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PREFÁCIO
Para ser bem sincero, eu acho que a Vanessa não existe. Acho que ela é puro fruto da minha imaginação. Mais do que isso, ela é fruto da sua própria imaginação. A grande questão é saber quem está por trás de tudo isso, ou seja, quem imaginou a Vanessa, que por fim acabamos nós todos também por imaginar? Lendo o Diário de Marise acabei encontrando algumas pistas. Pistas em forma de labirinto que, com extremo prazer, vou perseguindo. Quero ver aonde vai chegar isso, quero ver quem vou encontrar no fim desse percurso. Assim, leio e releio este Diário por inteiro, comparando o que foi escrito, comparando a mulher do papel, feita de palavras, vírgulas, parágrafos e capítulos com a mulher que conheci ao vivo. Descobri, nesse processo, que a Vanessa escritora é, na verdade, o personagem. A criadora é a criatura disfarçada. Isso poderia ser óbvio, já que se trata de um diário, de uma autobiografia, mas há sutilezas aí que precisam ser reveladas. A Vanessa profissional da carne, da noite, do dia, da sauna, da hora contada no relógio, da meia arrastão, da peruca ruiva, das roupas de enfermeira, do vibrador é simplesmente um disfarce. A escritora criou este personagem com tanto talento que o personagem criou vida própria, assim como no filme de Woody Allen, em que o personagem sai da tela e vai viver a vida real. A Vanessa real é a Vanessa escritora, anterior à garota de programa. A Vanessa escritora passou a vida toda tão ocupada em imaginar, que se esqueceu de viver. Marise, a personagem, a criatura, tomou conta da criadora e saiu pela vida fazendo e acontecendo, aprontando, se virando, até que um dia, de tanto sofrer, Vanessa acordou. A dor despertou a escritora, que decidiu dar uma basta naquela fantasia toda e viver. E ser o que nasceu pra ser, uma TALENTOSA ESCRITORA. Mas aí o livro acaba. Nesse momento, a Vanessa nos deixa no ar, na expectativa do próximo lance da sua vida, na criação do seu próximo livro, se daqui pra frente ela será santa, louca ou puta. Quem viver, lerá. Antônio Costa Neto