Estudos Sociológicos e Antropológicos - Unidade07

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UNIDADE

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A TEORIA COMPREENSIVA – MAX WEBER ESTUDOS SOCIOLÓGICOS E ANTROPOLÓGICOS

EXCELÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


A TEORIA COMPREENSIVA – MAX WEBER

APRESENTAÇÃO Na unidade anterior vimos a Sociologia se desenvolvendo na França, com Émile Durkheim e Auguste Comte. Porém, na Alemanha esta mesma ciência terá outros importantes sociólogos, como Max Weber, para o qual iremos dar destaque. BIOGRAFIA DE MAX WEBER (1864-1920) Max Weber nasceu na cidade de Erfurt (Alemanha), em 1864, numa família de burgueses liberais. Desenvolveu estudos de direito, filosofia, história e sociologia, constantemente interrompidos por uma doença que o acompanhou por toda a vida. Iniciou a carreira de professor em Berlim e, em 1895, foi catedrático na Universidade de Heidelberg. Manteve contato permanente com intelectuais de sua época, como Georg Simmel, Werner Sombart, Ferdinand Töninies e Georg Lukács. Na política, defendeu ardorosamente seus pontos de vista liberais e parlamentaristas e participou da comissão redatora da Constituição da República de Weimar. Sua maior influência nos ramos especializados da sociologia foi no estudo das religiões, estabelecendo relações entre formações políticas e crenças religiosas. Suas principais obras foram: Artigos reunidos de teoria da ciência; Economia e Sociedade (obra póstuma) e A ética protestante e o espírito do capitalismo (COSTA, 1997, p.72).

Max Weber faleceu em 1920, após o término da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), na qual serviu como diretor de hospitais militares de Heidelberg e viu seu país sair derrotado da guerra. Após o término do conflito, voltou para o ensino. Numa Alemanha em reconstrução,

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Weber foi consultor dos negociadores alemães no Tratado de Versalhes de 1919 e da comissão encarregada de redigir a Constituição de Weimar de 1919. Sua esposa Marianne Schnitger Weber, biógrafa do marido, é quem organiza alguns de seus escritos para publicação póstuma. Em que sentido a teoria weberiana se difere da teoria durkheimiana? Em contraste com o positivismo e o idealismo1, para o qual a história é um processo universal de evolução da humanidade, cujos estágios o cientista pode perceber pelo método comparativo, observando e comparando a evolução de cada sociedade, para Max Weber, este tipo de análise faz com que a história particular de cada sociedade desapareça, bem como suas particularidades históricas, e os indivíduos são dissolvidos em meio a forças sociais impositivas (COSTA, 1997, p.71). Para Weber, então, a pesquisa histórica é fundamental para a compreensão das sociedades e deve ser baseada na coleta de documentos e no esforço interpretativo das fontes, numa busca por evidências, para o entendimento das diferenças sociais e do caráter particular e específico de cada formação social e histórica (ibidem, p.71). Portanto, Weber, diferente de Durkheim, não achava que uma sucessão de fatos históriFig.01 cos fizesse sentido por si mesmo. Para ele, todo historiador trabalhada com dados esparsos e fragmentados. Por isso, propunha para esse trabalho o método compreensivo, isto é, atribuir aos fatos esparsos um sentido social e histórico para cada sociedade. Daí decorre também a sua teoria compreensiva da realidade social. Esta teoria busca entender a ação social dos indivíduos, como uma ação dotada de sentido, isto é, de uma justificativa subjetivamente elaborada de porque cada um age na sociedade, o porquê de suas conexões e os motivos da ação e seus efeitos. Para a sociologia positivista [e durkheimiana], a ordem social submete os indivíduos como força exterior a eles. Para Weber, ao contrário, não existe oposição entre indivíduo e 1 Idealismo: Propensão do espírito para o ideal; qualquer uma das doutrinas que afirma ser a realidade essencialmente espiritual, mental, intelectual ou psicológica (FERREIRA, 2010, p.406).

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sociedade: as normas sociais só se tornam concretas quando se manifestam em cada indivíduo sob a forma de motivação. (...). O motivo que transparece na ação social permite desvendar o seu sentido, que é social na medida em que cada indivíduo age levando em conta a resposta ou a reação de outros indivíduos (COSTA, 1997, p.72-73).

Neste sentido, cada sujeito age levado por um motivo, que pode ser dado pela tradição (“sempre foi assim, por isso eu faço isso”), pela emoção (“fui levado pela emoção ao fazer essa ação”), ou por interesses racionais, que podem ser em relação a um fim ou objetivo (“eu frequentei o curso para obter o diploma”) ou por um valor (“eu agi desta forma em respeito às leis religiosas”). Podemos pensar no seguinte esquema de análise para a teoria compreensiva da ação social em Max Weber: Ação Social - Tradição; - Emoção; - Racional em relação a fins ou valores.

Portanto, a sociologia compreensiva de Max Weber passa pela análise dos motivos da ação de cada indivíduo e é pela descoberta dos motivos da ação social de cada indivíduo que se faz Sociologia. Outro conceito, também bastante importante da sociologia weberiana, é o tipo ideal. Tipo ideal é um instrumento de análise que visa construir uma caracterização de um determinado fenômeno social, de um determinado tipo de personagem, de uma manifestação típica. Por exemplo: podemos definir quem era o patrício e o plebeu romano de uma forma ideal, isto é, o patrício seria o grande proprietário de terra romano, mas que vive na cidade, pratica a política e tem direitos. Os plebeus eram os que não nasceram na nobreza, não tinham direitos políticos e civis, trabalhando para os patrícios. Veja que são apenas tipos ideais, isto é, quando se pensa na Roma antiga e falamos de patrícios ou plebeus, estaremos nos refe-

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rindo a um tipo ideal de personagem, mas que sem dúvida, poderiam variar em sua condição social de acordo com cada particularidade. Da mesma forma, é possível pensar uma definição ideal para termos como “capitalismo” e “feudalismo”. É óbvio que o capitalismo tem suas especificidades em cada região no mundo e que o feudalismo também tinha suas especificidades no mundo medieval europeu. Mas, podemos defini-los utilizando do recurso do tipo ideal. Com isto, capitalismo seria um sistema econômico baseado na propriedade privada e no trabalho assalariado. O feudalismo seria um sistema econômico baseado no arrendamento da terra para servos que contavam com a proteção de senhores, donos das terras e da milícia e em troca trabalhavam para o mesmo senhor feudal. Max Weber, por ser um autor prolixo, também realizou importantes estudos na área da religião. Seu livro A ética protestante e o espírito do capitalismo, publicado pela primeira vez em 1904/1905 e reeditado e complementado em 1920, ano de seu falecimento, talvez seja um dos mais lidos e comentados do século XX. Neste estudo, Weber relaciona o papel do protestantismo2 na formação do comportamento típico do capitalismo ocidental moderno. Como isso é possível? Religião e Economia juntas? Weber parte de dados estatísticos que lhe mostraram a proeminência de adeptos da Reforma Protestante entre os grandes homens de negócios, empresários bem-sucedidos e mão-de-obra qualificada. A partir daí, procura estabelecer conexões entre a doutrina e a pregação protestante, seus efeitos no comportamento dos indivíduos e sobre o desenvolvimento capitalista (COSTA, 1997, p.75).

Weber descobre que valores religiosos do protestantismo, como a disciplina ascética, a poupança, a austeridade, a vocação, o dever e a propensão ao trabalho, atuavam de maneira decisiva sobre os indivíduos. Neste sentido, os filhos das famílias protestantes eram criados para o ensino especializado e para o trabalho fabril, optando 2 Protestantismo: Movimento religioso do início do século XVII, que originou igrejas cristãs dissidentes (FERREIRA, 2010, p.619). Reforma: Movimento religioso que, no início do século XVI, visava reformar a Igreja Católica, e do qual se originaram as Igrejas protestantes [Luteranismo, Calvinismo, Igreja Anglicana, Pietismo, Metodismo, Seitas Batistas etc.] (Ibidem, p.650). Neste mesmo século, a Igreja Católica lança a chamada Contra Reforma.

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por atividades mais adequadas à obtenção do lucro, preferindo o cálculo e os estudos técnicos. Weber mostra, pela influência da religião, que os protestantes acabavam agindo por motivos que os aproximava aos princípios do capitalismo. Diferente das ações dos católicos, que preferiam estudos humanísticos, uma atitude mais contemplativa do mundo, voltados para oração, sacrifício e renúncia da vida prática e do lucro (Ibidem, p.76). De acordo com a professora Cristina Costa (1997, p.76), alguns dos principais aspectos da análise weberiana quanto às relações entre religião e sociedade, podem ser vistos da seguinte forma: 1. A relação entre a religião e a sociedade não se dá por meios institucionais, mas por intermédio de valores introjetados nos indivíduos e transformados em motivos da ação social. A motivação do protestante, segundo Weber, é o trabalho, enquanto dever e vocação, como um fim absoluto em si mesmo, e não o ganho material obtido por meio dele. 2. O motivo que mobiliza internamente os indivíduos é consciente. Entretanto, os feitos dos atos individuais ultrapassam a meta inicialmente visada, buscando sair-se bem na profissão, mostrando sua própria virtude e vocação e renunciando aos prazeres materiais, o protestante puritano se adequa facilmente ao mercado de trabalho, acumula capital e o reinveste produtivamente. 3. Weber analise os valores do catolicismo e do protestantismo, mostrando que os últimos revelam a tendência ao racionalismo econômico que predominará no capitalismo (COSTA, 1997, p.76). Podemos concluir que a ação social dos indivíduos, agora sob uma nova ética de ação, a ética que surge das religiões protestantes, ajudaram a formar um novo período econômico na história do Ocidente, que é o Capitalismo.

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O desencantamento do mundo Como dito, Max Weber proporciona ao leitor uma ampla gama de temas de Sociologia. Neste sentido, para saber mais, você poderá ler como Weber define a questão do desencantamento do mundo, isto é, uma das características do mundo moderno é explicar tudo através da razão, que, por sua vez, o desencanta, no sentido que nada mais pode ser explicado por motivos mágicos. Acesse o link a seguir para entender melhor sobre o termo desencantamento do mundo:

Disponível em: http://migre.me/u7x0I . Acesso em 05 jun. 2016.

Racionalização da vida e do mundo Há, também, vários artigos científicos que comentam as ideias de Max Weber. Uma delas é a questão da racionalização da vida e do mundo. Seu significado nos leva a entender que as pessoas, de maneira geral, agem de forma racional, em todos os âmbitos da vida, principalmente na esfera econômica. Todas nossas ações são com objetivos específicos, com fins claros, como o salário ao final do mês, o lucro nas transações financeiras, o trabalho de forma eficiente nas organizações empresariais etc. O artigo do professor Thiry-Cherques faz uma análise da racionalização nas organizações empresariais contemporâneas. Confira o artigo completo no link a seguir: Disponível em: http://migre.me/u7x1V . Acesso em 05 jun. 2016. LISTA DE IMAGENS Fig.01: http://upload.wikimedia.org/

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REFERÊNCIA COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 2ª.ed. São Paulo: Moderna, 1997. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio: o dicionário da língua portuguesa. 8ªed. Curitiba: Positivo, 2010. THIRY-CHERQUES, Hermano Roberto. Max Weber: o processo de racionalização e o desencantamento do trabalho nas organizações contemporâneas. RAP – Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro 43(4): p.897-918, jul/ago, 2009. Disponível em: <http://www. scielo.br/pdf/rap/v43n4/v43n4a07.pdf>. Acesso em: 05/06/2016. WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 2ªed. rev., São Paulo: Cengage Learning, 2010.

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