UNIDADE
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A SOCIOLOGIA E A ANTROPOLOGIA NO BRASIL ESTUDOS SOCIOLÓGICOS E ANTROPOLÓGICOS
EXCELÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
A SOCIOLOGIA E A ANTROPOLOGIA NO BRASIL APRESENTAÇÃO O processo de formação, organização e sistematização do pensamento sociológico e antropológico no Brasil e na América Latina em geral, obedeceu também às condições de desenvolvimento do capitalismo e à dinâmica própria de inserção destes países na ordem capitalista mundial. Para o caso do Brasil, as ciências sociais irão refletir a situação da própria história brasileira. Neste sentido, é importante recuperarmos esta periodização. Temos primeiro o chamado período colonial, com a forte herança das inúmeras culturas indígenas, da cultura jesuítica e religião cristã, da cultura portuguesa e seu forte patriarcalismo1 e patrimonialismo2, e das culturas dos inúmeros povos vindos da África em situação de escravidão. Era um período exploratório das riquezas naturais e de expansão e consolidação das fronteiras. O período colonial vai do ano 1500 a 1808, quando se deu a chegada da família real portuguesa ao Brasil, com a rainha Maria, seu filho, Príncipe regente João, a esposa deste, Carlota Joaquina e toda a corte portuguesa. Inicia uma nova fase no desenvolvimento da colônia portuguesa no Brasil, agora sob uma cultura da corte imperial durante o século XIX, entre 1808 a 1889. Porém, com a volta de D. João VI para Portugal em 1821, logo se deu a independência do Brasil em 07/09/1822, com D. Pedro I, seu filho, mas apoiado pelas lideranças brasileiras. Era a formação de um novo Estado nacional, com dimensões territoriais enormes e com potencial de riquezas naturais e humanas. Em 1840 assume o trono do Brasil D. Pedro II, imperador até 15/11/1889, quando aconteceu a proclamação da República. Durante o Império, há o desenvolvimento econômico brasileiro com o café, a Guerra do Paraguai, o fim da escravidão no Brasil, em 13/05/1888 e a abertura 1 Patriarcado: Patriarcalismo: Regime social em que o pai é a autoridade máxima (FERREIRA, 2010, p.569). 2 Patrimonialismo: é um termo utilizado para descrever a falta de distinção por parte dos líderes políticos entre o patrimônio público e o privado em um determinado governo de determinada sociedade. Disponível em: <www.infoescola.com/sociologia/patrimonialismo/> Acesso em 07 jun. 2016.
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do país para novos imigrantes europeus e asiáticos. A proclamação da República também se deu com um novo tempo histórico, com o advento de uma burguesia brasileira no século XX, composta ainda pelos grandes fazendeiros, mas já com o início de empresários e industriais e, logicamente, com um proletariado assalariado e o crescimento das cidades, como Rio de Janeiro e São Paulo. Período que corresponde de 1889 a 1930. Com o fim da chamada República Velha, ou República Café com Leite, assume o governo brasileiro Getúlio Vargas e um novo salto de desenvolvimento econômico acontece, acompanhando igualmente as transformações que estão acontecendo no mundo todo. Período que corresponde de 1930 a 1964. Temos aqui, o governo provisório de Vargas, de 1930 a 1934, depois seu governo ditatorial, entre 1937 e 1945 e a volta da democracia entre 1946 e 1964. Em 31 de março de 1964 acontece o Golpe militar, instaurando a ditadura Militar brasileira até 1985. Período de novas e intensas efervescências, de desenvolvimento econômico, de grandes obras, mas também, de muita repressão e censura. Por fim, a redemocratização a partir da década de 1980, a elaboração de uma nova Constituição Federal do Brasil, a de 1988, chamada de “Constituição Cidadã”, eleições presidenciais em 1989, e o desafio de se fazer deste país um lugar melhor para todos seus cidadãos. A Sociologia e a Antropologia no Brasil estão inseridas nesta dinâmica histórica brasileira, desenvolvendo suas pesquisas e pensando em propostas para seus problemas sociais. 1ª FASE DA SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA NO BRASIL De 1880 a 1930 temos uma Sociologia e Antropologia praticada por intelectuais não especializados, interessados principalmente em formular princípios teóricos ou interpretar de modo global a sociedade brasileira e sem pesquisa empírica. A preocupação fundamental era pensar a formação do Estado nacional e a questão da identidade brasileira, o chamado debate racial.
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Os dois principais pensadores deste período foram Nina Rodrigues (1862-1906) e Euclides da Cunha (1866-1909). A referência teórica deste período era o positivismo, o evolucionismo e as influências da escola antropológica italiana, as teorias antropogeográficas e da ecologia humana e da antropologia cultural anglo-americana (funcionalismo). Nina Rodrigues foi médico, etnólogo e antropólogo. Nasceu em Vargem Grande, Maranhão, e faleceu em Paris, França. Em seus escritos, proclamava a “evidência científica” da inferioridade do negro brasileiro, “evidência que, em sua opinião, nada teria em comum com a revoltante exploração realizada pelos escravistas”. No seu livro As raças e a responsabilidade penal no Brasil, Nina Rodrigues defende uma legislação penal diferenciada em códigos distintos, segundo raças e climas de cada região brasileira. A seu ver, o negro, o índio e o mestiço deveriam ter responsabilidade penal nula ou atenuada. Como visto, Nina Rodrigues também partia de um pressuposto teórico científico equivocado para interpretar as culturas humanas. Era a teoria evolucionista, dos estágios evolutivos, das espécies e sua evolução etc. Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha, engenheiro, professor e jornalista, nasceu em Cantagalo, Rio de Janeiro em 1866 e faleceu no Rio de Janeiro, capital federal no ano de 1909. A obra de Euclides da Cunha é pequena, escrita entre os anos de 1902 e 1909. A rigor escreveu um só livro, Os sertões, em que narra a guerra de Canudos, entre 1896 a 1897, o sertão e o homem sertanejo. Os demais livros são coletâneas de artigos e ensaios. Os sertões é um clássico brasileiro, embora deva ser lido dentro de sua circunstância histórica. O autor procura entender, através da descrição da guerra, o povo brasileiro, o sertanejo, neste novo país a se construir, tendo que enfrentar as contradições, como as diferenças entre o litoral e o sertão e outras. 2ª FASE DA SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA NO BRASIL, PÓS 1930 ATÉ A DÉCADA DE 1970 Foi o período da Sociologia de Cátedra, isto é, do surgimento da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo (1933) e da USP – Universidade de São Paulo (1934). Do surgimento das primeiras es-
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colas de Sociologia a partir da década de 1920, no Brasil todo. E há um interesse crescente pelos estudos científicos das realidades sociais e, agora, aberto e crítico às diversas teorias sociológicas e antropológicas de interpretação da realidade social. Pensadores sociais deste período: Gilberto Freyre; Florestan Fernandes; Sérgio Buarque de Holanda; Caio Prado Júnior; Celso Furtado; Fernando de Azevedo; Maria Isaura Pereira de Queiroz; Antônio Candido de Mello e Souza; Guerreiro Ramos; Darcy Ribeiro, entre muitos outros. Como se vê, com a criação de escolas específicas de Sociologia e Antropologia, no Brasil todo, bem como as Universidades que vão surgindo, as Ciências Sociais passam a ter grande desenvolvimento no país. Vamos, então, ver as ideias de alguns destes pensadores sociais.
Gilberto Freyre
Fig.01
Gilberto de Mello Freyre, sociólogo, nasceu em Recife, Pernambuco em 1900. Morreu, também em Recife, em 1987. A obra de Gilberto Freyre é copiosa. É, reconhecidamente, um grande escritor. Sobre o caráter científico de sua obra, destacam-se as análises sobre seu livro mais importante, Casa grande e senzala (1933), que é um amplo e detalhado levantamento sobre a sociedade que floresceu na região úmida do litoral nordestino, que teve como fundamento o tripé: Monocultura canavieira, latifúndio e trabalho escravo, liderados por um senhor patriarcal e sua ampla família. Os aspectos mais característicos dessa família patriarcal estão voltados para a tradição portuguesa, na qual a família era muito mais que marido, mulher e filhos. Parentes, padrinhos, amigos e dependentes estavam incluídos nessa esfera familiar. Eram todos eles submetidos à autoridade de um chefe de família, figura da qual todos veneravam. Além disso, era temido, pois possuía o controle da vida e das propriedades de sua esposa e de seus filhos. O patriarca era concebido como um ser de virtudes e qualidades.
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Fig.02
Florestan Fernandes, sociólogo e político, nasceu em São Paulo, capital, em 1920 e morreu em São Paulo, em 1995. Intelectual que se formou e trabalhou na USP, a sua contribuição para o desenvolvimento da Sociologia no Brasil é indiscutível. Segundo Antonio Cândido, “A sua vida intelectual pode ser vista de vários ângulos. Inclusive como longa tentativa de usar o rigor do conhecimento para intervir lucidamente nos graves problemas do nosso tempo. Nele, o sociólogo, o antropólogo, o pensador construíram uma base científica sólida sobre a qual se ergueu a plataforma do revolucionário”. Florestan Fernandes fez Ciência Social e participou do movimento socialista, inclusive sendo eleito deputado federal por São Paulo, entre 1986 e 1990. Muitos são seus livros que discutem Antropologia, Sociologia e Ciência Política. Sérgio Buarque de Holanda, historiador, nasceu em São Paulo, capital, 1902 e morreu em São Paulo, no ano de 1982. Destacou-se por sua extrema capacidade de manejar fontes primárias de documentação, extraindo daí elementos importantes à interpretação dos fatos históricos no seu contexto social específico. Raízes do Brasil (1936), seu primeiro livro, é com razão unanimemente considerado um clássico. Tornou-se obra chave de interpretação do país por identificar uma informalidade descompromissada do brasileiro com a ética, por sua vez, algo incompatível com a vivência democrática.
Fig.03
Sérgio Buarque de Holanda (ao fundo) e seu filho Chico Buarque de Holanda
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Podemos dizer que vivemos hoje uma terceira fase do desenvolvimento da Sociologia e Antropologia no Brasil, com a ampliação dos Cursos de graduação e pós-graduação em Ciências Sociais e o significativo aumento da produção acadêmica, de livros, de revistas especializadas, do aumento de mestres e doutores nestas áreas. Confira uma indicação de leitura sobre o tema, no seguinte link: http://migre.me/u6YuD
LISTA DE IMAGENS Fig.01: http://upload.wikimedia.org/ Fig.02: http://redes.moderna.com.br/ Fig.03: http://cdn.papodehomem.com.br/ REFERÊNCIAS FILHO, Enno Liedke. A Sociologia no Brasil: história, teorias e desafios. Sociologias, Porto Alegre, ano 7, n.º14, jul/dez 2005, p.376-437. CANDIDO, Antonio. A Sociologia no Brasil. Tempo Social. Revista de Sociologia da USP, São Paulo, v.18, n.1, jun/2006, p.271-301. COSTA, Cristina. Sociologia. Introdução à Ciência da Sociedade. 2ªed. São Paulo: Ed. Moderna, 1997, p.170-192. AGUIAR, Ronaldo Conde. Pequena Bibliografia Crítica do Pensamento Social Brasileiro. Brasília: Paralelo 15, São Paulo: Marco Zero, 2000.
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