Leitura e Produção de Texto - Unidade14

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UNIDADE

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GÊNEROS TEXTUAIS E A ESFERA ARGUMENTATIVA

LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO

EXCELÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


GÊNEROS TEXTUAIS E A ESFERA ARGUMENTATIVA Na aula de hoje, vamos aprender sobre os gêneros argumentativos e suas peculiaridades em nossa vida dentro das Instituições de Ensino e fora delas. Você vai perceber que conhecer a esfera argumentativa que permeia esse gênero, como também saber usá-lo, é de extrema importância. POR QUE ESTUDAR OS GÊNEROS ARGUMENTATIVOS? Como dito em unidades anteriores, o ensino de língua materna tem preocupado os estudiosos do campo por formarem cidadãos incapazes de serem leitores críticos e conscientes, como também péssimos produtores textuais. Para isso, incluiu-se na grade curricular do Ensino Médio e Superior a educação de gêneros textuais, os quais estão presentes em todos os atos comunicacionais humanos. A intenção em aprender os gêneros textuais é que qualquer pessoa possa se utilizar destes de acordo com a situação comunicacional em qualquer esfera da sociedade. Conhecer os gêneros faz com que você reconheça o modo do ato de comunicação e se faça presente nele da melhor maneira possível. Assim, é de extrema importância que você também reconheça os gêneros argumentativos, a fim de que consiga reproduzir suas ideias por meio de argumentos que sejam convincentes e refletidos por seus interlocutores, medida que também será tomada por eles. O GÊNERO ARGUMENTATIVO Você deve se lembrar de que na última aula, Unidade 13, falamos sobre os tipos textuais, especificamente sobre o tipo argumentativo. Caso não lembre, vamos defini-lo novamente: o tipo argumentativo se designa pelo encadeamento de enunciados lógicos, em que sua fi-

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nalidade é convencer alguém de uma opinião ou ideia, apresentando fatos, causas, soluções e conclusões. Esse tipo textual, dissertativo-argumentativo, está presente nos gêneros argumentativos, que, por sua vez, tem a finalidade de construir um enunciado lógico sobre um ponto de vista. Há a necessidade de que o discurso argumentativo tenha coerência e coesão, uma vez que precisa apresentar uma “verdade”. Já sabemos também que os gêneros textuais são ilimitados e podem assumir diversas formas. O mais interessante é que, de acordo com Bakhtin (2003), os gêneros já estão em nossa gramática desde que nascemos. É fácil observar esse fato, uma vez que nos é comum ver uma criança argumentando com os pais o porquê de querer algum brinquedo, praticar uma atividade ou negá-los. Então, por que ainda é importante que estudemos os gêneros argumentativos? ENTENDENDO MELHOR O GÊNERO ARGUMENTATIVO Partimos do princípio de que aquilo que nos faz ser únicos é a nossa autonomia discursiva, já que temos a capacidade de se impor por meio de enunciados e proferir outros em resposta, o que nos faz dialógicos. Tal dialogismo faz com que tenhamos uma gramática interna de argumentos vividos, apreendidos e trabalhados em nossos discursos durante toda nossa vida. É comum que no ato comunicacional coloquemos nossa posição sobre as coisas. Veja bem, você se encontrou com um amigo e resolveram falar sobre questões políticas e econômicas atuais. Ele elenca diversos pontos que considera corretos e errados, diz que certo número de coisas deve ser mudado e que, por ele, tal pessoa poderia fazer isso. Você, como ser autônomo, responde ao colega discursando sobre seu ponto de vista, em que, diferentemente dele, acredita que outras coisas devem ser mudadas e a escolha dele poderia ser pior ainda porque há outras questões envolvidas. E, assim, proferem enunciados argumentativos na tentativa de convencer que o jeito que cada um pensa é o mais correto. Reconheceu esse contexto em sua vida? [...] a argumentação seria o modo de elaboração da lingua-

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gem por meio das intenções sempre presentes nos enunciados desses sujeitos. E os argumentos podem ser considerados, no sentido filosófico genérico, “os raciocínios destinados a provar ou refutar determinada proposição, um ponto de vista ou uma tese qualquer. Seu objetivo (da argumentação) é o de convencer ou persuadir, mostrando que todos os argumentos utilizados tendem para uma única conclusão (JAPIASSÚ; MARCONDES citado por GOULART, 2009, p. 21)

Dito isso, entendemos que todos os nossos enunciados fazem parte da esfera argumentativa, procuramos chegar à vontade, envolvendo a subjetividade, os sentimentos, a temporalidade, buscando adesão e não criando certezas (MARCUSCHI, 2004, p. 10). GÊNEROS ARGUMENTATIVOS EM NOSSO DIA A DIA Após essa reflexão sobre os gêneros argumentativos, vamos nos concentrar em trabalhar com aqueles que fazem parte do nosso cotidiano, sendo elas: dissertação, o artigo de opinião, a crônica argumentativa, o editorial, a resenha crítica e a carta do leitor. Dissertação A dissertação assume um leitor universal, ou seja, qualquer um pode lê-la e, ao fazer isso, vai encontrar uma forma peculiar. O texto não terá marcas de interlocução, será impessoal, terá objetividade e estará no padrão culto da língua. Veja o exemplo a seguir. Grave problema presente no Brasil é o baixo nível cultural da população devido à falta de leitura de boa qualidade. Segundo o Pisa (Programa internacional de avaliação de alunos), que verifica a capacidade de leitura do jovem, dentre os 32 países envolvidos na pesquisa de 2001, o nosso ficou com a última colocação. Um dos fatores que provocam a falta de domínio da leitura na avaliação brasileira é a escassez de livrarias: apenas uma para cada

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84,4 mil habitantes. Porém, essa não é a única razão: o brasileiro prefere ler futilidades que pouco ou nada acrescentam ao seu intelecto a se dedicar aos grandes nomes da literatura. Os políticos tentam suavizar a situação do semianalfabetíssimo gerada pela falta de leitura com o discurso de que é perfeitamente normal que algumas pessoas alcancem o final do ensino médio sem saber expressar suas ideias por meio da escrita. Obviamente, é “perfeitamente normal”, visto que o sistema de repetência foi indevidamente abolido nas escolas públicas. É imprescindível que a leitura no Brasil seja estimulada desde a infância e que o sistema de ensino sofra uma revisão. Nossa nação não pode aspirar ao desenvolvimento tendo tão deficiente capital humano. Disponível em: <http://oblogderedacao.blogspot.com.br/>. Acesso em : 25 jul. 2016.

Artigo de opinião Destinado ao público leitor de jornais, revistas, entre outros, que se identifica, de certa forma, com o perfil do texto. Estes podem ter linguagem formal ou informal, têm estruturas flexíveis e admitem tom pessoal. Aqui o locutor expõe o que pensa sobre determinado tema. Veja o exemplo a seguir. PREVENIR OU REMEDIAR? Por Cassildo Souza Entre os debates mais intensos que permeiam a sociedade atual, uma questão que não pode ser colocada em segundo plano certamente é a descriminalização do aborto. Os que defendem tal legalidade afirmam que, uma vez aprovada, a lei priorizaria o acesso a métodos seguros de extração, em caso de gravidez indesejada, com a justificativa se preservar a vida da mãe. Porém, o caminho mais coerente seria incentivar a prevenção, ao invés de se alimentar a prática de um crime na mais aceitável significação da palavra. Vivemos em um mundo rodeado de informações, e as campanhas promovidas pelos órgãos de saúde competentes, se não são ideais,

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também não permitem alegar-se a falta de conhecimento a respeito do assunto. Por ano, são distribuídos milhões de camisinhas e outros mecanismos capazes de evitar que o indesejado (quase sempre inesperado) aconteça. Se, mesmo assim, o índice de adolescentes que dão à luz cresce assustadoramente a cada ano, com a possibilidade de o aborto tornar-se legal, isso aumentaria numa velocidade ainda maior. Não sendo bem-sucedidas como deveriam, as estratégias de conscientização para se prevenir a gravidez, como em qualquer outra campanha, devem evoluir; outros meios devem ser criados. Podemos citar que algumas doenças foram erradicadas no passado, por terem sido combatidas veementemente. Descriminalizar o aborto, além de constituir uma motivação para o descompromisso com a vida, atesta a incapacidade do Estado para resolver questões sérias e urgentes. A atitude mais sensata é sempre eliminar o problema em sua origem, em qualquer que seja a situação. Não podemos mais conceber, a essa altura, a recorrência a mecanismos imediatistas para sanar algo que poderia ter sido suprimido no passado. Os exemplos do insucesso estão em toda a parte: por não investirmos em educação é que corremos atrás de bandido, vivemos inúmeras epidemias e, para completar, ainda queremos permitir a castração de uma vida, antes mesmo de ser concretizada. Disponível em: <http://centraldasletras.blogspot.com.br/p/modelos-de-redacao.html>. Acesso em: 25 jul. 2016.

Carta do leitor Destinada ao editor do periódico. Aqui, há a mesma forma da carta, com cabeçalho e data, mas com a opinião do leitor a respeito de certa edição, notícia reportagem, etc. É bastante conciso e objetivo. Editorial Destinado ao público que se interessa pelo tipo de publicação também em periódicos. Nele, é expressa a opinião sobre certa publicação, falando em nome de todos da redação, com linguagem formal e texto flexível. Veja o exemplo a seguir.

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Fig.01

Crônica argumentativa Destinado ao público que se interessa pelo tipo de publicação em periódicos. Tem a mesma estrutura da crônica narrativa e usa temas do cotidiano. Linguagem flexiva, podendo até ser informal, irônica. Veja o exemplo a seguir.

Fig.02

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Resenha crítica Esse é um dos gêneros que você mais usará na vida acadêmica, tanto de forma escrita quanto oral. É uma resenha que deve apresentar o breve resumo do tema em conjunto a uma crítica pessoal sobre este, ou seja, uma avaliação sobre o que foi lido, por exemplo. Não há diálogo com o interlocutor, o texto é impessoal e possui muitos adjetivos e juízos de valor. Veja o exemplo a seguir.

Fig.03

Agora que você já entendeu melhor como funcionam os gêneros argumentativos e porque precisamos aprendê-los, vamos, na próxima unidade, ver qual a importância dos operadores argumentativos e quais suas estratégias.

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LISTA DE IMAGENS Fig.01: http://www.vermelho.org.br/ Fig.02: http://www1.folha.uol.com.br/ Fig.03: http://www.ricardoprimata.com.br/

BIBLIOGRAFIA BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. Tradução Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003. GOULART, C. Enunciar é argumentar. Analisando um episódio de uma aula de história com base em Bakhtin. Pro-Posições, v. 18, n. 3(54), set./dez. 2007 MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Ângela Paiva, MACHADO, Anna Rachel e BEZERRA, Maria Auxiliadora (orgs.). Gêneros textuais e ensino. 4ª ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005, p.19-36 MARCUSCHI, L. A. Apresentação. In: KOCH, I. G. V. Argumentação e linguagem. São Paulo: Cortez, 2004. p. 9-13.

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