Uma vida em vinte e um minutos Maria Eugenia Bofill
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Minha vida é o Mercado!
E não é muito difícil descobrir o motivo. Há 49 anos Fiorindo Alves de Miranda frequenta o mesmo ambiente de segunda a sábado. O Mercado Público de Porto Alegre é seu segundo lar desde seus 19 anos. Natural de Lajeado, no Vale do Taquari, Tio Fio – como é conhecido por todos na banca -, é o terceiro de uma família de dez filhos. A dificuldade de encontrar emprego no interior o trouxe para a Capital nos meados de 1964. A conversa não foi longa – para ser mais exata, 21 minutos -, quem faz as primeiras perguntas é ele, “mas vai demorar? Eu preciso trabalhar, tá?!”, “Isso é um trabalho? De que escola tu vens?”. Tio Fio é daquelas pessoas que não gostam de falar muito. Seu hobby preferido é trabalhar. O curto tempo foi necessário para perceber que o funcionário mais antigo da Banca 40 é apaixonado pelo que faz, e que aos 68 anos nem passa pela cabeça largar o lugar que lhe proporciona a felicidade diária. A Banca 40 é uma das mais tradicionais do Mercado Público da Capital Gaúcha. Cariocas, paulistas, baianos e até turistas internacionais visitam o ponto de seu Fiorindo. Não há quem não passe pelo local e não deseje se deliciar com uma salada de frutas, com um morango com nata, com algum sabor da variedade de 21 sorvetes ou com a Bomba Royal – a mistura da salada de frutas com sorvete e nata. E tudo isso existe graças a Tio Fio, que é responsável pela compra de todos os produtos da Banca. Sua rotina começa às 05h:30, morador da Avenida Assis Brasil, trabalha das 06:30 às 11h na Banca, porém seu horário de expediente não termina aí, na parte da tardem saí para comprar os produtos que serão utilizados no outro dia. Tio Fio consegue identificar exatamente as mudanças que o Mercado Público sofreu desde a sua chegada. Não havia piso e nem cobertura no telhado, apenas dos lados. “Quando chovia era um desastre”, as bancas eram protegidas com lonas e os produtos ficavam em sacas. “Mas ele continua sendo do povão, na sua essência nada mudou”.