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Introdução
OS 500 ANOS DA DEDICAÇÃO DA SÉ DO FUNCHAL: GÉNESE, DESAFIOS E DESENVOLVIMENTO DE UMA EXPOSIÇÃO TEMPORÁRIA NO MUSEU DE ARTE SACRA DO FUNCHAL
MARTINHO MENDES
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O rito da dedicação de uma igreja é uma celebração solene que consagra a Deus um novo templo construído, reconhecendo-lhe a dignidade e a aptidão para reunir a comunidade cristã na celebração da Eucaristia, na oração conjunta, na escuta da palavra de Deus e na receção dos sacramentos. Este rito segue uma prática da Igreja muito antiga, cumprindo com uma liturgia própria que compreende a atribuição da igreja a um patrocínio Titular – Santíssima Trindade; Jesus Cristo; Espírito Santo ou a Virgem Santa Maria –, a instalação de relíquias e a unção das paredes e do altar.
A dedicação da Sé do Funchal aconteceu a 18 de outubro de 1517, dia da festa de São Lucas. Foi D. Duarte Bispo de Dume quem sagrou o altar em honra de Nossa Senhora da Assunção e encerrou, em caixa de madeira, colocada sob o altar, as relíquias dos 11 mil mártires, uma pedra vinda da torre de Santa Bárbara, extraída do monte Sinai, e o pergaminho da sagração que documentava com precisão a data do cerimonial.
Celebrar o dia da dedicação da Sé do Funchal é permitir evocar a longa história de construção deste templo e conhecer alguns episódios relacionados com as primeiras comunidades cristãs do Funchal, designadamente os seus espaços de culto, a arte, o património e as respetivas invocações. A igreja de Nossa Senhora do Calhau, que se situava perto das margens da Ribeira de João Gomes foi, a partir de 1438, a principal ermida em torno da qual se organizava a vida cristã da cidade. O crescimento urbano e o aumento populacional mostraram a exiguidade da igreja que já não servia as necessidades espirituais da comunidade. A construção de uma nova igreja, que veio a ser chamada de “Igreja Grande”, foi iniciada em 1493 por determinação do rei D. João II e o duque D. Manuel, no então denominado Chão do Duque.
Demorou cerca de quinze anos até que a sede de Paróquia de Nª Sr.ª do Calhau fosse transferida para a igreja grande em 1508, coincidindo com o ano de elevação do Funchal a cidade. Apesar de se encontrar na última fase de obras, a igreja estava apta para a realização dos serviços religiosos.
Porém, foi apenas em 1514, com a criação da Diocese do Funchal através da bula Pro Excellenti Proeminentia emitida pelo Papa Leão X, que a esta nova e grande igreja foi elevada à categoria de Sé do Funchal. A dedicação ocorreu, como se viu, em 1517.
Génese e tema do projeto expositivo
Ao Museu de Arte Sacra do Funchal foi endereçado, no final do ano de 2016, por parte do Cabido da Sé e pela Diocese do Funchal, um pedido de colaboração para o desenvolvimento de uma exposição integrada no programa das comemorações jubilares da Dedicação da Sé do Funchal.
O tema da exposição, bem como o seu programa científico, a escolha das peças e dos espaços para a realização do projeto expositivo foram delineados no primeiro trimestre do ano de 2017. O título então definido “500 Anos da Dedicação da Sé do Funchal: Fé, Arte e Património. Um olhar sobre a obra do Padre Pita Ferreira” procurou assinalar os cinco séculos da solenidade que colocou a Sé como principal centro da vivência espiritual e cultural realizada pelo Povo de Deus neste arquipélago atlântico, enquanto procurou celebrar o livro A Sé do Funchal e o seu autor, o padre Manuel Juvenal Pita Ferreira (Madeira, 1912-1963).
A monografia A Sé do Funchal, publicada em 1963, foi, durante muitas décadas, a mais completa investigação acerca da história, da arte e do património da catedral da Cidade, orientando, ainda hoje, investigadores da arte e do património cultural do nosso arquipélago. A evocação e utilização da monografia enquanto eixo estruturante para a orientação dos núcleos e dos respetivos diálogos estabelecidos com a arte sacra, com procedência na Sé do Funchal justificou, ainda, a criação de uma homenagem ao Padre Pita Ferreira, personalidade da história da Diocese do Funchal, no século XX, cujo trabalho foi, entre outras dimensões, fundamental e pioneiro no estudo e valorização do património religioso da Madeira.
Desafios e reajustes
O projeto expositivo então delineado pelo MASF, que previa enfatizar algumas das obras da Sé do Funchal, integradas na sua coleção, teve de ser redimensionado na sequência do pedido de cooperação com a Direção Regional de Cultura (DRC) que solicitou ao MASF o empréstimo de 33 peças – entre pintura, escultura, ourivesaria e mobiliário – da sua exposição de longa duração, para integrar a exposição As ilhas do Ouro Branco: Encomenda artística na Madeira: Séculos VX -XVI, que viria a ser inaugurada a 16 de novembro de 2017, no Museu Nacional de Arte Antiga, para assinalar a abertura oficial das comemorações dos 600 anos da chegada dos portugueses ao Arquipélago da Madeira.
Este pedido excecional de saída de um tão grande número de obras da exposição do MASF, só ultrapassável pelas 66 peças saídas em 2009 para a exposição Obras de Referência dos Museus da Madeira, organizada pela Direção Regional dos Assuntos Culturais (DRAC) no Palácio Nacional da Ajuda, colocou enormes desafios à coerência científica do circuito expositivo do MASF.
A exposição para a celebração dos 500 Anos de Dedicação da Sé do Funchal estava inicialmente prevista para a Sala de Exposições temporárias do MASF, no rés-dochão. Uma vez que não se previa o grande deslocamento de peças provenientes da Sé, integradas no circuito expositivo no 1º e 2º andares, nomeadamente a cruz manuelina e as pinturas flamengas. A exposição temporária previa a integração de soluções digitais e audiovisuais que estabeleceriam diferentes conexões com os conteúdos expostos nos diferentes espaços do Museu, incluindo a sua Torre-varanda-mirante.
A saída de 33 peças do MASF para Lisboa, obrigou a que a exposição dos 500 Anos da Dedicação da Sé do Funchal fosse organizada em todos os andares e coleções do Museu funcionando, concomitantemente com os objetivos da efeméride, como uma forma de ocupar os vazios criados com o já mencionado empréstimo. Para o cumprimento desta estratégia, foi sugerido, pelo então diretor-adjunto do MNAA, o conservador José Alberto Seabra de Carvalho, em reunião ocorrida no MASF na presença de elementos da DRC e da direção do MNAA, o empréstimo, em jeito de permuta, de 10 grandes painéis de pintura, de oficinas de Lisboa da 1ª metade do século XVI, provenientes do MNAA.
A Exposição: três andares, três núcleos
A Exposição, que decorreu entre o dia 18 de outubro de 2017 e 31 de março de 2018 desenvolveu-se ao longo de três andares, cada um associado a um grande núcleo temático, onde se procurou valorizar a Sé do Funchal na dupla vertente do património móvel e imóvel. A exposição contou com as obras já existentes no acervo do Museu e com outros empréstimos da Sé do Funchal e de outros locais, como a Casa-Museu Frederico de Freitas e colecionadores particulares. Todas as obras foram expostas, sempre que possível, em proximidade com a obra escrita do padre Pita Ferreira, mais concretamente em relação com monografia A Sé do Funchal, na qual a maioria das peças expostas apareciam analisadas e acompanhadas com a reprodução de imagem.
Primeiro núcleo: A Sé do Funchal: Do livro ao objeto
O primeiro núcleo desenvolveu-se no primeiro andar ao longo de quatro salas principais.
A primeira sala funcionou como epígrafe da exposição, narrando a importância e significado do rito da dedicação da Sé através da reprodução em imagem do pergaminho do Bispo de Dume, em diálogo com a Cruz processional manuelina, a única e mais antiga peça da Sé do Funchal que foi possível apresentar, uma vez que todas as restantes peças do tesouro da Sé haviam sido emprestadas para a exposição em Lisboa. Perto da cruz foi criado um pequeno núcleo interpretativo intitulado de A Cruz Processional Manuelina e a Ourivesaria Sacra Quinhentista da Sé do Funchal.
No centro desta sala, em associação ao núcleo intitulado um olhar sobre a obra do Padre Pita Ferreira, foi apresentado um significativo conjunto documental, bibliográfico e arquivístico, que incluiu monografias, periódicos, documentos manuscritos e dactilografados, álbum de fotografias e provas fotográficas originais. Todos estes elementos reunidos, muitos deles inéditos e mostrados ao público pela primeira vez, foram resultado de uma pesquisa que contou com o apoio de várias instituições – a Biblioteca Municipal do Funchal; o Arquivo Histórico Diocesano do Funchal; o Arquivo e Biblioteca Pública Regional da Madeira e a Casa da Cultura de Santa Cruz – e com o contributo dos Familiares do Padre Pita Ferreira que puseram à disposição do MASF a sua coleção privada.
Toda a documentação reunida em torno do Padre foi organizada em quatro seções, expostas no interior das mesas-expositores, permitindo conhecer a vida e a obra do padre Pita Ferreira em quatro áreas principais, a saber: a Catequese e os Temas Religiosos; a História da Madeira; a Arte e o Património Regionais; a Etnografia.
Em diálogo com este núcleo central estiveram, além da Cruz Processional Manuelina, a Banqueta da Sé do Funchal, emprestada para o efeito, e a escultura de Nossa Senhora com o Menino ou da Escada, obra flamenga ou luso flamenga do início do século XVI, que pertenceu ao Padre Pita Ferreira, como atesta a relação dos seus bens em 1966, e que foi, mais tarde, doada ao Seminário Diocesano do Funchal.
Tanto a Cruz Processional Manuelina como a escultura da Virgem com o Menino ou da Escada estiveram presentes nesta exposição por um curto período de 15 dias e foram retiradas para seguir para Lisboa já que constavam, também, da lista de obras solicitadas para integrar a exposição “As ilhas do Ouro Branco: Encomenda artística na Madeira: Séculos XV-XVI”, que viria a inaugurar a 16 de novembro.
Em substituição da cruz manuelina, foi pedida para a exposição a escultura da Virgem da Paz, de 1921, da autoria de Francisco Franco, proveniente da paróquia de São Gonçalo onde foi pároco o Pe. Pita Ferreira e cujo templo foi por ele próprio desenhado. Tratouse, por isso, de uma imagem profundamente associada à sua história de vida eclesial. A escultura quinhentista da Virgem com o Menino foi, por seu turno, substituída por uma Estante de Missal de 1634, proveniente da Sé do Funchal, mas em reserva no MASF.
Na sala 2, através do enquadramento temático intitulado de A Sé do Funchal: Do livro ao objeto, foram apresentadas ao todo 43 peças procedentes da Sé do Funchal. Entre elas encontravam-se 38 peças de ourivesaria e uma escultura, a de Nossa Senhora do Rosário, pertencentes à coleção do MASF. Da Sé do Funchal foram temporariamente cedidas quatro imagens dos séculos XVII a XVIII: São José, São Joaquim, Santa Ana e Santa Rita de Cássia. Toda a imaginária religiosa exposta possuía adereços – coroas, cruzes, e palmas – em prata, estabelecendo, desta forma, uma particular relação com as peças de ourivesaria no interior das vitrines. As legendas descritivas e interpretativas de todo o conjunto de ourivesaria e imaginária exposto, surgiram acompanhadas da digitalização das respetivas páginas do livro A Sé do Funchal, onde cada peça surgiu analisada pelo padre Pita Ferreira, acompanhada da respetiva imagem a preto e branco.
Na sala 3, os relevos e demais fragmentos remanescentes do Camarim da Sé, obra da autoria do entalhador e imaginário Manuel Pereira, mandada executar em 1648 pela Confraria do Santíssimo Sacramento da Sé, foram dados a ver através de uma reorganização expositiva que apresentou novos fragmentos encontrados em 2014 no decurso da campanha de restauro do retábulo da Sé do Funchal que se encontravam na reserva do MASF. Nesta sala foi apresentada uma aguarela Sé do Funchal, de 1944, da autoria do Pintor Max Romer (1878-1960), temporariamente cedida pela Casa-Museu Frederico de Freitas, onde é possível observar-se o camarim iluminado e adorado pelos fiéis ainda na primeira metade do século passado.
Com o objetivo de contribuir para a interpretarão litúrgica do camarim e a reconstituição da fisionomia inicial do conjunto mutilado, foram apresentadas outras citações e documentos: um excerto do diário de Isabela de França, que descreveu a sua observação do camarim durante as celebrações da Quinta-feira Santa, no decurso sua viagem à Madeira entre 1853 e 1854; o livro do Padre Pita Ferreira, aberto nas páginas onde foi analisado, em pormenor, o Camarim em 1963; um artigo da revista Das Artes e da História da Madeira, da autoria de João Lemos Gomes, dando conta do arranjo e modificação do camarim em 1966; e a Urna do Santíssimo, peça de ourivesaria barroca de suma importância associada ao camarim e às celebrações da Páscoa.
Na sala 8, a última do primeiro núcleo, foi evocada a paramentaria da catedral, também analisada pelo Padre Pita Ferreira no Livro da Sé do Funchal. Um Véu de Ombros, do século XVIII, foi apresentado conjuntamente com o Ostensório de ouro do ourives Paul Mallet. As legendas interpretativas revelaram o sentido litúrgico e devocional destas importantes peças da Sé do Funchal integradas nas coleções do MASF.
Segundo núcleo: O gosto pela arte flamenga e o tempo dos retábulos
O segundo núcleo desenvolveu-se ao longo de seis salas no segundo andar do MASF onde se expõe a coleção de arte flamenga, constituída, essencialmente, por escultura e grandes trípticos dos finais do século XV e XVI, encomendados e produzidos na região da Flandres no contexto do ciclo económico madeirense ligado ao açúcar.
Porque o Padre Pita Ferreira, no livro A Sé do Funchal, dedicou-se a estudar o retábulo da Sé, assim como a apresentar documentação acerca da localização das pinturas flamengas no interior da Sé do Funchal e que hoje constituem a coleção do MASF, este núcleo foi estruturado com o objetivo de estabelecer, didaticamente, os pontos de contacto histórico, estético e artístico, existentes entre a pintura retabular portuguesa e os trípticos de arte flamenga do MASF.
Na primeira sala foi criada uma grande parede expositora que serviu de prólogo para toda a exposição deste núcleo. Os conteúdos apresentados, através de uma composição dinâmica que reuniu painéis de texto, ecrãs com modelos animados 3D, imagens de pormenor, fragmentos de talha do século XVI, foram organizados em três seções temáticas: 1) O Gosto pela Arte Flamenga e o Tempo dos Retábulos; 2) A Arte do Retábulo; e 3) Os Trípticos Flamengos: Encomendas Artísticas para a Madeira no século XV e XVI.
Junto a esta parede, esteve em exposição, por um período de quinze dias, a pintura flamenga de Santiago, uma obra intimamente associada ao episódio de eleição do Santo como padroeiro da cidade do Funchal, a 11 de junho de 1521, na Sé do Funchal. Esta pintura, com origem na antiga Capela de Santiago, foi ali exposta com o objetivo de dialogar com uma outra seção temática apresentada na mesma sala, intitulada de Santos e Devoções. Através dela procurou-se enquadrar as principais invocações nos primeiros tempos do povoamento do Arquipélago.
À semelhança do que aconteceu com a Cruz processional manuelina e a Virgem com o Menino ou da Escada, expostos na primeira sala do primeiro núcleo, também a pintura de Santiago foi retirada desta exposição para integrar a exposição em Lisboa. Em sua substituição foi colocada a escultura flamenga de São Roque, o padroeiro secundário da cidade do Funchal, também com origem na Sé do Funchal.
Nas salas seguintes optou-se por reorganizar todo o seu acervo em exposição na sequência da saída de 12 peças flamengas para Lisboa, anulando a anterior coerência narrativa desta coleção. Para esta reorganização expositiva, que assentou a sua narrativa nas introduções de seção temáticas, atrás enunciadas, foi fundamental a permuta das dez pinturas do MNAA, associadas a antigos retábulos quinhentistas desmembrados: Fuga para o Egipto (1520) de Oficina de Jorge Afonso; Profissão de Santa Paula (1520-1525) do Mestre da Lourinhã; A Virgem com o Menino e um Anjo (1520-1530) da Oficina de Frei Carlos; Menino Jesus entre os Doutores (1520-1530), atribuído a Cristóvão de Figueiredo; Trânsito da Virgem (1525-1540) da Oficina de Cristóvão de Figueiredo; e São Miguel Arcanjo (1530-1540) de Garcia Fernandes.
Para esta exposição foi integrada, ainda, uma Natividade, pintura da Igreja de São João Evangelista, atribuída a uma oficina europeia de possível influência flamenga. Da reserva do MASF foi trazido o Tríptico de Nossa Senhora do Pópulo. Com o mesmo objetivo de mostrar as influências técnicas, materiais, composicionais e estilísticas flamengas na pintura portuguesa quinhentista, foi apresentado, ainda, neste segundo núcleo, a pintura do Calvário, deslocada do primeiro andar do Museu.
As iconografias das obras acima enumeradas, acompanhadas de outras peças flamengas do MASF, foram organizadas numa sequência discursiva com temas da catequese: o Nascimento de Cristo; A infância de Cristo e Início da Vida Pública; A Morte de Cristo.
A última sala deste núcleo expositivo foi intitulada de Para além da morte. A Assunção da Virgem, pintura flamenga da coleção do MASF, atribuída a Joos Van Cleve, foi a peça que fechou o ciclo narrativo, lembrando que foi em honra de Nossa Senhora da Assunção que a Sé foi dedicada em 1517.
Terceiro núcleo: A catedral na cidade: Uma imponente construção de pedra.
O último núcleo da exposição evocativa dos 500 Anos da Dedicação da Sé do Funchal foi desenhado para ocupar as duas salas superiores da Torre-varanda-mirante do Museu de Arte Sacra do Funchal para que, a partir deste espaço, fosse possível observar a elevada torre da Sé na paisagem urbana.
Neste sentido, o último núcleo propôs ao visitante conhecer a Sé do Funchal numa dupla perspetiva que se desenvolveu de forma complementar nas duas salas.
No espaço introdutório, que antecedeu o desenvolvimento dos conteúdos na primeira sala, foram expostas 12 pedras roladas de cantaria, com diversas tonalidades, colhidas na Praia Formosa e muito provavelmente oriundas das escarpas do Cabo Girão, o mesmo local de onde foi extraída a pedra natural utilizada na construção da Sé do Funchal.
Em contraponto ao conjunto de calhaus modelados naturalmente, postos em proximidade com fotografias de paisagem do Cabo Girão, no interior da caixaexpositora, foi apresentado na primeira sala da torre, um painel com 40 quadrados de cantaria, com diversas tonalidades, gentilmente oferecido pela Fábrica de Extração de Pedra e Brita da Palmeira.
Esta composição de pedra, permitiu observar e tocar na textura de uma grande diversidade de tonalidades e durezas da pedra natural usada na construção da Sé. Na proximidade do painel foi mostrado algum material científico da área da Geologia, gentilmente emprestado pelo engenheiro geólogo João Baptista: 1) um conjunto de seis ilustrações científicas dos alçados da Sé do Funchal, onde surgiam assinaladas a variedade litológica aplicada na construção do edifício e as diferentes patologias que afetavam a pedra natural aplicada; 2) um poster científico de apresentação do catálogo de pedra natural do Arquipélago da Madeira.
Enquanto que a primeira sala propôs uma leitura e observação real da torre da Sé a partir de uma abordagem científica radicada na Geologia, a segunda sala procurou reunir um olhar diversificado sobre as representações visuais da Sé do Funchal, na paisagem urbana. Para este núcleo foi importante o empréstimo de alguns documentos, nos domínios da pintura, da fotografia e dos postais, oriundas das coleções de António Rodrigues, Melim Mendes e Edward Kassab a quem muito agradecemos. O Arquivo e a Biblioteca Pública da Madeira foi outra das instituições que colaboram ativamente para esta exposição através da cedência de algumas fotografia da Sé, entre o final do século XIX e início do Século XX.
O programa de conferências paralelo à exposição
Durante o período de exposição a sala 14, do segundo andar, foi convertida em sala para atividades educativas e de mediação em torno da nova exposição.
Além das atividades educativas realizadas com escolas, foi organizado, no âmbito do programa para residentes, um ciclo de conferências intitulado A obra do Padre Pita Ferreira em quatro conferências, que pretendeu abordar cada uma das principais áreas em que o padre produziu conhecimento e se destacou. Para tal foram convidados investigadores madeirenses de referência em cada uma das áreas, permitindo caraterizar, em profundidade, as dimensões e aspetos do trabalho do estudioso que articularam o estudo da história, das artes, da fé e da cultura insular.
O ciclo de conferências foi iniciado a 24 de novembro de 2017 com a comunicação O Padre Pita Ferreira e a Educação Cristã na Madeira, proferida pelo Cónego Doutor Vítor Gomes, Deão do Cabido da Sé do Funchal. A 18 de dezembro de 2017 foi apresentada a comunicação O Padre Pita Ferreira, O Natal e a Etnografia Madeirense pelo Professor Doutor Jorge Freitas Branco, do ISCTE. A 22 de janeiro de 2018 foi apresentada a comunicação intitulada Contributos do Pe. Pita Ferreira para a Historiografia Madeirense na voz da Professora Doutora Isabel Santa Clara. O ciclo de conferências terminou a 22 de fevereiro de 2018 com a comunicação intitulada Padre Pita Ferreira (1912-1963): o seu contributo para a historiografia madeirense pelo Professor Doutor Nelson Veríssimo.
Estrutura da publicação-catálogo digital
Um dos principais objetivos da realização do ciclo de conferências acima descrito foi o de reunir e publicar os textos elaborados pelos investigadores convidados, a partir da leitura de toda a documentação reunida e apresentada no núcleo introdutório, dedicado ao Padre Pita Ferreira, integrado na exposição alusiva aos 500 Anos da Dedicação da Sé do Funchal.
Esta publicação digital está estruturada em duas partes principais. A primeira parte constitui-se como catálogo da exposição, organizado por andares, onde são apresentados os principais textos de seção das salas, as legendas interpretativas das obras e uma vasta documentação fotográfica que descreve o desenvolvimento da exposição ao longo de todos os andares do edifício. O final da primeira parte é rematado com a publicação de um texto científico intitulado A pedra Natural de Origem Vulcânica Aplicada na Sé do Funchal, escrito pelo Professor Doutor João Baptista Pereira Silva com o objetivo de contribuir para uma compreensão rigorosa dos conteúdos que foram expostos na torre.
A segunda parte desta publicação Um Olhar sobre a Obra do Padre Pita Ferreira, evoca o subtítulo da exposição dos 500 Anos da Dedicação da Sé Funchal, cumprindo com os seus objetivos de homenagear a multidimensionalidade da obra do Padre Pita Ferreira.
Publicam-se aqui os textos do Cónego Doutor Vítor Gomes, O contributo pastoral do Pe. Pita Ferreira (1912-1963) e da Professora Doutora Isabel Santa Clara, Contributos do Pe. Pita Ferreira para a História da Arte na Madeira que nasceram das comunicações apresentadas no ciclo de conferências mencionado anteriormente. Inclui-se, ainda, um terceiro texto da autoria da Dr.ª Maria Favila da Cunha Paredes, do Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, intitulado Padre Pita Ferreira, Apóstolo na Catequese e Na Cultura, que procurou comentar os livros e documentos do Padre Pita Ferreira emprestados pelo Arquivo Histórico da Diocese.