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Gaza, a província que parou no tempo, corre contra o relóGio

O projecto das areias pesadas de Chibuto, orçado em 1,2 mil milhões de dólares, é aguardado quase como um ‘salva-vidas’ económico para uma província que, durante quase três décadas, não viu chegar grandes investimentos. Mas, do presente ao futuro, a distância é grande e muito parece ainda estar por fazer, do turismo à agricultura

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epicentro da luta de libertação na-

cional, e uma província com reconhecido potencial agrícola, turístico e de recursos naturais, Gaza é no entanto pobre no que diz respeito ao desenvolvimento económico porque não consegue transformar o potencial em riqueza (o que se nota nos índices de pobreza muito elevados em torno dos 37% segundo dados do Banco Mundial). E assim é, há já largas décadas, numa região que parece condenada a poucos investimentos, públicos ou privados. Há quem diga que falta capacidade humana e técnica para fazer de Gaza um pólo de desenvolvimento, através do melhor aproveitamento das potencialidades locais, com enfoque para os recursos naturais, e será por isso que o sector empresarial local considera “essencial” um plano estratégico para a sua exploração sustentável. Para isso, “tem de haver uma estratégia muito forte que possa tirar aquela província do abismo”, e dar-lhe vida própria, crescendo em paralelo com a capital, Maputo. Se, nos anos 60, 70 e 80, devido ao seu enorme potencial agrícola alimentado pelo regadio de Chókwè, no norte da província era considerada ‘o celeiro de Moprovíncia gaza

capital Xai-Xai área 75 709 km² população 1.446.654 região Sul

çambique’ devido à produção de arroz, tomate e hortícolas que produzia para alimentar o país inteiro, agora apenas consome, na sua maioria importações. E até o arroz que, outrora, era o principal produto da província é hoje importado maioritariamente da Tailândia. De acordo com a directora provincial da Indústria e Comércio de Gaza, Lúcia Humbane, “os recursos são vários e as oportunidades também, mas falta investimento, pelo que as pessoas só precisam de apostar na província. Os pontos fortes da economia da província de Gaza advêm, em grande escala, dos recursos naturais que detemos e da nossa localização geográfica. Temos recursos invejáveis, terra arável, madeira, pedra, argila, areias pesadas, sem deixar de lado a nossa larga costa, com pouco mais de 150 quilómetros de extensão”, considera Humbane. Depois, há a riqueza potencial, gerada pelo rio Limpopo, “cujas características da água e do seu caudal são favoráveis para a produção agrícola e piscícola”, complementa.

Fraco desempenho da actividade agrícola De acordo com os dados avançados pelo sector da Indústria e Comércio do governo provincial, Gaza tem hoje duas grandes zonas de regadio, a do Baixo Limpopo, (com claro potencial para dinamização agrícola) com uma área de 27,2 mil hectares hectares, e o de Chókwè, com 23 mil. Porém, esse potencial é ainda subaproveitado. O que se nota na composição da estrutura económica da província, que tem como base a agricultura, com uma comparticipação de cerca de 89% da produção global, mas na qual predomina uma agricultura de subsistência. Ciente dos enormes desafios do sector, Lúcia Humbane assume que este recurso, tal como os restantes, “não é explorado” na sua máxima força, havendo ainda um largo caminho por trilhar. “Notamos a insuficiência de infra-estruturas nos regadios, o fraco uso de tecnologia e os reduzidos níveis de investimento público e privado por entre os vários constrangimentos que o sector agrícola em Gaza atravessa, agravado ainda pelos constantes choques climáticos, como é o caso das secas e cheias. A modalidade em que a agricultura é praticada pelo sector familiar e em pequenos talhões de forma desordenada e dispersa, coloca naturalmente em causa os níveis de rendimento”, aponta. Assim, e olhando aos dados do Governo provincial de Gaza, de uma área potencial de 1 494 milhões de hectares para a prática da agricultura, apenas estão em aproveitamento cerca de 53,5% da área disponível. À E&M, o Governo provincial acrescenta que, “do valor total da produção agrícola, 92% destina-se à subsistência das famílias rurais, 5% vai para a indústria e 3% para exportação”, acrescentando que “destes produtos constam a castanha de caju, o arroz, hortícolas diversas, mandioca e carne, devido ao elevado número do efectivos de gado bovino.” A descontinuidade entre a cadeia de produção e os centros de comercialização é outro dos entraves ao melhor aproveitamento de uma cadeia produtiva baseada no potencial da província. “Há elementos de quebra no meio de todo o processo. Temos feito esforços, enquanto Governo provincial, para minimizar o impacto negativo deste factor, estabelecendo ligações de mercado com grandes superfícies e indústrias de outras províncias, especialmente Maputo e Inhambane”, assinala a directora provincial da Indústria e Comércio. Mas não é apenas na agricultura que a província de Gaza possui enorme potencial, já que o turismo e os recursos minerais são também outros sectores a ter em conta. Mas tudo passa pela criação das tais cadeias de valor que não passam sem as vias de acesso e as plataformas logísticas ainda, e por enquanto, inexistentes.

AgriCulturA é A ACtividAde que predOMinA

Gaza é mais um exemplo da fraca diversificação da economia no país. a agricultura (na sua maioria de subsistência) é responsável por 89% dos rendimentos da província

Em percentagem do PIB da Província

AgriCulturA 89

turisMO 7

OutrOs 0,5

indústriA extrACtivA 0,5

indústriA AliMentAr 3

89%

agricultura é o ramo de actividade que mais contribui para a economia

fontE InE

província

de costas para a costa: gaza ainda não conseguiu capitalizar potencial do sector do turismo para a economia local

“Temos a apontar nesse sentido: a insuficiência de infra-estruturas, sobretudo a falta das vias de acesso que ligam as zonas de produção aos mercados; de um aeroporto que flexibilizaria a logística de exportação, essencial ao desenvolvimento da economia, que está concentrada em poucos sectores, embora haja um vasto leque de opções como o turismo, a indústria transformadora e os recursos minerais”, explica.

investimento precisa-se Paulino Hamela, presidente do Conselho Empresarial de Gaza (CEP-Gaza), considera haver uma ruptura entre o Governo e o sector empresarial, “minando” de certa forma a entrada de investimentos de grande vulto na região. E, há um outro senão, para além das falhas de que se fala habitualmente, e que tem a ver com “a falta de promoção das potencialidades de que a província dispõe, para além do velho problema da burocracia para entrada de qualquer investimento, que leva “a que o ambiente de negócios seja ainda considerado pouco atractivo a quem quer investir aqui”, assinala. O Plano Estratégico de Desenvolvimento do Sector Agrícola 2011-2020 (PEDSA) preconiza “a criação de cadeias de valor viradas para o agro-negócio, com destaque para as culturas de arroz e horticulturas”. No entanto, se olharmos aos números da produção anual de hortícolas e de arroz, percebemos que, devido à falta de uma rede de logística, “cerca de 40% se tem perdido por falta de mercado para colocação”, um factor que ganha ainda maior ponderação negativa, pelos baixos índices de rendimento da grande maioria das culturas praticadas. “Há que incrementar cada vez mais o processo de agro-processamento para reduzir o nível de perdas que se tem verificado em cada época, abrindo espaço para a mecanização agrícola”, diz-nos Lúcia Humbane.

“Ainda há muito por explorar, pois os recursos ainda não são potenciados na sua máxima força. Assim, pode dizer-se que gaza continua ainda longe do seu potencial”.

a costa é rica No entanto, a contribuição do turismo para a economia da província de Gaza, é ainda pobre (apenas 7%). Mesmo com o potencial que todos lhe reconhecem, de ser um lugar de turismo com os padrões necessários para atingir um nível internacional, mas que padece de alguns dos males que enfermam o crescimento e desenvolvimento dos outros sectores de actividade: carece de melhores infra-estruturas, organização, diversificação, promoção e investimento. No entanto, há alguns bons sinais, como o incremento de receita verificado no último ano, na época alta, que chegou aos 250 milhões de meticais, face aos 190 milhões de meticais arrecadados em 2016 Uma realidade, ainda assim muito distante ao nível dos números, do que aquela região poderia fazer prever.

Fabricar o futuro, a partir do presente O sector industrial é outro ponto que se encontra em letargia. De acordo com o Governo de Gaza, a rede industrial da província é constituída essencialmente por micro-indústrias, sobretudo nas áreas de carpintaria, processamento de

cereais, panificadoras, serralharias e alfaiatarias (um segmento que ganhou estofo movido pela obrigatoriedade do uso de uniforme escola). Mas, a grande mola económica da província deverá mesmo ser, a breve trecho, o crescimento das extractivas. Para Castro Elias, director provincial de Recursos Minerais e Energia ir-se-á assistir “a uma grande mudança de cenário, com a iminente entrada em funcionamento da pedreira em Massangena e com a exploração das areias pesadas de Chibuto” que, a juntar-se à exploração dos jazigos de diamantes (recentemente descobertos) no distrito de Massangena e Chicualacuala formam o conjunto dos projectos que podem alavancar o moral (e a economia) local nos próximos anos. Avaliado em 1,2 mil milhões de dólares, o investimento (com origem na China) no projecto das areias pesadas de Chibuto, a 60 quilómetros do Chokwé é o que mais promete impulsionar a economia de toda a região interior da província. Porque é ali que está situado o maior jazigo mundial de ilmenite, rutílio e zircão, com as pesquisas a apontarem para um total de 2 660 milhões de toneladas de matéria-prima depositada, numa área de concessão de 10,5 mil hectares, e será ali que vai ser instalada uma unidade que vai albergar três mil trabalhadores, e que terá uma capacidade instalada para processar 100 mil toneladas de areias pesadas por dia, “a partir do segundo semestre deste ano”, garante Castro Elias. No entanto, o projecto poderá ser condicionado pela falta de um corredor logístico que possa assegurar o escoamento dos minerais a preços competitivos (o Porto de Maputo é o mais próximo, e dista a cerca de 270 quilómetros da mina), uma situação que tem sido ‘levantada’ pelo Governo de Gaza, que assegura à E&M, “estar em curso a definição de um projecto que possa resolver esse problema.”

1,2

mil milhões de dólares O InvestImentO PRevIstO PARA A UnIDADe De exPlORAçãO DAs AReIAs PesADAs DO ChIbUtO, O mAIOR JAZIGO mUnDIAl De IlmenIte, RUtílIO e ZIRCãO, UsADOs nA InDústRIA metAlúRGICA, De COsmétICOs, PAPel e PlástICO e nA AeROnáUtICA; DARá, esPeRA-se, Um nOvO FÔleGO eCOnÓmICO À PROvínCIA De GAZA PARA DesenvOlveR tUDO O RestO

texto Hermenegildo langa fotoGrafia d.r.

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