UNIDADE
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CONTEXTUALIZAÇÃO, COESÃO, COERÊNCIA, INTENCIONALIDADE, INFORMATIVIDADE, ACEITABILIDADE, SITUACIONALIDADE E INTERTEXTUALIDADE
LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS
EXCELÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
CONTEXTUALIZAÇÃO, COESÃO, COERÊNCIA, INTENCIONALIDADE, INFORMATIVIDADE, ACEITABILIDADE, SITUACIONALIDADE E INTERTEXTUALIDADE
Na produção e recepção do texto, fatores pragmáticos contribuem para a construção do seu sentido e possibilitam que sejam reconhecidos na língua portuguesa. São elementos desse processo as peculiaridades de cada ato comunicativo, tais como: as intenções do interlocutor, o jogo de imagens mentais que cada interlocutor faz de si, do outro e outro com relação a si mesmo e ao tema do discurso e o espaço de perceptibilidade visual e acústica comum na comunicação face a face. Assim, o que é pertinente numa situação, pode não o ser em outra. Segundo Costa Val (1991), o contexto sociocultural em que se insere o discurso também constitui elemento condicionante de seu sentido, na produção e na recepção, na medida em que delimita os conhecimentos partilhados pelos interlocutores, inclusive quanto às regras sociais da interação comunicativa, como tom de voz e postura. Cumpre destacar que a segunda propriedade básica do texto é o fato de ele constituir uma unidade semântica, assim, uma ocorrência linguística, para ser texto, necessita ser recebida como um todo significativo. O texto se caracteriza por sua unidade formal, ou seja, material. Seus constituintes linguísticos devem estar integrados e coesos. Cabe salientar que a escrita requer parceria entre os sujeitos envolvidos no processo, na medida em que buscam os mesmos fins. Mais do que um esforço tão somente na escolhas dos léxicos, na adequação gramatical e na correção ortográfica, a atividade da escrita é, então, uma atividade interativa de expressão, (ex-, “para fora”) de manifestação das ideias, informações, intenções, crenças ou dos sentimentos que queremos partilhar com alguém, para, de algum modo, interagir com ele. Ter o que dizer é, portanto, uma condição prévia para o êxito da atividade de escrever. Não há conhecimento linguístico (lexical ou gramatical) que supra a de-
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ficiência do “não ter o que dizer”. As palavras são apenas a mediação, ou o material com que se faz a ponte entre quem fala e quem escuta, entre quem escreve e quem lê. Como mediação, elas se limitam a possibilitar a expressão do que é sabido, do que é pensado, do que é sentido. Se faltam as ideias, se falta a informação, vão faltar as palavras. Daí que nossa providência maior deve encher a cabeça de ideias, ampliar nosso repertório de informações e sensações. [...] Aí as palavras virão, e a crescente competência para a escrita vai ficando por conta da prática de cada dia, do exercício de cada evento, com as regras próprias de cada tipo e de cada gênero de texto. (ANTUNES, 2003, p. 45-46).
É importante destacar que Textualidade é o conjunto de características que fazem com que um texto seja um texto e não mero amontoado de frases. Para Koch &Travaglia (1995, p. 26), “a textualidade é o que faz de uma sequência linguística um texto e não uma sequência ou um amontoado aleatório de frases ou palavras”. A sequência, segundo os autores, “é percebida como texto quando aquele que a recebe é capaz de percebê-la como uma unidade significativa global”. Assim, de acordo com Beaugrande e Dressler (1973) existem sete fatores que condicionam as situações de produção textual, são elas: a coerência e a coesão (de natureza linguística e conceitual); a intencionalidade, a aceitabilidade, a situacionalidade, a informatividade e a intertextualidade. Importa salientar que idealizar práticas de ensino da produção escrita a partir de concepções sobre a textualidade requer a aceitação de que o texto não é um produto, e sim um processo, haja vista que ele é construído em situações concretas de interação comunicativa e por interlocutores reais. Confere-se que o sentido de um texto e a rede conceitual que a ele subjazem emergem em diversas atividades nas quais os indivíduos se engajam. Destaca-se que interpretar constitui um trabalho de reconstrução de sentidos, uma operação interativa que demanda uma articulação de diferentes fatores; não é apenas uma decodificação dos elementos instrucionais, mas o reconhecimento de estratégias realizadas e que configuram os significados virtuais, passíveis de serem recuperados por processos de inferência, análise de pressupostos e implícitos situacionais de diversas ordens. Desta feita, decifrar um texUnidade 05. Contextualização, coesão, coerência, intencionalidade, informatividade, aceitabilidade, situacionalidade e intertextualidade EXCELÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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to é mobilizar um conjunto diversificado de competências (linguísticas, semântico-pragmáticas e situacionais) para percorrer, de modo coerente, uma superfície discursiva orientada de um emissor para um receptor, temporalmente, e que constitui o texto. Assim, todo saber linguístico deve ser analisado como parte integrante de um texto interativo, ou seja, como uma unidade integrante de outra maior que é o texto, linguisticamente configurado. O CONTEXTO O tratamento de uma única frase ou de um fragmento qualquer de texto exige atenção ao contexto. Confere-se que a Língua só expressa parte do que se quer transmitir; assim, para interpretar textos, não basta conhecer a Gramática da Língua, é necessário acesso ao contexto sócio-histórico do conteúdo. Desta feita, o texto é recuperado a partir do contexto em que foi escrito e,portanto, possui um projeto de intenção e interação que o torna discurso. Todo o discurso é a configuração de uma intencionalidade comunicativa, que se pretende recuperar a partir da relação entre as proposições encontradas e o conhecimento partilhado que se tem do mundo. Desta forma, a lógica de ações se reflete nos textos e, assim, todo processo de interpretação deve levá-la em conta. Qualquer frase, independentemente de seu contexto, não tem um significado final em si mesma, devendo ser atualizada pelo contexto. Para Abaurre (2007, p. 24), “os textos, escritos ou orais, não têm existência autônoma, porque sua significação depende do reconhecimento de um contexto e da relação que os leitores/ouvintes estabelecem com ele.” CONTEXTUALIZAÇÃO Para uma boa leitura verbal e não-verbal deve-se levar em conta o contexto. Por contexto, entende-se, o todo, ou seja, uma unidade
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maior formada de unidades menores inter-relacionadas, formando um tecido de relações. A frase encaixa-se no parágrafo, o parágrafo no capítulo e este no contexto da obra. Goodwin&Durandi em Rethinking Context (1992), dizem que não é possível, atualmente, apresentar-se uma definição, única e precisa, de contexto. Muitos estudiosos propõem análises baseadas no contexto de situações e apontam pistas que devem ser consideradas para se estabelecer um contexto tais como: situação, cenário, lugar, participantes, falante, ouvinte, fins, propósitos, resultados, sequência de atos, forma de atos, canal, interpretação, gêneros, entre outros. Segundo Koch (2002) a noção de contexto encerra uma justaposição dos elementos constituindo duas entidades, um eventual focal e um campo de ação dentro do qual o evento está inserido. Por isso, o contexto é uma unidade linguística de âmbito maior. Assim, a palavra (unidade menor) se insere no contexto da frase (unidade maior); a frase se insere no contexto do parágrafo. Uma vez inserida no contexto, a palavra perde o seu caráter polissêmico, isto é, deixa de admitir vários significados. Portanto, a ação relacionada ao contexto, a contextualização, abrange múltiplos significados, pois possui caráter polissêmico. Assim, o sentido do texto não é um dado prévio, nem um rótulo, mas algo que se constrói de forma interativa. Observa-se que o sentido de um texto não está apenas no próprio texto, mas flui do contexto. Não existem textos independentes do contexto, todos eles têm uma intenção nítida e resultam de ações orientadas. Confere-se também, que a construção do texto é um processo no qual assumem importância os procedimentos de construção do contexto comum partilhado. COESÃO E COERÊNCIA: A ARTICULAÇÃO TEXTUAL A relação entre coerência e coesão tem sido, muitas vezes, compreendida como complementares ou interdependentes. Em nossa linguagem cotidiana, sem percebemos, procuramo-nos expressar de forma coesiva com o intuito de melhorar a expressividade do que enunciamos.
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Quando não usamos um conector adequado em nossos textos, estamos correndo um sério risco de não transmitirmos a mensagem. A coesão não é o macro, o geral, mas o micro, termo de caráter específico capaz de manter a estrutura lógica da mensagem. A coesão textual caracteriza-se pelas articulações gramaticais existentes entre palavras, frases, orações, parágrafos e partes maiores de um texto, garantindo dessa maneira a unidade entre essas diversas partes que o compõem. Koch (2009, p. 35) afirma que: Costumou-se designar por coesão a forma como os elementos linguísticos presentes na superfície textual se interligam, se interconectam, por meio de recursos também linguísticos, de modo a formar um “tecido” (tessitura), uma unidade de nível superior à da frase, que dela se difere qualitativamente.
A coesão manifestada no nível microtextual refere-se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, as palavras que ouvimos ou vemos, estão ligadas entre si dentro de uma sequência. A coerência, por sua vez, é manifestada em grande parte macrotextualmente e refere-se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, os conceitos e as relações subjacentes ao texto de superfície, se unem numa configuração, de maneira reciprocamente acessível e relevante. O conceito de coerência é: “Qualidade ou estado de ser coerente, conexão, harmonia.” (AMORA, 2003, p. 52). Somente a seleção e a articulação de ideias, informações, argumentos e conceitos compatíveis entre si produzirão como resultado um texto claro. Neste caso, como a articulação textual promove a construção do sentido, ela é chamada de coerência textual. COERÊNCIA: A CONSTRUÇÃO DO SENTIDO A falta de coerência fica clara quando o leitor não é capaz de perceber de que modo as informações apresentadas em um texto se articulam. Há coerência tanta interna (entre as partes do texto) quanto externa (do texto com o ambiente social, histórico, cultural em que
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ele se insere). COERÊNCIA INTERNA Centra-se no redator, que precisa estar atento para que as ideias do texto não entrem em contradição. É necessária uma inter-relação entre os parágrafos, bem como entre os períodos de um mesmo parágrafo. COERÊNCIA EXTERNA Centra-se no leitor, na decodificação que faz, a partir do conhecimento que tem “de mundo”, da compatibilidade entre o texto e o conhecimento pré-estabelecido. Muitos textos, para serem compreendidos em sua totalidade, exigem um determinado conhecimento de mundo do leitor, de determinado repertório cultural, sem o qual se torna impossível absorver todas as informações.
Problemas de coerência são, dentre outros:
•
a contradição de sentido de um vocábulo ou expressão;
•
inadequação de sentido de um vocábulo ou expressão;
• dados ou informações “externamente” incorretas (como dizer que a Independência do Brasil ocorreu no século XX). Exemplo - coerência interna/ externa Exemplo 1: Dad Squarizi, em sua coluna do Estado de Minas do dia 15 de maio de 2005, ilustra uma incoerência textual no cartaz publicitário do Ministério da Saúde à época. Unidade 05. Contextualização, coesão, coerência, intencionalidade, informatividade, aceitabilidade, situacionalidade e intertextualidade EXCELÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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Segundo a autora,“Ocartazdo MinistériodaSaúdetrocou as bolas”. A incoerência existente no cartaz veiculado pelo Ministério da Saúde se dá pela ordem de colocação dos termos: “apague esta ideia. É proibido fumar”.Pode-se entender que o que se deve apagar é a ideia da proibição de fumar. Para torná-lo coerente, as ordens dos termos devem ser alteradas para dar coerência ao texto: “Fumar: apague essa ideia”. Exemplo 2: A ONU apresentou hoje a primeira universidade global em linha e de matrícula gratuita, com a qual tratará de impulsionar o acesso à educação superior dos estudantes das regiões menos desenvolvidas do mundo. “(…) Os únicos gastos para os alunos são uma matrícula que varia entre os 15 e 50 dólares, dependendo do país, e 10 a 100 dólares por cada exame.” A gratuidade do acesso à universidade em linha não é compatível com a informação relativa ao montante da matrícula. A COESÃO E SEUS MECANISMOS Vamos conhecer alguns mecanismos responsáveis pelo estabelecimento da coesão referencial: 1. Anáfora: é um mecanismo coesivo que retomam elementos expressos anteriormente no texto. Exemplo: “Os governos dos países de Terceiro Mundo podem mesmo sentir-se instáveis: a violência crescente coloca-os em cheque, pela ausência de ações efetivas que possam contê-la.” Vemos que foram usados dois pronomes pessoais (os e la) para substituírem, respectivamente, os substantivos-núcleo governos e violência. A este recurso de retomada interna, chamam-no de anáfora.
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2. Catáfora: é um mecanismo coesivo que faz referência a elementos expressos posteriormente. Exemplo: “Não gostaria de me preocupar com isto: o horário da consulta. Vemos que o pronome demonstrativo (isto) não retoma um termo anterior, mas anuncia, projeta a frase “o horário da consulta”. A este mecanismo coesivo de projeção, chamam-no de Catáfora. Podemos dizer que a catáfora é um tipo de anáfora, pois estabelece os mesmos tipos de relação coesiva entres os termos, porém o termo anafórico se encontra antes do termo referente. Assim: •
Anáfora - retoma por meio de referência um termo anterior.
• Catáfora - termo usado para fazer referência a outro termo posterior. 3. Substituição Substituição é o recurso que de um termo coesivo no lugar de outro(s) termo(s) do texto. Observe as palavras destacadas no texto abaixo: Qual é o ar mais puro do mundo? É o da Tasmânia, onde até um pequeno e irritadiço marsupial contribui para tornar esta ilha Australiana um exemplo de preservação ambiental. Eis uma das belas vantagens de se viver longe de tudo. A Tasmânia é o Estado mais meridional da Austrália, separado da terra dos cangurus por um estreito de 240 quilômetros de largura. Ao sul desta pequena ilha da borda do mundo, nada além do vasto e gelado oceano que separa da Antártica. O isolamento geográfico poderia ser um tremendo problema para os seus 490 mil habitantes, mas eles preferem vê-lo como bênção. [...] BARTABURU, Xavier. Extremos. Terra, São Paulo: Ed. Peixes, ano 14, n. 176, p. 26, dez, 2006. (fragmento).
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No texto, o substantivo Tasmâmia é retomado pelos termos: ilha australiano, pequena ilha. Esses termos são utilizados como forma de evitar uma repetição do substantivo. O texto apresenta outro exemplo do mesmo procedimento coesivo. O nome próprio Austrália foi substituído por terra dos cangurus. 4.
Repetição ou reiteração
Outra forma de retomada de elementos é a repetição ou reiteração (retomada lexical).Nesse caso, é feito o uso de um termo com valor coesivo para substituir outro elemento do texto (hipônimos, hiperônimo, sinônimo...). Ressaltando que são palavras hipônimas aquelas que se relacionam pelo sentido dentro de um conjunto, ligando-se por afinidade ou por um ser parte do outro. Exemplos: Banana ou laranja é hipônima de fruta; Azul ou preto é hipônimo de cor; Alface ou couve é hipônima de verdura. O hiperônimo é a palavra que apresenta um significado mais abrangente do que o do seu hipônimo. Por exemplo: doença é o hiperônimo de gripe. Doença abrange gripe, câncer, malária, dengue, etc., portanto gripe é o hipônimo de doença. Assim, móvel é hiperônimo de mesa, cereal é o hiperônimo de arroz.
Observe as palavras destacadas no texto a seguir.
Temporada de orcas voadoras Pobres orcas. Além de serem vítimas dos arpões de caçadores, recebem o desonroso apelido de baleias assassinas, a alcunha não se deve a uma (inexistente) fúria do mamífero contra banhistas de sunga, mas ao simples e natural hábito de se alimentar de cetáceos mais jovens. E, para ser exato, as orcas nem baleias são – pertencem à família dos golfinhos. (Deliphinidae). FORONE, Priscila. Temporada de orcas voadoras. Terra, São Paulo. Ed. Peixes, ano 14, n.180, p.20, abr. 2007. (Fragmento).
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No texto, o hipônimo “orcas” é retomado por meio de dois hiperônimos: baleias e mamíferos. Um deles – baleias--, é equivocadamente utilizado para fazer referências às orcas, que, como informa o texto, pertencem à família dos golfinhos. Outro recurso utilizado para reiterar um referente é a sua substituição por um termo sinônimo. No texto, esse procedimento é exemplificado pelo uso dos termos apelido e alcunha. 5. Contiguidade O uso de termos pertencentes a um mesmo campo semântico resulta em um mecanismo coesivo chamado contiguidade.
Leia o texto abaixo para entender esse mecanismo:
Muito mais que rafting À medida que o rio afunila entre os paredões cada vez mais verticais, a correnteza vai ganhando velocidade e a companhia de uma espuma branca, originando pelo choque violento das águas contra as pedras. O bote responde de imediato ao turbilhão, chacoalhando sem intervalos. O corpo esquenta, o coração bate mais forte. Uns trinta metros acima de nossas cabeças, onde termina o cânion, a selva toma conta. MEDAGLIA, Thiago. Muito mais que um rafting. Terra. São Paulo. Ed. Peixes, ano 14, jan.2007. p. 82. (Fragmento). Verifica-se neste estudo que para a elaboração de um bom texto, é imprescindível que o autor conheça os recursos textuais necessários para estabelecer as relações de sentido entre as ideias que pretende expor. Todos os mecanismos coesivos aqui apresentados são utilizados naturalmente pelos falantes de uma língua. Agora é só utilizá-los de modo consciente ao escrever e, assim, garantir a coesão e a coerência dos seus textos.
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INTERTEXTUALIDADE A produção e a recepção de um texto dependem, algumas vezes, do conhecimento de outros textos por parte dos interlocutores, ou seja,referem-se aos fatores que tornam a utilização de texto dependente de um ou mais textos preexistentes. Assim, a intertextualidade influencia tanto a produção como a compreensão de textos. Confere-se que a intertextualidade acontece quando um texto relaciona-se com outro. Essa relação se estabelece quando o autor, ao escrever um texto, faz referência a outro texto, tais como os diálogos entre textos, alusões, citações ou referências. Convém observar que essas relações podem ocorrer entre textos, entre autores, entre estilos, entre escolas e entre linguagens e, pode ser subdividida em explícita e implícita. Intertextualidade Explícita No texto científico, a intertextualidade ocorre de modo explícito, ou seja, o autor, quando cita outro autor, explicita no discurso relatado, nas citações e nas referências, resumos, resenhas e traduções. Intertextualidade Implícita Cumpre destacar que essa modalidade acontece em textos artísticos, tais como paródias, paráfrases, ironia e se torna uma forma de o autor escolher o seu leitor. Observa-se que o autor insere em sua obra citações a outras obras, mas não as explicita. A intertextualidade é sutil e só será percebida se o leitor tiver conhecimento dos fatos, ou seja, o chamado repertório. SITUACIONALIDADE A situacionalidade refere-se ao conjunto de fatores que tornam um texto relevante para dada situação de comunicação, ou seja, o
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autor deve adequar seu texto à situação de comunicação, pois o texto precisa ser, não somente produzido, mas também, percebido como uma unidade significativa e coerente pelo interlocutor (co-autor). Vale destacar que a relação texto-situação apresenta-se em dois sentidos: da situação para o texto e do texto para a situação. Intencionalidade e Aceitabilidade A intencionalidade abarca todos os modos que os emissores usam os textos com o intuito de realizar suas intenções comunicativas; a aceitabilidade abarca a disposição que o leitor apresenta em aceitar o texto como uma unidade significativa. Informatividade Confere-se que o texto com bom índice de informatividade deve atender a outro requisito: a suficiência de dados. Isso significa que o texto necessita apresentar todas as informações necessárias para ser compreendido com o sentido que o autor pretende. Não é necessário que o autor explicite todas as informações a que o texto pretende atingir, no entanto é importante que deixe inequívoco todos os dados necessários à sua compreensão sem os quais o leitor não conseguirá sozinho. Salienta-se que a informatividade refere-se à informação contida no texto, esperada/não esperada, previsível/imprevisível. Desta feita, o texto deve ter um grau mediano de informação (dado/novo), pois se o grau for alto (muita informação nova), o leitor não poderá compreendê-lo, parecendo-lhe até mesmo incoerente. No entanto, se o grau for baixo (somente informação esperada, previsível), o texto não terá nenhuma relevância ou utilidade para o leitor.
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Destaca-se como exemplo de filme “Os Intocáveis” (1985), de Brian de Palma, cujo enredo refere-se à uma tocaia armada em uma estação de trem por agentes federais liderados pelo legendário Elliot Ness para prender o contador do não menos legendário mafioso Al Capone.Uma senhora empurrando um carrinho de bebê assusta-se com os tiros e solta o carrinho que, com o bebê dentro, desce desgovernado a escadaria da estação. O espectador vive momentos de tensão durante essa cena, até que o bebê seja salvo por um dos policiais. No entanto, apenas o espectador que possuir o repertório suficiente perceberá que, com essa cena, Brian de Palma está homenageando um dos grandes mestres do cinema. A cena cita uma cena de um filme do início do sec.XX – O encouraçado Potenkin – do russo Eisenstein. Em meio a uma correria provocada pela repressão policial a um motim, um carrinho de bebê desce desgovernado uma escadaria. Somente o espectador que conhece o filme de Eisenstein reconhece a intertextualidade no filme de Brian de Palma.
Dica de Leitura: COSTA, Val. M. G. Redação e Textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1991. REFERÊNCIAS ABAURRE, Maria Luiza M & Maria Bernadete M. Produção de texto: interlocução e gêneros. São Paulo: Moderna, 2007. AMORA, Antônio Soares. Minidicionário Soares Amora da língua portuguesa. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003. COSTA, Val. M. G. Redação e Textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
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GOODWIN, C. & DURANDI, A. Rethinking Context. Cambridge: Cambridge University Press, 1992. KOCH, Ingedore Villaça & TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. 4º Edição. São Paulo : Contexto, 1992. KOCH, Ingedore G.V. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002. ________. Ingedore G. V. Introdução à linguística textual. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
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