Estudos Sociológicos e Antropológicos - Unidade18

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UNIDADE

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O MEIO AMBIENTE E A DISCUSSÃO SOBRE A QUESTÃO GLOBAL ESTUDOS SOCIOLÓGICOS E ANTROPOLÓGICOS

EXCELÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


O MEIO AMBIENTE E A DISCUSSÃO SOBRE A QUESTÃO GLOBAL

APRESENTAÇÃO Por que a preocupação para com o meio ambiente é prioridade no mundo atual? O que fizemos com a natureza nestas últimas décadas? Que impactos a destruição do meio ambiente causa para a vida em sociedade? SOCIEDADE DE RISCO A exploração desordenada da natureza, o avanço científico, a tecnologia, o crescimento da riqueza e produção de bens aceleradas causaram danos ao meio ambiente como nunca antes na história da humanidade. Daí o conceito “sociedade de risco”, do sociólogo Ulrich Beck que passamos a ter de conviver. O sociólogo alemão Ulrich Beck interpretou que as mudanças, nas últimas décadas do século XX, estão nos levando a uma “sociedade de risco”, na qual os bens coletivos não estão mais garantidos. Ou seja, a produção social das riquezas é acompanhada pela produção de riscos sociais e ambientais. Viver em uma sociedade de risco implica viver uma era de incertezas. Cada vez mais há dificuldades de prever com segurança as reais ameaças provocadas pelo desenvolvimento e aplicação extensiva de novas tecnologias e descobertas científicas que, a serviço de interesses econômicos, podem alterar para sempre a vida no planeta, dificultando a sobrevivência humana (ARAÚJO, 2013, p.277).

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Para Beck, a Sociologia clássica é carente de categorias e formuUnidade 18. O Meio Ambiente e a Discussão Sobre a Questão Global. EXCELÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


lações capazes de explicar uma realidade contraditória e em acelerada mudança. Um livro importante de Ulrich Beck em que pode ser aprofundado o tema é: Sociedade de risco. Rumo a uma outra modernidade (Editora 34, 2010). Vejamos alguns riscos à saúde humana provocada pelos próprios avanços da modernidade: doença da vaca louca (associado à mudança na alimentação do gado para uma produção mais rápida de carne); sementes geneticamente modificadas, transgênicos (para uma produção mais rápida e eficaz de grãos); usinas nucleares (e o perigo de se romperem e contaminarem todo um ecossistema e seu lixo atômico); câncer (causado pela poluição do ar, pela alimentação, câncer de pele devido à redução da camada de ozônio, entre outros); nanotecnologia, criando novas substâncias, materiais ou componentes a serem usados em diversas áreas, em tamanhos muito reduzidos; gripes (como a H1N1); gripe aviária; vírus Ebola; AIDS (Síndrome da imunodeficiência adquirida); aquecimento global (causado pela queima de petróleo e derivados, queima de carvão, queimadas, agricultura em larga escala, destruição de florestas tropicais, com os gases nocivos ao meio ambiente, como dióxido de carbono, metano, clorofluorcarboneto – que aumentam a concentração de gases do efeito estufa na atmosfera, subindo as temperaturas, assim como o nível dos mares e diminuição da camada de ozônio); entre outros problemas. Novamente, insistimos na ideia de que no mundo globalizado atual, o capitalismo, enquanto sistema econômico e sua proposta de desenvolvimento impõe uma hegemonia global, isto é, “uma supremacia de dominação social” que inviabiliza outras formas de pensamento e sustentabilidade. E, pior, seus benefícios não se estendem para todos os povos, ou países, mas, se restringem aos chamados países desenvolvidos, que são, por sua vez, os que mais consomem e poluem o planeta. Aos países em desenvolvimento cabe a produção de determinados bens e o consumo do que é produzido pelas nações desenvolvidas. É a chamada divisão internacional do trabalho em âmbito global. “O mundo integrado pela globalização, que busca estabelecer um pensamento único – de inspiração neoliberal, simplificador e justificador das diferenças e desigualdades sociais –, é, na verdade, um mundo dividido: aumenta cada vez mais o contraste entre ricos e pobres” (ARAÚJO, 2013, p.288). Unidade 18. O Meio Ambiente e a Discussão Sobre a Questão Global. EXCELÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

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Portanto, de acordo com Silvia Maria de Araújo (2013, p.281), a saída para os problemas mais sérios exige soluções em âmbito mundial, que envolvam a solidariedade dos países ricos em relação aos pobres e novas formas de produzir e consumir no mundo.

Sobre o Ebola – um vírus altamente infeccioso que pode atingir uma taxa de mortalidade de até 90% No site Médicos Sem Fronteiras, há uma reportagem interessante sobre os impactos que este vírus causa nas comunidades afetadas, necessitando de ajuda internacional para se combater a proliferação da doença.

Disponível em: http://migre.me/uueJV. Acesso em: 14 jul. 2016.

Sobre as Conferências mundiais sobre o meio ambiente

Bastante interessante é o site das Nações Unidas e seus diversos programas, de caráter mundial, em prol de um mundo melhor e da proteção do meio ambiente. O site, a seguir, divulga as Conferências das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente.

Disponível em: http://migre.me/uueN1. Acesso em 14 jul. 2016.

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A ONU convocou a Conferência em Estocolmo, na Suécia, em 1972. Um marco na discussão sobre o futuro do planeta. O Manifesto Ambiental, surgido da conferência, estabeleceu as bases para se pensar uma nova agenda ambiental do Sistema das Nações Unidas. Em 1992, aconteceu a Conferência na cidade do Rio de Janeiro, ficando conhecida como a “Cúpula da Terra”, adotando a chamada Agenda 21, um diagrama para a proteção do nosso planeta e seu desenvolvimento sustentável. Em 2002, foi realizada, então, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável em Johanesburgo, África do Sul, para fazer um balanço das conquistas, desafios e das novas questões surgidas desde a Cúpula da Terra de 1992. Foi uma Cúpula de “implementação”, concebida para transformar as metas, promessas e compromissos da Agenda 21 em ações concretas e tangíveis. Em 2012, aconteceu a Rio + 20, na cidade do Rio de Janeiro, para continuar a discutir sobre desenvolvimento sustentável. Os relatórios desta Conferência estão disponíveis no site: http:// www.rio20.gov.br/. Apesar da hegemonia capitalista e da ONU ser uma organização financiada principalmente por grandes potências capitalistas, o mundo busca soluções para reverter o quadro de degradação ambiental, destruição do planeta e pobreza existente na atualidade.

Leia a seguir o texto de Ulrich Beck sobre a sociedade de risco: Ouve-se continuamente afirmar que a noção de “sociedade mundial de risco” favorece neologismos e bloqueia a ação política. O contrário é verdadeiro: como sociedade mundial de risco, a sociedade se torna reflexiva em um triplo sentido. Em primeiro lugar, ela se torna tema por si mesma: os perigos globais geram comunidades globais, antes, Unidade 18. O Meio Ambiente e a Discussão Sobre a Questão Global. EXCELÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

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se delineiam os contornos de uma esfera pública (virtual) mundial. Em segundo lugar, é percebida a globalização das autoameaças produzidas pelo progresso desde um impulso politicamente orientável à revitalização da política nacional e à formação e configuração de instituições cooperativas internacionais. [...] Em terceiro lugar, o político perde os seus limites. Criam-se constelações de “subpolítica” global e direta, que não se ajustam às coordenações e coalizações da política nacional-estatal e, portanto, a relativizam. [...] nessa concepção das emergências geradas pela sociedade mundial de risco podem se delinear os contornos de uma “sociedade civil mundial” (Beck, Ulrich. Conditio humana; il rischio nell’età globale. Roma-Bari: Latterza, 2008, p.133 – Tradução livre das autoras: ARAÚJO, 2013, p.283).

Como é possível passarmos de uma “sociedade mundial de risco” para uma “sociedade civil mundial”, tendo com referência as ideias de Ulrich Beck? Também, um dos mais importantes pensadores britânicos contemporâneo, o sociólogo Anthony Giddens, discute a questão do risco, como uma das “características mais fundamentais do mundo em que vivemos agora” (GIDDENS, 2000, p.32). Risco, logicamente, implica considerar a perspectiva de que o futuro da humanidade não se delineia mais de forma segura, como se poderia acreditar com o progresso da ciência e da tecnologia. Riscos, como visto, são de diversas ordens. Ricos em relação à saúde humana, ou provocado pelos terrorismos e guerras ou até as próprias catástrofes naturais, como a elevação dos níveis do mar, devido às mudanças do clima. É necessário, portanto, novos paradigmas para se enfrentar os riscos para o futuro. Giddens discute, por exemplo, o “princípio do acautelamento”, na qual se propõe “que se deve agir no caso de questões ambientais (e, por inferência, no caso de outras formas de riscos) ainda que haja incerteza científica com relação a elas”, ou ainda, “o preceito de ‘permanecer próximo da natureza’, ou de limitar a inovação em vez de adotá-la”, ou programas de governo para combater os

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fatores de riscos. E, também, nós, pessoas comuns, como consumidores, cada um tem de decidir se vai tentar evitar produtos geneticamente modificados ou não, por exemplo. Outro exemplo, é o chamado “paradigma de crescimento verde” ou “empregos verdes”, que ajudam a proteger os ecossistemas e a biodiversidade, reduzem o consumo de energia, materiais e água mediante a utilização de estratégias ou evitam a geração de todas as formas de lixo e poluição (ARAÚJO, 2013, p.290). Aqui, temos a reflexão do filósofo francês Félix Guattari (19301992), para o qual, a ecologia é um aprendizado que envolve o meio ambiente (natural) propriamente dito, as relações sociais e a subjetividade humana. Essa concepção abrangente da natureza do ser humano, como ser cultural e também natural, está na base das teorias por um desenvolvimento sustentável pós-consumista, ou seja, não desperdiçador. Nesse sentido, a sustentabilidade é uma aposta: a capacidade de se desenvolver com sustentação significa necessidade de renovação e fortalecimento de tudo o que mantém a vida (ARAÚJO, 2013, p.291).

O livro de Félix Guattari, As três ecologias, para aprofundar esta relação natureza, relações sociais e subjetividade, está disponível em: http://migre.me/uueX4. A sociedade sustentável exige, também, uma nova ética , uma ética ambiental. De acordo com o antropólogo, sociólogo, filósofo Edgar Morin, há necessidade de uma “ecoética”, uma ética ecológica, fruto da relação respeitosa e responsável dos homens com o planeta. A proposta é uma cidadania terrestre. Uma atitude que passa pela consciência individual em se atuar em defesa do meio ambiente, mas que também depende de toda a ação de comunidades, regiões, de países, de governos e de empresas em prol da recuperação e preservação dos ecossistemas locais. Ética ambiental é um conceito filosófico desenvolvido na década de 1960 que amplia o conceito de ética, enquanto da forma de agir do homem em seu meio social, pois se refere também à sua maneira de agir em relação à natureza. Considera que a conservação da vida humana está intrinUnidade 18. O Meio Ambiente e a Discussão Sobre a Questão Global. EXCELÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

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secamente ligada à conservação da vida de todos os seres. O conceito de ética ambiental relaciona-se como por oposição ao antropocentrismo. Por esse conceito, o comportamento do homem deve ser considerado em relação a si mesmo e em relação aos seres vivos. Por esse conceito, todos os seres são iguais. O homem, apesar de imbuído de racionalidade, não pode continuar a ver outros seres como inferiores e, portanto, não pode agir de forma predatória em relação aos mesmos. O homem deixa de ser ‘dono’ da natureza para voltar a ser parte da Natureza. Busca-se, com a ética ambiental, criar-se uma forma saudável de convivência, onde o Homem não mais satisfaça apenas seus desejos imediatos mas, ao agir, busque atender seus desejos, limitados pelas necessidades de outros seres vivos, bem como os desejos de gerações futuras (BRENNA;LO, 2011).

O desafio de enfrentamento aos riscos de um futuro para as próximas gerações depende de novos paradigmas e de uma nova ética que não exclua ninguém, tanto pessoas, como seres vivos, enfim, de se pensar uma nova relação entre o ser humano e a natureza. REFERÊNCIAS ARAÚJO, Sílvia Maria de. Sociologia: volume único: ensino médio. Silvia Maria de Araújo, Maria Aparecida Bridi, Benilde Lenzi Motim. São Paulo: Scipione, 2013. BRENNA A. LO, Y. Environmental Ethics. (2011). Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tica_ambiental>. Acesso em 14 jul. 2016. COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 2ª. ed. São Paulo: Moderna, 1997. GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole. O que a globalização está fazendo de nós. Rio de Janeiro: Record, 2000.

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LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2003

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