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IIo Simpósio Latino-americano Merck Serono 19 de maio de 2007 - Rio de Janeiro

Otimizar o uso dos beta-bloqueadores na insuficiência cardíaca

• Os beta-bloqueadores são hoje indispensáveis no tratamento da insuficiência cardíaca, além da sua importância no controle da hipertensão arterial e da doença coronariana. O bloqueio do sistema adrenérgico é fundamental para o restabelecimento do equilíbrio oferta/consumo de oxigênio, para o controle dos sintomas e a prevenção da morte súbita e do infarto do miocárdio.

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O estudo CIBIS III (Cardiac Insufficiency Bisoprolol), que foi finalizado em 2006, comparou a eficácia de um inibidor de enzima conversadora da angiotensina (enalapril) e de um betabloqueador (bisoprolol) em um corte de 1010 pacientes com insuficiência cardíaca sistólica. Este estudou mostrou que bisoprolol têm muitas vantagens em termos de proteção contra morte súbita e progressão da doença e que seu uso deveria ser mais precoce após o diagnóstico de insuficiência cardíaca.

O laboratório Merck convidou seis importantes pesquisadores do tratamento da insuficiência cardíaca, da Europa, do México e do Brasil para uma mesa redonda dirigida pelo Prof. Dr. Antônio Carlos Palandri Chagas (FMUSP, São Paulo) sobre os resultados deste estudo, o tratamento atual da insuficiência cardíaca e suas comorbidades como a insuficiência renal e a anemia, o uso racional dos beta-bloqueadores no tratamento da doença e sua utilização no peri-operatório de cirurgias não cardíacas.


IIo Simpรณsio Latino-americano Merck Serono 19 de maio de 2007 - Rio de Janeiro

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Sumário Marcelo Montera (Brasil)

Página 4

Novo paradigma no tratamento da insuficiência cardíaca “Talvez seja o caso de repensarmos o paradigma que até agora, tem priorizado o IECA no tratamento de insuficiência cardíaca, e de pensar em priorizar o bloqueio ou modulação simpática em associação com a modulação do sistema renina-angiotensina-aldosterona.”

Henry Krum (Austrália)

Página 5 Os benefícios dos beta-bloqueadores não são ainda todos explorados “Os beta-bloqueadores deveriam ser uma terapia obrigatória para todos os pacientes com insuficiência cardíaca sistólica estável.”

Ronnie Willenheimer (Suécia)

Página 6

Bisoprolol pode ser a primeira escolha no tratamento da insuficiência cardíaca crônica “Os beta-bloqueadores, especialmente, não são administrados de maneira apropriada aos pacientes com IC. Essa é uma situação comum em todo o mundo demonstrada por diversos estudos.”

Piotr Ponikowski (Polônia)

Página 7 Tratar paciente com insuficiência cardíaca, insuficiência renal e anemia “A maioria de nossos pacientes que apresentam comorbidades não é tratada de forma adequada por estarmos sempre preocupados com os efeitos colaterais que porventura possam advir de nossas escolhas, mas os estudos mostram que IECAs e BBs podem igualmente ser utilizados em pacientes com insuficiência cardíaca crônica, insuficiência renal e anemia.”

Rafael Shuchleib (México)

Página 9

Insuficiência cardíaca é emergente nas Américas e Europa “A doença cresce no continente, mas várias opções terapêuticas estão disponíveis.”

Don Poldermans (Holanda)

Página 10

Beta-bloqueadores protegem o coração no peri-operatório “É possível afirmar que os testes cardíacos podem ser omitidos de modo seguro em pacientes de risco intermediário para doença arterial coronariana, desde que sejam prescritos beta-bloqueadores para controle da freqüência cardíaca.”

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Marcelo Montera

Novo paradigma no tratamento da insuficiência cardíaca Cardiologista, Hospital Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, Doutor em Cardiologia pela FMUSP, Instituto do Coração, São Paulo.

Prof. Dr. Marcelo Montera

“Talvez seja o caso de repensarmos o paradigma que até agora, tem priorizado o IECA no tratamento de insuficiência cardíaca (IC), e de pensar em priorizar o bloqueio ou modulação simpática em associação com a modulação do sistema renina-angiotensina-aldosterona”, afirmou Marcelo Montera, cardiologista do Centro de Insuficiência Cardíaca do Hospital Pró-Cardíaco e da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, durante palestra realizada no Simpósio Merck Serono. Segundo o especialista, com base na fisiopatologia e nos resultados do tratamento, desde o final da década de 90, diversos estudos têm sugerido que o uso de beta-bloqueadores (BBs) oferece melhor cardioproteção, regressão da doença e maior redução da mortalidade e, especificamente, da morte súbita. Para o pesquisador, com base em tais resultados, é possível questionar o paradigma que ainda se mantém e que defende a introdução de um BB apenas após o uso, e sua otimização, do IECA na sistemática de tratamento da IC. Montera explica que a adoção de BB baseia-se na importância da atividade do sistema nervoso simpáti-

co tendo em vista a fisiopatologia e a progressão da IC. Até recentemente, acreditava-se que o desenvolvimento da deflagração do sistema neuro-humoral ocorria de maneira seqüencial, em cascata, e agora se sabe que ocorre uma deflagração sistemática. “Além disso, através da inter-relação desses sistemas, a ativação de um sistema promove e propulsiona o restante, e o sistema simpático exerce uma ação preponderante nesse contexto”, ressaltou o cardiologista. Evidências

Montera ressaltou que o alvo da terapêutica não é mais só redução de mortalidade ou modulação de morbidade ou qualidade de vida, mas também o tratamento, a cardioproteção e nefroproteção. “A questão então é definir quem realmente promove cardioproteção e o efeito de remodelagem reversa?”, questionou. Ele citou como exemplos os estudos SOLVD e CAPRICORN. Segundo ele, o primeiro demonstrou que a utilização de IECA ou, no caso, enalapril, freia o processo, mas não o regride. Já o segundo, quando se analisa pacientes com classe funcional não tão avançada, mostrou que a utilização de BB promove reversão do processo, enfatizando o aspecto de remodelagem reversa.

O especialista destacou também um estudo publicado em 2001 no Journal of the American College of Cardiology. Segundo ele, o estudo utilizou um BB por seis meses em monoterapia e, então, adicionou um IECA. “O que chama a atenção não é só o efeito remodelagem na forma isolada [do BB], mas a continuidade do efeito após a associação com o IECA”, disse. Ele sugeriu que, através da monoterapia, o metabolismo miocárdico tenha sido modulado e modificações nucleares foram produzidas, apresentando repercussões em longo prazo – “o que enfatiza que existe a possibilidade da utilização prioritária do BB inicialmente”. Em relação à morte súbita, Montera destacou o resultado de diversos estudos que apontam vantagens significativas do uso da associação de IECA e BBs. “Portanto, o que nós podemos ver é que, pelo menos do ponto de vista da fisiopatologia, quando priorizamos o bloqueio do sistema renino-angiotensinaaldosterona, e não o neuro-adrenérgico, temos somente uma atuação parcial, e uma atuação mais completa quando feito através do beta-bloqueio”. Ele destacou ainda que os guidelines da HFSA de 2001 e 2005 já não enfatizam mais a necessidade de maximização da IECA para utilização do BB e que, em vez de maximizar a IECA, é melhor progredir com a dose desse medicamento. Na opinião de Montera, as evidências dos benefícios no controle de distúrbios fisiológicos dos cardiomió­citos e os resultados clínicos superiores frente aos IECAs na melhora da sobrevida leva, necessariamente, a consideração do uso prioritário de betabloqueadores no tratamento de IC. ■

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Henry Krum

Os benefícios dos beta-bloqueadores

não são ainda todos explorados Cardiologista, PhD, Diretor of the Centre of Clinical Research Excellence in Therapeutics, Monash University, Melbourne, Austrália.

Prof. Dr. Henry Krum

A despeito do grande número de estudos já realizados, muitas questões continuam em aberto com relação à implementação apropriada de estratégias de conduta na insuficiência cardíaca crônica (ICC). Na opinião de Henry Krum, da Monash University, Austrália, tudo indica que a resposta está nas substâncias já utilizadas, sobretudo, IECAs e beta-bloqueadores (BBs). “Realmente, nenhum benefício foi identificado com o estudo de novas terapias. Logo, parece que o caminho é otimizar o uso das terapias-padrão já existentes”, afirmou durante sua palestra, realizada no Simpósio Merck Serono, baseando-se nos resultados de três estudos: RENEWAL (etanercept), ENABLE (bosentan) e OVER-

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mizado em que pacientes recebendo diferentes doses foram analisados”, explicou. De acordo com Krum, outra questão importante, ainda em aberto, é a utilização de BBs para a IC diastólica, doença para a qual há poucas evidências para todos os agentes terapêuticos. “Em nenhum caso foram encontradas provas de melhora desse quadro. Entretanto, eu acredito que esse é um campo de exploração importante, pois o beta-bloqueio, em função de seu mecanismo de ação, deve apresentar algum benefício também para a IC diastólica”, disse. Krum destacou, ainda, a necessidade de mais estudos sobre a utiliza-

TURE (omapatrilat). Especificamente sobre os BBs, o pesquisador destacou a mudança de paradigma no tratamento da IC perceptível em guidelines mais recentes, dadas as vantagens demonstradas pelas substâncias em estudos clínicos recentes. Segundo ele, o guideline australiano, por exemplo, considera que “os beta-bloqueadores deveriam ser uma terapia obrigatória para todos os pacientes “Os beta-bloqueadores com insuficiência cardíaca deveriam ser uma terapia sistólica estável, a menos obrigatória para todos os que tal procedimento seja contra-indicado ou não pacientes com insuficiência tolerado”. cardíaca sistólica estável.” Apesar dos avanços demonstrados na pesquisa, estudos ção de BBs na IC, que podem trazer como o EURO-HF e o IMPROVE- resultados interessantes, tais como na MENT mostram que menos de 50% insuficiência sistólica do ventrículo dos pacientes elegíveis recebem BBs. esquerdo assintomática e na preven“Além disso, a dose dos BBs prescritos ção da doença. ■ estão abaixo do recomendado pelos estudos clínicos para que as metas sejam atingidas”, disse Henry, durante o evento. Embora recomende a utilização de BBs, o pesquisador chamou a atenção para a necessidade de mais estudos sobre a dosagem ideal da droga. “Nós temos muitos poucos dados que sustentam a definição de uma dose ótima. Há apenas um estudo rando-


Ronnie Willenheimer

Bisoprolol pode ser a primeira escolha

no tratamento da insuficiência cardíaca crônica Cardiologista, Diretor do departamento de Cardiologia, University Hospital Malmö, Lund University Medical School, Vice-Presidente da Swedish Society of Cardiology e Presidente do Working Group on Heart Failure of Swedish Society of Cardiology. Principal responsável de estudos multicêntricos internacionais sobre a insuficiência cardíaca e outras doenças cardíacas, tais como OPTIMAAL, HEAVEN, CIBIS III, SEAS, RED-HF e SHIFT.

Prof. Dr. Ronnie Willenheimer

O pesquisador Ronnie Willenheimer, da Lund University e presidente do grupo de pesquisa em insuficiência cardíaca da Sociedade de Cardiologia da Suécia, apresentou os resultados do estudo CIBIS III (Cardiac Insufficiency Bisoprolol) que prevêem mudanças de conduta com relação ao uso dos betabloquedores na insuficiência cardíaca crônica (ICC). Ele lembrou que “a base da conduta em IC é terapia com inibidor da enzima de conversão da angiotensina (IECA) e beta-bloqueador”. Entretanto, tradicionalmente, “IECAs são ministrados primeiro e em seqüência, sob um intervalo de tempo dependente do quadro clínico, prescreve-se adicionalmente o beta-bloqueador”, acrescenta; ou, por outro lado, “beta-bloqueador não é acrescentado à terapêutica”. Por fim, de forma equivoca, é raro ou quase impossível que os médicos iniciem o tratamento do quadro com o medicamento.

dos por uma média de 1,22 ano. Todos os participantes foram aleatoriamente alocados para monoterapia inicial com bisoprolol por seis meses, seguido da adição de enalapril ou a seqüência oposta. A pesquisa foi realizada em 128 centros, principalmente europeus. “Este é o primeiro estudo, e provavelmente o último, a analisar a segurança e a eficácia do tratamento da IC”, disse Ronnie. De acordo com o pesquisador, a vasta maioria destes pacientes idosos tolerou pelo menos 50% das doses alvo, e tanto mortalidade quanto hospitalização foram amplamente associadas às doses recebidas. Willenheimer destacou que ambas as estratégias apresentaram re-

Os resultados do CIBIS III, entretanto, mostram que os beta-bloqueadores têm vantagens estratégicas, por exemplo, em termos de possível proteção contra morte súbita e progressão da doença e que também “Os beta-bloqueadores, podem ser ministrados especialmente, não são inicialmente, antes dos administrados de maneira IECAs, sem quaisquer prejuízos para a progres- apropriada aos pacientes com são da doença. Durante a IC. Essa é uma situação comum fase de monoterapia do em todo o mundo demonstrada estudo, 8 das 23 mortes no grupo com bisoprolol por diversos estudos.” primeiro foram súbitas, frente às 16 dos 32 óbitos no grupo sultados similares tanto em termos com enalapril primeiro. “Nesse con- de endpoint primário combinado de texto, parece ser razoável começar o mortalidade por todas as causas de tratamento de insuficiência cardíaca hospitalização quanto de segurança. (IC) com beta-bloqueadores ou, ao Especificamente, o tratamento inimenos, não iniciar seu uso tão tarde”, ciado com bisoprolol mostrou uma defendeu. redução de 28% na mortalidade após Ao todo, o estudo avaliou 1010 a fase de monoterapia. Entretanto,“os pacientes com insuficiência sistólica, beta-bloqueadores, especialmente, não com 65 anos de idade ou mais, do- são administrados de maneira aproença estável, suave ou moderamente priada aos pacientes com IC. Essa é sintomática, que foram acompanha- uma situação comum em todo o mun-

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do demonstrada por diversos estudos”, criticou. Para o pesquisador, os achados sugerem uma escolha livre entre bisoprolol e enalapril como terapia inicial para pacientes com IC sistólica, estável, suave a moderada. “O objetivo principal pré-especificado do estudo foi observar a não-inferioridade do uso de bisoprolol primeiro, que é o melhor que nós podemos fazer para

tentar mostrar similaridades [com o enalapril]”, explicou. Ele explicou também que, no final do estudo, foi possível perceber que, “quando a terapia era iniciada com bisoprolol, 90% dos pacientes conseguiam atingir pelo menos metade da target-dose de enalapril, frente a um percentual de 82% para a outra substância. Quando o enalapril foi utilizado primeiro, apenas

72% dos participantes atingiram ao menos metade da target dose, contra um percentual de 86% para bisoprolol”, disse. Segundo ele, a importância em se obter uma boa dose da medicação estudada é enfatizada por estes resultados. “Bisoprolol pode ser dado precocemente após o diagnóstico de IC, especialmente no sentido de evitar morte súbita”, concluiu. ■

Piotr Ponikowski

Tratar paciente com insuficiência cardíaca, insuficiência renal e com anemia Cardiologista, PhD, Professor de Cardiologia, Centre of Heart Disease, Military Hospital, Wroclaw, Polônia.

Prof. Dr. Piotr Ponikowski

Uma forma estratégica de abordar os pacientes com insuficiência cardíaca crônica é considerar suas comorbidades como pertencentes ao quadro clínico e estabelecer o conjunto das afecções como uma síndrome. “É impossível identificar um paciente com esta doença sem comorbidades tais como hipertensão arterial, diabetes mellitus doença coronariana, insuficiência renal e anemia”, disse Piotr Ponikowski, do departamento de

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com insuficiência cardíaca de branda a moderada “e atinge em torno de 50% dos pacientes com quadro grave”. Em ambas as situações, entretanto, a piora do prejuízo da função renal é sempre progressiva e, independente deste fator ou da gravidade ou dos recursos terapêuticos que sejam incluídos, “a insuficiência renal está sempre associada a altas taxas de morbidade e mortalidade nestes doentes”.

cardiologia do Hospital Militar Clínico de Wroclaw, Polônia e pesquisador das áreas básica e clínica dos aspectos fisiopatológicos das doenças cardiovasculares. Para ele, particularmente, a insuficiência renal e a anemia devem ser sempre consideradas “Os estudos mostram que IECAs sob este prisma “para que e BBs podem igualmente ser o médico possa estabelecer utilizados em pacientes com o manejo terapêutico mais adequado junto ao seu pa- insuficiência cardíaca crônica, ciente”. insuficiência renal e anemia.” Em sua palestra no Simpósio Merck Serono, Por este motivo, tal qual nas outras Piotr lembrou à platéia que, por motivos neuro-hormonais, inflamatórios, doenças cardiovasculares, a busca da hidroeletrolíticos e hemodinâmicos, nefroproteção tem sido objetivo de e caracterizando um quadro que pesquisas correntes, cujos resultados costuma ser chamado de síndrome ainda não estão totalmente estabelecardio-renal, a insuficiência renal é cidos. Até recentemente, “não estava prevalente em 20 a 30% dos pacientes totalmente elucidada a forma como


os inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECAs) e os betabloqueadores (BBs) influenciariam a função renal na insuficiência cardíaca crônica e se seriam igualmente eficazes em pacientes com função renal preservada ou danificada”, disse Piotr. Entretanto, o Estudo Cibis III (Cardiac Insufficiency Bisoprolol Study), que alternou uso inicial de bisoprolol ou enalapril por 6 meses e utilizou a combinação dos fármacos em 505 pacientes com 65 anos, já apontou resultados eficazes de ambos os medicamentos com relação à nefroproteção, investigando a função renal com base na filtração glomerular estimada e tendo morbidade e mortalidade como endpoint primário. Mas, apesar dos efeitos similares gerais neste estudo e da constante manutenção dos prejuízos renais nos indivíduos idosos com insuficiência cardíaca, um dado chamou a atenção nos resultados: particularmente, “o bisoprolol foi mais eficaz na proteção renal dos pacientes que tinham função renal alterada de forma leve a moderada (HR 0,74, IC 95% 0,56-0,99)”, afirmou Piotr.

Já, de acordo com o pesquisador, a anemia foi identificada em 19% dos pacientes que compuseram o estudo Cibis III, o que é similar à prática clínica, “quando se lembra que os pacientes tanto com insuficiência renal grave quanto com anemia igualmente intensa são sempre descartados dos estudos”. Atento para o impacto desta patologia na deterioração da qualidade de vida e da elevação de morbidade e mortalidade da insuficiência cardíaca crônica, o pesquisador explicou que “a anemia por si só pode estar envolvida na fisiopatologia da síndrome da insuficiência cardíaca crônica, através da piora da função ventricular esquerda e da ativação dos sistemas neurohormonais, deteriorando uma função renal já comprometida”. Além disso, ele aponta que idade avançada, sexo feminino, doença renal crônica, eventos agudos e outras comorbidades são fatores de risco da anemia. Da mesma forma, se o uso de IECAs, BRAs (Bloqueadores do receptor AT1 da angiotensina II) e BBs era

ponto de interrogação como sendo igual fator de risco para o estabelecimento ou agravamento da anemia crônica, o Cibis III mostrou que IECAs e BBs podem ser igualmente utilizados no tratamento de pacientes portadores de insuficiência cardíaca crônica sem contribuir com a trajetória da anemia. Ele argumentou que todos estes resultados do Cibis III mostram um saldo positivo no sentido da promoção de uma mudança de postura na escolha terapêutica diante da insuficiência cardíaca crônica com doença renal e/ou anemia. “A maioria de nossos pacientes que apresentam comorbidades não é tratada de forma adequada por estarmos sempre preocupados com os efeitos colaterais que porventura possam advir de nossas escolhas, mas estes estudos mostram que IECAs e BBs podem igualmente ser utilizados em pacientes com insuficiência cardíaca crônica, insuficiência renal e anemia, sendo que os betabloqueadores podem, inclusive, ser a primeira indicação terapêutica.” ■

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Rafael Shuchleib

Insuficiência cardíaca é emergente nas Américas e Europa Cardiologista, Chefe da Clínica de Dislipidemia, ABC Medical Centre, Mexico City, México, Presidente da Interamerican Heart Foundation.

Prof. Dr. Rafael Shuchleib

No evento, Rafael Shuchleib, chefe da cardiologia do Hospital ABC da Cidade do México e presidente da Interamerican Heart Foundation e da Sociedade Mexicana de Aterosclerose abordou o quadro epidemiológico atual da insuficiência cardíaca na América Latina e as possibilidades terapêuticas da doença. Preocupado com a modificação que está ocorrendo no Hemisfério Sul, ele chamou a atenção, de qualquer forma, para a emergência da insuficiência cardíaca em todo o mundo, o que inclui Europa e Estados Unidos, e o que aponta para preocupação e atenção com os desdobramentos da patologia. “Em vários países da América latina, as afecções crônico-degenerativas estão gradativamente substituindo o papel que era desempenhado pelas doenças infecto- contagiosas”, disse Shuchleib. Além disso, em países como México e Argentina, estas doenças competem pela supremacia na causa de óbito com as doenças cardíacas isquêmicas, tradicionalmente as principais responsáveis pela mortalidade

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da espironolactona: “Com o uso do medicamento, no estudo EPHESUS, as mortalidades por todas as causas e por causas cardiovasculares foram, respectivamente, 14,4% e 12,3% comparadas aos 16,6% e 14,7% nos pacientes que receberam placebo”. Já o nevibolol reduziu em 14% todas as causas de morbidade e mortalidade, independente de sexo, idade e fração de ejeção ventricular no estudo SENIORS “que incluiu 2128 pessoas, por um período de 21 meses”. Finalmente, o candesartan mostrou, no estudo CHARM-overall, com 7599 pacientes com insuficiência cardíaca crônica grau NYHA II-IV “que os bloqueadores de angiotensina II (BRAs) podem ser utilizados em pacientes sintomáticos ou em associação em pacientes que permanecem sintomáticos”.

nestes locais. “Isto promove um alto impacto nos custos do tratamento da insuficiência cardíaca nestes países”, alertou. Do ponto de vista terapêutico, o médico considera que as possibilidades são satisfatórias já que integram ações medicamentosas que podem ser associadas com tratamentos não medicamentosos como “a terapia de ressincronização cardíaca e os desfibriladores cardiversores implantáveis” que têm sido utilizados em pacientes com insuficiência grau III-IV da NYHA. Entre os medicamentos, Rafael destacou os já estabelecidos “A doença cresce no continente, antagonistas da aldoste- mas várias opções terapêuticas rona e bloqueadores da estão disponíveis.” angiotensina II e, mais recentemente, os beta-bloDe qualquer forma, Rafael Shuqueadores, tal como identificaram os estudos Seniors e Cibis III. Este chleib afirmou que é a prevenção da último investigou, obtendo resulta- insuficiência cardíaca que precisa ser dos afirmativos com relação à eficá- o principal objetivo de toda a ação cia, “se o bisoprolol pode ser utilizado médica. “Quando não conseguimos sozinho e antes de inibidores da ACE impedir o desenvolvimento da insufi(IECAs) em pacientes com insuficiên- ciência, tratando e evitando os fatores de risco de suas principais causas cia cardíaca”. Em sua palestra, o pesquisador desencadeantes como a hipertensão mostrou dados satisfatórios para arterial e a doença coronariana, fazo uso da eplerenona em pacientes se imperativo corrigir a insuficiência complicados por insuficiência cardí- ventricular esquerda que leva, caso aca pós-infarto do miocárdio e que, contrário, à insuficiência cardíaca por exemplo, não podem fazer uso crônica e/ou à morte súbita”. ■


Don Poldermans

Beta-bloqueadores protegem o coração no peri-operatório Cardiologista, PhD, consultant Internal Medicine, Erasmus University Hospital, Rotterdam, Holanda.

Prof. Dr. Don Poldermans

A sobrecarga do coração em cirurgias não cardíacas causa complicações que podem ser graves no perioperatório e, no contexto das últimas descobertas sobre os benefícios dos beta-bloqueadores, “estes medicamentos aparecem como um meio de oferecer cardioproteção no curso de uma cirurgia”, disse Don Poldermans, do Erasmus University Hospital, de Rotterdam, Holanda. Ao lembrar que beta-bloqueadores têm sido evitados devido aos seus efeitos colaterais, Don acentuou que “agora não se trata mais de identificar as contra-indicações, mas sim as indicações que os medicamentos têm dentro das necessidades específicas do seu paciente”. De acordo com o pesquisador, os beta-bloqueadores podem proteger o coração devido a, entre outros fatos, diminuírem a freqüência cardíaca e contratilidade e, conseqüentemente, a demanda de oxigênio do coração. “Além disso, promovem mudança no metabolismo energético entre ácidos graxos e glicose, possuem efeitos antiarrítmicos e, por último, antiinflamatórios que levam à estabilização plaquetária”, afirmou. Ele esclareceu que os guidelines da ACC/AHA atualizados em 2006 já

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mários que eram morte por qualquer causa, infarto no peri-operatório ou no follow-up”, explicou Don. Já os 101 pacientes de alto risco (que apresentavam mais de 3 fatores de risco) foram randomizados para revascularização miocárdica ou melhor tratamento, antes da cirurgia, e os resultados também foram similares com relação aos mesmos endpoints do grupo intermediário. Além disso, neste, quem não fez teste de esforço foi submetido à cirurgia três semanas antes. “Diante dos resultados do DECREASE, é possível afirmar que os testes cardíacos podem ser omitidos de modo

sugerem a eficácia de betabloqueadores no peri-operatório e, diferente dos guidelines de 2002, os estudos não estão apenas focados em pacientes que fizeram testes de esforço para avaliar risco de doença arterial coronariana (DAC), mas incluem recomendações para pacientes sem DAC objetiva, mas com probabilidade para DAC, de acordo com fatores de risco. Entretanto, os guidelines recomendam que antes do procedimento É possível afirmar que os testes cirúrgico seja sempre fei- cardíacos podem ser omitidos to teste de esforço para de modo seguro em pacientes avaliar qualquer paciente sob risco de DAC, “o que de risco intermediário para atrasa a cirurgia, já que os doença arterial coronariana, resultados dos testes podem desde que sejam prescritos ser redundantes e os betabloqueadores oferecem fir- beta-bloqueadores para controle me controle da freqüência da freqüência cardíaca.” cardíaca e fornecem proteseguro em pacientes de risco intermedição miocárdica suficiente”, disse. Estes aspectos estão sendo avalia- ário para DAC, desde que sejam presdos com o uso do bisoprolol em pa- critos beta-bloqueadores para controle cientes indicados para cirurgia vascu- da freqüência cardíaca”, disse Don. Ele lar através do programa DECREASE. alertou, entretanto, os médicos preMais especificamente no DECREASE sentes ao Simpósio, que os pacientes II e V foram incluídos 1880 pacientes necessitam receber o medicamento e estes foram estratificados para risco antes, durante e após a cirurgia. “É de DAC. “Sob risco intermediário (1 a muito importante que estejamos aten2 fatores de risco) o estudo identificou tos para o fato de que a medicação pre770 pacientes, que foram randomiza- cisa ser mantida por um tempo após dos, metade fez teste de esforço antes a cirurgia, mesmo que o paciente não da cirurgia e metade não, sendo os re- apresente qualquer sintomatologia; às sultados iguais para os endpoints pri- vezes isto é esquecido”, ratificou. ■

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O simpósio Merck Serono reuniu cardiologistas de todo o Brasil sobre o tema do melhor uso dos beta-bloqueadores na insuficiência cardíaca.

Da esq. para a dir.: Profs. Drs. Henry Krum (Austrália), Don Poldermans (Holanda), Piotr Ponikowski (Polônia), Carlos Palandri Chagas (Brasil), Ronnie Willenheimer (Suécia), Marcelo Monteira (Brasil), Rafael Shuchleib (México).

Redação e administração: Atlântica Editora, Rua Teodoro Sampaio, 2550, cj.15 Pinheiros 05406-200, São Paulo, SP, Tel: (11) 3816-6192 E-mail: atlantica@atlanticaeditora.com.br Editor: Dr. Jean-Louis Peytavin • Coordenação editorial: René Delpy • Redação deste suplemento: Dra. Ilana Polistchuck, Gustavo Oliveira (Agencia Notisa), Cecília Marques (copy desk) • Publicidade: Mauricio Galvão An­­­­derson, Elben Almeida • Direção-arte: Cristiana Ribas MH Report é uma publicação de Medicina Hoje que é uma parceria entre Medicine Today International (MTI) e Atlântica Editora. MTI edita Dagens Medicin (Suécia), Dagens Medicin (Dinamarca), MediUutiset (Finlândia), Dagens Medisin (Noruega), Puls Medycyny (Polônia).

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