UNIDADE
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AS REVOLUÇÕES MODERNAS: INDUSTRIAL E FRANCESA ESTUDOS SOCIOLÓGICOS E ANTROPOLÓGICOS
EXCELÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
AS REVOLUÇÕES MODERNAS: INDUSTRIAL E FRANCESA
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Estudar a Revolução Industrial é fundamental para se entender como e por que surgem a Sociologia e a Antropologia. De acordo com o historiador Eric Hobsbawm, este período da história mundial pode ser visto através de palavras que surgem: “as palavras são testemunhas que, muitas vezes, falam mais alto que os documentos. Consideremos algumas palavras que foram inventadas ou ganharam seus significados modernos, substancialmente no período de 60 anos (1789-1848) de que trata este livro” (HOBSBAWM, 2000, p.17). Palavras como Indústria, Fábrica, Burguesia, Aristocracia, Classe Média (Middle Class), Classe Trabalhadora, Proletariado, Capitalismo, Socialismo, Ferrovia (Railway), Liberal, Conservador, Nacionalidade, Cientista, Engenheiro, Crise (Econômica), Utilitarismo, Estatística, Sociologia, Antropologia, Jornalismo, Ideologia1... enfim, falam por si de uma nova época. Afirma Hobsbawm, que entre 1789 e 1848 se constitui a maior transformação da história humana desde os tempos remotos, quando o homem inventou a agricultura e a metalurgia, a escrita, a cidade e o Estado. Esta revolução transformou e continua a transformar o mundo inteiro. Mas por que acontece este triunfo, esta radical mudança na humanidade? Uma nova sociedade burguesa trouxe para os países, como um todo, novos modos de agir e de ser. Foi o domínio do globo por uns poucos regimes ocidentais, como o regime britânico, por exemplo. Em contrapartida, o espectro do comunismo, como seu antagonismo, já assustava a Europa por volta de 1848, bem como o 1 Ideologia: Conjunto de ideias que tem por base uma teoria política ou econômica. Modo de ser próprio de um indivíduo ou de uma classe. Falsa consciência, no sentido marxista da palavra.
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mundo islâmico, sempre presente, que adotaram suas ideias e técnicas para se voltar contra o capitalismo. Eis um novo mundo que vai se formando. O período histórico que começa com a construção do primeiro sistema fabril do mundo moderno em Lancashire e com a Revolução Francesa de 1789 termina com a construção de sua primeira rede de ferrovias e a publicação do Manifesto Comunista, de Marx e Engels, em 1848, diz Hobsbawm. A Revolução Industrial inicia na Inglaterra e vai se expandindo para outras partes do mundo. Os Estados Unidos da América também irão se industrializar e, com a luta pela independência contra a Inglaterra, declarada oficialmente em 04 de julho de 1776, formaram outra grande nação industrializada, com os ideais liberais e democráticos, enfim, com princípios iluministas.
Fig.02
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Leia trechos da obra de Friedrich Engels, A condição da classe trabalhadora na Inglaterra, de 1845, um documento de época que demonstra como a Inglaterra estava se desenvolvendo, mas, ao mesmo tempo, com uma enorme desigualdade e precariedade da vida dos seus trabalhadores. ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. Porto: Editora Afrontamento, 1975. Disponível em: http://migre.me/tZsF5 Sugerimos, também, a leitura de muitos outros manuais de história que explicam com detalhes o que e como foi a Revolução industrial no mundo.
Sobre a Revolução Industrial e o impacto causado para a classe trabalhadora, sugerimos o filme Germinal, uma produção francesa, sob direção de Claude Berri, tendo no elenco Gérard Depardieu. Filme baseado no romance de Émile Zola (1840-1902), em que o escritor conviveu com os mineiros de carvão franceses em suas péssimas condições de trabalho, para depois escrever o clássico romance O Germinal.
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A REVOLUÇÃO FRANCESA DE 1789
Diz o historiador Eric Hobsbawm sobre a Revolução Francesa: Se a economia do mundo do século XIX foi formada principalmente sob a influência da revolução industrial britânica, sua política e ideologia foram formadas fundamentalmente pela Revolução Francesa. A Grã-Bretanha forneceu o modelo para as ferrovias e fábricas, o explosivo econômico que rompeu com as estruturas sócio-econômicas tradicionais do mundo não europeu; mas foi a França que fez suas revoluções e a ela deu suas ideias, a ponto de bandeiras tricolores de um tipo ou de outro terem-se tornado o emblema de praticamente todas as nações emergentes, e a política europeia (ou mesmo mundial) entre 1789 e 1917 foi em grande parte a luta a favor e contra os princípios de 1789, ou os ainda mais incendiários de 1793. (HOBSBAWM, 2000, p.71)
A Revolução Francesa marcou principalmente sua influência sobre o mundo da política e ideologia. Na política, o enfrentamento e derrubada do regime monárquico, tendo o povo como seu protagonista, pois estava marginalizado e empobrecido pelo regime absolutista francês. Uma proposta radical-democrática, o exemplo de nacionalismo, sinônimo de povo, associado à retomada do desenvolvimento econômico, agora sob a liderança da burguesia, e não mais de uma aristocracia atrelada ao poder monárquico. Eram estas as características desta revolução. A ideologia girava em torno de conceitos como igualdade, liberdade e fraternidade. Inclusive com a aprovação de Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a luta pelo fim dos privilégios, da elaboração de uma constituição civil para o clero. Era a construção de uma nova ordem: a burguesa. Diz Hobsbawm sobre o tema: Mais especificamente, as exigências do burguês foram delineadas na famosa Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789. Este documento é um manifesto contra
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a sociedade hierárquica de privilégios nobres, mas não um manifesto a favor de uma sociedade democrática e igualitária. “Os homens nascem e vivem livres e iguais perante as leis”, dizia seu primeiro artigo; mas ela também prevê a existência de distinções sociais, ainda que “somente no terreno da utilidade comum”. A propriedade privada era um direito natural, sagrado, inalienável e inviolável. Os homens eram iguais perante a lei e as profissões estavam igualmente abertas ao talento; mas, se a corrida começasse sem handicaps [desvantagem], era igualmente entendido como fato consumado que os corredores não terminariam juntos. A declaração afirmava (como contrário à hierarquia nobre ou absolutismo) que “todos os cidadãos têm o direito de colaborar na elaboração das leis”; mas “pessoalmente ou através de representantes”. E a assembleia representativa que ela vislumbrava como o órgão fundamental de governo não era necessariamente uma assembleia democraticamente eleita, nem o regime nela implícito pretendia eliminar os reis. Uma monarquia constitucional baseada em uma oligarquia possuidora de terras era mais adequada à maioria dos liberais burgueses do que a república democrática que poderia ter parecido uma expressão mais lógica de suas aspirações teóricas, embora também alguns advogassem esta causa. (HOBSBAWM, 2000, p.77)
Portanto, as ideias da Revolução Francesa também tinham um viés de proteção de uma classe social, a dos burgueses, que passaram a ter mais influência na sociedade, querendo moldar os novos tempos ao seu ideal de vida e de lucratividade. Perceba como estas duas grandes revoluções abalaram o mundo, tanto no aspecto social, com o novo modo de produção industrial, quanto no aspecto do mundo de ideias, com a igualdade e liberdade dos cidadãos, a livre iniciativa, a importância do povo e seus direitos. As duas revoluções foram fenômenos dos séculos XVIII e que lançam suas ideias e suas práticas no século XIX. As questões que proporcionam o pensamento são a desintegração dos antigos laços sociais e a formação de novas desigualdades sociais.
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A desigualdade social é um tema importante tanto para a So-
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ciologia como para a Antropologia, pois ajuda a pensar a dinâmica social na qual as pessoas estão inseridas. A charge a seguir, apresenta a nova desigualdade social, tendo como referência a distribuição de renda, em que alguns acabam acumulando muito capital e a grande maioria da população apenas sobrevive com seu salário.
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Podemos nos perguntar: como a Revolução Industrial e a Revolução Francesa podem nos ajudar a pensar a questão da distribuição da riqueza no mundo atual? Afinal: Afirmar que a desigualdade faz parte da estrutura das sociedades não significa afirmar que ela é natural. Pelo contrário, a desigualdade é produzida e reproduzida pelos seres humanos em suas ações e na forma como criam diferentes níveis de acesso e valor a modos de vida, serviços sociais, aos recursos para lazer etc. Um exemplo é a sociedade contemporânea em que vivemos, cuja estrutura é predominantemente capitalista: nela, o que é produzido pelos que se organizam para obter a sobrevivência acaba sendo apropriado de forma desigual entre aqueles que decidem e organizam a produção e os que trabalham. (ARAÚJO, 2013, p.16)
Nesta unidade foi possível perceber o quanto as revoluções dos
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séculos XVII e XVIII influenciaram na sociedade contemporânea. Sendo assim, vamos continuar nossos estudos acerca da Sociologia e da Antropologia nas próximas unidades. A seguir, veremos um pouco a respeito do Positivismo e suas contribuições para a constituição da sociedade atual.
LISTA DE IMAGENS Fig.01: http://ftc.com.br/ Fig.02: http://sevenpillarsinstitute.org/ REFERÊNCIAS ARAÚJO, Sílvia Maria de. Sociologia: volume único: ensino médio. Silvia Maria de Araújo, Maria Aparecida Bridi, Benilde Lenzi Motim. São Paulo: Scipione, 2013. COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 2ª.ed. São Paulo: Moderna, 1997. ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora em Inglaterra. Porto: Editora Afrontamento, 1975. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio: o dicionário da língua portuguesa. 8ªed. Curitiba: Positivo, 2010. HOBSBAWM, Eric. A Era das revoluções: Europa 1789-1848. 12ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2003.
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