3 minute read
não estão aqui só para inspirar 9 e
coisas que ela conta é que uma vez ela estava há 20 minutos dando uma aula como professora convidada em uma escola quando um aluno levanta a mão e pergunta quando a palestra ia começar. Ela explicou que já tinha começado a aula e então ele disse: “não é uma palestra motivacional? Toda vez que pessoas em cadeira de rodas vêm aqui é para falar sobre motivação!”
Na verdade, não é culpa daquele aluno ter se expressado assim, mas sim, de todo um conjunto de crenças da sociedade que não está pronta (e não se mobiliza para estar) para incluir PCDs e acaba valorizando ao extremo quando uma consegue chegar lá. Transformando-a numa verdadeira heroína. A gente já sabe qual é o nome disso, não é? Capacitismo. A inspiration porn, como a pornografia real, fornece uma espécie de prazer superficial e gratificação para quem assiste, enquanto a pessoa é representada como um mero objeto. Essa é uma das representações mais comuns do capacitismo. O grande problema de se pensar nas pessoas com deficiência como representações heróicas é que a ideia sobre a qual se constrói esse pressuposto é a de deficiência ser sinônimo de tragédia. Sendo assim, quem consegue superar toda a dificuldade e levar uma vida funcional estudando, trabalhando, praticando esportes, vira automaticamente um exemplo de motivação. Também é problemático o fato de que, na maioria das vezes, as histórias sobre pessoas com deficiência são contadas do ponto de vista de observadores sem deficiência, deixando de fora a perspectiva da pessoa com deficiência. Nós sabemos que para muitas pessoas ter uma deficiência implica dificuldades. Se eu te convidar a olhar os espaços que você mais freqüenta, você consegue dizer quantos deles são acessíveis para quem tem mobilidade reduzida? Aposto que são poucos. O mundo raramente se adapta para receber corpos que funcionam de maneiras diferentes. Mesmo assim, a foto de uma pessoa com deficiência trabalhando ou se exercitando na academia é só a imagem de alguém usando o seu corpo para fazer o melhor que ele é capaz. Ela não tem a obrigação de inspirar ninguém. Precisamos desassociar deficiência de tristeza/ tragédia/dificuldade. Não quero dizer que a vida de pessoas com deficiência é sempre fácil, porque muitas vezes é difícil mesmo. Mas pensa comigo: ao ver que existem dificuldades para PCDs, não é melhor que a sociedade pense em garantir acessibilidade do que ficar apenas parabenizando alguém por conseguir “superar os desafios”? Telefone: 31 983510361 Email: maryanacmoraes@gmail.com Instagram: @maryanapsi
Advertisement
Revista Livre Acesso #2 - Outubro - Novembro/2021 - pág.10
A sobrecarga emocional e o estresse do cuidador de idosos no contexto da Pandemia
Thais Bento Lima gerontóloga e colunista do SUPERA Ginástica para o Cérebro
“Cuidar é resistir!” Esse foi o tema adotado por uma campanha do Fórum de Comunidades Tradicionais que tinha por objetivo arrecadar alimentos e outros recursos para territórios tradicionais durante o período da pandemia de Covid-19. Mas será que poderíamos usar essa afirmação em outros contextos, por exemplo no cuidado com a vida, no cuidado com o outro e no cuidado com nós mesmos? Não é novidade que o vírus descoberto no final de 2019 na China, tem deixado diversos impactos em diferentes países do mundo. No Brasil muitos desses impactos podem ser vistos através de dados estatísticos, quando analisamos o número de vítimas da Covid-19 ou a taxa de desemprego, também podem ser vistos, por exemplo, quando nos deparamos com imagens de pessoas buscando por alimentos em lugares precários. Mas você já parou para pensar sobre os impactos que não podem ser vistos a olho nu ou que não são facilmente transformados em números? O programa Embracing Carers, traduzido para o português como “Acolhendo Cuidadores”, realizou uma pesquisa em 12 países, sendo eles: Brasil, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espanha, Austrália, Taiwan, Índia e China, durante o ano de 2020, considerando o contexto pandêmico. A pesquisa tinha por objetivo avaliar o bem-estar de cuidadores informais, ou seja, que cuidam de familiares ou outras pessoas sem remuneração. De acordo com o relatório fruto da pesquisa, no Brasil foram entrevistados 755 cuidadores e os resultados indicaram piora na qualidade de vida dessas pessoas durante a pande-