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“Os Povos são como as árvores cortando-lhes as raízes secam” - A. Lourenço Fontes
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“Os Povos são como as árvores cortando-lhes as raízes secam” - A. Lourenço Fontes
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“Os Povos são como as árvores cortando-lhes as raízes secam” - A. Lourenço Fontes
Preservação, Valorição e Salvaguarda de Heranças Culturais Antigas - Lendas
Nesta Publicação ...
O segundo capítulo é dedicado à tradição oral, uma das mais importantes tradições para a preservação e passagem das lendas de geração em geração. Aqui, o objetivo foi entender a tradição oral, a sua importância e também o momento em que as lendas deixam de ser exclusivamente ligadas à memória oral e passam à ser preservadas através da escrita e consequentemente dos livros.
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O texto apresentado nesta publicação divide-se em dois capítulos. O primeiro capítulo visa entender e perceber aspetos ligados ao conceito, origem, temas e construção de uma lenda na identidade cultural.
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Capítulo I
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Conceito, Origem, Temas e Construção de uma Lenda na Identidade Cultural
Capitulo I
Preservação, Valorição e Salvaguarda de Heranças Culturais Antigas - Lendas
Conceito, Origem, Temas e Construção de uma Lenda na Identidade Cultural Embora, atualmente quando ouvimos a palavra lenda esta nos possa apenas parecer uma história curiosa de outra época, a verdade é que estas histórias curiosas com nuances de realidades têm origens já muito antigas e durante muitos anos foram passadas de geração em geração e perpetuadas na cultura dos povos, interferindo, inclusive, na formação da identidade de uma cultura.
Conceito Essa diversidade pode ser percebida na ambiguidade do termo lenda, que vai desde uma aceitação tão limitada quanto a do subgênero narrativo, até à sua consideração como uma imensa massa de material narrativa, que se formaliza de forma diferente a cada ato de comunicação. Essa última concepção é o que torna a lenda uma fonte inesgotável do que poderíamos chamar de “sonhos temáticos”, ou seja, desdobramentos concatenados de esquemas narrativos que possuem elementos comuns. (Tovar, 1989, pp. 12-13).
Acontece, porém, que a própria lenda recai sobre vários gêneros narrativos, poéticos e dramáticos, de modo que não parece que possa ser classificada em tipos homólogos aos mencionados. 1
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Primeiramente e segundo o que nos é possível apurar no livro “La Légende: Anthropologie, Histoíre, Littérature” da casa de velazquez e com diferentes textos abordados por diversos convidados, o conceito de lenda é por muitos considerado bastante difícil de determinar. Nele acabam por se encontrar elementos com caracter mítico, mágico, religioso, lúdico, etc. E a verdade é que esta diversidade temática se revela, tornado a lenda uma forma suscetível de ser incardinada em um subgênero literário e vizinho de outros como a história, a fábula, etc.
Capitulo I
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“A palavra lenda provém do baixo latim legenda, que significa “o que deve ser lido”. No princípio, as lendas constituíam uma compilação da vida dos santos, dos mártires (Voragine); eram lidas nos refeitórios dos conventos. Com o tempo ingressaram na vida profana; essas narrações populares, baseadas em fatos históricos precisos, não tardaram a evoluir e embelezar-se. Atualmente, a lenda, transformada pela tradição, é o produto inconsciente da imaginação popular. Desta forma o herói sujeito a dados históricos, reflete os anseios de um grupo ou de um povo; sua conduta depõe a favor de uma ação ou de uma idéia cujo objetivo é arrastar outros indivíduos para o mesmo caminho.” - J. P. Bayard
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Imagem 2 | Alusão às lendas do Imaginário Popular , por memórias da poesia popular, n.d
Imagem 1 | Representação da Vida dos Santos, Ilustração de Sedmak, por Getty Images, n.d
No entanto, e para ser mais concreta, no significado do termo lenda, segundo Jean Pierre Bayard e o seu livro “História das Lendas” (p.10) :
Para completar esta esta primeira ideia de Bayard e segundo Fernanda Frazão no livro “ Lendas de Portugal” (p.10): “ É de sua característica fundamental o relato de factos tidos como acontecidos e daí o serem localizadas no espaço e no tempo. Em qualquer casa, povoado, vila, cidade ocorreram e ocorrem em qualquer altura acontecimentos e sucessos de vária índole.Pouco a pouco, o fundo real do facto vai-se diluindo e os pormenores esquecem-se ou substituem-se por outros, formando-se deste modo um produto meio real meio fantástico : a lenda. Nem todas estas narrativas têm porém, um fundamento histórico, já que algumas delas se formam para explicar um determinado fenómeno físico ou a forma de um animal ou legume.” - F. Frazão
Capitulo I
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E a Origem das Lendas? Algumas lendas começaram nas crenças dos primeiros colonos indígenas e dos seus atuais descendentes, outras são uma mistura dessas crenças com as trazidas pelos espanhóis ao chegarem ao continente. Estes deram assim origem a muitas das lendas que conhecemos hoje. (Museu Nacional de costa rica, 2018) Para ser mais concreta e segundo Bayard (n.d, p.12) : “ A lenda existe desde a formação do clã, da sociedade e os temas desenvolvem-se com preocupações semelhantes em todas as culturas.
“ (...) A divulgação dos contos talvez nos surpreenda em função da época mas, na realidade, os países comunicavam-se entre si muito antes das viagens de Cristóvão Colombo, Magellan ou Marco Polo. Teria havido navegadores, verdadeiros aventureiros, que transportavam ensinamento de uma a outra civilização e o ritmo da vida era assim o mesmo em cada país... Concluindo, não se pode afirmar que houve uma única invenção, mas apenas a Índia possui os documentos antigos onde os mitos estão registrados.” 3
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Imagem 3 | Os povos Indígenas , por AH Aventuras na História, n.d
Esta literatura coletiva pode ser proveniente de um único mito propalado de pais em pais A Índia foi a primeira a fornecer-nos o índice escrito deste folclore mundial, o que não implica que a Índia seja o seu berço. Divulgados oralmente, estes contos foram talvez escritos e conservados noutros países, mas a sua mensagem não chegou até nós: por muito tempo ignorou-se as riquezas contidas nas pirâmides cujos segredos ainda não foram completamente desvendados (...)”
Capitulo I
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A Base para a Construção de uma Lenda na Identidade Cultural Maior parte das lendas são demasiado locais, alusivas, fragmentárias e incompletas, inclusive esta manifestação popular nasce e propaga-se, em geral, ambientada pelo caracter e linguagem do povo que a inventa ou a aceita e pelas circunstâncias locais e temporais em que se produzem, são determinantes de um estado de cultura, imprimindo assim um cunho específico, nacional ou local, tanto nas criações como nas importações. (Frazao, n.d, p.10)
básica. Utilizando determinado vocabulário – diz igualmente Havelock – “ sabemos de uma vez por todas (...) com quem devemos ou não casar, com quem devemos andar, quem teremos de amar ou odiar, o que teremos de comer, como devemos vestir-nos (...)”. Demostrar-se, deste modo, como o comportamento social se fundamenta em programas que correspondem aos ritos da memória coletiva que a cultura de uma comunidade vai perpetuando (Connerton: 1993).
Segundo Alexandre parafita no seu livro “A comunicação e a literatura popular” (pp.2930) conseguimos entender que “ (...) a partir da própria fala de um povo, e à margem dos documentos escritos, é possível constatar a existência de uma convenção linguística que deriva da tanto da experiência comum daqueles que praticam essa língua e resulta no estabelecimento de uma ordem, um senso comum, que vão sendo comunicados às novas gerações. Este senso comum permite que toda a comunidade aceite como normais, e, portanto, legítimas, certas disposições verbais, e outras o tomem como absurdas e naturalmente ilegítimas.
Trata-se afinal, da sua identidade, isto é, de um conjunto de indicadores que permitem reconhecer o grupo como unidade e definem a tabela de valores que fazem sobrepor a representação e as práticas do grupo às decisões individuais e subjetivas.”
Por isso, há particularidades na disposição das palavras que permitem, segundo Havelock (s/d:26), identificar automaticamente, “não só um individuo como pertencente a este ou aquele tipo, mas também o género de relações que obrigatoriamente existem entre os diferentes indivíduos. A forma como vive uma família (...), tende a comemorar e conservar os usos de que essas relações necessitam”. É assim possível que, conservando o seu vocabulário e a sua sintaxe, uma cultura primitiva conserva a sua identidade
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Os usos e costumes de uma cultura acabam assim por ser apresentados através da literatura oral, retratando e orientando os comportamentos individuais e sociais. Tal conjunto de conhecimentos e aptidões, que o mesmo é dizer a consciência comum do povo, aparece-nos, assim, consolidado em fórmulas linguísticas memorizadas ritualmente, que se transmitem entre gerações. A transmissão destas memórias acaba por colher proventos de uma certa sequência rítmica, que resulta das palavras agrupadas e do prazer acústico que produzem. A coerência dos elementos sonoros com um plano semântico conveniente, pragmático, aviva a lembrança e facilita na memorização. Deste modo as lendas e outras narrativas acabam por perdurar na memória.”
Capitulo I
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As Temáticas Abordadas nas Lendas em Portugal Quando falamos na identidade cultural, deduzimos também que estas histórias já tão antigas podem,obviamente, ser inseridas dentro de diversas temáticas. Temáticas estas que simbolizam não só as aspirações dos povos, mas também o seu pensamento, sentimentos, desejos e costumes. Tendo em conta a divisão temática da coleção de volumes de Fernanda Frazão é nos possível entender que (Vol.1,p.12) : “ A divisão temática destes volumes seguiu a utilizada por especialistas portugueses, uma vez que os objetivos visados na sua elaboração, não têm carater ciêntifico, mas, por outro lado se deseja que ultrapassem a simples vulgarização e possam ser utilizadas com outras finalidades. Assim, dentro de cada grande capítulo vamos encontrar lendas religiosas, lendas de entidades míticas, lendas eteologicas, lendas históricas e lendas dos mouros e mouras.”
As lendas históricas referem-se a personagens que a história geral assinala, a factos de valor militar ou político, locais e monumentos com tradições. Nestas nem sempre encontramos o elemento maravilhoso que caracteriza as lendas, no entanto é compensado pela feição extraordinária ou pelo simbolismo. (Frazão, n.d, Vol.1, p.14) A lenda da Padeira de Aljubarrota : Brites de Almeida não foi uma mulher vulgar. Era feia, grande, com os cabelos crespos e muito, muito forte. Não se enquadrava nos típicos padrões femininos e tinha um comportamento masculino, o que se refletiu nas profissões que teve ao longo da vida. (...) Mas o destino quis que o barco fosse capturado por piratas mouros e Brites foi vendida como escrava. Com a ajuda de dois outros escravos portugueses conseguiu fugir para Portugal numa embarcação que, apanhada por uma tempestade, veio dar à praia da Ericeira. Procurada ainda pela justiça, Brites cortou os cabelos, disfarçou-se de homem e tornou-se almocreve.
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O dia 14 de Agosto de 1385 amanheceu com os primeiros clamores da batalha de Aljubarrota e Brites não conseguiu resistir ao apelo da sua natureza. Pegou na primeira arma que achou e juntou-se ao exército português que naquele dia derrotou o invasor castelhano. Imagem 4 | Lenda da Padeira de Aljubarrota, por Kcshalowsky, 2012
Chegando a casa cansada mas satisfeita, despertou-a um estranho ruído: dentro do forno estavam sete castelhanos escondidos. Brites pegou na sua pá de padeira e matou-os logo ali. Tomada de zelo nacionalista, liderou um grupo de mulheres que perseguiram os fugitivos castelhanos que ainda se escondiam pelas redondezas. 5
Capitulo I
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Nas lendas religiosas são incluídas as narrativas cristãs referentes à intervenção de nosso senhor e de nossa senhora na vida humana e as lendas de santos (Frazão, n.d, Vol.1, p.12). Para uma noção apresento aqui a lenda da Rainha Santa Isabel : A mulher de D. Dinis, a rainha Santa Isabel, tornou-se célebre pela sua imensa bondade. Ocupava o tempo a fazer bem a quantos a rodeavam, visitando e tratando doentes, distribuindo esmolas pelos pobres. Imagem 5 | Lenda da dama do pé de cabra, por Aw, 2010
Ora, conta a lenda que o rei, já irritado por ela andar sempre misturada com mendigos, a proibiu de dar mais esmolas. Mas, certo dia, vendo-a sair furtivamente do palácio, foi atrás dela e perguntou o que levava escondido por baixo do manto. Era pão. Mas ela, aflita por ter desobedecido ao rei, exclamou: - São rosas, Senhor!
As lendas de entidades míticas são as que têm como personagens o Diabo, fantasmas, gigantes, bruxas, sereias, feiticeiras, monstros e todos os outros entes pertencentes ao maravilhoso popular. (Frazão, n.d, Vol.1, p.12)
- Rosas, em Janeiro?- duvidou ele. De olhos baixos, a rainha Santa Isabel abriu o regaço - e o pão tinha-se transformado em rosas, tão lindas como jamais se viu.
Dom Diogo Lopes, senhor nobre da Biscaia andava à caça nas suas terras, quando foi surpreendido por uma linda dama que lhe cantava. Logo lhe ofereceu o seu coração, os seus vassalos, as suas terras se com ele se casasse. A linda mulher apenas lhe impôs uma condição, a de ele nunca mais se benzer. Já no seu castelo, Dom Diogo deu conta que a dama tinha um pé forcado como o de uma cabra. Viveram felizes muitos anos e tiveram dois filhos: Inigo Guerra e Dona Sol. (...) 6
Imagem 6 | Lenda do milagre das Rosas, por Ricardo Frade, n.d
A lenda da Dama do Pé-de-Cabra é um exemplo desta temática :
Capitulo I
As lendas de mouros e mouras são um caso especial e à parte dentro deste género de literatura popular. As narrativas lendárias de mouros e mouras só aparecem na península ibérica, região afetada no século VIII pelas invasões muçulmanas (Frazão, n.d, Vol.1, p.14). Apresento ainda a lenda da moura floripes: Diz-nos a lenda que aparecia uma senhora toda vestida de branco com os seus compridos cabelos loiros, numas ruas muito estreitinhas da cidade olhanense. Quem a via eram os pescadores que, de madrugada, saíam para o mar. No entanto existem diferentes relatos de pescadores que dizem nunca terem falado com ela, por a recearem. Porém, aconteceu que um dos pescadores – talvez mais atrevido do que os restantes – logrou falar com ela, tendo-lhe perguntado o que lhe houvera acontecido e o motivo de semelhantes aparições. Ela lhe respondeu que havia sido encantada pelo pai, que era mouro.
Imagem 7 | Lenda da moura de Floripes, por Turulia Algarvia, 2015
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Quando os mouros tiveram de fugir do Algarve, encantaram as suas filhas antes de se irem embora. A moura também lhe revelou que apenas existia uma forma de alguém a desencantar, que era ir ter com ela a um certo sítio de barco, que ela própria, orientava, tendo a pessoa que levar duas velas acesas até chegar lá. Se conseguisse chegar ao local esperado com as velas acesas, a moura perdia todo o seu encanto, ganhando a pessoa uma fortuna bastante considerável; se, contudo, não chegasse ao local ou lá chegasse com as velas apagadas, o barco se afundaria e quem fosse lá dentro morreria afogado, continuando a moura encantada. O pescador, após ouvir a história, foi-se embora não aceitando o desafio. E parece que não houve algum pescador que quisesse correr tais riscos, pelo que a moura lá continuou encantada. A lenda termina dizendo-nos que a pobre moura continuou a aparecer durante muito tempo naquelas artérias estreitinhas e que nunca chegou a perder o seu encantamento.
Capitulo I
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As Lendas Etiológicas são lendas que tentam explicar um nome, uma forma, um fenómeno físico. (Frazão, n.d, Vol.1, p.13) A lenda da amendoeira em flor, Algarve : Há muitos séculos, reinava em Chelb, a futura Silves, o rei Ibn-Almundim. Este rei nunca tinha conhecido uma derrota. Um dia, entre os prisioneiros de uma batalha, viu a linda Gilda, uma princesa loira de olhos azuis e porte altivo. Impressionado, o rei mouro deu-lhe a liberdade. Conquistando progressivamente a confiança de Gilda, confessou-lhe o seu amor e pediu-a em casamento. Foram felizes durante algum tempo, até que, um dia, a bela princesa do Norte adoeceu sem razão aparente. Um velho cativo das terras do Norte pediu para ser recebido pelo rei e revelou-lhe que a princesa sofria de nostalgia da neve do seu país distante. Então, Ibn-Almundim mandou plantar por todo o seu reino muitas amendoeiras.
Imagem 8 | Lenda da amendoeira em flor por Marta Faustino, 2015
Na primavera seguinte, o rei levou Gilda à janela do terraço do castelo. Ao ver as flores brancas das amendoeiras, a princesa começou a sentir-se melhor, pois davam-lhe a ilusão da neve. Gilda ficou curada da saudade que sentia. Apôs esta analise conseguimos perceber que as lendas são narrativas de origem popular, criadas e transmitidas oralmente. Nascem da imaginação coletiva ou dos proprios costumes de um grupo de pessoas ou de um povo, sendo que por meio destas histórias, expressam-se fantasias, medos, dúvidas, incompreensões. No entanto, a verdade é que as lendas compreendem muitas temáticas culturais e por isso não combinam só factos irreaie, que são meramente produto da fértil imaginação popular, mas também factos históricos e reais.
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Da Tradição Oral à Escrita Capítulo II
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Capitulo II
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A Tradição Oral A prática de contar histórias oralmente existe desde que o homem tem a habilidade de falar. O objetivo era entreter, informar, incutir moral e valores nas pessoas. A verdade é que o conteúdo destas histórias orais varia de cultura para cultura e pode incluir desde o conceito aqui analisado, as lendas, mas também pode incluir os mitos, histórias da criação, contos de heróis e relatos de migração. A tradição de contar histórias orais tem conotações dos “velhos tempos”, quando as pessoas não tinham nada melhor para fazer do que enrolar uma pedra, sentar ao redor do fogo e contar contos de dias passados, mas na realidade a tradição oral desempenha um papel vital em muitas culturas, e é utilizada para transmitir conhecimentos, valores culturais e sociais e memória coletiva. (Pharis, n.d, p.3)
No seu sentido lato e acordo com Parafita (2005, p. 30), a tradição oral é : “ (...) a transmissão de saberes feita oralmente, pelo povo, de geração em geração, isto é, de pais para filhos ou de avós para netos. Estes saberes tanto podem ser os usos e costumes das comunidades, como podem ser os contos populares, as lendas, os mitos e muitos outros textos que o povo guarda na memória (provérbios, orações, lengalengas, adivinhas, cancioneiros, romanceiros, etc.). Também são conhecidos como patrimônio oral ou patrimônio imaterial. Através deles cada povo marca a sua diferença e encontra-se com as suas raízes, isto é, revela e assume a sua identidade cultural.”
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Preservação, Valorição e Salvaguarda de Heranças Culturais Antigas - Lendas Capitulo II
Imagem 9 | Tradição Oral, Ilustração de Contes de ma histórias Mère l´ oye por Gustave Doré, n.d
Capitulo II
Quando falamos de tradição oral, um conceito ainda importante de mencionar e perceber é a memória individual e colética e o seu papel na tradição oral. Segundo a investigação “ Reminiscênciais.... A tradição oral através de narrativas de vida presentes no oeste de santa catarina” para termos memória individual “ (...) ou seja, pessoal, precisamos de contar com a ajuda das pessoas que estão ao nosso redor, fazendo com que nossa memória seja tratada como coletiva. Estas pessoas ajudam-nos a guardar e a preservar a nossa memória. (...)” (Barbiero, 2015, p.22) Dessa forma, as nossas lembranças não ficam somente nas nossas memórias, mas também nas de quem convive connosco. Mesmo que estas pessoas não tenham presenciado um evento, elas vão ajudar quando precisarmos de recordar. Assim a memória coletiva, segundo (Pires,Batalha e Souza, 2016) pode ser defenida por “ (...) todo um imaginário que faz ressoar em cada um os mesmos significados, as mesmas sensações, o que nos permitir viver em nós, distinguindo-nos dos outros. Quando uma comunidade passa tempo junta, desenvolve as suas formas de simbolismo, de emoção, de lembranças compartilhada, de celebração da própria identidade. Nas comunidades primárias, em etnias muito antigas, essa identidade é forte, já desenvolveu sistemas de coesão. Não precisa de fatores externos para tornar mais forte sua identidade, sua coesão interna.”
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Assim toda a comunidade que possui uma história, possui também lembranças, e essas lembranças são resgatadas através da memória do povo. Todas essas reminiscências são transpassadas para outras gerações no decorrer do tempo. (Pires,Batalha e Souza, 2016, p.28) O importante a reter é que a memória individual e a memória coletiva possuem uma ligação muito grande. A ajuda na recordação de algo acaba por significar um elo nas memórias que acabam por se extremamente necessárias para a reprodução da tradição e da literatura oral. De um modo geral a tradição oral é então um patrimônio histórico e cultural que deve ser mantido pelas pessoas; pois, assim como o conhecimento adquirido, não pode ser roubado. As lembranças guardadas nas memórias jamais deveriam ser apagadas, e, para que haja preservação dessa memória é preciso que exista um compartilhamento de lembranças que a compõem. Assim como era no princípio e com os antigos, as histórias mantidas nas nossas memórias devem ser socializadas,pois quando maior o número de pessoas que as aprendam, menor será o esquecimento completo daquilo que vivenciamos.
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Capitulo II
O Teatro
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Capitulo II
As
“ Os membros das sociedades orais possuíam apenas os recursos da sua memória para, ao longo do tempo, reter e transmitir as representações que lhes eram convenientes de perdurar. Para isso, utilizavam recursos como a dramatização, personalização e artifícios narrativos diversos, a fim de que as representações tivessem mais chances de sobreviver num ambiente composto quase unicamente por memórias humanas. As mensagens linguísticas eram sempre recebidas no tempo e lugar em que eram emitidas. Tanto o emissor quanto o receptor compartilhavam um universo de significado semelhante e todos evoluíam no mesmo universo semântico, no mesmo contexto. Nestas culturas, não existia nenhum modo sistematizado de armazenar as representações para futura reutilização. A transmissão do conhecimento, no transcorrer do tempo, exigia um contínuo recomeço, uma renovação suscetível a alterações visíveis de geração Lendas no Teatropara geração. A história era feita a partir da Uma arte essêncial na Tradição Oralcapacidade de memorização dos membros do grupo social e das suas preferências. Havia, portanto, um registro “incerto” da realidade, fortemente filtrada pelo sujeito da ação. A mediação desse sujeito, nesse tipo de comunicação, era de fundamental importância para a continuidade histórica do conhecimento, pois não havia a escrita. A escrita foi um dos mais importantes desenvolvimentos técnicos do ser humano. Assim como a fala foi o principal instrumento utilizado no tempo da oralidade primária, diversos tipos de sistemas de sinais gráficos, incluindo o alfabeto tornaram- se os instrumentos principais da escrita. 5
Imagem 10| O Teatro Grego como fonte de Tradição Oral, de “German Enchyclopedia” por Joseph Kurschner, 1880
Para além da tradição comum da passagem da tradição, ainda tínhamos presente o teatro que é uma das formas de arte que mais preservava e presenva ainda hoje as lendas. O teatro é uma forma de comunicação organizada em jeito de apelo emocional, não por quem personifica o papel, mas também pela audiência que o confere. Deste modo o povo acaba por reverse nos atos tradicionais. Tanto na antiguidade, tendo o teatro grego como exemplo, onde as escolhas representativas incluíam as lendas e mitos, como na atualidade, principalmente no teatro de rua, as lendas continuam a ser escolha para as representações e são uma das mais presentes formas de tradição oral.
Capitulo II
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Atualmente o teatro continua a ser uma das mais presentes artes na trasmissão da lenda, oral e representativamente. Para além da convencional representação figurativa também se recorre ao teatro das sombras para cativar ainda mais.
Da Tradição oral à Escrita Para a compressão deste ponto apresento um excerto do trabalho investigativo de LIMA, Gercina Ângela Borém. “ A transmissão do conhecimento através do tempo: da tradição oral ao hipertexto”. Revista Interamericana de Bibliotecología, Jul.- Dic. 2007, vol. 30, no. 2, p. 275-285, Recibido: 25 de abril de 2007. Aprobado: 16 de agosto de 2007
O teatro de rua é bastante comum nos dias de hoje. Aqui representam as lendas locais e as mais tradicionais.
Imagem 12 | O Teatro de Rua na preservação de lendas na atualidade, por Municipio de Arouca, 2014
Vídeo: “Lendas vivas - Tradições Contadas” - Teatro de Rua
Imagem 11| O Teatro de sombras na partilha de lendas, por Teatro de Lendas Brasileiras, 2020
Vídeo: Lendas Brasilerias : Uirapuru (teatro de sombras)
“ Os membros das sociedades orais possuíam apenas os recursos da sua memória para, ao longo do tempo, reter e transmitir as representações que lhes eram convenientes de perdurar. Para isso, utilizavam recursos como a dramatização, personalização e artifícios narrativos diversos, a fim de que as representações tivessem mais chances de sobreviver num ambiente composto quase unicamente por memórias humanas. As mensagens linguísticas eram sempre recebidas no tempo e lugar em que eram emitidas. Tanto o emissor quanto o receptor compartilhavam um universo de significado semelhante e todos evoluíam no mesmo universo semântico, no mesmo contexto. Nestas culturas, não existia nenhum modo sistematizado de armazenar as representações para futura reutilização. A transmissão do conhecimento, no transcorrer do tempo, exigia um contínuo recomeço, uma renovação suscetível a alterações visíveis de geração para geração. A história era feita a partir da capacidade de memorização dos membros do grupo social e das suas preferências. Havia, portanto, um registro “incerto” da realidade, fortemente filtrada pelo sujeito da ação. A mediação desse sujeito, nesse tipo de comunicação, era de fundamental importância para a continuidade histórica do conhecimento, pois não havia a escrita. A escrita foi um dos mais importantes desenvolvimentos técnicos do ser humano. Assim como a fala foi o principal instrumento utilizado no tempo da oralidade primária, diversos tipos de sistemas de sinais gráficos, incluindo o alfabeto tornaram- se os instrumentos principais da escrita. 5
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Capitulo II
Da Tradição oral à Escrita
Para a compressão deste ponto apresento um excerto do trabalho investigativo de LIMA, Gercina Ângela Borém. “ A transmissão do conhecimento através do tempo: da tradição oral ao hipertexto”. Revista Interamericana de Bibliotecología, Jul.Dic. 2007, vol. 30, no. 2, p. 275-285, Recibido: 25 de abril de 2007. Aprobado: 16 de agosto de 2007
Preservação, Valorição e Salvaguarda de Heranças Culturais Antigas - Lendas
“ Os membros das sociedades orais possuíam apenas os recursos da sua memória para, ao longo do tempo, reter e transmitir as representações que lhes eram convenientes de perdurar. Para isso, utilizavam recursos como a dramatização, personalização e artifícios narrativos diversos, a fim de que as representações tivessem mais chances de sobreviver num ambiente composto quase unicamente por memórias humanas. As mensagens linguísticas eram sempre recebidas no tempo e lugar em que eram emitidas. Tanto o emissor quanto o receptor compartilhavam um universo de significado semelhante e todos evoluíam no mesmo universo semântico, no mesmo contexto. Nestas culturas, não existia nenhum modo sistematizado de armazenar as representações para futura reutilização. A transmissão do conhecimento, no transcorrer do tempo, exigia um contínuo recomeço, uma renovação suscetível a alterações visíveis de geração para geração. A história era feita a partir da capacidade de memorização dos membros do grupo social e das suas preferências. Havia, portanto, um registro “incerto” da realidade, fortemente filtrada pelo sujeito da ação. A mediação desse sujeito, nesse tipo de comunicação, era de fundamental importância para a continuidade histórica do conhecimento, pois não havia a escrita. A escrita foi um dos mais importantes desenvolvimentos técnicos do ser humano. Assim como a fala foi o principal instrumento utilizado no tempo da oralidade primária, diversos tipos de sistemas de sinais gráficos, incluindo o alfabeto tornaram- se os instrumentos principais da escrita. 5
Imagem 13 | Escrita Ideográfica, por MaestroVirtuale,n.d
Capitulo II
O primeiro sinal utilizado pelos seres humanos para se expressarem foi a pictografia, forma primitiva que o autor McGarry compara com o início das expressões gráficas utilizadas pelas crianças: desenhos de figuras, rabiscos, imagens toscas, ou marcas com supostos poderes de um talismã mágico ou mesmo símbolos deposse.
O alfabeto mais antigo que se conhece é o semita setentrional, composto de 22 signos, foi desenvolvido por volta de 1700 a.C. na Palestina e na Síria. A invenção do alfabeto não somente permitiu à humanidade comunicar idéias por símbolos visuais, mas também a criação de registros permanentes destes signos e, assim, a criação de uma memória externa à mente humana.
As formas de escrita utilizando ideogramas e equivalências de fonemas começaram a surgir por volta de 3000 a.C., na Mesopotâmia. Nessa mesma época, no Egito, já eram utilizados papiros e tintas rudimentares para representação de signos na comunicação escrita. A escrita era feita em peles de animais, cerâmicas e papiros. Somente no Séc. III a.C. é que surge o pergaminho, como opção de suporte. O livro, consequentemente, surge com a reunião de vários pergaminhos ou papiros.
A escrita veio permitir a atualização do conhecimento acumulado, de fatos presenciados ou relatos de pessoas que viveram em épocas ou lugares diferentes. Com ela, o discurso pôde desvincular-se da situação particular em que foi produzido, não precisando a presença do sujeito social para a reprodução de uma experiência particular. Se o seu registro escrito “fala por si mesmo” sofre, por outro lado, interferência de quem o “consulta”. Conceitualmente, o tempo e o espaço tornam-se diferenciados daquilo que são no universo da oralidade, em que as adaptações de contexto e tempo são eliminadas. Há uma autonomia do texto em relação à tradição oral.
No início do Séc. III a.C. foi criada a Biblioteca do Museu de Alexandria por Ptolomeu Filadelfo, tendo como objetivo reunir em um só lugar todo o conhecimento da humanidade. A partir desse momento, o livro passou a objeto de autoridade e prestígio, tornando-se sinónimo do saber. Segundo McGarry, o alfabeto tem sido considerado por autores como uma das maiores invenções do homem, citando “Historicamente, foi a última grande forma de escrita a surgir, e a mais altamente desenvolvida, a mais conveniente,e o sistema de escrita mais facilmente adaptável jamais inventado”. Imagem 14 | Papiro Português 1560 , U. Brasilia, por Tv Globo, 2019
O tempo não é mais o da circularidade, mas sim da linearidade, linearidade que se traduz no transcorrer da História. Qualquer discurso torna-se possível de se apreendido, analisado e interpretado fora de seu contexto de produção. A escrita cria a figura do leitor, para o qual a realidade passa por um filtro muito mais refinado do que ocorre com o ouvinte no tempo da oralidade.” (Lima, 2007, pp.276-279)
Livros de Portugal
Preservação, Valorição e Salvaguarda de Heranças Culturais Antigas - Lendas
De um modo geral, a tradição oral teve um papel importante na passagem de lendas de geração em geração, no entanto com o surgimento da escrita foi permitido que estas lendas deixassem de ser apenas orais e passassem também agora a poder ser passadas e preservadas através do papel.
Capitulo II
A passagem destas lendas através da escrita permitiu ainda uma abordagem mais conLivros emtinua Portugal e sem muitas alterações que ajudam a recordar asLivros histórias assim como elas são A Passsagem da Oralidade para os contadas, no entanto mesmo com esta abordagem e devido a tradição oral, muitas foram as alterações que surgiram e muitas são as lendas que possuem diversas versões. Assim como muitos outros países no mundo portugal também recolheu as lendas da tradição oral salvaguardando a história destas heranças antigas em Livros que ainda hoje são fontes de documentação para investigadores e curiosos. 7
1575
Imagem 13 | Escrita Ideográfica, por MaestroVirtuale,n.d
Capitulo II
1962 - 1966
Gentil Marques reconheceu a riqueza Segundo o livro “ As lendas de do património toponímico português e Portugal” de Fernanda Frazão, tomou a seu cargo a compilação de um e focando-nos em território O primeiro sinal utilizado pelos seres huconjunto valioso de Lendas dos Nomes nacional foi já em 1575 com a manos para se expressarem foi a pictografia, das Terras, oriundas de uma tradição coleção de Gonçalo Fernandes milenar. Nesta altura começou a haver forma primitiva que o autor McGarry comTrancoso, denominada de “ um interesse por o estudo da etnográfia. para com o início das expressões gráficas Histórias de Proveito e Exemplo” utilizadas pelas crianças: desenhos de que se começaram a registar as figuras, rabiscos, imagens toscas, ou marcas primeiras passagens da tradição com supostos poderes de um talismã oral mágico para a escrita “ (...) uma vez ou mesmo símbolos deposse. que aí se encontram, a par de O alfabeto mais antigo que se conhece é o textos de origem erudita, muitos semita setentrional, composto de 22 signos, outros recolhidos da tradição As formas de escrita utilizando ideogramas foi desenvolvido por volta de 1700 a.C. na Paloral.” (Frazão, n.d, p.7) e equivalências de fonemas começaram a
estina e na Síria. A invenção do alfabeto não somente permitiu à humanidade comunicar idéias por símbolos visuais, mas também a criação de registros permanentes destes signos e, assim, a criação de uma memória externa à mente humana. 1963 pelos seres humanos para O primeiro sinal utilizado
surgir por volta de 3000 a.C., na Mesopotâmia. Nessa mesma época, no Egito, já eram utilizados papiros e tintas rudimentares para representação de signos na comunicação escrita. A escrita era feita em peles de animais, cerâmicas e papiros. Somente no Séc. III a.C. é que surge o pergaminho, como opção de suporte. O livro, consequentemente, surge com a reunião de vários pergaminhos ou papiros.
Imagem 14 | Papiro Português 1560 , U. Brasilia, por Tv Globo, 2019
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seescrita expressarem foi a pictografia, forma primitiva A veio permitir a atualização do XIX Mais tarde, durante o século que o autor McGarry compara com o início das conhecimento acumulado, de fatos presencomeçaram a ser preparadas expressões gráficas utilizadas pelas crianças: desenciados ou relatos grandes de pessoas quedeviveram coleções tradições hos de figuras, rabiscos, imagens toscas, ou marcas populares de todo oCom genéro, em épocas ou lugares diferentes. ela, com supostos poderes de um talismã mágico ou recolhidas diretamente da boca o discurso pôde desvincular-se da situmesmo símbolos deposse. No início do Séc. III a.C. foi criada a Biblioteca do que povofoi e sistematizadas o ação particular em produzido, não do Museu de Alexandria por Ptolomeu Filmelhor possível dentro do avanço precisando aescrita presença do sujeito social para As formas de utilizando ideogramas e adelfo, tendo como objetivo reunir1851 em um só então alcançado pela ciência a reproduçãodede uma experiência equivalências fonemas começaram aparticular. surgir por lugar todo o conhecimento da humanidade. etnográfica. Inclusive foi nesta volta deperío3000 a.C., na Mesopotâmia. Nessa mesma Se o seu registro escrito “fala por si mesmo” Mais tarde no século XVIII, que José Leite de Vanconcelos, A partir desse momento, o livro passou a época,recolno já eram utilizados papiros tintas do do romantismo, foram sofre, porEgito, outro lado, interferência dee quem colecionador e investigador fez objeto de autoridade e prestígio, tornando-se rudimentares para representação de na hidas por Alexandreo Herculano “consulta”. Conceitualmente, o signos tempo eportuuma monumental recolha sinónimo do saber. comunicação escrita. A escrita era feita em peles velhas lendas que compuseram o espaço tornam-se diferenciados daquilo guesa ligada a etnografia, que, só de animais, cerâmicas e papiros. Somente no Séc. o livro “Lendas e Narrativas”. em 1963, dois grossosem volumes de que são no universo da oralidade, que as Segundo McGarry, o alfabeto tem sido conIII a.C. é que surge o pergaminho, como opção de (Frazão, n.d, p.7) “ Contos ePopulares e Lendas”. adaptações de contexto tempo são eliminasuporte. O livro, consequentemente, surge com a siderado por autores como uma das maiores ( Frazão, do n.d,texto p.8). em relação das. Háde uma autonomia reunião vários pergaminhos ou papiros. invenções do homem, citando “Historicaà tradição oral. mente, foi a última grande forma de escrita No início do Séc. III a.C. foi criada a Biblioteca do a surgir, e a mais altamente desenvolvida, a Museu de não Alexandria Ptolomeu Filadelfo,mas tendo O tempo é maispor o da circularidade, mais conveniente,e o sistema de escrita mais comoda objetivo reunir em um só lugarque todo conhesim linearidade, linearidade seo traduz facilmente adaptável jamais inventado”. cimento da humanidade. A partir desse momento, no transcorrer da História. Qualquer discurso o livro passou a objeto de autoridade e prestígio, torna-se possível de se apreendido, analitornando-se sinónimo do saber. sado e interpretado fora de seu contexto de produção. A escrita cria a figura do leitor, para Segundo McGarry, o alfabeto tem sido considero qual realidade passa por um filtro muito ado poraalguns autores como uma das maiores mais refinado do que ocorre com o“Historiouvinte no invenções do homem, citando Diringir tempo dafoioralidade.” (Lima, 2007, camente, a última grande forma depp.276-279) escrita a surgir, e a mais altamente desenvolvida, a mais conveniente,e o sistema de escrita mais facilmente adaptável jamais inventado”.
Capitulo 1998 II
2019
Fernanda Frazão conta com cinco volumes que nos mostram as diversas lendas portuguesas de norte a sul de Portugal. O seu primeiro volume inclui ainda uma introdução que nós da conhcer aspetos pertinentes relacionados com as lendas e a sua perservação, aparecimento em livros e temáticas.
Trouxe também este livro mais recente, para apresentar as novas abordagens criadas para a partilha das lendas. Atualmente é muito comum o desenvolvimento de livros para diferentes faixas etárias. Este aqui apresentado tem uma linguagem infantilizada sendo assim recomendado para crianças e adolescentes.
2018 Atualmente as Lendas ainda são possiveis de encontrar registadas em alguns livros agora com uma liguagem mais contemporanêa. Para alêm disso, agora também é possivel recolher informações mais precisas destas lendas através de documentação e registos locais e nacionais.
2020
Preservação, Valorição e Salvaguarda de Heranças Culturais Antigas - Lendas
De um modo geral, a tradição oral teve um
Ao contrario dos primeiros livros papel importante na passagem de lendas atualmente temos também hoje éem geração, no entanto com o de geração possivel encontrar um livro dedisurgimento da escrita foi permitido que cado a uma unica temática.
estas lendas deixassem de ser apenas orais e passassem também agora a poder ser passadas e preservadas através do papel. A passagem destas lendas através da escrita permitiu ainda uma abordagem mais continua e sem muitas alterações que ajudam a recordar as histórias assim como elas são contadas, no entanto mesmo com esta abordagem e devido a tradição oral, muitas foram as alterações que surgiram e muitas são as lendas que possuem diversas versões. Assim como muitos outros países no mundo portugal também recolheu as lendas da tradição oral salvaguardando a história destas heranças antigas em Livros que ainda hoje são fontes de documentação para investigadores e curiosos. 7
Imagem 13 | Escrita Ideográfica, por MaestroVirtuale,n.d
Capitulo II
O primeiro sinal utilizado pelos seres humanos para se expressarem foi a pictografia, forma primitiva que o autor McGarry compara com o início das expressões gráficas utilizadas pelas crianças: desenhos de figuras, rabiscos, imagens toscas, ou marcas com supostos poderes de um talismã mágico ou mesmo símbolos deposse.
O alfabeto mais antigo que se conhece é o semita setentrional, composto de 22 signos, foi desenvolvido por volta de 1700 a.C. na Palestina e na Síria. A invenção do alfabeto não somente permitiu à humanidade comunicar idéias por símbolos visuais, mas também a criação de registros permanentes destes signos e, assim, a criação de uma memória externa à mente humana.
As formas de escrita utilizando ideogramas e equivalências de fonemas começaram a surgir por volta de 3000 a.C., na Mesopotâmia. Nessa mesma época, no Egito, já eram utilizados papiros e tintas rudimentares para representação de signos na comunicação escrita. A escrita era feita em peles de animais, cerâmicas e papiros. Somente no Séc. III a.C. é que surge o pergaminho, como opção de suporte. O livro, consequentemente, surge com a reunião de vários pergaminhos ou papiros.
O primeiro sinal utilizado pelos seres humanos para
A veio foi permitir a atualização do seescrita expressarem a pictografia, forma primitiva conhecimento acumulado, de fatos presenque o autor McGarry compara com o início das expressões pelas crianças: desenciados ou gráficas relatos utilizadas de pessoas que viveram hos de figuras, toscas, ou marcas em épocas ourabiscos, lugaresimagens diferentes. Com ela, com supostos poderes de um talismãda mágico o discurso pôde desvincular-se situ-ou mesmo símbolos deposse. ação particular em que foi produzido, não precisando a presença do sujeito social para As formas de escrita utilizando ideogramas e a reprodução de uma experiência particular. equivalências de fonemas começaram a surgir por Se o seu registro escrito “fala por si mesmo” volta de 3000 a.C., na Mesopotâmia. Nessa mesma sofre, porEgito, outro lado,utilizados interferência dee quem época, no já eram papiros tintas o “consulta”. para Conceitualmente, o signos tempona e rudimentares representação de comunicação escrita. A diferenciados escrita era feita em peles o espaço tornam-se daquilo de animais, papiros. Somente Séc.as que são nocerâmicas universoeda oralidade, emnoque III a.C. é que surge o pergaminho, comosão opção de adaptações de contexto e tempo eliminasuporte. O livro, consequentemente, surge com a das. Há uma autonomia do texto em relação reunião de vários pergaminhos ou papiros. à tradição oral.
No início do Séc. III a.C. foi criada a Biblioteca do Museu de Alexandria por Ptolomeu Filadelfo, tendo como objetivo reunir em um só lugar todo o conhecimento da humanidade. A partir desse momento, o livro passou a objeto de autoridade e prestígio, tornando-se sinónimo do saber.
No início do Séc. III a.C. foi criada a Biblioteca do
Imagem 14 | Papiro Português 1560 , U. Brasilia, por Tv Globo, 2019
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Segundo McGarry, o alfabeto tem sido considerado por autores como uma das maiores invenções do homem, citando “Historicamente, foi a última grande forma de escrita a surgir, e a mais altamente desenvolvida, a mais conveniente,e o sistema de escrita mais facilmente adaptável jamais inventado”.
O tempo não é maispor o da circularidade, Museu de Alexandria Ptolomeu Filadelfo, mas tendo sim linearidade, linearidade comoda objetivo reunir em um só lugarque todoseo traduz conheno transcorrer da História. Qualquer discurso cimento da humanidade. A partir desse momento, o livro passou a objeto e prestígio, torna-se possível de de seautoridade apreendido, analitornando-se sinónimo fora do saber. sado e interpretado de seu contexto de produção. A escrita cria a figura do leitor, para Segundo McGarry, o alfabeto tem sido considero qual a realidade passa por um filtro muito ado por alguns autores como uma das maiores mais refinado do que ocorre com o ouvinte no invenções do homem, citando Diringir “Historitempo da oralidade.” (Lima, 2007, pp.276-279) camente, foi a última grande forma de escrita a surgir, e a mais altamente desenvolvida, a mais conveniente,e o sistema de escrita mais facilmente adaptável jamais inventado”.
Capitulo II
Preservação, Valorição e Salvaguarda de Heranças Culturais Antigas - Lendas
De um modo geral, a tradição oral teve um papel importante na passagem de lendas de geração em geração, no entanto com o surgimento da escrita foi permitido que estas lendas deixassem de ser apenas orais e passassem também agora a poder ser passadas e preservadas através do papel. A passagem destas lendas através da escrita permitiu ainda uma abordagem mais continua e sem muitas alterações que ajudam a recordar as histórias assim como elas são contadas, no entanto mesmo com esta abordagem e devido a tradição oral, muitas foram as alterações que surgiram e muitas são as lendas que possuem diversas versões. Assim como muitos outros países no mundo portugal também recolheu as lendas da tradição oral salvaguardando a história destas heranças antigas em Livros que ainda hoje são fontes de documentação para investigadores e curiosos. 7
Mestrado em Design Gráfico Atelier de Design Gráfico II ESAD. CR Instituto Politecnico de Leiria
Publicação Física
Ana Simão | 3200133
Ana Simão | 3200133 Mestrado em Design Gráfico Atelier de Design Gráfico II ESAD. CR Instituto Politecnico de Leiria
Ana Simão | 3200133 Mestrado em Design Gráfico Atelier de Design Gráfico II ESAD. CR Instituto Politecnico de Leiria
Ana Simão | 3200133 Mestrado em Design Gráfico Atelier de Design Gráfico II ESAD. CR Instituto Politecnico de Leiria
Ana Simão | 3200133 Mestrado em Design Gráfico Atelier de Design Gráfico II ESAD. CR Instituto Politecnico de Leiria
Ana Simão | 3200133 Mestrado em Design Gráfico Atelier de Design Gráfico II ESAD. CR Instituto Politecnico de Leiria
Ana Simão | 3200133 Mestrado em Design Gráfico Atelier de Design Gráfico II ESAD. CR Instituto Politecnico de Leiria
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Vídeo Lendas Brasileiras : UIRAPURU (teatro de
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ESAD. CR Instituto Politecnico de Leiria
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