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Ricardo Mesquita Arquitetura e Pandemias 19 a
Oscar Niemaeyer 1907 - 2012 tância ao projetar hospitais como o de Veneza, em 1965, por Le Corbusier, com ampla iluminação e ventilação naturais, terraços-jardins para banho de sol, necessário para metabolizar a vitamina D em nosso organismo, além de outros benefícios. Os hospitais deixaram de ser ambientes funestos destinados a doentes terminais, para serem ambientes de cura, arejados, iluminados, revestimentos e mobiliário de fácil limpeza e deslocamento além de diversos outros itens enumerados na publicação “Notes on hospitals”, de 1859 pela britânica precursora da enfermagem moderna, Florence Nightingale. Após quase dois anos em regime de isolamento e restrição de deslocamentos, fica mais fácil entendermos o conceito de “Neuroarquitetura”, que analisa os estímulos que as sensações provocam na produção dos hormônios em nossos organismos, o aconchego de um raio de sol, de uma brisa, do contato com plantas e o ar livre. Acompanhamos que muitos que se recuperam da doença permanecem com mobilidade reduzida por longo tempo, impossibilitando o uso de escadas, banheiros estreitos, calçadas sem condições de segurança e acessibilidade. Muito importante mencionar que calçadas são bens públicos e devem ser construídas e mantidas pelos órgãos públicos, segundo art. 113 da Lei Brasileira da Inclusão (13.146/15), em condições de uso pleno, com segurança e autonomia, por qualquer cidadão, independente da condição física ou sensorial. Espero que juntos possamos tornar nossas cidades mais humanizadas, saudáveis e acessíveis a todos, evitando obstáculos absurdos como este da foto da calçada de acesso ao HC de Curitiba.
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Arquiteto e Urbanista Ricardo Tempel Mesquita CAU A78906-2 (41)3277-5299 / 98536-6059 (WhatsApp) arqmesquita@gmail.com
Aprendizagens Meu nome é Vitória
Malu Navarro Gomes Pedagoga Psicopedagoga Educadora no projeto Feliz Idade
No dia vinte e cinco de junho de dois mil e dezenove conversei, por áudio no WhatsApp, com minha amiga Catarina. Nossa conversa começou a partir da seguinte observação feita por ela:
C: - Malu, estou de férias na escola. M: - Que beleza, Catarina, já em férias! E o que você fará durante as férias? C: -Eu não gosto das férias, Malu. Não gosto de ficar em casa. Na verdade eu gosto de ir para a escola... Meu sobrenome é Escola. M: - Entendo... Que tal pensarmos juntas o que pode ser feito nas suas férias? Vamos pensar o que fazer para que você aproveite bem essas suas férias. Conheci Catarina em agosto de 2002 quando, aos 3 anos, seus pais a matricularam como aluna da Educação Infantil no Centro de Reabilitação em que eu trabalhava como coordenadora pedagógica. Cacá, esse é seu apelido, é pessoa com deficiência (PcD), especificamente com paralisia cerebral do tipo espástica. Em 2019, no dia de nossa conversa, já com dezenove anos, Cacá continuava sua trajetória escolar frequentando o oitavo ano do Ensino Fundamental em uma escola inclusiva em Guarulhos, um dos municípios da Grande São Paulo. Nos três anos em que permaneceu no Centro de Reabilitação, demonstrou ser uma criança alegre e bastante disponível para aprender. Interagir com as outras crianças e com os adultos nunca foi problema para ela. Estar na escola era uma alegria permanente para essa menina. Entre o período de convivência que tivemos naquele Centro de Reabilitação e a data da conversa pelo WhatsApp houve um intervalo de quatorze anos e meio. Dois dias depois daquele nosso primeiro diálogo, propus que conversássemos sobre o que ela era capaz de fazer e, assim me atualizei em relação às suas pos-
Foto: Walt Disney World - divulgação
sibilidades de construção e participação em alguma atividade que poderíamos desenvolver. Questionei-a sobre suas condições pessoais e escolares e assim fiz uma rápida anamnese, sem me importar com muitos detalhes porque sabia que isso poderia ser feito, em outro momento, junto a seus pais. Ocupamos um tempo na tentativa de fazer alguns exercícios envolvendo leitura e escrita. Catarina conhecia a maior parte das letras do alfabeto, embora ainda não apresentasse condições de ler e escrever. Trabalhar a alfabetização naquele momento seria como trazer a escola para dentro de casa e talvez, essa não fosse a atividade que a fizesse relembrar com prazer e saudade o período de férias escolares. Finalmente chegamos à proposta: M: - Cacá, você irá contar, aqui pelo WhatsApp, para mim, uma história inventada por você. Não precisa ser uma história inteira, completa, de uma só vez. O importante é que seja uma história que tenha começo, meio e fim. C: - Eu vou falar a história do Mickey. Do Mickey Mouse. Porque eu já fui na Disney, entendeu? Eu conheço o Mickey Mouse de perto. Catarina começou a contar sobre a viagem que fizera à Disney e da alegria que sentiu em ver os personagens das histórias em quadrinho, principalmente o Mickey e a Minie. C: - Mas, primeiro, eu preciso pensar... M: - Exatamente! Você tem o tempo que quiser para pensar. Você grava a mensagem, não precisa ser a história inteira. Você pode dizer: ‘Agora, Malu, eu vou parar e pensar no restante da história.’ Foi a primeira vez que Cacá recebeu uma proposta como a que lhe dei. Até então, a jovem se habituara a cumprir tarefas solicitadas e exemplificadas por seus professores, familiares e demais pessoas que com ela interagiam. Propostas objetivas, simples e práticas, com o intuito de ajudá-la em sua movimentação, letramento e compreensão do mundo que a rodeia. Chamou minha atenção seu vocabulário rico, diversificado e preciso, adequado às ideias que desejava expressar e a construção correta de suas frases. Lamentei que ainda não estivesse alfabetizada... M: - Vamos escrevendo a história. Nós iremos transformá-la em um livro, depois que a história estiver toda montada. Um livro com gravuras. Pensei que após a criação da história poderíamos ilustrá-la, criando desenhos, pinturas ou mesmo através de recortes e colagem; digitaríamos o texto “a quatro mãos” e, ao final, levaríamos o que havíamos produzido a uma gráfica para encadernar. Ela teria um livro de sua autoria e poderia mostrá-lo a quem quisesse como resultado das férias bem aproveitadas. À medida que nos reuníamos escrevia o que Cacá falava. Depois, submetia a leitura do texto à sua apreciação pedindo que confirmasse se a escrita estava de acordo com o ela havia dito ou se valia a pena melhorá-la e corrigir alguma falha que pudéssemos observar. Tão logo Cacá percebeu que havíamos terminado de escrever a “Viagem para a Disney” e antes ainda de fazermos as ilustrações, pediu que continuássemos a escrever outras histórias. Resolveu contar sobre suas lembranças como aluna do Centro de Reabilitação e depois de algumas conversas e de muito pensar, achou conveniente contar sua história de vida. Assim, a atividade que, aparentemente ocuparia o mês de férias, perdurou por quase nove meses. O livro “Meu nome é Vitória” foi publicado pela Editora Clube de Autores, seu lançamento foi feito na escola em que Catarina estudava, em uma cerimônia realizada à noite, após as aulas, com a presença dos alunos de sua classe e de outras turmas, seus familiares, amigos e pessoas da comunidade. Recentemente, já imaginando escrever este artigo, perguntei à Cacá: M: - Catarina, como surgiu o seu livro “Meu nome é Vitória”? Conte para mim para