Estudos Sociológicos e Antropológicos - Unidade04

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UNIDADE

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O TRIUNFO DA CIÊNCIA. O POSITIVISMO.

ESTUDOS SOCIOLÓGICOS E ANTROPOLÓGICOS

EXCELÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


O TRIUNFO DA CIÊNCIA. O POSITIVISMO.

A CIÊNCIA As ciências sociais do século XIX tiveram como referência toda a sistematização do pensamento científico das ciências naturais, do desenvolvimento da tecnologia e na esperança de um mundo melhor com os novos inventos. “A ideia de progresso, racionalismo e cientificismo exerceram todo um encanto sobre a mentalidade da época. A vida parecia submeter-se aos ditames do homem esclarecido” (COSTA, 1997, p.39). E se a ciência tinha todo este sucesso na explicação da natureza, ela também poderia levar a uma explicação sobre a sociedade e suas leis naturais, no sentido de se entender que as atividades humanas também eram regidas por leis naturais, e que poderia, assim, ser conhecida e transformada. Quanto ao método científico, que procura elucidar as leis que regem a natureza e buscar intervir sobre ela, tem-se a indução e a dedução. “A indução, método que concebia o conhecimento como resultado da experimentação contínua e do aprofundamento da manipulação empírica, havia sido desenvolvida por Francis Bacon (1561-1626) desde o fim do Renascimento” (Ibidem, p.40). A “experimentação contínua” passa a ser uma das bases de qualquer ciência, a prática e os testes frequentes que visam demonstrar a validade daquilo que se pesquisa, buscando entender e dominar a natureza. A “manipulação empírica” tem o significado de encontrar as mais diversas possibilidades para o que se está pesquisando, para o que se está tentando responder. Um exemplo, seria a da descoberta de vacinas. A experimentação contínua e manipulação empírica levou à descoberta de inúmeras vacinas para doenças que assolavam a humanidade. Quanto à dedução, “René Descartes (1596-1650) defendia a validade do método dedutivo, ou seja, aquele que possibilitava desco-

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bertas pelo encadeamento lógico de hipóteses elaboradas exclusivamente a partir da razão” (Idem). Isto é, um método científico que visa descobrir algo por aquilo que já está definido ou dado ou mesmo por suposição. Por exemplo, com a descoberta de que é a lei da gravitação que controla os corpos no planeta Terra, pode-se deduzir de que o mesmo princípio pode reger todo o universo, sem a devida experimentação. Ou, o exemplo clássico de Descartes, de que se “penso”, deduz-se que “logo existo”. A ciência se fundava, portanto, como um conjunto de ideias que diziam respeito à natureza dos fatos e aos métodos para compreendê-los. Por isso, as primeiras questões que os sociólogos do século XIX tentarão responder serão relativas à definição dos fatos sociais e ao método de investigação. Tanto o método indutivo de Bacon como o dedutivo de Descartes serão traduzidos em procedimentos válidos para as pesquisas sobre a natureza da sociedade. (Idem)

Com o passar do tempo, a ciência foi substituindo a religião na explicação das coisas, do seu desenvolvimento e da finalidade do mundo. A ciência passa a apontar para as pessoas o caminho em direção à verdade. E o mesmo poderia se pensar para as relações sociais na sociedade. Porém, hoje sabemos dos limites da própria ciência em explicar as coisas e mesmo com suas novas descobertas, que por vezes contradizem saberes tidos como verdadeiros.

Frankenstein é um romance de Mary Shelley, sobre um cientista, no século XIX, que cria um homem a partir da união de partes de diversos cadáveres, dando-lhe vida. Este homem/monstro passa, então, a perseguir seu criador. O romance da jovem Mary Shelley é uma crítica à ciência e sua pretensão divina.

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O POSITIVISMO Frente à esperança da ciência também ser transposta para explicar as relações sociais, surge o Positivismo, primeira corrente teórica sistematizada de pensamento a definir o objeto, a estabelecer conceitos e uma metodologia de investigação da vida em sociedade. Seu primeiro representante e principal sistematizador foi o pensador francês Auguste Comte (1798-1857). O positivismo derivou do “cientificismo”, isto é, da crença no poder exclusivo e absoluto da razão humana em conhecer a realidade e traduzi-la sob a forma de leis naturais. Essas leis seriam a base da regulamentação da vida do homem, da natureza como um todo e do próprio universo. (...). O positivismo reconhecia que os princípios reguladores do mundo físico e do mundo social diferiam quanto à sua essência: os primeiros diziam respeito a acontecimentos exteriores aos homens; os outros, a questões humanas. Entretanto, a crença na origem natural de ambos teve o poder de aproximá-los. (...) O próprio Comte deu inicialmente o nome de “física social” às suas análises da sociedade, antes de criar o termo sociologia. (COSTA, 1997, p.46-47)

Para os positivistas, a sociedade foi concebida como um organismo constituído por partes integradas e coesas que funcionavam harmonicamente, segundo um modelo físico ou mecânico. Por isso o positivismo foi chamado também de organicismo (Ibidem, p.47). Além do organicismo, os positivistas viam na história um processo evolutivo da humanidade. Comte elabora a lei dos três estados da história. No início, todas as sociedades viviam sob a influência do pensamento mítico ou teológico para explicar o mundo e a vida. Com o passar do tempo, o pensamento mítico deu lugar ao metafísico, que significa uma abstração maior da razão em prol do entendimento das coisas, porém, ainda utiliza o transcendente1, daquilo que está fora 1 Transcendente: que transcende os limites da experiência possível; metafísico; transcendental; passar além de (FERREIRA, 2010, p.750).

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da natureza propriamente humana para querer explicar a realidade. E, assim, evoluímos para um novo tempo, do positivismo ou cientificismo, como maneira de explicar o mundo.

A Revolução Industrial e política na Europa fez com que novamente os europeus em seus países mais industrializados buscassem vender e se apropriar das riquezas nos outros continentes, financiados agora por um capital dos grandes bancos e dos grandes oligopólios industriais. Neste sentido desencadeia-se uma corrida colonialista para os continentes africano e asiático. Teorias antropológicas como o darwinismo social buscaram justificar a dominação europeia sobre os povos africanos e asiáticos novamente. O darwinismo social passou a considerar os povos diferentes como aqueles que ainda estavam em estágios do desenvolvimento anterior ao positivismo, isto é, povos que ainda se encontravam no primitivismo, no sistema de explicação teológico ou metafísico do mundo. Daí a necessidade dos europeus de quererem, além de explorar as riquezas materiais destes povos e venderem seus produtos industrializados, querer também proporcionar uma “missão civilizadora”, transformando estes locais em civilização semelhantes às europeias. Darwinismo social tem como influência as ideias científicas de Charles Darwin a respeito da evolução biológica das espécies. Tais ideias, transpostas para a análise da sociedade, resultaram no darwinismo social, isto é, o princípio de que as sociedades se modificam e se desenvolvem num mesmo sentido e que tais transformações representariam sempre a passagem de um estágio inferior para outro superior, em que o organismo social se mostraria mais evoluído, mais adaptado e mais complexo. Esse tipo de mudança garantiria a sobrevivência dos organismos – sociedades e indivíduos – mais fortes e mais evoluídos. (COSTA, 1997, p.49)

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É óbvio que transpor as ideias de Darwin para o estudo das diferentes sociedades e etnias é errôneo, porque, “se o homem constitui sociologicamente uma espécie, o mesmo não se pode dizer das diferentes culturas que ele desenvolveu” (Ibidem, p.50). A cultura que cada povo desenvolveu possui princípios diferentes daqueles existentes na natureza e que a seleção natural foi se adaptando às leis imperativas da natureza. Hoje, sente-se que a complexidade da cultura humana tem concorrido para limitar a ação da lei de seleção natural. A adaptabilidade do homem e a sua dependência cada vez menor em relação ao meio têm transformado o ser humano numa espécie à qual a seleção natural se aplica de maneira especial e relativa. (Idem)

Mas, o darwinismo social acabou sendo utilizado como justificativa da colonização europeia no século XIX sobre os demais povos, tendo como base o etnocentrismo2 europeu e sua “missão civilizadora”. Os europeus, neste caso, eram os “mais fortes”, “mais evoluídos” ou “mais adaptáveis” e deveriam se impor aos outros povos, às outras culturas. Porém, sabemos que as leis do mercado e a cultura não são princípios naturais, mas criados pelos seres humanos, com interesses específicos e, no caso europeu, eram os interesses da acumulação capitalista. O POSITIVISMO NO BRASIL As ideias do positivismo influenciaram também o Brasil. Auguste Comte pressupunha uma evolução das sociedades de forma ordeira e, portanto, era contra as revoluções que eliminam toda a tradição e confundem os povos nela envolvidos, como a que aconteceu na França em 1789, da qual ele sentiu os efeitos. No Brasil, as ideias positivistas serviram para justificar a mudança do regime monárquico, que desde a proclamação da independência em 07 de setembro de 1822 vinha sendo regido pelos reis D. Pedro 2 Etnocentrismo: Tendência a considerar as normas e valores da própria sociedade ou cultura como critério de avaliação de todas as demais (FERREIRA, 2010, p.325).

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I e, depois, por seu filho D. Pedro II, para um novo regime, o republicano, de caráter mais popular, com a proclamação que se deu em 15 de novembro de 1889. No Brasil, boa parte das Forças Armadas, com seu autoritarismo e republicanismo, seguiam os ideais de Comte. Lembrando que para Comte o positivismo era sinal dos novos tempos, sendo que a ciência traria o progresso. As sociedades deveriam seguir o progresso com ordem e não com revoluções. E o amor deveria ser o princípio organizativo da vida social. Enfim, Amor, Ordem e Progresso eram lemas positivistas. A bandeira brasileira assume, graças a estes ideias, o lema: Ordem e Progresso.

O artigo de Wilson Santana Silva apresenta de forma interessante o pensamento positivista, a biografia de seu fundador Auguste Comte e como o positivismo se estabeleceu no Brasil. O artigo discute, ainda, o Marxismo, bem como, sua penetração no Brasil (tema de nosso próximo Bloco). SILVA, Wilson Santana. As Matrizes Acadêmicas do Pensamento Brasileiro: Comte e Marx. Fides Reformata XVII, n.º 1 (2012): 61-77.

REFERÊNCIAS ARAÚJO, Sílvia Maria de. Sociologia: volume único: ensino médio. Silvia Maria de Araújo, Maria Aparecida Bridi, Benilde Lenzi Motim. São Paulo: Scipione, 2013. COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 2ª.ed. São Paulo: Moderna, 1997.

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FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio: o dicionário da língua portuguesa. 8ªed. Curitiba: Positivo, 2010. LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2003. SILVA, Wilson Santana. As Matrizes Acadêmicas do Pensamento Brasileiro: Comte e Marx. Fides Reformata XVII, n.º 1 (2012): 61-77.

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