Magazine 60+ # 29

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foto: visite bebemamae.com

anfitrião no colo, tentando fazer naninha, no cantinho. Por mais que seja bacana de se fazer tocar uma vitrola em uma reunião dessas, ninguém sentiu a ausência de som ambiente eletronicamente amplificado. Tamanha estava a importância da conversação, nem se cogitou um ritmo ou estilo, muito menos este ou aquele gênero preferido. Esse conjunto de gente tinha como propósito só um naipe, o das vozes, apenas vozes, ecoavam vozes, uma a uma, em maioria no sotaque paulistano, aquele cantado como na Moóca, ou arrastado como os do interior paulista, tipo Piracicaba, ou em coro de alegres risadas, uníssonas, solos, duetos, diálogos sem fim. Todos desejavam falar, contar, ouvir, observar, apreciar, narrar, c o n v e r s a r. Em uma certa minissérie que versa sobre o início da vida humana, desde a espera do nascimento aos primeiros meses e anos sagrados da infância, numa dada plataforma de streaming, uma fala brada: “para cuidar de uma criança é preciso uma vila inteira”. Verdadeiramente, constatei isso com a chegada de meu primeiro neto. Nascido nos EUA em abril passado, morando atualmente no Canadá, veio passear no Brasil e conhecer alguns ilustres Brasileiros – essa gente aí do parágrafo no topo, gente top! E aqui, em terras da grande São Paulo, numa pequena vila conhecida como a casa da vovó, todos irrompemos na ousadia de sermos muito felizes por pouco mais de duas semanas, cronológicas na duração, eternas no coração; após tantos meses de carência não prevista num contrato, que aliás não fora assinado, leonino, que se nos apresentou a todos, e de modo implícito impõe cuidados radicais para quem quer ficar de bem com a Vida. Nessa toada, recheada de momentos mágicos as máscaras de medo, saudade, distanciamento, solidão às vezes, tristeza e insegurança, entre outras, caíram. No teatro da espontaneidade, sem mais suspense, o drama deu lugar à comédia de costumes, pois as pessoas gostam de conversar ao vivo, em pequenos grupos, se olhando com alguma proximidade afetuosa. Relembramos como é gostoso encontrar pessoas sem defesas armadas. Reunidos a partir de uma criança todos reviveram o poder do lúdico, preenchidos de ingenuidade autêntica que entra e sai da alma, provocando e conquistando belas relações interpessoais, resultando na possível, agradável e divertida paz pra todos. Na cozinha, no jardim, na varanda, no quintal, na sala. Em qualquer Sala de Estar Junto, é lá que prefiro estar.

magazine 60+ #29 - Novembro/2021 - pág.34


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