Scope

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Scope: “área que limita a acção ou o significado, alvo ou área de influência”. Cada um ocupa uma área própria onde tudo acontece como ser, como humano. Por vezes essa área pode ser dividida com um outro ser, da mesma espécie, principalmente quando surge o amor. Este sentimento altera completamente, no sentido sentimental, emocional, essa área. Sendo uma das mais difíceis tarefas humanas, é uma das mais importantes que nos marca, nos emociona, que nos transporta, eleva e equilibra mas também que nos magoa, quebra, rebaixa, enlouquece e suicida. É este o tema principal – o amor – uma forma de explorar tudo o que existe à sua volta, tentando perceber como surge, como se desenvolve, o que provoca, o que é, o que foi. Rui Horta, cria um espaço virtual, um percurso sinuoso, com dois intérpretes activos (bailarinos) que vivenciam esse espaço, onde o público é separado em dois grupos (feminino e masculino), cada um com um ângulo de visão diferente, devido à forma em curva do espaço. Será que aquilo que cada um vê é o que realmente é ou é o que querem que seja? Cada um vê o que quer ver e, a certo momento, tem a possibilidade de alterar a sua visão. Esta é uma peça onde o público faz parte dela, interage com o espaço, com as personagens, e o leva a questionar‐se sobre o que vê, se o que pensa ver corresponde ou não à realidade. “Funcionando como uma verdade, algo que desloca o que vemos para o que queremos ver.” A luz é um elemento presente muito importante, é o seu movimento e as suas alterações que provocam encontros e desencontros entre as personagens, que alteram o espaço e que comunicam com o público narrando uma história. Uma crítica à sociedade presente que põe rótulos em tudo não sendo o mais correcto. Apenas através daquilo que vê, ou que pensa ver, tira conclusões sem sequer conhecer. Aquilo que vemos e pensamos ser real não corresponde de facto à realidade mas sim como uma pequena parte dela. “Sabes? Hoje vi‐te sem olhar para ti. És a mulher mais linda que eu já vi, esta noite.” Dentro desta falsa visão, os intérpretes vão tentando encontrar uma forma certa de comunicar entre si. Após vários desencontros, mal entendidos, eles encontram um equilíbrio, momento em que ambos se conhecem. Como são e não quem são. “Como vejo o outro? Como é que o outro me vê?” Uma excelente expressão corporal que marca cada momento, em conjunto com a luz e com as palavras. Esta é a melhor forma de expressar o amor, através da linguagem corporal. Momentos calmos nos quais o corpo se move suavemente e se equilibra parecendo que faz parte daquele espaço contrastam com os momentos de agitação, desequilíbrio, desespero e procura. E todos estes momentos têm uma forma e uma luz diferente, a luz branca que marca o equilíbrio e a ausência dela que marca o desespero e a procura, de um novo equilíbrio ou de um novo amor. O elemento que marcava presença era o quadrado de luz, projectado no chão, sempre em constante movimento. Foi assim que começou, entre quadrados verdes e roxos, os homens e as mulheres (o público) escolhiam um quadrado da sua cor e, nunca o perdendo de vista, seguiam‐no até aos seus lugares. Mesmo durante a peça havia a perseguição ao pequeno quadrado de luz. Será que nós, homens e mulheres, estamos confinados a um pequeno quadrado imaginário de luz colorida, que nos guiará na nossa procura? Uma curva que nos separa, que apenas nos deixa ver uma pequena parte da realidade mas que também nos dá a possibilidade de ir mais além e podermos ver tudo aquilo que pensávamos ver mas que não era real. E será que tudo o que vemos não é a realidade porque existe algo que não nos deixa ver ou é porque nós não queremos ver? Scope: espaço, alcance, âmbito, liberdade, oportunidade. “Tudo acaba como começa.”

coreógrafos ‐ Rui Horta | bailarinos – Romeu Runa e Elisabeth Lambeck | artistas – Tiago Cerqueira (música

original) at Teatro Garcia de Resende, Évora.

Mariana Fartaria . Novembro 2007



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