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Quarta rEVOLuÇÃO INDuStrIaL, Ou QuaNDO OS rOBÔS CHEGaM a ÁFrICa

O que se espera da evolução a que se assiste por todo o mundo, num continente com desafios muito próprios, da forma como eles vão ser superados, ao salto evolucional que se antevê nas sociedades e economias africanas

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em novembro do ano passado, a em-

presa canadiana Lucara Diamond Corporation viu a cotação das suas acções em Bolsa subirem quase 70% depois de ter anunciado a descoberta de três diamantes de tamanho e qualidade excepcional numa das suas minas no Botwsana. O dado mais interessante, no entanto, é que estes diamantes, do tamanho de uma bola de ténis, foram extraídos por robôs capazes de operar a uma profundidade que os humanos não conseguem de forma alguma alcançar. O que importa sublinhar é que este não é um caso isolado no que toca ao sector da mineração no Botswana. Os robôs estão progressivamente a ocupar o lugar dos humanos e a colocar as organizações representativas dos trabalhadores sem saber como lidar com este tipo de situação. Dimpho Nyambe, líder sindical no Botswana, reconhecia, recentemente, que “os sindicatos adquiriram, ao longo dos anos, uma capacidade negocial que sempre esteve ligada a questões como salários, horários de trabalho”. Porém, acrescenta, “estão totalmente impreparados para saber como agir face a este novo contexto de robotização industrial”. Num país em que, segundo algumas estimativas, o nível de desemprego entre a população jovem já atinge os 18,4%, o impacto social pode vir a ser devastador. Mesmo na África do Sul, uma nação que, ao contrário do Botswana e de outros países africanos, tem sabido diversificar a sua economia, começam a surgir indicadores que apontam para a

emergência de situações semelhantes. Num artigo escrito por Ross Harvey, do South African Institute of International Affairs, o investigador refere que a robotização “pode vir a ameaçar quase meio milhão de postos de trabalho” no sector da mineração naquele país nos próximos anos, sendo que esse é um dos sectores em que assenta grande parte da economia sul-africana. E este número poderá ainda aumentar exponencialmente caso se verifique, como muitos estudos antecipam, uma progressiva utilização de “veículos autónomos” no sector dos transportes. Estes veículos, que utilizam as mais avançadas tecnologias no domínio da Inteligência Artificial, dispensam condutores humanos e parecem antecipar uma subida das taxas de desemprego para muitos milhares de sul-africanos.

Custos e benefícios À medida que os custos envolvidos nos processos de automação se vão tornando mais atractivos, a substituição da mão-de-obra humana por robôs será inevitável. No estudo “Digitalisation and the Future of Manufacturing in Africa”, realizado pelo Overseas Development Institute (Reino Unido), estima-se, por exemplo, que no final da década de 2030, num país como a Etiópia, os custos da automação em diversos sectores industriais será mais barato do que o emprego de mão-de-obra humana. Ainda segundo Harvey, um outro sector industrial que na África do Sul poderá também em breve vir a confrontar-se com a questão da automação é o sector têxtil. Ao longo dos últimos anos, muitas empresas sul-africanas optaram por deslocalizar a sua produção para vários países asiáticos onde a mão-de-obra é mais barata. E um eventual “regresso” destes empregos parece agora, no entanto, uma possibilidade cada vez mais remota, pois o advento de sistemas robotizados capazes de substituir toda a mão-de-obra humana é algo que já não pertence ao domínio da ficção. Uma empresa norte-americana, a SoftWear Automation, especializada na área da Inteligência Artificial e da Robótica, tem vindo a desenvolver um processo, designado “Sewbot”, que tem como objectivo automatizar toda a produção têxtil. Em países como a Índia, o Paquistão e o Bangladesh esta tecnologia já começou a ser implementada e, embora o seu custo ainda seja elevado, a previsão é que dentro de poucos anos venha a ser uma opção atractiva. Rajiv Kumar, economista e fundador da Pahle India Foundation, não tem dúvidas de que a Robótica e a Inteligência Artificial “vão constituir uma revolução industrial muito mais disruptiva do que qualquer outra anterior – a da máquina a vapor, da electricidade ou mesmo a dos computadores – porque já não se trata apenas de substituír rotinas mas funções mentais e intelectuais complexas”.

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milhões de empregos É o número de postos de trabalho formais que terão de ser criados em África. no entanto, parte significativa do mercado de trabalho estarÁ nas “mãos” de robôs e “sistemas inteligentes”, o que apresenta desafios complexos

Na sua perspectiva, esta “mudança de paradigma irá ter um impacto brutal” não só nos países do Sudoeste Asiático como na África subsaariana. Num estudo feito pelo McKinsey Global Institute – “A Future That Works: Automation, Employment, and Productivity” – os autores analisaram detalhadamente a estrutura produtiva de 46 países que representam 80% da mão-de-obra global no sector industrial, tendo observado que quase 50% das actividades levadas a cabo na economia global serão potencialmente objecto de automação num futuro próximo. No que toca ao continente africano, os autores consideram que os países em que este potencial de automação é maior são: Quénia (51,9%), Marrocos (50,5%), Egipto (48,7%), Nigéria (45,7%) e África do Sul (41%).

Efeitos locais de uma tendência global Mas vários outros relatórios recentes reforçam esta perspectiva, tornando claro, se dúvidas houvesse, que a chamada “4ª Revolução Industrial” – alimentada por tecnologias como a Inteligência Artificial e a Robótica, e pelo desenvolvimento da “Internet das coisas” (“Internet of Things”) que permitirá interligar, de forma “inteligente”, todo o tipo de produtos e objectos – é um processo em pleno desenvolvimento, cujo impacto é não só já hoje significativo

Lá fora

Robôs agrícolas: utilização de ‘ajuda’ robotizada em estufas dos Estados Unidos já é uma realidade para muitos produtores

mas tenderá, ao longo das próximas duas décadas, a ter efeitos sistémicos a nível gobal. Um estudo da Price Waterhouse Coopers (PWC) indicava que, por exemplo, nos Estados Unidos, 38% dos empregos actualmente existentes serão substituídos por máquinas em 2030. Num outro estudo, da Universidade de Oxford, também relativo ao impacto da 4ª Revolução Industrial nos Estados Unidos, e no qual é feita uma análise a mais de 700 tipos de profissões actualmente existentes (tanto no sector industrial como no dos serviços), a conclusão é que, ao longo das próximas duas décadas, a taxa de automação poderá chegar aos 47%. Ainda mais recentemente, num estudo da OCDE envolvendo uma análise a 32 países desenvolvidos, esta organização internacional constata que 14% dos empregos nestes 32 países são altamente vulneráveis, tendo pelo menos 70% grandes hipóteses de automação. Outros 32% também correm risco, com uma probabilidade entre 50% a 70%. Com as actuais taxas de emprego, isso irá colocar 210 milhões de empregos

EmpREgO

66%

O BanCO mUndial pREvê qUE dOiS tERçOS dOS EmpREgOS aCtUalmEntE ExiStEntES nOS paíSES Em dESEnvOlvimEntO SEjam, na pRóxima déCada, ‘OCUpadOS’ pOR ROBôS

em risco nos países estudados, o que se constituirá, porventura, como a maior mudança social (em apenas uma década) de que há memória na história das sociedades modernas.

O impacto onde ele é preciso. Será? No entanto, como já foi referido, o impacto da 4ª Revolução Industrial poderá ser ainda mais significativo nos chamados países em desenvolvimento. De acordo com as estimativas do estudo “Digital Dividends”, realizado pelo Banco Mundial, dois terços dos empregos actualmente existentes nestes países estão em risco de ser automatizados. Em economias como a chinesa, este processo já está em marcha e faz-se notar por toda a parte. Notícias recentes davam conta, por exemplo, que uma fábrica em Xangai, produtora de componentes electrónicas, já substituíu dois terços da sua mão-de-obra por ‘funcionários robotizados’ e prevê que o processo de automação atinja os 90% das operações dentro em breve. Uma outra unidade fabril, que produz componentes electrónicas para a Apple, despediu recentemente 60 mil trabalhadores de uma das suas plantas no âmbito de um processo de robotozição integral da produção. Importa sublinhar que estes não se tratam de casos isolados. Pelo contrário, inserem-se num plano estratégico que tem como objectivo tornar a China líder mundial no sector da Inteligência Artificial e das tecnologias que serão o motor do novo paradigma industrial. Refira-se a este propósito que, de acordo com algumas estimativas, a China deve-

rá ultrapssar, em 2018, os Estados Unidos e a Alemanha, no que toca ao número de robôs industriais em funcionamento. Tendo em atenção que a China emprega cerca de 100 milhões de pessoas no sector industrial, existem legítimos receios de que este “salto tecnológico” possa vir a ter consequências sociais dramáticas (e imprevisíveis).

Desindustrialização prematura Para Dani Rodrik, da Universidade de Harvard (EUA) e autor de um estudo de referência intitulado “Premature Deindustrialization” (2015), o continente africano perdeu a oportunidade histórica para, tal como a China fez no final do século passado, aproveitar os avanços tecnológicos no sentido de se industrializar, “saltando” as etapas que marcaram a evolução das sociedades desenvolvidas. Não tendo aproveitado o facto de ter uma mão-de-obra barata e uma população jovem semi-qualificada para diversificar as suas economias, fazendo da indústria e dos serviços um “motor” do crescimento, o continente vê-se agora confrontado, por via dos avanços tecnológicos que marcam a 4ª Revolução Industrial, com uma “desindustrialização prematura”. Tendo em atenção as expectativas em termos de crescimento populacional em África – um relatório recente das Nações Unidas indica que o maior crescimento populacional até 2050 se irá verificar precisamente no continente – e o acelerado processo de urbanização em curso, todos os indicadores apontam para a emergência de uma situação social potencialmente explosiva, fruto de uma equação binária, bastante simples: muito mais gente para muito menos postos de trabalho, algo que só pode gerar um resultado que não pode, à distância de poucos anos, ser tomado como imprevisível ou inesperado, de todo. Até porque os avisos estão todos aí. Devido à sua mão-de-obra jovem e em rápido crescimento as 54 nações africanas precisariam de criar as condições para o surgimento de mais de 11 milhões de empregos na economia formal. No entanto, a demora que a criação dessas condições implica é confrontada com o espaço crescente que a robotização está a ganhar no mundo industrial, fruto da rápida e imparável evolução tecnológica. E começa a tornar-se inevitável pensar que ganhará mesmo a corrida, chegando (e ficando) para ocupar o seu lugar num mercado de trabalho que se prevê que possa cair nas “mãos” de robôs e “sistemas inteligentes”. E há inúmeros estudos que falam sobre esse admirável, ou nem tanto assim, mundo novo. Como “Industries Without Smokestacks: Industrialization in Africa Reconsidered” (“Indústrias sem Chaminés: Repensar a Industrialização de África”), da Brookings Institution e do Instituto de Investigação Internacional para o Desenvolvimento Económico, da Universidade das Nações Unidas (UNU-WIDER), ou as reflexões World Economic Forum, de Davos, e do Prémio Nobel Joseph E. Stiglitz, unânimes em considerar que a resposta à “desindustrialização prematura” não pode passar pela “recuperação” dos modelos que marcaram o período pós-independências. A 4ª Revolução Industrial é estruturalmente diferente das suas antecessoras. Assenta numa interligação entre o mundo físico, digital e biológico. Não se limita apenas à Inteligência Artificial e à Robótica mas envolve muitas áreas científicas e tecnológicas em pleno desenvolvimento – como a nanotecnologia, a biotecnologia, a computação quântica, as energias alternativas ou os novos materiais – que vão configurar um tipo de sociedade em que as fronteiras entre o mundo natural e o artificial serão cada vez mais ténues e inter-permutáveis e em que a definição do “humano” e o conceito tradicional de “trabalho” será reequacionado. Mas, acima de tudo, a 4ª Revolução Industrial implicará, um “pensamento sistémico”, capaz de responder à complexidade e interconectividade permanente de todos os sistemas. Como refere o estudo da PWC – “The Industrial Internet of Things” –, África tem condições para desenvolver um sector industrial relevante mas este terá de ter uma configuração totalmente distinta do modelo anterior pois terá de ser capaz, entre outros aspectos, de saber desenvolver produtos “complexos”, com alto valor acrescentado em termos de incorporação de “conhecimento”. Isto implicará, porém, como nota Klaus S Schwab, do World Economic Forum, que os governos do continente tenham a percepção que esta poderá ser a derradeira oportunidade para uma efectiva “mudança de paradigma” em África.

África tem condições para desenvolver um sector industrial relevante mas este terá de ter uma configuração totalmente distinta do modelo anterior pois terá de ser capaz, entre outros aspectos, de saber desenvolver produtos ‘complexos’

OPINIÃO

Pequenas realizações que podem levar a grandes transformações

Celso Chambisso • Jornalista da Revista Economia & Mercado

a 5 de março deste ano, entraram em vigor as novas tarifas de transporte público de passageiros nas cidades de Maputo e Matola. Para distâncias inferiores ou iguais a 10 quilómetros, a tarifa de transporte passou de 7 meticais para 10 meticais. Para distâncias superiores, mas inferiores a 20 quilómetros, a tarifa de transporte aumentou de 9 para 12 meticais. A revisão reanimou os transportadores, que durante dez anos viram os custos operacionais aumentarem significativamente, sobretudo nos últimos dois anos, induzidos pela depreciação do metical em relação ao dólar e consequente subida dos custos de importação de acessórios dos veículos e sua manutenção; subida acentuada do nível geral das tarifas; e aumento do preço de combustíveis ocasionado pela suspensão do subsídio. É perceptível que a medida não seja considerada de todo satisfatória para os transportadores, que continuam a enfrentar custos elevados (chegaram a apontar como ideal o aumento mínimo de 30 meticais por viagem), mas era de se esperar que o alívio às suas contas pudesse ter algum impacto na redução da dificuldade de acesso aos transportes. Mas nada mudou. Não falo de soluções estruturais, que normalmente levam tempo e demandam avultados recursos para serem realizadas, mas de mentalidade e sentido de oportunismo dos transportadores. Hoje, três meses depois da revisão, os transportadores continuam a encurtar as suas rotas. Nos terminais, os utentes dos serviços não têm escolha. Ou atravessam para a outra margem da mesma via e pagam o preço de uma viagem inteira só para dar a volta com o carro ou sujeitam-se à incerteza de chegar a tempo ao destino (local de trabalho, escola, hospital, etc., pelas manhãs, e no regresso à casa, à noite). Na realidade, as pessoas pagam o dobro do preço por uma viagem. A este adiciona-se um custo difícil de quantificar em termos monetários: utentes do transporte público permanecem horas a fio nas paragens até conseguirem uma vaga em carros sobrelotados e seguem viagem em condições desumanas, sem falar na vergonha conhecida por “My love” – camioneta de caixa aberta que se oficializou como alternativa ao défice de transporte em Moçambique –, vergonha essa que hoje ninguém votaria pela sua interdição, dada a importância que assume com o crescente défice, já que o número de residentes da área metropolitana, que compreende as cidades de Maputo e Matola, distritos de Boane e Marracuene, duplicou, passando de pouco mais de 2 milhões em 2007 para cerca de 4 milhões em 2017, de acordo com o Censo Geral da População. Mas os investimentos na área dos transportes estiveram aquém desta subida. A meu ver, e sem entrar em questões estruturais do problema dos transportes urbanos (investimentos em sistemas intermodais, ampliação ou não da frota de transportes, construção e/ou descongestionamento de estradas, etc.), o primeiro passo está ao alcance das autoridades municipais (a quem compete a gestão dos transportes urbanos): uma fiscalização rigorosa e permanente do comportamento dos transportadores face ao encurtamento de rotas. Não se trata de uma experiência nova. Funcionou em 2008 aquando do penúltimo ajuste da tarifa, e vem mostrando eficiência sempre que as autoridades são chamadas a pôr ordem nos terminais, e funcionou em Março, quando o preço do “chapa” (como é popularmente designado o transporte privado de passageiros) aumentou pela última vez. Até porque há uma prática que poderia ajudar: os utentes organizam-se em filas nos terminais, de tal maneira que, sem o oportunismo, os ‘chapeiros’ teriam a possibilidade de transportar gente de forma mais fácil e rápida, com benefícios para todos. Infelizmente, na prática não é assim. E enquanto for possível ganhar o dobro de forma injusta, o transportador não hesitará em ser manhoso. Cabe às autoridades atribuir a esta questão a mesma relevância que atribui ao cumprimento das normas da Postura Municipal, a qual penaliza com esforçada dedicação, por exemplo, ao arrancar os bens de comerciantes informais dos passeios de toda a cidade.

Parece-nos que a Polícia Municipal dedica excessivo controlo à (ir)regularidade do trânsito, dos documentos e condições dos veículos e dos motoristas, e faz esforço zero no combate aos encurtamentos de rota, algo que urge em ser alterado o quanto antes

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página inteira

ócio

(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio

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O Jardim dos Aloés é, sem dúvida, um dos melhores Bed&Breakfast (B&B) da Ilha de Moçambique. e g

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Uma viagem pelas dimensões do (bom) gosto que encontramos no Botânica, em Maputo.

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As tendências que saíram do “Annual Spirits Tasting”, e como os Whiskies já não são apenas considerados pela idade.

Jardim dos aloés

noites sugeRidas: 4 PReço Médio: 7.000 MZn

Rua Presidente Kaunda, Ilha de Moçambique.

+258 84 213 1488

e

Jardim dos aloés Um B&B de charme

e aconchego da imaginação deste casal. O Jardim dos Aloés é também um centro de formação em ponto pequeno para o pesantes de mais é acolhedor, soal que aqui trabalha e um muito acolhedor. O Jardim laboratório votado à valoridos Aloés é, sem dúvida, um zação dos produtos locais e à dos melhores Bed&Breakfast cultura gastronómica da Ilha. (B&B) da Ilha de Moçambique. Judite organiza e confecciona Mas é também um exemplo jantares de sonho, onde não do que significa amar a ter- falta a matapa de siri-siri e ra com paixão pelo trabalho: canapés de xima com tchassa todos aqueles – não apenas (ostras do Índico). Mas só por os ilhéus – que acreditam no encomenda. acolhimento como valor de- Guardanapos de linho, talheveriam dirigir a Judite e a res antigos, copos de cristal e Bruno Musti o seu mais sicero chávenas de porcelana. Tudo “obrigado”. antigo, tudo recuperado, tudo Judite e Bruno decidiram original. À mesa, de manhã, instalar-se na Ilha e fazer os hóspedes dos três quartos dela a sua casa há cerca de partilham as guloseimas e as cinco anos. E assim fizeram conversas. Tão bonito e aconreviver um antigo edifício, chegante que não se dá pelo com amor pela arquitectura tempo passar. A Ilha, fora do e pela decoração. portão, fica à nossa espera… As cores dos três quartos do Jardim dos Aloés são deslumbrantes. Verde, cor-de-rosa TexTO Paola Rolletta antigo, azul e amarelo, com a fOTOgrAfIA MauRo Pinto

técnica do almagre, são fruto da perícia dos pedreiros da Ilha de Moçambique. O mobiliário (todo restaurado por Judite) é original da região, fruto das incursões nos mercados pelo Oceano Índico. Os lençóis e as mantas são de algodão e seda. Mas, é à mesa do pequeno-almoço que se vive intensamente toda a devoção à beleza que nos faz perdermo-nos pela gama de sabores apresentada. Das compotas de flores de aloé – que provêm do jardim, tal como o nome deste lugar –, amora, papaia, manga, tudo confeccionado pelas sábias mãos deste casal que se divide entre a cozinha e a amável conversa com os hóspedes. Bolos e pão, compotas e chás, são a deliciosa valia que sai

o ‘Jardim dos aloés’ não é apenas Um B&B, mas tamBém o resUltado de saBedoria antiga, fantasia apUrada e de mUito, mUito amor

roteiro

CoMo iR A LAM voa de Maputo para Nampula e/ou Nacala (a partir de 19.000 MZN ida e volta). em Nampula e/ou Nacala, aluga-se um carro e segue-se para a ilha por estrada, cerca de 175 Km (aluguer do carro cerca de 3.500 MZN).

o que faZeR O roteiro de barco à vela Himalu III nas águas transparentes do Oceano Índico, ou então o roteiro histórico da Ilha de Moçambique.

onde CoMeR Não deixe de degustar um jantar da Judite, uma ementa da gastronomia local revisitada. Preço: 3.000 MZN, por pessoa.

saBemos hoJe qUe o “gosto” não se resUme oU decorre apenas do paladar. e o BotÂnica é Um exemplo de excelência dessa realidade

no livro “a fisiologia do

gosto”, publicada no século XIX por Brillat-Savarin, um dos mais famosos epicuristas e gastrónomos franceses de todos os tempos, o autor considera que o “gosto” se concentra exclusivamente nas papilas gustativas. Descreve mesmo a língua como se fosse um mapa. Segundo ele, o doce situava-se na sua ponta, o salgado nas laterais, o ácido no meio e, finalmente, o amargo na zona mais funda, escorregando pelo abismo da garganta. Hoje, sabemos que o “gosto” não se resume ou decorre apenas do paladar. A ciência contemporânea, como podemos ler nas obras de Hervé This, explica-nos como os sentidos intervêem enquanto instrumentos de apropriação das qualidades dos alimentos e influenciam a sua degustação: cor, aroma, textura, temperatura desempenham um papel fundamental e até mesmo o tacto e a audição (quando se trata, por exemplo, de um alimento “crocante”) participam na construção do “gosto”. Estamos, portanto, perante uma noção complexa, elaborada a partir de uma experiência multi-sensorial à qual não podemos deixar de acrescentar ainda a componente da “fruição estética”. Serve esta introdução para explicar porque o “Botânica” é um dos raros espaços em Maputo onde é possível ter esta experiência gastronómica total, isto é, onde a degustação apela, simultaneamente, a todos os sentidos e eleva a fruição ao patamar “funcional rotina” alimentar. É uma referência que nos faz lembrar, o documentário ‘How to Cook Your Life’ no qual o chef Edward Brown explica o segredo da sua arte considerando que, “na verdade, são os alimentos que nos cozinham”. No “Botânica” sugerimos: como entradas, os cogumelos recheados (com espinafre e queijo de cabra) e as courgettes panadas com cerveja acompanhadas com Tzatziki; nos pratos principais, o Souvlaki (apa grega com tiras de frango, tomate, cebola e paprika) e o Paper Steak (fatias de picanha com rúcula, ananás, parmesão e sésamo).

Rua Kibiriti Diwane, nº 148 Maputo

+258 84 558 4558

g BotÂnica:

o Jardim

das delÍcias

da transcendência incomum. Talvez não seja por acaso que Susana Macropulos – que juntamente com Bibi Kan fundou o “Botânica” e é “alma” da sua cozinha – nos diz, a dado momento, que o ponto de partida do projecto foi, de alguma forma, o jardim, que define como um “espaço zen” que predispõe, portanto, e desde logo, a que a degustação nos transporte a um estado de transcendência e nos afaste da

the dalmore valoUr

País reino Unido

Região escócia

aRoMa ameixas maduras, frutas cítricas e caramelo cremoso

mercado está a deixar de lado a idade como principal critério de avaliação para se focar no saBor e “personalidade”

saboR laranja cristalizada, abacaxi e chocolate doce

teoR alCoóliCo 40%

the macallan rare cask Black glenmorangie milsean aBerloUr a’BUnadh hiBiki Japanese harmony

País Reino Unido Região Escócia teoR alCoóliCo 48% aRoMa Adocicado com Mel, Frutas Vermelhas e Canela. Discretamente Defumado saboR Mel, Frutas em Calda, Uvas Passas, Pimenta do Reino. Final Longo, Apimentado e Defumado País Reino Unido Região Escócia teoR alCoóliCo 46% aRoMa Frutado e Doce com Laranja e Sorvete de Limão saboR Quente e Picante de Início Sobressaindo Depois Fruta Doce, Sorvete de Limão, Coco e Gengibre País Reino Unido País Escócia teoR alCoóliCo 60,5% aRoMa Profundo. Especiarias. Alguns Citrinos, Fortes Notas de Xerez saboR Encorpado, Quente e Cremoso. Frutos Silvestres, Bastante Doce, com influência de Laranja e Chocolate Preto País Japão teoR alCoóliCo 43% aRoMa Notas de Rosa, Lichia, Sugestão de Alecrim, Madeira e Sândalo saboR Casca de Laranja Confitada e Chocolate Branco. Final Longo e Subtil com Indícios de Mizunara (Carvalho Japonês)

o dalmore valoUr e os whiskies

sem idade declarada

o evento “annual spirits

tasting” organizado, em Londres, pela International Wine & Spirit Competition (IWSC) é sempre um bom indicador das tendências emergentes. A última edição - que teve um número recorde de participantes, vindos de todo o mundo, e premiou cerca de 200 bebidas destiladas – não foi excepção e permitiu confirmar algumas das tendências do mercado. Referimos cinco das mais relevantes. Em primeiro lugar, a clara ascenção dos destilados asiáticos: do indiano feni, ao chinês baiju, feito a partir dos grãos fermentados do sorgo, o Oriente começa a dar cartas a nível global. O próprio IWSC instituíu um troféu especial para os baijus, que foi vencido este ano pelo Yushan Taiwan Kaoliang Liquor. Com aromas subtis de lavanda e pinheiro e sabor delicado de bambu cozido e pickles, o júri considerou-o “um sabor único no mundo”. Em segundo lugar, uma redescoberta do armagnac. Os especialistas consideraram que se está a verificar uma revalorização dos destilados franceses. Em terceiro lugar, e de modo algo surpreendente, um reconhecimento do mescal. Apesar das vendas serem ainda reduzidas (se comparadas com a tequila) este destilado mexicano atrai cada vez mais consumidores devido à sua “autenticidade”. Uma outra tendência, é febre do gin, que continua no mercado. Em 2017, candidataram-se aos prémios do IWSC aproximadamente 400 rótulos de gin de 35 países diferentes. E a previsão é de que o mercado continue a ser inundado por “projectos” cada vez mais exóticos. Por fim, outra tendência em clara ascensão é a dos whiskies sem idade declarada. De acordo com um especialista do IWSC, o mercado está claramente a deixar de lado a idade como principal critério de avaliação para se focar no sabor e “personalidade” (os chamados NSA - No Age Statement) procurando enfatizar a “qualidade da madeira do barril” ou “os segredos do destilador”. No “Annual Spirits Tasting” de 2017 o vencedor nesta categoria foi o Dalmore Valour, que aqui deixamos como sugestão deste mês.

TexTO Rui tRindade

•em destaque

“Being A PhotogRAPheR in AfRicA: the ten YeARs of AfRique in visu” cooRdenAção: JeAnne meRcieR e BAPtiste de ville d’ AvRAY Éditions clementine de lA fÉRonnièRe

Lançada em 2006 no Mali, por iniciativa de Jeanne Mercier e Baptiste de Ville d’ Avray, a “Afrique in Visu” é uma plataforma que tem como objectivo estimular redes colaborativas em torno da fotografia em África. Para festejar os seus dez anos de existência, a “Afrique in Visu” concebeu um livro – “Being a Photographer in Africa: The Ten Years of Afrique in Visu” – um repositório do que de melhor foi publicado e é complementado por uma série de ensaios escritos por diversas personalidades ligadas ao mundo da fotografia. Trata-se de um livro visualmente poderoso e que, tendo em atenção a escassez da reflexão sobre as questões substantivas que se colocam ao exercício da fotografia em África, permite aos leitores obter uma perspectiva erudita e sobre as diversas problemáticas abordadas.

“A Revolução do AlgoRitmo mestRe” PedRo domingos editoRA mAnuscRito

Depois de Bill gates e eric Schmidt (google) terem considerado o livro “A revolução do Algoritmo Mestre”, do português Pedro Domingos, uma obra de referência no que toca à análise que faz sobre o impacto da tecnologia da Inteligência Artificial (IA) no futuro das sociedades, foi a vez do presidente chinês xi Jinping se lhe referir recentemente como sendo um dos livros “mais importantes que leu em anos recentes.” No seu livro, Pedro Domingos descreve os impactos que os algoritmos já usados por empresas como a Amazon, o google e o facebook estão a ter no mundo. e explica como a pesquisa no sentido de conceber um “algoritmo-mestre” pode implicar mudanças “sísmicas” na forma de funcionar das sociedades e na forma como são integrados na sociedade.

música filmes livros

exposiçÕes

idAsse temBe mAlendzA (moçAmBique) teResA coRtez(PoRtugAl)

Fundação Fernando Leite Couto

galeria de exposições Inauguração: 4 de Julho às 18h30 Patente até 3 de Agosto entrada Livre

(Re)lemBRAR - mYsteRY of foReign AffAiRs exPosição colectivA inteRnAcionAl cuRAdoRiA: AndReAs WegneR

Camões - Centro Cultural Português em Maputo Patente até 27 de Julho De segunda a sexta das 11h00 às 18h00 entrada Livre

mÚsica

conceRto “ePARAkA” de deltino gueRReiRo convidAdos: steWARt sukumA e AzAgAiA

Centro Cultural Franco-Moçambicano Palco do Jardim Dia: 6 de Julho Hora: 20h30

conceRto “m’vulA” (AngolA)

Centro Cultural Franco-Moçambicano Sala grande Dia: 12 de Julho Hora: 19h

mARRABentA - velhA guARdA dillon dJindJi

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 13 de Julho Hora: 18h

livros

A festA do PReto gRuPo teAtRAl mintsu

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 11 de Julho Hora: 18h

memóRiAs PóstumAs de Bás cuBAs centRo de RecRiAção ARtísticA

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 18 de Julho Hora: 18h

cinema

“enviAdo esPeciAl” ReAlizAção de nAlini de sousA

Centro Cultural Franco-Moçambicano Auditório Dia: 9 de Julho Hora: 19h

kongoloti sessions documentáRio lusofoniA, A (R)evolução

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 6 de Julho Hora: 18h

literatUra

teRtúliA liteRáRiA os PRocessos de Poesis ou As quARto cAtegoRiAs PoÉticAs em knoPfli convidAdo: AmÉRico PAcule modeRAdoR: JosÉ dos RemÉdios

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 19 de Julho Hora: 19h

eUropa e áfrica: o passado

e o presente

o ponto de partida da ex-

posição ‘Internacional Mystery of Foreign Affairs’ é uma reflexão sobre a o que foi a experiência de vida de vinte mil trabalhadores moçambicanos que trabalharam e moraram na República Democrática Alemã. Contudo, o projecto almeja também, de forma mais abrangente, contribuir para uma reflexão sobre as relações entre Europa e África, no passado e no presente. A primeira parte da exposição decorreu em vários lugares da cidade de Schwerin, na Alemanha, entre Setembro e Novembro de 2017, com a participação de artistas de Moçambique, Angola, África do Sul e Alemanha. Nesta exposição, as obras de artistas como Dito Tembe, Iris Buchholz Chocolate e Katrin Michel abordam a temática das relações de intercâmbio da República Democrática da Alemanha com trabalhadores moçambicanos, conhecidos como Madgermans. Por seu turno, as obras de artistas como Matias Ntundo ou Gemuce proporcionam uma revisitação do passado colonial, enquanto os trabalhos de Edson Chagas e Zanele Muholi representam a presença e a questão de estereótipos e atribuições culturais no mundo actual. A segunda parte da exposição decorre em dois espaços da cidade de Maputo, no Camões – Centro Cultural Português e na Fortaleza de Maputo, e estará patente entre 14 de Junho e 27 de Julho de 2018. Em Maputo, a exposição passa a incluir dois trabalhos sobre a Namíbia: ‘Towards Memory’, de Katrin Winkler, um projecto de vídeo e pesquisa que surgiu de uma colaboração com mulheres da Namíbia que foram enviadas em crianças para a RDA, em 1979, aquando da luta da libertação e anti-apartheid no seu país. O segundo trabalho, intitulado ‘Namibia Today’, de Laura Horelli, recorda a edição do jornal ‘Namibia Today’ impresso na então RDA. Em Maputo, são ainda apresentadas obras de Jorge Dias, Maimuna Adam, Gemuce, Dito Tembe, Luís Santos, Matias Ntundo, Iris Buchholz Chocolate, Edson Chagas e Katrin Michel. Através de diferentes meios, da instalação à pintura, passando pela escultura e vídeo, a exposição pretende contribuir para um complexo trabalho de evocação de uma memória sobre um passado comum, bem como para uma reflexão sobre as relações actuais entre o continente africano e a Europa.

(re) lemBrar mystery of foreign affairs

Camões - Centro Cultural Português em Maputo/ Fortaleza de Maputo

Motor Híbrido W12 6,0 litros e versão diesel 4,0 litros de 435cv potência 435cv (diesel) e híbrido 460 cv

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durante a edição de 2017 da ces (consumer electronic show), a maior feira mundial ligada à electrónica de consumo que se realiza anualmente em Las Vegas, nos EUA, a Audi anunciou que iria lançar dentro de meses um “veículo autónomo” (de nível 3) e que prevê colocar no mercado em 2020, em conjunto com a empresa norte-americana de tecnologia Nvidia, um veículo “totalmente autónomo” (nível 4). O carro escolhido pela Audi pertence à próxima geração do A8 e, a confirmar-se, será o primeiro veículo do mundo a chegar ao mercado com uma autonomia de nível 3, ou seja, não será, na verdade, “totalmente autónomo”, mas será o primeiro a subir um novo patamar de autonomia. De acordo com a classificação estabelecida pela Society of Automotive Engineers (SAE), os carros com um nível de autonomia 3 são aqueles que podem acelerar, desacelerar, manobrar e ultrapassar outros carros sem intervenção humana. Eles são capazes de tomar decisões e permitem que o motorista tire as mãos do volante e os pés dos pedais em situações específicas. O modelo que a Audi irá lançar no mercado pode autoconduzir-se a uma velocidade de 60km/h, lidar com situações adversas e dará ao condutor 10 segundos para poder retomar o controlo em caso de necessidade. De forma muito abreviada, a classificacação da SAE considera que o nível de autonomia 0 é aquele em que o carro depende totalmente do condutor. O nível 1 inclui aqueles veículos que já estão equipados com

aUdi aposta forte nos veÍcUlos aUtónomos alguns tipos de câmaras e sensores. O nível 2, no qual se enquadram muitos veículos já hoje disponíveis no mercado, pressupõe a existência de sistemas avançados de assistência ao condutor. Acima do nível 3 , há ainda o nível 4, em que o veículo é capaz de se autoconduzir com segurança, “mesmo se um humano não responder a uma solicitação para intervir”. A tecnologia já existe e está a ser testada mas o problema maior é que para poderem circular será necessário um grande investimento na adaptação das actuais infra-estruturas urbanas. Finalmente, os veículos do nível 5 serão aqueles que dispensarão por completo o condutor. Bastará indicar ao carro o seu destino o carro escolhido pela aUdi pertence pretendido e ele levá-lo-á. à próxima geração do a8 e será o primeiro com aUtonomia de ‘nÍvel 3’ TexTO Rui tRindade

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