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fIgura do MÊs
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o projecto de desenvolvi-
mento e construção da linha férrea que vai ligar Macuse (Quelimane) e Xitima (no sopé de Cahora Bassa) é uma Parceria Público-Privada (PPP), a que o Estado atribuiu uma concessão válida por 30 anos para o desenvolvimento de uma obra de grande impacto numa região que, como se sabe, tem um enorme potencial mineral. Sendo que a Vale criou, ou ampliou, a Linha de Nacala até Moatize, a Linha de Xitima, a cargo da TML, apresenta como maior benefício um trajecto mais curto, apresentando-se, por isso mesmo, mais competitiva ao nível do preço do transporte. A chegar à fase decisiva para o arranque da obra, e ainda sem a conclusão dos projectos de financiamento (3 mil milhões de dólares), Orlando Marques, CEO da Thai Mozambique Logistics (TML), revela à E&M em que ponto está o processo.
Qual é a vantagem competitiva de uma segunda linha a ligar Tete ao oceano?
Em comparação com a Beira e Nacala, estamos a falar da distância mais curta (639 quilómetros), o que gera eficiência. Depois, a capacidade de transporte é mais elevada porque vamos transportar 26 toneladas por eixo quando actualmente na Linha de Sena não transportam mais de 18 a 20 toneladas por eixo e na de Nacala cerca de 20 toneladas.
Há aqui uma proximidade maior com os mercados adjacentes, o que é uma vantagem, imagino...
De facto. Na integração regional, Xitima, é o ponto mais próximo para ligar com o Zimbabué (120 quilómetros), com a Zâmbia (170 quilómetros). A ligação ao Malawi, creio que vai acontecer naturalmente porque o traçado da linha passa a 50 quilómetros da fronteira. A TML é um projecto integrado, não só para o carvão,
cv
curriculum vitae
orlando Marques é pós-graduado em gestão de Projectos no iSg. foi gerente da Midal Cables international. foi também Consultor Sénior na infinity Consulting, Director de Logística no grupo João ferreira dos Santos e gerente geral na JfS - forjadora. É actualmente Ceo da thai Mozambique Logistic, S.a.
TML
obviamente, que será uma das commodities mais importantes, mas ao nível de carga geral estamos a falar de ligações com várias outras explorações, como por exemplo a da Portucel com quem já assinámos um memorando de entendimento para desenvolver toda a área logística necessária para o transporte da madeira das áreas de plantio que eles têm até ao Porto.
Como é a estrutura accionista da TML?
Está dividida em 60% para o investidor tailandês, 20% para os CFM (o nosso parceiro ao nível governamental) e 20% para um conglomerado de empresas moçambicanas, essencialmente da Zambézia.
O projecto pressupõe também a ampliação do porto?
O Porto vai ser todo novo e irá surgir na localidade de Macuse, utilizando as duas margens do rio. A margem do lado do Sopinho, vai ser o terminal de carvão e do lado de Macuse, será o terminal de contentores, cereais e carga geral. A construção (linha e porto) estará a cargo de uma joint venture entre a Mota-Engil e a CCIC, uma empresa chinesa.
O que falta para iniciar o projecto?
O concurso internacional para a concessão foi lançado em 2013 mas, por questões administrativas, burocráticas e as alterações do formato, a concessão final foi-nos atribuída em Abril de 2018. Neste momento estamos na fase do fecho financeiro. Todo o projecto foi idealizado para ser feito com uma garantia soberana por parte do Estado mas, como sabemos, esta está bloqueada e tivemos de fazer um plano de investimento para suprir essa situação. Para que o possamos fazer com a banca e outros parceiros, precisamos dos acordos com os clientes finais, neste caso, essencialmente as mineradoras, porque o grande volume está aí. Como sabemos, e os dados são públicos, em Tete está a produzir-se muito pouco e mesmo a Vale está abaixo do esperado. No entanto, temos vários grandes investidores internacionais interessados e contamos ter este processo concluído em poucos meses.
Mas faz sentido ter uma outra linha?
Estamos a falar de um projecto estruturante para o país e que faz todo o sentido por isso mesmo. Ao nível do preço, a Vale, segundo os números que são públicos, está a pagar qualquer coisa entre 50 a 60 dólares por tonelada de carvão, enquanto que na nossa linha estamos a falar de 25 dólares por tonelada, metade do preço. É arriscado ter apenas uma via a fazer este trajecto, sempre muito sujeita a catástrofes naturais, como o Idai, por exemplo. Por fim, o nível do calado do porto e a quantidade de carvão que podemos movimentar na linha são interessantes. Acredito que a Vale, mesmo sendo “dona” da linha de Nacala, vá assinar contrato connosco.
Quando inicia a obra?
Ainda este ano. E mesmo antes de termos o financiamento fechado o plano de reassentamento arranca em Junho.