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500 Anos da Dedicação da Sé do Funchal

A realização da exposição 500 Anos da Dedicação da Sé do Funchal: Fé, Arte e Património/Um olhar sobre a Obra do Padre Pita Ferreira, pensada para abrir ao público a 18 de outubro de 2017, marca a concretização de um desafio que o Museu de Arte Sacra do Funchal (MASF) assinalou para a sua nova programação: celebrar anualmente o Dia Nacional dos Bens Culturais da Igreja com uma exposição temporária, capaz de conjugar a identidade do Museu e da sua coleção com outras vertentes da cultura, numa transversalidade de leituras ligando a arte, o religioso, a historiografia e o contemporâneo. Foi o que, de diferentes modos e em vários planos, reunido obras e documentos e conjugando estratégias narrativas complementares, julgamos ter conseguido com esta exposição, cuja revisitação em catálogo digital quer, sobretudo, satisfazer objetivos de registo, aprofundamento e partilha desse legado, realizando uma certa “ética do arquivo”, como testemunho do presente que fica ainda para o tempo que vem.

Em primeiro lugar, sendo o MASF um museu diocesano e, a riqueza e unicidade da sua coleção tão referenciais da Sé do Funchal, era elementar pensarmos uma exposição que levasse a uma atualização desse re-conhecimento junto dos públicos: nos temas e núcleos constituídos, nas imagens convocadas e nos recursos museográficos criados. O intuito era também o de expor ligações temáticas essenciais a este tema, evidenciando aspetos porventura óbvios, mas talvez recalcados pelo tempo. No fundo, tratava-se de criar uma exposição que colocasse em primeiro plano a Sé do Funchal e todo o significado da efeméride notável dos 500 anos da sua Dedicação, tomando a força simbólica deste ícone maior, para explorar – através dos elencos e núcleos de objetos e das reflexões e questões promovidas – releituras e (re)significações. A Catedral como igreja matriz que congrega as outras comunidades cristãs, a Catedral como centro histórico da evangelização insular e atlântica, com testemunhos incontornáveis deixados na arte, na cultura e na sociedade, dessa gesta notável de 500 anos de missionação; a Catedral como presença e mediação da Beleza que perdura.

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Como fica patente no presente catálogo, a exposição dos 500 Anos da Dedicação da Sé do Funchal. Um olhar sobre a obra do Pe. Pita Ferreira foi uma oportunidade de reelaborar o roteiro de visita do Museu reagrupando diversos núcleos temáticos ao longo dos três andares do Museu, por forma a melhor captar a riqueza e variedade de perspetivas a que o tópico central desta exposição permitiria aceder, se suportado por um trabalho de investigação que trouxesse à luz novos dados e por uma museografia capaz de redirecionar o olhar na descoberta de novos horizontes e perspetivas.

O entendimento do trabalho e da vocação própria de um museu eclesial, apoiado numa museografia aberta e capaz de explorar a pluralidade de ligações e de leituras que um dado tema pode trazer, evidenciou-se particularmente na incorporação do núcleo temático sobre a vida e obra do Padre Pita Ferreira: ao mesmo tempo que era prestada uma justa homenagem à figura de um dos mais relevantes sacerdotes investigadores da primeira metade do século XX, com obras de referência publicadas na área do património cultural e religioso – de que a obra sobre a Sé do Funchal, de 1963, é ainda hoje um marco incontornável –, alargava-se o olhar e o campo da compreensão e interpretação da efeméride assinalada. A opção por complementar a exposição com um ciclo de conferências à volta de temas conexos com a vida e obra do Padre Pita Ferreira trouxe ainda à reflexão e ao debate aspetos menos conhecidos do vasto trabalho do Pe. Pita Ferreira enquanto pastor e historiador capaz de entender a pastoral como uma práxis ativa de conhecimento e evangelização.

Com esta exposição e todo o corolário de ações que deram corpo à sua realização – da investigação à museografia, das visitas orientadas às conferências temáticas –, pretendeu o MASF não só ir ao encontro da sua missão no âmbito das orientações da Igreja sobre Arte, Fé e Cultura mas, de certo modo, assinalar na sua programação regular, a concretização de alguns objetivos estratégicos: tornar o Museu de Arte Sacra do Funchal uma instituição de referência no meio em que se insere, criar uma dinamização que proporcione maior visibilidade ao Museu e incremento do número de visitantes; ter uma programação aberta, que parta da sua identidade própria para mostrar novos trilhos de mediação e expressão artística. Neste sentido, também outras das iniciativas anuais do MASF, continuam a procurar traduzir objetivos de presença e de mediação, vectores fundamentais para tornar mais vivo o Museu no meio dos seus públicos, sobretudo o dos jovens e dos artistas, procurando dar espaço a algumas novas expressões e linguagens, acolhendo na sua programação o trabalho de jovens criadores, suscitando espaços de reflexão e partilha acerca das novas realidades e conceções artísticas, que relevam de uma nova compreensão do mundo como a casa comum que hoje habitamos.

Museu de Arte Sacra do Funchal: identidade forte, responsabilidade partilhada. Uma identidade que é reflexo da ação. Porque toda a nossa atividade, programação e objetivos se reportam para, na prática do conhecimento e das mediações, sermos capazes de justificar e irradiar o nome da instituição. Possa o trabalho feito com a exposição que tomou por tema os 500 Anos da Dedicação da Catedral e a homenagem ao Padre Pita Ferreira ter sido um bom começo deste percurso e um testemunho veraz desta motivação.

João Henrique Silva (Diretor do Museu de Arte Sacra do Funchal)

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