UNIDADE
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O ADVENTO DA INTERNET E A REVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO ESTUDOS SOCIOLÓGICOS E ANTROPOLÓGICOS
EXCELÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
O ADVENTO DA INTERNET E A REVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO
INTERNET O sociólogo espanhol Manuel Castells, em seu livro Galáxia Internet (2001) denominou este novo tempo que vivemos de “cultura virtual do real” devido à internet, aos jogos eletrônicos, ao uso das redes sociais, de telefones móveis, numa era da informática, da informação, da rede, do ciberespaço1, na qual uma outra revolução aconteceu, a Revolução Tecnológica, pautada nas inovações da microeletrônica, transformando o nosso tempo e o espaço. Como, então, interpretar este novo momento e as relações sociais delas provindas? Neste sentido podemos pensar nos inúmeros exemplos de como a tecnologia informacional tem modificado nossa vida, como a comunicação com nossos familiares e amigos, o registro de momentos com imagens, de forma instantânea e o compartilhamento delas; além de pagamentos de contas com o celular, bem como a acessos a serviços diversos, conciliar lazer e trabalho, resolver pendências a qualquer momento, jogar nas horas vagas, jogos que nos remetem a um mundo virtual, ter acesso a livros, artigos, revistas, jornais, blogs, filmes, vídeos em geral a qualquer momento, participar de redes sociais, e ser protagonista de divulgação das informações, comentar, mobilizar eventos. Enfim, uma infinidade de novas possibilidades que transformaram nosso estilo de vida.
Fig.01 1 Ciberespaço: O espaço virtual gerado por uma rede computadores. A internet (FERREIRA, 2010, p.163).
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Além de modificar nossa vida particular, as redes modificaram os setores econômicos, políticos, culturais e sociais. Na economia, o funcionamento das grandes empresas e os investimentos financeiros mundiais, têm na rede uma ferramenta essencial, pois lhes permite uma maior flexibilidade e eficácia na realização de tarefas, sendo, inclusive, “uma forma organizativa superior da atividade humana”, diz Manuel Castells (2001, p.15). Isto graças à internet, um meio de comunicação que permite, pela primeira vez, a comunicação de muitos ao mesmo tempo e em uma escala global. Neste sentido, Castells chama seu livro de Galáxia Internet. A Revolução Tecnológica propriamente dita pode ter iniciado desde a metade do século XX, mas foi a partir da década de 1990 que este movimento passou a ser irreversível e a modificar a vida de todas as pessoas, mesmo daquelas que ainda não estão ligadas a um aparelho eletrônico ou à internet. 1995 foi o primeiro ano do uso generalizado do world wide web ou www. Enfim, “a realidade virtual é a geração de um mundo artificial com base na relação ser humano-máquina, cuja meta é envolver todos os sentidos do usuário” (ARAÚJO, 2013, p.120).
Acesse a reportagem seguinte, sobre uma rede social, seu faturamento e o número de pessoas que a acessam no mundo: “Empresa faturou US$ 1,6 bilhão no 4º trimestre e cresceu 25% no ano todo. Rede social afirma que fechou 2015 com 1,59 bilhão de usuários”.
Disponível em: http://migre.me/u02pP
Estes dados comprovam a existência de uma nova forma de organização social e cultural na vida das pessoas, no controle de informações, de modo de anunciar produtos, de produzir eventos, de se pensar investimentos etc. Os (as) sociólogos (as) e antropólogos (as) vêm realizando estudos empíricos nos diversos âmbitos de influência da internet no
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comportamento das pessoas e suas análises estão sendo publicadas em artigos, livros, revistas e no próprio espaço da rede. O exemplo a seguir, escrito por Ana Luiza Tieghi, discute a questão da privacidade na internet, com o seguinte título: “Existe privacidade no mundo virtual?” Para a Ana Luiza Tieghi, “os bilhões de perfis criados nessas redes são duplicações de indivíduos que existem, falam, respiram e possuem opiniões próprias, o que torna os sites de relacionamentos gigantes salas de estar, ou comícios políticos, ou qualquer outro ambiente que se possa imaginar”. E, uma vez dentro destas redes, pela qual você também informou suas preferências pessoais, além disto, “o que você pesquisa nos buscadores on-line, suas conversas com amigos pelas diversas plataformas de bate-papo, as páginas “curtidas”, [mensagens envidas] tudo vai para o banco de dados de grandes corporações como o Google e o Facebook. E essas informações são trocadas, ou vendidas, com outras empresas, que criam, por exemplo, anúncios publicitários dirigidos para um determinado público ou que só serão visíveis para um grupo restrito de pessoas”. Por isso, que novo mundo é este? Que relações sociais e econômicas estão sendo moldadas? E outras tantas questões que podemos fazer para esta nova realidade social e mundial. E, já se deduz que privacidade é algo complexo no mundo virtual.
Você sabia que a Biblioteca Virtual de Ciências Humanas - Centro Edelstein de Pesquisas Sociais disponibiliza livros e artigos sobre a sociedade da informação e sociedade do conhecimento, além de vários outros temas e em várias línguas? Todos os textos podem ser consultados gratuitamente.
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Disponível em: http://www.bvce.org/
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REVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO Sobre a Revolução do conhecimento podemos pensar em dois aspectos: no primeiro, a multiplicação de pesquisas e do avanço da ciência em todos os sentidos e sua disposição para a consulta na rede de computadores; num segundo aspecto, como podemos interpretar tanta informação hoje disponível no mundo? Como dar conta do ritmo dessas transformações? Nanotecnologia, áreas da biologia, química, física, energia, medicina, tecnologia da informação e comunicação têm avançado muito. O professor Ladislaw Dowbor, doutor em Ciências Econômicas, afirma que “hoje o conhecimento é distribuído online gratuitamente. Posso enviá-lo para quantos amigos quiser, publicá-lo no Twiter etc. Quanto vale o conhecimento? Como é que se vende conhecimento?”. Um pequeno produtor agrícola da África do Sul pode ter acesso a centros científicos de qualquer parte do planeta e ter informações tecnológicas sobre como pode melhorar o seu produto. Passar conhecimentos uns para os outros significa democratizar radicalmente a sociedade em geral e as atividades econômicas, diz Dowbor (2013). O problema está em como se apropriar de tanta informação? Como filtrá-la? O que é verdadeiro e o que é falso? O usuário da internet tem de ser treinado para o novo mundo que se apresenta. Passemos agora a um exemplo de como a Antropologia está estudando o impacto das redes sociais no comportamento das pessoas. O antropólogo Daniel Miller, da Universidade College London (UCL), no Reino Unido, é uma referência nos estudos de cultura e dos impactos das redes sociais. Neste sentido, temos o seu livro Antropologia Digital, na qual o autor estuda o significado e as práticas dos diversos grupos sociais e suas relações com os meios de comunicação digitais. Em uma entrevista para a Revista Z Cultural (Revista do Programa Avançado de Cultura Contemporânea), em 2015, o professor Miller explica o que significa Antropologia Digital, seus estudos e livros publicados na área.
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Para Daniel Miller: estudos sociológicos implicam que o uso da internet tem levado a uma abordagem da rede mais focada no ego, e, ao mesmo tempo, com forças de estado e superestado cada vez mais poderosas, que constituem a nova infraestrutura digital. Essas questões são encontradas na escrita de pessoas como Castells e Wellman. Mas, em nossos estudos, descobrirmos que a comunicação digital frequentemente ainda tem base nas unidades dos estudos da Antropologia mais tradicional. Assim, em nosso estudo na Índia, mostramos que a casta é central na forma como a rede social é usada, enquanto nos estudos na Turquia ela é mais tribal e, em outros estudos, tem mais base na família. Todos esses estudos antropológicos ligam o individual ao social em vez de vê-los como duas categorias opostas na vida. (MILLER, 2015)
A Antropologia, de acordo com Miller, em suas pesquisas, descobre a importância das redes sociais, mas focalizando a questão de como elas são utilizadas, e de formas específicas, por cada grupo social, em cada país ou região, significando para os seus membros uma ferramenta que lhes proporciona a comunicação, como outra ferramenta qualquer. O exemplo, de como na Índia as castas sociais1 utilizam das redes sociais é revelador do aspecto de que a rede não possibilitou romper com a estrutura fixa de não existir intercâmbio entre elas. As castas apenas de comunicam entre os membros de sua própria casta. Em outras regiões, o predomínio de uma rede social é a comunicação entre familiares, podendo pensar o aplicativo WhatsApp. O autor demonstra, também, a diferença de perspectiva da Sociologia ao estudar a internet, focando mais no individualismo ou na superestrutura do Estado ao controlar as informações. Inclusive, o sociólogo cita Manuel Castells, como exemplo destas reflexões. A Antropologia passa a ter um enfoque diferente, voltado para a análise de grupos sociais, de família, de amigos, dos grupos de trabalho, enfim, da comunicação como algo propriamente humano e que na modernidade se dá de formas mais diversas e complexas, como através das 1 Castas sociais: Camada social hereditária, cujos membros são da mesma etnia, profissão ou religião, e se casam entre si (FERREIRA, 2010, p.147).
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redes sociais. Daniel Miller salienta, ainda, sobre a relação entre redes sociais e nosso comportamento: O mesmo ocorre com a questão do significado cultural dos comportamentos. As tradições antropológicas sugerem que essa vida cultural é considerada como normativa, querendo dizer que as pessoas julgam umas às outras o tempo inteiro, sobre se um comportamento é adequado ou inadequado socialmente. Levando as pessoas a prestarem atenção ao fato de que seu comportamento será julgado socialmente, mantemos nossas próprias especificidades culturais; assim, algo que pode ser totalmente aceitável para uma família brasileira pode ser inaceitável para uma família turca. Os novos meios digitais não fazem nada para atenuar essa ênfase na norma. Na verdade, em alguns aspectos acentua esse processo. Nesse sentido, algo que notamos é que, nas redes sociais, muito de nosso comportamento fica mais visível e registrável, e é mais fácil fazer comentários explícitos sobre isso. Então, antes de qualquer coisa, as pessoas estão mais atentas do que nunca a respeito de suas ações e se são aceitáveis ou não, podendo isso ser julgado pela família, casta e comunidade. (MILLER, 2015)
Bastante interessante esta reflexão de Daniel Miller, no sentido de mostrar que as redes sociais não rompem um padrão moral comportamental existente na sociedade ou no grupo social em que se vive, mas, ao contrário, reforça a moralidade de seus membros, pois todos ficamos mais visíveis perante todos. A postagem de uma foto pessoal nas redes sociais, numa festa, numa viagem; uma opinião política divulgada, tudo irá gerar comentários de pessoas próximas, gerando um controle de todos sobre todos, reforçando, assim, um determinado comportamento aceitável pelo grupo que você está inserido, através das ferramentas das redes sociais. Fig.02
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Sugerimos a leitura completa da entrevista com o antropólogo Daniel Miller, concedida à professora Mônica Machado, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Disponível em: http://migre.me/u02ZO/
Terminamos este primeiro bloco com a sugestão de que devemos adentrar nesta Revolução do conhecimento. A Internet nos possibilita um acesso ilimitado de possibilidades e ao mesmo tempo de sermos protagonistas deste novo tempo, tendo em vista que a humanidade necessita de boas ideias para distribuir melhor a riqueza, formar uma cultura de paz e de preservar o meio ambiente para as gerações futuras. LISTA DE IMAGENS Fig.01: http://br.freepik.com/ Fig.02: http://amazon.com/ REFERÊNCIAS ARAÚJO, Sílvia Maria de. Sociologia: volume único: ensino médio. Silvia Maria de Araújo, Maria Aparecida Bridi, Benilde Lenzi Motim. São Paulo: Scipione, 2013. CASTELLS, Manuel. La Galaxia Internet. Barcelona: Areté, 2001. Disponível em: <https://ia802704.us.archive.org/5/items/pdfy-M30oWe2_ NkJSXffI/68412077-Galaxia-Internet-Manuel-Castells.pdf>. Acesso em 25 mai. 2016.
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COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 2ª.ed. São Paulo: Moderna, 1997. DOWBOR, Ladislau. A revolução do conhecimento. Entrevista especial com Ladislau Dowbor, 20 de agosto de 2013. Revista IHU - Instituto Humanas UNISINOS. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/522899-a-revolucao-do-conhecimento-entrevista-especialcom-ladislau-dowbor> Acesso em 25 mai. 2016. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio: o dicionário da língua portuguesa. 8ªed. Curitiba: Positivo, 2010. LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2003. Daniel Miller: “A Antropologia Digital é o melhor caminho para entender a sociedade moderna”. Z Cultural. Revista do Programa Avançado de Cultura Contemporânea. Rio de Janeiro: UFRJ, 1ºsem., 2015. Disponível em: <http://revistazcultural.pacc.ufrj.br/daniel-miller -a-antropologia-digital-e-o-melhor-caminho-para-entender-a-sociedade-moderna/> Acesso em 31 mai. 2016. TIEGHI, Ana Luiza. Existe privacidade no mundo virtual? Revista Espaço Aberto. USP, Edição 159, abril, 2014. Disponível em: <http:// www.usp.br/espacoaberto/?materia=existe-privacidade-no-mundovirtual-2> Acesso em 25 mai. 2016.
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