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Tony de Sousa 61 e
Foto: Caterina Pia Naclerio -unsplash.com caro leitor, vou deixar que vocês desfrutem da gostosura do texto original, transcrevendo um trecho exatamente como está no livro “Contos Tradicionais do Brasil”, de Câmara Cascudo: “Ora, se bem disse, mió saiu. Gatim caiu no mato, virou tiririca, logo que o homem saiu. A muié, coitadinha, virou, remexeu, fez promessa a conto santo houve, escogitou po conto boraco das redondezas e vizim, responso Sant’Antonio, percurou, indagou, revirou... e nada. Chega o marido e lá longe foi logo, antes de sodá a muié, proguntano por aqui. - Cadê o meu gatim, muié? - Nosso gatim, meu marido... Não acabou de falá, que o gatim, saíno de den de casa, coge no rasto foimiano piadoso s’enroscá entre as pernas do seu senhô que acabava de s’apiá. Stava coge espirano de magro e de miséria. Antonce, o homem não contou fiado não! Meteu-lhe o chicote que trazia na muié, deu-lhe pancadas de cego, fêis artes de cabeça, quebrou-lhe um braço, abriu brechas na cabeça e espancou a coitadinha promode a bestagem do gatim. Passou-se. Dias ô dispois do baruio, o home arrependeu-se de tê purcedido assim, e envergonhado S’ apaxonou... ele que vivera tão bem có sua muié! Invetou por isso memo, outra viagem; mas, desta feita, com tenção de nunca mais botá pé em casa. Arrumou o saco e meteu cara na mudança adoidamentes. Ora bens! Andou o dia inteiro e à noite abrigou-se numa grande gameleira ramalhuda. Com o escuro iam chegando umas coisas misteriosas, falando e se reunindo numa sessão. Apareceu depois o Maioral que perguntou, a um por um, os trabalhos em que se ocupava. Houve relatório de todas as façanhas dos Diabos, tentando os cristãos. Um dos Demônios começou a historiar o que fazia na casa do homem que dera a sova na mulher por causa do gato fujão. (...) Nisso o homem que estava debaixo da gameleira tinha ouvido tudo. - Accôo! Seu meco! Ah! é assim, eim? Stá bom! E arrumou outra veis a troxa e cortou pra casa, onde chegou de manhãs horas d’almoço brabo. A muié, logo que o viu, ficou muito indimirada e foi logo arrecebê ele c’oa mão na tipóia; mas porém , adiante d’ela correu o gatim miano muito, muito, mais piedoso do que das outras veis. O homem apanhou ele e botou, ó dispois, no chão; mas porém, o gatim inrestou c’o ele, miano...miano... enroscando po las perna d’ele. - Muié, ocê deu dicomê a nosso gatim? – perguntou ele c’a cara muito enfarruscada e percurando já um pau. - Não home. Já le tenho dito muitas veis que ele se some, logo que você sai. - Se some! Hem? Apois, eu te torno a amostrá e é já. A muié veno o perigo, correu chorano; e ele apanhano um bom porrete, desandou com ança, mas porém, na cabeça do gatim, que deu aquele estouro que fedeu enxofre pru treis dias. O dispois, foi ele, antonce, contá à muié o causo sucedido da gameleira da encruziada. D’aquela data em diante foi ele vivê com sua muié, como d’antes era.”
Contos I São Paulo: um canteiro de obras e demolições
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Malu Alencar Historiadora e Produtora cultural
Desde o começo da pandemia, no início de março de 2020, não andava pela cidade de São Paulo, minhas idas e vindas totalmente restritas ao mais trivial: casa de filhos, supermercado, farmácia e médicos. Feira livre, que adoro, nem pensar.... Mas depois de estar devidamente vacinada e ainda com o suporte da 3a dose, fiquei mais livre para dar umas voltas pela cidade que tenho um carinho especial: São Paulo! Resolvi fazer um roteiro, selecionei alguns locais que sempre fizeram parte de minha vida desde quando cheguei em São Paulo nos idos de 1966. O que aconteceu com a Terra da Garoa, tão cantada e exaltada em letras de Caetano Veloso, Tom Zé, Adoniran Barbosa, Itamar Assumpção, Rita Lee e tantos outros cantores e grupos variados de pagode, rappers, sertanejo.... Cadê o charme das avenidas da minha capital: São Luiz, Ipiranga, Angélica, Consolação, Santo Amaro, Morumbi, Cidade Jardim, Faria Lima, Vinte e Três de