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A EXECUÇÃO DOS TÁVORA Os Távora e vários dos seus criados foram torturados e executados publicamente, depois desta família da alta nobreza ter sido acusada de tentativa de regicídio de D. José, alvejado na sua carruagem durante a noite
Estamos a 13 de janeiro de 1759. Pelas sete horas da madrugada, no descampado próximo da Torre de Belém, a marquesa D. Leonor Tomásia de Távora subia os primeiros degraus do cadafalso montado na véspera. Recebida pelo carrasco, é apresentada à assistência. Um a um, são-lhe mostrados os instrumentos de tortura com os quais serão executados os filhos, o genro e outros parentes: o maço de ferro, as varas para quebrar os ossos, o garrote de enforcamento. Por fim, o carrasco fá-la sentar, de mãos atadas, num pequeno banco. A marquesa inclina-se e, com um só golpe, é decapitada. A sua cabeça é mostrada ao público, no qual se inclui a nobreza, obrigada a assistir para que aquele dia lhe servisse de lição. No final, todos os corpos arderam na fogueira. O motivo das execuções? As acusações indicavam “alta traição” e “tentativa de regicídio” numa noite de setembro de 1758, quando o rei D. José regressava, numa carruagem emprestada, de um dos seus encontros “fortuitos” com a amante D. Teresa Leonor, nora dos marqueses de Távora. A carruagem fora intercetada por três homens, que dispararam sobre os ocupantes, ferindo o rei. Rapidamente, o ministro do reino, Sebastião José de Carvalho e
BIBLIOTECA NACIONAL / COTA PI-23774-P
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EM PÚBLICO EXECUÇÃO DE JOSÉ MARIA DE TÁVORA, NUMA GRAVURA DA ÉPOCA
Melo, futuro conde de Oeiras e marquês de Pombal, tomou as rédeas da situação. Encontrou os responsáveis pelos disparos, interrogados sob tortura. E conseguiu a confissão que lhe convinha: os Távora — uma das mais poderosas famílias da alta nobreza e também das que mais se opunham às suas reformas de restrição de privilégios nobiliárquicos — eram os orquestradores do crime. O objetivo seria colocar o duque de Aveiro, José Mascarenhas, no trono. Este viria a confessar a sua culpa — também depois de ter sido torturado —, bem como o envolvimento de um jesuíta, o que serviria de pretexto para a expulsão da Companhia de Jesus de Portugal. Em dezembro foi criado um tribunal, a Junta de Inconfidência, para investigar e julgar os autores do crime,
num processo com lacunas e incoerências resolvido em cerca de um mês e que ficou para a história como o “Processo dos Távoras”. A sentença final, a 12 de janeiro, já é conhecida. Entre membros da família Távora ou que para ela trabalhavam foram executadas cerca de dez pessoas. Outras escaparam por intercessão da herdeira do trono, Maria Francisca. Os títulos de marquês de Távora e de duque de Aveiro foram extintos e o palácio do último demolido, sendo o seu terreno salgado para que nada mais aí crescesse. Ainda hoje se pode ver, no Beco do Chão Salgado, em Belém, um padrão de pedra erigido a mando de D. José. O que não se sabe é se, de facto, os condenados seriam culpados ou inocentes. Uma coisa é certa: culpados ou não, o futuro marquês de Pombal conseguiu afastar dois dos seus mais poderosos inimigos, os Távora e os jesuítas. R MARIA JOÃO BOURBON
COMUNICAR POR PONTOS E TRAÇOS SSPL/ GETTY IMAGES
HISTÓRIA RÉPLICA DO PRIMEIRO TELÉGRAFO
No dia 6 de janeiro de 1838 foi apresentado ao público, na empresa norte-americana de metalurgia Speedwell Iron Works, um dispositivo revolucionário: utilizando impulsos elétricos, permitia transmitir mensagens, por cabo, até longa distância. O aparelho, inventado por Samuel Morse, Leonard Gale e Alfred Vail, marcava o início da história das telecomunicações. Os sinais elétricos transmitidos
representavam pontos e traços que, lidos em blocos, significavam letras e números, consoante a associação feita. A palavra stop era a pausa e significava parágrafo. Estava criado aquilo que ficaria conhecido como código Morse. O sistema só foi dado por extinto em julho de 2013, com o encerramento do último serviço de telégrafo do mundo, da empresa indiana Bharat Sanchar Nigam Limited.
REVISTA 11/JAN/14
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E FEZ-SE LUZ! A primeira lâmpada incandescente comercializável foi patenteada por Thomas Edison faz agora 134 anos. As preocupações ambientais ditaram a sua morte, tendo deixado de ser fabricada na União Europeia em 2012
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ROGER VIOLLET/ GETTY IMAGES
Estamos a 27 de janeiro de 1880. A patente número 223.898 é registada nos Estados Unidos, após uma candidatura que começava da seguinte forma: “A quem possa interessar: que seja conhecido que eu, Thomas Alva Edison, de Menlo Park, nos Estados Unidos da América, inventei e melhorei as lâmpadas elétricas e o método de as produzir.” Inovador, o
REVISTA 25/JAN/14
processo de iluminação destas lâmpadas incandescentes consiste num filamento de bambu carbonizado, selado em vácuo numa campânula, que aquece à passagem de corrente elétrica. E que permite irradiar luz por mais de 40 horas. Edison só o descobrira em 1879 e após ter testado mais de seis mil condutores durante dois anos — o que comprova a sua convicção de que “o génio é um por cento de inspiração e 99 por cento de transpiração”. A inspiração esteve, talvez, na sua visita aos locais de produção das anteriores lâmpadas, de arco voltaico (emissoras de luz através de uma descarga elétrica num gás), onde se apercebeu das suas ineficiências e possibilidades de aperfeiçoamento. Mas foi a dedicação que o levou mais longe que outros inventores — como Joseph Swan, que patenteara a primeira lâmpada incandescente —, incapazes de encontrar um filamento que não queimasse a lâmpada. Edison conseguiu-o e a sua ambição foi ainda maior, criando não só a primeira destas lâmpadas comercializáveis, como também um sistema de iluminação pública mais prático e duradouro e uma rede elétrica subdividida em luzes de menor potência, controladas domesticamente. O “Feiticeiro de Menlo Park” (como viria a ser conhecido, em virtude das suas invenções no laboratório aí situado) realizou a primeira demonstração pública do seu invento numa rua dessa cidade, na noite de passagem de ano de 1879 para 1880. Dois anos depois, é inaugurada em Manhattan a primeira central elétrica. É o início de uma nova era, que em Portugal tem o seu embrião numa sala da Exposição Retrospetiva da Arte Ornamental, no mesmo ano, em Lisboa. 130 anos depois, as preocupações ambientais ditaram a sua certidão de óbito. Como 90 por cento da sua energia é convertida em calor (e não luz), a lâmpada de Edison deixou de ser fabricada em 2012 na União Europeia e em 2016 será decretado o seu fim em quase todo o mundo. R M.J.B.
ILUMINADO THOMAS EDISON, POR VOLTA DE 1883, COM A LÂMPADA INCANDESCENTE QUE INVENTOU E, EM CIMA, UM ESQUEMA DA LÂMPADA
BETTMANN/ CORBIS
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A 1ª BOLA NA CESTA A 20 de janeiro de 1892, 200 pessoas esperavam no ginásio do Springfield College, no Canadá, para ver o primeiro jogo de “bola na cesta”. Como as temperaturas negativas não permitiam a prática de qualquer desporto durante os invernos rigorosos, o diretor da escola tinha incumbido o professor de educação física James Naismith (na foto) de criar um desporto que pudesse ser praticado no ginásio. Partindo desta premissa, Naismith pôs de parte a possibilidade de ser jogado com os pés ou de haver muito contacto físico. Criou 13 regras básicas, pregou uma cesta de colheita de pêssegos num dos extremos, a uma altura de 3,05m, e fez entrar em campo nove jogadores de cada equipa. O prego prova não ser o modo mais eficaz de fixar o recipiente e o jogo tem que parar algumas vezes. Depois do único ponto marcado, a bola é retirada da cesta. Tinha nascido o basquetebol, que só chegaria a Portugal em 1913.
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um reflexo da sua infância humilde que, desde a morte do pai, foi dividida entre orfanatos e pequenos quartos, onde vivia com a mãe entre os internamentos desta num hospital psiquiátrico. Charles Spencer Chaplin nasceu a 1889, em Londres, filho da cantora e bailarina Hannah Hill e — ainda que sem ter certezas — do ator e cantor Charles Chaplin. Aos 10 anos, deixou a escola para trabalhar como artista de circo. As digressões pelo mundo levaram-no a Nova Iorque, onde conhece Adam Kessel, um dos fundadores dos estúdios Keystone e o seu passaporte para o cinema. Nessa altura ninguém poderia supor que viria a tornar-se o grande ícone do cinema mudo e, em 1916, o ator então mais bem pago a nível mundial. Com uma grande criatividade, noção de tempo e sentido trágico, Chaplin assumiu-se como um dos poucos atores, argumentistas ou realizadores unânimes aos olhos da crítica — sendo considerado, no relatório mundial dos críticos de cinema de 1995, o melhor ator da história do cinema. Nos seus mais de 80 filmes e 75 anos de entretenimento, o protagonista era o elemento central de todas as cenas, em torno do qual a câmara se movia. E nem o cinema falado — com filmes como “O Grande Ditador” (1940) e “O Barba Azul” (1947) — o levaram a abandonar esta característica, que já vinha dos seus primeiros filmes, entre eles “O Garoto” (1921) e “Luzes da Cidade” (1931). No dia de Natal de 1977, Charles Chaplin falece, vítima de um acidente vascular cerebral. Charlot, contudo, continua vivo. Na memória das gerações da velha-guarda, redescoberto pelas novas gerações e deixando a sua influência em humoristas e cineastas como Federico Fellini, Marcel Marceau e Johnny Depp. Em 2008, Martin Sieff, autor do livro “Chaplin: Uma Vida” escreve: “Chaplin não foi apenas grande, foi gigantesco. Duvido que outra pessoa tenha dado mais entretenimento, prazer e alívio aos seres humanos quando eles mais precisavam.” R MARIA JOÃO BOURBON
A ESTREIA DE CHARLOT
ALBUM/ FOTOBANCO
Foi há 100 anos que Charlot apareceu pela primeira vez no grande ecrã. A personagem-ícone do cinema mudo conseguiria sobreviver ao nascimento do cinema falado e, ainda, à morte do seu autor, Charles Chaplin
Estamos a 7 de fevereiro de 1914. Numa corrida de automóveis em Los Angeles, surge uma personagem desengonçada, um “vagabundo” com ares de senhor, que se coloca insistentemente à frente da câmara, numa tentativa de tirar o protagonismo à cena. De chapéu de coco na cabeça, fraque e sapatos desbotados, bengala na mão e bigode, chama-se Charlot e é a primeira vez que surge no grande ecrã, no filme “Kid Auto Races at Venice” (“Charlot Fotogénico”). Resultado de uma total improvisação, tanto no guarda-roupa como na representação, Charlot nasce no cinema americano na sequência do desafio que Mack Sennet, diretor dos Estudios Keystone, fez a Charles Chaplin para que criasse uma personagem engraçada. Como um alter ego do seu criador, Charlot é uma forma de ‘Charlie’ Chaplin se expressar e fazer uma sátira do mundo e da sociedade, ao longo dos vários filmes e estúdios pelos quais passa — desde o primeiro até à criação do seu próprio estúdio, United Artists, em 1919, juntamente com o realizador D. W. Griffith e os atores Douglas Fairbanks e Mary Pickford. A personagem é, igualmente,
PERSONAGEM ESTRANHA CHARLOT NO SEU PRIMEIRO FILME, “KID AUTO RACES AT VENICE” (“CHARLOT FOTOGÉNICO”)
O REGICÍDIO DE D. CARLOS O Rei D. Carlos, D. Amélia e o príncipe herdeiro, D. Luís Filipe, tinham acabado de chegar ao Terreiro do Paço, de regresso de Vila Viçosa, onde haviam tomado o comboio para o Barreiro e, depois, o barco. O outro filho, D. Manuel, tinha ido esperá-los. O regicídio acontece cerca das cinco da tarde desse dia 1 de fevereiro de 1908, quando já seguiam na carruagem, a caminho do palácio. No seu diário “Notas absolutamente íntimas”, D. Manuel conta: “Saímos da estação bastante devagar. Minha mãe vinha-me a contar como se tinha passado o descarrilamento na Casa Branca (o comboio real tinha descarrilado perto desta localidade) quando se ouviu o primeiro tiro.” Alfredo Costa e Manuel Buíça disparam sobre o rei e, depois, contra Luís Filipe. A morte dos dois é o reflexo da erosão do sistema político da Monarquia Constitucional, caracterizado pelo rotativismo no poder entre o Partido Progressista e o Regenerador, e da ascensão do republicanismo, que venceria dois anos depois, a 5 de outubro de 1910, destronando D. Manuel II.
REVISTA 1/FEV/14
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ROSSIO? COMPRO! Um ex-vendedor de aquecedores desempregado criou o mais conhecido jogo de tabuleiro, Monopólio, como forma de distração dos rigores da Grande Depressão. E ficou milionário
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Estamos a 6 de fevereiro de 1935. As prateleiras das lojas nos Estados Unidos enchem-se com os primeiros jogos de tabuleiro que simulam o mercado imobiliário. Chamado Monopólio, tinha sido criado pelo ex-vendedor de aquecimentos Charles Brace Darrow. No início, a empresa de brinquedos Parker Brothers não tinha aceitado produzi-lo, por não acreditar nas suas potencialidades. Darrow não desistiu e decidiu construí-lo ele próprio, com a ajuda de um amigo designer. Conseguiu vender mais de cinco mil unidades, por quatro dólares cada (cerca de 2,96 euros), o que levou a Parker Brothers a reconsiderar. A ideia, no entanto, não era nova. As origens do Monopólio remontam a 1903, quando Elizabeth Magie-Phillips inventa um jogo semelhante, The Landlord’s Game (O Jogo dos Senhorios). Apesar de não ter sido um êxito de vendas, teve um grande impacto nos círculos académicos de esquerda, sendo usado como uma ferramenta de ensino com o objetivo de alertar para os perigos do capitalismo e da monopolização. Surgiu ainda uma versão melhorada, com o nome Finance
(Finanças), antes de Darrow, desempregado na altura da Grande Depressão, ter criado o Monopólio, jogado nas ruas de Atlantic City. Já sem um objetivo de crítica social (tornar-se-ia inclusive num arquétipo do capitalismo americano), o jogo foi aperfeiçoado por Darrow, que melhorou o design para o tornar mais apelativo — tão apelativo que viria a ser, logo em 1935, o jogo de tabuleiro mais vendido nos Estados Unidos. Comprar uma casa, um bairro ou uma avenida inteira, endividar-se, acabar na prisão em meia dúzia de jogadas são algumas das possibilidades oferecidas pelo jogo, cujo objetivo final é um dos jogadores enriquecer e atingir a situação de monopólio. Curiosamente, foi na vida real que Charles Darrow se tornou multimilionário, à custa de um jogo que constituía um escape face às dificuldades da Grande Depressão sentidas pelos norte-americanos. O jogo expandiu-se rapidamente pelo mundo inteiro e, ao longo dos anos, foi tendo versões especializadas, para marcas, programas de televisão, desenhos animados, entre outros. Durante a II Guerra Mundial, chegou mesmo a ser utilizado pelos serviços secretos britânicos para ajudar prisioneiros de guerra Aliados a escapar, uma vez que o Monopólio era uma das coisas que a Cruz Vermelha estava autorizada a entregar aos presos. O que os alemães não sabiam era que dentro dos jogos seguiam, escondidos, mapas, limas, bússolas e dinheiro. Mais recentemente, em 2008, surgiu uma versão mundial — já não com os nomes das ruas do país onde era comercializado, mas locais de várias partes do mundo —, da responsabilidade da empresa Hasbro, que adquiriu os direitos do jogo à Parker Brothers. R MARIA JOÃO BOURBON
PARA TODAS AS IDADES UMA FAMÍLIA BRITÂNICA A JOGAR MONOPÓLIO NOS ANOS 30 DO SÉCULO PASSADO
REVISTA 8/FEV/14
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25 ANOS DE GPS Hoje, quando queremos chegar a um local cuja localização desconhecemos, não há nada mais fácil: é só ligar o GPS e somos orientados até chegar ao destino. Mas o que é hoje uma banalidade — basta ter um smartphone — começou a dar os primeiros passos há apenas 25 anos, fruto da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a então União Soviética. No âmbito da “corrida espacial” em que estes dois Estados se tinham lançado, depois de a ex-União Soviética ter enviado para o espaço, em 1957, o primeiro satélite artificial (“Sputnik”), os Estados Unidos foram desenvolvendo técnicas de rastreio de sinais rádio e de geolocalização. A 14 de fevereiro de 1989 seria lançado o primeiro dos 24 satélites do global positioning sistem (sistema de posicionamento global — GPS) que cobrem praticamente todo o planeta e permitem determinar com precisão a posição geográfica, a altitude, a hora e a velocidade a que segue quem tiver um simples smarphone.
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brincavam com as bonecas infantis que existiam na altura, atribuindo-lhes papéis de adultos. No entanto, convencer os homens da empresa do seu marido não foi fácil. Só depois de ter voltado da Suíça com Lilli, uma boneca alemã já com peito e ares de adulta, destinada a jovens rapazes, conseguiu convencer o resto da Mattel a dar-lhe uma oportunidade. Barbie foi inspirada em Lilli, aperfeiçoada e adaptada a crianças, perdendo o ar provocador. Destinava-se a outro público-alvo, que poderia projetar nela as suas brincadeiras e sonhos: “Todas as raparigas precisam de uma boneca através da qual possam projetar os seus sonhos. Se gostam de se imaginar com 16 ou 17 anos, seria um pouco estúpido brincar com uma boneca sem seios”, explicava Ruth Handler em 1977 ao jornal “The New York Times”. O que para uns poderia ser genialidade, por muitos era visto com desconfiança. Nos anos 60 e 70, intensificaram-se as críticas de feministas da Barbie Liberation Organization face à figura desproporcional e de medidas irrealistas desta boneca que fazia a apologia da aparência física, o que poderia criar expectativas irrealizáveis e minar a autoestima das raparigas. Mas a Mattel não se demoveu: continuou a diversificar e a apostar na criatividade, fazendo nascer Ken (namorado de Barbie, que vai roubar o nome ao filho de Ruth), novos amigos e inclusive novas Barbie, que se reinventavam através da roupa, profissões ou nacionalidades. Com mais de 40 designers de moda a desenhar as suas roupas (nos quais se incluem Bob Mackie e Gianni Versace), Barbie foi acompanhando as mudanças dos tempos, como fica visível na Miss Astronauta, lançada para comemorar a ida da primeira mulher ao espaço, a russa Valentina Tereshkova, ou no penteado de Jackie Kennedy, mulher do ex-Presidente americano John F. Kennedy. R MARIA JOÃO BOURBON
BARBIE DEBUTANTE Há 55 anos, a Barbie foi apresentada na Feira Internacional do Brinquedo, em Nova Iorque, como a primeira boneca adulta destinada a crianças
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Estamos a 9 de março de 1959 quando Ruth Handler apresenta, na Feira Internacional do Brinquedo, em Nova Iorque, Barbara Millicent Roberts — ou Barbie, como ficaria conhecida no mundo inteiro. De fato de banho às riscas pretas e brancas e uns valentes saltos nos pés, a boneca é a primeira no mundo com proporções de um corpo adulto destinada a raparigas. Apesar de inicialmente odiada pelas mães e vendedores que lá se encontravam, a boneca, criada por aquilo que era na altura uma empresa de garagem chamada Mattel, tornarse-á rapidamente um êxito de vendas, mas só depois de uma forte campanha de marketing nas televisões, na qual era apresentada às jovens americanas como uma pessoa real. E foi assim que, só no ano em que foi criada, foram vendidas 351 mil Barbie, por três dólares cada. Para criar o brinquedo e o nome que lhe deu, Ruth inspirou-se na filha Barbara, ao reparar que a filha e as amigas
REVISTA 8/MAR/14
BARBIE (EN)CANTA UMA RAPARIGA CANTA AS MÚSICAS DE “BARBIE SINGS”, ENQUANTO AS OUVE NUM GIRA-DISCOS, EM 1961, ACOMPANHADA PELOS BONECOS DE BARBIE E DO NAMORADO, KEN
AVANTE, CAMARADAS! “Conforme tínhamos anunciado, efetuou-se ontem, na Associação dos Empregados de Escritório, a nomeação dos corpos administrativos (...), o que a assembleia aprovou por unanimidade”, podia ler-se numa notícia do jornal “A Batalha” intitulada “Partido Comunista Português”, um dia depois do seu nascimento, a 6 de março de 1921. Sediado na Rua do Marquês do Alegrete até 1927 (ano em que a ditadura declara o comunismo ilegal), surge a partir do anarcossindicalismo e da Federação Maximalista Portuguesa e não de uma rutura com a social-democracia. Ainda assim, o primeiro programa do PCP — com José Carlos Rates como primeiro secretário-geral (1921-1929), eleito no I Congresso, em 1923 — ia buscar os 21 pontos da Terceira Internacional Comunista (Comintern), fundada por Lenine em 1919 com o intuito de reunir os partidos comunistas de diversos países. Apesar das dificuldades, o PCP consegue sobreviver ao Estado Novo e à queda da União Soviética, em 1991, sagrando-se assim como o mais antigo partido político português. Na imagem em cima, o primeiro nº do orgão oficial do partido (antecessor do "Avante!"), publicado a 16 de outubro de 1921.
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A REVOLUÇÃO DE EINSTEIN
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Faz na próxima quinta-feira 98 anos que foi publicada a Teoria da Relatividade Geral, do físico e Prémio Nobel Albert Einstein. Contestada na época, acabaria por ser apontada como uma das maiores revoluções do século XX
Estamos a 20 de março de 1916. Um ex-examinador de patentes do Instituto Federal de Propriedade Intelectual e presidente da Sociedade Alemã de Física chamado Albert Einstein (18791955), publica, aos 37 anos, uma teoria controversa que desafia a forma como o mundo é compreendido. A designação — Teoria da Relatividade Geral — foi o resultado da compilação das suas conclusões sobre a relatividade restrita (1905), na qual mostrava que o tempo e o espaço são referenciais e indissociáveis e que a velocidade da luz é fixa, não podendo nenhum objeto em movimento ultrapassá-la. Era uma nova compreensão da teoria da gravidade de Isaac Newton, com a introdução da noção de tempo e espaço curvos. Controversas e discutidas, estas ideias foram pouco aceites pela comunidade científica da época — ainda que, a 19 de
O TEMPO E O ESPAÇO ALBERT EINSTEIN EM 1905
REVISTA 15/MAR/14
maio de 1919, bastassem apenas cinco minutos de um eclipse solar para que alguns astrónomos, entre eles o inglês Arthur Eddington, provassem que Einstein estava certo ao identificar o fenómeno da refração da luz em contacto com o campo gravitacional do sol. O reflexo desta parca aceitação fica visível no Prémio Nobel da Física de 1921, que lhe foi atribuído não em virtude destas conclusões, mas de outra descoberta menos conhecida para o cidadão comum: a explicação do efeito fotoeléctrico, importante para o desenvolvimento futuro da teoria quântica. Ainda assim, é a palavra Relatividade que imediatamente surge, de entre os seus mais de 300 trabalhos científicos, sempre que o nome Albert Einstein é pronunciado. O seu contributo é inquestionável, sendo a aplicação da Teoria da Relatividade Geral ao Sistema de Posicionamento Global (GPS) uma das provas mais vivas. Ao fim de três anos, a 7 de novembro de 1919, o jornal “The Times” publicava a seguinte manchete: “Revolução na Ciência. Nova Teoria do Universo. Ideias de Newton derrubadas.” O reconhecimento por parte da comunidade científica tardou ainda mais, mas à medida se ia apercebendo da relevância das suas descobertas para a perceção do mundo, o físico, de origem judaica, vai ganhando notoriedade, prémios e reconhecimentos pelo seu trabalho (além do Nobel), nos quais se incluem a medalha Copley, da Royal Society of London (1925), e a medalha Franklin, atribuída pelo Franklin Institute (1935). Nascido na Alemanha, Einstein acabaria por radicar-se nos Estados Unidos, onde morreria junto da família e amigos mais próximos. Com um talento e génio incrível, o físico mais famoso do século XX valorizava bastante o recolhimento, definindo-se como um “viajante solitário” e acreditando que “a imaginação é mais importante que o conhecimento”. O seu processo de raciocínio, descrevia-o da seguinte forma: “Penso 99 vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho num grande silêncio, e a verdade é-me revelada.” Ao longo da vida, sempre procurou desconstruir a ciência. E nem as múltiplas ideias que fervilhavam na sua cabeça lhe tiravam o sono — sabe-se que o físico dormia, em média, dez horas por noite, recorrendo por vezes a sestas durante a tarde. R MARIA JOÃO BOURBON
IDEIAS ELÁSTICAS Os inventos mais simples podem ser também os mais úteis. A partir de uma ideia banal, o britânico Stephen Perry registou, a 17 de março de 1845, a patente 13.880, referente às “melhorias na elasticidade e (...) na produção de elásticos de borracha”. Anos antes, em 1820, Thomas Hancock havia inventado outro elástico de borracha, não vulcanizado e, por isso, com um handicap: nos dias mais quentes, o elástico derretia. O invento de Perry, fabricado por si e por Thomas Barnabas Daft a partir de látex extraído da árvore Hevea brasiiensis (também apelidada de árvore da borracha, utilizada para criar as primeiras bolas de desporto da história, em 1600 a.C.), ultrapassava essa falha, pelo que começou rapidamente a ser comercializado e aproveitado como material de escritório. Ao longo dos anos, foi adquirindo funções e tamanhos diversos: de pequenos a grandes, os elásticos têm hoje as mais variadas utilizações, desde fisgas das brincadeiras infantis até à medicina ortodôntica.
LUZES, CÂMARA, AÇÃO! A primeira projeção coletiva de um filme, pelo cinematógrafo dos irmãos Lumière, mostra operários a sair de uma fábrica, durante 20 minutos
HULTON ARCHIVE/GETTY
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Estamos a 22 de março de 1895 quando, no número 44 da Rue de Rennes, em Paris, que alberga a Sociedade de Apoio à Indústria Nacional, é feita a primeira exibição coletiva de um filme. A película, dos irmãos Lumière, chamava-se “La Sortie de l’Usine Lumière à Lyon” (“A Saída da Fábrica Lumière em Lyon”) e durava 20 minutos. Não era uma estreia absoluta de uma exibição de imagens em movimento: Thomas Edison já o tinha feito, em 1891, com o cinetoscópio. Mas o cinematógrafo de Auguste e Louis Lumière é o primeiro a ter sucesso junto ao público, com a sua capacidade de tornar a visualização de um filme numa experiência coletiva (tal como o cinema moderno), ao permitir que as imagens possam ser vistas por várias pessoas em simultâneo. Auguste e Louis tinham sido incitados pelo pai, Antoine Lumière, depois deste ter estado na apresentação do invento de Edison em Paris. Curioso e a par das novas tendências, achou que era “uma boa ideia mal aproveitada”, tendo regressado a casa com uma provocação aos filhos: “Vocês são capazes de melhor.” E foram, criando
uma caixa de imagens em movimento ainda mais funcional, a que chamaram cinematógrafo. Pesando cerca de cinco quilos, era mais fácil de transportar, e permitia gravar, imprimir e reproduzir imagens de qualidade a um ritmo muito mais lento do que o de Edison, que usava apenas 16 frames por segundo. Após as primeiras experiências, o cinematógrafo é apresentado publicamente no Salon Indien du Grand Café de Paris. As exibições regulares começam a 28 de dezembro do mesmo ano. O resto da história já é conhecida: a programação inaugural incluía o filme “A Chegada do Comboio à Gare de La Ciotat”, durante o qual reações de espanto e medo foram surgindo na cara dos espectadores, com alguns deles a fugir assustados da sala no momento em que, no ecrã, uma locomotiva avançava furiosamente em direção a eles. Em apenas um plano, de um minuto, a “magia” da Sétima Arte era apresentada ao grande público, entre o qual se encontrava George Méliès, que seria responsável pela criação do primeiro estúdio de cinema do mundo. Um ano depois da apresentação do cinema às massas, Auguste e Louis começam a percorrer a Europa, abrindo várias salas de cinema (em cidades como Lyon, Londres, Bruxelas e Berlim) e multiplicando o seu catálogo de filmes — que aumentou de 358, em 1897, para 2113, em 1903. Uma revolução crescente na forma de registar e exibir as imagens em movimento, que os Lumière não previam — aliás, diz-se que é de Louis a afirmação de que “o cinema é uma invenção sem futuro”. R MARIA JOÃO BOURBON
REVISTA 22/MAR/14
ESTREIA FOTOGRAMA DE "A SAÍDA DA FÁBRICA LUMIÈRE EM LYON"
BETMANN/CORBIS
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ABAIXO A POLIOMIELITE Durante várias décadas, uma doença terrível assolou os países mais desenvolvidos, nomeadamente os Estados Unidos. O seu nome era poliomielite, também conhecida como paralisia infantil. A esperança veio pela mão do investigador norte-americano Jonas Salk (na foto), que, a 26 de março de 1953, anunciou num programa de rádio ter descoberto a vacina — um ano após uma epidemia ter feito 58 mil novos casos nos EUA. Salk teve um grande ‘empurrão’ do ex-presidente Franklin D. Roosevelt. Aos 39 anos, Roosevelt descobrira ser portador do vírus, um caso raro entre os adultos. Empenhado na luta contra a doença, criou a Fundação Nacional para a Paralisia Infantil — conhecida por “March of Dimes” (uma espécie de ‘marcha do tostão’, na versão portuguesa) –, que incentivava as pessoas a enviar um ‘dime’ para ajudar a financiar a investigação sobre a doença. Esta e outras iniciativas do presidente foram essenciais para consolidar a ideia de que a poliomielite poderia ser praticamente erradicada — o que se verifica hoje, ainda que continue a surgir muito pontualmente em alguns países.
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DESBOBINAR SOM E IMAGEM Há 58 anos iniciava-se uma revolução na gravação e transmissão de sons e imagens em movimento, com o aparecimento do primeiro gravador de vídeo com qualidade e comercialmente viável
BETTMANN/CORBIS
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Estamos a 14 de abril de 1956, em Chicago. O salão do Conrad Hilton Hotel alberga a convenção da National Association of Radio and Television Broadcasters. O vice-presidente da CBS, William Lodge, comunica a 200 afiliados desta estação televisiva e a outras personalidades da televisão a aquisição, a uma pequena empresa com sede na Califórnia (a Ampex), de uma nova tecnologia que iria revolucionar por completo a indústria televisiva. Anunciada a novidade, a câmara e vários monitores são ligados, e eis que Lodge surge no ecrã repetindo exatamente as palavras que tinha dito minutos antes. O homem da CBS, no entanto, permanecia sentado na sala, em silêncio. A multidão, de início surpresa e silenciosa, rapidamente se apercebe da novidade que estava à sua frente, rompendo num estrondoso aplauso. Era assim apresentado o Ampex VRX-1000 (inicialmente intitulado Mark IV), o primeiro gravador de videotape (fita magnética) de qualidade e comercialmente viável. “Foi uma apresentação de sucesso”, contaria em 2006 um dos elementos da equipa
REVISTA 12/ABR/14
da invenção, Charles Anderson, à TV Technology. “Nessa noite, Ginsburg e eu saímos com o Blair Benson, da CBS, para o Blue Angel, para celebrar. O Ginsburg até dançava em cima das mesas.” Só na primeira semana a empresa vendeu mais de 75 aparelhos, pelo preço de 45 mil dólares cada um (atualmente seriam 233 mil euros). E a 30 de novembro do mesmo ano esta invenção teve a sua estreia nas televisões americanas, através da CBS, no programa “Evening News with Douglas Edwards”. Começava assim uma revolução na indústria televisiva, que iria alterar por completo hábitos e formatos de transmissão e consumo — feito que foi reconhecido, um ano depois, com um Emmy de Tecnologia e Engenharia. Nos bastidores deste invento encontrava-se uma equipa liderada por Charles Ginsburg, que, após três anos de investigações, foi mais longe do que o cinescópio, uma câmara de filmar associada a um monitor que demorava várias horas até que as imagens e os sons (de fraca qualidade) estivessem prontos para transmissão. Desenhada a partir de um sistema de áudio, através de bobinas de fita magnética, patenteado em 1938 por um italiano, a gravação em videotape encontrava-se à distância de um clique. Bastava premir um botão para gravar som e imagem numa fita enrolada em bobinas de 30 centímetros de diâmetro. A reprodução podia ser feita quase instantaneamente, com um atraso de alguns segundos. Além disso, era ainda possível retroceder na visualização, para rever a gravação ou gravar um novo acontecimento, sobrepondo-o a outro já registado. Com grandes desafios técnicos e aperfeiçoamentos ao longo dos tempos — nos quais se inclui a introdução da cor, a possibilidade de edição e a redução do formato para videocassete —, a bobina de fita magnética permanecerá o método base de gravação de vídeo até 1985, altura em que foi introduzido um novo sistema, a fita em espiral, trazendo melhorias em termos de preço e de qualidade. R MARIA JOÃO BOURBON
PARCERIA WILLIAM LODGE, DA CBS (ESQ.), E O PRESIDENTE DA AMPEX, GEORGE LONG, JUNTO AO PRIMEIRO GRAVADOR DE VÍDEO
VIDAS DE CÃO, VIDAS DE HOMEM Considerado o melhor amigo do homem, o cão foi uma fiel cobaia para uma das mais importantes descobertas médicas do último século. Do seu corpo foram extraídas as proteínas de insulina que vieram salvar milhares de vidas humanas. A ideia partiu do cirurgião canadiano Frederick Banting, que, com o professor de Fisiologia da Universidade de Toronto John McLeod e o estudante Charles Best, isolou a insulina, em 1921. À custa do sacrifício de vários cães, devido à destruição do pâncreas, a experiência pôs fim ao sofrimento dos doentes com diabetes tipo I, incapazes de produzir insulina. Até então, morriam: a uma “dieta de fome”, sem qualquer hidrato de carbono, seguia-se a magreza extrema e o colapso do organismo. A equipa de Banting deu aos doentes um salva-vidas, e logo a partir de 15 de abril de 1922 tornou-se possível o uso generalizado por injeção (na imagem, amostras de insulina dos primeiros tempos da nova terapia). A descoberta foi de tal forma reconhecida que, além de ter valido o Nobel da Medicina aos autores, em 1923, o Canadá colocou a imagem de um frasco de insulina nas suas notas de 100 dólares.
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A GRANDE DAMA DE FERRO
UM PENNY PELA RAINHA VITÓRIA
A RASGAR O CÉU A TORRE EIFFEL NA ALTURA DA EXPOSIÇÃO UNIVERSAL, EM 1889
ND/ROGER VIOLLET/GETTY IMAGES
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Há 125 anos, no dia 6 de maio de 1889, a torre Eiffel abria ao público, durante a Exposição Universal de Paris. Em pouco tempo, o seu êxito conseguiu abafar as vozes de protesto que, anos antes, se tinham levantado contra a sua construção
Estamos a 6 de maio de 1889. Homens, mulheres, famílias inteiras, de todo o mundo, deslocam-se a Paris, para visitar a Exposição Universal, que se estendia pelas zonas do Champ-de-Mars, Trocadéro e Invalides. Como “porta de entrada” para este evento mundial, inserido nas comemorações do centenário da Revolução Francesa, tinha sido construída uma enorme torre de ferro, que nesse dia abriu pela primeira vez ao público: a Torre Eiffel, nome que vem de Gustave Eiffel, o engenheiro que liderava a empresa que lhe deu vida. Embora os elevadores ainda não se encontrassem em funcionamento, quase 30 mil visitantes subiram nesse dia os mais de 1700 degraus que ela tinha na altura. Durante a exposição, o edifício que viria a tornar-se o ex-líbris de Paris receberia quase dois milhões de visitas. O grande êxito calou as vozes de protesto, que anos antes artistas e intelectuais tinham erguido, nomeadamente numa petição — “em nome do bom gosto francês desvalorizado, contra a edificação... da inútil e monstruosa Torre Eiffel” — publicada no jornal “Les Temps”. Com 300 metros de altura (foram acrescentados mais 24 posteriormente), a “Dama de Ferro”, como os franceses a apelidaram, foi a torre mais alta do mundo até à construção do Edifício Chrysler (329 metros), em
Nova Iorque, inaugurado em 1930. A sua estrutura inovadora, em ferro, composta por mais de 18 mil peças metálicas e dois milhões e meio de parafusos, e a vista de 360º que oferecia sobre a capital francesa, eram os principais atrativos para arquitetos e turistas — nos quais se contam celebridades como o príncipe de Gales e futuro rei Eduardo VII ou o xá da Pérsia, entre outros. O próprio Gustave Eiffel colocou o seu escritório no topo da torre, local onde terá recebido Thomas Edison, que aí fez uma pequena exibição do seu fonógrafo. Apesar de não ter sido o autor do projeto (desenvolvido por engenheiros que para ele trabalhavam), foi Eiffel que suportou uma parte do investimento, perante a incapacidade do Governo francês em cobrir todos os custos. O engenheiro teria 20 anos para rentabilizar a torre e reaver o dinheiro investido, proeza que conseguiu em menos de um ano, devido ao grande êxito do monumento. E a desativação da torre ao fim desse período ficou apenas no papel. O edifício que tinha sido pensado para ser apenas temporário foi salvo pela rádio. A prova de que poderia servir como base de transmissão radiofónica acrescentou-lhe uma utilidade... e 24 metros de antena. Em 1898 começaram os primeiros testes telegráficos entre a torre e o Panteão, a 4 km de distância; e, à medida que os anos avançavam, intensificavam-se as distâncias e experiências, tendo a torre servido de base para transmissões radiotelegráficas durante a Primeira Guerra Mundial. Em 1921, iniciaram-se as primeiras transmissões de rádio a partir da torre Eiffel e em 1935 as de televisão. Com 125 anos de idade, a “Dama de Ferro” permanece intacta, continuando a ser uma das principais atrações turísticas do mundo e um ícone da cidade luz. R MARIA JOÃO BOURBON
REVISTA 3/MAI/14
Certo dia, um homem de 42 anos vê uma jovem mulher recusar ao carteiro, entre lágrimas, uma carta do seu amado, por não ter dinheiro para pagar o transporte. O episódio, lenda ou história, ilustra bem uma era antes do advento dos selos postais. Nesses tempos, o pagamento no destino era uma realidade com um final incerto. Conta-se que foi ao presenciar esta cena que Rowland Hill, membro do Parlamento do Reino Unido, terá tido a ideia de criar o selo postal, utilizado pela primeira vez em 6 de maio de 1840. Para acabar com as tarifas a pagar no destino, foi adotada uma taxa nacional de um penny (centavo), paga pelo remetente. O selo com o preço seria colado no canto superior direito dos envelopes — sendo o primeiro, com o retrato da rainha Vitória a preto e branco, conhecido como ‘Penny Black’. Em circulação durante 40 anos, este primeiro selo foi mudando de cor e de feitio, deixando um legado para interessados e colecionadores. Representando geralmente personalidades do país de origem ou traços culturais, os selos postais transportam consigo, além da história de um remetente, a história de um país.
O PÓ DESTRUTIVO A 7 de maio de 1867, o engenheiro sueco Alfred Nobel registou a patente da dinamite. Acusado mais tarde de ser um “mercador da morte”, criou uma fundação que atribui os prémios mais famosos do mundo
Estamos a 7 de maio de 1867 quando é registada pela primeira vez, em Inglaterra, a patente de um novo explosivo, a que o seu autor, o engenheiro sueco Alfred Bernhard Nobel, chamou dinamite. Meses depois seria também registada na Suécia. Procurando controlar a explosividade da nitroglicerina — descoberta pelo italiano Ascanio Sobrero em 1846 e proibida na Europa —, Alfred Nobel descobriu uma forma mais segura de a fabricar e comercializar, o que lhe valeu uma grande fortuna mas também algumas críticas. A fórmula secreta, que ficaria conhecida como “o pó destrutivo de Nobel”, consistia na junção de kieselguhr (uma
INVENTOR ALFRED NOBEL NO SEU LABORATÓRIO, NUMA DATA DESCONHECIDA
REVISTA 10/MAI/14
GETTY
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areia absorvente) à nitroglicerina, originando uma massa passível de ser moldada em cilindros. Os dos primeiros tempos tinham 20 centímetros de comprimento por 2,5 de diâmetro. O inventor sueco crescera influenciado pela profissão do pai, que, após alguns fracassos profissionais, se mudara para São Petesburgo, na Rússia, tornandose num fabricante de ferramentas e explosivos. Aos 16 anos Alfred era já um químico capaz, e, mais tarde, lançou-se nas experiências com nitroglicerina líquida. As suas experiências arriscadas resultaram na morte do irmão mais novo (e de mais quatro trabalhadores), numa explosão, e valeram-lhe o apelido de “cientista louco”. No entanto, este episódio não o demoveu de continuar a procurar uma solução que tornasse a produção e a utilização da nitroglicerina mais seguras. Conseguiu-o em 1864, simplificando enormemente o trabalho do homem. A partir desse momento, pás e picaretas seriam substituídas pela dinamite na construção de estradas, canais e túneis, fazendo baixar o tempo de construção de anos para meses. Alfred Nobel foi depois aperfeiçoando os seus explosivos, tendo criado em 1876 a dinamite gelatinosa e em 1889 uma das primeiras variedades da pólvora sem fumaça, a balistita. À data da sua morte, era proprietário de 90 fábricas e 350 patentes. Conseguira inclusive ler o seu próprio obituário antes de morrer: aquando da morte de outro irmão, um jornal francês, pensando que Alfred morrera, publicou o seu obituário. Intitulado “O mercador da morte está morto”, o artigo descrevia o engenheiro como o responsável pela descoberta de um dispositivo militar capaz de matar mais pessoas com maior rapidez. Aquilo que leu tê-lo-á horrorizado e, na expectativa de não ser recordado dessa forma, acabaria por deixar a sua fortuna a uma fundação por si criada, com o intuito de premiar, a cada ano, personalidades que tivessem impulsionado o progresso nas áreas da Física, Química, Medicina, Literatura, Economia e da Paz. Nobel conseguiria assim mudar o seu verdadeiro obituário, ao deixar o seu nome naqueles que se tornariam os prémios de desenvolvimento humano mais conceituados do mundo, distribuídos pela primeira vez em 1901. MARIA JOÃO BOURBON
REUTERS
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A CRIANÇA QUE SALVOU O PAPA Na Praça de São Pedro, no Vaticano, Karol Wojtyla, conhecido desde 1978 como Papa João Paulo II, cumprimentava a multidão, cerca de 10 mil pessoas. Passavam poucos minutos das 17h locais, nesse dia 13 de maio de 1981, quando um turco de 23 anos disparou três tiros sobre o Sumo Pontífice com uma Browning de nove milímetros, atingindo-o no abdómen, mão esquerda e cotovelo. A perder muito sangue, João Paulo II seria imediatamente levado para a clínica Gemelli, onde seria submetido a uma cirurgia durante mais de cinco horas e ficaria internado 22 dias. Detido, o autor da tentativa de assassínio, Mehmet Ali Agca, seria condenado a prisão perpétua, confessando ter falhado o alvo em parte por o Papa estar a segurar numa criança de 18 meses — que ficaria conhecida como aquela que salvou o Papa da morte. No entanto, Wojtyla não guardou ressentimentos: dois anos depois, visitou o turco na cadeia, oferecendo-lhe o seu perdão. Ali Agca seria libertado em janeiro de 2010. A tentativa de assassínio seria mais tarde reclamada como o terceiro segredo de Fátima, alegadamente confidenciado pela Virgem Maria na sua aparição aos pastorinhos, em 1917.
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O CÉU É O LIMITE Foi há 108 anos que os irmãos Wright receberam a patente pelo primeiro aeroplano a motor da história capaz de ser controlado no ar. Uma invenção que seria o embrião da aviação moderna
GETTY IMAGES
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Estamos a 22 de maio de 1906 quando Orville e Wilbur Wright recebem a patente pela invenção da primeira máquina voadora autopropulsada da história. O primeiro voo estável e controlado não foi consensual, provocando longas guerras de patentes — nas quais o conflito contra Glenn Curtis (que reconstruíra o avião de Samuel Langley, cedido pelo Smithsonian Institute para provar que este poderia ter voado antes do dos irmãos Wright) foi o mais mediático, causando longos ressentimentos entre os dois irmãos e este instituto. No entanto, a patente da primeira máquina voadora capaz, estável e controlada acabaria por ser atribuída aos Wright, cujo primeiro voo teriam realizado três anos antes, nos campos de Kitty Hawk, na Carolina do Norte, Estados Unidos. Uma moeda ao ar determinou qual dos irmãos seria o primeiro a experimentar: Orville. E, em apenas 12 segundos e ao longo de 36,5 metros, o Flyer I — com 12,3 metros de envergadura e 340 quilogramas — mostrou ao mundo que era possível vencer a gravidade e voar. Percorreu 12 metros ao longo de um
carril de madeira e lançou-se aos céus, com a ajuda de um motor, asas flexíveis e um sistema de controlo assente em três eixos distintos. Dias antes, o jornal “The New York Times” vaticinava um futuro incerto para as máquinas voadoras, ao afirmar, após a aeronave de Langley se ter despenhado numa tentativa de voo, que a Humanidade estava a anos-luz de subir em direção aos céus (até então era só possível planar ou conheciam-se apenas experiências toscas com estes aeroplanos). Mas os irmãos Wright, comerciantes de bicicletas, provaram o contrário, investigando metodicamente os fenómenos físicos, a partir de experiências realizadas num túnel de vento caseiro, que permitiu descobrir qual a construção mais eficiente. Sem formação académica completa, prolongaram as pesquisas por anos, baseando-se nas experiências do engenheiro alemão Otto Lilienthal, que acreditava que a solução passava por imitar o movimento das asas dos pássaros. Os dois autodidatas mantiveram tudo em segredo, de modo a evitar cópias do seu avião. E tardaram a revelar ao mundo o feito, presenciado apenas por cinco testemunhas. Mas tinham consciência da revolução que iriam provocar ao nível dos transportes e comunicações, bem como as alterações que despertariam nos conceitos de tempo e de espaço. Aliás, é de Wilbur uma carta endereçada à irmã, na qual pedia: “Diz a Orville que os seus voos causaram uma revolução nas ideias do mundo sobre a possibilidade de voar.” R MARIA JOÃO BOURBON
REVISTA 17/MAI/14
PELOS ARES ILUSTRAÇÃO COM A REPRODUÇÃO DO PRIMEIRO VOO DE ORVILLE WRIGHT, QUE IA DEITADO, PARA DIMINUIR A RESISTÊNCIA AO VENTO
A ORIGEM DA VASELINA Tudo começou num poço de petróleo, na Pensilvânia, Estados Unidos. Aos 22 anos, o químico Robert Chesebrough deslocara-se a esse local, na sequência de queixas sobre a “rod wax”, uma substância que se colava aos equipamentos de perfuração. No terreno, reparou que o mesmo produto era reaproveitado pelos operários para sarar cortes e queimaduras. Apercebendo-se das suas potencialidades, o jovem químico levou para o laboratório uma amostra, a partir da qual desenvolveu uma substância cicatrizante à qual deu o nome de “geleia de petróleo”. Inicialmente sem grande êxito no mercado — o seu nome assustava potenciais compradores —, a substância tornar-se-ia, graças a duas alterações, uma das pomadas mais usadas no mundo. Em primeiro lugar, o nome, registado como Vaselina a 14 de maio de 1878; e, depois, uma inteligente estratégia de marketing: distribuindo amostras grátis a donas de casa, médicos e outros clientes, a sua empresa tornou-se a primeira a utilizar esta técnica em larga escala, com sucesso. No final dos anos 80 do século passado, a empresa de Chesebrough chegou a vender, nos Estados Unidos, uma embalagem por minuto.
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O ADEUS DE BONNIE E CLYDE O casal fora da lei mais emblemático da história dos Estados Unidos caiu numa emboscada da polícia. Tombavam os criminosos, agigantava-se o mito
FOTOGRAFIAS DE HULTON ARCHIVE/GETTY IMAGES
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Estamos a 23 de maio de 1934. Na autoestrada 154, no Estado norte-americana de Louisiana, o casal fora da lei mais mediático dos anos 30 nos Estados Unidos cai numa emboscada montada pela polícia do Texas: durante dois longos minutos, mais de 100 balas foram disparadas, perfurando o carro que Bonnie Parker, 23 anos, e Clyde Barrow, 25, tinham roubado. O casal tem morte imediata. Conhecido apenas pelo conjunto dos primeiros nomes (Bonnie e Clyde), o casal aterrorizara — e, ao mesmo tempo, fascinara — o Texas e o Oklahoma durante quatro anos, com assaltos a bancos e bombas de gasolina e fugas aparatosas. Nalguns casos, mais extremos, cometeram mesmo assassínios. O seu comportamento errante e ilegal tornou-se também motivo de admiração, sendo visto por muitos norte-americanos como uma forma de contestação ao capitalismo que mergulhara o país na Grande Depressão. Fruto de uma sociedade marcada por privações, Bonnie e Clyde representavam, afinal, os que lutavam contra o sistema e tinham uma enorme vontade de ultrapassar a desgraça. Foi com este intuito, juntamente com um amor à primeira vista, que
REVISTA 23/MAI/14
Bonnie Parker, uma bonita rapariga de cabelo cor de fogo, deixou, aos 19 anos, o bar onde trabalhava e o seu casamento (que, aliás, já ruíra com as ausências constantes do marido e a entrada deste na prisão), se juntou a Clyde Barrow, com o qual passou a viver. Ao retrato dessa época juntam-se as fotos que ambos iam fazendo, mais tarde reveladas pela polícia e imortalizadas pelos media, nas quais se inclui a famosa fotografia de Bonnie com um charuto na boca, pistola da mão e um pé assente no para-choques de um Ford. Esta imagem que iam construindo — a de uma dupla apaixonada, bonita, irreverente e destemida — contribuiu para a aura que o casal em fuga foi adquirindo. Isto apesar de não atuarem sozinhos. Tinham o seu bando — dos quais fazia parte Buck, irmão de Clyde — e mantinham um contacto próximo com as respetivas famílias, com quem comunicavam muitas vezes atirando, de passagem, uma garrafa de Coca-Cola com uma mensagem no interior indicando, por exemplo, um ponto de encontro. “O que nós gostámos em Bonnie e Clyde não era o facto de eles serem assaltantes de bancos, porque eram péssimos (...). O que os tornou tão atrativos e relevantes, e tão perigosos para a sociedade, é que eles eram revolucionários da estética”, pode ler-se no livro “Easy Riders” (de Peter Biskind), que cita David Newman, um dos argumentistas do filme sobre a vida do casal realizado por Arthur Penn em 1967. Na verdade, a história desta dupla contribuiu para toda uma cultura pop — musical, literária e cinematográfica — que iria emergir e afirmar-se nas décadas seguintes. Talvez ambos o tivessem pressentido, mas o que sabiam era que o seu tempo estava contado. Como pode ler-se num dos poemas que Bonnie Parker escreveu pouco tempo antes do fim: “Um dia eles morrerão juntos/ E sepultá-los-ão lado a lado/ Para poucos será pesar/ Para a lei, um alívio/ Mas é a morte para Bonnie e Clyde.” R MARIA JOÃO BOURBON
UNIDOS NA VIDA E NA MORTE BONNIE E CLYDE NUMA DAS MUITAS FOTOS DE POSE, TIRADAS, POR VEZES, ENTRE DOIS ASSALTOS
OS PRIMEIROS JEANS No final dos anos 40 do século XIX chegavam à Califórnia pessoas oriundas dos mais variados pontos do globo, na sequência de notícias sobre a descoberta de ouro em Sutter’s Mill. Entre os que se tinham lançado na “corrida ao ouro” estava o alemão Levi Strauss, que se instalou em São Francisco, onde abriu uma loja de tecidos, a Levi Strauss & Co. Verificando que a abertura dos bolsos das calças que produzia não duravam muito tempo intactos, um dos seus clientes, o alfaiate Jacob Davis, teve a ideia de colocar rebites de cobre nos cantos dos bolsos e no topo da braguilha das calças. O problema é que não tinha dinheiro para avançar com a ideia, nem sequer para registar a patente — 68 dólares (58 euros). Propôs sociedade ao alemão, que aceitou. A 20 de maio de 1873, os dois receberam a patente pela criação das calças de ganga azuis, com rebites. Utilizadas inicialmente por lenhadores, mineiros e cowboys, estas calças, inicialmente conhecidas por waist overalls (por cima de tudo), conquistam o mundo a partir da II Guerra Mundial (eram muito utilizadas pelos soldados americanos fora do serviço) e, ainda mais, com o movimento hippie nos anos 60, que as imortalizou sob o nome de jeans.
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BICHOS EM LISBOA
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Há 130 anos era inaugurado o Jardim Zoológico e de Aclimatação de Lisboa. Desde então, mudou duas vezes de localização, de espécies e até de estratégia, tornando-se muito mais do que uma mera montra de animais
Estamos a 28 de maio de 1884. A família real e grande parte do Governo deslocam-se a São Sebastião da Pedreira, em Lisboa, para assistirem à inauguração do Jardim Zoológico e de Acclimação em Portugal, o primeiro parque com fauna e flora da Península Ibérica. Durante o evento, e nos meses que se seguiram, foram muitos os que visitaram o novo jardim lisboeta, para ver os 1127 animais existentes, de cerca de 50 espécies diferentes. Até ao final desse ano, 170 mil pessoas terão visitado o jardim, uma afluência notável para a época. O novo espaço não teria sido construído sem a iniciativa do médico oftalmologista e naturalista Pedro Van Der Laan, grande conhecedor de alguns zoos da Europa, que contou com o apoio de personalidades como o Rei D. Fernando II, o zoólogo José Vicente Barboza do Bocage e o médico e professor José Thomaz Sousa Martins. Das instalações de São Sebastião da Pedreira — cedidas gratuitamente pelos proprietários — o jardim zoológico passou para Palhavã, para a zona onde se situa hoje a Fundação Calouste Gulbenkian, e, posterior-
mente, para o local atual, a Quinta das Laranjeiras, em Sete Rios. Durante essa mudança, um incidente abala a cidade: um leopardo foge do parque, para grande susto da população, acabando por ser abatido pela Guarda Nacional. Em 1927, a remodelação do parque pelo arquiteto Raul Lino oferece-lhe uma cara renovada, incluindo a já famosa aldeia dos macacos. E, até 1974, a fauna e a flora do Brasil e das colónias portuguesas forneciam espécimes variados, exóticos e pouco conhecidos. No entanto, a queda do Estado Novo e a independência das colónias em África significou uma quebra expressiva no fornecimento de animais. O parque iniciou um período de crise, pautado pela falta de verbas, que o tornaram incapaz de garantir as condições mínimas de higiene. A partir dos anos 90, consegue modernizar as instalações e os serviços, deixando de ser uma simples montra de animais selvagens. Atualmente, “além do trabalho diário de conservação das [330] espécies” e 2000 animais, a equipa do jardim dispõe de um projeto educativo e de um Hospital Veterinário (considerado o melhor da Europa pela Associação Europeia de Zoos e Aquários), sendo igualmente “requisitada internacionalmente para participar em projetos de reintrodução de animais no habitat natural”, conta ao Expresso Paulo Saúde, do departamento de marketing do Jardim Zoológico de Lisboa. Como, por exemplo, em 1991, com a reintrodução de Shibula, uma fêmea de rinoceronte-negro, na África do Sul — onde já foi mãe de pelo menos cinco crias. MARIA JOÃO BOURBON
OUTROS TEMPOS UMA FOTOGRAFIA DE VISITANTES NO JARDIM ZOOLÓGICO NO PRIMEIRO QUARTEL DO SÉCULO XX
REVISTA 31/MAI/14
NO TOPO DO MUNDO São quatro da madrugada quando Edmund e Tenzing acordam num acampamento montado no monte Evereste. O primeiro par de alpinistas da expedição britânica liderada pelo coronel John Hunt já havia tentado, dias antes, alcançar o topo, sem sucesso. Agora, era a vez do neozelandês Edmund Hillary e do nepalês Tenzing Norgay tentarem a sorte. Depois de tirarem o gelo que se acumulara nas botas durante a noite, fizeram-se ao caminho. Um percurso difícil, ainda agravado pelo facto de a rarefação do ar e a diminuição da pressão causarem fadiga, enjoos e perda de coordenação. Mas, finalmente, às 11h30 desse dia 29 de maio de 1953, os dois companheiros de viagem chegaram ao topo do mundo, 8848 metros acima do nível do mar. Durante 15 minutos, aproveitaram a sensação de estar no cume do monte Evereste, apreciando a paisagem e tirando fotografias. Mas rapidamente tiveram que regressar, uma vez que dispunham de uma pequena reserva de oxigénio. O seu regresso imortalizaria os dois alpinistas como heróis internacionais, por terem sido os primeiros a conseguir tal feito.