entrevista janeiro de 2009
Boswellia serrata no tratamento das Doenรงas Inflamatรณrias Intestinais
MH Entrevista Apsen โ ข janeiro de 2009
1
Boswellia serrata no tratamento das Doenças Inflamatórias Intestinais Boswellia serrata é uma árvore, cuja goma (ou incenso) é usada na medicina tradicional, a medicina ayurvédica, para combater as doenças inflamatórias. As aplicações de Boswellia serrata são inúmeras, mais especificamente no tratamento das Doenças Inflamatórias Autoimunes. Boswellia Serrata é prescrita no tratamento da Artrite Reumatóide, das Doenças Inflamatórias Pulmonares e agora no tratamento das Doenças Inflamatórias Intestinais, como a Doença de Crohn ou a Retocolite Ulcerativa. A ação de Boswellia serrata é devida ao seu principal componente, um ácido bosvélico (ácido 3-acetil-11-ceto-β bosvélico) que inibe a via da 5-lipoxigenase, e, conseqüentemente, a produção de leucotrienos inflamatórios. Este mecanismo de ação é semelhante ao de medicamentos antiinflamatórios não esteróides, mas sem os seus efeitos adversos. O Dr. Henning Gerhardt, responsável pelo ambulatório de Colites e Doença de Crohn do Hopital Mannheim da Universidade de Heidelberg, Alemanha, foi um pioneiro na utilização de Boswellia serrata no tratamento das Doenças Inflamatórias Intestinais. Ele realizou o primeiro estudo clínico randomizado com grupos paralelos que comparou sistematicamente Boswellia serrata e outro medicamento da Doença de Crohn, a mesalazina (grupo dos salicilatos). Nesta entrevista, o Dr. Henning Gerhardt explica como ele se tornou um pesquisador deste produto que melhora a qualidade de vida dos pacientes portadores de Doenças Inflamatórias Intestinais e pode ser usado como tratamento complementar dos corticosteróides nas crises graves. Ele comenta os resultados dos estudos clínicos realizados na Alemanha, onde esta goma-resina tradicional se tornou um medicamento de referência. O Dr. Flavio Steinwürz, Presidente da Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD), comenta resultados preliminares obtidos de sua observação clínica.
MH Entrevista Apsen • janeiro de 2009
3
Dr. Henning Gerhardt
Boswellia serrata é eficaz e melhora a qualidade de vida Gastroenterologista, Ambulatório de Colites e Doença de Crohn do Hopital Mannheim da Universidade de Heidelberg, Alemanha.
- Como surgiu seu interesse em utilizar a Boswellia serrata nas Doenças Inflamatórias Intestinais? Dr. Henning Gerhardt - Há mais de 30 anos que eu trato pacientes
com Doenças Inflamatórias Intestinais. Para melhorar os tratamentos e entender melhor a origem destas misteriosas doenças auto-imunes, temos organizado uma vez por mês um encontro de nosso grupo de auto-ajuda, que reúne os pacientes e a equipe médica, para se informar e conversar sobre todos os problemas ligados às Doenças Inflamatórias Intestinais e às consequências dos tratamentos. Todos concordaram – os pacientes e eu – que temos aprendido muito durante esses anos de encontros para melhorar nossos padrões terapêuticos. É em grande parte por causa dos efeitos adversos da terapia padrão baseada em salicilatos, corticosteróides e azatioprina, longamente discutidos em nossas reuniões mensais, que comecei a procurar terapias alternativas com o objetivo de reduzir ou evitar as dificuldades que os pacientes encontram. - Em sua experiência clínica, podemos afirmar que em termos de eficácia, a Boswellia serrata é tão eficaz quanto a mesalazina? Dr. Henning Gerhardt - O objetivo de nosso estudo clínico (ver box)
era de comparar a eficácia e a segurança do extrato de Boswellia serrata com a mesalazina no tratamento da Doença de Crohn em fase ativa.
4
MH Entrevista Apsen • janeiro de 2009
Nossas conclusões confirmaram que o tratamento com Boswellia serrata não é inferior à mesalazina. E se consideramos eficácia e segurança, podemos dizer que a Boswellia serrata é superior à mesalazina no ponto de vista da avaliação risco/benefício. No questionário de qualidade de vida SF-36 que foi usado durante o estudo, podemos observar que os 8 itens do SF-36 melhoraram significativamente no tratamento com Boswellia serrata, contra apenas 3 itens no caso da mesalazina. Segundo minha experiência clínica, o extrato de Boswellia serrata é mais eficiente do que a mesalazina no tratamento da Doença de Crohn. - De acordo com sua experiência clínica, por quanto tempo em média o paciente utiliza a Boswellia serrata? Dr. Henning Gerhardt - Trabalhamos com pacientes que sofrem de
Doenças Inflamatórias Intestinais ou de outras Doenças Inflamatórias Auto-imunes, que geralmente são tratados eficientemente com corticosteróides. Em contraste com os corticosteróides, que têm limitações e efeitos indesejáveis, a Boswellia serrata é bem tolerada nos tratamentos a longo prazo sem efeitos adversos. - Qual o perfil do paciente que usa Boswellia serrata? Dr. Henning Gerhardt - A Boswellia serrata é bem tolerada e eficaz em
todos os pacientes que apresentam uma Doença Inflamatória Autoimune desde a Asma ou a Bronquiolite até a Artrite Reumatóide. Provavelmente 2 pacientes a cada 3 obtêm um benefício clínico com este medicamento. É válido avaliar o resultado clínico do produto. É importante destacar que o estresse é a causa mais comum para se iniciar uma crise de Doença Inflamatória Intestinal. Se o estresse é tão importante no início da Doença Inflamatória Intestinal, devemos encontrar um meio de viver na medida do possível sem estresse.
MH Entrevista Apsen • janeiro de 2009
5
- Pode comentar a relação custo/benefício da Boswellia serrata no tratamento das Doenças Inflamatórias Intestinais? Dr. Henning Gerhardt - A relação custo/benefício quanto ao uso da
Boswellia serrata no tratamento das Doenças Inflamatórias Intestinais é excelente no caso de uma doença de até grau moderado. - Qual a sua opinião em relação à tolerabilidade e segurança de Boswellia serrata? Dr. Henning Gerhardt - Podemos usar a Boswellia serrata em todas as
Doenças Inflamatórias Auto-imunes e também no tratamento de alguns tumores, como o Glioblastoma, sem efeitos adversos. No ponto de vista da segurança, temos que lembrar que a Boswellia serrata é um dos tratamentos naturais mais antigos do mundo, e que ela é bem conhecida por sua eficácia e sua segurança. - Em sua visão, os melhores resultados com a Boswellia serrata são obtidos no controle das crises ou na manutenção da doença? Dr. Henning Gerhardt - Uma crise aguda de Doença Inflamatória In-
testinal de grau moderado pode ser controlada com um tratamento único a longo prazo. Quando a crise é grave, um tratamento com corticosteróides é necessário. - Qual a importância de se prolongar o período livre de crises dos pacientes com Doença Inflamatória Intestinal? Dr. Henning Gerhardt - O período livre de crise – ou período de re-
missão – é prolongado nos pacientes tratados com Boswellia serrata, com menos efeitos adversos e melhor qualidade de vida.
6
MH Entrevista Apsen • janeiro de 2009
- Como conscientizar o paciente de que ele deve utilizar corretamente a medicação para que se evite a progressão da doença? Dr. Henning Gerhardt - É muito simples usar a Boswellia serrata: os
pacientes sentem rapidamente o efeito terapêutico da dose diária e não apresentam efeitos adversos. Eles aprendem progressivamente com o médico qual é a dose adequada que eles devem tomar diariamente. - Boswellia serrata é mais usada na Alemanha no tratamento das Doenças Inflamatórias Intestinais? Quais são suas conclusões com esta experiência terapêutica neste país? Dr. Henning Gerhardt - A Boswellia serrata é muito usada na Alema-
nha para o tratamento das Doenças Inflamatórias Intestinais e outras doenças. Temos bons resultados terapêuticos porque o mecanismo de ação de Boswellia serrata por inibição específica da 5-lipoxigenase faz que ela seja um medicamento clássico e eficaz em reumatologia, sem os efeitos adversos dos antiinflamatórios não esteróides. Por isso, é possível administrá-la no início de uma exacerbação de Doença Inflamatória Intestinal. Em segundo lugar, observamos uma estabilidade dos resultados biológicos com o tratamento com Boswellia serrata. Em terceiro lugar, temos uma experiência terapêutica com crianças – na dose de 400 mg/10 kg/dia – com resultados promissores; podemos observar um crescimento normal nestas crianças tratadas com Boswellia serrata e sem corticóides.
MH Entrevista Apsen • janeiro de 2009
7
Zeitschrift für Gastroenterologie 2001:39:11-17
Terapia da Doença de Crohn ativa com o extrato de Boswellia serrata H 15 H. Gerhardt*, F. Seifert*, P. Buvari*, H. Vogelsang**, R. Repges*** *Colitis-Crohn Ambulanz, I. Medizinische Klinik, Klinikum Mannheim der Universität Heidelberg, **Universitätsklinik für Innere Medizin IV, Universität Wien, Abteilung für Gastroenterologie und Hepatologie, Wien, ***Institut für Biometrie und Statistik des Klinikums der RWTH Aachen
Introdução: O objetivo do estudo foi a comprovação da eficácia e da segurança do extrato de Boswellia serrata H 15 em comparação com mesalazina para o tratamento de pacientes com Doença de Crohn ativa. Pacientes e Métodos: Estudo randomizado, duplo-cego, controlado com 102 pacientes. A população PP (Per-Protocol) incluiu 44 pacientes que foram tratados com Boswellia serrata e 39 pacientes que foram tratados com mesalazina durante um período de 8 semanas. Como critério de avaliação do estudo, foi escolhido o Índice de Atividade da Doença de Crohn (IADC). A Boswellia serrata foi comparada à mesalazina em relação a sua não inferioridade. Resultados: O IADC, desde o início da terapia até a última análise feita após a aplicação de Boswellia serrata, sofreu redução média de 90 pontos e, após terapia com mesalazina, 53 pontos. A hipótese de que a Boswellia serrata não é inferior à terapia com mesalazina foi comprovada por meio da avaliação estatística. A diferença entre os dois tratamentos não foi estatisticamente significativa, levando-se em consideração os parâmetros do objetivo primário. A avaliação da Boswellia serrata em comparação com a mesalazina foi validada por meio dos parâmetros dos objetivos secundários. A tolerabilidade comprovada da Boswellia serrata complementa os resultados da eficácia clínica demonstrada. Conclusão: O estudo confirma que a terapia com Boswellia serrata não é inferior à terapia com mesalazina. Isto pode ser interpretado como evidência da eficácia da Boswellia serrata de acordo com o estado atual de conhecimento científico do tratamento da Doença de Crohn ativa com o extrato de Boswellia serrata, uma vez que já se aprovou a eficácia da mesalazina para esta indicação. Levando-se em consideração a segurança e eficácia da Boswellia serrata, pode-se dizer que a mesma é superior à mesalazina em termos da avaliação risco-benefício. 8
MH Entrevista Apsen • janeiro de 2009
Dr. Flávio Steinwürz
A vantagem da Boswellia serrata é o efeito antiinflamatório sem efeitos adversos Gastroenterologista, Presidente da Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD), diretor do Departamento de Gastroenterologia da Associação Paulista de Medicina, médico do Hospital Albert Einstein
- Qual é a vantagem de usar um medicamento como a Boswellia serrata? Dr. Flávio Steinwürz - O mecanismo de ação da Boswellia serrata pa-
rece muito interessante, já que se faz pela inibição da formação do leucotrieno B4, um indutor inflamatório proveniente do ciclo do ácido araquidônico. O efeito bloqueador da inflamação segue os moldes do antiinflamatório clássico, não esteróide, porém sem os efeitos adversos temidos para a população com Doenças Inflamatórias Intestinais. - Qual é o perfil de pacientes pelos quais a Boswellia serrata pode ser aconselhada? Dr. Flávio Steinwürz - Apesar de alguns estudos mostrarem efeito be-
néfico do seu uso tanto em Doença de Crohn quanto em Retocolite Ulcerativa, estamos inicialmente utilizando em casos leves de Retocolite Ulcerativa Inflamatória (RCUI) apenas. Os estudos realizados compararam o efeito da Boswellia serrata ao da sulfassalazina na Retocolite Ulcerativa, e ao da mesalazina na Doença de Crohn. Como o efeito da sulfassalazina na RCUI é, via de regra, mais impactante que o da mesalazina na Doença de Crohn, achamos interessante utilizar a Boswellia serrata na RCUI. Temos usado como terapêutica inicial em casos leves, isoladamente ou em associação com a sulfassalazina ou derivados. Também a usamos para manutenção da remissão, e neste caso, com o seu uso exclusivo como monodroga.
MH Entrevista Apsen • janeiro de 2009
9
- Quais são os seus resultados em termos de tolerabilidade e eficácia? Dr. Flávio Steinwürz - Observamos boa tolerabilidade em todos os
pacientes e resposta satisfatória em alguns casos, mas não temos dados com valores estatísticos que possam ser analisados. - Qual a importância socioeconômica em tratar o paciente com Doença Inflamatória Intestinal? Dr. Flávio Steinwürz - O paciente portador de Doença Inflamatória
Intestinal freqüentemente representa um custo elevado ao sistema de saúde e também ao orçamento familiar. As medicações são caras, a ausência ao trabalho elevada, e o impacto da doença pode também diminuir, eventualmente, a produtividade. O tratamento da crise de atividade, sem duvida, é importante, mas devemos ficar atentos para a manutenção do paciente em remissão, que embute em si um custo social e econômico muito alto. - Como orientar o paciente para uma melhor aderência aos tratamentos das Doenças Inflamatórias Intestinais? Dr. Flávio Steinwürz - A aderência ao tratamento deve ser um fator
fundamental, já que dela depende a evolução do quadro clinico e também, muitas vezes, da manutenção da remissão, tão desejada e nem sempre possível. Pacientes com doenças crônicas devem se conscientizar que o uso prolongado de medicamentos pode trazer mais benefícios que riscos ao evitar uma recidiva do quadro. Nem sempre ocorrem efeitos colaterais com o tratamento e caso estes apareçam, o controle medico periódico pode minimizar o seu impacto.
report Realização Medicina Hoje Tel.: 11 8115-3636 - mg_a.com@uol.com.br
Editor: Dr. Jean-Louis Peytavin Comercial: Mauricio Galvão Anderson Direção-arte: Cristiana Ribas Foto de capa: ©2008 Michael Balick, Steven Foster Group
O conteúdo deste material é de responsabilidade exclusiva de seus autores e não reflete necessariamente o posicionamento da Apsen, que apenas patrocina sua divulgação exclusivamente à classe médica. 10
MH Entrevista Apsen • janeiro de 2009
12
MH Entrevista Apsen • janeiro de 2009 40.377
LF SEPARATA_PIO 16 1107BR 6205990
Material de uso restrito a classe Médica. Proibida cópia ou reprodução.