Revista +Cristão Edição01

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ENTREVISTA Em entrevista exclusiva à +Cristão, Marina Silva, que é conhecida pela defesa que faz da ética, dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável, fala sobre fé, política, meio ambiente e o papel da mulher na sociedade.

+Cristão Ano 01 – Nº 01 | Fevereiro / Março 2013 | www.facebook.com/revistamaiscristao | Editora Millibros

CRISTÃOS SEM IGREJA Um rebanho sem pastor. A cada dia, cresce o número de cristãos que optam por servir a Deus longe dos templos

Mulheres nota 10 O crescimento da ação feminina em todas as áreas da vida social

Ninguém está a salvo Os alarmantes números da violência

Tempo de Concursos o sonho é ter o Estado como patrão




EDITORIAL

por Jairo Cesar Editor

A Revista +Cristão é uma publicação da Millibros Editora

Contatos 61 9309-8998 61 9345-0550 jerrygaspar@revistamaiscristao.com redacao@revistamaiscristao.com

Diretor-Editor Jairo Cesar Diretor Executivo Jerry Gaspar

Expediente +Cristão

Diretor Comercial David Malafaia Diretor de Arte / Projeto Gráfico Thimóteo Soares Jornalista Mércia Maciel Colaboradores Hosana Seiffert e Eleazar Araújo (Zazo) Revisor Eleazar Araújo (Zazo) Articulistas Antonio Costa, Antonio Siqueira, Daniel Castro, Elioenai Dornelles, Hosana Seiffert, Junior Sipaúba e Zazo, o nego. Fotografia Cristiano Carvalho e Thimóteo Soares Impressão E-graff Soluções Gráficas Distribuição / Periodicidade A Revista Mais Cristão é bimensal e é distribuida gratuitamente em diversas igrejas do Distrito Federal e livrarias evangélicas. Tiragem 10.000 exemplares

Publicidade Jireh Publicidade & Marketing Contato: David Malafaia 61 9188-6948 / 61 9652-2321 e-mail: davidmalafaia@revistamaiscristao.com

Os artigos publicados nas seções “Pastoral”, “Política”, “Direito e Cidadania”, “Dicas de Saúde”, “Esporte” e “Contos e Crônicas” são de inteira responsabilidade dos seus autores.

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pós a edição experimental, chegamos ao primeiro número da Revista Mais Cristão. Depois de considerar os inúmeros comentários recebidos, é hora de olhar para a frente, corrigir o rumo, traçar planos e agir para levar ao leitor um conteúdo de qualidade. Olhamos para o futuro com fé e esperança, mesmo que haja incertezas e nem sempre as manchetes sejam de notícias boas. A equipe da revista deseja sinceramente que as linhas e imagens aqui impressas proporcionem ao leitor uma viagem repleta de informações que ajudem a pensar e a viver seu cristianismo com mais fé e esperança. Esperança de que a valorização feminina seja uma realidade no nosso meio. A ONU adotou em 1977 a data de 8 de março como o Dia Internacional da Mulher. Apesar de ter-se tornado mais um apelo consumista, subsiste o fato de que é necessário discutir o papel da mulher na sociedade. Mesmo com todos os avanços, elas ainda sofrem, em muitos locais, com salários baixos, violência masculina, jornada excessiva de trabalho e desvantagens na carreira profissional. A reportagem Mulheres Nota 10 e a entrevista com Marina Silva destacam importantes (e não necessariamente famosas) personagens que fazem diferença por sua integridade, coragem, luta e determinação. Fé em uma vida comunitária mais saudável, discutida na reportagem Cristãos Sem Igreja, que apresenta os questionamentos de ovelhas que abandonaram o aprisco, por decepção com as instituições. Congregar é fundamental? É possível ser salvo sem filiar-se a alguma igreja? Existe algo a ser corrigido na estrutura eclesiástica? Nas seções e artigos oferecemos dicas de saúde, boas opções para os seus ouvidos (mais música), um pouco de política, esporte e reflexão. Boa leitura.


AGENDA FESTA DO MILHO Data: 16 de março Local: Acampamento Gileade Realização: Igreja Presbiteriana de Brasília Informações: 61 3245-5719 CHÁ DAS AMIGAS Data: 16 de março Local: Igreja Batista Asa Sul Realização: Igreja Batista Asa Sul Informações: 61 8442-8925 METAMORFOSE 2013 Participações: Lucinho Barreto, Juda Bertelli, Kleber Lucas, Fabricio Miguel e JB Carvalho Data: de 28 a 31 de Março Local: W3 sul, quadra 513 Bloco A Realização: Igreja Comunidade das Nações Informações: 61 3346-1212

CHAVES PARA A LIBERDADE FINANCEIRA Particiação: Pr. Ivonildo Teixeira Data: 09 e 10 de março Local: SGAN 603, Mod. D, Conj. C, Asa Norte - DF Realização: Igreja do Nazareno Central de Brasília Informações: 61 3323-5099 IMPACTO SUDESTE ASIÁTICO Participação: Líderes cristãos Asiáticos Data: 08 a 10 de março Realização: Amide Informações: 61 3298-6700 / www.amide.org.br DESPERTA BRASÍLIA Participações: Thalles Roberto, Fireflight (E.U.A) Data: 12 de abril Local: Estacionamento do Ginágio Nilson Nelson Realização: Willy Eventos Informações: facebook.com/despertabrasilia Divulgue o seu evento na +Cristão: agenda@revistamaiscristao.com


SUMÁRIO

| EDITORIAL

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Entrevista

Mulheres nota 10

Ninguém está a salvo

Marina Silva - uma referência de fé e superação

O crescimento da ação feminina em todas as áreas da vida social

Os alarmantes números da violência

| ARTIGOS 06 |

Bp. Antônio Costa

39 |

Elioenai Dornelles

14 |

Hosana Seiffert

40 |

Junior Sipauba

22 |

Antonio Siqueira

41 |

Zazo, o nego

30 |

Daniel Castro

46 |

Zazo

Palavra Pastoral Política

Família e Casamento Direito e Cidadania

Dicas de Saúde Esporte

Dicas de músicas Contos e Crônicas

36 Tempo de Concursos

O sonho é ter o Estado como patrão

| CAPA por Mércia Maciel

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Cristãos Sem Igreja. As controvérsias da vida cristã longe da igreja. pág. 24

42 Cultura Novos ares no mercado editorial evangélico



PASTORAL

por Antônio Costa

Qual o Caminho a seguir?

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uando nascemos somos criados, educados e inseridos por nossos pais na sociedade em que vivemos. Porém chega um momento em que alcançamos a maturidade e temos de traçar nosso próprio destino. É assim na vida profissional e nas escolhas que fazemos: profissão, emprego, casamento e demais oportunidades que a vida oferece. Cada qual escolhe o que melhor lhe parecer. A Bíblia narra uma história bastante interessante do ponto de vista racional e da lógica humana. O povo de Israel, quando saiu do cativeiro no Egito, teria que fazer uma escolha: o caminho a seguir. Por certo, todos nós – que não sabemos nada do futuro – teríamos dificuldades na opção feita por Moisés. O profeta optou por ouvir a voz de Deus e obedecer a ela, numa viagem sem volta, por um lugar que nem era caminho. Eles teriam de ir pelo contorno do monte Sinai, área de desertos e sem recursos para mais de dois milhões de pessoas. Não havia lógica nessa viagem. É claro que eles prefeririam seguir por um caminho bem mais próximo e conhecido, mas que passava por terras de valentes guerreiros. Os filisteus possuíam fábrica de lanças e espadas. Eram treinados para batalhas. E Deus orientara a Moisés para que não fosse por aquele rumo. Os israelitas achavam que, por aquela rota, eles chegariam à terra prometida em menos tempo (Êxodo 13. 12-18). Já pelo deserto eles levariam um período bem maior e não teriam a menor condição de sobreviver sem a presença do Senhor. Tinham só duas opções: primeira, obedecer a Deus e ter a sua presença; segunda, desobedecer e correr o risco de não chegar. Pois certamente, sem Deus, eles não chegariam à terra prometida, por mais curto que fosse o caminho. A presença de Deus traz provisão, luz, água e vitória nas lutas. O povo conviveu com isso. Deus tinha o 8

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Antônio Costa Bispo da Igreja de Nova Vida de Brasília.

controle de todas as coisas, pois o profeta obedeceu à sua voz, e o povo ouviu o profeta. Israel demorou cerca de quarenta anos desde a partida do Egito até a posse da terra prometida, mas pôde testemunhar que Deus cumpre a sua palavra, embora isso pareça impossível aos homens. Israel é uma realidade e um milagre! Precisamos retirar algumas lições desse fato histórico. O discípulo tem como princípio fazer a coisa certa, muito embora isso seja mais difícil e demorado. Na estrada da vida, atalhos não ajudam e não levam a realizações seguras. No caminho que Deus não aprova, há muitos atrativos, ofertas e distrações. É o lugar das facilidades. Mas quem escolhe essa trilha pode não chegar. Porém o trajeto escolhido por Deus é o melhor. Pode ser longo e cansativo, mas tem sabedoria, ensino e disciplina – deixa experiência. Foi no caminho mais longo que Israel conheceu Jeovah. Assim como o povo no Antigo Testamento precisava passar pelo deserto para conhecer a Deus e aprender com ele, também precisamos passar por essa senda. É por ela que o nosso ser é moldado e toda falha de caráter é corrigida. É o lugar da reconciliação com Deus, do amor, do perdão e da misericórdia. No Novo Testamento, Jesus diz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai, senão por mim”. Essa não é a forma mais fácil de viver num mundo de porfias e competições. Mas é a única que leva ao Pai e que garante a salvação, a vida eterna. No deserto aprendemos o que não se aprende cortando caminho: a humildade. É ela que nos faz aptos para orar, para interceder. Na humildade é que aprendemos a depender uns dos outros e valorizarmo-nos mutuamente. Curta seu deserto e glorifique a Deus pela sabedoria que ele lhe proporciona. Fuja das facilidades e dos atalhos. Afaste-se do perigo. Creia em Deus e ouça o profeta que ele colocou diante de você – para o seu bem! +


Layot para revista gil vasconcellos.ai 1 28/02/2013 17:34:07

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Foto: Doug Meneuz

ENTREVISTA

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Marina Silva,

uma referência de fé e superação “A boa política tem um fundamento profundamente assemelhado a tudo o que Jesus fez no mundo: servir” por Mércia Maciel e Jairo Ribeiro

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oi uma agradável surpresa quando o mundo a viu em destaque, na abertura dos jogos olímpicos de Londres de 2012. Senadora por dezesseis anos, ministra do governo Lula, 20 milhões de votos na última eleição presidencial, defensora da ética, dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável, Marina Silva é um referencial de superação, determinação e coragem. Com um sorriso franco, olhar sincero e aparente fragilidade, quando usa da palavra, Marina Silva, 55 anos, natural do estado do Acre, descortina uma compre-

ensão ímpar da política nacional, alinhada ao anseio de boa parte da sociedade. Professando uma fé simples e vibrante, cobra coerência ética dos eleitores e, ao valorizar o sexo feminino, afirma que as mulheres desenvolveram um “saber silencioso” que as torna conciliadoras. Reconhecida como uma das mais influentes personalidades de nosso tempo, Marina falou, com exclusividade, à revista + Cristão, exatamente na semana anterior ao lançamento da Rede, que deve se transformar em partido político, com vistas às eleições de 2014.

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ENTREVISTA +Cristão: A senhora é exemplo de superação. Sua biografia é um resumo de coragem, determinação e fé. Como sua conversão influenciou sua vida pessoal e pública? Marina Silva: O que experimentei foi uma conversão dentro da conversão, pois a fé, em várias dimensões, já era essencial na minha vida. Só que passei a vivê-la de forma mais intensa e detalhada, em cada momento do dia a dia. Passei a ter outra consciência da minha saúde, por exemplo; uma noção nítida de que cada célula do meu corpo estava nas mãos de Deus, que me cabia confiar e me entregar inteiramente. Quando a gente vai às portas da morte, é possível entender que a fragilidade da vida só se sustenta pela força da fé. Minha ação pública foi potencializada por essa nova vida. Meu pensamento ganhou uma nova fonte com a leitura intensa e constante do texto bíblico – um texto pleno de riqueza espiritual, sabedoria, inteligência, informações de toda natureza. Esse mergulho me deu uma nova visão de tudo: da vida pessoal às questões planetárias. Os princípios bíblicos para a existência, tanto individual como coletiva, são muito densos, retos e sábios. É impossível ir de Gênesis ao Apocalipse sem passar por mudanças profundas. +Cristão: Há preconceito por ser evangélica? Marina Silva: Por incrível que pareça, nunca fui discriminada por ser pobre, ou negra, ou mulher, mesmo atuando em um espaço conservador e predominantemente masculino como o Senado. Mas já sofri preconceito por ser evangélica, em diversos ambientes. Algumas pessoas imaginam que os evangélicos são todos conservadores, machistas e preconceituosos, o que não tem respaldo bíblico. As Escrituras, aliás, mostram que toda a humanidade é amada por Deus e tem essa filiação, essa dignidade.

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Quanto aos que se apegam aos ranços do passado, distorcendo o texto bíblico para perpetuar injustiças, gosto de lembrar, por exemplo, da recomendação do apóstolo Paulo aos Romanos segundo a qual não devemos nos conformar com este século, mas nos transformar pela renovação da nossa mente. +Cristão: Sua trajetória pública é pautada pela defesa da ética. É possível conciliar política e valores cristãos? Marina Silva: A boa política tem um fundamento profundamente assemelhado a tudo o que Jesus fez no mundo: servir. Essa política é a arte de servir ao coletivo, cuidar do bem público, atender aos necessitados, proteger e promover os que são socialmente fragilizados. É o que Jesus nos recomendou como modelo de vida. Os valores cristãos podem ser compreendidos como princípios éticos, e a política como uma prática orientada por esses princípios. Um desvirtuamento ocorre quando a vigilância da sociedade diminui ou é impedida. Tenho insistido na ideia de que as pessoas virtuosas devem criar instituições virtuosas para que estas possam corrigi-las quando aquelas falharem em suas virtudes. Assim, entre a participação democrática do povo e a correção das leis, pode-se ter uma política orientada por valores cristãos, sem qualquer sombra de fundamentalismo. Tão somente o exercício do respeito, da compreensão, da solidariedade, ou seja, em essência, o mandamento do amor, a defesa do bem comum. A política assim exercida é semelhante ao que o apóstolo Paulo chamou de “bom combate”. +Cristão: A senhora ganhou reconhecimento, dentro e fora do país, pela defesa pela defesa do meio ambiente e pelo trabalho como titular do Ministério do Meio Ambiente, na gestão Lula, quando deixou o cargo, por conta das dificuldades que enfrentava dentro do próprio governo, para dar prosseguimento à agenda ambiental. Como a

senhora avalia a postura do Brasil quando se trata de desenvolvimento sustentável? Marina Silva: Nosso país tem realizações admiráveis. Saímos de um regime militar e iniciamos a reconstrução de uma democracia que se afirma e amadurece cada vez mais. Superamos a instabilidade financeira e a inflação, num período de quase vinte anos de estabilidade que aumentou nossas chances de suportar a atual crise econômica mundial. Destinamos ao menos uma pequena parte do PIB para transferir renda aos que viviam abaixo da linha de pobreza, o que tirou mais de 20 milhões de pessoas da miséria. Mas não temos sido capazes de vencer a corrupção e de promover um desenvolvimento que tenha sustentabilidade ambiental, ou seja, que conserve as riquezas ambientais para as próximas gerações. Em resumo, temos avanços econômicos e sociais que convivem com um grande atraso na política e na ética. Nos últimos dois anos isso se agravou, pois os interesses econômicos imediatos predominaram no Congresso e no Governo, forçando um retrocesso em conquistas de quase duas décadas na legislação ambiental e nas políticas socioambientais. O resultado é um perigoso comprometimento de nosso futuro, ameaçado pelas catástrofes do aquecimento global, para o qual caminhamos sem cuidados nem proteção. +Cristão: Em que é preciso ainda avançar? Marina Silva: Primeiro, na proteção de nosso patrimônio natural. O Brasil tem um território em que a biodiversidade é a maior do planeta. Tem água abundante e terra fértil. Esses recursos não podem nem precisam ser destruídos para plantar soja e criar gado. Com investimento em tecnologia, é possível dobrar o rebanho e a produtividade agrícola sem derrubar sequer uma árvore.Basta reaproveitar as áreas degradadas e abandonadas.


Segundo, no reconhecimento de nosso patrimônio cultural. Temos um país com 305 povos indígenas falando 180 línguas, além do Português. Temos quilombolas, ribeirinhos, caiçaras. Temos uma juventude criativa e ávida por educação de qualidade. Nas grandes cidades, temos comunidades em que a população é maior que a de muitos países. Mas os territórios das comunidades tradicionais não estão totalmente demarcados, e a diversidade cultural de nosso povo não é valorizada. A economia ainda se sustenta na produção de commodities e no consumo de importados, com intenso uso de carbono. O planejamento urbano não previne catástrofes porque se dobra aos interesses da especulação imobiliária. Em resumo, nosso atraso é na transição para uma sociedade sustentável e uma economia de baixo carbono. Precisamos ter consciência da importância do Brasil, com seus recursos e seu potencial, na mudança necessária à sobrevivência da civilização.

dos recursos do petróleo quanto o incentivo às fontes de energia limpa e renovável são debates travados sem transparência, dominados pelos grandes grupos econômicos. O governo limita-se a garantir bons resultados nas políticas de promoção social. Fica refém desses interesses, conivente com o retrocesso social e ambiental. Não tem tido uma política previdente em relação aos desastres ambientais, que trazem tanto sofrimento: enchentes e desabamentos no sul, seca cruel no nordeste. Há muito trabalho de vigilância e cobrança da sociedade que deve ser feito em 2013.

Marina Silva: Tem saído na mídia que o grupo de parlamentares ruralistas tem uma agenda de retrocessos em seus planos para 2013. Desfazer alguns direitos trabalhistas, rever a demarcação de terras de índios e quilombolas, desfigurar ainda mais o Código Florestal são alguns itens dessa agenda muito negativa para o modelo de produção sustentável. Há também uma enorme pressão em reduzir a preparação das cidades brasileiras para as Olimpíadas e a Copa do Mundo a um conjunto de grandes obras, deixando de lado a chance de refazer o planejamento urbano e melhorar a qualidade de vida nessas cidades. A questão energética também acumula polêmicas, pois tanto a destinação

Foto: Doug Meneuz

+Cristão: Qual é a sua avaliação da agenda ambiental de 2013 no Congresso? Ainda há muita resistência dos parlamentares com a pauta ambiental?

+Cristão: Depois de brilhar como terceira via na eleição presidencial de 2010, a senhora volta ao cenário político com vigor e já debate a criação de um novo partido. Em encontro com lideranças partidárias, a senhora já avisou que não fará concessões para receber na nova sigla nomes que não se alinhem com o ideário do movimento que a apoia. O Brasil precisa de lideranças comprometidas com a ética? Marina Silva: O Brasil precisa de todos os seus cidadãos e cidadãs comprometidos com a ética: governantes

e governados, representantes e representados. Nossa Constituição diz, em seu primeiro artigo, que o poder emana do povo. É a população que referencia eticamente o Estado. São os cidadãos que delegam o poder aos dirigentes. A fonte do código de ética para o setor público vem da sociedade. Se isso for rigoroso, não haverá tolerância com os que quiserem se servir do que é público ao invés de servir o que é público. Tenho falado, em várias ocasiões, o que penso do carisma político. Fala-se muito das lideranças carismáticas. Penso que esse carisma é como o petróleo do pré-sal. Ainda não dá para dispensar o petróleo, não temos fontes de energia suficientes. Mas o petróleo não é eterno, é um recurso finito. Então deve ser corretamente aproveitado, seu valor deve se transformar em melhorias na educação, em tecnologia para obter energia limpa de outras fontes, em programas de saneamento, saúde, conservação ambiental. A mesma coisa é com o carisma político. Hoje ele ainda é necessário para mobilizar as pessoas, mas o ideal é que todo o mundo tenha autonomia, liberdade, consciência e responsabilidade; que ninguém precise esperar pelo comando de um líder. Então os que hoje têm algum poder de liderança devem usá-lo para ampliar a autonomia das pessoas e comunidades, para dar a todos mais qualidade de vida, formação, liberdade; jamais para dominar ou tentar perpetuarse no poder. +Cristão: Nas últimas eleições, a senhora recebeu expressivos 20 milhões de votos. Há planos para Marina Presidente 2014? Marina Silva: Fiz várias reuniões para escutar os que estiveram na linha de frente da campanha de 2010 comigo. Recebi também manifestações pela internet e vi as pesquisas que traziam um índice de esperança na plataforma que defendi naquele ano.

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Foto: Brasil em Rede

ENTREVISTA

Decidimos que o primeiro passo é criar uma representação política, um partido, para defender esse legado e expressar esse movimento. Queremos um partido diferente, que não seja um meio de ascensão e poder, mas a expressão de sonhos e ideais, especialmente da juventude, e das ações para que o Brasil tenha um desenvolvimento sustentável em todas aquelas dimensões que já mencionei. Quanto a uma possível candidatura... bem, é melhor dar um passo de cada vez. Assim como o partido não é um fim em si mesmo, uma candidatura também não é. Tem que ser uma construção coletiva, estar a serviço de uma causa. Isso é o essencial. +Cristão: No ano passado, o brasileiro acompanhou o julgamento do mensalão e ganhou leis importantes, como a Lei de Acesso a Informação, que garante transparência da gestão pública. O Brasil está mudando? Marina Silva: Sim. Mesmo com alguns atrasos e até retrocessos, o Brasil está mudando para melhor. As experiências da sociedade têm sido oportunidades de aprendizagem e de evolução. Há vinte anos, vivemos um momento institucional de grande significado: retiramos do Palácio do Planalto o primeiro presidente democraticamente eleito depois de longos anos de autoritarismo, porque ele não teve um comportamento de governante dentro dos padrões que a sociedade queria. Alguns combateram de terno e gravata, nos microfones dos

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parlamentos. Outros usaram suas tribunas jornalísticas, os espaços de rádio, de TV. Outros ainda, bem mais jovens, combateram de camiseta e jeans, com a cara pintada, elevando a voz nas ruas. E foi uma grande lição que agora podemos atualizar, buscando, novamente com os mais jovens, uma nova forma de ação política, democrática, dinâmica, viva, ética, sinceramente idealista. Quanto ao mensalão, a justiça resolveu, e vamos confiar que cumpriu bem o seu papel. Eu dizia que esperava que o julgamento do mensalão produzisse justiça. Quem fosse culpado que fosse condenado e depois punido; quem fosse inocente que tivesse sua inocência provada com os recursos que a democracia disponibiliza no processo judicial. Com certeza foi um momento com potencial para produzir mais do que a justiça: o aprendizado dela. O debate e as reflexões fazem os indivíduos tomarem posições, e muitos despertam para o exercício de uma cidadania mais ativa. +Cristão: Sua trajetória de vida é prova da força da mulher. Que recado a senhora deixa à brasileira que ainda luta por lugar no mercado de trabalho, direitos e tantas outras conquistas? Marina Silva: Sempre faço três afirmações sobre a minha trajetória pessoal. Uma é que sou movida a fé e determinação. Elas são minha energia, minha motivação mais profunda. A segunda é que sou um produto da educação, que a oportunidade de

estudar me deu perspectivas, ideais, sonhos, projeto de futuro. Infelizmente milhões de pessoas continuam ainda sem acesso a uma educação de qualidade que lhes ajude a superar as dificuldades. A terceira afirmação é de que tive ajuda de muita gente, pessoas que me ajudaram a recuperar a saúde, que me ensinaram os valores da cidadania e da política como defesa do bem comum, que me apresentaram a fé em Jesus e me apoiaram na caminhada para amadurecer nela, que me subsidiaram no cotidiano do exercício do mandato de Senadora e depois de Ministra de Estado. Enfim, Deus tem cuidado de mim por meio desses meus semelhantes. Sou, além de uma pessoa de fé e determinação, uma mulher cheia de gratidão e convicta de que minha vida é um milagre de Deus. Mas a condição feminina ainda me dá outros valores que nessa trajetória aprendi a reconhecer e apreciar. Talvez pelos séculos de opressão quando desenvolvemos um saber silencioso, nós mulheres estamos aptas a buscar o entendimento em vez do conflito. A maternidade nos possibilita escolher a inclusão de todos em vez da disputa. Somos mais predispostas ao amor pelos desamparados em vez do prazer nas mesas dos poderosos. Acho que não é uma coisa automática; são dons que a gente tem que cultivar, princípios dos quais a gente tem que se lembrar. Não basta ser mulher, é preciso ter coragem, buscar a parceria com outras mulheres e também com homens, trabalhar pelo bem comum. +



Foto: Cristiano Carvalho

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Mulheres nota

Até o final da leitura desta matéria, milhares de mulheres em todas as partes do mundo farão diferença com seus exemplos e ações por Mércia Maciel

falta de dinheiro e também o preconceito. Eu limpo a sujeira dos outros, mas isso não me incomoda, pois sei que estou fazendo alguma coisa boa”, afirma. Vaidosa, ela não abre mão de cuidar do visual. Faz questão de combinar o uniforme com a cor do esmalte e de usar anéis e pulseiras que enfeitam uma mulher batalhadora. “Gosto de me arrumar e de me sentir bem. Assim fica mais fácil encarar o trabalho e levar a vida”, conclui confiante.

Foto: Divulgação

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uerreiras, elas cuidam dos filhos e companheiros, trabalham, estudam e abraçam causas sociais. Ainda há aquelas que dedicam suas vidas ao próximo. A agenda da mulher moderna deixaria nossas bisavós cansadas só de pensar. Mas elas provam que o corpo aparentemente franzino esconde uma fortaleza, uma capacidade de se reinventar e de ser, ao mesmo tempo, mulher frágil e de guerra. Michele Alves, moradora da Ceilândia, é uma dessas mulheres-coragem. O dia mal amanhece e a jovem gari de 28 anos já está nas ruas, praças e vias públicas, pronta para apanhar papel, latas, copos plásticos e toda sorte de lixo que encontra pela frente. O ritmo é frenético. É preciso dar conta do recado e assegurar o salário, que vai ajudar nas despesas de casa. A morena de cabelos longos engrossa as estatísticas: dez milhões de brasileiras sustentam suas casas sozinhas. Michele sabe que sua profissão nem sempre é valorizada, mas garante que tem orgulho do que faz. “Tenho que driblar a

Michele Alves, 28 anos, (profissional de limpeza e higiene - gari)

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COMPORTAMENTO

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têm mostrado que, nessa difícil seara, somos em maior número. Trabalhar em ciência é fascinante. O que nos diferencia dos não cientistas é que temos uma curiosidade ‘mórbida’. Não nos contentamos em observar e queremos saber mais. A cada pergunta respondida, abre-se um leque de novas perguntas, e é isso que nos move”, afirma animada. Se o combustível de Mayana Zatz é o fascínio pelas descobertas, a missionária Angelita Alves mergulha na fé para viver. São três horas da manhã. Na silenciosa madrugada, o telefone toca em sua casa, na Asa Norte. Do outro lado

Foto: Divulgação

Para a mulher, a Ciência não tem fronteiras e está longe de ser uma área exclusiva dos homens. E a israelense Mayana Zatz, paulista desde os sete anos, é prova disso. Aos 26, já era doutora e tinha um casal de filhos. Uma das maiores geneticistas do país, pós-doutora em Genética pela Universidade da Califórnia e diretora do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (o maior da América Latina), Mayane coleciona títulos. Entre eles, o de Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico e o prêmio Mulheres Cientistas, este conferido pela Unesco e pela empresa L’Oréal, no ano de 2001, em Paris. A dama do laboratório é incansável. Em 1995, tornou-se pioneira ao localizar um dos genes ligados a um tipo de distrofia dos membros. Mas as doze horas que passa em seu laboratório não a impedem de ser uma mãe presente e uma cientista sintonizada com os anseios da sociedade. Em 2004, ela pendurou o jaleco e, durante várias semanas, esteve em Brasília, onde foi uma das principais vozes no debate que levou à aprovação pela Câmara dos Deputados da pesquisa com células-tronco embrionárias, a Lei de Biossegurança. Hoje, com os filhos adultos, relembra sua tripla jornada. “Quando cheguei ao Departamento de Biologia da USP, nunca tinha havido uma livre-docente do sexo feminino. Foi um grande desafio. Mas ser cientista e exercer meu papel de mulher e de mãe foi um desafio maior ainda”, constata. Para a autora de quase trezentos trabalhos científicos reconhecidos mundialmente, a força da mulher é incontestável e, em geral, as mulheres são mais dotadas de intuição e paciência, atributos imprescindíveis na pesquisa científica. “Há muito tempo, defendo a tese de que, nas Ciências, não há discriminação no Brasil contra mulheres. Os últimos levantamentos

Mayana Zats, uma das maiores geneticistas do país

da linha, uma jovem de Juiz de Fora (MG), com um copo de veneno nas mãos, ameaça tirar a vida. Desesperada, chora implorando por ajuda. A missionária fala do amor de Deus, dos planos que ele tem para a vida do ser humano, da salvação. Uma hora depois, a jovem se rende aos pés de Jesus e começa uma nova vida. Essa é apenas uma das muitas histórias que Angelita lembra, em mais de

“Guerreiras, elas cuidam dos filhos e companheiros, trabalham, estudam e abraçam causas sociais”

trinta anos de ministério. Movida pela compaixão pelas almas, ela obedece ao chamado de missões e dedica seus dias ao serviço do Rei. Os celulares – três, sempre ligados – estão à disposição de quem precisa, a qualquer hora. Sua casa, aberta para aqueles que querem ouvir a Palavra de salvação, receber aconselhamento e/ou oração. Ela sabe que, muitas vezes, se esquece um pouco de si, mas sente-se realizada. “Deus quer vidas comprometidas com sua ordem para evangelizar, e o meu maior prazer é obedecer a esse chamado”, enfatiza. A vida missionária de Angelita é um exemplo do que foi a história de Débora, profetisa e juíza de Israel, heroína bíblica que, em parceria com Baraque, alertou o povo a guerrear contra um poderoso inimigo. Naquela época, ela exercia um papel privativo de homens, mas não se intimidou. Baraque, porém, somente se dispôs a pelejar por Israel se Débora estivesse ao seu lado. E o resultado dessa vitória foi a paz que reinou sobre a nação israelita por quarenta anos. A Bíblia relata ainda que a profetisa ficava embaixo de uma árvore, recebendo pessoas com todos os tipos de problemas e os ajudava a resolvê-los, assim como Angelita. “A mulher atual tem dificuldades em encontrar espaço em sua agenda, mas é possível servir a Deus e ao próximo, em casa, no trabalho, onde quer que se esteja”, garante.


Foto: Divulgação

Uma história de superação deu lugar a uma dor dilacerante. Há quase duas décadas, Ilda Peliz perdia sua pequena Rebeca, de apenas dois anos, para um agressivo câncer. Não foi fácil. Viveu o luto, enxugou as lágrimas e olhou para o seu próximo. Há dez anos, Ilda está à frente da Abrace (Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias), uma renomada instituição fundada em 1986 por um grupo de pais cujos filhos faziam tratamento de câncer no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF). Esses pais queriam ajudar as famílias que passavam pelo mesmo drama, potencializado pelas dificuldades financeiras que lhes tirava a esperança de combater a doença. Nessas duas décadas, a instituição contribuiu para que o índice de cura aumentasse de 50% para 70% e chegasse a zero o de abandono do tratamento da doença, com a criação de sua Casa de Apoio, a qual hospeda pacientes e acompanhantes vindos de todo o país. Tanto esforço e amor pelas vidas resultaram em outro fruto: o Hospital da Criança de Brasília José Alencar, construído com doações enviadas à Abrace e mantido com recursos dos governos federal e distrital. O empenho de Ilda Peliz foi decisivo para tirar o projeto do papel. O hospital retrata a esperança em dias melhores e o novo jeito de Ilda ver a vida, à semelhança de Ester, a órfã judia que, movida por fé e amor, salvou o seu povo. Nem de longe o lugar parece um centro de saúde. Suas paredes são coloridas. Cata-ventos e brinquedos trazem alegria e amenizam o sofrimento dos pequenos pacientes e seus familiares. “Acredito que os principais combustíveis – não só para ações sociais, mas para a vida – são a fé e a esperança. Elas nos fazem prosseguir, mesmo quando as circunstâncias nos apontam a de-

Ilda Peliz, presidente da Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias (Abrace)

sistência como caminho mais óbvio. É justamente essa jornada de fé e esperança na concretização de objetivos e no enfrentamento das adversidades da vida que nos torna pessoas melhores, de mais virtude, coragem e solidariedade”, afirma. A jovem enfermeira, Fernanda Andrade, da igreja Sara Nossa Terra, trabalha no Hospital da Criança. Ela é uma mulher forte e acostumou-se a lidar com o sofrimento. Mas como a meiga personagem bíblica Rute, que não se abateu quando a tragédia chegou à sua casa, com a morte de seu esposo e a viuvez de sua sogra, a cada dia Fernanda encontra na fé, a força para ajudar os pequenos e seus familiares a supera-

“A mulher é um ser múltiplo e único; é preciso conciliar as várias missões que ela tem no lar, trabalho, casamento, criação de filhos e também como provedora”

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COMPORTAMENTO plica. Mas a mão amiga da enfermeira também recebe bênçãos. “Quando vejo aquelas mães com seus filhinhos doentes e, mesmo assim, não reclamam, mas cuidam com força redobrada, são elas quem me ensinam a viver”, diz emocionada. Maria, irmã de Lázaro, aquela que queria estar sempre aos pés de Jesus, ouvindo seus ensinamentos, talvez seja a personagem bíblica que mais se pareça com a pastora Laudjane Guerra Veloso, da Igreja Batista Filadélfia de Taguatinga. Em vinte anos de mi-

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rem o drama da doença. Compadecendo-se pela dor do outro, ela distribui sorrisos, palavras de conforto e de carinho. Apesar do tratamento humanizado do hospital, a enfermeira assegura que sua fé ajuda nesse desafio de levar esperança a quem luta pela vida. “É importante estar forte espiritualmente para não desestabilizar as emoções, principalmente, em situações extremas. Mas tento me manter firme para conseguir encorajá-los a seguir. O amor e o cuidado que Deus tem por mim transfiro para eles”, ex-

Laudjane Guerra Veloso, pastora da Igreja Batista Filadélfia de Taguatinga-DF 20

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nistério, na igreja pastoreada por seu esposo, ela se preocupa com o desenvolvimento espiritual e emocional da mulher. Mãe de três filhos, há uma década a pastora Laudjane dirige o Ministério Só Elas e se sente desafiada a ajudar a mulher do século 21 a fazer diferença em seu meio e a ser influenciadora da sociedade, dando a ela o suporte necessário para o seu desenvolvimento espiritual, emocional e familiar. “A mulher é um ser múltiplo e único; é preciso conciliar as várias missões que ela tem no lar, trabalho, casamento, criação de filhos e também como provedora. Na luta pela conquista de seu espaço, numa sociedade que impõe o fardo da beleza e do corpo, a mulher precisa resgatar sua verdadeira identidade, segundo a Palavra de Deus”, constata. Muitas chegam dilaceradas, com a família e relações conjugais destruídas ou mesmo vítimas de todo tipo de violência, sem referência de vida. “Assim, procuramos restaurar essas vidas para o Senhor”, complementa. Fruto dessa incansável luta, o evento Miss Batom, que acontece anualmente, no mês de setembro, é a prova de que a mulher quer outra história. Com o objetivo de resgatar a imagem e a autoestima, a cada encontro, cerca de 3 mil mulheres, de várias classes sociais e faixas etárias, compartilham experiências e são edificadas espiritualmente. “A cura espiritual e emocional dessas mulheres possibilita que lutem por suas conquistas e vivam uma vida cristã verdadeira”, resume a pastora Laudjane Guerra. Ok, já sabemos. A mulher não é mais a mesma. Mas sempre terá o desafio de equilibrar suas conquistas, reconhecer seus limites e encarar suas obrigações com tranquilidade, sem perder seu lado feminino. E tudo isso a mulher-coragem tira de letra. +



POLÍTICA

por Hosana Seiffert

Quem reina sobre o Brasil?

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m dia, as árvores do campo decidiram ter um rei e disseram à oliveira: “Reina sobre nós”. Porém a oliveira disse: “Deixaria eu a minha gordura, que Deus e os homens em mim prezam, e iria pairar sobre as árvores?” Então, elas recorreram à figueira: “Vem tu e reina sobre nós”. Mas a figueira foi taxativa: “Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto, para reinar sobre vós?” As árvores ainda recorreram à videira, que também recusou o convite. Por fim, disseram ao espinheiro: “Vem tu e reina sobre nós”. A resposta foi rápida: “Se, na verdade, me ungis por rei sobre vós, vinde e refugiai-vos debaixo da minha sombra; mas, se não, saia fogo do espinheiro que consuma os cedros do Líbano”. Essa história, narrada em Juízes 9.7-15, é a primeira parábola encontrada na Bíblia e uma das poucas do Velho Testamento. Tão antiga e tão atual! Que segurança poderia um espinheiro oferecer às árvores do campo? Ou um político cheio de espinhos ao povo brasileiro? Quem afinal tem sido escolhido para reinar sobre as várias esferas de poder no Brasil? A eleição do novo presidente do Senado faz estremecer se comparada à parábola do espinheiro. No primeiro discurso após ser eleito, Renan Calheiros (PMDB-AL) disse que o parlamento não será “subalterno” e que “a ética é obrigação de todos”. Entretanto ignorou as denúncias de desvio de dinheiro público, falsidade ideológica e uso de notas fiscais falsas apresentadas pelo Procurador-Geral 22

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Hosana Seiffert é Jornalista, editora executiva do Jornal do SBT Brasília, professora de Telejornalismo, especialista em Educação a Distância, mestranda em Missiologia pelo CEAM – Centro de Estudos Avançados de Missões.

da República, Roberto Gurgel, uma semana antes. Também não citou a renúncia ao cargo de presidente do Senado, em 2007. Na época, Renan fora acusado de ter gastos pessoais bancados por lobistas de uma empreiteira. Preferiu a renúncia à cassação e, cinco anos depois, reina novamente impune, com o voto de 56, dos 81 senadores da República. Casos como esse fazem refletir: dados do IBGE mostram um aumento significativo da Igreja Evangélicano Brasil, que hoje congrega cerca de 22% da população. Mas, se o número de evangélicos cresceu, por que o país continua do mesmo jeito – ou até pior? A Noiva de Cristo não é também o sal da terra e a luz do mundo? Não deveria influenciar a comunidadea ponto de promover mudanças sociais, econômicas e até políticas? Ou será que, de tão ensimesmada, a Igreja tem esquecido o chamado que recebeu para impactar a cultura, promover a paz, implantar a justiça e contribuir para a transformação do mundo? A reeleição de Calheiros para a presidência do Senado gerou reações em diversos setores da sociedade. Vi protestos veementes em várias redes sociais. Nada por parte da Igreja. A população sai às ruas em protesto contra a corrupção, contra a violência, contra os altos preços, mas a Igreja continua calada. Alheia às mazelas do país, sem sal e sem luz, a maioria o crescente número de evangélicos no Brasil não se posiciona. Pior: ignora o risco de estar abrigada e confiante debaixo da sombra de espinheiros. +


CASAMENTO&FAMÍLIA

por Antonio Siqueira

Antonio Siqueira é psicólogo clínico, autor e conferecista.

O discurso da mãe constrói a imagem do pai

A

nossa pequena Hadassah, com um pouco mais de um ano, já pronuncia várias palavras de forma correta, indica decididamente um objeto que solicita e contesta as ordens da irmã, Sarah. Aponta para o iPad e diz: “Apeeertar!” Aí liga o equipamento, desbloqueia a tela com uma rapidez incrível e acessa o que deseja. Pelo barulho do motor do carro, sabe que é o papai que vem chegando. Logo pronuncia com vigor: “Papai, papai...?” Quando a fome chega, olha para mim e diz: “Papai, neném comer!” Uma criança dessa idade discerne muito da realidade ao seu redor: imagens, movimentos, objetos, sons, músicas e muitas outras coisas. Começou a imitar os passarinhos que cantam no bosque perto de casa. Os cem bilhões de neurônios estão, a todo o vapor, fazendo as sinapses, as conexões que vão constituir a memória, o conhecimento, as habilidades, as apreensões e tudo que é necessário para a estruturação de sua mente e personalidade. E nesse mundo de descobertas e experiências, há uma figura de alta relevância: a mãe e seu papel na formação da realidade em torno da criança. Pois a fala da mãe é o adestramento desse ser em formação, é o que vai construindo tudo: verdades, regras, interditos, visão da realidade, humor, afeto, entendimento e a construção da figura paterna. Na 23

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minha ausência, quando ela sente a falta e diz: “Papai?”, minha esposa diz: “Papai logo vem. O papai ama você. O papai vai trazer frutas, o pãozinho para você”. E assim vai dando forma a essa figura paterna que precisa ser por ela assimilada para se tornar uma criança confiante, com uma sólida identidade interna e se entender amada. O tipo de relacionamento que o pai estabelece com os filhos depende muito do discurso materno. Isso vale também para pais separados. A mãe, que geralmente tem a guarda dos filhos, pode apresentar, por meio do seu discurso e de suas afirmações, um pai bom ou uma figura malévola. Essa caricatura do pai vai sendo desenhada por aquilo que a mãe verbaliza. Se nos cinco primeiros anos de vida de uma criança a mãe pode lustrar ou sujar a imagem do pai, nos anos seguintes ela continua com esse enorme poder. Nem é necessário lembrar que devem prevalecer o bom senso e a sabedoria. Pois, mesmo que não haja entre os cônjuges (ou ex-cônjuges) boa convivência, ainda assim, deverão cultivar o respeito, a dignidade e o hábito de um discurso saudável para o bem dos seus filhos. +


CAPA

CRISTÃOS SEM IGREJA Um rebanho sem pastor. A cada dia, cresce o número de cristãos que optam por servir a Deus longe dos templos por Mércia Maciel

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B

oa parte dos sem-igreja já teve experiência comunitária, mas, desiludidos com lideranças e rituais eclesiásticos ou feridos em relacionamentos fraternais, deixaram o aprisco. Muitos chamariam esses irmãos de rebeldes, desviados, desobedientes à exortação contida no Livro de Hebreus para congregar. Mas o rótulo não impede que sigam sua caminhada solitária ou em pequenos grupos. Longe de se sentirem afastados de Deus, eles leem a Bíblia, oram, louvam, professam a fé cristã e muitos se orgulham em declarar "Jesus, sim; Igreja, não”. Mas há também aqueles que, decepcionados com suas denominações, desistiram da caminhada cristã e torcem o nariz quando ouvem falar em igreja. Às vésperas do aniversário de

quinhentos anos da reforma protestante empreendida por Martinho Lutero, estará a igreja evangélica diante de uma crise? Outra reforma se avizinha? As ovelhas sem pastor enumeram várias razões para justificar o pé fora da organização eclesiástica. No Brasil, o fenômeno – que não é novo – foi constatado em números. Segundo dados do IBGE, de 2003 a 2009, o número de evangélicos que disseram não ter vínculo institucional saltou de 4% para 14%, cerca de 4 milhões de pessoas. E a cada dia, os desigrejados se multiplicam por todo o país. Boa parte desses fiéis se declara desiludida com as instituições religiosas, enquanto outros defendem uma vida cristã vivenciada na intimidade, ou desinstitucionalizada. É o caso do empresário e morador de

Águas Claras Pablo Laine Rodrigues da Costa, que, apesar da formação teológica, prefere não ser chamado de pastor, por considerar o título carregado de religiosidade. Desapontado com a organização congregacional, Pablo assegura que mergulhou na Bíblia para encontrar seu caminho. "A construção de templos só está no Antigo Testamento, mas hoje o tempo é da graça, da comunhão. Meu ministério não tem placa; é independente, itinerante", afirma. Ele garante que sua vida cristã não deixa a desejar e que exerce seu chamado vocacional com zelo. "Evangelizo, faço aconselhamento, reuniões em meu escritório e até celebro casamentos. Passei dezoito anos de minha vida dentro de igreja e agora sei que não preciso de denominação para servir a Deus", defende.

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CAPA As decepções causadas por lí- a Deus sem cobranças, e isso revoderes despreparados também lucionou minha vida", finaliza. empurram fiéis para fora da Há dois anos, os domingos de igreja. O fotógrafo Magdiel Teo- Clotilde Silva não são mais os mesdoro, de Taguatinga, 36 anos, é mos. A agente administrativa de um desses. Decepcionado com o quarenta anos e moradora da Asa que chama de "visão mercadoló- Sul trocou os cultos e uma intensa gica da fé" e com a falta de aten- agenda de trabalhos evangelísção às necessidades dos fiéis, ele ticos por passeios com amigos e deixou a igreja que frequentara outros compromissos – bem longe por quinze anos. Nascido em lar da igreja que frequentou por uma evangélico, Magdiel adotou o estilo de vida believing without belonging (crer sem pertencer), expressão usada pela socióloga britânica Grace Davie sobre o esvaziamento das igrejas na Europa Ocidental. Vítima do que ele denomina “abuso espiritual”, o fotógrafo costuma dizer que virou um turista de igrejas. E, sem qualquer vínculo denominacional, ainda tenta curar as feridas da alma. "Nasci em lar evangélico e durante 36 anos fui ovelha de rebanhos. Dentro da igreja, servi a Deus de todo o coração, mas fui usado por pastores, verdadeiros lobos em pele de ovelhas. Não abandonei a fé; apenas não quero mais vínculos", enfatiza. Há também aqueles que con- Magdiel Teodoro, fotógrafo sideram as rotinas litúrgicas um fardo. Questionador, o em- década. O motivo para deixar a copresário e músico Hugo Souza, 28 munhão com os irmãos está numa anos, “assentou em seu coração", frase: decepção com lideranças e como diria Daniel, que não deixa- com os relacionamentos dentro da ria a Igreja; entretanto, não queria igreja. "Desilusão com os homens, um envolvimento mais intenso não com Deus", apressa-se em com a rotina dos trabalhos con- esclarecer. Clotilde diz que sengregacionais. Para ele, a cobrança te falta da escola dominical, das dos líderes e membros é exces- mensagens que preparava para siva e perversa. "Eu sentia culpa os jovens e do convívio fraternal, até em estudar. Se não estivesse mas supre a necessidade com os na igreja todos os dias, a culpa e cultos via rádio e televisão. “Não a neurose me consumiam. Igreja deixo de me alimentar da Palavra; não é trabalho para se bater pon- mas, por enquanto, não penso em to", resume. Hoje, com o apoio de voltar para dentro de uma igreja”, seu pastor, Hugo ajuda o ministé- afirma categoricamente. rio de louvor da Igreja Apostólica Já Tadeu Souza foi protagonista Amor e Graça, em Sobradinho, e de uma história sofrida que misassegura que está em paz. "Sirvo tura intrigas, calúnias e fofocas 26

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vivida dentro do ambiente eclesiástico que frequentou desde a adolescência. Mas hoje não quer nem ouvir falar em igreja. Perdeu a vontade de ler a Bíblia e de orar. Caiu no mundo, como costuma dizer. “Não tenho um coração endurecido, mas machucado. Não perdi o amor e o temor a Deus. Mas nem penso em voltar a congregar”, resume, como se quisesse apagar da mente e do coração a dolorosa experiência que teve. O pastor, músico e conferencista Nelson Bomilcar acompanha atentamente o esvaziamento de algumas igrejas. Preocupado com os crentes que vivem a fé solitária e com o futuro da instituição, ele mergulhou nesse universo. Autor do livro "Os Sem-Igreja – Buscando o caminho de esperança na experiência comunitária", Bomilcar lançou um novo olhar para o protestantismo contemporâneo. Aos fiéis solitários, alertou que a convivência entre pessoas sempre envolve riscos e decepções, mas vale a pena. Aos “igrejados”, ele propõe uma autocrítica para que a experiência comunitária não seja refém de líderes personalistas que cultivam projetos

”Não devemos deixar de congregar. A pergunta é onde e com quem. Muitos se reúnem em escolas, casas e outros locais e vivem o verdadeiro cristianismo. Outros, em templos”


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Edvaldo Alves, pastor da Assembleia de Deus de Águas Claras

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pessoais e de uma estrutura engessada, muitas vezes conduzida de forma arrogante e que não encara os desafios modernos sob a luz do Evangelho. "Não trato os sem-igreja de maneira pejorativa, pois há pessoas com perguntas muito sérias que as denominações históricas, pentecostais e neopentecostais precisam responder. Há muita gente que não quer mais seguir essa cartilha imposta por líderes que perseguem os que são capazes de pensar de modo diferente e questionar aqueles que envergonham o evangelho com seus maus testemunhos e cobranças descabidas”, ressalta. Apesar da exortação à igreja atual, Nelson Bomilcar – convertido há 38 anos, não encoraja o fiel a abrir mão da experiência comunitária. "Não devemos deixar de congregar. A pergunta é onde e com quem. Muitos se reúnem em escolas, casas e outros locais e vivem o verdadeiro cristianismo. Outros, em templos. Essa nova geração de

Nelson Bomilcar

cristãos deve buscar e insistir em um caminho de esperança para que as pessoas não abram mão dessa experiência maravilhosa comunitária, orgânica, que é ser igreja e levar o Evangelho a sério, em sua integralidade”, aconselha. O pastor da Igreja de Cristo em Brasília, Edson Gouveia, vê com preocupação a opção de crentes pela vida fora da comunidade cristã. Para ele, a igreja é instituição divino-humana, retratada como o Corpo de Cristo e formada por pessoas chamadas para viver uma vida em santificação. "Para funcionar bem, o corpo precisa estar inteiro", afirma. Na sua avaliação, vivenciar o cristianismo sem congregar é uma alternativa complicada, pois a igreja não pode ser uma simples coadjuvante na vida cristã, além do fato de que os mandamentos recíprocos e imperativos do Novo Testamento somente podem ser praticados no

Corpo. "Uma vida cristã isolada não permitirá que cumpramos as ordens de amar, levar as cargas, acolher, suportar e orar uns pelos outros, por exemplo. A obediência a esses princípios, fundamentais para a vida cristã, trará crescimento e maturidade espiritual no relacionamento do Corpo de Cristo", observa. Já o pastor da Assembleia de Deus de Águas Claras, Edvaldo Alves é enfático: "Deixar de congregar é ato de rebeldia. Aqueles que não se submetem a autoridades e preferem um caminho individual, fechando os olhos à exortação para que os cristãos 'não abandonem a congregação, como é costume de alguns', influenciam outros a cometerem o mesmo erro", assevera. Segundo o pastor assembleiano, a vida cristã fora da comunidade é resultado do individualismo, uma prática que vai na contramão dos ensinamentos bíblicos.

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CAPA A OVELHA PERDIDA O abandono definitivo do evangelho é uma decisão tomada por um número incalculável de pessoas, o que preocupa os líderes das igrejas. Basta perguntar a qualquer crente se conhece alguém “desviado”, que a resposta vem rápida como um relâmpago. E vem, inclusive, com alta dose de autocrítica ao afirmar que a igreja é o único exército do mundo cujos soldados não voltam para buscar seus feridos, caídos no campo de batalha. Mas o trabalho de muitas igrejas tem mostrado que é possível resgatar a ovelha perdida. Para o pastor Sinfronio Jardim Neto, presidente do Ministério Jesus Não Desistiu de Você, da Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte, ainda existe uma equivocada percepção dos crentes, principalmente dos líderes, de que “saiu um, Deus manda dez para o seu lugar”. Segundo o pastor, que há catorze anos atua na recuperação de afastados, 90% das igrejas não estão preocupadas em recuperar a ovelha perdida, como ensinou Jesus. “As denominações estão míopes e não têm a mesma visão e o coração cheio de compaixão pelos desgarrados. A maioria

“O cuidado pastoral é indispensável para que as pessoas se sintam amadas. Às vezes as igrejas são legalistas e exigentes, e é preciso reconhecer as falhas e buscar a ovelha desgarrada”

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+CRISTÃO FEVEREIRO / MARÇO 2013

delas não tem projeto que vise a alcançar os desviados. Não é uma missão fácil, pois muitos estão feridos e doentes espiritualmente, mas querem voltar à casa de Deus. O mais difícil mesmo é convencer as igrejas de que precisam buscar esses irmãos”, lamenta. Com livros publicados, como “Onde Está o Seu Irmão?”, e seminários e palestras ministrados no Brasil e no exterior, Jardim Neto é convidado para implantar, em igrejas de várias denominações espalhadas pelo país, o ministério A Centésima Ovelha. “Não é uma campanha que acaba em poucos dias, mas um ministério que desperta na igreja a visão que está no coração de Deus, que é a de buscar o filho perdido”, explica animado. Ele lembra que em Belo Horizonte, em doze anos de ministério, a Igreja Batista da Lagoinha conseguiu trazer de volta ao convívio da comunidade da fé cerca de quinze mil desviados. Os pastores e líderes admitem o problema, principalmente porque muitas ovelhas deixam o aprisco por falta de atenção. “O cuidado pastoral é indispensável para que as pessoas se sintam amadas. Às vezes as igrejas são legalistas e exigentes, e é preciso reconhecer as falhas e buscar a ovelha desgarrada”, afirma o pastor da Igreja de Cristo, Edson Gouveia. O pastor assembleiano Edvaldo Alves critica os líderes que não querem envolvimento com seu rebanho além do horário do “expediente” da igreja e pouco se importam com suas necessidades espirituais e mesmo materiais. “Fomos chamados para servir e cuidar do rebanho. Essa é uma responsabilidade que não pode ser negligenciada, uma vez que as necessidades das ovelhas devem ser supridas. Não desligo meu celular. Sou pastor por 24 horas, para exercer um chamado de Deus”, enfatiza.

A IGREJA DE DUAS ASAS Os pequenos grupos têm sido fortes aliados na luta pela permanência dos fiéis. O escritor cristão norte-americano Carl Hurton ouviu líderes evangélicos para seu doutorado em crescimento de igrejas, nos Estados Unidos. A pesquisa, retratada em uma de suas obras, demonstrou que os grupos eclesiásticos que ainda utilizam o sistema "tradicional" têm crescimento tímido em relação àqueles que se utilizam de células ou grupos nos lares. O pesquisador fundamenta suas conclusões nos livros de Atos e Romanos, que narram a experiência dos cristãos primitivos de congregarem em grandes reuniões e também nos lares (At 2.46 e Rm 16.5). Segundo Carl Hurton, por quase toda a existência do cristianismo, a igreja caseira foi sufocada, mas, desde a década de 1980, vem ganhando vida. A parábola da “igreja de duas asas” reforça a importância da reunião em pequenos grupos, em casa, dentro da estrutura da igreja convencional: era uma vez uma igreja de duas asas – uma, para a celebração em grupos grandes; outra, voltada à comunidade dos pequenos grupos, das asas comunitárias. Com as duas, a igreja voava alto, aproximava-se da presença de Deus e ainda sobrevoava por toda a terra, em harmonia. Certo dia, com ciúmes por não ter asas, a serpente desafiou a igreja de duas asas a voar apenas com uma. Enganada e capenga, a igreja conseguiu levantar voo, mas enfraqueceu-se e apenas plainava, sem alcançar as alturas. O criador da Igreja se entristeceu, pois seu projeto das duas asas era perfeito. Segundo Edson Gouveia, nenhuma asa é mais importante do que a outra. Com as duas, a igreja alcança grandes voos, com amadurecimento, comunhão e compartilhamento. Sem elas, a igreja


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se atrofia. "Esse era o modelo da igreja primitiva, que se reunia de casa em casa e em grandes concentrações. Com o passar do tempo, a igreja perdeu essa visão. Tivemos alguns momentos radicais, mas estamos resgatando a igreja do ‘atacado’, que são as reuniões nos templos, e a do ‘varejo’, dos pequenos grupos”, conclui animado. A Igreja Batista Nova Canaã, no Gama, adota o modelo de duas asas. Suas atividades não se restringem aos horários dos cultos dominicais, mas os fiéis se reúnem em grupos, chamados de “células”, onde compartilham, oram, estudam a Bíblia e discipulam os novos convertidos. Atualmente, a comunidade conta com setecentas células, que se encontram semanalmente nos lares, escolas, faculdades, estacionamentos, nos horários os mais diversos. Segundo o apóstolo Paulo César, a visão dos pequenos grupos não suprimiu as grandes celebrações no templo e são eficientes aliados no desafio diário de crescer espiritualmen-

Charles Colson, escritor norte-americano

te e de fazer discípulos. “Hoje, os meios de comunicação mostram uma igreja doente e difamada. Assim, quando você convida um amigo, um vizinho, eles não querem ir ao templo, mas aceitam ir a uma reunião em casa ou em outro lugar. Lá, ouvem a Palavra e, quando chegam à igreja, já estão convertidos”, comemora. "A igreja de Jesus Cristo é como a arca de Noé: o mau cheiro de dentro seria insuportável se não houvesse uma tempestade do lado de fora" (Charles Colson). A frase do escritor norte-americano, que ficou conhecido mundialmente como o ex-assessor especial do presidente Richard Nixon, envolvido no escândalo Watergate, e que o levou a cumprir sete meses de prisão, onde se converteu, é lembrada por aqueles que defendem a reunião nos templos. Para o pastor Edvaldo Alves, a equivocada ideia de que igreja é lugar de santos e imaculados ajuda a afastar os fiéis dos templos. "A igreja não é uma reunião de pes-

“A igreja de Jesus Cristo é como a arca de Noé: o mau cheiro de dentro seria insuportável se não houvesse uma tempestade do lado de fora” (Charles Colson)

soas que não erram, mas de pecadores que buscam a santidade. Ela é imperfeita e continuará sendo até a volta de Cristo. Mas ainda é o melhor lugar para se permanecer", defende. Ainda no seu entendimento, quem busca a igreja perfeita é movido pela ingenuidade do idealista ou pela conveniência de quem não quer envolvimento com o Corpo de Cristo. "A igreja é lugar de compromisso com Deus e seus eleitos, o que faz dela uma estrutura imprescindível para o crescimento cristão", observa. A mesma percepção tem o pastor Nelson Bomilcar. Em sua obra, no capítulo "Conflitos podem ser sinal de sanidade", ele argumenta que mesmo nas reuniões nas casas, em pequenos grupos, haverá desentendimentos, uma vez que elas são ajuntamento de seres humanos. "A igreja é uma comunidade de doentes, infiéis, espelha o que somos – uma sociedade de pecadores. Na igreja primitiva também havia conflitos. A grande diferença é que a graça superabundava no meio do povo, onde as pessoas se quebrantavam, confessavam seus pecados. Hoje, tenho uma esperança moderada de que é possível viver esses valores, pois o amor de muitos vai se esfriar e a fé quase desaparecer, como dizem as Escrituras, mas precisamos perseguir esse ideal", conclui. FEVEREIRO / MARÇO 2013 +CRISTÃO

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DIREITO&CIDADANIA

por Daniel Castro

As alterações da Lei Seca e a consciência

Daniel Castro é advogado criminalista e eleitoral, pedagogo e chefe da assessoria de atendimento do ganinete do Governador do Distrito Federal.

cristã

A

o findar o ano de 2012, o Poder Executivo Federal aprovou a Lei nº 12.760, de 20 de dezembro de 2012, que altera a Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código de Trânsito Brasileiro), posteriormente modificada pela Lei nº 11.705/08, à qual se deu o apelido de “Lei Seca”. As mudanças são de extrema importância, uma vez que, até antes das alterações à citada lei, sua a eficácia estava condicionada à eventual comprovação de teor álcoolico no sangue (no caso de um condutor abordado pelas autoridades de trânsito) igual ou superior a 0,6 gramas por litro; daí a necessidade de teste por meio do uso de bafômetro ou exame sanguíneo, os quais somente poderiam ser realizados por aceitação espontânea do condutor em questão. O entendimento quanto à necessidade de comprovação da quantidade de álcool no sangue foi firmado por reiteradas ações julgadas em nossa Corte Cidadã (STJ), visto que uma lacuna da própria Lei impedia sua aplicação. Ou seja, a “Lei Seca” Lei 11.705/08) não apresentava outras possibilidades de se extrair a condição imposta para se considerar que o condutor de um veículo estivesse com a capacidade psicomotora alterada. Tal alteração da capacidade psicomotora passou a ser aferida por outros meios de verificação, como teste de alcoolemia, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal e outras provas de direito admissíveis, desde que observado o direito à contraprova, conforme comando esculpido no artigo 306, § 2º da Lei 12.760/12. 30

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Outra mudança significativa – e por que não dizer inibidora? – para os motoristas que insistem em dirigir alcoolizados foi a majoração do valor da multa aplicada, que passou de R$ 957,70 para R$ 1.915,40, o que equivale a dez vezes o valor da penalidade sobre a infração considerada gravíssima. De outra sorte, a reincidência no período de doze meses passou a ser punida com multa prevista para R$ 3.830,76. O endurecimento das sanções impostas pela “Lei Seca” apenas demonstra que os motoristas não estavam dando o valor devido à gravidade de dirigir sob os efeitos do álcool e de suas consequências para a sociedade. Protegido por falhas na norma jurídica, o condutor inconsequente recorria a inúmeros subterfúgios jurídicos, dificultando aplicabilidade da Lei. A existência de inúmeras regras proibitivas e a aplicação de multas exorbitantes por si só não bastam para reduzir o número de acidentes envolvendo motoristas alcoolizados. É necessário que os motoristas entendam os riscos de dirigir sob efeito de álcool, risco esse que não ameaça somente suas vidas, mas também as de seus semelhantes. A consciência continua sendo a melhor Lei. Podemos extirpar essa chaga social que tanto envergonha nosso país, pois vivemos uma verdadeira guerra sobre rodas. O cristão tem um papel fundamental nessa luta, difundindo as concepções do reino de Deus para aqueles que insistem em viver à margem das normas instituídas. +



VIOLÊNCIA

Ninguém está a salvo “Eis que clamo: violência! Mas não sou ouvido; grito: socorro! Mas não há justiça”. Jó 19.7 por Mércia Maciel

O

s dados são alarmantes: nos últimos trinta anos, as vítimas de violência no Brasil chegam a mais de um milhão de pessoas. O levantamento é do Instituto Sangari, feito em todo o país, com informações de órgãos públicos como Ministério da Saúde, secretarias de segurança pública, cartórios e departamentos de polícia. Segundo o mapa da criminalidade desenhado pela Unesco e pelo IBGE, o Brasil ocupa a quarta posição no ranking mundial, superado apenas por Colômbia, El Salvador e Rússia. A cada ano, mais de 40 mil brasileiros perdem a vida por conta da violência, principalmente nas grandes cidades. Ou seja, os brasileiros

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correm quatro vezes mais riscos de morrer pelas mãos de bandidos. No Distrito Federal, levantamento da Secretaria de Segurança Pública aponta que a violência cresceu 22% de janeiro a setembro de 2012, em relação ao mesmo período de 2011. A insustentável situação levou o governo local a pedir a atuação da Força Nacional de Segurança no entorno da capital. Para explicar as causas desse fenômeno, especialistas em segurança pública, sociólogos e governantes têm-se desdobrado em argumentos como desestruturação familiar, desemprego, falta de políticas públicas e de perspectivas para os jovens, que acabam seduzidos pelo mundo do crime.

Engana-se quem pensa que a violência bate apenas à porta do vizinho não cristão. A Bíblia traz inúmeros exemplos de fiéis que passaram por grandes sofrimentos, como Jó, José e Paulo. Segundo o pastor da Igreja Batista do Lago Sul, João Pedro Gonçalves, a fidelidade de Deus não é garantia de que o crente não passará por aflições, dores e sofrimentos. “Não estamos imunes ao mal nem temos um escudo invisível. A violência é um o retrato deste mundo, e ela é ‘democrática’, atinge justos e injustos. Quando Deus dá ordem para que seus anjos nos protejam, isso é prova de que nem o cristão está imune”, considera o pastor batista.


Foto: divulgação

Em junho de 2012, em Magé, na Baixada Fluminense, ao sair de um culto, o pastor da Igreja Batista do Imperador, Vítor José Teixeira, 43 anos, foi abordado por criminosos que pediram um documento de identificação. Porém, antes que pudesse apresentá-lo, o pastor foi brutalmente assassinado. O crime ocorreu diante de sua esposa e de seus dois filhos adolescentes. Em luto, a família encontra forças na fé para superar o trauma. Não é tarefa fácil. A dor insiste em castigar o coração e os pensamentos de quem sofreu violência ou teve um parente assassinado. Superar a tragédia é um desafio. Segundo pesquisa feita pela Universidade Cândido

Mendes com 690 moradores do Rio de Janeiro, 40% dos que reconheceram o corpo de um familiar ou amigo, no Instituto Médico Legal, têm pesadelos noturnos e o dobro de chances de apresentar reações físicas, como dores de cabeça, diarreias e enjoos, em relação àqueles que não viram o corpo. Especialistas alertam que o estresse das perdas traumáticas pode levar à depressão e até mesmo ao suicídio. Segundo o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, da Associação de Psiquiatria de Brasília, os parentes próximos das vítimas assassinadas, principalmente pais, irmãos e amigos, desenvolvem um quadro clínico denominado “desordem de es-

tresse pós-traumático”, que vem acompanhado de ansiedade, tristeza profunda, insônia e depressão. As reações são fortes porque as pessoas são apanhadas de surpresa e têm suas vidas mudadas bruscamente. Segundo Silva, o sentimento de perda é natural, mas o luto não pode se transformar numa doença da alma que afete a vida social, profissional e emocional. “Todos esses sintomas devem passar depois de algumas semanas ou mesmo de um ou dois meses, porque temos perdas e reagimos a elas. Mas se o fato começar a perturbar a vida da pessoa, diminuindo sua capacidade produtiva e de relacionamento, é preciso intervenção de um psiFEVEREIRO / MARÇO 2013 +CRISTÃO

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VIOLÊNCIA

Foto: divulgação/ABP

quiatra. Não adianta esperar o nal, que orientação deve ser dada à O pastor e delegado da Polícia tempo passar, porque, nesse caso, esposa cristã, vítima de violência Civil de Goiás, Aristóteles Sakai o tempo pode não curar as feridas doméstica? Qual é o melhor cami- de Freitas, também defende que que ficaram”, alerta. nho: a igreja ou a delegacia? Para a esposa cristã vítima de violência Segundo o pastor da Igreja Ten- um dos mais respeitados pregado- deve denunciar a situação. Em seu da da Libertação, na região rural res do país e especialista nas áreas artigo “Até que a violência os sede Brazlândia, Jorge Cândido, os de família e formação de líderes, pare”, ele afirma que a Lei Maria que são atingidos pela violência Pr. Silmar Coelho, o silêncio não da Penha, a qual aumenta o rigor devem buscar em Deus o das punições para casos de consolo para suas vidas. agressões contra a mulher, “Jesus prometeu que não não é uma sentença pelo nos deixaria órfãos e nos fim do casamento, mas enviou o Espírito Santo, um instrumento legal que nosso Consolador, que garante dignidade às munos trará o óleo da cura. lheres e dá a elas o direito Ele é quem vai ocupar o de uma vida a dois alicerespaço que ficou vazio çada em respeito, amor e pela perda de um ente cuidado. “A mulher não querido. Esse conforto pode tolerar violência, seja espiritual nos permifísica ou moral. Ela tem te superar tribulações e direito a uma existência aflições”, assegura. Aindigna”, afirma. Ainda seda segundo o pastor, se o gundo Aristóteles Sakai, crente recebe esse consoas estatísticas mostram lo dos céus, também deque, no Brasil, 70% dos caverá ser consolador para samentos em conflito são quem vive momentos de reatados graças à capaciaflição. O pastor batista dade que a mulher tem João Pedro também vê aí de perdoar. “Ela tem uma a diferença. “O povo de natureza fantástica, que Deus tem a vantagem de se assemelha à de Deus, contar com o bálsamo que pois tem grande capacivem do alto”, afirma. dade de liberar perdão. A violência não está apeNão tenho uma posição nas nas ruas. O perigo tamextremada e acredito que bém pode estar dentro de um relacionamento encasa. Segundo a Secretaria Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira volvido em violência pode de Psiquiatria Especial de Políticas para ser restaurado, dentro dos as Mulheres, do governo federal, é a melhor saída. “Não basta ensi- princípios bíblicos. Esse pode ser o Disque 180 atende, diariamente, ná-la a orar para que o marido se um fato positivo, mas também de 1,8 mil pedidos de socorro, de todo converta. Espancamento é caso de risco, pois a esposa pode acabar o Brasil. Cerca de 80% das vítimas polícia, e não de oração”, adverte. assassinada nas mãos do marido são agredidas todos os dias ou pelo Ainda segundo Silmar Coelho, os agressor. Assim, a mulher precisa menos uma vez por semana. Além líderes das igrejas devem orien- de um acompanhamento de lídedisso, 40% delas convivem há mais tar os casais e ajudá-los a superar res espirituais, pastores e de pside dez anos com o agressor. suas crises. A preocupação do pas- cólogos que lhe deem segurança, tor metodista pode ser facilmente no momento de tomar decisão e VIOLÊNCIA CONTRA entendida pelas informações da- de restaurar seu lar, pelo poder da das por autoridades policiais – as oração”, analisa. A MULHER mulheres que resolvem deixar as Mas em briga de marido e muA mulher evangélica não está a orientações religiosas para denun- lher, deve-se meter a colher, sim, salvo dessa barbárie domiciliar. ciar seus companheiros agressores senhor! Essa percepção, no meio Não há dados estatísticos sobre a afirmam que os líderes de suas cristão, vem tomando o lugar do violência num lar cristão. Mas, afi- igrejas são omissos. velho ditado de que não se deve 34

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Foto: divulgação

dia 15 de dezembro, data da comemoração dos 181 anos da Polícia Militar de São Paulo. Durante 52 dias, igrejas de todo o país foram envolvidas nessa missão de clamar pela paz social. A duração da campanha foi inspirada no livro de Neemias, herói bíblico que liderou as famílias de Jerusalém na reconstrução dos muros de proteção da cidade. A ideia foi trazer essa experiência bíblica para os dias atuais. “Nossa profissão é como os muros da cidade, protegendo as pessoas, trabalhando para combater o crime e promovendo a paz social. Nosso objetivo é fortalecer a corporação e suas famílias, pois se a força policial estiver fragilizada e corrompida, a população estará vulnerável à violência, corrupção e injustiça”, afirmou o Suboficial e pastor capelão, Arlindo Pereira da Costa. +

intrometer nas relações matrimoniais. Como líderes espirituais, os pastores devem orientar o casal, mesmo quando há jugo desigual. Mas o que dizer à irmã agredida? Ela deve esperar no Senhor para que seu marido se converta? Deve aceitar a situação porque é submissa a ele? Deve entender que está sofrendo agressões porque Deus assim o permitiu? Na avaliação do pastor da área de família da Igreja Batista Central de Brasília, Édio Valença, os líderes das igrejas têm sido omissos ou, na hora de estender a mão para ajudar, equivocadamente abraçam a mulher agredida sem tratar do agressor, que está doente espiritualmente. “Infelizmente, nossas igrejas se perderam na questão do casamento. Quando há violência doméstica, apenas proteger a irmã agredida não vai resolver o problema; é preciso tratar o casal. Tenho que tentar resolver a situação e trabalhar com o emocional da

mulher agredida e de seu marido agressor, e não apenas consolá-la”, afirma Édio Valença. Ainda segundo o pastor batista, no meio evangélico o aconselhamento ao divórcio tem sido um caminho mais fácil. “É comum alguns pastores dizerem: ‘Não deu certo, separe-se e viva sua vida’. Eles apenas estão transferindo o problema para outra casa, outro relacionamento”, alerta. Enquanto as ruas estão cheias de homens sanguinários, um grupo de servos segue o mandamento de ser luz e sal do mundo. Há vinte anos, policiais militares evangélicos de São Paulo colocaram a farda a serviço do Reino de Deus. Nessas duas décadas, a associação PMs de Cristo presta assistência espiritual, psicológica e social aos policiais e a suas famílias. Em serviço, dão testemunho do amor de Deus. No mês de outubro passado, a associação promoveu a campanha “Ore pela sua polícia”, encerrada no último

Foto: divulgação / site Prefeitura de Rio Verde

Pastor Silmar Coelho é conferencista nas áreas de família e formação de líderes

Aristóteles Sakai de Freitas, pastor e delegado da Polícia Civil de Goiás

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CONCURSOS

Tempos de concursos por Mércia Maciel

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er o Estado como patrão é o sonho de muitos brasileiros. Em tempos de desemprego, o serviço público passou a ser visto como uma espécie de tábua de salvação. E motivos não faltam. Enquanto empresas privadas fecham vagas, o funcionalismo público abre concursos e oferece salários atraentes, estabilidade e outras vantagens que não se encontram na iniciativa privada. O termômetro para medir a motivação dos candidatos pode ser o número de inscrições em certames realizados por todo o país. Segundo o IBGE, anualmente, mais de 5 milhões de pessoas tentam uma vaga no serviço público. 36

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Desde 1988, com a Constituição Cidadã, é obrigatória a realização de concursos para o funcionalismo. O objetivo do legislador foi o de acabar com o apadrinhamento político e democratizar o acesso aos cargos públicos. Salas de cursinhos lotadas, olhos grudados no quadro negro e ouvidos atentos ao que o professor tem a dizer. Milhares de concurseiros de várias idades e de todas as partes do país se preparam para uma verdadeira batalha. Em Brasília, capital dos concursos, o técnico em informática Cláudio Bacelar, de 45 anos, é um deles. O drama do desemprego levou o brasilense a encarar os livros, em busca de um futuro

menos imprevisível para sua carreira. Ele tem razão. Enquanto na iniciativa privada a demissão pode se dar ao gosto do patrão, no serviço público a proteção ao trabalhador é maior – para perda do cargo, é necessária a abertura de um processo administrativo disciplinar, com garantia de ampla defesa ao servidor porventura acusado de algum ilícito. Mesmo com a reforma previdenciária, que acabou com a integralidade dos vencimentos, Bacelar sonha em servir ao funcionalismo público. “A gente vive aos sobressaltos. Prefiro a segurança do serviço público e as vantagens que ele proporciona”, afirma, sem se desgrudar dos livros.


Foto: Marcelo Brandt/UnB Agência

Foto: Cristiano Carvalho

É essa persistência a palavra de ordem de Isabele Bachtold, formada em relações internacionais. Para entrar no prestigiado Instituto Rio Branco, ela estuda de oito a dez horas diárias, graças ao apoio financeiro dado pelos pais. “Estou em busca de estabilidade e de realizar meu sonho de ter uma carreira no exterior. Só vou parar quando conseguir”, afirma determinada. No outro lado da moeda, a febre dos concursos é criticada por alguns especialistas da área de mercado. Economistas e administradores veem na corrida por uma vaga o enfraquecimento do setor privado, responsável pelo crescimento econômico do país. Segundo o professor do Departamento de Administração da Universidade de Brasília, Jorge Pinho, nenhum país Isabele Bachtold, estuda até 10 horas por dia para entrar no Instituto Rio Branco essencialmente capitalista, como o Brasil, desenvolve-se na estrutura do Estado, mas Mas para quem fez a escolha na iniciativa privada, geradode desenvolver a vida profisra de riquezas. Ele se preocusional no funcionalismo a tapa com a falta de motivação refa é árdua. É preciso dedicados jovens para seguir a proção e muitas horas de estudo fissão escolhida, uma vez que – uma luta que a fiscal de renmuitos preferem pular dos da do Rio de Janeiro Lia Salgabancos universitários para do conhece muito bem. Aos 38 o serviço público e encarar anos, quatro filhos, separada uma acirrada seleção, sem e com dificuldades financeidar uma chance à iniciativa ras, ela mergulhou nos livros privada. “O governo acena e apostilas e, depois de três para os jovens com carreiras anos de estudo, logrou êxipromissoras e estabilidato num dos mais disputados de. Assim, deixamos de ter concursos do país. Foi preciso engenheiros, empresários, superar o desânimo, o estrescientistas, biólogos, gente se e o fracasso em tentativas com potencial para contrifrustradas anteriormente. Debuir no desenvolvimento do pois de tantas idas e vindas, país, para termos burocratas Lia resolveu escrever um livro ruins”, alerta. Ainda segunsobre sua experiência para do o professor Jorge Pinho, a ajudar quem enfrenta essa mão pesada do governo, com maratona. “Para não engrosalta carga tributária, penaliza sar a lista dos desaprovados, é o setor empresarial, que não preciso que o candidato tenha consegue segurar aqueles foco e seja perseverante. Com com potencial empreendeuma rotina de estudos e exerdor, os quais acabam optando cícios, além de maturidade pela estabilidade do funcio- Jorge Pinho, professor do Departamento de Administração para fazer provas, ele conseda Universidade de Brasília nalismo público. guirá a sonhada vaga”, ensina. FEVEREIRO / MARÇO 2013 +CRISTÃO

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CONCURSOS

Foto: Divulgação

de 35 livros, primeiro colocado em vários concursos públicos e palestrante requisitado garante que as orientações bíblicas foram responsáveis pelo seu êxito profissional. Segundo ele, seu maior sucesso editorial foi uma forma que encontrou de compartilhar tudo o que aprendeu quando começou a passar em concursos . “Segui uma determinação bíblica de sempre ajudar alguém se você pode fazê-lo. Se eu tivesse essa influência da Bíblia, do Deus da Bíblia, e não ajudasse meu próximo, seria egoísta e preocupado apenas com meus interesses. Soaria falso em me apresentar como alguém bem-sucedido, sem dizer quem foi responsável por isso”, afirma. Entre todos os conselhos que deixa para os candidatos, um ele considera seu xodó: “Concurso não se faz para passar, mas até passar. Por isso, não desista”. +

Wilson Granjeiro, um dos maiores especialistas em concursos públicos do país

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glas, que ensina o candidato a se organizar, a aprender a estudar e a fazer provas. “Faça resumos, esquemas, gráficos, correlações, muitos exercícios e provas das principais bancas examinadoras. E lembre-se de que você precisa responder apenas ao que foi perguntado. Seja objetivo e não vá além da questão”, ensina. Evangélico, William Douglas alicerçou sua trajetória bem-sucedida na Bíblia, para ele, o melhor manual de sucesso já escrito até hoje. Sua nova obra, escrita em parceria com Rubens Teixeira, diretor da Transpetro e analista do Banco Central, “As 25 Leis Bíblicas para o Sucesso”, é uma valiosa lição de vida. Os autores, que fazem parte da Associação dos Homens de Negócios do Evangelho Pleno e dos Juristas de Cristo, citam os conselhos do sábio Salomão listados no Livro de Provérbios sobre êxito profissional, os erros das “teologias da prosperidade e do fracasso”, a importância do esforço e da dedicação ao trabalho e mais de uma centena de passagens bíblicas sobre o alcance da excelência, da cre- Willian Douglas, autor do livro Como Passar dibilidade e do sucesso. O autor em Provas e Concursos. Foto: Divulgação

O concurso público é democrático. Não escolhe raça, classe social e não se importa com aparência física, condições muitas vezes exigidas pela iniciativa privada (em alguns casos, até de forma velada). Segundo o diretor-presidente do Gran Cursos, professor Wilson Granjeiro, a aprovação depende apenas do candidato. “O concurso é um processo isonômico, que depende exclusivamente do candidato, de disciplina. Podem concorrer o pobre e o rico, o jovem e o maduro. O caminho do sucesso passa pelo estudo”, resume Granjeiro. Passar em concurso é como ficar numa fila. Pode demorar, mas chega a sua vez. Essa é uma das lições do juiz federal William Douglas, considerado o papa dos concursos. Os conselhos, dicas e incentivos de Douglas estão reunidos em seu livro, o best seller “Como Passar em Provas e Concursos”. Leitura obrigatória para quem quer vencer a acirrada concorrência, a obra é pioneira em técnicas de estudo e aprendizado e chega à sua 27ª edição com mais de 180 mil exemplares vendidos. “O livro traz tudo o que alguém precisa saber para passar em exames e nunca teve a quem perguntar”, brinca William Dou-


CRÔNICAS&CONTOS

por Zazo, o nego

O vizinho

É

tarde da noite quando Ivo interfona para sua vizinha de cima, no 402. Ninguém atende. Ao contrário, apagam-se as luzes, cessa o som de uma música eletrônica, de risadas altas e de vozes antes animadas. Não se dando por vencido, ele sobe ao quarto andar, um acima do seu. Toca a campainha, insiste. Nada. E o que antes parecia uma animada festa transforma-se em som de velório, se é que isso existe. A vizinha festeira era mais ou menos nova no prédio. Não tinha marido, mas se fazia acompanhar quase sempre por duas filhas: uma jovem; a outra adolescente. Vou chamá-la de... Valquíria, só para facilitar. A mulher ia lá pelos seus 44 anos, olhos castanhos, pele branca. Já o Ivo, sujeito da minha cor, na faixa dos “cinco ponto sete”, morava no prédio havia uns quinze anos. Já fora síndico e era do tipo “defensor da coisa certa”, do silêncio, da proteção ao patrimônio; enfim, configurava essa espécie de gente que todo condomínio quer, mas lamenta quando tem. Eis a questão: quando Valquíria foi morar no bloco, os bigodes de ambos não bateram. É que a “dona moça” e as filhas, no vira e mexe da vida, arranjavam de fazer umas bagunças, daquelas de dar nos nervos do condômino do piso inferior. O Ivo, por sua vez, estava agora sem família na cidade. A esposa arranjara uma porta de emprego maravilhosa em Recife, daquelas imperdíveis. Ele, servidor público no TRF, vivia a expectativa de conseguir uma remoção para a mesma localidade, onde planejava se aposentar e morar para o resto da vida. A coisa vinha se materializando, envolvendo acordos, negociatas, arranjos... a família já havia se mudado, e ele ficara em Brasília. Recife ia cair em seu colo, em algum momento, questão de fé. Foi nesse ínterim, de dias virando meses, que sua impaciência com a turma de cima começou a ficar mais e mais intensa. Ah, como desejava estar em Recife numa hora dessas, ouvindo só o barulho do Oceano Atlântico, e não a zoeira desse povo sem costume! Convenhamos, não era fácil. As três “criaturas da noite”, como ele dizia, várias vezes conseguiam tirá-lo do sério, por conta da barulhada que faziam. “Será que nunca viveram em apartamento?”, resmungava o ex-síndico. Numa noite, por exemplo, quando já estava lá pelo terceiro sono, acordou espantado com um estrondo vindo do 402. A impressão que teve foi de que as “criaturas” pegaram uma

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Zazo é servidor público e professor de Gramática e Oficina de Textos no Centro de Formação e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados.

pesada mesa, contaram até três e a largaram no chão, só para irritá-lo. Outras vezes, quando começava a embarcar nos doces braços da inconsciência, lá vinha aquela musiquinha de MSN, a invadir-lhe impiedosamente o sossego. Como se não bastasse, havia as conversas, das quais conseguia ouvir tudo. “A vizinhança não precisa saber da vida de vocês”, reagia em pensamento. Quando não era isso, era o “talaco, talaco, taco” de saltos femininos pra lá e pra cá, às vezes cedinho, antes das seis da manhã. “Começou o ensaio da escola de samba”, reclamava. “Por que não tiram o raio desse sapato alto??”. Porém, o pior e mais incômodo mesmo eram as festinhas. “Por que essa gentalha não usa o salão de festas? Só pode ser pão-duragem de pagar os oitenta reais exigidos pela síndica”. Por aí se tira que as diferenças entre 402 e 302 não se resolveriam numa equação simples. Chego a crer que o Ivo queria mesmo matar “só um pouquinho” aquela mulher e suas “duas bruxinhas”, como ele se referia às filhas. E naquele dia, o homem resolveu tocar o interfone. Já não seria a primeira vez, pois já acontecera de ele pedir silêncio, dizer que precisava trabalhar cedo na manhã seguinte, que já havia passado do horário de falar alto etc, etc. Talvez fosse por isso que a Valquíria fez calar todo o mundo. Apagou a luz, desligou o que estivesse funcionando e, como criança apanhada em flagrante pelo inspetor da escola, fingiu estar tudo em ordem. Talvez também por isso nem teria se arriscado a ver pelo olho mágico a imagem do “Seu Ivo” em grande angular, com a cabeça em grandeza desproporcional ao resto do corpo. Quem sabe, com o improvisado silêncio, passaria a ele uma impressão diferente... Naquela noite, o Ivo não conseguiria falar com as vizinhas, por mais que tentasse. Vencido, retornou ao 302, vestiu seu pijama, deu um bocejo e foi dormir tranquilo. Comprara tampões de silicone para os ouvidos e já nem se importava tanto com o que acontecia lá em cima. De si para si, começava a entender que seria melhor ir para Recife em paz com aquela gente, que, pensando bem, talvez nem tivesse noção do incômodo que causava. Antes de se recolher, porém, guardou na geladeira um saco de limões e laranjas que havia colhido em sua chácara, com o qual planejava apenas surpreender as pessoas do 402 e, numa atitude inusitada de sua parte, mostrar-lhes algum gesto de carinho e consideração. +


DICAS DE SAÚDE

por Elioenai Dornelles

PROMOVENDO A SAÚDE OU PREVENINDO DOENÇAS?

N

as últimas décadas tem-se buscado esclarecer o que teoricamente chamamos de saúde e que na prática é vivenciado quando estamos doentes. E para isso, saber se estamos doentes, sadios, normais ou patológicos torna-se cada vez mais necessário. Em qualquer caminho que procuremos esses entendimentos, teremos de refletir a relação da saúde e da doença com os avanços políticos, econômicos, sociais e também ambientais que têm contribuído para melhorias significativas. Um olhar que contemple todos esses aspectos pode ser percebido como um olhar para promoção da saúde. Como exemplo, destacamos que a expectativa de vida cresceu; no entanto, convivemos com profundas desigualdades no que tange à saúde e qualidade de vida dos brasileiros. No Brasil ainda lidamos com problemas como a péssima distribuição de renda, o analfabetismo e o baixo nível de escolaridade, moradia e ambiente. Em outro aspecto nos deparamos com um quadro de avanços, como redução da mortalidade infantil, aumento da expectativa de vida, acesso a água e saneamento básico, gasto em saúde, fecundidade global e aumento da alfabetização de adultos, consequência direta do Produto Nacional Bruto dos países latino-americanos. Quando tratamos o problema isoladamente, com um olhar unilateral, apenas estamos vendo a questão dentro do enfoque da prevenção da saúde. Promover a saúde da população e proporcionar qualidade de vida não são os maiores desafios; é preciso buscar, no entendimento real do que é ter saúde e qualidade de vida, a partir dos princípios orientadores de um sistema justo e igualitário, atender a alguns aspectos:

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Elioenai Dornelles é Doutor em Saúde Pública, professor Titular da UnB, Coordenador do Núcleo de Estudos em Educação, Promoção da Saúde e Projetos Inclusivos - Nesprom/ UnB e Pastor.

1 Acesso universal, proporcionando a todos, indistintamente, condições de atendimento no sistema único de saúde brasileiro como real direito preconizado na Carta Constitucional; 2 Equidade, a fim de proporcionar a todos atendimento em boas condições, com direitos a exames e tecnologias de ponta, para um acompanhamento terapêutico de qualidade inquestionável; 3 Regionalização e hierarquização do sistema, de modo a que sejam superados os obstáculos de demanda reprimida, considerando-se uma demanda social que congestiona qualquer lugar onde hoje a atenção é prestada; 4 Exercício do controle social em saúde, isto é, resgate da cidadania do usuário, provendo-se a este todos os canais de fiscalização caso ocorram situações de imperícia ou negligência por parte de profissionais ou no próprio sistema, com garantia de justiça e punições em tais ocorrências. Tais aspectos são pontos iniciais para repensar nossa prática na busca de melhores condições de vida e saúde, tendo como meta a vivência real de um sistema eficiente e eficaz, oportunizando a todos os brasileiros saúde com dignidade. +


+Música

por Zazo, o nego

Para “emepebista” nenhum botar defeito Lá Vem Ela é o segundo álbum de Carol Gualberto, um disco com onze faixas e mais uma de bônus, sendo que esta dá título ao CD. Trata-se de uma homenagem a Marcela, a primeira filha do casal Carol e Juninho. Para felicidade geral, tanto a menina quanto o álbum já vieram. A coletânea celebra a amizade, a começar pela música tema, quando diz “nome que vem do avô”, (Marcelo Gualberto, presidente da MPC no Brasil). Quem curtiu o primeiro trabalho da cantora, Das Coisas Boas da Vida, vai perceber que a peteca não caiu. Dona de um excelente contralto, Carol tem o dom de não deixar que seu trabalho fique enjoativo. A intérprete assina canções no álbum; ao mesmo tempo, não dispensa a contribuição de compositores de calibre, como Jorge Camargo, Gladir Cabral, Artur Mendes, Djalma Cyrino, Douglas Branco e Gerson Borges. Há uma deliciosa parceria entre Camargo e Cabral e duas entre Carol e Cyrino. De quebra, a participação de Lorena Chaves, na faixa 09 (Querer Te Amar), escrita por Gerson Borges. Como se não bastassem a poética e a musicalidade dos compositores, a turma do instrumental, que não abre mão de Juninho no contrabaixo, executa arranjos da mais fina sensibilidade – e o piano (Fernando Merlino) é um caso à parte. Aos interessados, a dica é acessar www.carolgualberto.com.br ou enviar e-mail para contato@carolgualberto.com.br.

Rap e evangelismo Já não é novidade que o rap é, por excelência, a linguagem de certas tribos urbanas, especialmente das que habitam as periferias ou frequentam ambientes tidos como underground. O que talvez seja novo para a maioria é que a banda brasiliense Dz6QnZ (leia-se Dezesseis Quinze) achou essa veia, e a prova está em seu primeiro CD, intitulado Do Pó Renasci. O nome do grupo é uma alusão ao texto de Marcos 16.15. E a intenção é usar o ritmo para evangelizar gente não alcançada pelo modus operandi da igreja. Produzido por DJ Régis, o primeiro álbum da banda vem materializar com perfeição a proposta. O disco foi produzido para distribuição gratuita, à semelhança dos folhetos evangelísticos. A coletânea apresenta dez faixas e inclui participações de gente já conhecida pelos amantes do rap cristão brasiliense. Do Pó Renasci é ferramenta para o evangelismo nestes tempos e já vem sendo distribuído aos que trabalham em comunidades e ambientes onde o rap fala mais forte. Interessados podem acessar www.palcomp3/Dz6Qnz, baixar as músicas e produzir as próprias mídias a serem distribuídas, tudo isso sob a bênção e a permissão do Dz6Qnz. O grupo, que prefere apresentar-se em bairros de periferia, presídios, escolas, praças públicas e hospitais, pode ser contatado pelo facebook, na página www.dezesseisquinze.com.br ou ainda pelo twitter: www.twitter.com/Dz6Qnz.

De Bianchi para os pequeninos Aos papais, mamães e departamentos infantis a boa notícia é que já se encontra disponível o CD Piquininin, de Josimar Bianchi. São treze faixas produzidas sob medida para quem ainda não chegou à pré-adolescência. Contando com a participação do coro de crianças da Igreja Metodista Central de BH e de alguns baixinhos de sobrenome Bianchi, Josimar, além de tocar violão e guitarra em todas as músicas, não economiza nos efeitos de boca (confira) e responde pelos arranjos do álbum. O disco apresenta composições inéditas, como Cantar com Alegria, Jonas e É Bom Demais. Ao mesmo tempo, traz uma bela releitura de clássicos infantis evangélicos que embalaram a infância de muitos marmanjos, como Meu Barco é pequeno, O Sabão (lava o meu rostinho...), Posso Ser Um Missionariozinho e Três Palavrinhas Só. Os arranjos dessas canções - destaque para O Sabão e Três Palavrinhas - revelam sensibilidade e brasilidade capazes de prender qualquer apreciador de boa música, criança ou não. Piquininin traz uma rara e necessária presença do tom de voz masculino em um trabalho musical dirigido especificamente à gurizada. Bianchi pode ser encontrado no www.facebook.com/josimarbianchi, no site www.josimarbianchi.com ou pelo e-mail falecom@josimarbianchi.com. 41

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LITERATURA

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Novos ares no mercado editorial

O crescimento da literatura evangélica por Mércia Maciel fotos Divulgação

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ocê já leu um livro hoje? A resposta pode ser negativa para boa parte da população brasileira, mas quando se trata do segmento evangélico, uma boa notícia: segundo a terceira edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, realizada pelo Instituto Pró-Livros (IPL) e divulgada em março de 2012, os evangélicos leem duas vezes mais do que a população em geral. Não é difícil observar esse fenômeno – livros evangélicos estão em prateleiras

até de supermercados e em bancas de jornal, em espaços garantidos para títulos dedicados à vida cristã, crescimento espiritual e família, por exemplo. O segmento evangélico aparece bem na foto. Enquanto o brasileiro, em geral, lê em média quatro livros por ano, e apenas metade da população pode ser considerada leitora, a cada dia aumenta o número daqueles que dedicam seu tempo aos livros evangélicos. De acordo com a pesquisa do IPL, a leitura é incentivada, principal-

mente, pela presença da Bíblia nos lares cristãos, também o livro mais lido pelos brasileiros. A 22ª Bienal Internacional do Livro, realizada em agosto passado, em São Paulo, também mostrou a força das editoras cristãs, com títulos que disputaram espaços com obras seculares. O crescimento da população evangélica, que hoje soma mais de 40 milhões de brasileiros, segundo o IBGE, e o aumento do poder de compra da classe “C” ajudam a explicar o aquecimento do mercado editorial cristão. FEVEREIRO / MARÇO 2013 +CRISTÃO

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LITERATURA

Foto: Getúliio Camargo

Sinval Filho, Diretor Executivo da Associação dos Editores Cristãos (ASEC) 44

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lidando, com crescimento de 25% ao ano. “Certamente, o mercado editorial evangélico é mais robusto. Esse ramo passa por transformações que incluem a entrada de novas editoras e parcerias com grupos internacionais”, observa. O diretor da Asec informou que a associação está em campo e deve divulgar, nos próximos meses, uma pesquisa (feita apenas com o segmento evangélico) que vai traçar um perfil fiel do leitor cristão no Brasil. “Temos um universo inexplorado e vamos tirar essa prova. Não tenho dúvida de que o mapa da leitura evangélica vai ser bem maior”, resume Sinval, confiante. E para atender a essa demanda em expansão, o mercado editorial evangélico vem passando por transformações, como a parceria com grupos internacionais. “Essa é uma tendência que vai se consolidar nos próximos anos. Editoras dos Estados Unidos e países da Europa, por exemplo, estão interessadas no nosso mercado e temos demanda para elas”, complementa. Há sete anos, quando se converteu, os livros evangélicos passaram a ser companheiros inseparáveis de Flávia Paiva, da Igreja Batista Nova Canaã, no Gama. “Eu queria conhecer mais de Deus, e essa sede me levou à leitura diária da Bíblia e de livros que fortalecessem a minha fé”, relata. Já o pastor da Missão Por Fogo, Milton Emídio, é um devorador de livros evangélicos – pelo menos um exemplar por semana. Há quinze anos, a televisão foi abolida de sua casa, e a telinha deu lugar a uma verdadeira biblioteca cristã. Milton confessa que, no início, os livros não o atraíam. “Na escola e na família, não somos ensinados a ler. Mas é preciso romper essa barreira e começar a redescobrir a leitura”, explica. O que não aprendeu na escola o pastor ensina a seus filhos. “Desde pequenos, eles

“A leitura de livros, paralela à Biblia, contribui para o crescimento espiritual do cristão”

Foto: Divulgação

Segundo o gerente editorial da Central Gospel, Pr. Gilmar Vieira Chaves, a pesquisa do Instituto Pró-Livros mostra que a imagem do povo evangélico mudou. “No passado, a igreja evangélica estava ligada a pouco conhecimento e ao desinteresse pelas questões intelectuais. Esse novo retrato tem tudo a ver com o trabalho feito pelas lideranças de nossas igrejas e pelas editoras, que estão procurando municiar o mercado com literatura de qualidade”, afirma animado. Segundo a Câmara Brasileira de Livros (CBL), o segmento de títulos evangélicos respondeu por 14,7% no índice de faturamento do mercado, em 2011, o que representou um faturamento de R$ 479 milhões. As vendas em 2012 foram superiores a R$ 548 milhões, um crescimento de 14,4%. Entretanto, para o diretor executivo da Associação dos Editores Cristãos (Asec) e diretor da Flic – Feira Literária Internacional Cristã, Sinval Filho, esse número é ainda maior, uma vez que o levantamento do Instituto Pró-Livros incluiu apenas dez editoras evangélicas, num universo de mais de 120 existentes no Brasil. Segundo Sinval, o segmento evangélico vem se conso-

Flávia Paiva, da Igreja Batista Nova Canaã, no Gama.

já leem e aprendem a valorizar uma boa literatura. Na verdade, ao amar a Bíblia e a dedicar tempo à leitura de livros cristãos, estamos incutindo em suas mentes a Palavra de Deus, para que, quando crescerem, não se desviem dos caminhos do Senhor. Os pais e as igrejas precisam incentivar essa saudável prática”, aconselha. Quem também não se desgruda dos livros é o radialista e locutor Evandro Brant, da Igreja Presbiteriana Nacional. Dono de uma voz firme, ele costuma trocar o som das palavras pela companhia silenciosa da leitura. São pelo menos duas obras por mês de autores como Charles Spurgeon, A.W. Pink e Josh McDowell. Para obter um entendimento mais claro do conteúdo, costuma lê-las duas vezes. Para Brant, a leitura de livros,


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lão e estão lançando títulos para alcançar o segmento. “Excelentes autores cristãos brasileiros estão aparecendo no cenário e conquistando espaço. O crescimento da literatura nacional não acontece da noite para o dia, mas já demos os primeiros passos”, destaca o diretor editorial da Central Gospel, que a partir deste ano vai dedicar cerca de 30% de seus títulos para os autores brasileiros. De acordo com a pesquisa realizada pelo Pró-Livros, incentivados pela leitura bíblica, os evangélicos procuram títulos que tragam edificação em termos de vida espiritual. Pelo levantamento, a Bíblia Sagrada aparece em primeiro lugar entre os gêneros religiosos. Dados das editoras cristãs apontam que os títulos mais procurados são os devocionais e os voltados ao crescimento cristão e às mulheres. Aliadas à leitura da Bíblia, essas obras contribuem para o amadurecimento espiritual. Segundo o Pr. Gilmar Vieira Chaves, os livros cristãos são fundamentais para ajudar a compreensão do estudioso das Escrituras

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paralela à Bíblia, contribui para o crescimento espiritual do cristão, prática incentivada pela liderança de sua igreja. “São obras de autores que seguem a linha de interpretação gramático-histórica da Bíblia. Isso faz toda a diferença, porque, ao abordar um tema bíblico qualquer, o autor fará sua hermenêutica baseado no princípio de interpretação da Escritura pela Escritura, ou seja, sem o uso de alegorias e/ou pressupostos pessoais, pois esse método considera que a Bíblia é autoridade final e máxima sobre todas as questões da vida”, analisa o ávido consumidor de livros. Justamente para pessoas como Flávia, Milton e Evandro que o mercado editorial evangélico tem se preocupado em produzir obras cristãs de qualidade literária. Hoje, boa parte dos exemplares consumidos no Brasil é de autores estrangeiros. Entretanto as editoras já estão expandindo seus horizontes, com o incentivo à produção nacional. O mercado é tão promissor que até mesmo as grandes editoras seculares já identificaram esse fi-

Evandro Brant, radialista e locutor

Sagradas, aumentar seu conhecimento bíblico e fortalecer a fé cristã. “A medida do crescimento será sempre proporcional ao acesso à leitura, com a Bíblia em primeiro plano. Essa literatura também vai fornecer ferramentas para que ele [o estudioso] interprete corretamente as Escrituras e, assim, faça uma leitura que vai promover crescimento espiritual efetivo. Tal leitura vai situá-lo como evangélico e uma pessoa comprometida com Deus. E isso vai promover o crescimento da igreja evangélica brasileira”, conclui. A boa literatura cristã, com o trabalho criterioso das editoras – na escolha dos títulos e autores – é investimento com retorno certo. E aí? Vamos ler um livro hoje? +

Gêneros que costumam ler Bíblia Livros didáticos Romance Livros religiosos Contos Literatura infantil Poesia Histórias em quadrinhos Auto-ajuda Literatura juvenil

42% 32% 31% 30% 23% 22% 20% 19% 12% 11%

Base: Leitor em 2011 - 88,2 milhões / Fonte: Retrato de leitura no Brasil - nov/2011 - Ibope Inteligência/Instituto Pró-livro Resultado baseado na pergunta: Quais destes tipos de livros você costuma ler? (P.35A)

Milton Emídio, pastor da igreja Missão Por Fogo FEVEREIRO / MARÇO 2013 +CRISTÃO

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ESPORTE

por Júnior Sipauba

Tempo é saúde “Q

uando tenho liberdade interna para me limitar, não preciso ficar irritado porque aquela pessoa espera demais de mim. Ela pode esperar de mim o que quiser. Mas até que ponto posso atendê-la e satisfazê-la, é responsabilidade minha. Eu posso dizer ‘não’, sem ter nada contra aquela pessoa. Se ela tiver alguma coisa contra mim, preciso aguentar isso e espero que ela igualmente aprenda a lidar bem com os próprios limites. A experiência do limite que teve comigo talvez lhe seja benéfica. Quando eu, nessa liberdade, tomo um tempo para mim e dedico tempo a alguém, não sinto a pressão do tempo” (Anselm Grün – Monge beneditino). Aprender os limites internos é um grande desafio para as nossas vidas, tão cheias de sons, demandas, compromissos, cores, pessoas, expectativas, sonhos etc. Para aqueles que ocupam funções que inspiram grandes expectativas e responsabilidades, o problema é bem mais grave, pois tais pessoas afirmam com regularidade não possuírem tempo para uma prática esportiva, uma dieta saudável e para tudo o que faz bem. Algo que precisa ficar bem explicado é o fato de a pessoa ter o direito de zelar pelo seu tempo. Caso contrário, pertenceríamos a qualquer um que quisesse alguma coisa de nossa parte, não nos restando tempo algum. Os outros disporiam de nosso tempo, que estaria todo perdido. Há um mito com respeito aos “ocupados”: as pessoas acreditam que eles estejam disponíveis a todo momento, prontos para qualquer parada, “ligados” o tempo todo. A vida somente é harmônica quando encontramos uma boa relação entre o dar e o receber. Quando tomo da minha disponibilidade temporal para os outros, dou-lhes algo da minha energia, da minha cronologia, da minha dedicação e da minha alma. A grande questão é que para poder doar, eu preciso também ser capaz de tomar para mim aquilo de que também necessito. 46

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Junior Sipauba é pastor presbiteriano, mestre em Aconselhamento, matemático, Licenciado em Ciências e faixa-preta pela Conferedação Brasileira de Taekwondo.

Limitar-se internamente é ter a certeza de que o tempo existe. Nesse caso é necessário dedicar parte dele para praticar um esporte, fazer uma caminhada, conversar com amigos, ouvir uma boa música, assistir a uma comédia e – por que não? – ficar à toa. É Deus quem nos presenteia com esse tempo, pois ele, o Senhor, é bondoso e entende as nossas limitações – “Pois ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó. Quanto ao homem, os seus dias são como a relva; como a flor do campo, assim ele floresce; pois, soprando nela o vento, desaparece...” (Salmos 103.1415). A Bíblia nos exorta: “Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disso passar vem do maligno” (Mateus 5.37). No caso da prática de um esporte, é importante encontrar uma atividade física que desperte seu interesse, e não encará-la como mais um sacrifício para emagrecer. Há que se sentir motivação em face da satisfação proporcionada pela atividade em si. O filósofo Joseph Pieper, citado por Grün, tentou traduzir para o nosso tempo a sabedoria da Antiguidade e da Idade Média: “O lazer, portanto, é mais do que um tempo que reservo para mim mesmo. Supõe uma atitude interna. É a atitude de dizer ‘sim’ ao ser. É a fé de que o ser é bom. Em última análise, o lazer supõe o amor, o amor a tudo o que existe”. Blaise Pascal, o matemático e filósofo francês (esse pessoal da matemática é demais!), vê a capacidade da autodedicação de um tempo como a condição para alguém tornar-se feliz: “Falar a uma pessoa que deve descansar significa dizer-lhe que tem de viver feliz”. Ninguém pode viver feliz sem ser capaz de parar, de dedicar um tempo para a recreação da alma. Vamos aprender a dizer o “sim” e o “não” com a mesma intensidade de coração e alma. E que cada um de nós possa zelar pelo seu tempo. Não entre num esquema que vá matar sua qualidade de vida e apagar sua capacidade de saborear os dias. Não seria essa a verdadeira definição de lazer? +



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