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Macro
Quem dá mais pela área 1 do gás de moçambiQue?
A Occidental cobriu a proposta da Chevron na batalha pela compra da Anadarko e anunciou a venda da totalidade dos activos em África à francesa Total, e tudo numa altura em que o anúncio FID tem data marcada: dia 18 de Junho
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porque é que a chevron, uma das Maio-
res petrolíferas mundiais, e a Occidental, mais pequena, mas cheia de ambição, lutaram durante cerca de um mês para ficar com a Anadarko? Não foi propriamente por esta ser líder do consórcio da Área 1 de exploração de gás natural em Moçambique, mas por ter importantes exploracções de petróleo na chamada “bacia permiana” nos estados do Texas e Novo México, nos EUA. A Chevron abriu a carteira, puxou por 33 mil milhões de dólares e chegou a acordo com a Anadarko para começar a tratar da aquisição. Em Maputo, as perguntas surgiram: “então e o que vai acontecer com o mega-
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Mil Milhões de dólares É a oferta da occidental, que supera a proposta inicial da chevron pela compra da anadarko, de 33 mil milhões de dólares
projecto da Área 1? Com a exploração de gás da bacia do Rovuma? Com a ‘cidade do gás’ que está a nascer em Palma, no extremo Norte? O que vai acontecer com a fábrica de liquefação e exportação em Afungi?”. Michael Wirth, presidente da Chevron, não foi muito claro. Disse apenas que o projecto ia “adequar-se bem” ao portefólio da empresa. Mas já não vai ser assim porque surgiu a Occidental que ‘atirou’ com 38 mil milhões de dólares para cima da mesa (valor acrescido de acções) e diz que vai a jogo para comprar a Anadarko. Em Maputo, as perguntas cresciam. “Mas isto pode atrasar o projecto da Área 1?
Quanto tempo irá demorar mais esta luta pela multinacional Anadarko?”. Os primeiros analistas a comentar a proposta disseram que a Oxy (diminutivo pelo qual também é conhecida a Occidental) estava a tentar dar um passo Maior que as pernas. Mas depois mostrou as cartas: afinal contava com o apoio financeiro do milionário norte-americano Warren Buffet, que investiu 10 mil milhões de dólares na petrolífera. E a Occidental disse ainda claramente que quer a Anadarko pela bacia permiana e que os negócios em África - incluindo Moçambique - são para vender à francesa Total, com a qual já estabeleceu um acordo e assim gerar valor. E assim o jogo virou e a Anadarko disse, preto no branco, que prefere o negócio com a Occidental, restando à Chevron quatro dias para cobrir a oferta. Mas não o fez. Em Maputo havia cada vez mais pontos de interrogação. É então que Al Walker, presidente e director executivo (CEO) da Anadarko, faz uma visita relâmpago à capital moçambicana, a 7 de Maio e, ao lado do Presidente, Filipe Nyusi, anuncia que a Decisão Final de Investimento no Norte está marcada para 18 de Junho, com uma cerimónia em Maputo. Serenaram assim todos os que faziam perguntas em Maputo, pelo menos por enquanto. Se este mês de disputa entre petrolíferas mostrou, uma vez mais, é que, até estar a fluir, muita coisa pode acontecer com o megaprojecto de gás natural que promete prosperidade para Moçambique a partir de 2024.
Quem é o futuro dono da área 1? O director do departamento de fusões e aquisições da consultora WoodMackenzie elogiou a petrolífera Chevron por ter desistido de comprar a Anadarko. Considerou que se trata de um sinal muito positivo sobre a disciplina financeira da empresa. “O facto de o acordo ser demasiado caro para a Chevron pode levantar algumas preocupações sobre a capacidade da Occidental em criar valor. É possível que haja críticas durante a Assembleia Geral por parte de alguns investidores”, já que “a pressão sobre as contas e o financiamento caro é agora uma realidade para a Occidental, que terá de avançar rapidamente no plano de desinvestimento e integrar o negócio da Anadarko”. Ou seja, a venda da Área 1 de Moçambique à Total deverá ser uma prioridade até ao final do ano. O que leva a outra pergunta: quem é a petrolífera francesa?
A CrOnOlOgIA DA bATAlhA negOCIAl pelA AnADArkO
Apesar das dificuldades em capacitar, atrair e reter força de trabalho competente há alguns indicadores menos maus. Vale a pena lançar um breve olhar sobre eles.
12 de Abril
Chevron anuncia acordo para comprar a Anadarko por cerca de 33 000 milhões de dólares
24 de Abril
Occidental Petroleum faz oferta de 38 000 milhões de dólares
30 de Abril
Anadarko admite que a oferta pode ser “potencialmente superior” à da Chevron
6 de Maio
Occidental revela acordo com a Total para vender activos da Anadarko em África, incluindo Moçambique, por 8,800 milhões de dólares
7 de Maio
Anadarko prefere acordo de fusão com a Occidental
9 de Maio
Chevron desiste de comprar a Anadarko e abre caminho ao negócio com a Occidental
9 de Maio
Occidental quer “assinar o acordo de fusão com a Anadarko o mais rápido possível”
10 de Maio
“A transacção deverá ser concluída no segundo semestre de 2019, sujeita à aprovação dos accionistas da Anadarko, aprovações regulamentares e outras condições habituais”, anunciou a Anadarko.
a Total conhece moçambique. O logo vermelho, azul e dourado está presente pelo país no negócio dos postos de combustível. Mas a história da empresa no país tem mais capítulos. A Total tem um historial de pesquisa de hidrocarbonetos, actividade em que participou até há três anos, depois de abandonar as áreas 3 e 6 sem descobertas que justificassem investimento. Agora, prepara o regresso à extracção numa altura em que está entre os líderes de produção de gás natural liquefeito (GNL) a nível mundial. A publicação Africa Energy Intelligence anunciou em Maio, poucos dias depois de a Chevron se afastar da compra da Anadarko, que a Total já tinha destacado executivos para Moçambique, com vista a supervisionar e antever os detalhes relativos à Área 1. A nível global, a Total é um dos principais grupos mundiais de petróleo. Opera 14 311 estações de serviço em todo o mundo, sendo que a distribuição de derivados de petróleo equivale a 50,8% das suas vendas. A Total também actua na produção de electricidade a partir de centrais a gás de ciclo combinado e energias renováveis, na transformação de químicos e produtos de petróleo, transporte, armazenamento e vendas de gás natural, GNL, GLP e carbono. As vendas líquidas dividem-se geograficamente da seguinte forma: França 22,8%, Europa 47,5%, África 10,6%, América do Norte 10,6% e outras localizações 8,5%.
Total ganha golfinho e atum O consórcio da Área 1 que, pelo que agora se vislumbra, deverá passar a ser liderado pela Total (nos próximos meses se saberá) vai produzir GNL na Área 1 da Bacia do Rovuma dentro de cinco anos, naquele que será o primeiro projecto de GNL ‘onshore’ em Moçambique. A transferência dos activos para a Total vai acontecer no segundo semestre. O grupo de empresas vai explorar o gás natural encontrado nas profundezas da crosta terrestre, sob o fundo do mar, a 16 quilómetros ao largo da província de Cabo Delgado, nas jazidas Golfinho e Atum, localizadas exclusivamente na Área 1. Depois de extraído, através de furos, o gás será encaminhado por tubagens (sem plataformas no mar) para a zona industrial a construir em terra, na península de Afungi, onde será transformado em líquido e conduzido para navios cargueiros com contentores especiais para exportação. No último ano e meio têm es-
macro
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Os relatos de autoridades locais e residentes apontam para, pelo menos, dez mortes registadas em Maio
Q&A: A TrIbuTAçãO De MAIs-vAlIAs
Em que momento (ou momentos) e sobre qual valor deverá ser aplicada a tributação? O tema é conhecido das autoridades. em Dezembro de 2017 a petrolífera italiana eni concluiu a venda de 25% de participação indirecta na Área 4 de exploração de gás natural em Moçambique à norte-americana exxonMobil. Com o negócio de 2,8 mil milhões de dólares, o estado moçambicano arrecadou 354,4 milhões de dólares com a tributação de mais-valias da transacção entre as duas petrolíferas. Sobre a aquisição da Anadarko, tudo depende ainda do desenrolar do processo, referem algumas fontes, até porque, como as últimas semanas provaram, até ao último momento pode haver novidades.
tado em construção todas as infra-estruturas de apoio, como a aldeia de reassentamento, pista de aviação e uma estrada que liga estas diferentes zonas do empreendimento global. O plano prevê a instalação de duas linhas de liquefacção, instaladas em terra, e com capacidade de produção de 12,88 milhões de toneladas por ano (mtpa) de gás natural liquefeito. Este projecto inicial abre o caminho para uma importante futura expansão até 50 mtpa. O projecto Golfinho e Atum fornecerá também volumes iniciais de aproximadamente 100 milhões de pés cúbicos de gás natural por dia (MMCFD) para uso doméstico em Moçambique. Além da Anadarko, que lidera o consórcio com 26,5%, o grupo que explora a Área 1 é constituído pela japonesa Mitsui (20%) e a petrolífera estatal moçambicana ENH (15%), cabendo participações menores à indiana ONGC (10%) e à sua participada Beas (10%), à Bharat Petro Resources (10%) e à tailandesa PTTEP (8,5%).
reacendimento de ataques armados O anúncio da venda da principal concessionária da Área 1 à Total surge numa altura em que se regista um reacendimento dos ataques armados em Cabo Delgado e uma transição dos homens armados para zonas de asfalto, a interceptar viaturas. Quem conseguirá travar esta ameaça crescente? Os relatos de autoridades locais e residentes apontam para, pelo menos, dez mortes registadas no mês de Maio, receando-se que a ausência de comunicação de vários casos, a Maioria em locais remotos, possa esconder uma realidade em que o número de vítimas seja Maior. Tal como acontece desde o início dos ataques, em Outubro de 2017, em mesquitas com grupos insurgentes (que renegam à autoridade do Estado e simpatizam com um islão mais rígido), os alvos são sobretudo aldeias no meio do mato. No entanto, a 10 de Maio, dois homens armados, mascarados, cobertos de negro, vieram para a estrada. Dispararam sobre um autocarro de transportes públicos, mataram uma pessoa, feriram outras - entre elas um trabalhador nas obras da Área 1 - e raptaram uma funcionária dos serviços de saúde da província de Cabo Delgado. A Total tem este cenário de violência em cima da mesa e o contexto que já nem é novo: um motorista moçambicano que trabalhava para a firma portuguesa Gabriel Couto - uma das dez empresas lusas com actividade registada na província de Cabo Delgado - foi abatido a tiro, em Fevereiro, no mesmo dia em que outros seis trabalhadores ligados às obras ficaram feridos em ataques a viaturas. Na altura, a petrolífera Anadarko suspendeu os trabalhos por falta de condições de segurança. O ataque de dia 17 de Maio aconteceu três dias depois de a empresa ter anunciado que ia retomar os trabalhos e que no dia 18 de Junho vai formalizar a Decisão Final de Investimento. Numa reacção ao ataque de 10 de Maio, a petrolífera Anadarko disse estar a trabalhar com o Governo para averiguar o que se passou. “Estamos cientes de um incidente recente que ocorreu na província de Cabo Delgado, mas não parece que esteja relacionado com o projecto”, referiu fonte oficial da empresa. “Estamos a trabalhar com o Governo com vista à obtenção de uma melhor compreensão do que aconteceu”, acrescentou, sem adiantar mais detalhes. “Levamos a segurança do nosso pessoal muito a sério e, por essa razão, não discutimos medidas” nessa área, concluiu.
TexTO Luís Fonseca serviço especiaL da Lusa para a e&M fOTOgrAfiA Lusa
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Números em conta
Net aiNda é cara em moçambique
se, por um lado, dez dos 50 países mais baratos do mundo para dados móveis estão na África Subsaariana, quatro dos cinco mercados mais caros para aceder à net também estão na região, o que denota, e o termo vem a calhar, várias velocidades a este respeito. No estudo ‘Worldwide mobile data pricing: The cost of 1GB of mobile data in 230 countries’, publicado pela Cable.co.uk, em Abril passado, Moçambique encontra-se num meio termo. Regista uma evolução significativa nos últimos anos, mas o preço médio por gigabyte de internet ainda é elevado (15,82 dólares), estando na posição 203 a nível mundial, e muito distante da liderança ocupada pela Índia, onde comprar dados móveis tem um custo médio de 26 cêntimos de dólar por giga. Aqui bem perto, no Zimbábue, está o lugar mais caro do mundo para se frequentar a internet, com um custo médio de 75,20 dólares por gigabyte.
estados unidos
Ao contrário do que seria de esperar, é uma das nações mais caras para a aquisição de dados móveis, quedandose pela 182ª posição em 230 países analisados, e com uma média de 12,37 dólares por gigabyte.
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África Subsaariana
Região funciona a duas velocidades: Ruanda e Sudão figuram entre os dez primeiros do mundo, com 1 GB de dados a custar apenas 0,56 e 0,68 dólares respectivamente. Mas, é também aqui que está nação mais cara do mundo em dados móveis: o Zimbábue onde o giga mais caro chega aos 138,46 dólares.
203º
moçambique
Quatro dos cinco países mais caros para comprar dados móveis estão na África subsaariana mas Moçambique nem é um deles. Apesar disso, muito há a melhorar. Posição no ranking 203º Preço médio 1GB 15,82$ Preço 1GB mais baixo 0,80$ Preço 1GB mais caro 55,84$ Nº de planos de oferta 34
230º
Zimbabué
É o último da lista e o mais caro país do mundo ao nível dos preços de dados móveis. No país vizinho, o custo médio de 1GB chega aos 75,20 dólares, cerca de 289 vezes o custo médio registado na Índia.
ÁSia
Os países asiáticos ocupam metade da tabela dos 20 mais baratos do mundo. Com a Índia no topo da lista, o preço médio também é menor que um dólar no Sri Lanka, Mongólia, Mianmar e Bangladesh. No outro extremo da tabela, pode ser surpreendente ver uma nação tecnologicamente tão avançada como a Coreia do Sul, com os valores dos dados móveis entre os mais caros a nível global (custam 15,12 dólares, quase o mesmo do que em Moçambique em que chegam aos 15,82). Grandes economias como Japão e China também estão entre as mais caras da Ásia.
1º Índia
Um país cuja população jovem tem uma consciência tecnológica particularmente evoluída, a Índia oferece um mercado vibrante de smartphones, com forte tendência concorrencial, com reflexos no preço o que torna os dados incrivelmente baratos.
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Valores em dólares; Dados recolhidos em Moçambique a 13 de Novembro de 2018. FONTE: Estudo ‘Worldwide mobile data pricing: The cost of 1GB of mobile data in 230 countries’
OPINIÃO
PME: Como aumentar as possibilidades de acesso ao financiamento da Banca?
Sábado Tomucene • Head of Wholesale Credit no Barclays Bank Mozambique
as restrições ou dificuldades que as PME enfrentam para aceder ao financiamento da banca comercial representam um desafio à escala global que também se aplica a Moçambique. Os bancos tȇm plena consciência do tema, facto que é evidenciado pelo reduzido peso do portefólio das PME nas carteiras totais de crédito dos bancos comerciais locais (que varia entre 1% e 15%). Esta métrica reflecte o baixo apetite dos bancos para com o risco associado a este segmento e as dificuldades para analisar a capacidade de endividamento das PME. No que diz respeito às dificuldades enfrentadas, a falta de informação financeira organizada tem sido apontada como o principal problema que inibe os bancos em conceder financiamentos às PME. Porém, apesar da importância inquestionável da informação financeira na avaliação da capacidade de reembolso dos clientes, este não é necessariamente o factor único para este reduzido apetite. Neste artigo, trago algumas sugestões que podem ajudar as PME que operam no mercado nacional a aceder a financiamentos bancários: Reforço do Formalismo, Reforço da Transparência, Reforço do Relacionamento com o banco parceiro, Compromisso com o Negócio e a Capitalização da Cadeia de Valor em que se encontra a operar. Outra verdade é que os bancos comerciais são organizações com fins lucrativos, tendo a gestão de risco como pilar fundamental do seu negócio e os recursos financeiros provenientes dos depositantes e dos seus investidores (accionistas e financiadores) como a principal mercadoria no âmbito da sua actividade creditícia. A minha experiência de quase dez anos a trabalhar na área de crédito às empresas leva-me a concluir que quanto maiores elas forem, maiores são as facilidades de aceder aos financiamentos bancários. Este cenário não deriva necessariamente do facto dessas empresas serem maiores, mas sim da facilidade com que os bancos conseguem tomar a decisão de conceder (ou não) os financiamentos solicitados. A banca comercial tem clara consciência da pouca importância (infelizmente) que a informação financeira organizada recebe dos operadores das PME. Porém, apesar da sua importância vital, a sua ausência não é necessariamente condição para ver restringida as possibilidades de acesso ao crédito bancário. A realidade encontrada no mundo das grandes empresas (especialmente no que diz respeito à informação qualitativa ou alternativas) pode ser replicada pelas PME na sua relação com os bancos e, desta forma, aumentar suas possibilidades de acesso aos financiamentos quando necessário. Reforço do formalismo – Quanto maior for a empresa, maior tem sido a tendência da mesma operar em ambiente de legalidade. Não se pode esperar que o banco possa assinar um contrato com uma entidade sem personalidade jurídica legalmente válida. Esta exigência é eventualmente uma das grandes barreiras que afasta as PME da banca comercial. Reforço da transparência – O banco precisa de entender o negócio do cliente, tanto no que se refere ao ciclo económico como ao ciclo financeiro do negócio. Este entendimento facilmente pode ser conseguido nas grandes empresas, ou seja, a assimetria de informação entre o cliente e o banco geralmente tende a reduzir quanto maior for a empresa. Reforço de relacionamento – A concessão de crédito está baseada na confiança que o banco deposita num cliente sobre a sua vontade e capacidade de reembolsar os valores financiados. A narrativa partilhada deve ser reforçada por evidências concretas, sobretudo o histórico que se constrói com o tempo do relacionamento cliente-banco. Conduta da conta: A quase totalidade dos relacionamentos entre o banco e o cliente começa com os depósitos. Diferentemente das grandes empresas onde a qualidade de informação quantitiva aumenta com a grandeza da empresa, para as PMEs, os depósitos podem ser um elemento crucial para visualizar o ciclo financeiro do negócio. Experiência positiva: Como o cliente espera ter uma experiência positiva na sua relação com o seu banco, este espera o mesmo dos seus clientes. Satisfazer com rigor os compromissos assumidos e o dever de informar antecipadamente sempre que estiver perante uma situação de potencial quebra desses eleva, sobremaneira, a pontuação do cliente e fidelização da relação para futuras necessidades. Compromisso com o negócio: A questão é até onde os empresários neste segmento estão dispostos a ir em nome dos seus negócios? O comportamento do empresário perante
o seu negócio pode sinalizar riscos (ou não) ao banco. Explorar a cadeia de valor das grandes empresas: estas PME que fornecem bens e serviços a grandes empresas tȇm a opção de descontar as facturas emitidas, as ordens de compra recebidas ou obter linhas de crédito flexíveis com a consignação das receitas de contratos celebrados para fornecimento de bens ou prestação de serviços. Estas soluções (que se enquadram no Supplier Finance – designação em inglês) existem nos bancos. No que se refere às PME que actuam a jusante (distribuição), também existem possibilidades de acesso aos financiamentos alavancando a relação existente com grandes empresas, nomeadamente: 1) Garantias bancárias de pagamento para compras a crédito e, desta forma, reduzir a pressão sobre a tesouraria da empresa; 2) Linhas de crédito flexíveis para compras a pronto pagamento – sob forma de descobertos ou de empréstimos de curto prazo – alinhadas com o ciclo de tesouraria do negócio. Escolha do produto de crédito: a escolha do produto deve estar estritamente alinhada com as necessidades do negócio que levam o cliente a solicitar o financiamento. O que se nota muitas das vezes é que os empresários tendem a acomodar-se em linhas que lhes conferem a comodidade a curto prazo sem observar o impacto a médio e longo prazo. Por exemplo, um descoberto bancário é um produto preferido que confere tal comodidade, pelo facto de permitir um serviço de dívida limitado apenas aos juros mensais, tirando a pressão de amortização do capital no imediato. Por outro lado, as empresas tendem a usar as disponibilidades nas linhas flexíveis para fins que não estão no âmbito do contrato celebrado. Como resultado, os fundos ficam empatados, criando constrangimentos ao próprio negócio. Em última instância, estas situações impactam na classificação comportamental do cliente pelo banco. Uma indicação objectiva sobre o real propósito do financiamento pode ajudar na avaliação da racionalidade e alinhamento das necessidades com o melhor produto a usar. Conclusão: A falta de informação objectiva sobre o negócio (ou projecto) e as necessidades associadas aos financiamentos contribuem sobremaneira para as dificuldades enfrentadas pelas PME na intenção de obter apoio financeiro dos bancos. A ausência de informação financeira organizada não é a única limitação, pois existem outras formas de aumentar as possibilidades de acederem a financiamentos, baseada na qualidade de informação e do relacionamento com o banco parceiro.