MEME Edição 01 - novembro 2010 - R$2,50
SILVIA MACHETE faz música safada para corações românticos. Viaje pelo mundo sem pagar hospedagem com o Couch Surfing. BRUSCHETTA Aprenda a fazer essa receita italiana e impressione seus amigos. O futuro é ANALÓGICO! Descubra os efeitos do vazamento de luz, possível somente em fotos com filme.
Nada é original. Roube de qualquer lugar que ressoe com inspiração ou abasteça sua imaginação. Devore filmes antigos, filmes novos, música, livros, pinturas, fotografias, poemas, sonhos, conversas aleatórias, arquitetura pontes, placas de trânsito, árvores, nuvens, luz e sombra. Selecione para roubar somente coisas que falem diretamente com sua alma. Se fizer isso, seu trabalho (e roubo) será autêntico. Autenticidade é inestimável, originalidade não existe. E não se preocupe em dissimular seu roubo - celebre-o se você tiver vontade. Em todo caso, lembre-se da frase de Jean-Luc Godard: “Não importa de onde você tira as coisas - o que importa é para onde você as leva” - Jim Jarmusch
MEME
Ajudando você a escolher seu próprio caminho
Sumário Viagem
Editorial
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Notícias da redação.
Achados
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Música
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Projetos legais e ideias criativas pra você admirar e se inspirar. Novidades nacionais e internacionais e ainda uma banda que você tem que conhecer!
Viajar pelo mundo conhecendo pessoas e sem pagar hospedagem. Não acredita? Então confira como funciona o Couch Surfing.
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Capa
Silvia Machete encanta o público com sua performance, bom humor e músicas divertidas. Veja o que ela tem a dizer.
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Cinema
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Filosofia
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Filmes fora de ordem apresentam a história de um jeito diferente e costumam ser bem ágeis. Confira alguns exemplos famosos.
Se você anda angustiado, saiba que isso é resultado da sua liberdade. Confuso? Leia o texto e entenda esse paradoxo.
Cursos Extras
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Design e tipografia andam de mãos dadas. Saiba onde você pode aperfeiçoar a técnica de comunicar com as letras.
Expediente
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MEME DIREÇÃO GERAL Marina Burity Francisco marinaburity@gmail.com www.twitter.com/burity REPÓRTERES Laís Montagnana laismontagnana@hotmail.com www.twitter.com/lmontag Renata Penzani rerepenzani@yahoo.com.br www.twitter.com/renatapenzani COLABORADORES Netto Gomes nettogomes@hotmail.com www.twitter.com/netto_gomes Caroline Pazian caroline.pazian@gmail.com www.twitter.com/caroliland Paulo Zapella paulo.zra@gmail.com www.twitter.com/zpll
Ensaio
Quem disse que uma foto tem que ser tecnicamente perfeita para ser bonita? Esse ensaio mostra como o vazamento de luz pode causar efeitos lindos e imprevisíveis.
Projeto Experimental de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Design da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comuicação (FAAC) da Universidade Estadual Paulista (UNESP) para obtenção do bacharelado em Design Gráfico. ORIENTADORA Prof. Dr. Cássia Letícia Carrara Dominiciano cassiacarrara@gmail.com
Receita
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Crônica
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Trouxemos a bruschetta da itália para matar sua fome.
Algumas coisas existem com o único propósito de nos irritar, tipo dente do siso. Mas será mesmo?
Novembro, 2010
Editorial
Você entrou na faculdade, saiu de casa e começou sua vida universitária. Você finalmente se livrou daquelas matérias que odiava e achava totalmente inúteis e tinha que estudar só para passar no vestibular. Mas aí você descobriu que o pacote “faculdade” traz muito mais que aquilo que você gosta; traz o desconhecido. Pessoas, referências, gostos, tudo é novo, tudo é ampliado e é fácil se sentir perdido. A MEME surgiu então para ser seu guia. Mas não se engane, não estamos aqui para te apontar o caminho certo. Saiba de antemão: não existe caminho certo. Cada um deve ir para onde quiser. A gente está aqui para te ajudar a escolher o seu caminho. Leia a revista e leve com você aquilo que você achar interessante. E depois, faça algo. Respire referências, descubra o que toca você e use tudo isso para criar algo novo, só seu. Se você não gostou da seleção que fizemos, mande a sua. A MEME é colaborativa e também é feita por você. Compartilhe com a gente suas ideias, seus ideais.
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Nessa primeira edição, você poderá descobrir um jeito barato e divertido de viajar, com o Couch Surfing. Na sessão de cinema, perca-se nos filmes que inovam por não seguir a ordem cronológica. Entenda qual é a razão da angústia na sessão de Filosofia e aprenda a fazer uma bruschetta e impressione seus amigos com seus dotes culinários. Depois, veja o que a Silvia Machete tem a dizer. Ela é uma cantora que descobriu como juntar dois mundos que faziam parte dela, a música e o circo, e criou algo único. Em resumo: Inspire-se!
Marina Burity Francisco Designer marinaburity@gmail.com MEME novembro 2010
Achados
design. novidades. tendências.
Estilo Musical O mundo da música não se baseia somente em sons, mas em visões também. Qualquer cantor sabe que é preciso uma gravata fina para combinar com aquele clave agudo e um blazer que sincroniza com sua batida. O projeto “Conjunto: O Estilo da Música” é uma série de posters feitos por Glenn Michael e James Alexander, ilustrando as roupas usadas por ícones da música como Kurt Cobain, Michael Jackson e Elvis Presley. Você pode comprar a versão impressa no site http://bit.ly/ estilomusical
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Escova boba O que sai do cruzamento de um João Bobo com uma escova? Uma escova boba - se ela não fosse, na prática, muito da esperta. Essas aqui ficam em pé graças a um mecanismo parecido com o do boneco que balança, mas não cai, deixando as cerdas longe das impurezas da pia. Mais informações no site www.7760.org MEME novembro 2010
Desenho na cozinha Imagine receitas interpretadas por ilustradores e desenhistas. Essa é a proposta do “They Draw and Cook”. São dezenas de receitas de dificuldades variadas, cada uma ilustrada em um estilo diferente. O site é em inglês, mas a maioria das receitas dá pra entender só pelos desenhos. Super bacana! http://www.theydrawandcook.com/
Destruindo o tempo A designer alemã Susanna Hertrich criou um calendário que tritura os dias em tempo real e que ela mesmoa define como “uma máquina do tempo poética”. É só conceitual, mas bem que poderia estar à venda. www.susannahertrich.com/ MEME novembro 2010
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Música
O QUE TEM D E
NOVO? Holger - Sung
a
Delp
hic - Acolyte Sunga é um serv iço definitivo: m Scissor Sisters er- Q gulha em caract - Night Out uantos discos de erísticas da mús bandas novas ica brasileira para você consegue dar originalidad Fu nc io na lid ou ad vir do início ao e não é objetiv ea um CD com ca idade. fim? Depois de ra de internacio É com uma afi dois singles frac 12 rmação tão cafo nal – como nenhum os , o Delphic surp na qu a banda brasile an to os anos 80 que reendee conseg ira fazia de fato, m começo ue trazer um álbu as bandas gringa a fa la r so br m e autêntico e o novo trabalho s como Friendly do escutável-por-m Fires já estavam Scissor Sisters. ais-de-um-ano Partindo da ép cansadas de faze para o escasso oca qu r. Em meio à e co nstruiu a nossa 2010. Mais um batucada, os sin imagem de a vez, as maiores apos pi tetizadores e lin st a de da nça, você sabe tas do ano dece has múltiplas de vo o objetivo pcionam e temos cal surgem de fo de Night Work um grande disc a partir da prim rma nã genuína e impr o eira o esperado em evisível, com um fa ix a. Talvez este seja mãos. E não é equilíbrio que o único só a alquimia en pode ser atribuí pr ob le m a do disco: sonorid tre rock e músic do à produção do ade a eletrônica que brooklyniano Pa muito óbvia pa torna a estreia ra atingir o pata ul Manson. “Trans do s britânicos impe mar de finite”, “Let ‘em cl ássico do pop. cável. Acolyte é Shine Below ”, Apesar do sent um disco de estrut “No Brakes” e im en to de ura equilibrada “já-ouvi- -antes “She Dances” eviden e ” inerente, hermética, as fa ciam que se trat o Sc iss or m ix ud as se completam ou. Está cada ve a de um CD para . Músicas como z mais afastado de dançar. Mas é “Red Lights” e no qualquer som rock ‘n’ roll de “T “Th is Momentary ” le un oothhless Turt de rg ro und, cada vez m mbram Klaxons les”, C na aura world ais pop. , ut Copy e, prin music de “Beave Night Work nã cipalmente, New r” e o traz nada novo no romantismo Order. O resulta , m de “W ho Know as é uma transição do é música long s” que os corações inevitável para e do vazio habitu o podem ser fisga gr up o. O uvir “Harder al, synthpop pe dos fe de vez. É bem You Get ” rito. Não é mais possível que qu é como ver um um álbum para em a parada gay. E conhecia a band ouvir três músic é m a pelo clima fo aravilhoso, é a as no repeat. A lk e dedicação tota cru do EP The na Malmaceda l às Green Valley tam pistas de dança. bém Ana Malmaced não se decepcio a ne. Maria Joan a Avellar
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Nina Becker -
lho
Azul e Verme
os – e não o am os dois disc at tr e a qu o ss di ra solo. A cozinh multiplicar. É r em sua aventu ke os Sobre somar e nj ec B ra a ar in N em or” rend e lançam ca” da “Do Am disco duplo – qu nte da “escola cario nvencer o ouvi as rr co ita de gu z pa as e ca , da na e os criativa afi un z vo m e també e se somam à A produção, qu r. iti e memoráveis, qu sm qu an é tr a in sa N ento que ou da própria a, de todo sentim nd rício Tagliari e au ira M M a, de nd as ira vr los M do, nas pala lta su re to íri O talentos de Car sp s. “e õe busca ão dessas adiç mente” ou quem da un o of faz a multiplicaç elh pr a rm ic Ve ús o fisticad uem ama m ”. Há, no pop so s pode agradar “q so em expansão reótipos de voze er iv te es un ir um fin , de ra re se ra É pa de aventu . e z” nt em pa expansão suficie r “De um amor e no sutil Azul um engano com maestria po a de ad e rt iz al pa re o, fa nt re e fica, no enta femininas – ta qu ta bum duplo. un ál rg pe um turna. A o discos de sã o elh rm Ve Nina pura e no e ul a mais forte em de conta que Az e resultasse aind qu s õe admitido: faz nç ca de tão, um mix Não haveria, en rêa Fernando Cor o? sc um único di
Charly Coombes & The New Breed myspace.com/charlycoombes
Você tem que conhecer!
Devagar, mas constante, Charly Coombes & The New Breed tem mostrado que trabalho duro sempre paga bem no final. Reunida há pouco mais de um ano, a banda de Oxford, Reino Unido, tem um EP e uma turnê nos EUA na bagagem: “Ter um EP é uma maneira boa de atingir as pessoas, é difícil ter impacto na geração iPod; e também foi ótimo trabalhar com Gaz [Coombes, irmão de Charly e líder do Supergrass], ele é um produtor muito talentoso e conseguiu o melhor de nós”, diz Charly. O EP, intitulado Panic, contém quatro faixas que variam entre músicas que são perfeitas para o verão e músicas que seu pai mandaria você abaixar o volume. O disco, que tem a aparência de um vinil anos 60 do Bowie, mostra logo todo o cuidado envolvido no processo de criação: “Gravar um álbum é como construir uma casa, você não pode sentar depois e desejar que as coisas fossem diferentes, tudo precisa estar certo.” A banda acredita, também, que hoje em dia o sonho de ser descoberto por alguém muito poderoso é mais difícil e que a receita para o sucesso é o velho do it yourself. “Fomos colocados nessa posição, é a natureza dessa indústria. Agora você tem que ser o seu empresário e o seu agente, e isso te ensina muito, ao mesmo tempo que te estressa muito.” Jake, Rory, Charly e Dave encaram agora mais turnês e possivelmente um novo EP no inicio de 2011. Rayana Macedo
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Cinema
FORADO E RD
Netto Gomes
EM
Os roteiros não-lineares estão cad a vez mais presentes no cinema
O Meio Existem sempre aqueles filmes que deixam um pouco confusos... Mas como o mocinho foi parar ali, se ele estava lá agora mesmo? O que acontece, é que muitos roteiristas usam o recurso de não linearidade cronológica na história contada, para poder colocar o ponto de vista que querem passar para o espectador. Esses roteiros que parecem todos bagunçados no tempo-espaço são conhecidos como roteiros não-lineares. Esse tipo de roteiro é freqüentemente utilizado para imitar lembranças e memórias, mas tem sido aplicado nas telonas por outras razões também, como ilustrar de forma inesperada e surpreendente certos momentos marcantes para o filme, como o ápice da ação. É bem difícil conseguir estruturar um roteiro fora da ordem cronológica sem confundir o espectador. Ainda assim, existem exemplos de bons filmes cuja estrutura são não-lineares, como “Kill Bill”, “Pulp Fiction – Tempo de Violência” e “Cães de Aluguel”, do diretor Quentin Tarantino, além de “Os Suspeitos”, “Assassinos Por Natureza”, “Corra, Lola, Corra!”, “Magnolia”, o clássico “Cidadão Kane”, “Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças”, o brasileiro “Cvidade de Deus”, entre vários outros.
O Final Por exemplo, o mundialmente conhecido “Amnésia” do diretor Christopher Nolan (de “Batman – O Cavaleiro das Trevas”), produção que ficou conhecido também como o “filme de trás pra frente”, vai muito além disso.
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Desenvolvendo-se como um thriller psicológico muito bem trabalhado, o filme tem duas linhas narrativas que se cruzam: as cenas coloridas, em ordem inversa, e as cenas em preto-e-branco, em ordem cronológica. Aliás, influenciados pelo boca-a-boca gerado pelo longa, grande parte das pessoas nunca repararam na importância das cenas em ordem “normal”, o que é uma pena, pois Amnésia não vale a pena simplesmente pelo fato de ser ao contrário. Vale porque o roteiro é desenvolvido de uma forma tal que o espectador não só se acostuma com aquela forma de ver as coisas como fica tenso para saber o começo da história, algo bizarro, mas digno de aplausos. Outro que também faz sucesso entre os roteiros fora da ordem cronológica é “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”. Também conhecido pelas alcunhas “Aquele filme que o Jim Carrey é sério” e “Aquele filme com nome comprido”, a produção já é considerada cult, mesmo não tendo nem 10 anos desde seu lançamento. Quando isso acontece, pode se ter certeza que o filme vale o título. Foi um dos primeiros filmes a utilizar a técnica da não-linearidade no roteiro para desenvolver um romance, e sem deixar o espectador perdido ao mesmo tempo em que faz com que o mesmo se envolva na história dos dois. Há produções nacionais que utilizam roteiros não-lineares também. Melhor filme brasileiro da década de 2000, “Cidade de Deus” é também aclamado por inúmeras pessoas de fora do país. Para se ter uma ideia, é hoje 17º melhor filme da história, segundo o IMDb (Internet Movie Database, o maior acervo de informações sobre cinema online do mundo – www.imdb.com). E grande parte desse êxito é devido à narrativa fragmentada, um pouco diferente das citadas acima, mas que definitivamente se encaixa no tema. Outro filme que virou ícone com este recurso marca a estreia de Quentin Tarantino nos cinemas, e é também seu melhor trabalho como roteirista. “Cães de Aluguel” conta com uma “cena principal” dentro de um galpão, a partir da qual nós, espectadores, somos lançados a uma história que os personagens conhecem, mas nós não. E aos poucos, a história vai se encaixando de forma perfeita, fazendo com que terminemos o filme com todos os acontecimentos em ordem em nossas cabeças.
O Começo Os roteiros não-lineares têm ganhado cada vez mais espaço no cinema em todo o mundo. Esse pode ser o início de uma onda de idéias originais e bem montadas para a sétima arte... ou pode estar na metade dessa onda! Será que é o final? MM
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Viagem
COUC H surfing
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Quer Marina Burity viajar e tรก com pouca grana? Quer conhecer mais da cultura local com os nativos? Quer fazer amigos no mundo inteiro? O Couch Surfing proporciona isso e muito mais.
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N
ão seria bom ter um amigo em cada país do mundo, e poder viajar sem ter que se preocupar com hospedagem? É mais ou menos isso que o Couch Surfing, ou “surfe de sofá”, propõe. Os surfistas de sofá são pessoas que oferecem suas casas (e sofás) para pessoas do mundo inteiro ficarem hospedadas. O site existe desde 2004 e funciona com a ajuda de voluntários e doações. Ele conecta viajantes com moradores locais em mais de 230 países e territórios no mundo inteiro e hoje já conta com mais de um milhão de membros. A missão da organização, mais que oferecer uma alternativa barata de hospedagem, é proporcionar experiências inspiradoras. “Nós temos uma visão do mundo em que todos podem explorar e criar conexões significativas com as pessoas e lugares que eles encontram. Cada
Os membros prezam bastante pela sua segurança e o site é um jeito muito mais seguro para conhecer pessoas do que parece a princípio. Como uma comunidade, os surfistas ajudam a se proteger compartilhando informações. Com o site, é como se você estivesse conhecendo um amigo do seu amigo. Você tem a chance de ler as experiências dos outros membros com essa pessoa, tanto positivas como negativas. Cada membro tem um perfil repleto de informações sobre seus interesses e perspectivas, e é possível se conectar com eles tanto quanto você quiser antes de conhecê-los pessoalmente. O site ainda conta com o ícone vouch (garantia). Esse ícone indica um laço forte entre dois membros e é um sinal de confiança. Quando você dá essa garantia a outro membro, você indica que você suporta todas as ações dele. Tudo que ele faz, bom ou mal, reflete nas pessoas que deram essa garantia a ele, portanto é uma
“Participe na criação de um mundo melhor, um sofá de cada vez” experiência trocada por um membro do Couch Surfing nos aproxima dessa visão” declara no site um dos fundadores, Casey Fenton. Ambos os lados são beneficiados ao participar do Couch Surfing. Anfitriões tem a oportunidade de conhecer pessoas de todo o mundo sem sair de casa e os “surfistas”, ou viajantes, podem participar da vida local dos lugares em que eles visitam. Essas trocas são uma forma rica e única de interação cultura. Se você não tem um sofá para oferecer para outros viajantes, pode participar do site mesmo assim. O único pedido dos organizadores é que você pense em oferecer seu sofá algum dia na sua vida, já que a comunidade funciona na base da reciprocidade. E claro, que tenha a mente aberta a diferenças culturais. Agora, a primeira pergunta que surge na cabeça das pessoas ao saber desse sistema é: “Será que é seguro?”.
ferramenta usada com bastante discernimento. O site ainda checa o nome e endereço dos membros e disponibiliza um fórum onde as pessoas compartilham as tentativas de fraude. O maior atrativo desse esquema é realmente a troca cultural. Se hospedando na casa de um morador local, você será mais que um turista, poderá vivenciar a cidade como ela realmente é. Você poderá receber dicas daqueles lugares que não são mencionados em guias e se inserir na rotina local. Recebendo um morador, você estará em contato com outra cultura e outros hábitos e estará aprendendo ao mesmo tempo que ensina. Além disso você poderá compartilhar um pouco de você e da sua vida com outra pessoa que você normalmente não conheceria. Se interessou? Veja na próxima página as dicas para se tornar um Couch Surfer. >> >> MEME novembro 2010
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Antes de ir em frente, confira essas dicas: Se você vai RECEBER viajantes gras que quiser Você pode colocar ascêrequer impor e escreva Decida os limites que vo do nessas informações tudo no seu perfil. É basea os pedidos para se hosque os viajantes vão fazer pedar com você.
Leia os pedidos com atenção Analise com cuidado os pedidos e os perfis dos interessados. O melhor jeito de evitar problemas é escolher quem você quer e quando você quiser.
Se você vai SE HOSPEDAR no sofá alheio 20
Crie um perfil completo
Seja franco
Se o viajante to mar alguma atitude que te incomode, con verse com ele. Na m aioria das vezes, a atit ude incômoda é resu ltado de diferenças cu lturais. Em último caso , você tem o direito de pedir pra pessoa sair.
Crie sua conta e faça contatos antes de cair na estrada. É bem mais fácil conseguir um sofá quando você tem um feedback de out ros membros no seu perfil.
e Planeje flexibilidnãad o te hospedar
m Os membros pode gumas cê gostaria e em al pelo tempo que vo gum al r uito difícil acha cidades pode ser m vel pode ser imprevisí sofá. Couch Surfing aça! e essa é parte da gr
Não deixe pra última hora
Você deve procurar sofás pelo menos uma semana antes de partir. Escreva um pedido personalizado para ter mais chances de ser aceito. No site existem dicas de como escrever um bom pedido. MEME novembro 2010
Tenha dinh eiro reser va
Planeje-se p ara a possibilidade de ficar em um hostel caso não con siga um anfitrião ou algo inesperado ac onteça. E tenha sem pre com você um guia e um mapa da cid ade. Para saber mais acesse: www.couchsurfing.org
“Boa noite! Meu nome é Silvia Machete, que rima com raquete, chacrete, corvete e com tudo o que a imaginação masculina pensar”.
para músicas românticas
Performance safada
A cantora performĂĄtica Silvia Machete canta e encanta o pĂşblico por onde passa. Saiba mais sobre ela na entrevista que ela concedeu em sua passagem por Bauru, SP.
É de forma irreverente e debochada que a cantora carioca se apresenta e sobe aos palcos do Sesc de Bauru pela primeira vez. Quem passou à tarde pelo Sesc e teve a oportunidade de assistir a um pouco da passagem de som da banda, com certeza, deve ter se encantando com a voz de Silvia, isso é fato. Só acho que o espectador transeunte não teria a ideia de que nem um quarto do charme e da magia da apresentação estava sendo mostrado. É que, de um jeito mais tímido, em baixo de seu Wayfarer e jaqueta de frio, Silvia guardava a artista circense para mais tarde. Ressurgida com muito glitter, vestidinho colado e pomba na cabeça a cantora cantou e encantou, esbanjando sua simpatia que contagia e arranca risadas da pateia. Silvia interagiu com o público a noite inteira: chamou gente pra dançar coladinho com ela, ensinou-os a falar inglês numa brincadeira. Bamboleou em cima do palco enquanto enrolava um cigarro de orégano e, depois de tomar um drink azul, começou a soltar bolas de sabão pela boca. Trunfo da performance também são os músicos que acompanham Silvia. De fisionomia aparentemente séria, eles caem na brincadeira da cantora, até na hora em que Silvia veste uma peruca dourada no guitarrista enquanto ele sola Sweet Child of Mine. Aliás, os arranjos escolhidos para as releituras de clássicos chamam a atenção pelo tom moderno e a presença de guitarras um pouco mais pesadas e ressaltantes. A cantora com pinta de pin-up moderna e dona do hino que diz que “toda bêbada canta”, falou sobre sua carreira, música e me contou da “safadeza bonitinha” do povo brasileiro.
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Como foi o seu começo de carreira?
Eu vim para o Brasil depois de ter morado muito tempo fora, lá eu trabalhava com teatro de rua e circo. Decidi que queria cantar depois que fiz o papel de uma cantora em uma peça circense em Nova York. Mas eu sempre cantei desde pequena e sempre tive o sonho de ser cantora. E depois de voltar para o Brasil e de ter me separado do meu parceiro de longa data, eu resolvi vir pra cá e realizar esse sonho, e aí foi que eu gravei o meu primeiro CD, o “Bomb of Love”, e depois o DVD “Eu não sou nenhuma santa”, e agora eu estou morando aqui no Brasil.
Já se apresentou fazendo performances em mais de trinta países, como foi a recepção lá fora? No exterior as pessoas respeitam mais os artistas?
O público é muito carinhoso sempre, não interessa onde você está. Eu acho que lá fora realmente tem um valor muito forte a cultura, é claro que você é muito bem recebido quando você é de fora, assim como a gente recebe as pessoas de fora. Nós fomos muito bem recebidos, é muito bom ser artista brasileiro lá fora.
Como nasceu a ideia de unir música à performance?
Foi uma coisa muito natural, como eu já fazia a performance, depois que eu fiz esse papel de cantora numa peça, eu realmente decidi: “Não, eu
tenho que ser cantora e fazer um show diferente com essas coisas que eu já faço”. Então juntei todas as coisas que eu sei fazer e coloquei tudo numa coisa só.
O subtítulo do deu primeiro álbum é: “Música safada para corações românticos”, como você explica esse subtítulo?
É um pouco de como eu vejo o brasileiro, é um povo muito romântico e ao mesmo tempo safado, mas é uma safadeza muito bonitinha, sem coisas ruins, é uma coisa muito boa.
Suas músicas têm um bom tom de humor, é esse o jeito que você encontrou para tratar de uma forma mais leve o amor?
É, eu acho que eu tento escrever e passar na música um pouco desse amor contemporâneo que a gente vive, que apesar de leve é muito profundo. Eu vou a fundo nas minhas relações, mas tem que também ter leveza, tem que ter humor... Eu acho que amor sem humor não funciona.
O repertório do seu primeiro CD é super eclético, você canta até em inglês, por que cantar em inglês?
Ah, eu sei falar em inglês então por que não cantar em inglês? E é uma outra forma de cantar, a voz quando você canta em inglês ela está colocada de outra forma, então é legal poder cantar em outras línguas, eu canto em francês, eu pretendo apren-
der uma música em alemão, eu gosto dessa possibilidade de poder misturar um monte de tipos de músicas.
Você é uma mistura de ritmo e estilos, é “santa e devassa”, como definiria o seu som?
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Eu ouço muita música, e eu me inspiro em várias coisas, como a Johnny Michel que é uma cantora canadense folk, e ouço coisas que me tocaram muito como David Byrne, mas ouço também som nacional como Caetano Veloso... Eu gosto de música e eu aprendo muito ouvindo música, então na hora de fazer um repertório eu estou tocando aquilo que me toca de alguma forma ou porque eu me divirto muito ou porque eu me identifico com aquilo. Eu tenho a impressão de que meu ultimo CD que acabou de sair é bem mais maduro que o primeiro, então é uma questão de evolução.
O que você definiria que é influência chave na sua música?
Ai, eu não sei... Tem uma mistura muito grande, porque ao mesmo tempo em que eu tenho contato com algumas músicas que não são brasileiras, eu sou muito brasileira... Eu amo Bororó, Marcos Valle, Hyldon... Eu acho que eu gosto de fazer música feminina e engraçada também.
Você ouvia muita música em casa?
Eu ouvi muita música com meus pais, meu pai to-
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cava violão e minha família é totalmente musical, meus irmãos são músicos: um toca com o Martinho da Villa outro com Martinália... Então foi quase impossível não entrar para esse mundo, eu até tentei resistir, tanto que eu entrei tarde, aos trinta.
Qual é o álbum não sai do seu cd player?
No momento eu tenho ouvido o Soft Machine, que é uma banda dos anos 70 bem rock’n’roll que é linda, é incrível. Eu quero até fazer alguma coisa com as músicas deles.
O cenário da MPB atual vive um boom de vozes femininas...
É, e eu acho todas umas chatas, confesso logo de uma vez, é sempre a mesma coisa, tirando algumas exceções. Todas cantam bem e são ótimas cantoras, mas falta personalidade, acho que porque elas são muito jovens.
Rio de Janeiro ou Nova York?
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(Risos) Páreo duro! Deixa-me explicar: quando eu estou em Nova York eu penso no Rio, quando eu estou no Rio eu penso em Nova York!
O tropical sacana de Silvia Machete Quatro anos separam Extravaganza de Bomb of Love - Música Safada para Corações Românticos (2006), disco de estreia da artista, e as incertezas acerca do lançamento se fizeram presentes. “Este é um trabalho que foi desafiador, por ter que me firmar como uma cantora”, conta ela. Machete, contudo, decidiu seguir seu feeling, mesmo tendo a visão de que as vias mais fáceis para o sucesso possivelmente seriam aquelas com as quais o público poderia se encontrar mais familiarizado. A cantora não quis o básico para seu novo disco. Ao ouvir a faixa “Tropical Extravaganza”, a porção latina do álbum se mostra mais evidente, até em tom de deboche - contando com metais marcantes e diversos “ai, ai, ai”. Entretanto, é em sua versão para “A Cigarra”, homenagem feita à argentina Mercedes Sosa, que Silvia Machete passa por outro tipo de sonoridade, resgatando as influências latinas, mas sem recorrer a estereótipos. A marimba, comumente encontrada nas produções musicais latino-americanas, também marca presença no disco. “É um instrumento bastante extravagante”, caracteriza. Segundo ela, montar um álbum que passasse pela latinidade e ao mesmo tempo por faixas com mistura de marchinhas ao rock (como é o “Vou pra Rua”), baladas (“Feminino Frágil”, composta com Erasmo Carlos), um clássico de Itamar Assumpção com cara nova (“Noite Torta”) e aspectos circenses (“Sábado e Domingo”) consistiu em um exercício de quebra-cabeças. “Você levanta várias músicas, ensaia e vê o que é mais coerente”, explica. Além do passeio pelos sons diferenciados, Machete também não se vale do “mais do mesmo” na hora de buscar canções antigas para regravações. Além dos já citados Itamar Assumpção e Mercedes Sosa, ela presta homenagem a Jorge Mautner, com a nada ingênua “Manjar de Reis”. “Adoro procurar as coisas escondidas e há tanto material bom”, diz. MM MEME novembro 2010
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Vazamento de luz, ou light leak, é o nome dado quando a luz entra na câmera fotográfica e super expõem o filme, deixando manchas na foto.
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http://www.flickr.com/photos/x_brian_x/
É geralmente considerado um problema grave, que deve ser resolvido com a vedação das câmeras. Mas os adeptos da lomografia e proprietários de câmeras como a Holga consideram esses vazamentos artísticos e um imprevisto bem-vindo.
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http://www.flickr.com/photos/west-park/
http://www.flickr.com/photos/gustavominas/
http://www.flickr.com/photos/arthurjohnpicton/
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http://www.flickr.com/photos/tranbina/
http://www.flickr.com/photos/gustavominas/
Lomografia é um movimento mundial de pessoas que não abandonaram as câmeras analógicas e os filmes. Mais que isso, essas pessoas utilizam as chamadas “toy câmeras”, câmeras de plástico sem precisão e sem qualidade técnica, que produzem fotos surreais e fantasiosas. A graça está na imprevisibilidade, em tirar a foto sem pensar e não saber como ela vai ficar.
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Para saber mais: www.lomography.com.br/ MEME novembro 2010 http://www.flickr.com/photos/stephaniekac/
Filosofia Para o filósofo dinamarquês, a angústia é o fruto estonteante da liberdade humana. Descubra esse paradoxo
José Francisco Botelho
Ao longo do século 20, poucas correntes filosóficas fizeram tanto sucesso quanto o existencialismo – escola de pensamento que sublinha a reflexão sobre o absurdo da vida humana, deixando de lado a busca pela verdade suprema ou o bem absoluto. Após duas guerras mundiais, genocídios, fracassos ideológicos e algumas bombas atômicas, esse elegante evangelho do desespero caiu no gosto de pensadores profissionais e leigos. No século passado, a figura mais célebre do cânone existencial foi sem dúvida o materialista Jean-Paul Sartre: graças a ele, o existencialismo acabou associado a um ateísmo militante que, em momentos extremos, beira a intolerância contra qualquer forma de religiosidade. Vale lembrar, no entanto, que o pai do pensamento existencialista moderno não foi um ateu, nem mesmo um agnóstico, mas um homem fervorosamente religioso que via no cristianismo sincero uma afirmação de individualismo e rebeldia: o dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855). Inimigo declarado de todos os sistemas, Kierkegaard escreveu uma obra cheia de exaltação, espiritualidade e agonia. Seus livros são, ao mesmo tempo, um dilacerante testemunho de fé e uma virulenta zombaria contra a sociedade europeia do século 19. Para ele, a triunfante feiura da Revolução Industrial e a empolada moralidade da burguesia estavam criando uma civilização de pseudoindivíduos acostumados a viver sem paixão e conformados com o próprio tédio. Em um de seus textos, ele escreve com delicioso azedume: “A maior parte da humanidade hoje é composta por chatos. E ninguém será tão chato a ponto de negar essa verdade”. Foi por causa de sua arrasadora honestidade intelectual que esse cristão chegou a influenciar, 100 anos após sua morte, toda uma geração de descrentes. Com efeito, o pensamento de Kierkegaard tem ressonâncias que vão muito além da fé (ou da falta dela). Isso porque o >>
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tema mais prolífico e eloquente na obra do cristianíssimo rebelde dinamarquês é um daqueles assuntos que jamais envelhecem, e que podemos realmente chamar de universais: a angústia da condição humana.
Mal de família
E é nessa incapacidade de prever, de explicar ou de controlar nossa própria estadia sobre a Terra que Kierkegaard baseia seu conceito de angústia.
Para compreender o gênio conturbado de Kierkegaard, é preciso entreabrir o baú de sua história familiar. Michael Kierkegaard, pai do filósofo, nasceu na miséria nas charnecas gélidas da Jutlândia, no norte da Dinamarca, e passou a infância pastoreando rebanhos cudo contra o mundo. alheios debaixo de chuvas, ventanias e granizos. Era Aos 24 anos, Kierkegaard quase conseguiu livrar-se um garoto profundamente religioso e, por isso mesmo, de sua herança de culpa e melancolia: foi nessa época não compreendia como Deus podia tratá-lo com tanta que se apaixonou por Regine Olsen, uma garota bela, indiferença. Rezava constantemente por uma vida meculta e abastada. Após um namoro platônico, ambos lhor, mas seus apelos pareciam cair em moucos ouvidos noivaram. Dois dias após o noivado, contudo, Kierkegdivinos. Certo dia, quando tinha 10 anos, Michael se aard teve uma misteriosa crise de pânico. Subitamente, revoltou contra aquela cósmica falta de consideração: o compromisso pareceu-lhe um grande erro – e Soren subiu à encosta de um penhasco e, com o punho erguiacabou por repudiar Regine sem qualquer explicação. do contra o céu ventoso e gelado, lançou uma terrível e 38 solene maldição contra Deus. Até hoje ninguém sabe ao certo por que o filósofo rejeitou a mulher que amava. Nos anos seguintes, Michael Kierkegaard mudouSeja como for, o fato é que Kierkegaard acreditase para Copenhague e tornou-se um comerciante va-se incapaz de levar uma vida normal. Em vez de imensamente rico. Mas a lembrança de sua épica lamuriar-se, contudo, ele resolveu transformar sua blasfêmia perseguia-o como uma sombra. Acabou se miséria em objeto de reflexão. Se seu destino era a inconvencendo de que a maldição se voltaria contra ele: felicidade, ele seria apaixonadamente infeliz – o que, Deus, mais cedo ou mais tarde, haveria de punir sua em todo caso, parecia-lhe mais interessante que ser petulância. A sina familiar sustentou sua paranoia: ele alegremente tedioso. se casou duas vezes, e duas vezes tornou-se viúvo; dos sete filhos que teve, cinco morreram ainda moços. Um dos sobreviventes foi precisamente o caçula Soren – Existência X essência que teve uma infância soturna, marcada pelas mortes consecutivas dos irmãos e assombrada pelo temperaAo longo dos 20 anos seguintes, mergulhado na mento sinistro do pai. solidão, remoendo suas frustrações e pensando sempre Soren Kierkegaard herdou a religiosidade atorem Regine Olsen (que se casara com outro homem), mentada de Michael e passou a juventude obcecado Kierkegaard lançou as bases do existencialismo mopelo pecado e a culpa. Sua tábua de salvação foi a filoderno em obras como Ou Isso ou Aquilo, Tremor e Tesofia. Ainda moço, entregou- se ao estudo dos penmor e O Conceito de Angústia. Para compreender sua sadores gregos. Tinha especial apreço por Sócrates – obra, antes é preciso recapitular duas ideias de imensa com ele, aprendeu a esgrimir a lâmina da ironia. Nos importância para toda a história do pensamento: os anos seguintes, o sarcasmo e a maledicência erudita conceitos de “essência” e “existência”. serviriam ao retraído Soren como uma espécie de esAo escrever seus Diálogos, no século 5 a.C., Platão MEME novembro 2010
que a Razão não nos decifra, já que os conceitos não legou à filosofia a divisão entre o mundo das coisas nos enquadram, como poderíamos quantificar a nós e o mundo das ideias – ou seja, entre os seres conmesmos? E é nessa incapacidade de prever, de explicar cretos e os conceitos racionais. Para Platão, as ideias ou de controlar nossa própria estadia sobre a Terra que são anteriores (e superiores) às coisas. Os indivíduos Kierkegaard baseia seu conceito de angústia. seriam apenas manifestações mais ou menos confusas e deturpadas de conceitos gerais, ou “essências” – por isso, esse viés filosófico foi chamado de “essencialisAngústia terapêutica mo”. Ao longo dos séculos, esse modo de pensar levou à construção de grandes sistemas abstratos em que a Segundo Kierkegaard, a angústia é o fruto estonexistência individual se dilui na generalização: sob tal teante da liberdade humana. Para compreender essa ponto de vista, a ideia unificada de “humanidade” seria ideia aparentemente contraditória, é preciso esmiuçar mais importante e significativa do que as estranhezas a ambígua teologia do cristão mais amado pelos ateus. e particularidades de cada um dos 6 bilhões de seres Kierkegaard acreditava apaixonadamente em Deus, humanos que hoje habitam a Terra. mas também afirmava que sua existência não podia ser Foi contra essa obsessão de unanimidade que Kiprovada pela razão. A divindade de Kierkegaard estava erkegaard se rebelou. Para o filósofo dinamarquês, o que além da inteligência humana – e de nada adiantaria realmente importava não era a essência do todo, mas a recorrer a Ele em busca de dicas ou soluções para nosexistência de cada ser em particular – inclusive naquilo sos dilemas. Nesse sentido, o livre arbítrio do ser huque possa ter de excêntrico, de louco e de inclassificámano é absoluto e inviolável: Deus jamais interfere em vel. A existência é, precisamente, aquilo que escapa ao um único ato de suas criaturas, por mais desastrosas crivo do pensamento, o cerne irracional que torna cada que venham a ser suas consequências. Quando Adão criatura única, insubstituível. As verdades subjetivas – mordeu a fruta proibida, cometendo o pecado original próprias e inseparáveis de cada ser humano – são mais e condenando toda sua descendência a uma história de importantes que as verdades objetivas: a ideia geral barbaridades e sofrimentos, a mão de Jeová não se esde humanidade pode servir para livros de biologia ou tendeu para impedi-lo – e a culpa disso tudo não jaz manuais psicológicos, mas jamais dará conta de explicar na omissão divina, mas na escolha de nosso tataravô ou definir plenamente um único indivíduo. Nós somos mítico. ou fomos criaturas ferozmente singulares, irredutíveis a Alguém poderia argumentar: mas, antes de comer a ideias abstratas. Somos, fomos e seremos, no fundo de fruta proibida, Adão desconhecia o bem e o mal; como nós mesmos, inexplicáveis. E também imprevisíveis: já poderia adivinhar que sua escolha traria milênios de desgraça? E é precisamente aí que se encontra a originalidade de Kierkegaard. Para ele, a cada momento de nossas vidas, somos como Adão no Paraíso, com o terrível pomo nas mãos, obrigados a fazer escolhas potencialmente catastróficas – e sem nenhuma força superior que nos guie e coordene, ou que ao menos nos impeça de errar. Distante de Deus, e perante a falência da razão, o homem carece das ferramentas necessárias para se assegurar de que escolhe o caminho certo. A angústia é, precisamente, a consciência dessa liberdade sem freios, sem bordas e sem qualquer segurança – a tontura diante do abismo de possibilidades que se abre diante de nós a cada segundo. >>
Se o homem fosse um animal ou um anjo, não sentiria angústia. Mas, sendo uma síntese, angustia-se. E tanto mais sente a angústia, quanto mais humano for.
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No entanto, Kierkegaard não vê a angústia como uma patologia a ser curada – para ele, meditar sobre nossa sombria companheira pode ser terapêutico. “Aprender a angustiar-se é uma aventura que todos têm de experimentar”, escreve ele. “O homem educado pela angústia chegou ao supremo saber: ele compreende que não pode exigir absolutamente nada da vida; que o horror, o aniquilamento e a perdição moram ao lado, e que o mesmo ocorre com todos os homens”. A sabedoria existencial está em aceitar nossa insegurança como a outra face de nossa liberdade – uma espécie de barganha entre Deus e suas criaturas. Condenado a dar saltos no escuro, o homem tem de assumir plena responsabilidade pelos inevitáveis erros de sua frágil inteligência – lembrando que, a cada segundo, pode enterrar os dentes no fruto fatídico. Em seus últimos anos, Kierkegaard afundou ainda mais no ostracismo. Em uma série de artigos publicados na imprensa, lançou ataques à moral protestante, e suas diatribes lhe renderam a execração pública – coisa de pouca monta para um homem que sempre fora solitário. O único ser humano cuja opinião lhe importava talvez fosse Regine, a mulher que ele continuara amando por toda vida, sem jamais ter coragem de lhe explicar seus confusos sentimentos. Viu-a pela última vez em 1855, num passeio pelas ruas de Copenhague. Regina estava prestes a sair do país, pois seu marido fora apontado para um posto administrativo no exterior. O filósofo e sua musa cumprimentaram-se cortesmente. “Que Deus o acompanhe, e que tudo corra bem para você”, disse Regine, e se foi. Nunca mais se falaram. Kierkegaard morreu oito meses depois, assombrado até o fim pela misteriosa renúncia à mulher amada – uma dessas escolhas irracionais e arbitrárias que, segundo o próprio filósofo, norteiam a passagem do homem sobre a Terra. Kierkegaard bebeu até a última gota seu cálice de angústia, seguindo à risca seu próprio ideal de humanidade. Pois, como ele escreveu em um de seus tratados: “Se o homem fosse um animal ou um anjo, não sentiria angústia. Mas, sendo uma síntese, angustia-se. E tanto mais sente a angústia, quanto mais humano for” MM
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A angústia é, precisamente, a consciência dessa liberdade sem freios, sem bordas e sem qualquer segurança – a tontura diante do abismo de possibilidades que se abre diante de nós a cada segundo.
DESIGN
Cursos extras
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Muitas vezes o que distingue um bom designer do excelente é o bom uso da tipografia. E para isso é necessário conhecer muito bem a família das fontes, a utilização adequada a cada tipo de trabalho, e perceber facilmente como e onde utilizar determinada fonte. São as sutilezas que fazem a diferença. No país existem várias opções de cursos voltados pra essa área. Aqui estão alguns exemplos:
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CALIGRAFIA PARA DESIGNERS O curso oferece uma introdução ao universo das letras, tanto em seu contexto histórico quanto prático. Através de exercícios caligráficos e observação de trabalhos nacionais e internacionais, o participante pode aprofundar seu olhar na escolha de fontes, concepção de marcas, e detalhamento das letras em diferentes contextos, além de compreender melhor os fundamentos da forma tipográfica. A grade conta com um breve histórico da escrita e caligrafia ocidental, manejo e estudo prático da pena quadrada, relação da tipografia com a caligrafia e demonstração da pena de bico, entre outros assuntos. O curso é ministrado por Andréa Branco. www.andreabranco.com.br/
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Letramão é um curso que busca explorar o lado expressivo da caligrafia, ampliando as possibilidades de utilização da escrita como ferramenta criativa, voltada para o desenvolvimento de letterings, frases e textos em peças gráficas. O participante irá praticar exercícios gestuais com diferentes instrumentos caligráficos, tais como a pena de bambú e a cola-pen. Ao final são produzidos ‘ex libris’ e livretos caligráficos. A grade conta com um histórico da caligrafia itálica, demonstração de diferentes ferramentas, estudo de traços, exercícios práticos e produção de um livreto caligráfico.
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O Curso Básico de Fontlab aborda aspectos teóricos e práticos do desenvolvimento de uma fonte digital. O participante será apresentado às ferramentas, técnicas de desenho de caracteres a mão e formatos de fontes, utilizando o software FontLab para realizar exercícios e produzir digitalmente sua tipografia. A grade conta com anatomia básica dos tipos, técnicas de desenho, apresentação e prática do FontLab e noções de espaçamento. O curso é ministrado por Eduílson Coan. www.tipocracia.com.br/mais/fontlab/ MEME novembro 2010
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Receita Essa é uma receita adaptada da Bruschetta. Originária da região central da Itália, a Bruschetta original é frita, mas para torná-la mais saudável, foi convertida à assada. Essa receita é super fácil e rápida de ser feita e serve como aperitivo ou jantar, para servir os amigos ou comer sozinho. E você pode ainda ainda fazer a sua própria versão, trocando os ingredientes pelo que você preferir. Fácil e versátil!
Ingredientes
Modo de preparo
> pão italiano > tomate > cebola > queijo mussarela > azeite > manjericão
Corte o pão italiano em fatias não muito finas e espalhe-as numa assadeira grande. Corte a cebola e o tomate em cubinhos e espalhe nas fatias. Jogue azeite por cima. O queijo vai em seguida. Ele pode ser cortado em cubos ou a fatia fininha pode cobrir todo o pão. Por último coloque o manjericão (que pode ser substituído por orégano) e deixe no forno médio de 15 a 20 minutos. Tá pronto!
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FOTO: http://www.flickr.com/photos/paulozapella/
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Crônica
(pausa para um pequeno absurdo) Renata Penzani
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estavam acostumados a ter espaço para se esticar, me rendeu uma íngua e ainda descansa, ileso, sob as honras de “dente do juízo”. Nem juízo ele trouxe, nem um pouquinho que seja, já que escrevi mais de 1600 caracteres sobre um pequeno pedaço de cálcio enraizado na minha gengiva – mas temos de ser justos com as bobagens, se quisermos escrever sobre o gênero humano; estaríamos suprimindo grande parte de sua verdade se as ignorássemos sempre. O irônico é que lamento este pequeno drama enquanto dirijo a caminho do dentista. O dente do juízo me venceu, mudou a minha rotina, mas, agora, munida de espátulas, anestésicos e algodão, dou fim ao dilema.
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esisto. Morre hoje minha última esperança de dar alguma dignidade à minha raça. Esperei, tive cautela. Vim no momento em que a serenidade predominava na pessoa em questão, hospedeira de minha odontológica missão pelo bem de meus pares. Só o que consegui foram dores de cabeça, inchaços dolorosos, palavrões. Não entendem que sou imperfeição necessária, que faço parte desses pequenos absurdos que os compõem. Para eles, sou imprestável. Sou como um cravo no beijinho: subestimado e injustiçado. O que é irônico é que lamento este pequeno drama enquanto caminho em direção à clínica onde arrancam todos que são como eu. Mas, munido de coragem e anos de repressão acumulada, dou fim ao dilema. Daqui, eu não saio. – pensava o pequeno dente, lembrando Clarice: “até cortar os defeitos pode ser perigoso – nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro”.
FOTO: http://www.flickr.com/photos/paulozapella/
H
oje me sinto ridiculamente humana. Meu dente do siso, chamado “dente do juízo”, irrompeu na minha gengiva. Um pouco tardio, é verdade, mas veio, e não é pela demora que se tornou mais bem quisto, mais necessário. Continua dispensável, fugaz, inútil, avermelhando a gengiva que o rodeia. E, ainda assim, lá está, atrás de todos os dentes, ocupando um espaço morto na minha boca. Um zero à esquerda, não fosse verdade que está à direita. Veio, e veio sozinho. Seus únicos comparsas ainda se escondem, inclusos, fincados nas profundezas do meu abismo bucal, descobertos apenas por Raio-x, os covarde. O dente do siso faz parte dessa quantidade enorme de coisas que não mudam o curso da humanidade em nenhuma medida, que não fazem bem e não chegam a fazer mal: cócegas na grande trama universal. É como o cravo no beijinho, o dente do siso, absolutamente gratuito. Não consegue nem mesmo angariar uma cárie, como o fazem os outros dentes, que, investidos de uma fome insaciável de glicose, se deliciam com todo tipo de açúcar. O dente do siso não dura tanto. E nem mesmo as comidas chegam até onde eles estão, parando nos primeiros dentes, maiores e mais espaçosos. O siso morre virgem, triste, desrespeitado. Pequeno absurdo que nos compõe. Outro mistério sobre ele é que nunca sabem como grafá-lo. Dentes do “cizo” e do “sizo” pululam aos montes em suas ortografias tortas sem que ninguém dê conta do erro. Nem mesmo os gramáticos os tais dentes parecem abalar. Mas, nesse momento, me abalam, e contrariam toda a lógica das coisas que não fazem mal, mas não chegam a fazer mal. O dente chegou, abalou a rotina dos meus dentes que