FINANÇAS EMPRESARIAIS AULA 04 MERCADOS FINANCEIROS
AULA 04 - MERCADOS FINANCEIROS
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MERCADOS FINANCEIROS Para o perfeito entendimento do mercado financeiro, deve-se entender primeiramente o conceito e os componentes do Sistema Financeiro Nacional. É neste sistema que estão inseridos os mercados em que atuam os agentes financeiros, que realizam e controlam suas transações. O sistema financeiro nacional é composto de agentes financeiros, que são instituições financeiras públicas e privadas que atuam na captação e distribuição de recursos financeiros entre os agentes econômicos. O órgão máximo do Sistema Financeiro Nacional é o Conselho Monetário Nacional, órgão executivo responsável por determinar as diretrizes de funcionamento do sistema e as políticas de moedas e créditos. A normatização do Sistema Financeiro Nacional é executada pelo Banco Central e pela Comissão de Valores Mobiliários, órgãos responsáveis por normatizar e fiscalizar o Sistema Financeiro Nacional. O Banco Central tem como responsabilidade a fiscalização do mercado financeiro e a gestão da política monetária; por esse motivo é o organismo executivo mais importante do Sistema Financeiro Nacional. A Comissão de Valores Mobiliários está diretamente ligada ao mercado de valores mobiliários e atua em três importantes partes do Sistema Financeiro, que são as instituições financeiras, as companhias de capital aberto e os investidores. Outro órgão de controle do Sistema Financeiro Nacional é a Susepe – Superintendência de Seguros privados, responsável por fiscalizar os agentes com atividades ligadas aos seguros e previdência privada. Os bancos comerciais e múltiplos são instituições financeiras com o campo de atuação bastante amplo. Basicamente, os bancos captam recursos no mercado, retêm uma parte em caixa e oferecem outra parte sob a forma de financiamentos. Os bancos múltiplos atuam desde captação de recursos, através da concessão de crédito para curto e longo prazo e crédito habitacional, até o destino dos recursos, através de investimentos como fundos de investimentos, caderneta de poupança, ações, derivativos e outras modalidades. Os bancos de investimentos atuam no mercado, principalmente, fazendo intermediação financeira e como instrumento de alocação de recursos públicos (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para financiamentos em longo prazo de capital de giro ou capital fixo. Também faz avais, custódias, administração de carteiras de ativos e fundos de investimentos. Sociedades de Créditos, Financiamentos e Investimentos são instituições financeiras voltadas ao financiamento do consumidor através do crédito direto ao consumidor, para compra de bens duráveis, crédito pessoal ou outras atividades próximas deste propósito. Sociedades de Arrendamento Mercantil são instituições que realizam operações de leasing que, em geral, são utilizadas na aquisição de bens arrendados às empresas por um tempo próximo à vida útil do bem.
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As Corretoras de Valores são instituições cuja principal função é aproximar compradores e vendedores de títulos e valores mobiliários, dando liquidez a este mercado. Organizam leilões ou apregoações em recinto próprio através de pregão das bolsas ou da negociação em sistema eletrônico. De maneira análoga às Corretoras de Valores, existem as Corretoras de Mercadorias que são os operadores das transações que envolvem os ativos negociados nas Bolsas de Mercadorias e Futuros. São estas as principais instituições financeiras que atuam no Mercado Financeiro. Existem outras, mas, devido à sua pequena participação no mercado e pelo fato de suas atividades serem na maioria das vezes absorvidas, principalmente, pelos bancos comerciais e bancos múltiplos, não as abordaremos. Os Mercados Financeiros são locais físicos ou virtuais onde são comprados e vendidos títulos e realizadas transações financeiras. Eles podem ser subdivididos em quatro segmentos: o mercado monetário, mercado de capitais, mercado de crédito e o mercado cambial. Veremos, a seguir, as características de cada mercado para a realização desta divisão. MERCADO MONETÁRIO No Mercado monetário, realizam-se as operações de curto e de curtíssimo prazo, onde são lançados, pelas esferas do poder público, títulos públicos para saldar as necessidades monetárias desses agentes. É neste mercado que se gera liquidez para o sistema financeiro. MERCADO DE CAPITAIS No Mercado de Capitais, estão envolvidos os títulos de longo prazo, como as ações e títulos de dívida. Pode ser dividido em mercado primário e mercado secundário, de acordo com o tipo do ativo lançado. É neste mercado que concentraremos maior atenção, pela sua importância como fonte de recursos para as empresas e para a economia. Ele deverá ser encarado como importante força propulsora do desenvolvimento econômico e é nele que se concentram as principais fontes de financiamento, tanto do capital de giro como do capital fixo das empresas. Os mercados primários são aqueles destinados a receber as emissões de novos títulos. É através dos recursos gerados por esta operação que as empresas recebem pelas emissões de títulos. As emissões no mercado primário, após serem registradas na Comissão de Valores Mobiliários, são realizadas pelos acionistas ou abertas para o mercado em geral, as chamadas ofertas públicas. Para que a empresa realize uma oferta pública, ela deve obter a aprovação dos acionistas da empresa. Após a aprovação dos acionistas e também de auditores e
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contadores a respeito do conteúdo dos demonstrativos financeiros, a empresa procura um banco de investimentos para que este subscreva seus papéis. Enquanto a Comissão de Valores Mobiliários analisa a subscrição dos papéis, o emissor lança um prospecto prévio com as principais informações dos títulos que serão lançados para os possíveis interessados. Após a aprovação, o emissor apresenta o prospecto definitivo com informações detalhadas sobre a operação . O mercado secundário é aquele em que os títulos e ações são negociados após seu lançamento no mercado primário. Como veremos a seguir, é este mercado que confere liquidez às bolsas de valores e permite que os ativos sejam comprados e vendidos entre os investidores. O preço dos ativos é regulado pela oferta e demanda, influenciado por notícias relacionadas ao emissor do ativo e expresso sob a forma de cotações que são atualizadas constantemente. No mercado secundário, estão incluídos as bolsas de valores e o mercado de balcão. As bolsas de valores são associações civis ou sociedades anônimas sem fins lucrativos cujo patrimônio é representado por títulos que pertencem às sociedades corretoras membros. A bolsa de valores tem autonomia administrativa, financeira e patrimonial, entretanto, suas atividades são fiscalizadas pela Comissão de Valores Mobiliários. No Brasil, a maior Bolsa de Valores é a Bovespa, com sede em São Paulo. Ela é responsável pela negociação das principais empresas no mercado. A representação do retorno dos principais títulos negociados na Bovespa é o Ibovespa, que é o valor atual de uma carteira teórica. São consideradas apenas as variações de preços das ações e a distribuição de proventos destes papéis, ou seja, apenas o ganho ou perda obtidos com a variação de preço e distribuição de proventos das ações. As ações integrantes do índice Ibovespa correspondem a aproximadamente 80% do número de negócios e do volume financeiro realizados no mercado à vista da Bovespa. O Ibovespa é um índice muito utilizado para representar o comportamento médio do mercado, as variações na oferta e demanda das ações no mercado à vista. Pode representar maior ou menor volume de recursos circulando na economia. MERCADO DE CRÉDITO O mercado de crédito é composto pelos bancos comerciais e múltiplos e sua principal finalidade é a de atender às necessidades de médio prazo dos agentes do mercado financeiro. Neste mercado, são oferecidas linhas de crédito a médio prazo para pessoas físicas e jurídicas.
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MERCADO CAMBIAL No Mercado Cambial, processam-se as operações de compra e venda de moedas estrangeiras. É utilizado, principalmente, por importadores, exportadores e instituições financeiras.
Uma empresa que pretende realizar o lançamento de ações, de maneira resumida, deverá seguir os seguintes passos: 1. Procura um agente financeiro para determinar a estratégia de lançamento no mercado de capitais; 2. Emite um prospecto (um relatório com as informações da empresa) para análise na CVM; 3.
A Instituição responsável pelo lançamento busca investidores no mercado;
4.
Efetua o lançamento no mercado primário e realiza a captação de recursos;
5.
As ações emitidas serão renegociadas no mercado secundário.
O Sistema Financeiro Nacional é a estrutura em que ocorrem todas as transações financeiras do Brasil. É composto de agentes financeiros que intermediam, demandam e ofertam transações financeiras. O órgão máximo do SFN é o Conselho Monetário Nacional e o guardião máximo deste sistema é o Banco Central. Veja no desenho a seguir:
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Existem alguns mercados dentro do mercado financeiro. Cada um deles responde por determinado tipo de operação financeira e visa a atender certas necessidades de prazo são eles.
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MERCADOS EFICIENTES Entender os conceitos de mercados eficientes consiste em verificar o comportamento do investidor frente aos diferentes níveis de retorno e o risco que cada ativo oferece. Estabelecer pressupostos para este estudo foi o que fizeram autores que implementaram as teorias de análise das carteiras e de mercados eficientes. Os pressupostos de eficiência de mercado, que discutiremos a seguir, serão muito importantes para entender o processo de formação de preços dos ativos, a determinação de cenários futuros e o estabelecimento de valorizações e ganhos proporcionados pela variação de preços dos ativos. Vamos, primeiramente, entender as diferenças entre mercados eficientes e mercados perfeitos, pois elas são significativas para sua aplicação prática. O fato é que a construção dessas teorias foi baseada em simplificações e abstrações da realidade, que permitiram estudar e prever eventos futuros baseados no comportamento dos integrantes do mercado. Os mercados perfeitos têm como principal pressuposto, segundo Copland e Weston (1992): que não existem custos de transações, ou seja, os ativos são perfeitamente divisíveis e não existem no mercado normas restritivas. Existe ainda equilíbrio e concorrência perfeita, tanto no mercado de produtos como no mercado de títulos. As informações circulam entre os participantes do mercado sem custo e de maneira uniforme e, por fim, os participantes do mercado sempre têm atitudes racionais para maximizar seus benefícios. A noção de mercados eficientes é menos restritiva que a de mercados perfeitos, pois mostra que, em um mercado eficiente, os ativos refletem apenas os efeitos das informações relevantes disponíveis aos agentes do mercado. Não há necessidade de concorrência perfeita entre os títulos, pois estes refletiriam, por exemplo, o valor presente de seus fluxos de caixa. Para Fama (1991), o enunciado de mercado eficiente foi dado apenas levando-se em consideração que os preços dos ativos refletirão as informações disponíveis. Considera-se, ainda, que existe no mercado um número suficiente de participantes e que a postura de um único participante não pode alterar ou causar impactos no comportamento do ativo. Os participantes do mercado são racionais e agem de maneira a maximizarem a relação entre retorno e risco. Considerar os pressupostos de mercados eficientes é entender que a precificação de ativos realizada pelo mercado será eficiente quando a informação circular de maneira rápida pelos integrantes do mercado e estes também reagirem rapidamente às informações relevantes. Por outro lado, um mercado em que as informações sobre determinada empresa circulem de maneira vagarosa, ou que os agentes do mercado demorem algum tempo para reagirem a esta informação, poderá ser considerado como um mercado ineficiente.
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Baseados nesse conceito, existem agentes que são muito informados sobre esse sistema e ficam no mercado procurando ativos que ainda não foram devidamente precificados ou que estejam subavaliados pelo mercado. Esses agentes os compram com preço inferior ao praticado e os vendem depois com preços corrigidos ou, caso possuam algum ativo superavaliado, realizam a venda antes que o mercado corrija seus valores. Para Haugen (2001), existem três formas de considerar a eficiência do mercado. Elas pressupõem uma atuação gradativa da eficiência e seus impactos no processo de tomada de decisão. A primeira forma de atuação da eficiência de mercado é a forma fraca, em que os preços das ações refletem toda a informação que pode estar contida no histórico passado de preços. Logo, assim que surge uma informação nova, os analistas a recebem e tomam as providências para que, rapidamente, o mercado ajuste o preço a esta nova realidade, refletindo o preço do ativo e toda a informação histórica útil acrescida a este preço. A forma de atuação média da eficiência de mercado entende que toda informação pública relevante está refletida no preço do ativo. Podem ser consideradas as informações públicas relevantes, o histórico das cotações do ativo, as informações contábeis da empresa a que o ativo pertence e de seus concorrentes e informações ligadas à economia de maneira geral. Assim, quando a empresa divulga suas informações contábeis, os analistas do mercado analisam e tomam suas providências, fazendo com que os preços se ajustem de acordo com esta realidade. A terceira forma de atuação é a forma de atuação de forte eficiência do mercado, a qual prevê que todas as informações públicas ou confidenciais já foram absorvidas e agregadas aos preços dos ativos. Ou seja, não existe nada de relevante que possa ser feito pelos analistas para ganhar acima do mercado, tendo em vista que os que acessam informações não disponíveis compram e vendem ações ajustando seu preço de mercado. Assim, quanto mais eficiente for o mercado, menos possibilidades de ganhos e, por consequência, de existência de ativos cujos preços estejam acima ou abaixo da realidade de mercado. Isso significa que quanto maior for a eficiência do mercado, mais rapidamente o mercado reagirá ajustando os preços em consequência das informações relevantes sobre determinado ativo financeiro.
Segundo a teoria dos níveis de eficiência nos mercados com níveis fortes de eficiência, as informações, inclusive as não disponíveis a todos os investidores, são
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rapidamente absorvidas e se transformam nos preços dos ativos. Por exemplo, se as ações de uma empresa de exploração de petróleo têm um determinado valor e esta empresa consegue encontrar uma fonte de petróleo de boa qualidade e em grande quantidade, os acionistas e as pessoas que conseguirem esta informação vão realizar um movimento de compra que ajustará o preço do ativo.
Pressupostos dos Mercados • • • • • •
Mercados Perfeitos Não existem custos nas transações; Perfeita divisibilidade dos ativos; Não existem restrições; Concorrência perfeita; Livre circulação de informações; Os participantes do mercado têm atitudes racionais;
• • • •
Mercados Eficientes Não há necessidade de concorrência perfeita; Os preços dos ativos refletem as informações relevantes; Um único participante não pode afetar os preços dos ativos; Os participantes do mercado têm atitudes racionais;
NÍVEIS DE EFICIÊNCIA • Fraca - Os preços refletem as informações disponíveis em seu histórico; • Média – Os preços refletem, além das informações disponíveis, as informações contábeis e as informações da economia; • Forte – Os preços dos ativos refletem todas as informações, inclusive as informações pagas ou estratégicas.
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CAPTAÇÃO DE RECURSOS DE CURTO E LONGO PRAZO Como vimos, o Sistema Financeiro Nacional constitui-se de diferentes mercados, nos quais encontraremos as fontes para captação de recursos em curto e longo prazo, com diferentes condições e custos para catação destes recursos. CAPTAÇÃO NO CURTO PRAZO As operações de captação de recursos para suprir as necessidades circulantes da empresa estão disponíveis basicamente nos mercados de crédito e no mercado monetário. No mercado do crédito, como vimos, encontram-se os bancos comerciais e múltiplos, em que realizaremos as principais operações de captação de recursos de curto prazo. No mercado monetário ocorrem, principalmente, as emissões de títulos públicos para a captação de recursos para o governo e uma fonte de aplicação de renda fixa para recursos excedentes no caixa da empresa. Nas operações de captação de curto prazo, principalmente, para as pequenas e médias empresas, são realizadas operações de fomento mercantil, conhecidas como factoring. Essas operações consistem na antecipação do recebimento de um título de crédito, com uma determinada taxa de desconto, permitindo que a empresa atenda às suas necessidades de caixa. No dia-a-dia da gestão do caixa da empresa, ocorrem situações de desencaixe entre os direitos e as obrigações da empresa. É aí que o administrador financeiro tem que captar recursos de forma a eliminar ou minimizar as perdas procedentes destes desencaixes. As taxas utilizadas para o desconto são chamadas de desconto bancário ou comercial e podem ser aplicadas pelo método linear ou exponencial (lembre-se do tópico dois, quando vimos, nos itens “juros simples e composto”, o assunto desconto “por dentro”, e “por fora”). Apesar de o desconto “por dentro” praticamente não ser utilizado na prática, o desconto “por fora” ou desconto comercial é a maneira mais praticada nas operações de desconto de duplicatas. Também é comum, nos empréstimos de curto prazo, a exigência de reciprocidades, por parte da instituição financeira, de forma que essas reciprocidades aumentem o custo dos empréstimos. Em períodos em que as políticas de crédito são restritivas e existem menos recursos disponíveis no mercado, o custo dos empréstimos é elevado tanto pelas taxas de juros maiores, quanto pela exigência de reciprocidades. A prática mais comum de reciprocidade exigida para liberação de recursos é a exigência de retenção de parte dos recursos liberados sob a forma de saldo médio. Veremos nos exemplos deste item os impactos da retenção do saldo médio no custo do financiamento.
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Um fato que ocorre com bastante frequência no desconto de duplicatas é o desconto de várias duplicatas de uma só vez. Para a composição do prazo médio de desconto dessas duplicatas, deve-se considerar a média ponderada, conforme a fórmula a seguir, das duplicatas descontadas. Para facilitar o cálculo da taxa média do custo desse desconto, podemos utilizar os conceitos da taxa interna de retorno, visto que esta será a taxa utilizada para descontar os valores do fluxo de caixa até que os valores se igualem ao valor liberado pelo banco. Veremos também um exemplo para descobrirmos o prazo médio de desconto de várias duplicatas e um cálculo da taxa interna de retorno.
Para a obtenção de empréstimos de curto prazo, deve-se levar em consideração que o prazo do empréstimo implicará diretamente na taxa de juros paga na contratação deste empréstimo. Assim, se solicitarmos um empréstimo para um período de 6 meses, com uma taxa efetiva mensal de 3,5%am, teremos uma taxa anual de 51,11%aa. Entretanto, ao contrair um empréstimo para pagamento em 3 meses, com uma taxa mensal de 3,3% ao mês, pagaremos uma taxa anual de 47,64%. Observe que a redução da taxa anual é bastante significativa. Para tanto, ao verificar a necessidade do prazo para o empréstimo, deve-se considerar, no caso do prazo menor, a possibilidade de renovação do empréstimo com a mesma taxa contratada. Ao avaliar o custo de captação do dinheiro no mercado, deve-se avaliar a quantidade de recursos disponíveis. O Banco Central regula a liquidez do mercado por meio da emissão de títulos públicos e suas taxas de juros. A elevação da taxa de juros dos títulos da dívida provoca a redução de recursos disponíveis e a redução da taxa de juros ou a recompra de títulos devolve liquidez ao mercado. A taxa over é uma taxa de juros muito utilizada nas operações de curto prazo. É representada em períodos mensais, segue o regime de capitalização simples e só são considerados para sua correção os dias úteis do período. Para que se possa analisar a taxa over, deve-se realizar a conversão e capitalização para a taxa efetiva, pois fica mais fácil avaliar e comparar esta taxa. Para conversão da taxa over em taxa efetiva e vice-versa, considerando que ambas sejam expressas em mês, se utilizarmos a fórmula que segue, teremos a resposta da taxa mensal equivalente à transformação.
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O chamado Hot Money é o conjunto de recursos de curtíssimo prazo cujas taxas cobradas estarão lastreadas às taxas praticadas no mercado interfinanceiro acrescidas de um adicional (spread) cobrado pelo financiador do empréstimo. No mercado interfinanceiro, realizam-se as transações de empréstimos entre as instituições financeiras. As taxas de juros praticadas neste mercado são atualizadas diariamente e refletem a expectativa de juros futuros da economia. O CDI é a taxa de juros que lastreia as operações de Hot Money. Durante a gestão do caixa da empresa, ocorrem situações em que as operações realizadas demoram um ou mais dias para serem contabilizadas. Estes períodos são muito curtos e podem gerar tanto despesas adicionais quanto oportunidades de ganho para as empresas. Tais ocorrências são chamadas de floating. Em operações de curto ou curtíssimo prazo, muitas vezes, as instituições financeiras, ao liberarem um empréstimo, incluem o custo desta ocorrência na liberação. As operações de factoring ou fomento mercantil ocorrem com muita frequência, principalmente, nas pequenas e médias empresas. Essas operações surgem para atender à necessidade de escassez de recursos para financiamento de capital de giro ou de curto prazo. Muitas pessoas encaram as operações de factoring como sendo apenas uma antecipação dos recebíveis, entretanto, ao realizar essa operação, pode-se estar também transferindo o risco de inadimplência das duplicadas a receber e a eliminação dos custos de operação de departamento de crédito e cobrança.
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Existem operações em que a antecipação não é negociada, somente a terceirização do risco. Assim, se receberemos determinada duplicata em um prazo, ao realizar a negociação com a empresa de fomento mercantil, negocia-se o recebimento da duplicata no prazo previsto, porém a empresa cobra um percentual e assume os riscos de inadimplência da operação. Ao realizar esta operação, reduz-se o custo de antecipação do valor a receber. Pelo fato de estarem livres dos custos de reciprocidade, das garantias e da maior burocracia exigida pelos bancos, as pequenas e médias empresas optam pelas operações de fomento mercantil para terceirizarem o risco de seus recebíveis, como financiamentos de curto prazo, antecipando o recebimento futuro e reduzindo os custos operacionais. Os bancos, na tentativa de ganhar parte do mercado das operações de factoring, lançaram a conta corrente garantida. O principal objetivo é financiar capital de curto prazo, com linhas de crédito garantidas por duplicatas a receber que as empresas entregam para manterem esta linha de crédito sempre disponível. CAPTAÇÃO NO LONGO PRAZO A captação de recursos no longo prazo é realizada tanto em mercados específicos quanto com linhas de crédito específicas. O mercado de ações é uma importante fonte de financiamento em longo prazo, menos onerosa para as empresas e atraente para o investidor. O financiamento de equipamentos em longo prazo é feito com linhas de crédito direcionadas para este fim. Pelo fato de o bem financiado estar atrelado ao financiamento, pela alienação fiduciária, seu custo é menor que no curto prazo, em que o mercado trabalha com taxas de juros elevadas. A emissão de ações ou debêntures é uma forma eficiente de captação de recursos em longo prazo, pois, além de terem um custo menor que os financiamentos, têm boa aceitação no mercado. Entretanto, esta forma de captação de recursos está concentrada nas grandes empresas. As pequenas e médias empresas, em geral, ficam fora deste mercado. Para as empresas de pequeno e médio porte, sobram as alternativas das linhas de crédito oferecidas pelo BNDES, bancos comerciais ou até políticas públicas, com linhas de crédito liberadas pela Caixa Econômica Federal e pelo Banco do Brasil.
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Calculo do prazo médio da carteira de duplicatas a receber: Quantidade de dias à vencer 120 60 40 70 10 15 55
Valor da Duplicata 1.560,00 3.500,00 2.800,00 5.000,00 1.100,00 1.200,00 4.000,00
Pela fórmula
Prazo médio = (120*1560)+(60*3500)+(40*2800)+(70*5000)+(10*1100)+(15*1200)+(55*4000)
1560+3500+2800+5000+1100+1200+4000
Prazo médio = 1108200
19160
Prazo médio = 57,84 ou aproximadamente 58 dias.
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As principais fontes de captação de recursos de curto prazo são:
Formas de Captação Empréstimos de curto prazo Desconto de Duplicatas a receber Factoring
Porte das empresas que mais utilizam este recurso
Custo da Operação
Empresas de Médio e grande porte
Alto
Todas as empresas
Muito Alto
Empresas de pequeno porte
Muito Alto
As fontes de captação de recursos de longo prazo são: Porte das empresas que mais utilizam este recurso Emissão de Ações Empresas grande porte Emissão de Debêntures Empresas grande porte Financiamentos de Empresas de Médio e equipamentos ou expansão grande porte Formas de Captação
Custo da Operação Médio Médio Alto
REVISÃO DE MEDIDAS ESTATÍSTICAS Para melhor entendimento dos conceitos e do processo de mensuração do risco e do retorno, vamos agora revisar os conceitos e fórmulas para o cálculo das medidas estatísticas. Neste ponto, avaliaremos os conceitos de média, desvio padrão, variância e covariância. Entender o conceito destas medidas estatísticas tornará mais fácil a sua aplicação na medição do retorno e risco e no comportamento dos ativos. Antes de iniciarmos este estudo, precisamos relembrar o conceito de amostra, que é uma parte que representa o todo. Assim, para analisar o comportamento histórico das cotações de uma ação, devemos tomar o cuidado de recolher uma amostra suficientemente grande para que represente as variações históricas do comportamento do papel e não apenas uma tendência sazonal ou de um evento isolado.
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Dessa forma, podemos entender que se montarmos uma série histórica de uma ação em um período sazonal em que seu preço sobe, podemos chegar a uma conclusão incorreta de que a tendência do papel é de alta. Porém, se aumentarmos o tamanho da amostra, podemos avaliar que estes efeitos são oriundos da sazonalidade. Outro conceito que revisaremos é o conceito de média. A média aritmética é uma medida linear de uma base histórica de ocorrências e seu cálculo é obtido pela somatória de todas as amostras, dividido pela quantidade de elementos da amostra.
O desvio padrão também será importante para a mensuração do risco dos ativos. Neste desvio, mede-se o erro das medições realizadas em torno da média, ou seja, é a distância de cada ponto até a média aritmética. A fórmula do desvio padrão da amostra é dada pela expressão que segue.
A variância de uma série de informações é uma medida de correlação de uma amostra com relação à média aritmética.
A covariância é a medida estatística que determina a correlação entre duas séries de dados. Seu sinal determina qual o tipo de correlação existe entre essas duas séries.
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Uma covariância positiva indica que as séries possuem uma relação positiva, ou seja, quando uma medida cresce a outra cresce também. Em contrapartida, uma covariância negativa indica que as duas séries têm crescimento inversamente proporcionais, ou seja, enquanto uma série cresce a outra diminui.
Com base na série a seguir, calcule a média e o desvio padrão. DIA
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
COTAÇÃO 40,00 40,00 41,00 42,00 43,00 45,00 46,00 46,50 45,00 44,00 42,00 40,00 39,00 38,00 37,00 37,50 39,00 40,00 41,00 42,00 43,00 44,00 45,00 46,00 47,00
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Utilizando o Microsoft Excel ®:
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Para trabalharmos com as variações dos preços dos ativos no mercado de capitais, podemos utilizar basicamente 4 medidas estatísticas: 1. Média: A média em uma série histórica representa o valor médio que ocorreu nesta série, o que nos permite entender que há grandes chances de que estes valores se repitam no futuro, considerando uma certa margem de erro. 2. Desvio padrão: O desvio padrão é a margem de erro que tratamos na aplicação da média, ou seja, é quanto os valores da série histórica se desviaram da média. 3. Variância e Covariância: Estes conceitos estão relacionados com correlação, o comportamento de uma série histórica relacionado à outra. 4. Conceituação e Medição do Retorno e do Risco: Nesta fase do estudo, veremos, com maior riqueza de detalhes, dois importantes indicadores relacionados ao investimento em ativos financeiros: o risco e o retorno. São os maiores dilemas para os administradores financeiros equacionarem frente a um universo de possibilidades. A utilização das técnicas e ferramentas estatísticas para sua mensuração e também os conceitos que envolvem estes riscos na composição de carteiras de investimentos serão estudados agora.
RETORNO Iniciaremos esta parte tratando do retorno dos ativos financeiros e as formas de mensuração destes ativos como fonte de informação no processo de previsão de retornos futuros. O Retorno é a informação de um investimento que mais chama a atenção do investidor, pois ela está associada ao nível de lucro de um investimento. O retorno pode vir de duas formas associadas ao investimento: a renda corrente oriunda do pagamento de dividendos de ações, juros de títulos ou fundos de investimentos e os ganhos de capital obtidos através da valorização do preço inicial pago em um ativo financeiro. O desempenho histórico não representa garantia de ganhos futuros com este investimento, mas, utilizando os conceitos de média, podemos determinar o retorno esperado para o futuro. Assim, através de uma série histórica dos retornos de determinado ativo, pode-se determinar qual o retorno esperado para ele. Não que esta seja uma medida
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garantida de retorno futuro, mas é uma forma mais segura de medir e estima-lo. RISCO O estudo do risco nas finanças é fundamental, pois é através dessa medida que nortearemos nossos investimentos. Compreendê-lo não é importante só na escolha entre diversas possibilidades, mas também na mensuração e exigência do tamanho do retorno exigido para a compensação do risco de determinado projeto. Ele se divide em diversas modalidades e conceitos. Existem, nas teorias de finanças, diferentes formas de apresentação dele. Veremos agora qual a conceituação de cada uma delas e, mais tarde, veremos quais as medidas do risco que poderemos mensurar e como aplicar os conceitos estatísticos na sua mensuração. O risco pode ser encarado como uma combinação de fatores possíveis que podem afetar o resultado do negócio e podem estar ou não vinculados diretamente com a operação do negócio. Por este motivo, é coerente avaliar corretamente cada modalidade do risco. O Risco Operacional é aquele que está ligado à operação do negócio e os efeitos que as falhas proporcionam, afetando a capacidade de geração de retornos. Os fatores de risco mais comum são as falhas nos controles, fraude, falhas no gerenciamento, bugs, falhas no sistema e erros humanos. O Risco de Crédito está ligado ao não recebimento de duplicatas e às falhas no processo de concessão de créditos. Esse risco pode ser muito representativo no negócio e o tamanho de sua representatividade pode ser medido na evolução da conta de valores a receber. Além dos fatores de inadimplência, o risco de crédito pode também estar associado à moratória declarada por alguns países ou pelo impedimento do livre fluxo de recursos internacionais. O Risco Legal está ligado aos problemas que envolvem as demandas jurídicas, mudanças na legislação, processos e análise de contratos. Estes fatores podem influenciar a viabilidade do negócio e seu bom andamento. Risco de Governo é o risco que se corre devido à mudança na condução da política econômica e implantação de medidas restritivas a determinadas atividades direta ou indiretamente ligadas ao negócio. O Risco de Terrorismo ou catástrofes naturais também deve ser levado em consideração. As regiões em conflitos, área de atuação de terroristas e áreas sujeitas a catástrofes climáticas ou de fenômenos da natureza podem ter o desempenho de suas empresas comprometido por estes fatores. Por fim, o Risco de Mercado consiste no risco de um evento que prejudique as instituições que atuam no mercado, podendo afetar a liquidez do sistema ou seu perfeito funcionamento. Está também ligado às flutuações do mercado. Um bom representante
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do risco de mercado é o Ibovespa, que mede a variação dos preços reais dos ativos negociados na Bovespa que compões este índice. No Brasil, um ativo considerado livre de risco ou com risco soberano são os títulos da dívida emitidos pelo governo. Esses títulos e seus retornos regulam e servem de parâmetro para o resto do mercado. Esses títulos públicos são considerados ativos de risco zero. A medida estatística utilizada para representar o risco é o desvio padrão, pois representa a diferença da série histórica com relação à média dos retornos dessa mesma série e pode ser encarado como a possibilidade de um retorno não acontecer como o retorno esperado.
Considere as cotações do ativo abaixo e o cálculo do risco e do retorno deste ativo:
DIA 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
COTAÇÃO 40,00 40,00 41,00 42,00 43,00 45,00 46,00 46,50 45,00 44,00 42,00 40,00 39,00 38,00 37,00 37,50 39,00 40,00 41,00
VARIAÇÃO COM RELAÇÃO A COTAÇÃO DO DIA ANTERIOR 0,00% 2,50% 2,44% 2,38% 4,65% 2,22% 1,09% -3,23% -2,22% -4,55% -4,76% -2,50% -2,56% -2,63% 1,35% 4,00% 2,56% 2,50%
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20 21 22 23 24 25
42,00 43,00 44,00 45,00 46,00 47,00
2,44% 2,38% 2,33% 2,27% 2,22% 2,17%
Como já vimos no exemplo anterior, vamos calcular a média das variações, que podem ser interpretadas como o risco do ativo. , ou seja, este ativo tem um retorno médio diário de 0,71%.
O Risco pode ser calculado pelo desvio padrão da variação.
, ou seja, o retorno pode variar 2,97%.
A grande missão do administrador financeiro é o de equilibrar risco e retorno.
O retorno é identificado pela média aritmética de uma amostra que representa a série histórica do ativo. O risco é o desvio padrão de uma amostra que representa a série histórica do ativo. Neste cálculo do risco, estão inclusas todas as formas possíveis de risco.
Os parâmetros utilizados para a comparação do risco são os seguintes:
Livre de Risco - Títulos da Dívida Risco do sistema - Ibovespa
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“Quando sai para comprar um computador, um aparelho de som ou roupas, você vai a uma loja, procura em um catálogo ou entra em um site para examinar a mercadoria? Quando você investe em ações de uma empresa, o que pode tomar como amostra? Você pode visitar o site da empresa para encontrar informações corporativas e dados financeiros. Digamos que você tenha feito isso para a Microsoft, indo ao site www.microsoft. com. Você ficou sabendo que a empresa estava em excelente forma financeira ao final de seu ano fiscal, em 30 de setembro de 2000. A receita havia subido 16%, o lucro líquido, 21%, comparado a 1999, e os lucros por ação haviam aumentado quase 20%. A Microsoft também tinha caixa substancial em mãos e nenhuma dívida em longo prazo. É difícil descobrir os riscos associados à aquisição de ações. Procurar artigos e pesquisar sobre a Microsoft na imprensa e em sites de investimento on-line traria esclarecimentos sobre os vários riscos que a companhia enfrenta. No caso da Microsoft, sua pesquisa revelaria que a empresa está apelando de uma decisão do Departamento de Justiça dos Estados Unidos quanto à alegação de que a empresa teria violado leis antitrustes norte-americanas, e por isso deve ser dividida. Além disso, você saberia que a Microsoft continua a procurar maneiras de expandir sua base tecnológica além do software de computador pessoal, em que tem uma posição dominante, para televisão, jogos, aparelhos sem fio e aparelhos de informação pessoal, áreas em que enfrenta maior competição. As ações são negociadas a aproximadamente $69 cada uma, com rendimentos de 40 vezes. Embora isso seja alto para o mercado geral, não está em desacordo com as ações de tecnologia. A Microsoft superou as estimativas de lucros dos analistas no ano fiscal de 1999 e a maioria dos analistas tem as ações da empresa em suas listas para ‘compra forte’ e ‘compra moderada’. Seu retorno de 25% em ações é cerca de cinco vezes a média do setor de software. Para usar bem essas informações, você precisa entender os conceitos de risco e retorno, que são a essência de qualquer decisão de investimento.” (Gitmann, 2005, p. 100) Teoria da Diversificação A teoria da Diversificação, elaborada por Markowitz, foi a base para Litner e Sharpe desenvolverem o modelo de precificação de ativos conhecido como CAPM (Capital Asset Price Model). Neste modelo, é possível ligar formalmente as noções de risco e retorno e o risco total passa a ser encarado pela soma de dois componentes: o risco diversificável ou risco não sistemático e o não diversificável ou sistemático.
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O diversificável ou não sistemático é a parcela do risco que está ligada diretamente a eventos relacionados com a empresa, como greves, processos judiciais, ações regulamentadoras e outros que possuem ocorrência incontrolável e aleatória. Segundo a teoria da diversificação, esta parcela do risco pode ser eliminada em uma carteira de ativos com a diversificação destes ativos, pulverizando os investimentos em diferentes segmentos do setor produtivo. O processo de diversificação não se resume apenas à diversificação de ativos de diferentes empresas, mas quando esta diversificação pulveriza os investimentos em diferentes segmentos da economia, por exemplo. O risco não diversificável ou sistêmico é aquele que está ligado ao mercado e pode afetar todos os investimentos, como as guerras, a inflação e outros eventos com impacto semelhante. Este risco não pode ser eliminado com a diversificação dos ativos. O Beta é uma forma de avaliar o risco de determinado ativo levando-se em consideração o risco de mercado. Ele mede o comportamento do preço de um ativo com relação às variações do mercado e serve para medir o risco de mercado ou o risco não diversificável. Para obter o beta, devemos relacionar os retornos históricos de um ativo financeiro com os retornos históricos do mercado. Para as ações, costuma-se usar o Ibovespa como informações de mercado. A fórmula para o cálculo do beta é dada pela covariância dos retornos do ativo estudado com relação ao mercado, dividido pela variância dos retornos do mercado, conforme a fórmula que segue:
O CAPM utiliza o beta para ligar o risco ao retorno e estabelecer uma diversificação ótima da carteira. Assim, o CAPM mede o risco inserido na carteira ao se inserir um ativo, dada a sua participação proporcional no preço da carteira. A equação do CAPM é a seguinte:
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Em uma ação com um beta igual a 1,5, ou seja, o risco sistemático uma vez e meia maior que o risco do mercado, a taxa livre de risco do mercado é de 5% e o prêmio esperado pelos acionistas é de 9%.
Retorno esperado = 5% + 1,5 * (14% - 5%) Retorno esperado = 5% + 1,5 *9% Retorno esperado = 18,5% O retorno mínimo esperado pelos investidores será de 18,5%
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A teoria da diversificação é um ponto fundamental na gestão do risco e do retorno dos ativos financeiros. As diversas aplicações do modelo desenvolvido, o CAPM, tiveram contribuição decisiva para toda a administração financeira. Em resumo, a teoria da diversificação prevê que, ao adicionar um ativo em uma carteira, adiciona-se também o risco deste ativo, na proporção que seu valor representa para o total da carteira até o ponto que o risco da carteira se iguale ou se aproxime muito do risco do sistema, também conhecido como risco não diversificável. GRÁFICO 1 – RISCO E RETORNO
Popularmente, a teoria da diversificação é comparada com a ideia de não colocar todos os ovos na mesma cesta, pois se ela cair corre-se o risco de quebrar todos os ovos. Assim, ao se tratar de diversificação, devemos levar em consideração o investimento em várias empresas, de vários setores da economia.
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“Por que se aventurar no exterior? Por que se aventurar no exterior, perguntam muitos investidores norte-americanos, quando os retornos de ações de empresas domésticas têm sido tão altos? Os investimentos no exterior são arriscados, envolvem flutuações de moeda e risco político. No entanto, os retornos em mercados norte-americanos nem sempre podem ser os mais altos. De 1979 a 1989, por exemplo, os retornos médios anuais para o índice Morgan Stanley Capital lnternational Europe, Asia e Far East (EAFE) foram de 23%, comparados a 17,6% para a S&P 500 (doméstica). Apesar de ganhos desinteressantes sobre investimentos internacionais nos anos 90, a economia global parece estar pronta para ter um crescimento significativo à medida que as economias estrangeiras se recuperam de recessões. “Nós [norte-americanos] somos os investidores mais míopes no mundo, possivelmente por uma boa razão”, disse John J. Brennan, chairman e diretor-presidente do Vanguard Group. “Temos este enorme mercado de capitais. Você pode fazer diversificações de todos os tipos... Mas pensar que as empresas norte-americanas têm a posse do sucesso no futuro [e que] a economia norte-americana terá crescimento certo no futuro é ingênuo.” De fato, investir no exterior pode ser uma estratégia melhor em longo prazo agora que em anos passados. Em 1970, os mercados de ações dos Estados Unidos representaram cerca de dois terços do mercado global de ações de $ 1 trilhão. Hoje, o mercado de ações do mundo todo é de cerca de $ 32 trilhões, mas a participação dos Estados Unidos diminuiu para cerca da metade. Na nova economia mundial, fortemente ligada, dominada pela tecnologia, nunca as fronteiras nacionais tiveram um significado tão pequeno. Hoje, entretanto, os profissionais do investimento recomendam uma abordagem diferente ao investimento internacional. A diversificação costumava ser a razão básica para a realização de investimentos estrangeiros: se os mercados norte-americanos escorregassem, os mercados estrangeiros forneceriam o equilíbrio e retornos maiores. Uma vez que os principais mercados de ações mundiais agora tendem a se mover juntos, ter ações que não sejam dos Estados Unidos não fornece a mesma proteção que antes. Há outras razões contundentes para incluir ações internacionais em sua carteira. Você pode ter de olhar para fora dos Estados Unidos para comprar ações em líderes de setores no mundo todo. Isso vale particularmente em setores fortemente globais como telecomunicações, tecnologia, farmacêuticos e energia. Por exemplo, a Nokia, da Finlândia, tem uma participação de 37% no mercado de celulares dos Estados Unidos.
Em vez de diversificar por país ou região, os investidores devem diversificar entre
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setores. “A melhor forma de ganhar dinheiro é escolher as melhores empresas e os melhores negócios, em vez de colocar 4% da carteira na Europa ou 5% no Japão”, disse William Wilby, um administrador de carteiras na Oppenheimer Funds Inc. Alguns investidores acreditam que podem minimizar o risco investindo em multinacionais norte-americanas para atingir a diversificação global. Essa estratégia pode ser restritiva e elimina sólidas empresas estrangeiras como BMW, Nokia, Nestlé e Sony. “Se você escolhe comprar esses produtos em sua vida diária”, diz David Antonelli, diretor de pesquisa internacional para a MFS Investment Management em Boston, “por que você limitaria sua capacidade de investir naquelas empresas?” Se você não sente firmeza em comprar ações de empresas individuais, pode usar fundos mútuos para criar uma carteira global. Muitos administradores de fundos mútuos seguem uma estratégia de setor industrial global, e você verá que as empresas estrangeiras são bem representadas em fundos de setor especializados em tecnologia, saúde e outros importantes segmentos industriais.” (Texto extraído de Gitman, 2005, p. 141)
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