4 minute read

Editoriais 1 a

Next Article
Laerte Temple 67 e

Laerte Temple 67 e

lões. Eles estudam arte dramática para desempenhar papéis de forma convincente. Afinal, são profissionais da atuação. Políticos, tal qual atores, treinam dramatização, oratória, expressão corporal e vendem ao eleitor a imagem do que não são. Fazem “mídia training” para encarar entrevistas, responder o que não foi perguntado e livrar-se de perguntas capciosas. O Ghost Writer (escritor fantasma), escolhe as palavras e redige os discursos que irão proferir. Roteiristas e Diretores criam campanhas brilhantes, não com o propósito de informar ou entreter, como os atores das novelas. O objetivo é apenas e tão somente ganhar a eleição.

Para mostrar bondades, aparecem em produções midiáticas. Para fazer maldades, bem, déspota que se preze não faz maldades. Tem quem execute o trabalho sujo e ainda faz parecer acidente, tal qual Dom Corleone, o poderoso chefão. Déspotas sempre têm ficha limpa, alma honesta e caridosa. O eleitor deve agir como São Tomé: ver para crer. Dar mais atenção ao que vê (ou viu) do que ao que ouve. Mesmo assim, a chance de ser tapeado é enorme, pois políticos são profissionais na arte de enganar e o segredo comunicação enganosa inclui não dizer nada, não se expor, ser dúbio, culpar os outros e negar tudo o que prejudique. A culpa seria do candidato que não mede esforços para se eleger ou do eleitor incauto que não se interessa por política e se deixa seduzir pelo canto da sereia? Chapeuzinho Vermelho não teria caído na lábia do Lobo Mau se seu discurso fosse honesto e sincero. O conto é fábula infantil, mas a eleição é realidade, que pode ser nefasta e duradoura. Acreditem ou não.

Advertisement

Foto montagem: arquivo

Crônicas do Brasil - Parece mas não é Na reta final

Heródoto Barbeiro Jornalista/Historiador

Provavelmente a expressão reta final veio da aviação. O comandante do avião avisa à torre do aeroporto que está a caminho do pouso. Em política, tem outro significado. Retrata os momentos decisivos da disputa eleitoral, quando os dois candidatos favoritos lançam mão de todo o seu poderio, não só para conquistar os indecisos, mas também para manter os votos já conquistados. Na reta final, todo cuidado é pouco. É preciso demonstrar força e otimismo e se preparar com respostas padrão às perguntas repetitivas dos jornalistas. Para isso, há um verdadeiro exército de assessores de todos os matizes, não só para escarafunchar as preferências dos jornalistas e veículos para os quais trabalham, mas também quais são os questionamentos que podem fazer durante uma entrevista, geralmente tumultuada em meio a uma multidão de apoiadores. É necessário treino, muito treino, ainda que um dos candidatos tenha uma identificação maior com o eleitorado, fale a língua do povo e diga o que a multidão gostaria de ouvir. Contudo, nada disso é suficiente em uma eleição polarizada, em que, pelo menos para os mais mergulhados nos contornos da política, seja possível constatar quem está mais à esquerda ou mais à direita. É verdade que o povão ainda não se emociona com citações de filósofos e políticos conhecidos mais no mundo acadêmico ou nas rodinhas dos bares da moda, principalmente na capital do Brasil. Os demais candidatos se esforçam para polarizar com um ou outro favorito. Caso consiga encaixar um ippon, bem dado, no oponente, a assessoria de imprensa se incumbe de o espalhar pelos jornais e rádios de todo o país à espera de que haja uma reação do agredido. Se houver, ponto para o agressor. Se não houver, reforça a bipolaridade entre os dois candidatos com maiores chances de chegar à presidência da República. O Brasil é uma jovem democracia, recém-saída de uma ditadura que durou 15 anos, e que não se esforçou em educar politicamente a população. Os oposicionistas ainda criticam o ditador que mandava pendurar o seu retrato não só nas salas dos órgãos públicos, como também nas salas de aula. Até mesmo na capa dos cadernos escolares pontificavam as mensagens do governo totalitário. Contudo, com a abertura política, uma nova Constituição, novos partidos, o quadro eleitoral se fortalece. Não se sabe exatamente o que cada partido nacional representa, nem quais são exatamente os planos de governo, caso seja vencedor. Mas isto é apenas um pequeno detalhe diante da estatura dos favoritos. Uma boa parte da população ainda vota no homem, no nome, no apelido, na maneira pela qual é mais conhecido, sem se importar com a sigla partidária. É verdade que a propaganda, principalmente eletrônica, usa do horário eleitoral obrigatório para apresentar seus jingles com nome e sobrenome do partido. É preciso se preparar para perder e fazer oposição no Congresso Nacional e isso só é possível com a eleição de uma forte bancada de deputados e senadores. A polarização chega ao auge nas vésperas da eleição presidencial. Não pode haver erro. Em um quadro polarizado, com os ânimos exaltados e as preferências expostas, cometer um erro é fatal. Um ataque, uma notícia não confirmada, pode entornar o caldo, como diz o mais abalizado cronista político. Primeiro, uma discussão geral, que geralmente vira bate-boca, depois se apura se o fato é uma fake news ou não. Os

magazine 60+ #39 - Outubro/2022 - pág.4

This article is from: