Caminho2

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L.Butterfly

HipotéticoAmor Amor Hipotético poesias

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L.Butterfly

HipotéticoAmor Amor Hipotético poesias

projeto e desenhos Márcio Koprowski

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Há sete anos eu vivia com um homem. Ele foi embora. Para sempre. Pouco depois, minha amiga Cathy encontrou um desconhecido num bar. Ela achou que ele me agradaria. Pediu seu endereço e me deu de presente, proporcionando-me assim um dos episódios mais romanescos de minha vida. A esse estranho providencial.

Sophie Calle



Introdução Na brincadeira do pseudônimo, onde o som da letra L remete ao pronome femenino elle, que em francês quer dizer ELA, seria então... ela. borboleta… feminino, símbolo de transformação, metamorfose, ciclo de vida. L.Butterfly é o pseudônimo adotado por mim, Vera Briones, na minha escrita. De resto, o desejo de passar de um ponto ao outro, da forma à cor, da substância à insubstância, do duro ao macio, do sólido ao líquido, como se fosse um peito nutriente, redondo, túrgico, convexo e suculento, com curvas perfeitas e pele de seda, do qual podemos retirar o segredo de ver e sentir. Vera Briones 26 de janeiro de 1946 Rio de Janeiro L.Butterfly 26 de janeiro de 2014 Cunha



Sumário Então Tá

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Estado Alterado

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Fractais

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Gaivota

16

Hipotético Amor

18

Homem-Criança

19

O Inesperado

20

Jasmim-de-Cheiro

21

Je ne suis pas à Paris

22

Katika

23

Lados do Quadrado

24

Lança Perfume

25

Linhas Imaginárias

26

Longa Estrada

27

Maria

28

Menino

29

Minha Paz

30

MixVibes

31

Mundo

33

Nada Volta ao mesmo Lugar

34

O Que Quer Uma Mulher

35

Obra de Arte

38

Olhos

39

Para Viagem

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Pérola

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Pés no Chão

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Planta Plantada

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Poema 1

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Poesia em S

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Então Tá I deixa te dizer que agora é minha hora vou indo melhor partir agora que ficar melhor em lembrança pois se fico tudo acaba que a vista guarde o suave mais tarde será tarde como música indo e vindo do meio de tanta papelada do mar carinhoso ressurge abrindo espaço para um sorriso é disso que alma se nutre só por isso terá sido protegido o nosso mundo privado então tá, vou indo quem sabe outro dia em outro lugar na vida que por ventura retorne sabe-se lá um encontro se dê mais cedo e quem sabe sabe-se lá o que pode acontecer se isso fosse verdade iriamos nos reconhecer II então tá tem feijoada hoje no Bola prá São Jorge não vai dar prá mim, hoje não orixás, cavalo e lua tudo no mesmo lugar não sou filha de Iemanjá meu santo é forte corre e morre pregado com prego de aço escovado tá sempre me esperando no mesmo lugar diz sem dó nem piedade

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filha, vem cá fica junto que tô velho e só vejo bem de perto se você volteia te perco e nem Jorge consegue te alcançar fica quieta e espera um dia a ternura há-de voltar que você não nasceu prá ser Inês nem vingar na fonte dos Amores nem Rainha dos Açores aprende a esperar toda colheita é boa dando frutos à mão cheia e se assim é tua trilha que seja então infinita posto que todo afeto germina então tá os fogos soam alto lá pelos lados de Quintino Jorge, espantado, pelos filhos desejado em pedidos honrado derrama bençãos até o Encantado se nada foge à memória que viva se alastra qual fogo na palha seca é dificil a escolha sendo pegar ou largar levanta a âncora singra ao mar galopa pelos arredores da cidade maravilha tanto tempo disperso tanto minuto esgotado tanto de tudo perdido vida esparramada resta seguir em frente

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qual festa, vista pela fresta da janela do sobrado, plantado no meio da Floresta da Tijuca ficam os trapos de andarilho para cobrir retratos que nada dizem a não ser bons momentos estes espargidos pelos dedos do santo sobre seus fiés de vermelho encarnado veste-se guerreiro das lutas perdidas vence sempre com ou sem espada empurrando a vida um passo adiante então tá, vou indo o trem da Central, mais uma vez atrasado, me deixa em farrapos me desterraram daqui tão cedo que nem Cristo e dói ir embora e dói ficar e dói dor sem cura alma lusa acena de Sagres empurrando-me aos Tupinambás queria-me francesa ao menos a alma assim estaria ilesa sem manchas escuras indicando as dores da nascitura quimera de corpo híbrido cabra serpente dragão são tantas as vidas em só uma são tantas as faces da mesma figura imolando a criatura que ao fim e ao cabo abandonada à ossada Catrina de olhos pregados na lua esperando o milagre de tudo proscrever então tá, te espero no largo do Boticário tenho pronto o ensopadinho aromático para servir-te sobre nacos de pão lambuzando dedos pelo bombocado fica feliz mais um dia e guarda no coração sem foto ou carta

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que vivência não precisa de lembrança e rememoração é carne viva adicionada pedaço à pedaço então tá

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Estado Alterado pequeno dicionário ilustrado de um estado alterado permanente intenso não é tenso sensibilidade para mim é algo além quando quando quando quando quando

eu digo gosto = eu amo eu digo eu amo = é uma paixão eu digo é uma paixão = estou em outro mundo eu digo não gosto = quero vomitar digo quero vomitar = vou enlouquecer

intenso e modulação são termos que fazem sentido apenas se as palavras se correspondem meu vermelho é mesmo mais vivo meu azul é mesmo mais azul o som é mesmo mais especial tudo reverbera em intensidade distinta para mim e isso tudo é dentro de mim e a ansiedade … transtorna ... até transbordar num esforço brutal a harmonia que não existe dentro é transposta em assimetrias, sintonias composições de pesos visuais em equilíbrio formam um estilo, mas pânico é sempre terror ... overreacting é meu estado normal e a música é a única arte de verdade é pura matemática ........................

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Fractais no mundo que se oferece entre grão e farinha sal, pedra, planta, animal tudo povoa a terra e o ar olhos largos profundos do negro ao âmbar estrelas ao norte estrelas ao sul cada hemisfério uma constelação na abóbada sem dono e patrão faça o que quizer - faça o que bem entender - faça desse lugar um cais uma morada provisória - uma morada transitória - entre uma noite e um dia faça o que quizer - faça o que bem entender - não faça nada do caos sempre brota o mundo em infinitesimais fractais

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Gaivota as vezes eu só queria mais nada que acreditar no santo milagreiro fazer as milhares de promessas, subir as escadas de joelhos e acreditar eu só queria queria só esse basta esse simples sem água e mar, queria a seca da terra rachada queria descansar à sombra de um cajueiro arrastando os pés bem devagar morar no meio do sertão e me alimentar de calango e folha de laranjeira queria a cova rasa indiferente de que gente está lá queria me desfazer que nem poeira queria me sentir mais gente sem essa identificação com bicho que voa sem querer ser gaivota plena no ar que essa essa me encanta me adormece a visão quando mergulha que nem agulha na densidade de um mar tem olhos de gavião bico de serpente e voa voa voa absolutamente livre na sua condição vai pros abrolhos, grasna, gorjeia, faz barulho, grita e esperneia tem filhotes alimenta e eles se vão

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voam em formação dão voltas seguem barcos param aqui e nas ilhas estão em qualquer lugar na primavera acasalam, vivem em monogamia, comem peixes e comem lixo o corpo é branco as penas são algo de fabuloso passando pelo cinza até o negro, os olhos pequeninos quando as asas se abrem o corpo se multiplica, se ergue como uma aparição do pequeno porte surge em dobro num planado vôo de rotas determinadas sem esmo o instinto as guiam em forma de cunha pelo azul celeste rumo ao destino é tão simples ser assim nada mais se põe nem promessa nem vício é tão breve depois o corpo vem dar à praia e é só isso

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Hipotético Amor quando você chegar vou beijar sua boca até fartar quando vc ... quando vc ... quando vc ... quando você partir vou dizer …... seja feliz porque amor, meu amor, não sonega nada

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Homem-Criança centauro, este homem metade homem metade criança dizendo-se nascer em privilégio de ser homem mostra-se por inteiro ingênuo como no estado primeiro sentimentos em flor, sentimentos verdadeiros desconhecidos de nós, imperatrizes do mundo veloz se em malícia se escondem se em dureza ou destreza é de nós que fogem, de nossos olhos que tudo desvendam despindo-os de suas certezas se fogem das ciladas que imprudentemente lhes armamos nós, imperatizes do sonho é que nós, vorazes, os consumimos em nome de fazê-los reis com nossa proposta de um amor cortês cavaleiros sem espadas em total submissão, dedicados vassalos à suas damas quere-mo-lhes ajoelhados aos pés, senhora, suplicantes até por fim em amante transfromá-los nessa progressão de estados de um amor adúltero exigido por este que nossos nomes sejam substituídos na palavra-senha no pseudônimo poético que a chave é a amada sempre distante, admirável compêndio de perfeições físicas e morais encerrado-os neste estado amoroso espécie de estado que enobrece a nós que o praticamos rende-se, assim, nosso homem-criança em vassalagem à sua senhora transformando os dois em anjos imaculada pureza de sensações em lendas compostas a duas mãos repletas de sentimentos honrados rendemos tributo a esses castos humanos cândida essência de homens-criança

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O Inesperado assombra-nos como ruído de árvores à beira-mar assola-nos como vampiros sedentos corroe-nos como vírus invisíveis destroe-nos como fogo no cerrado assusta-nos como um grito o inesperado deixa-nos transtornados deixa-nos desnorteados deixa-nos espantados como se a vida fosse uma sucessão de fenômenos conhecidos, previsíveis quando a vida não passa de um inesperado fenômeno

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Jasmim-de-Cheiro calavera tal vez este es el último tiempo donde se deja cubierto que la naturaleza le dará nueva vestimenta caveira talvez esta seja a última vez a qual é deixado a descoberto que a natureza te dará roupas novas um belo pé de jasmim plantado ao lado da sacada do sobrado regado pela chuva macia da tarde de primavera deixando enebriados narizes apaixonados um pé sinuoso elegantemente correndo pelo lado da parede despencando maços de florzinhas brancas um jasmim do cabo ou estrela jasmim italiano jasmim do imperador ou quem sabe apenas um jasmim-de-cheiro

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Je ne suis pas à Paris não, não estou em Paris estou aqui, a nuvem fina cobre a cidade de cinza a luminosidade do inverno da cidade luz não clareia nem minhas idéias nem minhas mentiras fico envolta no desconforto, minto para mim quem sabe em abril, primavera de todas as estações estarei num avião sobrevoando campos que parecem pequenos retalhos de cetim não, não haverá mais nenhuma primavera sem o efêmero abril contraposto num febril setembro que se desfolhou sem uma folha vermelha sequer não, não estou em Paris, e desta vez não minto estou aqui, como uma borboleta espetada no alfinete somente a mente … quem diria … vagueia entre campos cobertos de alfazema mas talvez afinal, as primaveras se repetem sempre em novas primaveras não, não … pardon, je ne suis pas à Paris

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Katika katika é a letra um codinome qualquer para esta escrita escondida porque eu vejo fantasmas formas estranhas sinto cheiros vejo coisas não digo prá ninguém e porque diria? não vão me acreditar mesmo vejo coisas vejo as coisas ... auras ... vibrações .... mil cores vejo isso e levito mas porque eu diria isso? não me acreditam os olhos não mentem os olhos blindados para a proteção pessoal contra fantasmas não mentem jamais

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Lados do Quadrado e que importa o nome que cerceia uma individualidade, um devaneio o que importa, afinal, que se lhe determine um destino se o destino nosso é encontrar algo sem nome em imagens intraduzíveis uma geometria esquisita sacrifica o círculo entre quatro linhas a medula se estreita configurando num ponto essencial o meio mesmo que torto e desvirtuado o que nos espreita está exatamente na confluência da vida com a morte num equilíbrio perfeito entre ser e nada ser há sempre um movimento um processo em andamento sem nome, sem destino, à esmo num cálculo aproximado entre prudência e desatino reveste a nudez a hora se aproxima, a que gera o mortal sobrepassado pelo que antecede qualquer experiência nesse queira ou não queira misterioso mistério obscuro fenômeno a sombra aponta sempre para o sol o carbono do corpo é simplesmente carbono no fundo tudo é mundo tudo dança em círculos emoldurados pelos mil lados do quadrado

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Lança Perfume sol deposto água e água do céu invisível circunvolução dos rítmos da terra como flexões sinuosas do meu córtex cerebral mais água e água com sal chacoalhar chorar maremoto no mar particular água com iodo Atlântico e Pacífico Adriático mar Morto Mediterrâneo meridiano axial paralelo ao coração simetrias noite e dia água quente e fria morno éter evapora no lança perfume

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Linhas Imaginárias linhas imaginárias estão nas tuas mãos estão nos teus pés traçam meridianos dividem teu corpo e se o fazem assim são coisa imaginária, convenção que linhas não as há recortando o contínuo como nome dividindo Oriente e Ocidente em nenhuma natureza, seja esta ou em dimensões que se sobrepõem que não há mal na imaginação, desde que dela não se apegue como verdade contundente mais bem faz aos números entender se de reduções esperas as respostas estas não as há se mares separam continentes, sendo tu a ponte que espera por lançamento sem mais delongas, faz-te presente espera-se que tu só tu transponhas as linhas tu somente tu deixando-te estar no escuro sem nada perguntar faz-te ponte ao menos em parte que sabes ser tão único quanto qualquer sol nascente e mesmo assim, sabes tão bem ao fim perderás tua existência e se te parece penosa e perigosa essa exigência percebes que somente assim eis o que és verdadeiramente tu somente tu reconheces a tua essência na ponte que adentra o teu continente

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Longa Estrada qual o hino de recriação? se cada grão de areia que voa forma a duna seguinte? a longa estrada passa pelos Miura, contidos em rebanhos, tão negros, olhos esgazeados, como corsas, aguardam o desfecho da Plaza de Touros. passa pelos campos da Espanha cobertos de vinhedos. passa pelo deserto monumental onde cobras comem ratos que roem cactus de onde jorra água que mata a sede da cobra e do rato. passa pelas castanheiras e pessegueiros do Algarve, passa pelo centro da Estrela derretida na neve da serra. passa pelo sargaço de Nazaré, pelo pinheiral que espeta o pé no Cabedelo, passa pela pequena Ilha da Madeira, pelo Canyon que corta a terra ao meio, tornando tudo menor que um grão de sal. passa por Fiordes imensos, gelados ao sol, passa pela montanha mais alta, debruçada no Pacífico, de onde o condor se lança para o infinito. passa pelo Manguezal do guaiamum, da garça e do siri. passa pela praia cujo nome esqueci.

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Maria maria mulher para se amar maria nome nada singular maria não é composto é simples para se amar maria não vai com as outras anda só sem nada para resgatar livre com asas emprestadas o riso segreda o que não quer pensar maria vê tudo com olhos de primeira vez e não cansa de olhar se lua chega cheia esvazia o coração deixa para trás as coisas que a fazem maria a cada dia se refaz como folha tenra em talo se desdobra sem parar que essa é a vida de qualquer maria mulher para se amar

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Menino não se assuste pelo que não sabe você nunca vai saber tudo mas você será um velho sábio como um menino você caminha no caminho perfeito concentrado no seu momento sem perder por um segundo a brisa que move a folha o tijolo que cresce em parede a estrada isso isso isso isso

é é é é

ser ser ser ser

menino sereno manso um homem

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Minha Paz as musas chegam às tres da madrugada acordo sobressaltada a algazarra é tanta que os gatos mudam de quarto subo e desço as escadas procurando os papéis começo, então, com cada uma de um lado escrevo o que me é ditado ordeadamente fala cada uma de uma vez peço encarecidamente que sejam breves nada de poemas longos cheios de choramingas melosos, ditosos até o fim ou daqueles que em hieróglifos serpenteiam pelo papel meus olhos quase fechados sonham com teus braços estendidos, esperando que minha cabeça sobre eles lentamente repouse e enfim descanse dormindo em teu corpo mesmo que por um mísero segundo que só aí minha paz se faz o dia nasce vão-se embora as musas rapidamente rindo-se de mim

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MixVibes vou colar uma foto na parede vou colar um sol brilhante vou colar céu azul nuvens imensas gaivotas no ar vou colar prá não esquecer vou colar prá não enlouquecer será que eu já vi um dragão será que eu já vi um leão será vou ter que colar na parede, nem que seja um desenho vou colar tudo na parede minha vida inteira é capaz de caber da mesa à cabiceira vou colar com cola polar, vou usar durex prego e tachinha que nem menina escolar parede vira papel papel de parede vou rabiscar escrivinhar prá não esquecer vou colar uma foto do amor vou colar a foto do meu amor vou colar o que sobrou, vou desenhar em cima, encher de flor, esconder o que desmanchou vou colar letras encarnadas sobre cada ossada vou dar asas à minha inspiração vou colar poema, colar teorema, colar esquema vou colar no poste da esquina vou colar na encruzulhada vou colar na calçada vou colar o mapa, a letra da música, a letra sem rima, o estribilho repetido até fartar vou encher de gravetos, tocar fogo, sinalizar vou tocar a campainha, vou tocar o ring fone

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vou tocar como despertador até o sol desmaiar vou gritar, vou suar só não vou chorar prá cola não desmanchar vou deixar minha vida colada na parede vou deixar minha vida estendida no chão como tapete vou deixar minha vida registrada no facebook como qualquer cristão vou colar minha risada, que essa vida não vale nada vou colar meu ouvido no iTunes é lá, em onda média ou curta ou longa que estou girando no zigzag da picup do diskc jockey que só isso vale a pena, mixagem de mp3 quero minha vida editada se o resultado não for o esperado vou mixar tudo outra vez e nem me importo se o final é artificial ou igual, com MixVibes … fica perfeito

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Mundo a ventania carrega galhos secos folhas enchem o chĂŁo a chuva vem forte quase selvagem em um segundo o cĂŠu cinza despenca a luz apaga de volta a um estado primitivo velas luzem pela sala o silĂŞncio, interrompido apenas pelo zunido do vento assusta cĂŁes e gatos pelos fios nĂŁo passa nada o mundo fica desconectado e indiferente meia hora, uma hora, um pouco mais duas horas talvez num repente a chuva cessa brilha entre nuvens distantes uma estrela a luz acende e velas apagadas deixam um rastro no ar o mundo volta pelo fio fino numa corrente

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Nada Volta ao mesmo Lugar imóvel sobre o viaduto como cão imolado o que está vivo é enterrado baratas vão e vem comem o resto que sobrou um esqueleto é posto à prova prova assim que está morto o coração cansado já nem bate nem sente

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O Que Quer Uma Mulher o que quer uma mulher ? … foi Freud quem perguntou, e eu, eu daqui da minha insignificância respondo: sonata para uma grande mulher ... sim, é isso, meu caro e queridíssimo Freud, o que toda mulher quer que de grande quer ser apenas uma mulher e o que uma mulher quer é ser uma sonata de amor, se possível, com carinho com mimo, mimo de primavera com doçura, pão de mel com gostar, mas de mansinho com todo o cuidado que um macho sabe dar para quem é impar porque meu queridíssimo Freud uma mulher quer e quer com certeza é ser única e primeira, verdadeira mesmo depois que seu par, seu eleito, seu escolhido, seu querido já tenha vivido a vida de um marinheiro o que uma mulher quer é ser tão companheira que nenhuma traiçoeira escrita a venha desabonar o que uma mulher quer é ser aquela, a bem amada, como de Beethoven a inspirada quer ser a jóia do seu Taj Mahal quer ser tão simples e pequena como o botão de sua camisa tão miúda e inperceptível, que de vidro ou cristal, não se possa pisar sem estraçalhar meu amado Freud, uma mulher é feita do sonho de quem a sonha é feita do desejo de quem a deseja é escondida e reservada para aquele que a sabe de cor é como uma escrita que não pode ser apagada é como um rabisco na placa que indica a estrada é como um pingo de chuva que amansa a relva dourada

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é assim uma mulher um ser como outro qualquer que da sua brutal especificidade é exatamente igual a qualquer outra mulher e o que quer essa mulher é ser apenas respeitada - na sua total identidade - na sua absoluta integridade qualquer qualquer mulher e se você não percebeu, Mestre Prezado é porque você sequer viu algo além do seu próprio retrato

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Obra de Arte

o sonho era, portanto, somente o dia de novas noites, mas também era a noite estrelada e misteriosa de nossos dias

Milorad Pavitch

Através dessa duplicidade de função devemos decidir o que deve viver e o que deve morrer dentro de nós. Se dar significado é criar uma dimensão para um fato, a interpretação é sua; portanto, não impute a mim responsabilidade sobre o que você pensa. O que é importante numa fala é o que dela se tira de consciente, do inconsciente da fala há milhares de vertentes, todas essas não me dizem respeito, a mim que falo. O fato objetivo, observado, pode ser interpretado, mas o que dele resta é o comprovado. Não estou aqui invalidando o que se oculta e manifesta como sombra do passado. Mas este, só a mim interessa. A obra, ao dar-se em público preserva em privado o que a origina. Se a curiosidade sobre ti, que a observa, invade, é de ti que fala , ao final, a própria obra. Se desta é retirada a dimensão deste inacabado, já não é obra, é fato, contra o qual não há qualquer argumento que o apague. Já a obra se eterniza apenas por não revelar a origem de sua origem, como um sorriso de Monalisa. É que ao fazer-se a obra, a si se faz. E quem a concebe não tem sobre ela controle, posto que se é obra e de arte, da liberdade, seja isso o que for, é feita parte por parte.

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Olhos meus olhos meus olhos dizem coisas para voce decifrar meus olhos sorriem perante os olhos seus esses são os meus olhos castanhos não são da cor do mar meus olhos esses olhos que somente você vê só tem olhos para … você

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Para Viagem o poder de uma única sentença de uma gramática regular desperta um resfriamento uma retração um afastamento um distanciamento uma reavaliação em algum ponto o equívoco ontem sem amanhã ou amanhã sem ontem tanto faz, melhor embrulhar para viagem

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Pérola mas se assim mesmo me jogas de volta ao mar não tenho escolha encolho-me para caber numa ostra talvez volte como preciosa pérola talvez me coloquem num colar ou pingente que adorne um pescoço singular como uma mulher ficarei assim impressa na impressão de um instante do sorriso de uma mulher que recebe em presente um ornamento para trazer ao pescoço não mais que uma coleira que prende o amado ao amante mas se em assim não queres e me queres como corrente onde correm teus mais recônditos sonhos é este o meu lugar como pérola perfeita de um pequeno grão de areia

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Pés no Chão pés na terra na grama na areia estou seguro, pés no chão camada fina de um planeta pequeno magma dentro em ebulição gira em torno de uma estrela que cospe labaredas de fogo navega no fim de uma láctea via perdida no espaço, da gravidade tem a lei estou seguro, pés no chão o mundo cria dentro, fora é a ação de dentro plasma no tempo, imaterial é essa conjunção fora dá forma a uma aparição, matéria em cármico vigor sem distinção, ve-se apenas um lado da questão essa é maia a ilusão o universo é trama tecida a todas mãos química em composição, física em relação estou seguro, pés no chão

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Planta Plantada vergonha ninguém tem se gostar de alguém não é coisa feia mas olha só que distração, não deixar encoberto dizendo ao forasteiro tudo aquilo que lhe vem no anseio de demonstrar sua mais pura afeição que arrepio, espinha e peito mas não é causa de indignação, afinal despejar ditos que voam em momentos de inspiração se a magia é condição para um amor-perfeito nascendo descuidado perto do formigueiro uma semente trazida pelo vento somente agora ao sol abrasado brota em floração do azul ao carmim, miolo amarelo tango de Piazzolla rasgando a terra regada à chuva de águas salgadas sem que ninguém entenda nada pessoas vão e vem em todas as direções formigas esfomeadas alimentando-se dos talos impedindo que cresça a planta plantada

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Poema 1 que importa nesta hora crepuscular se o que sonhei foi sonho não vivido insurgir-me já agora seria um desatino estar de acordo comigo com meu destino uma vida vivida à nado largas braçadas engolfada pela água salgada mergulhos profundos de uma alma que não se encolhe frente ao infinito

que vida, vida é coisa sagrada, até o fim sentida degustada permitida como uma boa vida habitada

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Poesia em S clave em sol inicia a melodia soa sem saber suave sintetiza em sete sons coisas esquisitas estranhas semelhanças s que inicia curva cobra cordão sinuosa enciclopédia solstício, sete, saturno, safira, sagrado, sagitário, sacrificio, santo, salamandra, sal, saliva, setembro sua sina

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L. Butterfly Vera Briones, carioca de Santa Tereza, 1946, com formação acadêmica em Artes Plásticas, durante vinte anos atuou na área de design de objetos. Participou de várias exposições no Brasil e Estados Unidos e a partir de 2007 se dedica á fotografia. Após vários livros de fotografia publicados, surgiu a oportunidade de compilar as poesias que vem escrevendo nos últimos dez anos. O resultado é Hipotético Amor, oitenta e sete poesias sob o pseudônimo de L. Butterfly.

Márcio Koprowski Conheço esse ser mutante há 25 anos. E, entre acertos e conflitos, de lagarta para borboleta, nós dois já tecemos muitos casulos e cada um o seu. Este talvez seja o primeiro trabalho em parceria (digo trabalho e não casulo, porque o casulo é dela/d’Elle). L., estava procurando onde colocar seu casulo e me pediu para que eu arrumasse uma boa árvore com folhas verdes, ou coloridas. E, foi o que fiz. Achei uma com raízes profundas, como as de uma longa amizade. Em suas folhas, que a L. comeu quase todas, escolhi algumas onde coloquei desenhos. Prefiro chamar de desenhos, pois quando se fala em ilustração, suas origens vem das iluminuras de escritos sagrados e eu não pensei em ilustrar, em iluminar, em trazer luz às poesias de L., porque isto já está lá! Quis colorir com preto, trazer sombras, proteger a crisálida do sol e chuva... allow her to get lost instead, get nowhere, but... fly. Entre múltiplas coisas, sou paulistano de 1970, pai, artista visual, plástico e metálico, designer, desenhista e sonhador em horas plenas.




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