Estudos Sociológicos e Antropológicos - Unidade09

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UNIDADE

09

O DESENVOLVIMENTO DA ANTROPOLOGIA SOCIAL ESTUDOS SOCIOLÓGICOS E ANTROPOLÓGICOS

EXCELÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


O DESENVOLVIMENTO DA ANTROPOLOGIA SOCIAL APRESENTAÇÃO No século XIX, o desenvolvimento e a expansão do capitalismo propiciaram o florescimento da Antropologia. A Europa passou a expandir seus mercados e a recolonizar regiões na África, Ásia e América. A Antropologia surgia como uma ciência social interessada em entender os povos com suas culturas “diferentes” da civilização europeia. A Antropologia desenvolvia um método mais empirista e qualitativo voltado para a descoberta das particularidades das sociedades que estudava. Entretanto, neste primeiro momento, baseava-se num reducionismo teórico tanto quanto à natureza das sociedades com as quais os pesquisadores entravam em contato, como quanto à aparente integridade da cultura europeia. Ainda não se davam conta do grau de complexidade de cada cultura e das relações que se estabeleciam interna e externamente (COSTA, 1997, p.106). Era o chamado etnocentrismo1 europeu. A Antropologia foi sempre a ciência da alteridade, isto é, a ciência que busca investigar o outro, aquele que é essencialmente diferente de mim. Sua gênese aparece nos relatos dos primeiros viajantes europeus que tentavam descrever os “exóticos” costumes dos povos com os quais mantinham contato (COSTA, 1997, p.107).

Frente ao “diferente”, os europeus e seus antropólogos, que estavam imbuídos de uma mentalidade capitalista, industrial e nacionalista, passaram a buscar entender a vida destes povos que foram encontrados, porém, defendendo os interesses coloniais e civilizatórios europeus. 1 Etnocentrismo: Tendência a considerar as normas e valores da própria sociedade ou cultura como critério de avaliação de todas as demais. (FERREIRA, 2010, p.325).

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OS DIFERENTES RAMOS DA ANTROPOLOGIA O Evolucionismo Os antropólogos, com a perspectiva teórica evolucionista, já vista por nós com o Positivismo de Auguste Comte, também procuravam descobrir as diferentes espécies sociais, assim como o darwinismo pensava as diferentes espécies de animais e plantas, classificando as sociedades e culturas e ordenando-as num contínuo que ia das mais atrasadas e simples às mais adiantadas, evoluídas e complexas. A humanidade seria composta de diferentes espécies humanas em diferentes etapas de desenvolvimento do processo evolutivo (COSTA, 1997, p.108). As sociedades mais simples, ou primitivas, correspondiam aos estágios inferiores na história evolutiva da humanidade. Pensando isto, há 150 anos, africanos, americanos, europeus, asiáticos, povos da Oceania, foram vistos como essencialmente diferentes.

Porém, sabemos que esta teoria não corresponde à verdade. Hoje, parece cada vez mais plausível a ideia de sermos manifestações de um único processo global de evolução, o qual abrange a espécie humana como um todo. Aceita-se que o processo evolutivo humano levou ao aparecimento do Homo sapiens – ocorrido na África – e que este migrou pelo planeta, diversificando-se em sua aparência e em seus hábitos graças à sua inigualável capacidade de adaptação ao meio. Essas diferenças, entretanto, não são de espécie. De acordo com a teoria multirregional, no decorrer de sua migração pelo planeta, os grupos de Homo sapiens foram se miscigenando, dando aos povos hoje existentes uma grande homogeneidade na composição genética, comprovada, inclusive, nos inúmeros exames de DNA, ao mesmo tempo que explicaria as origens das diferenças regionais (COSTA, 1997, p.108-109).

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A escola funcionalista Dois grandes antropólogos se destacaram neste início da Antropologia, mas já buscando novas perspectivas de análise. Foram eles, o polonês Bronislaw K. Malinowski (1884-1942) e o inglês Alfred R. Radcliffe-Brown (1881-1955). Era o início do século XX e faziam parte do funcionalismo – escola antropológica que sucedeu ao evolucionismo, respondendo em parte às críticas que a ele se faziam por seu eurocentrismo e etnocentrismo. De acordo com a escola funcionalista, cada sociedade deve ser estudada como uma totalidade integrada e constituída de partes interdependentes e complementares, cuja função é satisfazer às necessidades essenciais dos seus integrantes (COSTA, 1997, p.110). O antropólogo Bronislaw Malinowski, entre os nativos das ilhas Trobiand, próximas à Nova Guiné.

Fig.01

Malinowski definiu função como a resposta de uma cultura a uma necessidade básica do ser humano. Neste sentido, cada cultura acaba elaborando determinados comportamentos para responder às questões que a vida em grupo lhes impõe, como de alimentação, defesa, habitação, reprodução, trabalho etc. E para “descobrir” as funções em cada cultura, é necessário para o pesquisador conviver com o grupo estudado. É a chamada observação participante, método de pesquisa que revolucionou os estudos

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antropológicos. Afinal, o investigador, penetrando na cultura do outro, desvenda seus significados, guiado por suas informações e não por teorias externas à realidade estudada (COSTA, 1997, p.110-111). Malinowski fez a observação participante entre os nativos das ilhas Trobiand entre os anos de 1914 a 1918, e publicou várias obras sobre esta pesquisa, sendo a primeira Argonautas do Pacífico Ocidental, na qual analisou o Kula, instituição responsável pela integração cultural daqueles povos à Inglaterra. Outro funcionalista importante foi o inglês Radcliffe-Brown, que, influenciado pelas teorias e pelo método de Durkheim, procurou adaptá-los ao estudo das sociedades não-europeias. Considerava essas sociedades como totalidades integradas de instituições que têm por função satisfazer necessidades básicas, como a busca pelo alimento, segurança e abrigo, e de manutenção da vida social. Fez pesquisa de campo entre os nativos das ilhas Andaman, no Golfo de Bengala, a sudoeste da Birmânia, e lecionou em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, na Universidade de São Paulo, entre 1942 e 1944, como professor visitante (Ibidem, p.111-112). Enfim, “com o funcionalismo, as sociedades não-europeias passaram a ser estudadas naquilo que lhes é próprio e específico” (Ibidem, p.1120).

Antropologia e o Cinema. O filme Avatar2, de ficção científica, lançado em 2009, escrito e dirigido por James Cameron, tem seu enredo localizado no ano 2154 e é baseado em um conflito em Pandora, uma das luas de Polifermo, um dos três planetas gasosos fictícios que orbitam o sistema Alpha Centauri. Em Pandora, os colonizadores humanos, que estão a explorar os recursos do planeta, e os Na’vi, nativos humanoides, que irão lutar pela continuação da sua existência, entram em guerra. 2 Avatar: Personagem cuja imagem representa um participante de rede social, ou de jogo de computador. E, segundo os hinduístas, forma materializada de um deus (FERREIRA, 2010, p.82). No filme, avatar era o corpo de formato de um humanoide Na’vi, na qual o antropólogo transferia sua consciência e poderia interagir de forma igual entre os nativos.

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Antes da guerra, porém, um grupo de antropólogos humanos (chamados de cientistas) pesquisava a vida dos Na’vi, utilizando de avatares, corpos Na’vi-humanos híbridos, para interagir com os nativos de Pandora, descobrindo a maneira como se organizavam socialmente, seus costumes, valores, lideranças etc. Mas suas pesquisas acabaram sendo utilizadas pelos chefes da missão humana em Pandora para destruir os próprios Na’vi, devido à prioridade de explorar as riquezas locais em detrimento dos povos que ali viviam, o que fez com que os antropólogos acabassem lutando junto com os nativos, pois, a verdadeira riqueza não estava nos minerais de que queriam os humanos, mas na complexidade da vida dos Na’vi. Estruturalismo: uma nova abordagem antropológica Foi o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss (1908-2009) que desenvolveu o estruturalismo, um novo método de investigação e interpretação antropológica, sendo uma nova teoria. O conceito básico dessa teoria é o de estrutura social. Estrutura é uma elaboração teórica capaz de dar sentido aos dados empíricos de uma certa realidade. Não é, entretanto, empiricamente observável. É a estrutura social que organiza, conecta e relaciona as diversas instâncias, estabelecendo as múltiplas relações entre os elementos, os grupos e as instituições. A construção desse arcabouço teórico se dá pela análise dos dados empíricos e do entendimento de seus significados (COSTA, p.116-117). Os elementos constitutivos da estrutura – relações de parentesco, instituições ou grupos sociais diversos – se organizam de modo não-aleatório, sob a forma de um sistema, isto é, são elementos interdependentes e que estão em inter-relação. Qualquer modificação em uma das partes tem por consequência a modificação em cadeia de todas as outras (COSTA, 1997, p.117).

Para os estruturalistas, as diferentes sociedades e as diferentes culturas devem ser interpretadas em função de sua própria história e da relação que cada sociedade mantém com o meio natural e social, enfim, em sua especificidade. Neste sentido, não se propõe nenhuma

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lei ou sentido para explicar a passagem de uma estrutura mais simples para outra mais complexa. Além disso, desloca a ênfase metodológica da observação – principal característica do funcionalismo – para a construção teórica e abstrata de um conceito, a estrutura (Ibidem, p.117).

Fig.02

“Lévi-Strauss com pequeno macaco em foto realizada na década de 1930, no Brasil. O antropólogo esteve longas temporadas com os índios brasileiros. Em sua concepção, não admite o homem como um habitante privilegiado do universo, mas como uma espécie passageira que deixará apenas alguns resquícios de sua existência quando estiver extinta” Disponível em: <http://www.sociologia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=874>. Acesso em: 07 jun. 2016. Qual sua opinião sobre o que o antropólogo Lévi-Strauss comentou sobre a condição humana na Terra? Como podemos interpretar os povos que são diferentes de nós? Ou ainda, pessoas que possuem costumes diferentes, comportamentos específicos que contradizem nossos valores? Procure utilizar os conceitos da teoria funcionalista ou estruturalista para responder esta questão.

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LISTA DE IMAGENS Fig.01: http://hilobrow.com/ Fig.02: http://www.sociologia.seed.pr.gov.br

REFERÊNCIAS COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 2ª.ed. São Paulo: Moderna, 1997. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio: o dicionário da língua portuguesa. 8ªed. Curitiba: Positivo, 2010. GALLO, Silvio (Coord.). Ética e cidadania: caminhos da filosofia (elementos para o ensino de filosofia). 11ªed. São Paulo: Papirus, 2003. LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2003.

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