre vocação missionária, povos não alcançados e o trabalho que vem desenvolvendo no Senegal, oeste da África, onde dirige, há ca­torze anos, uma organização não go­vernamental de ajuda humanitária que atua nas áreas da saúde e educação.

+Cristão Ano 01 – Nº 02

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Maio / Junho 2013

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Editora Millibros

NA CORDA BAMBA O AUMENTO DO NÚMERO DE DIVÓRCIOS, FILHOS IRREVERENTES E INDIFERENTES AOS PAIS, BRIGAS CONSTANTES ENTRE CASAIS E A TELEVISÃO COMO A PRINCIPAL EDUCADORA DO LAR SÃO SINTOMAS INEGÁVEIS DE QUE ALGO NÃO VAI BEM NA CÉLULA FAMILIAR.

Por amor a Cristo

Missionários brasileiros são presos no Senegal por pregarem o evangelho

Perdão

Uma palavra pequena, mas com um poder devastador

Músicos

Cristãos como músicos profissionais. Pode? E a Igreja... aceita?




EDITORIAL

por Jairo Cesar Editor

A Revista +Cristão é uma publicação da Millibros Editora

Contatos 61 9309-8998 61 9345-0550 jerrygaspar@revistamaiscristao.com redacao@revistamaiscristao.com

Diretor-Editor Jairo Cesar Diretor Executivo Jerry Gaspar

Expediente +Cristão

Diretor Comercial David Malafaia Diretor de Arte / Projeto Gráfico Thimóteo Soares Jornalista Mércia Maciel Colaboradores Hosana Seiffert, Eleazar Araújo (Zazo) e Carlinhos Veiga Revisor Eleazar Araújo (Zazo) Articulistas Estevam Fernandes, Hércio Fonseca de Araújo, Hosana Seiffert, Junior Sipaúba, Marcus Américo, Thiago Souza Neiva, e Zazo, o nego. Fotografia Cristiano Carvalho e Thimóteo Soares Impressão Estagraf Distribuição / Periodicidade A Revista Mais Cristão é bimestral e é distribuida gratuitamente em diversas igrejas do Distrito Federal e livrarias evangélicas. Tiragem 10.000 exemplares

Publicidade Jireh Publicidade & Marketing Contato: David Malafaia 61 9188-6948 / 61 9652-2321 e-mail: davidmalafaia@revistamaiscristao.com

Os artigos publicados nas seções “Pastoral”, “Política”, “Direito e Cidadania”, “Dicas de Saúde”, “Esporte”, “Dicas de Filmes” e “Contos e Crônicas” são de inteira responsabilidade dos seus autores.

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stamos vivendo uma época muito estranha. Boa parte da sociedade ocidental, inclusive a brasileira, tem sido bombardeada com discussões sobre as possibilidades de novas configurações “familiares”. Alguns posicionamentos têm impregnado boa parte da mídia, que é controlada por pessoas com altíssimo potencial de mobilização. O que parecia ser a voz de uma pequena parcela do povo ganha configurações com potencial para tornar-se cultura geral. As cansativas e repetitivas notícias da crise pela eleição de um pastor evangélico para a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, este repudiado pelos militantes das causas GLTB, evidenciam um caldeirão de opiniões que se confrontam na mesma base: os relacionamentos. Como buscar equilíbrio nessa corda bamba? Na presente edição, a equipe da revista Mais Cristão abraçou um desafio e tanto: investigar e avaliar três assuntos, dentre outros, diretamente ligados e que envolvem o relacionamento com o próximo: Família, perdão e solidariedade. Os desafios da vida familiar, criação de filhos e relacionamento conjugal são confrontados com uma pequena palavra, mas com poder devastador: o perdão. Unindo esse tripé relacional está o estímulo a desviar-se do olhar egoísta voltado para o próprio umbigo e perceber os necessitados e excluídos – a ação social. As reportagens permitiram avançar em um terreno extremamente rico. A pesquisa, as entrevistas, os recursos textuais nos fizeram perceber que só conseguimos dar uma pincelada no assunto, se tanto. O espaço é pequeno para explorar a riqueza que flui das experiências de vida de pessoas comuns e da abordagem técnica dos especialistas. Ficamos querendo mais. O perdão aponta para o equilíbrio na corda bamba para iniciar a restauração da atrofia dos relacionamentos. A atitude de perdoar é o melhor remédio para os atritos entre as pessoas. É um processo que cura e promove a saúde em todos os aspectos. Pode-se fazer as pazes com o passado, há espaço para que a alegria se instaure no presente e aponta para a esperança no futuro. Saber perdoar e receber perdão é algo que proporciona relacionamentos duradouros. Não é utopia acreditar que, apesar do materialismo, egoísmo e caos que envolve grande parte da sociedade, a vivência da ética cristã, baseada no amor ao próximo, ensinada por Jesus, pode transformar o+mundo. Boa leitura.



SUMÁRIO

| EDITORIAL

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Entrevista

Por amor a cristo

Resgatando vidas

Sonia Mendes - uma referência de fé e superação

Missionários brasileiros são presos no Senegal.

Cristãos que dedicam seu tempo para ajudar o próximo.

| ARTIGOS 08 |

Pr. Hércio Fonseca

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Zazo

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Estevam Fernandes

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Marcus Américo

19 |

Thiago Neiva

45 |

Zazo, o nego

26 |

Hosana Seiffert

46 |

Junior Sipauba

Palavra Pastoral

Casamento e Família Dicas de Saúde Política

Contos e Crônicas Dicas de Filmes

Dicas de músicas Esporte

34 Perdão

Uma palavra pequena, mas com um poder devastador.

| CAPA por Mércia Maciel Família na corda bamba. pág. 20

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40 Músicos Cristãos como músicos profissionais. Pode?



PASTORAL

por Hércio Fonseca

Hércio Fonseca de Araújo é Pastor Presidente da Igreja Batista do Lago Norte-DF.

O TODOPODEROSO! “Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento”. (Provérbios 3.5)

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odos os dias temos que lutar, com toda a nossa força, contra o nosso senso de justiça própria e de autoconfiança. Uma das grandes falhas que cometemos é achar que somos suficientes para vencermos sozinhos os muitos obstáculos que surgem à nossa frente. Sentimo-nos donos das situações, como se fôssemos “todo-poderoso”. Quem confia em Cristo Jesus não confia em si mesmo, em hipótese alguma. A autoconfiança é um pecado perigoso. Quando observamos a realidade à nossa volta, deparamo-nos com crentes carregados de autossuficiência, presenciamos líderes cheios de si e vazios da plena confiança no Senhor. O perigo da autoconfiança não é um risco que corremos apenas quando estamos diante de grandes desafios; também lidamos com ele ao enfrentarmos situações simples, caindo na tentação de prescindirmos da orientação divina. Quem se defende não carece da defesa de Deus. Aquele que se basta é tolo o bastante para tentar dar um basta nas ações de Deus. A descrença em Jesus é, normalmente, a alavanca para a crença em si mesmo. Quem nega a graça da redenção envolve-se na desgraça da autoaceitação. “Achas que é justo dizeres: Maior é a minha justiça do que a de Deus?” (Jó 35.2). Uma pessoa cheia de si é um alvo para Deus esvaziá-la na cruz, com Cristo. Uma pessoa esvaziada pelo Espírito Santo de Deus tem como alvo a pessoa de Cristo para sua justificação, regeneração, santificação e glorificação. 8

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“Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção, para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (1 Coríntios 1.30-31). Saulo foi autoconfiante e sabia disso ao dizer que ele era irrepreensível quanto à justiça da lei. Ele foi um religioso impecável, uma pessoa corretíssima, até considerar tudo isso inútil, depois de seu encontro com Jesus, em razão da sublimidade de Cristo. Jó, Saulo de Tarso e o centurião Cornélio foram homens justos legalmente, mas todos eles precisaram ser justificados pela graça de Deus em Cristo. Ser íntegro não significa ser salvo por Cristo. Há muita gente incorruptível, honrada e moralmente adequada, contudo são pessoas que ainda não tiveram seus pecados perdoados nem conheceram Jesus. O que nos leva à perdição eterna nem é tanto o pecado da transgressão da lei, mas sim o pecado da descrença em Jesus e da falta de dependência de Deus. Precisamos assumir nossos erros e deixar de pensar que podemos tudo. Precisamos confessar que somos fracos e imperfeitos. Além disso, não podemos esquecer que não somos aceitos por obras de justiça própria, nem santificados por meio de nossa atuação, mas pela ação de Deus em nossas vidas. Precisamos saber que não somos “o todo-poderoso”, mas dependemos do poder e da misericórdia divina, que nos sustentam e nos + agraciam com a vida eterna, pela sua infinita graça.


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Foto: Arquivo pessoal

ENTREVISTA

Sonia Mendes exemplo de fé e dedicação

por Mércia Maciel

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ncarar a pobreza e o radicalismo muçulmano em um dos lugares mais inóspitos do planeta não é missão fácil. Ainda mais se a motivação para o empreendimento for o amor descompromissado e o objetivo for levar o reino de Deus às pessoas. Essa foi a decisão de uma mulher que se dispôs a um trabalho difícil, perigoso e com poucos recursos. Aos cinquenta anos, Sônia Mendes, maranhense de Santa Inês, já passou metade de sua vida no campo missionário. Ela, que já foi líder de jovens e professora de escola dominical, teve seu chamado específico para missões transculturais quando era mui10

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to jovem. Em 25 anos de ministério desenvolveu suas atividades no Peru – onde enfrentou o auge do Sendero Luminoso, grupo terrorista que perseguia os cristãos – México, Guatemala e Estados Unidos. Mas o trabalho mais marcante acontece no Senegal, oeste da África, onde dirige, há catorze anos, uma organização não governamental que atua nas áreas de saúde e educação. Nesse país, Sônia também está envolvida com plantação de igrejas e formação de obreiros. Para a missionária, o maior campo da atualidade é o mundo islâmico, que é o fenômeno religioso com o maior índice de crescimento do mo-

mento. Apesar da carência de vocacionados, defende que o chamado de Deus é supremo e incondicional; e que este exige preparo específico, particularmente em missões transculturais, contextualização, metodologia e estratégias corretas para um bom desempenho. Ao conversar com a Revista Mais Cristão, antes de retornar para a África, Sônia enfatiza a necessidade de cobertura espiritual e pede que os cristãos brasileiros intercedam pela equipe de trabalho e por recursos para o andamento dos projetos, como a construção de um posto médico e uma escola de alfabetização.


+Cristão: A vocação missionária é algo que envolve amor às pessoas, desprendimento e preparo espiritual e intelectual. Como foi o seu chamado para a obra de missões? Sônia Mendes: Eu já era muito atuante na igreja local, como líder de jovens, escola dominical, evangelismo e onde fosse necessário. Sempre tive prazer em servir na casa do Senhor. No ano de 1988, aconteceu a primeira conferência missionária organizada pela Assembleia de Deus da L2 Sul. Naquele mês de Setembro, Deus marcou a minha vida, por meio de uma impactante mensagem ministrada pelo Pastor Waldemar Carvalho, diretor da Missão Kairós, no Brasil. Ele falou sobre nosso dever e responsabilidade de levar as boas novas do evangelho àqueles que nunca ouviram falar de Cristo. Por influência daquela mensagem, fui desafiada a dedicar-me à obra de missões. Deus me chamou e consagrou minha vida para ir ao campo missionário.

fui enviada à Guatemala e aos Estados Unidos, onde participei em um projeto de curto prazo na formação e mobilização missionária, antes de ir para a África. Atualmente meu campo é no oeste da África. O Senegal é um país da Janela 10/40, onde tenho vivido há catorze anos e sou líder de uma ONG na qual trabalhamos com ajuda humanitária e projetos de desenvolvimento para as áreas de saúde e educação; isso paralelo à plantação de igrejas e treinamento de líderes e obreiros locais. +Cristão: Ser mulher facilita, dificulta ou não faz diferença para o exercício da missão?

+Cristão: Nem sempre o missionário é enviado para o local de sua preferência, embora depois entenda que as experiências vividas em outros locais acabam por enriquecer seu ministério. Como foi a sua trajetória no campo missionário até chegar ao Senegal? Sônia Mendes: Meu primeiro campo de trabalho foi o Peru, onde atuei por seis anos. Foi um momento desafiador, devido à situação política da época. O país Foto: Arquivo pessoal era dominado pelo terrorismo do Sendero Luminoso. Tinha muitos Sônia Mendes: O chamado de Deus assassinatos e uma perseguição for- é supremo e incondicional. Não está tíssima ao pequeno grupo de cris- delimitado para qualquer gênero. O tãos. Nessa época vivi experiências fato de ser homem ou mulher não maravilhosas com a equipe de mis- pode ser impedimento para a reasionários com quem trabalhei. Vi lização da obra. Porém é necessário muitos milagres acontecerem, e di- ressaltar que todo chamado a um versas igrejas foram estabelecidas. A campo transcultural exige preparo missão seguinte foi no México, onde específico, contextualização, metotrabalhei por três anos plantando dologia e estratégias corretas para igrejas e formando obreiros. Ainda o bom desempenho. A configuração

da missão que Deus confia a alguém precisa ser adequada ao tipo de trabalho, seja nacional ou internacional. Mas é fundamental a adaptação a esses princípios. Quando esses requisitos são cumpridos dentro do trabalho missionário, não existe diferença para homens e mulheres. +Cristão: A cultura do mundo muçulmano tem sido um desafio para os missionários cristãos. Qual tipo de situação você encontra em missões transculturais que mais a impacta? Sônia Mendes: O sofrimento extremo de muitos grupos e povos não alcançados com as boas novas do evangelho, que vivem sob o completo domínio das trevas, sem saber da existência de Deus. É chocante ver povos e nações que são mutilados diariamente pelas circunstâncias sociais e espirituais em que vivem. Dentro dos países islâmicos, as condições políticas e religiosas são sempre muito instáveis. Depende muito da filosofia religiosa que cada grupo representa, nominal ou fundamentalista, poderão ser muito intolerantes e radicais. O desafio maior para quem ama os muçulmanos e quer abençoá-los com a mensagem do evangelho continua sendo a adaptação, a contextualização cultural e o aprendizado da língua oficial e dos dialetos locais, além do estabelecimento de estratégias adequadas que sirvam de ponte eficaz na comunicação da Palavra de Deus. +Cristão: Como você avalia o conceito de missões modernas, no qual se utiliza a formação profissional do missionário como estratégia evangelística? Sônia Mendes: O contexto social, religioso e espiritual do mundo é muito amplo e diversificado. O perfil do obreiro em nossos dias permite que ele trabalhe como profissional dentro da sua área de formação, usando sua

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ENTREVISTA

profissão como estratégia e ponte de evangelização, principalmente para povos não alcançados. Esse contexto exige obreiros bem preparados em diferentes áreas e categorias. Dentro do mundo missionário, as organizações de preparo e envio têm buscado formar homens e mulheres para fazer frente à demanda da modernidade, sem perder o foco dos verdadeiros valores do reino de Deus. +Cristão: Existem muitas pessoas vocacionadas ou chamadas para as missões ou há poucos obreiros dispostos e disponíveis? Sônia Mendes: Atualmente são poucos os que estão dispostos a ir ao campo. Essa é uma realidade que não podemos negar. A igreja no ocidente está decadente em muitos aspectos. A visão e a responsabilidade missionárias estão negligenciadas, e a falta de conhecimento bíblico tem gerado uma baixa qualidade espiritual na vida da igreja. Um fraco discipulado tem produzido uma igreja sem visão, sem compromisso com a evangelização do mundo. A maioria dos membros das igrejas não está disposta a se envolver no trabalho missionário. O que Jesus disse em Mateus 9.37 continua vigente: “A seara é grande, mas poucos são os ceifeiros”.

+Cristão: Qual a sua mensagem às pessoas que pensam em fazer missões? Sônia Mendes: Em primeiro lugar, tenha convicção de que realmente você é chamado por Deus para essa obra específica. Tenha uma vida de oração e conhecimento bíblico. Busque fazer uma formação missiológica correta e direcionada dentro da área em que foi chamado pelo Senhor para trabalhar. Será necessário também o apoio e envio de uma igreja local que o sustente e seja sua cobertura espiritual. +Cristão: Quais são seus planos ministeriais e pessoais para o futuro? Sônia Mendes: Em setembro de 2013, completo 25 anos desde que saí do Brasil para servir nos campos missionários. Sou grata ao Senhor pelo grande privilégio que me concedeu. Toda a experiência adquirida nestes anos está sendo organizada em uma obra que será publicada para ser utilizada na formação de novos obreiros, tanto em âmbito nacional como em campos não al-

Sônia Mendes: O mundo moderno funciona por intermédio de parcerias e alianças estratégicas. Esse novo comportamento social vem influenciando positivamente as organizações. As agências missionárias vêm trabalhando juntas em várias frentes nacionais e transculturais, seja na tradução da Bíblia, na investigação de campos pioneiros, na metodologia e investigação de novas estratégias missionárias, no estabelecimento de equipes em países não alcançados, no preparo e envio de obreiros. É um trabalho de cooperação. 12

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Foto: Arquivo pessoal

+Cristão: As estruturas de apoio logístico, operacional, comunitário, organizacional, financeiro, espiritual e pessoal para a realização desses trabalhos são eficientes?

cançados. Minha visão e objetivo é dar continuidade ao ministério que recebi do Senhor. Como disse o apóstolo Paulo, não quero ser desobediente à visão celestial, pois nosso chamado eterno não é temporal. Pretendo seguir fazendo missões, ensinando e formando homens e mulheres fiéis, idôneos, que sejam capazes de ensinar a outros. +Cristão: Missionário é gente. Que tipo de lazer você tem? Sônia Mendes: Gostei dessa pergunta! Sim, o missionário é gente e está muito longe de ser super-herói, super-santo ou super-tudo. Somos normais, simples, como qualquer mortal. Gosto de nadar, ir ao restaurante, + experimentar comida diferente. Contatos No Brasil: Projeto Adotar (61) 3484-5341 (Hilso de Sousa e Marcelo Ruas) Na África (Senegal) 0022133-836 9322 / 0022177 403-8555 Skype: sonia.mendez2 E-mail: sonia27@hotmail.com



Foto: Antônio Carlos Costa

MISSÕES

Por amor a

Cristo... “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa”. Mateus 5.11 por Hosana Seiffert

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ra um dia quente e abafado como tantos outros no Senegal. A equipe do projeto Obadias, que oferece comida, abrigo e ensino a dezessete jovens e crianças de rua, iniciou as atividades normalmente. Ninguém poderia imaginar que aquele seria um dia bem diferente... O pai de um dos jovens acolhidos, 14

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Abdou Fall, acusou o pastor José Dilson e a missionária Zeneide Moreira, que atua como “mãe” dos menores assistidos pelo projeto, de “prejudicarem as crianças do Senegal”. Só para entender: a maioria dessas crianças são “meninos-talibês”. Eles têm entre cinco e dezessete anos e são entregues pelos pais para os Marabus, espécie de líderes muçulmanos, muito respeita-

dos pela comunidade e responsáveis pelo ensino do Alcorão aos mais novos. É comum ver os talibês pelas ruas de Dakar, sempre vestidos com trapos e mendigando moedas com uma latinha em torno do pescoço ou nas mãos. De acordo com a tradição imposta pelos Marabus, a mendicância infantil faz parte da educação corânica, para aprender a humildade.


Foto: Human Right Watch

A última pesquisa da UNICEF, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, sobre crianças talibês estimou mais de 100 mil crianças mendigas no Senegal. Isso em 2004. Em 2008, a estimativa era de que 215 milhões de crianças entre cinco e dezessete anos estivessem envolvidas em algum tipo de trabalho infantil ao redor do mundo, a maioria delas nas grandes cidades, como Dakar. As condições de sobrevivência são, na maioria das vezes, desumanas. Os talibês sofrem fome e sede, adquirem diversas doenças. Eles são obrigados pelos Marabus a entregarem uma quota de arrecadação por dia. Quando não atingem a meta, são castigados fisicamente e passam por privações de alimento. Depois de algum tempo, à medida que vão crescendo, vários meninos não voltam mais para os Marabus. Preferem o abandono nas ruas a se submeterem aos castigos e, normalmente, reúnem-se em gangues para sobreviverem. Voltando aos missionários: é justamente com essas crianças que o projeto Obadias, mantido pela Agência Presbiteriana de Missões Transculturais, trabalha. José Dilson e Zeneide foram acusados de formação de quadrilha, aliciamento e tráfico de menores, além da pregação do

José Dilson a esposa Zeneide Moreira e sua família / Foto: Divulgação

evangelho, o que é considerado crime em países muçulmanos. Jornais do Senegal logo publicaram a reportagem. O tabloide Le Populaire estampou no título: “Pastor brasileiro convertia crianças ao cristianismo”. Foram cinco meses de prisão, intervenções de várias esferas do governo brasileiro, visitas de comitivas de parlamentares, divulgação por redes sociais, abaixo-assinados e, só no dia 5 de abril, um juiz senegalês concedeu o habeas corpus para que os missionários respondessem ao processo em liberdade.

A saída da prisão foi comemorada com entusiasmo e alívio por amigos, parentes e membros das agências missionárias. Mas a história ainda está longe de acabar. O caso deve ser julgado no próximo mês. Um dos maiores problemas a serem enfrentados é uma brecha legal. De acordo com o Itamaraty, o pastor José Dilson da Silva dera entrada na legalização do projeto em 2011. Para isso, contratara um advogado para encarregar-se de organizar a documentação e obter a autorização do juizado, a fim de que os menores fossem atendidos. Isso nunca aconteceu. O falso advogado pegou o dinheiro e desapareceu. Mesmo assim, José Dilson continuou o trabalho. “Nós não queremos de maneira nenhuma desrespeitar a soberania dos lugares onde atuamos; mas, no momento, dependemos da leitura da pessoa que conduz o caso”, declarou o pastor Marcos Agripino, porta-voz da APTM (Agência Presbiteriana de Missões Transculturais), à revista Istoé, na época da prisão dos dois missionários. A rotina do presídio de Thiès é dura e cruel em um ambiente insalubre. A cela não tem janelas nem espaço para todos os trinta presos dormirem deitados. Era preciso fa-

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MISSÕES

Mapa do Senegal e da Guiné-Bissau

Foto: Human Right Watch

© 2010 John Emerson / Human Rights Watch

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zer um revezamento. Na primeira semana, a missionária Zeneide foi colocada em uma cela com homens. Só depois, por interferência da embaixada brasileira, foi transferida para um presídio de mulheres. Diabético e sem alimentação adequada, José Dilson, ficou bem fraco, ainda mais depois de uma inflamação no ouvido. Mesmo assim, a certeza de que nada acontece sem a permissão de Deus sustentou os nossos irmãos durante todo o tempo. Em uma carta escrita no dia 25 de fevereiro e repassada por e-mail para intercessores no Brasil, o missionário descreveu um pouco a situação: “Já são duas horas da madrugada, e não estou conseguindo dormir. Todas as noites são assim quentes, sem espaço pra me virar, desconfortáveis ao extremo. Com tudo isso, sei que Jesus está ao meu lado, e isso me conforta. Vejo meus colegas dormindo e fico imaginando que Jesus quer ter um tempo comigo pra a gente conversar um pouco. São nesses momentos que tenho liberdade de falar um pouco das minhas frustrações, das minhas angústias, dos meus temores – que amigo querido, como o amo!”. Algo mais por trás dos fatos – a prisão dos missionários brasileiros no Senegal não é um caso isolado. Pelo contrário, revela uma situação cada vez mais preocupante no trabalho missionário em relação a países fechados ao evangelho. De acordo com uma pesquisa do Centro para o Estudo do Cristianismo Global do Seminário Teológico Gordon-Conwell, dos Estados Unidos, em 2010, o Brasil enviou 34 mil missionários para o exterior, muitos dos quais, como bivocacionados, para países com perseguição religiosa. A agência missionária Portas Abertas criou uma classificação que acompanha o grau de intolerância de países para com os cristãos. Há sete anos, a Coréia do Norte ocupa o primeiro lugar na escala de perseguição. Em seguida vem um


Foto: Human Right Watch

pequeno país, o reino muçulmano Wahhabi, na Arábia Saudita, com a mesma intensidade do Irã, regido pela Sharia, a lei muçulmana. O Afeganistão, a Somália e até as Ilhas Maldivas também aparecem no topo da lista de países fechados, ao lado da China e do Butão. Para se ter uma ideia, na Nigéria, 23 cristãos foram mortos só nos primeiros três meses deste ano. Em alguns casos de perseguição, o clamor internacional consegue conter a fúria dos líderes, como no episódio do pastor Youcef Nadharkani, condenado à morte no Irã por realizar atividades evangelísticas no país. Mesmo livre por pressão de grupos que apoiam os direitos humanos, o pastor Youcef é vigiado, está proibido de sair do país e ainda responde a processo. De tantos desafios, as estratégias de segurança estão entre os mais urgentes para o + trabalho missionário.


CASAMENTO&FAMÍLIA

por Estevam Fernandes

Estevam Fernandes é Pastor da Primeira Igreja Batista de João Pessoa. Pscicólogo clínico, escritor, conferencista motivacional. Casado com Dra. Aurelineide, e pai de Thayse e André.

A família na UTI U

ma das maiores frustrações do mundo contemporâneo é a crise que se abate sobre a família. A desagregação do lar tira o brilho do progresso, das conquistas e da expansão do conhecimento que se promoveu nos últimos anos. Ver um lar sendo destruído causa uma dor profunda na consciência dos que levam a vida a sério. O desmoronamento da família coincide com a crise da afetividade. A essência de nossa vivência está nos relacionamentos significativos, especialmente naqueles que se dão no âmbito de vida familiar. A afetividade é um cimento na construção das relações humanas, mas infelizmente o homem de hoje está preso às garras do individualismo. Sob o ponto de vista terapêutico, cuidar da família implica um cuidado urgente com nós mesmos, especialmente no que se refere aos nossos sentimentos, pois eles é que dão sentido e consistência à nossa vida. Sentimentos sadios implicam relacionamentos sadios. Isso é uma questão de aprendizagem que exige esforço de cada um de nós para o bem da família. Aprender a amar, a valorizar os outros, a respeitar, a perdoar, a esvaziar-se de si, a abraçar e a valorizar os pontos positivos das pessoas, tudo isso é coisa simples que poderá produzir mudanças profundas na vida em família. Dizer “eu o amo” é muito mais fácil do que alimentar o ódio. Nenhuma família sobrevive sem amor, pois somente este promove a tolerância, a misericórdia, a paciência, a confiança, o perdão e a renúncia. 18

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Um segundo cuidado urgente para salvar a família está na solidificação da relação entre marido e mulher — o eixo básico dos relacionamentos familiares. Infelizmente, muitos filhos crescem sem ver sequer seus pais juntos; e outros jamais viram os pais abraçados, vivenciando afeto e ternura. O modo de viver dos pais afeta diretamente o modo de ser dos filhos; por isso assistimos a um crescimento assustador de filhos drogados, rebeldes, agressivos, apáticos e inseguros. Mas quando se fortalecem as bases, toda a estrutura familiar fica mais segura. Para a saúde da família, é fundamental uma revisão dos nossos valores, os quais devem ultrapassar o limite do material e das coisas transitórias. Quando um filho precisa de um brinquedo para se sentir amado pelos pais ou uma esposa precisa de uma joia para se sentir amada pelo marido, aí está um sinal de que nessa família os valores estão invertidos, pois as pessoas devem ser valorizadas pelo que são e sentem, e não pelo que possuem ou possam oferecer. Dentro dessa escala de valor, não podemos subestimar a fé, a esperança e o louvor. Tentar salvar a família de uma crise aguda, sem a presença de Deus e a força do amor, é, como disse Jesus, construir a casa sobre a areia; ao primeiro vento forte, tudo cai. Ou agir como quem deseja esculpir pedras com as próprias + mãos; nem consegue e ainda sai todo machucado.


DICAS DE SAÚDE

por Thiago Neiva

A prevenção é o melhor remédio?

Thiago Souza Neiva é Médico de Família e Comunidade do PSF da Granja do Torto (DF) Presidente da Associação Brasiliense de Medicina de Família

Mesmo?

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Prevenção é melhor do que a cura. Esse princípio é incontroverso, entretanto novos conhecimentos apontam para o fato de que a prevenção também pode causar danos. Mediante o conceito de “Prevenção Quaternária”, que visa à proteção contra a assistência médica excessiva, são envidados esforços no sentido de se encontrar a correta medida do cuidado preventivo, adequada aos princípios da ética médica, beneficência e não maleficência. Checapes gerais, exames envolvendo múltiplos testes em pessoas que não apresentam sinais ou sintomas de doenças, objetivando o achado de condições patológicas e a prevenção de enfermidades, são elementos comuns a sistemas de saúde em muitos países. Esses exames, segundo recente artigo do conceituado JAMA Internal Medicine, estão entre as razões mais comuns para a consulta a médicos nos Estado Unidos, com uma estimativa de que 44 milhões de americanos consultaram um médico anualmente entre 2002 e 2004. Foram gastos cerca de 322 milhões de dólares, por ano, com exames laboratoriais que nenhum consenso médico recomendou. É provável que testes gerais de acompanhamento de exames de saúde contribuam, substancialmente, para os estimados 210 bilhões gastos por ano com serviços médicos desnecessários, segundo o Institute of Medicine, em 2012. Para grande parte da população, esses exames, intuitivamente, fazem todo o sentido, afinal a prevenção seria a solução para uma vida saudável. Entretanto, recente publicação do The Cochrane Collaboration, conceituada rede internacional de pesquisadores dedicada a fazer revisões da literatura científica a fim de prover informações mais adequadas para as decisões clínicas, mostrou que os benefícios de tais exames podem ser muito menores que o esperado, assim como muito mais danosos. Uma possibilidade de dano por checapes é o diagnóstico e tratamento de condições que não são destinadas a causar sintomas ou morte. Esses diagnósticos serão, portanto, supérfluos e acarretarão o risco de tratamentos desnecessários. Segundo o The Cochrane Collaboration, foram identificados dezesseis estudos clínicos randomizados (elevado

nível de evidências), que incluíram mais de 180 mil participantes e que compararam grupos de adultos, parte dos quais fizeram exames. Não houve efeito dos testes laboratoriais no risco de morte, seja devido a doenças cardiovasculares ou cânceres, assim como não houve efeitos em eventos clínicos ou outras medidas de morbidade. A conclusão dos autores foi de que checapes não são capazes de reduzir morbi-mortalidade, embora possa haver um aumento do número de diagnósticos. Por conseguinte são, provavelmente, pouco benéficos. Essas evidências e tantas outras similares, que têm ressaltado o quanto o excesso de prevenção pode trazer benefícios duvidosos com riscos aumentados, fortalecem um novo tipo de atitude médica: a “Prevenção Quaternária”, termo cunhado por Marc Jamoulle, Médico de Família e Comunidade belga, em meados de 1986. O conceito de prevenção quaternária, segundo Norman e Tesser nos Cadernos de Saúde Pública, em 2009, a partir do primum non nocere (primeiro, não fazer mal), almejou sintetizar critérios e propostas para o manejo do excesso de ação médica e medicalização, tanto diagnóstica quanto terapêutica, buscando, após a identificação de indivíduos em risco de tratamento excessivo, protegê-los de novas e inapropriadas intervenções médicas, sugerindo-lhes alternativas eticamente aceitáveis. Os meios mais eficazes de se atingir a prevenção quaternária seriam: o ouvir melhor os pacientes, a chamada Medicina Baseada na Narrativa, que significa adaptar o medicalmente possível ao individualmente necessário e desejado; também, não menos importante, a Medicina Baseada em Evidências, que seria a aplicação do método científico a todas as práticas médicas, especialmente àquelas tradicionalmente estabelecidas, mas que ainda não foram submetidas ao escrutínio sistemático científico. Concluindo, somente por meio de uma relação forte e sustentável entre os médicos com seus pacientes, de mútua confiança, honesta e cujas condutas médicas sejam profundamente fundamentadas no conhecimento específico é que a prevenção será o melhor remédio. De outro modo, + pode ser o pior investimento... na doença, não na saúde.

+CRISTÃO MAIO / JUNHO 2013

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na corda bamba

O aumento do número de divórcios, filhos irreverentes e indiferentes aos pais, brigas constantes entre casais e a televisão como a principal educadora do lar são sintomas inegáveis de que algo não vai bem na célula familiar

por Mércia Maciel

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abe aquela imagem de família unida, sentada à mesa, durante as refeições, e o clima de harmonia contagiando o ambiente? Ela ficou nos porta-retratos dos mais velhos ou em alguma cena de filme nostálgico. Na maioria dos lares brasileiros, o atual retrato das famílias é outro. Muita gente até solta um “Tá amarrado”, quando ouve alguém dizer a famosa frase “A fa-

mília é uma instituição falida”. Já a compreensão de que família é um projeto de Deus é aceita pela grande maioria dos cristãos. Mas é inegável que a célula familiar vem andando numa corda bamba. Alguns sintomas dessa degeneração podem ser facilmente identificados nos divórcios, nos filhos irreverentes e indiferentes aos pais, nas brigas entre os casais e na televisão

como principal educadora, entre tantas outras mazelas que invadem os lares. A fidelidade foi relativizada; os casais já não sabem quais são seus papéis dentro do lar, e argumentos camuflados de modernidade tentam justificar uniões homossexuais, fim da família tradicional, exclusão da palavra pai da estrutura de família, desvalorização da castidade e negação de outros princípios da fé cristã.

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A primeira crise conjugal está descrita logo no início da Bíblia, quando Adão e Eva se acusam mutuamente, diante de Deus. E a primeira desavença familiar é narrada logo depois, quando o invejoso Caim sente ciúmes da oferta de seu irmão, que é aceita por Deus, de acordo com o relato no livro de Gênesis. De lá para cá, as crises familiares balançam o combalido alicerce de muitos lares em todo o mundo, situação que não se mostra diferente entre evangélicos. Pesquisa feita pelo Instituto UNIPEM, em 2006, sobre os aspectos econômicos, familiares e delitos cometidos pelos internos da antiga Febem, de São Paulo, hoje Fundação Casa, aponta que 36% dos adolescentes infratores são de famílias cristãs. A maioria tem nome bíblico, porém lares desestruturados. Os papéis do pai, da mãe e dos filhos não estão bem definidos na estrutura familiar atual, o que gera grande confusão e desarmonia nos lares. Segundo o pastor Josué Gonçalves, líder do Ministério Família Debaixo da Graça, conferencista e autor de mais de trintas obras cristãs, esse é um dos motivos para a existência de tantas famílias disfuncionais. “Hoje, temos mulheres dominadoras e pais abrindo mão de seu papel como cabeça do lar. Consequentemente, os filhos terão modelos distorcidos para serem seguidos. O plano divino é que o homem seja o cabeça; a esposa, auxiliadora idônea; e os filhos, ao redor deles, obedientes e que honram pai e mãe. Quando a família está alinhada com a Palavra de Deus, todos experimentam um pedaço do céu em casa”, defende. Ainda segundo Josué Gonçalves, também apresentador de um programa de televisão que leva o mesmo nome de seu ministério, vários sintomas evidenciam a crise nos relacionamentos familiares. Um deles é o esvaziamento da mesa de refeições, que passou a ser, em muitas casas, um mero móvel de enfeite. Para ele, a mesa é o centro das emo22

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Josué Gonçalves, pastor e palestrante / Foto: Divulgação

ções de uma família, um lugar de comunhão e de troca de experiências cotidianas. “O abandono desse hábito é um dos sintomas de que o relacionamento não vai bem. Nos lares bem sucedidos, ela é uma espécie de altar, ponto de encontro, lugar de desenvolver a espiritualidade. À mesa, a família nutre o corpo e o espírito”, constata. Gonçalves ressalta ainda que esse hábito salutar não é seguido por 40% das famílias brasileiras, enquanto 70% dos lares fazem refeição com a TV ligada. “Quando cada membro da família procura seus próprios interesses e vive em seu mundinho, a crise já está instalada. O silêncio é uma das evidências da falta de perdão, comunhão e reconciliação”, afirma.

Criar filhos está longe de ser uma tarefa fácil. A rebeldia é talvez um dos problemas que mais tiram o sono dos pais. Os lares modernos estão repletos de crianças que desrespeitam os mais velhos, não querem estudar ou ter responsabilidades próprias da idade e adolescentes que insistem em ter amizades nada saudáveis, mesmo diante do apelo ou ordem dos pais. Mas de onde provém essa desenfreada desobediência, que muitos chamam de rebeldia? Para a educadora e terapeuta pastoral, Vilma Lira, da Terceira Igreja Batista de Brasília, vários aspectos devem ser considerados para se identificar a causa desse comportamento ou os motivos pelos quais ele é potencializado, como fatores psicológicos,


sociais, familiares e até físicos. “Na Bíblia, rebeldia está ligada a um coração endurecido que não aprendeu a obedecer. Com poucas exceções, geralmente, uma criança rebelde é fruto de pais que não souberam estabelecer limites — ou foram muito flexíveis, pusilânimes e condescendentes, ou muito rígidos, exigentes e, às vezes, até injustos. Os dois extremos podem levar à rebeldia”, alerta Vilma Lira. Ainda segundo a terapeuta pastoral, as regras e limites devem ser estabelecidos desde a tenra infância, nunca deixando a disciplina, regada de amor e coerência. Mas, e se a rebeldia já desestruturou um lar cristão e trouxe consequências desastrosas? “Quando ela se instala, o processo fica mais difícil. Será necessário diálogo, muito diálogo, mas o estabelecimento de regras e limites vale para qualquer idade ou situação. Se necessário, deve-se procurar ajuda especializada de um psicólogo ou conselheiro. Um coração rebelde, quase sempre, é fruto de um coração carente. Oração, paciência, amor firme e sabedoria no agir e falar são fundamentais para não fecharmos o canal de comunicação com o coração dos nossos filhos”, aconselha a pastora Vilma Lira. No início de 2013, o pastor norte-americano Tedd Tripp, autor do best-seller Pastoreando o coração da criança, esteve no Brasil, para uma série de palestras. Em Brasília, na

“...nada vai adiantar o pai ou a mãe dizer que Deus quer um coração sincero, se ele (ou ela) não demonstrar isso. As atitudes são melhores do que mil palavras.” (Tedd Tripp)

Tedd Tripp, pastor norte-americano / Foto: Divulgação

Igreja Presbiteriana Nacional, durante dois dias, um público formado por pais atentos e ávidos por aprender suas valiosas lições assistiu suas preleções. Tripp desafiou-os a identificar a origem do mau comportamento de seus filhos. Segundo o conferencista, equivocadamente, os pais atacam a atitude da criança, sem entender que tudo procede do coração. Ele exemplificou a lição com uma cena cotidiana que viveu com seus netos: um pote de balas e o comportamento de cada um deles. “Foi uma verdadeira disputa de quem pegaria mais guloseimas. Muitos pais atacariam o problema dizendo para os filhos deixarem balas também para os outros irmãos ou que, no pote, há doces para todos. O foco está errado. Os pais cristãos precisam identificar que o problema é o egoísmo das crianças, que pouco se importavam se o irmão também pegaria as disputadas balas. O comportamento apenas reflete o que está no coração. É um erro abordar apenas o ato. Essa mudança não será duradoura, pois não foi à fonte do problema. Precisamos levar nossos filhos a perceber que sentimentos errados estão nos seus

coraçõezinhos, levá-los à cruz de Cristo e fazê-los entender que Deus quer um coração livre do pecado e arrependido”, ensina. Com jeito didático e amoroso, Tripp levou sua atenta plateia de pais a refletir a forma como educam seus filhos. Segundo ele, o primeiro lugar para que as crianças aprendam sobre Deus e sobre seus juízos é o lar, e não a igreja. “É preciso fazer o que está determinado em Deuteronômio, capítulo 6: ‘Ensinarás a teus filhos, deles [dos juízos de Deus] falarás assentado em tua casa, andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te’. Essa instrução normativa deverá acontecer a todo o tempo. E o testemunho ainda é o melhor caminho. De nada vai adiantar o pai ou a mãe dizer que Deus quer um coração sincero, se ele (ou ela) não demonstrar isso. As atitudes são melhores do que mil palavras de exortação”, alerta. E completa: “Os pais jamais poderão abrir mão de sua autoridade e da obediência de seus filhos. Porque isso é justo, como diz o livro de Efésios. Desde pequenos eles precisam entender que Deus coloca trilhos para que eles andem e não saiam do caminho. E os pais têm essa honrosa missão”. Não se pode negar a realidade de que, independentemente de religião ou credo, problemas sempre existirão em qualquer família, uma vez que o ser humano está sujeito às mesmas circunstâncias, paixões, erros e acertos. Mas a terapeuta Vilma Lira adverte as famílias cristãs para o que chama de “cinco ilusões básicas”. A primeira é de que Deus cuidará de tudo. “Alguns pais acreditam que, por terem uma aliança com Deus, seus filhos estão preservados e não precisam se preocupar ou se ocupar com detalhes”, explica. A segunda é a resistência em admitir que seus filhos cometem erros. “Os pais se enganam com pensamentos do tipo ‘Meu filho é um santo!’ e deixam de tomar atitudes corretivas”, observa. Na lista de ilusões, está ainda a nociva dubiedade dos pais que, equivocadamente,

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adotam o “Faça o que eu digo, mas não o que eu faço”. Segundo ela, muitos vivem essa dicotomia, com discurso e cobranças exagerados, mas pouco exemplo de vida. Há também aqueles que são radicais e ainda não entenderam a diferença entre autoridade e autoritarismo. E por fim, a pastora Vilma elege a omissão dos pais. “Muitos dizem: ‘Esse trabalho é da Igreja e da Escola’, omitem-se da responsabilidade de educar os filhos — tanto para esta vida aqui, na terra, quanto para a vida eterna — e transferem a responsabilidade para as instituições”, lamenta. Outro sinal de que há algo errado com as famílias é a permissividade dos pais que, displicentes com a responsabilidade de zelarem por um lar sadio, deixam os valores seculares do mundo entrarem nos lares. Em Deuteronômio 7, Deus dá ordens para que o seu povo “não leve coisa alguma que seja detestável para dentro de casa”, numa referência a objetos de adoração dos pagãos que habitavam a terra prometida. E como consequência dessa desobediência, viria a destruição. “Os nossos ídolos hoje são outros. Com o avanço tecnológico, as inúmeras possibilidades de entretenimento eletrônico e o acesso fácil a informações, as famílias vêm sofrendo influência negativa do humanismo secular. E isso provocou o enfraquecimento dos laços familiares. Se a família é a base da sociedade, essa base está doente”, avalia o pastor Josué Gonçalves. A vida moderna, cada vez mais agitada, aliada ao excessivo tempo gasto diante da televisão ou do computador, rouba tempo precioso para que as famílias tenham mais momentos de comunhão, de conversas descompromissadas, para rirem juntas. Hoje, os lares cristãos são esmagados por um rolo compressor chamado secularismo. Tempo para culto doméstico? Sem chances. Não há números sobre essa realidade, mas basta perguntar a muitos membros de igrejas para que a resposta a confirme. 24

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Mas a família Soares da Silva se esforça para não se encaixar nesse perfil. Na agenda doméstica, para todos os dias está reservado um espaço destinado a momentos devocionais. Eronildo e Leila, da Igreja de Cristo de Brasília, reúnem os dois filhos adolescentes para estudar a Bíblia, orar e contar como foi o dia. “A correria e os afazeres domésticos são nossos maiores empecilhos, mas não abrimos mão desses momentos, que fortalecem nossa fé e nos unem. É um esforço que vale a pena”, testemunha. Para a pastora Vilma Lira, é inegável que os tempos mudaram! “Aquele

“Não abro mão de sair com minha família, levar para o shopping, tomar sorvete, rir, conversar. Se queremos uma vida abençoada, devemos dispor de mais tempo para nossos filhos.” (Nilton Gomes)

modelo antigo de culto doméstico tem perdido espaço, mas cabe aos pais procurar novos modelos e proporcionar ambiente propício nos lares, para a leitura da Bíblia e de bons livros, conversas informais e debates, trocas de mensagens virtuais, jogos bíblicos com propósito, principalmente para as crianças. Uma boa dica que pode ajudar os pais nessa área são os livros 101 Ideias Criativas para Culto Doméstico e 101 Ideias Criativas para a Família, de David Merkh, Editora Hagnos”, sugere. O técnico Nilton Gomes, da

Igreja Evangélica Quadrangular, de Samambaia Sul, não mede esforços para manter as duas filhas adolescentes nos trilhos. Cuidadoso, ele aposta no diálogo e na atenção redobrada. “Sou vigilante, mesmo. Converso com as meninas sobre suas amizades; faço ‘blitzes’ na escola para saber com quem estão andando e o que estão fazendo; participo das reuniões de pais e mestres. Dou uma liberdade vigiada e não abro mão de estudar a Bíblia em família”, relata. Nilton sabe que precisa estar presente. “Não abro mão de sair com minha família, levar para o shopping, tomar sorvete, rir, conversar. Se queremos uma vida abençoada, devemos dispor de mais tempo para nossos filhos. Assim, quando errarem, saberão que estamos prontos para apoiá-los e corrigi-los”, aconselha. Em 2002, uma cena romântica e inusitada tomou conta do noticiário nacional e renovou a esperança na família. O advogado Jackson Domênico e a cantora Nádia Santolli casaram-se no verdejante gramado do Congresso Nacional. Foi a primeira cerimônia realizada no mais famoso cartão postal de Brasília. Ao pôr do sol, o apaixonado casal, da Igreja Comunidade das Nações, disse “sim”, na presença de quatrocentos convidados. A escolha do local foi marcada pelo simbolismo. Eles resolveram inovar, com um lugar que representasse futuro, esperança e inovação. Àquela época, a exemplo dos dias atuais, os movimentos sociais realizavam passeatas em defesa do casamento homoafetivo, e a instituição familiar estava sendo bombardeada. Segundo Jackson Domênico, a celebração foi uma defesa do amor, do casamento e da família. “Nós entendemos que seria uma forma de dizer que acreditamos na família, no fortalecimento das relações. Creio que conseguimos mostrar a todos que é possível ter determinação para fazer um casamento dar certo, quando Cristo está no centro de nossas vidas”, sintetizou.


O casamento de Jackson Domênico e Nádia Santoli / Foto: Divulgação

Ainda segundo Jackson, o cristão precisa se posicionar quando se trata da defesa da família e dos bons princípios. “Vivemos numa sociedade doente, não muito diferente do caos em que mergulharam impérios como o romano e o grego, quando os valores foram esquecidos e eles foram destruídos. Na família também é assim. Se os princípios forem fragilizados, a família vai adoecer”, observa. Mas, enquanto casais como Jackson e Nádia celebram o amor, números do IBGE mostram dados desoladores, quando se fala em união duradoura. Segundo o Instituto, em 2010, o número de divórcios no Brasil, atingiu o seu maior patamar desde 1984, quando foi iniciada a série histórica das Estatísticas do Registro Civil, da instituição de pesquisa. Mas, apesar dos rounds perdidos na luta contra a família nos moldes tradicionais, o

Foto: Divulgação

Pastor Sóstenes Apolos, da Assembleia de Deus da L2 sul, afirma que há fatos positivos a comemorar. “As Igrejas evangélicas têm sido despertadas para encarar a família como um dos temas bíblicos mais relevantes. Isso se concretiza com o aumento da promoção de congressos, seminários e conferências voltados para o fortalecimento da instituição familiar”, afirma animado. Além disso, Sóstenes lembra que várias organizações foram criadas para apoiar a família. Ele cita a Universidade da Família e o MMI, sigla do nome em inglês Marriage Ministries International, que oferece, em várias localidades do planeta, o curso Casados para Sempre. Sóstenes enfatiza, ainda, que a mídia, inclusive a internet, pode ser uma aliada de peso nesse resgate dos valores da família. “Uma boa notícia é o fato de editoras investirem em publicações,

e as produtoras da indústria cinematográfica realizarem filmes como À prova de fogo, que mostram o resgate de um casamento prestes a sucumbir. Essa ação faz o caminho inverso da desvalorização da família, ao produzir conteúdo no qual os valores familiares, como a fidelidade e o amor, são enaltecidos e valorizados”, constata. Nos Estados Unidos, recente pesquisa demonstrou que ainda é possível apostar na família. Estudo do Ministério One Hope, da Flórida, revelou que 82% dos jovens americanos disseram acreditar que Deus planejou o casamento para durar por toda a vida. Outros 61% afirmaram que gostariam de não fazer sexo até se casarem. A pesquisa, feita com 5.108 adolescentes com idade entre treze e dezoito anos, no final de 2010, recebeu atenção especial do ministério, que tem o objetivo de alcançar as crianças do mundo com a mensagem da Bíblia. Para alcançar o público jovem, One Hope utiliza pesquisas para desenvolver programas, materiais, revistas, filmes animados, aplicativos de smartphones e jogos interativos. Desde sua fundação, em 1987, a instituição já alcançou cerca de 700 milhões de jovens, em 125 países, inclusive no Brasil. Andar na corda bamba exige equilíbrio, força e disposição. Mesmo diante de um número crescente de opositores à família tradicional, dos conselhos da psicologia atual de “Não diga ‘não’ à criança”, relacionamentos doentios, descuido e desamor, apostar no projeto de Deus ainda é o melhor caminho. E não há recompensa mais gratificante do que investir na vida espiritual dos filhos. Essa é a conclusão de Vilma Lira. “Desistir? Jamais! Devemos prosseguir e pedir a Deus que nos ajude a fazer o que é possível — e que Ele faça o que não nos é possível. A família precisa ser uma ‘central de inconformados’, ou seja, ensinaremos nossos filhos a serem agentes transformadores do mundo. E como isso acontece? Por meio da renovação de mente, que ocorrerá com o+estudo da Palavra de Deus”, finaliza.

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POLÍTICA

por Hosana Seiffert

Hosana Seiffert é Jornalista, editora executiva do Jornal do SBT Brasília, professora de Telejornalismo, especialista em Educação a Distância, mestranda em Missiologia pelo CEAM – Centro de Estudos Avançados de Missões.

O imbróglio

Feliciano

I

ndigesto. Esse é o melhor termo que encontro para definir o polêmico episódio envolvendo a eleição do deputado Marco Feliciano (PSC/SP) para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Quem dera eu escrevesse crônicas da vida diária! Seria menos sofrido. Aliás, segue uma dica para o caro leitor: no fim deste artigo, corra para as crônicas do Zazo, usadas por Deus para proporcionar momentos de saudável descontração. Assim, você poderá desopilar o fígado de tanta polêmica. Mas, se o assunto é política, não há como escapar do imbróglio criado pelo pastor deputado. Ou deputado pastor? Não importa... o fato é que o assunto dominou a mídia, espalhou-se pelo mundo virtual e chegou ao real – das rodas de amigos dos bares às igrejas. Pior: parece longe de acabar. Se tudo na vida tem um lado bom, preciso concordar com um grande amigo: no início, o episódio Feliciano conseguiu colocar na pauta nacional a discussão sobre os direitos humanos. Há muito não se viam discussões tão acaloradas de tantos segmentos da sociedade. Ponto positivo. Por outro lado, o caso Feliciano também trouxe à tona a fragilidade das nossas relações democráticas. O nível de desrespeito de alguns segmentos é avassalador. Desrespeito inclusive à liberdade de opinião, assegurada pela Constituição Brasileira. Ponto negativo. Outro preocupante sintoma social é a polarização, o radicalismo nocivo, típico da ditadura e da imposição de minorias que dizem lutar por seus direitos, mas negam o direito dos outros de pensar diferente. Uma pena. O Brasil não precisa dessa ruptura traumática, transformada quase em guerra santa pela exacerbação da cultura gay. De repente, não ser homossexual ou sentir orgulho de ser 26

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hetero significa ser preconceituoso, e mais: homofóbico. Por quê? Os que se sentem oprimidos não deveriam lutar com armas diferentes? Mas não... reproduzem a opressão com revanchismo e uma amargura ainda mais rancorosa. Na luta por conquistas, tornam-se heterofóbicos. E o Marco Feliciano? Ah... Feliciano! Como jornalista, dei-me o trabalho de checar tudo o que pude sobre o que a imprensa e as redes sociais disseram que ele disse. Resultado: definitivamente não encontrei qualquer atitude racista ou homofóbica. Mas, para minha tristeza, deparei-me com um festival de declarações infelizes do deputado, daquelas que deixam a gente com vergonha alheia. Não há crime, mas em se tratando de um homem público, o bom senso passa longe. Ele ocupa o cargo de forma legal e legítima. Isso não se discute. Ele foi eleito com 212 mil votos. Sem discussão também. Ceder a pressões de grupos que exigem aos gritos a saída do deputado do cargo seria colocar em cheque regras institucionais. Mas, para por aí qualquer argumento de defesa em seu favor. Cada declaração infeliz do deputado Feliciano se transforma em munição para grupos extremistas e vergonha para os evangélicos. O chamado cristão passa pelo senso de responsabilidade e pela decisão de falar e agir de forma digna e coerente com a Palavra. Deveríamos ser conhecidos por nossos atos de justiça, pela compaixão. Pelo anúncio da verdade, sim, mas em amor. Não é o que vejo nas declarações públicas do deputado. Bom, enquanto essa polêmica não termina e se a sua paciência – como a minha – já chegou ao fim com esse assunto, restam as crônicas do Zazo. Só espero que ele não + tenha tido a ideia de escrever sobre este tema também!



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Resgatando

vidas

Essa tem sido a missão de cristãos que dedicam seu tempo para estender as mãos aos encarcerados, viciados, famintos, carentes e indefesos por Mércia Maciel

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abe aquele adolescente infrator que ninguém quer por perto? Pois a organização cristã MPC Brasil (Mocidade para Cristo) quer, sim senhor! Invisíveis para a sociedade, jovens que cumprem medidas socioeducativas em unidades de internação são alvos da organização cristã, integrante do ministério Youth for Christ International e presente em cerca de cem países. Em Brasília, a MPC desenvolve, há oito anos, no Caje – Centro de Atendimento Juvenil Especializado, o Projeto Superação, com visitas regulares, às quintas-feiras e sábados. Os trabalhos envolvem evangelismo e discipulado, oficinas de violão e jornalismo, eventos culturais e prestação de assistência psicológica, espiritual e material às

famílias dos menores em conflito com a lei. Segundo Ígor Barba, que desde 2009 é voluntário do projeto, os adolescentes e jovens infratores chegam à instituição com as vidas destruídas e precisam de uma mão amiga. “Fisicamente, eles estão bem. Mas, espiritualmente e psicologicamente, arrasados. A nossa intenção é resgatá-los do mundo do crime e oferecer-lhes um caminho com Deus. A intervenção da igreja de Cristo na vida desses meninos é necessária e urgente, pois, ao mesmo tempo, eles são agentes e vítimas da violência”, alerta. Um dado surpreendente acende o sinal vermelho para os cristãos. Segundo Ígor, 70% dos internos do Caje já frequentaram uma igreja evangélica ou pelo menos ouviram falar do

plano da salvação. “Seduzidos pelo mundo e por não conhecer verdadeiramente a Cristo, eles acabam deixando a igreja e entregando-se ao crime. Nossa missão é mostrar que Jesus é fiel e amoroso e que nada tem a ver com o sistema. E Deus tem se revelado de forma extraordinária para quem o procura”, afirma. O número de adolescentes infratores que sofrem restrição da liberdade cresceu 4,5% no Brasil, em apenas um ano. Trocando em miúdos: para cada 10 mil adolescentes entre 12 e 17 anos há em média 8,8 cumprindo medida de privação e restrição de liberdade – um desafio para o poder público e para voluntários como os da MPC. São muitas as histórias de jovens que entraram no Caje, sem espe-

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risco, mas com o prêmio de ter vidas convertidas, como costuma dizer o presidente do Ministério, o pastor-capelão, Walter Isaac. O trabalho, feito mensalmente no presídio de Brasília, que conta com 1.500 internos, é um desafio. Lá estão esquecidos assassinos, estupradores, assaltantes, gente que precisa de salvação. “Foi também para eles que Jesus veio. É preciso ter um chamado e muito amor por essas vidas”, ensina. Segundo o pastor Walter Isaac, a maior dificuldade que o grupo encontra para desenvolver o evangelismo prisional é a resistência das próprias igrejas. “Não contamos com essa visão de Deus, de pregar o evangelho a toda criatura. É cômodo ficarmos dentro de nossas igrejas, alimentado-nos e engordando espiritualmente. Mas a verdadeira obra está lá fora”, defende. Longe de qualquer trocadilho, os encarcerados precisam de libertação, a espiritual. “E ela só vem pela pregação da Palavra, pois não há outra forma de resgatar os presos. E estes estão sedentos para ouvir o plano da salvação”, assegura. O pastor Walter Isaac lembra, emocionado, da história do interno Saul. Condenado a mais de trinta anos, ele relutava em aceitar Jesus porque não via esperança em sair dali. “Então, desafiei-o a orar e a pedir por um milagre, como no famoso filme À espera de um milagre, estrelado por Tom Hanks. Na sua cela, Saul orou e pediu a intervenção de Deus na sua vida. Um mês depois, na visita ao presídio, encontrei Saul eufórico, pois seu processo fora revisto, e ele já podia ganhar a

Foto: Divulgação

rança e, lá dentro, mudaram sua sorte, transformando uma sentença de morte em vida plena. Ígor lembra a história de um adolescente que se converteu um dia antes de sua internação. Durante quase dois anos, o Projeto Superação discipulou o rapaz e cuidou de suas feridas espirituais. Transformado, ele passou a pregar dentro da instituição. Pastorzinho, como era chamado pelos internos, já está quite com a Justiça e, hoje, congrega na Igreja Deus é Amor, na Estrutural. E continua pregando a Palavra e testemunhando a mudança de vida, que começou em meio à desesperança. Outra história de superação é a de Alan, que chegou ao Caje, aos dezessete anos. Por um ano, todos os dias, a sofrida mãe do adolescente orava pelo filho, em clamor que fazia em redor da instituição. Suas orações foram ouvidas. Por meio do trabalho evangelístico, Alan se converteu e passou a pregar a Palavra aos colegas internos. Seu testemunho foi tão impactante que a direção do Caje criou um módulo, chamado Nota 10, para aqueles que tinham bom comportamento. Água quente e TV eram algumas das recompensas. Mas os internos do módulo antigo pediram a volta de Alan. Temendo represálias movidas por possível vingança em razão das “regalias”, os agentes do Caje preparam um verdadeiro aparato para garantir o seu retorno, em segurança. Mas para a surpresa da direção do centro, os colegas queriam a volta do irmão Alan, como ficou conhecido, para que continuasse a pregar a Palavra de Deus e a levar esperança às suas almas. “A cada adolescente resgatado, um a menos nas ruas e na criminalidade”, comemora Ígor. Atender à recomendação deixada no livro de Hebreus – de lembrar-se dos encarcerados como se presos com eles – também é a visão do Ministério Gerar Brasil. Há trinta anos, o grupo interdenominacional trabalha com os internos do Núcleo de Custódia de Brasília. Um evangelismo de alto

redução da pena, prevista em lei. Um milagre que levou aquele homem à salvação”, conta entusiasmado. Hoje, Saul é pastor da Igreja Assembleia de Deus, no Vale do Amanhecer. Além de cuidar da alma ferida dos internos, o Ministério Gerar Brasil também presta assistência material e espiritual às suas famílias. “Muitas passam fome e toda sorte de privação porque o provedor da casa está preso. É preciso alcançar essas vidas, que são vítimas de uma situação tão difícil”, considera. Nestas três décadas, a relevante ação social desenvolvida pelo Ministério Gerar Brasil chamou a atenção das autoridades, que reconhecem a importância do trabalho voluntariado. Atualmente, o grupo conta com o apoio de órgãos públicos como o Tribunal de Justiça do Distrito Federal, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios e o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. A Sociedade Bíblica do Brasil é outra valiosa parceira no apoio à distribuição de Novos Testamentos, além das Igrejas Batistas Filadélfia do Guará e de Águas Claras e do Conselho Federal Evangélico de Capelania Hospitalar. Walter Isaac explica: “Os programas governamentais não têm tido sucesso com a ressocialização dos presos. E é nessa lacuna que precisamos entrar. Quando um preso se converte, ele muda radicalmente, passa a dar testemunho e a chamar a atenção dos policiais e autoridades. A sociedade e a igreja precisam abrir as portas para ele, novamente”.


Foto: Divulgação

No Presídio Feminino do Distrito Fe- dias de visita e quando um grupo de deral, no Gama, as histórias têm quase mulheres evangélicas atravessam os sempre o mesmo enredo: a maior par- pesados portões para evangelizá-las. te das detentas diz que está na prisão Nesses momentos, as emoções estão por conta dos companheiros, que a à flor da pele. No presídio do Gama, levaram ao mundo do tráfico de dro- conhecido como Colmeia, mulheres gas. Há aquelas que chegaram ali por de todas as faixas etárias estão pronterem matado os maridos ou rouba- tas para ouvir uma palavra de confordo para “sustentar a família”, como to, receber um carinho, um gesto de muitas tentam justificar seus desli- solidariedade e de atenção. A pastora zes. No Brasil, existem quase 30 mil Meiry Freitas, da Igreja de Nova Vida mulheres encarceradas. Estudos do da Ceilândia, é uma dessas cuidadoDepartamento Penitenciário Nacional ras de alma que não nega um abraço, (Depen), órgão do Ministério da Justiça, indicam que a maioria (51%) possui de 18 a 29 anos. Não existe levantamento de quantas ainda aguardam julgamento, outra perversa face da vida dessas mulheres. Nas celas, a vida por detrás das grades atormenta a alma, enquanto a amargura e a culpa escravizam os pensamentos. Longe da família, dos filhos, dos pais, da vida que deixaram lá fora, elas contam os in- Foto: Divulgação termináveis dias de suas penas. A solidão é um convite aos um aperto de mão. Mensalmente, ela relacionamentos homossexuais. Não deixa o conforto de sua casa para viexistem dados oficiais, mas os muti- sitar o lar de mulheres que fizeram rões feitos periodicamente pelo Con- outra escolha de vida e pagam por selho Nacional de Justiça constatam isso. Segundo Meiry, elas estão fráessa realidade. A sofrida rotina dessas geis emocionalmente e esperam, com mulheres somente é quebrada em ansiedade, os dias das visitas. “Mui-

tas se arrumam, colocam um batom, preparam-se para nos receber. Mais que isso, elas querem ouvir a Palavra de Deus, que vem como um refrigério para suas vidas. Quando o homem é preso, os filhos ficam com a mulher. Mas quando a mulher é presa, geralmente, os companheiros não assumem os filhos, que são jogados no mundo. Essa é uma situação que tem tudo para reproduzir a criminalidade. Se conseguirmos resgatar uma detenta, são grandes as chances de seu lar ser restaurado”, explica. Histórias de vidas resgatadas são o oxigênio de quem é movido pelo amor às almas perdidas e ao chamado de pregar o Evangelho a toda criatura, esteja onde estiver. No coração de Brasília, na rodoviária e no Setor Comercial Sul, e em vários pontos do Distrito Federal, as “cracolândias” – locais onde os usuários de crack se drogam – são uma ferida aberta que revelam, sem rodeios, a dura realidade de quem se entrega às drogas e a impotência – ou mesmo ineficiência – do poder público em combater essa chaga. Jogados pelas calçadas, os usuários se rendem à prostituição, ao furto e a mendicância. Tudo por uma pedra de crack. Corajosos, irmãos batistas entram nesse +CRISTÃO MAIO / JUNHO 2013

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AÇÃO SOCIAL

território sem lei para levar uma mensagem de vida. Desde julho passado, a Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira implantou em Brasília a “Cristolândia”, projeto que surgiu, em São Paulo e já se estende a outras capitais. A pioneira e audaciosa iniciativa transformou a cracolândia, no centro da capital paulista, em um pronto-socorro para as almas. Em meio ao caótico cenário do tráfico de drogas, a JMN inaugurou, em 2009, a Missão Batista Cristolândia, um acertado trocadilho. Nesse espaço, dependentes recebem tratamento integral, com apoio espiritual, material e psicológico, 24 horas por dia. Nos últimos três anos, a Cristolândia paulista já recuperou cerca de quinhentos dependentes químicos. Em Brasília, a caminhada começou há pouco tempo, mas já contabiliza 140 alunos, como são chamados os dependentes. Com a proposta de fazer os usuários de drogas trocarem o “crack por Cristo”, o projeto encaminha aqueles que querem se libertar do vício para internação em centros de formação evangélica. O trabalho é feito seguindo a cartilha dos doze passos do AA (Alcóolicos Anônimos), adaptados para a mensagem bíblica. O processo terapêutico tem duração de nove meses e é divido em cinco etapas: acolhimento e triagem, diagnóstico psicossocial e regularização civil, educação e profissionalização, reinserção social, com encaminhamento para estágio e emprego, e consolidação da vida cristã. Segundo o missionário Antônio Costa, o desafio do ministério é transformar as cracolândias do Planalto Central em territórios livres das drogas. “O Ministério Cristolândia é de relevância social, uma vez que oferece oportunidade de mudança de vida para quem está sofrendo com a dependência química. Por meio da formação espiritual, projeto terapêutico e ações emergenciais de acolhimento, ajudamos a transformar essas vidas, para que glorifiquem o nome do Senhor Jesus”, afirma. 32

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As cicatrizes estão no corpo e na alma: pessoas deitadas no chão ou perambulando pelas ruas, sujas, famintas, desprezadas, maltratadas. Pesquisa nacional realizada pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, em 2008, desenhou a dura realidade de moradores de rua: 19% desses brasileiros sem lar sequer fazem uma refeição diária. O levantamento revela, ainda, que 82% das populações de rua são do sexo masculino e 53% possuem entre 25 e 44 anos. Os principais motivos que levam essas pessoas a viverem sem teto são as drogas, o alcoolismo, o desemprego e as desavenças familiares. Mas, enquanto muitos torcem o nariz para esse enorme contingente, cristãos não se negam a estender a mão a esses desassistidos. Todas as noites de segunda-feira, um grupo da Igreja Presbiteriana de Brasília distribui uma porção de sopa, quentinha, em frente ao Hospital de Base, aos moradores de ruas que estão naquela região central da capital da República. A distribuição também é feita

em outros dias da semana, na Rodoviária do Plano Piloto. Enquanto o alimento tão esperado e disputado é entregue, irmãos oram, distribuem folhetos, pregam a Palavra de salvação. Tudo movido a compaixão por aquelas almas tão sofridas. O grupo é formado por 22 pessoas, liderado por um ex-mendigo, que conhece a rotina e a lógica de quem vive nas ruas. Carlos Antônio costuma dizer que é um milagre ambulante. Aos catorze anos, uniu-se a um grupo de hippies, envolveu-se com drogas e vivia da mendicância. Até que, em 1982, aceitou o convite para participar de um culto, na tentativa de se ver livre de duas irmãs que o evangelizavam todos os dias. Não foi fácil. Mas se Deus não desistia de Carlos Antônio, porque elas desistiriam? Diante de tanta insistência e para driblar as drogas e a ação policial repressiva, nas ruas, aceitou o convite para participar do Desafio Jovem, entidade pioneira em Brasília que se dedica, desde 1972, à difícil tarefa de recuperar e ressocializar usuários de drogas e álcool. Seis meses depois, era um novo homem –

Sopão, trabalho realizado pela Igreja Presbiteriana de Brasília / Foto: Divulgação


convertido e livre do vício. Hoje, casado com Linda Vânia, também reabilitada no Desafio Jovem, leva adiante o ministério de ação social e evangelismo, inclusive com prostitutas, que vendem o corpo e a dignidade nas ruas de Brasilia. “O Evangelho tem que ser integral, tocando corpo, alma e espírito. As igrejas precisam sair do assistencialismo e focar a transformação social. Somos chamados para fazer diferença”, afirma. Todas as segunda-feiras, Carlos Antônio e outros irmãos estão em frente ao Hospital de Base, com marmitas, carinho e Palavra de salvação na ponta da língua para alimentar o corpo e a alma dos moradores de ruas que vivem nas redondezas. “Eles disputam a comida, às vezes, a única do dia. Mas muitos querem o alimento que pode transformar suas vidas”, observa pronto para mais uma noite de amor ao próximo.

Sobre os pequenos também repousa o olhar dos cristãos que veem na ação social uma forma de dividir o amor que vem do alto. De Brasília, um salto para Aracaju. As paredes são coloridas, livros e brinquedos educativos tomam conta das estantes. Carinho e cuidado completam o cenário. Onde fica esse lugar? A resposta certeira: na capital sergipana, na Missão Cantinho do Céu. O nome não podia ser mais apropriado. Graças ao trabalho voluntário de um casal de evangélicos – ela batista; ele, um alemão luterano. A dura realidade de crianças carentes e famílias em vulnerabilidade social vem sendo transformada. Há onze anos, Thomaz e Cinara Zettler mantêm o projeto Criança Ligada, na vizinhança de uma favela, no bairro de Santa Maria. De segunda a sexta-feira, os pequenos têm aulas em tempo integral, informática, refeições diárias e momentos de lazer.

As crianças e suas famílias também são evangelizadas e recebem cuidado espiritual. Tanta dedicação rendeu ao projeto o reconhecimento da Unesco pela relevante ação social desenvolvida. Segundo Cinara Zettler, as crianças vivem uma realidade social crítica. Muitas são vítimas de violência dentro de casa. “O retorno desse trabalho é espiritual, porque não somos salvos pelas obras, mas elas também fazem parte de nossa vida cristã. O amor ao próximo nos leva a cuidar dessas crianças e de suas famílias. Assim, esse tempo integral que temos com elas, nos ajuda a evangelizá-las e ajudá-las de forma mais intensa e material”, conclui animada. Ainda segundo Cinara, o trabalho evangelístico feito com os menores e suas famílias tem transformado a vida de centenas de pessoas, alcançadas pela ordenança de Cristo: + ame ao próximo como a si mesmo.


PERDÃO

Uma palavra pequena, mas com um poder devastador por Mércia Maciel

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stá nas letras das músicas, nos poemas, nos conselhos, na Bíblia. Uma palavra pequena, mas com um poder devastador: perdão. “Se não fosse o perdão, eu teria envenenado a minha alma”, assegura o pastor Emerson Souza, da Igreja Missão Por Fogo, na zona ru34

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ral de Brazlândia. Há dez anos, uma tragédia bateu à porta de sua família, com o assassinato de seu irmão mais novo, de apenas vinte anos. Ao sair da padaria, Clayton, um promissor jogador de futebol, foi morto durante um assalto. Na cidade, todos sabiam quem era o assassino – que já conta-

bilizava seis mortes, em sua extensa ficha policial. Quatro anos depois, arrependido, o algoz de Clayton pedia perdão a Emerson. “De início, relutei. Era difícil esquecer o que ele havia feito ao meu irmão. Mas, quando abracei aquele homem, parecia que uma muralha de rancor e ódio desa-


bava de uma vez. Naquele momento, senti que, como um rio, o Espírito Santo fluía em minha alma, curando minhas feridas. E senti paz”, afirma. Com a certeza de que o perdão é o melhor remédio para a saúde emocional, o pastor Emerson segue seu caminho, sem amargura.

Segundo o dicionário Aurélio, perdão significa “remoção de uma falta ou ofensa; absolver; renunciar a punir”. O perdão faz parte da natureza de Deus. O pastor batista José Lopes da Silveira ensina que o perdão é também “instrumento de Deus para realizar na vida do ho-

mem uma transformação, criando uma existência saudável, que não carrega sentimentos de culpa”. E acrescenta: “Perdoar é remover dos escombros quem possa estar ferido no coração e na alma. Devemos exercitar o perdão, desde as ofensas menores, para que possamos também fazê-lo nas mais graves. Para isso, devemos ter um coração compassivo e pedir ajuda do alto”. Não se trata de uma tarefa fácil. Uma frase de C. S. Lewis acende esse sinal de alerta: “Todos dizem que perdoar é uma ideia maravilhosa até terem algo para perdoar”. Autor do livro Perdão Restaurador, o pastor da igreja Quadrangular de Curitiba Josadak Lima costuma desconfiar de quem afirma que tem facilidade para perdoar. “Tenho uma desconfiança enorme de pessoas que não entenderam o que, verdadeiramente, significa esse ato. O perdão entra em choque diretamente com o nosso egoísmo, nosso ego. Assim, não é uma decisão tão fácil. É sobrenatural, precisa de um agir de Deus para que alguém o expresse”, defende. E, ao contrário do que muitos pensam, perdoar não é esquecer. A agressão emocional é como uma ferida que sangrou, doeu, mas cicatrizou. A marca continua lá, mas não dói mais. Perdoar é assim: lembrar-se da ofensa ou do mal que foi feito, mas sem sofrer. Segundo o pastor Josadak Lima, as igrejas, de forma geral, têm uma percepção equivocada de perdão por considerarem esse discurso fácil, mas não é bem assim. “Cristãos não são super-heróis, mas seres humanos, com emoções iguais às dos outros. O que nos diferencia é termos o Espírito Santo e a ordem de Deus nos mandando perdoar. Quando a Bíblia fala em ‘lançar no mar do esquecimento’, está se referindo a uma ação do próprio Deus, que é perfeito. Nós sempre nos lembraremos do que fizeram conosco. Mas isso não terá mais importância se tivermos perdoado verdadeiramente”, conclui.

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“Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra”. A advertência é atribuída ao dramaturgo e poeta inglês William Shakesperare. Já para o renomado psiquiatra e psicanalista Moisés Groisman, um dos pioneiros em terapia familiar no Brasil, o perdão não concedido pode levar a muitas doenças psicossomáticas, depressão, câncer, ou crises hipertensivas, principalmente nos casos em que se pretende manter convivência com quem deu motivo à mágoa. “Um perdão não concedido pode se transformar numa doença física ou mental. Existem pesquisas nesse sentido e já tive vários pacientes que foram injuriados, traídos e que desenvolveram doenças como tuberculose”, lembra. Ainda segundo Groisman, pedir perdão é também refletir e compreender o que levou o outro a cometer a ofensa. Na sua avaliação, cada vez mais as pessoas usam, sem pensar, expressões como “desculpa”, “foi mal” e “perdão”. “Esse pedido não deve ser vulgarizado. Ele exige uma boa dose de reflexão. Mas dá trabalho conversar, enfrentar os problemas. Como consequência, as crises de relacionamentos poderão voltar, ou mesmo os pais, lá na frente, se arrependerão por não terem conversado com seus filhos sobre seus atos errados”, alerta. Segundo o pastor canadense John Arnott, em seu livro “A importância do perdão”, uma interessante observação resume o dilema do homem para exercer essa dádiva divina: “Quando a gente é o ‘pecador’ e o Espírito Santo nos convence do pecado, nós queremos a misericórdia; mas quando somos a ‘vítima’, clamamos para que haja justiça”. Durante longos anos, esse foi o sentimento de Mirthes Almeida. A engenheira não conseguia perdoar a traição de um amigo em quem depositara total confiança. “Pedia a Deus que pesasse a mão sobre a vida dele. Queria que pagasse, com a mesma moeda, o mal que fizera a mim. Até que 36

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Foto: Divulgação

PERDÃO

Moisés Groisman, psiquiatra e psicanalista

compreendi o significado do perdão pleno”, relembra. Talvez seja essa a maior dificuldade do ser humano: perdoar quando, na verdade, se sente a vítima da situação. Segundo o pastor Josadak Lima, essa é uma das questões mais difíceis de o cristão aceitar, apesar da clara advertência feita por Cristo. Quem deve ter a iniciativa para perdoar? “Muitos cristãos esperam que o responsável pela injúria venha procurá-lo. Mas a Palavra de Deus convoca quem foi atingido, vitimado pelo pecado do outro, a tomar a iniciativa de perdoar. Em outro texto, as Escrituras encorajam a pessoa que ofendeu a assumir a responsabilidade pelo seu ato e tomar a iniciativa de perdão. Mas para que alguém aja assim, é necessário conscientizar-se do que fez. E isso dificilmente acontece”, lamenta. O pastor da Igreja Quadrangular ainda aconselha: “Perdoar não é uma receita pronta. Quem tiver dificuldade deve orar e procurar um grupo pequeno que trate exclusivamente de restauração de almas. Tudo isso é um processo, às vezes doloroso, mas possível”. Um jovem com um coração perdo-

ador e um corpo dilacerado não caiu nessa armadilha. Quando ia para o trabalho, numa manhã de sexta-feira, a vida de David Santos Sousa, 21 anos, mudou. Ele só percebeu que havia perdido um braço depois que acordou de uma complicada cirurgia. A história do limpador de vidros que teve o braço arrancado ao ser atropelado por um carro, quando andava de bicicleta na Avenida Paulista, em São Paulo, em março passado, ganhou manchetes indignadas dos jornais. Mas o jovem surpreendeu o país ao afirmar que perdoava o estudante de Psicologia Alex Siwes, que dirigia o carro que o atropelou, fugiu sem prestar socorro e, em um córrego que corta uma avenida movimentada da capital paulista, jogou o braço de David, tirando-lhe a chance de reimplantação do membro decepado. “Meu físico está machucado, mas não vou deixar que meu coração também fique assim. Eu o perdoei e estou superando tudo isso”, declarou, em casa, enquanto se recupera e faz testes para o braço mecânico que recebeu de doação. David já faz planos para voltar a estudar e a desenhar, sua grande paixão. A mãe de David, Antônia Ferreira dos Santos, ensinou a seu filho o caminho do perdão. A voz mansa dá o recado: “Se Deus nos perdoou, devemos fazer o mesmo. Perdoamos para

“Eu gostaria de perdoar o rapaz que fez isso comigo... eu não gostaria que isso acontecesse com ninguém... e o meu perdão também vai pra ele” (David Santos Souza) Em depoimento gravado pelos familiares em um vídeo postado na internet


David Santos em um vídeo postado na internet, após o grave acidente sofrido na Avenida Paulista / Foto: Internet/Divulgação

As minhas escolhas erradas fizeram minha esposa sofrer e destruíram meu lar. Mas, como Deus, ela não desistiu de mim”, lembra. E foi graças ao perdão que a família de Abimael começou a ser reconstruída. Ele voltou para a casa, mas ainda não estava transformado. Paciente e amorosa, Áurea orava pela conversão do marido e testemunhava a mudança em sua vida. Até que, depois de muitas idas e vindas, num culto de casais, Abimael entregou sua vida a Cristo. “Se ela não tivesse me perdoado, certamente o pecado teria me consumido. Pelo perdão, encontrei também o amor de Deus”, assegura. Juntos há dezoito anos, o pastor Abimael agora vive “uma vida de casado”; e bem casado. Outros dois filhos completaram o lar, e o pleno perdão concedido por sua esposa apagou o triste passado. “Nada ficou.

Foto: Divulgação

continuar a viver, sem rancor. A cada dia, recebemos carinho e ajuda de tanta gente, que não vamos procurar conforto no ódio”, afirma. Ainda segundo Antônia, muitos criticaram o perdão concedido a Alex Siwes por não entenderem o significado de liberar a alma para esse sentimento. Ela conta que, alguns dias depois do acidente com o filho, outro rapaz foi vítima de um motorista embriagado. O jovem perdeu as duas pernas e, revoltado porque o responsável pelo acidente não fora preso, mergulhou num mar de amargura. “Esse é um sentimento que não queremos ter. Também procuramos a justiça dos homens, mas sem ódio no coração. Sempre peço a Deus que ajude o rapaz que machucou meu filho, para que ele encontre outro caminho”, reafirma Antônia. A família Ferreira irá à Justiça procurar os direitos que foram roubados, naquele acidente. Mas o fará com o coração liberto. Se de um lado há uma índole perdoadora, de outro há alguém que foi perdoado. Foi o caso do pastor Abimael Mendonça, que frequenta a Igreja Evangélica Kalel, na Vila Planalto. Antes de sua conversão, seu casamento fora um desastre. Levava uma vida de solteiro, e vários casos amorosos minaram o relacionamento com sua esposa, Áurea Regina. Chegara a sair de casa e a abandonar o filho pequeno. Foram anos de desamor e desprezo pela família, até que sua mulher se converteu ao evangelho, e outra história foi escrita. “Não me sentia comprometido e vivia para o prazer, no mundo da prostituição.

Josadak Lima, pastor e escritor

Mágoas ou ressentimentos não têm lugar em nossas vidas. Nem mesmo nos eventuais desentendimentos, próprios dos relacionamentos, ela lembra meus erros do passado ou faz qualquer acusação. Receber o perdão mudou minha vida”, sintetiza. A experiência de Abimael e Áurea é testemunhada nas palestras ministradas em encontros de casais. Existe um perdão mais difícil de perdoar do que outro? Segundo o pastor Josadak Lima, autor de vários livros sobre saúde emocional, existe, sim. “Entre os casais, a traição ainda é a atitude mais prejudicial. A infidelidade corrói a alma”, explica. O livro Vencendo os Traumas da Infidelidade, dos autores americanos Gary e Mona Shriver, lançado pela Editora Palavra, é uma narrativa da experiência dos próprios autores com a deslealdade e o perdão. Apesar de mostrarem ser a traição a parte mais dolorosa de suas vidas, eles afirmam que o perdão é possível e libertador; e que, embora o processo seja difícil e demorado, vale cada experiência. Já segundo o pastor José Lopes da Silveira, não é só a traição que causa danos aos relacionamentos. Os conflitos surgem inevitavelmente, e é preciso estar pronto para liberar o perdão. Em casa, no trabalho, com os amigos, na igreja. Basta uma má atitude ou uma palavra torta – intencional ou não – para que o outro se sinta ofendido. “O ser humano é uma caixinha de surpresas. De quem menos se espera, podem surgir determinadas situações que nos surpreendem. É no calor de uma pequena discussão que corações ficam fragilizados. Sem a disciplina do perdão somos engolidos pela arrogância de nos colocarmos em situação superior à do outro. Mas quem perdoa, demonstra firmeza de caráter e obediência a uma das exortações de Cristo para perdoarmos os homens e, assim, o Pai celestial também nos perdoará. Portanto, devemos praticar o perdão, pois somos seus+discípulos e testemunhas”, adverte.

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CRÔNICAS E CONTOS

por Zazo, o nego

De Volta para o Bonfim

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uando ligaram para o hotel, Leandro já preparava a ida para o Aeroporto Salgado Filho. Avisaram-no de que sua sogra, a Dona Inês, não estava bem. O rapaz, que fora ao Rio Grande do Sul apenas para um curso ligado à sua área de trabalho, não esperava por essa. Ainda mais na hora de voltar para São Paulo. Tinha saudades de casa. E aqui pra nós, sua relação com a sogra nunca tinha sido das melhores. Viúva, a velha tinha medo de colocar a filha nas mãos de “qualquer um”, de modo que havia tentado de tudo para atrapalhar seu namoro com Lucinha. Nunca tinha “botado fé” no rapaz, que, por sua vez, convenhamos, não prometia muito. Era balconista numa loja de autopeças. Órfão, seu único parente vivo era a tia Naná, já de idade avançada. O jovem jamais fora do tipo agressivo, respondão, mas guardava no íntimo um rancor calado pela “criatura”, maneira como chamava Dona Inês nos primeiros anos. No entanto, com o andar da carruagem, o balconista se casara com a moça, os dois atravessaram os trancos e barrancos da vida e, aos poucos, foi surgindo alguma tolerância entre as partes. A tia Naná falecera. A sogra acabara acostumando-se à ideia de tê-lo entre os familiares, embora alfinetasse algumas provocações, de vez em quando. É certo que o rapaz tinha seus defeitos, mas não o da preguiça. Estudava de madrugada e fazia o que podia para manter as coisas em ordem. Um dia, seu esforço foi recompensado: passou num concurso para um cargo em nível médio na Assembleia Legislativa de São Paulo. Isso implicava mudança de estado, mas significava também a conquista de pequenas vitórias no tocante ao respeito da família de Lúcia. A situação com a Dona Inês, entretanto, ficava no banho-maria: uma posição de distância respeitosa, daqueles códigos de comportamento que ninguém escreve, mas que vão se estabelecendo pouco a pouco, do tipo “eu não mexo com você, nem você comigo”. Estava de bom tamanho da forma como vinha... até que o telefone tocou e o Leandro voltou de seus pensamentos – teve a impressão de que algo ruim poderia acontecer com a Dona Inês. O pior é que o relógio estava mais para quatro do que para três horas. O avião decolaria às cinco e pouquinho. Desceu, fez o check out do hotel. Pegou sua pequena mala e saiu até o táxi, ainda se perguntando se não seria mais prudente ir para o Salgado Filho. Mas não podia. A fisionomia interrogativa do taxista lhe cobrava uma resposta. 38

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Zazo é servidor público e professor de Gramática e Oficina de Textos no Centro de Formação e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados.

“Bonfim”, ele disse finalmente. Era o bairro. Acrescentou o nome da rua e alguns detalhes. Chegando à casa, o irmão de Lucinha já estava lá. Realmente, a situação da sogra não era nada boa, e o cunhado chamara uma ambulância. Correram para o hospital, antes que os outros chegassem. Mas foi aí que algo aconteceu: com o pouco de lucidez e reunindo o máximo das forças que ainda lhe restavam, antes de entrar no carro, a velha senhora dirigiu um olhar significativo para o genro e sussurrou-lhe uma palavra difícil de ouvir, exigindo leitura labial: “Fi...lho...”, dizia ela. “F...f...i...lho...”. E não conseguiu dizer mais nada. Seu olhar foi se apagando e sumindo. Leandro não esperava por isso. Havia um toque diferente no ar de Dona Inês. E enquanto o veículo seguia apressado, ele congelava o momento e só pensava naquela palavra que ouvira... logo de quem! Por um fio daquela cronometragem, o rapaz sentiu-se inesperadamente amado. Ele, que perdera os pais cedo na vida e nunca mais ouvira esse som com tanto “cheiro de mãe”, derreteu-se em seu íntimo. Estava impactado, sem saber o que fazer dos sentimentos. Viu desmancharem-se barreiras, muralhas, resistências, tudo por causa de uma palavra. Esqueceu-se do voo de volta para casa e dormiu em algum canto do hospital. Já era noite em São Paulo, quando três pessoas, duas delas dentro de um avião, conversaram o seguinte diálogo: – Checando condições da pista – diz o piloto. – Está molhada e ainda escorregadia. Autorizado para pousar – responde a torre. – O pouso está liberado? – o piloto tenta confirmar. – Liberado – repete o controlador de voo. O avião toca o solo, e o copiloto lembra: – Reverso número um apenas – e complementa – spoilers, nada! – Ai...! – diz o piloto – olha isso!! – Desacelera, desacelera! – suplica o companheiro com voz aflita. – Não dá, não dá!!! – Ai meu Deus, ai meu Deus!! ... Vai, vai, vai, vira, vira...! E ninguém disse mais nada, a não ser os noticiários. Era o voo 3054 da TAM, em 17 de julho de 2007, que saíra do Aeroporto Salgado Filho, às cinco e pouquinho da tarde, com destino a Congonhas, São Paulo, e se tornou um capítulo triste da aviação brasileira. O voo que Leandro perdeu. + A propósito, Dona Inês veio a falecer seis meses depois.


DICAS DE FILMES

por Marcus Américo

A MISSÃO Minha primeira indicação atenderá àqueles que apreciam um bom drama histórico. Vale dar uma conferida no filme A Missão (1986), de Rolland Joffé . O pano de fundo é a real história da expulsão dos jesuítas do reino português devido à crise nas relações entre a Coroa do país e a Companhia de Jesus espanhola. No século XVIII, na América do Sul, um violento mercador de escravos indígenas, Rodrigo Mendoza (De Niro), arrependido por ter matado seu irmão durante um duelo (ambos disputavam o amor de uma mesma mulher), realiza uma autopenitência. De caçador de índios, o mercenário acaba se convertendo a missionário jesuíta, em Sete Povos das Missões, região da América do Sul que será palco das Guerras Guaraníticas. Durante esse período, o movimento missionário sofreu muito devido ao litígio entre as coroas portuguesa e espanhola. A população indígena de Sete Povos das Missões ficou sujeita ao Tratado de Madrid (1750), um dos principais tratados de limites assinados por Portugal e Espanha para definir as áreas colonizadas. A Igreja Católica enviou emissários para impor obediência aos nativos. Os jesuítas ficaram numa situação delicadíssima, pois, se apoiassem os indígenas, seriam considerados rebeldes; do contrário, perderiam a confiança dos catequizados. Alguns permaneceram ao lado da coroa. Outros, porém, deram total apoio aos nativos, organizando a resistência desses índios à ocupação de suas terras e à escravização.

Além da boa atuação de Robert De Niro (Mendoza) como o mercador que vira jesuíta, destaco também a atuação de Jeremy Irons (irmão Gabriel), um jesuíta que usa a música como estratégia inicial para ganhar a confiança dos guaranis tocando seu Oboé. Aliás, a música é um dos pontos fortes dessa história. Ela permeia o enredo, embelezando ainda mais a bela fotografia (ganhadora do Oscar). O responsável pela trilha sonora foi do genial Enio Morricone (Os intocáveis, Cinema Paradiso). Atos 9.15–16: “Mas o Senhor lhe disse: vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis... pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome.” FICHA TÉCNICA Diretor: Roland Joffé Elenco: Robert De Niro, Jeremy Irons, Aidan Quinn, Liam Neeson, Ray McAnally Produção: Fernando Ghia, David Puttnam Roteiro: Robert Bolt Fotografia: Chris Menges Trilha Sonora: Ennio Morricone Duração: 126 min. Ano: 1986 País: Reino Unido Gênero: Drama

ANTES DE PARTIR Muitas vezes o que nos atrai em um filme não é simplesmente qual história é contada, mas como ela é contada. Não espere dessa película algo permeado de flashbacks com uma narrativa pesada favorecendo um clima trágico e sombrio... não!! Absolutamente, não!! O principal mérito da direção e do roteiro foi conseguir mixar humor e drama de forma bem coadunada. A trama se desenrola de forma leve, apesar do contexto delicado. O cerne da história é o encontro fortuito num quarto de hospital entre Carter Chambers (Morgan Freeman), mecânico, com Edward Cole (Jack Nicholson), grande empresário. Os dois passam a ter uma convivência forçada por causa do câncer do qual estão sendo tratados. Vizinhos de leito e conscientes do fato de que estão com os dias contados, acabam criando amizade, apesar das diferenças sociais e das personalidades dissonantes. Resolvem, então, elaborar uma lista de coisas que gostariam de fazer antes de morrer. Isso os leva a viverem, em três meses: viagens turísticas nos locais mais emblemáticos, um racha num autódromo vazio, um salto de paraquedas (uma das cenas mais hilárias!) e outras situações um tanto inusitadas. Enfim, vivem tudo de forma intensa, aproveitando cada segundo que lhes resta. Entretanto, mesmo tendo desfrutado de tantas aventuras, descobrem, por fim, que a alegria de viver é nutrida pelo amor das pessoas significativas na sua história.

Antes de Partir é de 2007, dirigido por Rob Reiner e tem nas boas atuações de Nicholson e Freeman o seu ponto forte, além da história em si. Para os que curtem trilhas sonoras, atentem para os créditos finais emoldurados pela canção Say What You Need to Say, cantada por John Mayer. Espero que curtam! Salmo 90.12: “Ensina-nos a contar nossos dias de tal maneira que alcancemos corações sábios”. FICHA TÉCNICA Diretor: Rob Reiner Elenco: Jack Nicholson, Morgan Freeman, Sean Hayes, Rob Morrow, Hugh B. Holub, Alfonso Freeman, Serena Reeder, Ian Anthony Dale, Richard McGonagle, Christopher Stapleton. Produção: Alan Greisman, Neil Meron, Rob Reiner, Craig Zadan Roteiro: Justin Zackham Fotografia: John Schwartzman Trilha Sonora: Marc Shaiman Duração: 97 min. / Ano: 2007 País: EUA / Gênero: Drama Classificação: 10 anos

+CRISTÃO ABRIL /+CRISTÃO MAIO 2013 MAIO | /39 JUNHO 2013

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Foto: Thimóteo Soares

VIDA CRISTÃ

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O CRISTÃO COMO MÚSICO PROFISSIONAL.

PODE?

por Carlinhos Veiga

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s reformadores protestantes trouxeram uma nova compreensão sobre o tema vocação, quando resgataram o “sacerdócio geral de todos os crentes”. Antes, a sociedade entendia por vocacionado somente aquele chamado para servir a Deus por meio de uma dedicação exclusiva à religião. Lutero, no entanto, desafiou esse pensamento quando escreveu que “todo crente tem uma vocação na vida porque tem uma posição e, nessa posição, ele encontra sempre oportunidades de servir”. Porém as igrejas ainda sentem dificuldades de lidar com essa doutrina no seu dia a dia, apesar de a considerarem fundamental. Várias tensões entre o serviço na igreja e “no mundo” ainda persistem – frutos da velha dicotomia entre secular e sagrado.

Certamente uma das profissões, ou vocações, que ainda carregam um fardo extremamente pesado nessa área é a que envolve as artes. Pode um músico cristão viver profissionalmente da sua arte e ainda glorificar a Deus? Para boa parte das pessoas, isso só será possível quando servirem integralmente na igreja como “levitas”. A volta da proposta ao modelo veterotestamentário mais parece um arremedo do que um verdadeiro resgate: não se ouve falar de resgatar todo o serviço dos levitas, como o do porteiro ou o do zelador, mas somente o do músico. Além do mais, aqueles que promovem essa ideia do resgate da lei se esquecem de que Jesus rasgou o véu, ou seja, vive-se hoje a nova aliança, debaixo de outros paradigmas; vive-se sob a graça.

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VIDA CRISTÃ

Patrícia Rezende, participante do programa The Voice Brasil, edição de 2012 / Foto: Arquivo pessoal

Enquanto as discussões teológicas prosseguem, a cada dia cresce o número de músicos cristãos trabalhando profissionalmente. Em 2011, por exemplo, 30% dos músicos da Orquestra Sinfônica do Paraná eram membros de igrejas evangélicas, assim como 35% dos músicos da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). Isso pode ser entendido como resultado da falta de ensino musical de qualidade nas escolas brasileiras em contraposição com a grande importância que a música ocupa nos cultos evangélicos, levando-a a formar e revelar continuamente grandes instrumentistas e cantores. Patrícia Rezende, 31 anos, é um desses exemplos. Desde os quatro anos de idade aprendeu a cantar na igreja. Certa vez foi abordada pelo pastor, que lhe disse: “Filha, na vida fazemos muitas coisas bem, porém uma nós fazemos melhor; isso se chama dom, e cantar é o seu dom”. Desde então Patrícia nunca mais deixou de servir com sua música. Anos depois se tornou uma profissional, vindo a se destacar nacionalmente entre os seletos músicos no programa The Voice Brasil, edição de 2012. “Por onde passei sempre deixei meu testemunho como cristã”, arremata. 42

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anos de idade, depois de uma profunda crise de depressão. Para ele, não foi fácil prosseguir na fé paralelamente à profissão de músico. “As reações foram complicadas após a minha conversão. Perdi muitos amigos. Perdi muito trabalho por causa da fé”, conta Merlino. Depois de oito meses de convertido, viu dissipar todos os bens que acumulara com sua profissão. Mas completa: “Paradoxalmente, fui tomado por uma alegria incomparável e indescritível”. Para Merlino, uma das dificuldades que o músico cristão enfrenta é conciliar sua agenda profissional com a frequência à igreja. É nos finais de semana que o artista trabalha, o que coincide com os horários dos cultos públicos. A alternativa que encontrou foi participar assiduamente de outras atividades da sua igreja no Rio de Janeiro que não chocassem com a agenda de trabalho. “Na segunda, participo assiduamente de uma reunião de oração e discipulado; na terça, dirijo

O percussionista Leo Barbosa, 33, também descobriu sua aptidão musical depois de vir para uma igreja. “Antes da minha conversão, nunca tinha tido um contato tão grande com instrumentos musicais”, lembra. Depois de três ou quatro anos tocando nos cultos da igreja de que era membro, participando de vários cursos com percussionistas renomados e se dedicando ao estudo sistemático dos instrumentos, decidiu seguir a carreira musical. Leo tem o apoio da igreja que frequenta e onde atualmente serve como diácono. “Foi fora da igreja que sempre sofri algum tipo de perseguição, com brincadeiras desagradáveis principalmente”, afirma, deixando claro que seguir a vocação cristã no meio artístico não é algo tão simples como se imagina. As pressões são bastante fortes. Fernando Merlino, 52, é um pianista de referência na música popular brasileira. Já acompanhou praticamente todos os grandes nomes da MPB, tocando, arranjando e dirigindo shows e gravações memoráveis. Sua conversão se deu aos 36 Leo Barbosa, percussionista / Foto: Arquivo pessoal


o Terça de Graça, quando convido um artista da MPB para um pequeno show e intercalo com a pregação da Palavra de Deus”. Assim, o pianista mantém a comunhão e consegue comunicar o evangelho para um público totalmente diferenciado. Já Thiago Pinheiro, 30, músico e produtor de São Paulo, encontra outras dificuldades além do conflito de agendas. Preferiria desenvolver diferentes relações com a igreja no lugar da música, especialmente aquelas visando à devoção e ao aprendizado da Bíblia. No entanto, sempre é exigido dele que integre uma equipe musical. “Isso já faço todos os dias em minha profissão”, argumenta.

E A IGREJA... ACEITA? Não é raro encontrar, no meio musical profissional, artistas que deixaram de frequentar a igreja. Em meio às oposições internas e externas, alguns decidiram caminhar de maneira autônoma; outros abandonaram a fé. Para Fernando Merlino, o perigo maior para aqueles que vêm da igreja e se inserem no meio artístico musical são as tentações. Deslumbram-se com as facilidades e acabam se perdendo porque essas tentações são todas aparentemente maravilhosas. “A gente não precisa se suicidar em troca de segundos de pseudoalegrias ou pseudoprazeres que na verdade só vão te trazer morte”, alerta Merlino. Misael Barros, 42, baterista, já enfrentou muitas lutas como músico no meio eclesiástico. Em sua experiência, 95% das instituições evangélicas têm preconceito contra o músico profissional que trabalha fora das igrejas, o mesmo não acontecendo com outras profissões. “Não vemos esse tipo de pergunta a um médico cristão, questionando se ele só trabalha em um hospital evangélico, ou a um professor se ele só ensina em uma escola evangélica”, desabafa. Muito embora Patrícia Rezende tenha se identificado como evangélica e cantora de música gospel, também

O pianista Fernando Merlino, referência na música popular brasileira / Foto: Arquivo pessoal

Misael Barros, baterista / Foto: Arquivo pessoal

sentiu algum tipo de rejeição com a sua participação no The Voice Brasil. “Foi uma faca de dois gumes. Fui aceita e apoiada por meus pastores e pelas igrejas que já sabiam do meu comprometimento com o ministério. Por outro lado (...), deixei de participar de alguns eventos por estar na tevê cantando ‘música do mundo’,

segundo alguns líderes”. Para Patrícia, ter a imagem exposta ao país inteiro abriu muitas portas e fechou outras, “mas sigo firme no propósito de confiar cegamente naquele que me chamou para a boa obra”, completou. Hoje ela abriu mão da sua carreira fora da igreja para se dedicar ao ministério de forma integral.

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VIDA CRISTÃ

Felipe Viegas, 23, pianista e arranjador, é um dos novos talentos da música instrumental em Brasília. Abraçou a fé recentemente e, ao contrário de outros artistas, consegue conciliar bem sua profissão com a vida cristã. Segundo ele, foi muito bem recebido na igreja e nos lugares por onde passou a conviver com outros irmãos de fé. Questionado sobre se um músico evangélico deve se dedicar exclusivamente à música gospel, ponderou: “O artista, poeta e cantor, no geral canta aquilo que absorve da vida; certamente cantará de Jesus se teve um encontro com ele. Mas não acho boa essa forçação de só se ter que fazer música gospel, o que é na verdade só um estilo, um jeito de cantar, de escrever”. Felipe Viegas, pianista e arranjador musical / Foto: Arquivo pessoal Leo Barbosa entende que alguns arMas não são essas as únicas lutas para todos: é preciso avaliar tudo”, tistas realmente são chamados para servir exclusivamente dentro da co- que o artista cristão enfrenta para observa Thiago Pinheiro. munidade e outros são enviados por viver profissionalmente. Deve ainUma das maiores dificuldades para Deus para fora das quatro paredes. da conciliar sua ética cristã com as o músico é saber se obterá, com os tra“Penso que não podemos estabelecer diferentes propostas de trabalho. balhos, renda suficiente para pagar uma regra de que todo músico só deva Nem toda oferta é conveniente e as contas mensais. Leo Barbosa recotocar na igreja, como muitas igrejas condizente. “Os artistas têm desa- nhece que essa tem sido uma oporfazem; nem que todo músico cristão fios relacionados à integridade de tunidade desafiadora para aprender obrigatoriamente deva tocar fora. vida, assim como os têm profissio- a depender mais de Deus. “Hoje vivo Cada músico tem o seu chamado dado nais das demais áreas. A regra serve um momento especial profissionalpor Deus e deve ser fiel a ele”. mente, tendo a oportunidade Merlino também lidou com de tocar em locais que nunca oposições na igreja, apesar de pensei pisar, e isso é motivo de raras. Para ele foi uma experidar graças a Deus todos os dias. ência diferente porque, quando Espero crescer bem mais, pochegou à comunidade da fé, já rém nunca deixando de servir era um músico reconhecido e na minha igreja. Acho isso imconsagrado em nível nacional. portantíssimo”, conclui. Diferentemente do que se dePode-se concluir que serveria esperar, ele preferia não vir a Deus na sociedade, como se identificar nas igrejas que sal da terra e luz do mundo, é frequentava e procurava servir um enorme desafio. Se os renaqueles cultos menos concorformadores estavam certos na ridos, como reuniões de oração sua exegese do texto bíblico, durante a semana. Ainda assim exercer o sacerdócio por meio foi alvo de questionamentos. da vocação exigirá dos discí“Você toca no mundo?”, certa pulos de Cristo entrega total vez lhe perguntou irada uma seno intuito de viver o evangelho nhora. A resposta foi pronta: “Ao coerentemente. As igrejas preinvés de brigar comigo, ore por cisam estar conscientes disso mim”. Naquela mesma época a para orientar, apoiar, oferecer esposa de um famoso sambista suporte e oração a todos os seus havia se convertido, fruto de tesmembros nas diversas profis+ temunho e pregação de Merlino. Thiago Pinheiro, produtor musical / Foto: Divulgação sões, inclusive aos artistas. 44

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+Música

por Zazo, o nego

A Casa Amarela do Crombie Gostoso de ouvir. É como pode ser avaliado o segundo álbum da banda Crombie, formada por cinco rapazes de Niterói-RJ: Paulo Nazareth (violão e vocais), Filipe Costa e Gabriel Luz (guitarras), Felipe Velozo (baixo e percussão) e Lucas Magno (bateria e percussão). Após a estreia no ambiente fonográfico com o CD Por Enquanto, o quinteto presenteia seu público com o álbum Casa Amarela. Todas as faixas passam pela veia de Paulo Nazareth e algumas são resultados de parcerias com Felipe Velozo, Gabriel Luz e/ou Felipe Costa. Crombie canta as coisas simples da vida, o cotidiano, a beleza dos bons relacionamentos. A banda agrada a jovens fãs da moderna MPB (sem se restringir a essa faixa etária) pela imprevisibilidade e criatividade das composições. Entre essas, destaque para Dolores (faixa 6), que mora na casa que dá nome ao disco. O lugar existe, tem paredes amarelas e reúne amigos que se curtem e não dispensam uma boa prosa e comunhão. E, como assegura a música-tema, “Dolores (nome fictício) mora lá”. O novo trabalho segue a linha do anterior, em que as mensagens musicais, sinalizam novos ares entre grupos formados por gente evangélica. Os valores do Reino, dentro da visão crombiana, surgem de forma natural, embora não explícita, como na canção Verdade no Olhar, que ensina: “Bem melhor é viver / é assim que todo o mundo vai ouvir você dizer / deixa a vida mostrar / gestos simples falam de quem nos conduz”. Produção independente, o trabalho apresenta, ainda, participações ilustres em algumas trilhas, como a de Arthur Maia, Sergio Chiavazzoli, Fernando Caneca, Claudio Infante e vários outros. Amantes do gênero podem comprar de olhos fechados. Quem quiser a Casa Amarela, ou o CD Por Enquanto, acesse https://www.facebook.com/bandacrombie/app_206803572685797 ou oscrombie@gmail.com.

Um banho de Jorge Camargo Para quem curte a arte do cantor e compositor Jorge Camargo, a dica é o box do músico, que apresenta seus trabalhos produzidos entre 2008 e 2012: Somos Um, Tudo Que é Bonito de Viver, Definitivo e A Poesia Caminha formam um pacote que garante horas de música da mais fina inspiração do compositor. Somos Um havia sido lançado como livro-CD em 2008 e reaparece agora, apenas como CD. O livro enfoca a vida de referenciais do passado como Agostinho de Hipona, Anselmo da Cantuária, Francisco de Assis e Teresa de Ávila. As canções estabelecem um diálogo entre a história dessas pessoas e a vida do autor. A segunda produção, Tudo Que é Bonito de Viver, de 2011, diferencia-se de tudo o que o compositor já escreveu, especialmente no tocante às letras. É uma viagem para dentro da alma de Camargo, uma coletânea incrivelmente bela e artesanal. Já o Definitivo, lançado em 2012, reúne fantásticas releituras de alguns clássicos como Muitos Virão Te Louvar, Ajuntamento, Adorador e Maravilhoso Amor, entre outras. Também desse ano vem, em parceria com ninguém menos que Gladir Cabral, o CD A Poesia Caminha. Este é também uma viagem, agora por várias cidades; um prêmio para quem o adquirir, pois Cabral, assim como Camargo é mestre da música e das letras. Devido à proposta acústica dos quatro álbuns - todos com participações de músicos de primeiríssima linha - o box é um presente para quem chega de um dia intenso de trabalho e se dá o direito de tomar um bom banho, deitar-se num sofá, apagar quase todas as luzes e despreocupar-se do mundo enquanto curte suas belas canções. Para adquirir, acesse http://www.veroshop.com.br/produtos/jorge-camargo.

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ESPORTE

por Júnior Sipaúba

Junior Sipaúba é pastor presbiteriano, mestre em Aconselhamento, matemático, licenciado em Ciências e faixa-preta pela Conferedação Brasileira de Taekwondo.

Entre tapas e tatames “Melhor é o longânimo do que o herói da guerra; e o que domina o seu espírito do que o que toma uma cidade” (Provérbios 16.32).

E

xiste a ideia de que o praticante de uma modalidade marcial é essencialmente violento. Inclusive a fama de marrento para os lutadores é muito comum. O mais curioso ainda é o estereótipo social do lutador: as orelhas deformadas, uma autoconfiança desmedida, um olhar mal-encarado, uma preferência por cães de raças mais agressivas, o corpo tatuado etc. O mais problemático em tudo isso é que muitos parecem gostar desse perfil e até cultivá-lo. Fazem jus à fama. Por isso, volta e meia vamos encontrar “lutadores” envolvidos em episódios dignos de vândalos e desocupados. Infelizmente muitas pessoas acabam formando um conceito da luta marcial tomando como base esses episódios isolados, desprezando a beleza milenar das artes marciais que vem de geração em geração. Muitos princípios milenares das lutas foram ignorados, muitas vezes pelos próprios profissionais que atuam na área, o que colabora com a desinformação absoluta entre os praticantes. Seria ótimo se os professores de artes marciais separassem uma aula por mês para uma palestra ou uma conversa com os praticantes sobre os fundamentos filosóficos, os princípios éticos, a história da modalidade praticada; enfim, um momento para uma reflexão sobre os propósitos nobres que devem adornar o caráter de um lutador. Se um treino limitar-se aos chutes e socos, às técnicas de imobilização de solo, aos famosos golpes fatais (e por aí vai), vamos fundamentar na mente dos alunos a ideia de que a essência da arte é unicamente uma questão de técnica, que não envolve um caráter moldado por princípios e valores nobres. 46

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Alguns valores e benefícios proporcionados pela prática das artes marciais: melhora significativa na qualidade de vida, reconhecimento da diversidade do mundo de opostos, domínio próprio, integração social, autoconfiança positiva e na medida certa, válvula de escape saudável para um dia estressante, companheirismo – os praticantes formam uma rede de amizades fortalecida no dia a dia do treino –, disciplina para alcançar metas, noção da importância dos limites etc. Conceitos como obediência, determinação, lealdade, fraternidade, compaixão e respeito fazem parte do universo do lutador e têm para ele, importância vital. O texto da sabedoria bíblica que encabeça este artigo afirma que é melhor dominar o espírito do que tomar uma cidade. Realmente, uma pessoa que não possui domínio próprio comete loucuras, mesmo que tenha a impressionante capacidade de tomar uma cidade. O texto exorta que é melhor ter um ânimo longo do que ser um herói da guerra. Novamente a ênfase está na qualidade de vida interior, e não na capacidade de impressionar ou conquistar. O guerreiro deve, antes de tudo, ter um caráter moldado pela disciplina e pela ética e buscar o aperfeiçoamento de seus passos, de sua técnica, de sua mente, pois seu compromisso vai muito além dos tatames. Que o caminho das artes marciais possa conduzir pessoas não para uma postura de superioridade e arrogância diante do outro, mas sim para uma existência pautada pelo domínio próprio e pelo respeito à vida. A combinação +é simples: orelha de repolho e coração de guerreiro!




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