14 minute read
ESPECIAL INOVAÇÕES DAQUI 58 928 Challenge Macau
from E&M_Edição 56_Janeiro 2023 • Guia de Fitness & Wellness - Trabalhar o Corpo (e a Mente) em Maputo
especial inovações daqui
58 GREEN POULTRY FARM
Advertisement
Como a proposta de uma fonte alternativa de energia, no caso a electricidade produzida do biogás processado a partir dos dejectos de aves, deu um importante reconhecimento internacional a cinco aspirantes a cientistas moçambicanos.
62
UXENE SMART CITY
Um projecto que quer materializar, em Moçambique, o conceito de cidade inteligente
64
PANORAMA
As notícias da inovação em Moçambique, África e no Mundo
Jovens Cientistas Moçambicanos Distinguidos por Criação de Energia Inovadora Para Impulsionar Agronegócio
Uma equipa de estudantes da Universidade Eduardo Mondlane foi distinguida, em Outubro passado, numa competição internacional de startups designada por 928 Challenge, realizada em Macau, por desenvolver um sistema de produção de biogás a partir das fezes de aves, enquanto forma de eliminar o défice energético e reduzir os custos de produção avícola no País
TEXTO Nário Sixpene • FOTOGRAFIA Mariano Silva
Se é verdade que a academia em Moçambique não tem ainda os meios mais adequados para fomentar a pesquisa científica, é também verdade que o paradigma actual e global de incentivo à criação de negócios sustentáveis está a despertar nos jovens a busca por respostas tecnológicas capazes de suprir esse défice.
Mas, como para ter boas ideias não é preciso mais do que apenas uma boa ‘infra-estrutura’ de pensamento ‘fora fora da caixa’, esta é uma das mais recentes histórias que testemunham precisa-
mente este facto: um grupo de trabalho de jovens moçambicanos alunos da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), de diferentes áreas do saber, decidiram unir-se e, agregando os conhecimentos adquiridos durante a sua formação, criarem um sistema de produção de biogás a partir das fezes de aves. Estes inertes são, assim, uma matéria-prima que é depois transformada para gerar energia eléctrica.
Com esta iniciativa, os jovens foram distinguidos numa competição internacional de startups, designada 928 challenge, em Macau, na China, tendo ficado em segundo lugar na sua categoria.
A equipa, composta por cinco elementos, é liderada por Vasco Cossa, empreendedor e professor de física numa escola comunitária e dela fazem parte outras duas estudantes – Carla Mavila e Odavia Naftal – do departamento de química na Universidade Eduardo Mondlane. Abel Junga, da Faculdade de Engenharia, e Erasmo Sique, da Faculdade de Agronomia e Ciências Florestais, completam a turma dos premiados. Designaram o projecto de Green Poultry Farm, ou em português, Quinta de Agricultura Verde, o que explica, na génese, a sua ideia, que con-
siste, essencialmente, em tornar a cadeia de valor da avicultura sustentável. Mas como é que a avicultura e a sustentabilidade se juntam num projecto que preconiza a geração de uma energia limpa a partir de uma fonte energética, digamos, suja?
“Constatámos, durante as nossas pesquisas, que o frango produzido em Moçambique é muito mais caro se comparado com o importado, o que, em condições normais, não deveria acontecer. Então, começámos por analisar o processo de produção do frango, que é o que dita o preço final e apercebemo-nos de que há muitas irregularidades,
principalmente no que diz respeito ao consumo de energia eléctrica, para sustentar a produção”, explica Vasco Cossa.
Pensando numa ideia para suprir a necessidade de energia de forma sustentável, o grupo percebeu, através das suas pesquisas, que os excrementos do frango poderiam ser utilizados para produzir biogás e fertilizantes. “Então, focámo-nos nesta ideia simples para um problema concreto de que muitos se queixam: como é que podemos usar este conhecimento para melhorar os processos de produção do frango? Reunimos este ano, começámos a trabalhar exactamente em finais de Setembro e desenvolvemos a ideia um mês antes de concorrermos a esta competição de Macau”, relatou Vasco Cossa.
“A ideia era ter um espaço de produção de frango alimentado pelo desperdício da matéria-prima (fezes dos animais), através de um sistema que a transforma em gás, o que, ao mesmo tempo, evita que os dejectos fiquem no meio ambiente e, por outro lado, produz uma energia responsável por poucas emissões”, explicou o líder da equipa.
Como funciona o sistema?
Vasco Cossa explica: “temos o digestor que é acompanhado por um tanque de água, uma botija e outros componentes intermediários. Coloca-se a matéria orgânica no digestor e, a partir da digestão anaeróbica, algumas bactérias digerem alimentam-se dela e, em simultâneo, libertando através de um processo químico o gás que é armazenado num botija. O que resta de todo este processo são fertilizantes que depois podem ser utilizados para a agricultura.”
Desta forma, e com um processo aparentemente simples, e com custos reduzidos, esta matéria orgânica é transformada em biogás que pode ser utilizado como fonte energética que ajuda a suprir os elevados custos de produção avícola (para a criação de galinhas é necessária energia eléctrica para aquecer as capoeiras no Inverno e refrescar os locais de produção na época quente), tornando-a, desta forma, mais competitiva, especialmente numa altura em que os custos de energia subiram consideravelmente.
Os estudos feitos pelo grupo concluíram igualmente que, ao londo dos 40 dias de vida num aviário, um frango produz, em média, dois quilos de matéria orgânica, o equivalente a 70 litros de biogás, um potencial considerado “muito grande”. “Se tivermos um espaço com mil galinhas, e cada uma produzir essa
quantidade de matéria durante um mês, então poder-se-ia obter, em média, duas toneladas de matéria-prima, o que equivalem a 70 mil litros de gás, que garantiria as necessidades energéticas de uma farma de produção de frango com vários milhares de aves.
Quanto tempo leva a produção deste biogás?
“Depende da quantidade, mas em condições normais 45 dias são suficientes para conseguirmos uma quantidade considerável. Por isso, é recomendável que seja produzido por nós porque há factores de temperatura e pressão a ter em conta, sendo por isso que temos de isolar o sistema porque não pode entrar em contacto com a luz solar”, detalhou Vasco Cossa.
Para já, e para passar da ideia à prática, o grupo de cientistas pretende implementar o projecto na cidade de Maputo, por ter percebido que é o ponto onde a produção de frangos tem maior volume. E tenciona também instalar uma planta com um biodigestor de maior capacidade, que vai colectar a matéria orgânica angariada por vários criadores e produzir o biogás que vai ser revendido aos produtores de frango a um preço substancialmente baixo do que o praticado no mercado.
Apoios precisam-se
A ideia está lá, e até foi premiada, mas a equipa de cientistas-académicos-empreendedores tem enfrentado desafios para colocá-la em prática e escalá-la. Por isso prossegue na busca de parceiros e investidores.
Além disso, o grupo ainda está a desenvolver estudos para tornar o projecto mais eficaz, sendo que se debate com a dificuldade de encontrar dados actualizados do sector avícola, que possam permitir um levantamento de informações e projecções mais precisas do potencial que pode ser produzido.
Na competição internacional de startups, a equipa recebeu um prémio no valor de 10 mil mops (aproximadamente 80 mil meticais). Mas a implementação do projecto nos moldes desejados exige, no mínimo, 10 mil dólares, correspondente a 670 mil meticais.
O 928 Challenge é um concurso de startups e universidades com o propósito de reforçar as trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa. Equipas destes países apresentam as suas ideias e os finalistas são seleccionados para apresentar os seus projectos aos investidores.
UXENE SMART CITY O Despertar de Uma Nova Cidade Inteligente em Moçambique
Com o avanço da tecnologia e o apelo das organizações internacionais para reduzir as emissões de carbono, surgem novos modelos de cidades que combinam tecnologia e ecologia. O conceito de cidade inteligente está, ainda distante da realidade moçambicana, mas a partir de Dezembro, ficou bem mais próximo de ser verdade
TEXTO Nário Sixpene • FOTOGRAFIA Mariano Silva
‘Smart city’ é um conceito que se tornou comum no mundo imobiliário, da arquitectura à construção civil e engenharia urbana, e significa ‘cidade inteligente’. Esta nova forma de entender aquilo que é uma cidade tem vindo a conquistar espaço e a captar o interesse de investidores de inúmeros países nos últimos anos, por trazer uma nova abordagem que, tendo por base a tecnologia e a conectividade absoluta e permanente, serve os propósitos de eficiência energética e emissões zero, respeito pelo meio ambiente, e coloca o indivíduo como foco de todo o design arquitectónico. A esse nível, as cidades inteligentes integram, geralmente, toda uma panóplia de serviços à população, segurança pública, sustentabilidade, transporte e soluções integradas de governação, educação, planeamento e transparência. Exemplos recentes de projectos deste género não faltam e, no final de 2021, o governante do Reino da Arábia Saudita, o Príncipe Herdeiro Mohammed bin Salman, anunciou a sua visão para a The Line, ou “A Linha”, uma cidade linear com mais de 170 quilómetros de arranha-céus que abrigará milhões de pessoas em dois edifícios que funcionarão em paralelo e terão 487 metros de altura num projecto avaliado em meio bilião de dólares que deve estar terminado até 2030.
Claro que, falamos de projectos absolutamente futuristas que, à primeira vista, estarão muito longe do presente moçambicano, mas, em Dezembro, o primeiro projecto de cidade inteligente no País foi anunciado. Projectada para o distrito de Marracuene, onde a empresa Uxene S.A., liderada por Henrique Bettencourt (que se apresenta como desenvolvedor de negócios sénior, licenciado em agro-negócios e mestrado em Finanças na Universidade Golden Gate, nos EUA), pretende erguer a Uxene Smart City, num espaço de 555 hectares. Trata-se de uma cidade inteligente cujo investimento total é de 3,5 mil milhões de dólares, sendo que a primeira fase de implementação do projecto está orçada em 600 milhões de dólares, que serão investidos durante cinco anos, e que irá criar 6 500 empregos directos e 30 mil indirectos.
“Este não é apenas mais um projecto imobiliário, mas a construção de um novo pólo económico e de uma nova cidade inteligente, um lugar ecológico, sendo o primeiro projecto de desenvolvimento urbano deste génergo em Moçambique”, explica Henrique Bettencourt à E&M, para depois afirmar que pretende que este projecto seja “um modelo de desenvolvimento urbano para mais tarde ser replicado noutras regiões. Estamos a trazer um conceito de desenvolvimento urbano sustentável, integrado e inclusivo. A ideia é que a Uxene seja um lugar de excelência para viver, conviver, para estudar e investir”.
E foi mesmo a pensar no futuro que o Grupo Uxene começou a conceber o plano-director conceptual em finais de 2020. De 2021 a 2022, foi estabilizando o pensamento de uma cidade integrada e pensada para o futuro. Para tal, visitou algumas cidades de países de quatro continentes – Brasil, Portugal, Dubai, Vietname, Indonésia, África do Sul e Angola –, para tentar entender o que correu mal na implementação do projecto de construção de uma cidade. “Com isto, trouxemos um pensamento estratégico no desenvolvimento diferenciado e bem estruturado. Além disto, contamos com empresas de renome, com experiência comprovada no desenvolvimento de projectos desta natureza. Temos seis países envolvidos no projecto, e empresas que vêm da África do Sul, Quénia, Moçambique, Canadá, França e China”, esclarece o CEO da Uxene.
O projecto, programado para albergar 100 mil habitantes e que será construído pela China Jiangxi International Economic and Technical Cooperation (CJIC), terá um período de implementação de 15 anos dividido em três fases, sendo que a primeira arranca já a 29 de Maio de 2023 com o lançamento da primeira pedra. Nas fases subsequentes, será incluída a construção das vias de acesso, depois energia e água, o hospital, o centro oncológico, um shopping centre, um parque logístico, um terminal da metrobus e um parque residencial com 3 200 apartamentos. Prevê-se que “10% do projecto seja habitacional, e o restante infra-estruturas de suporte, porque queremos criar a massa crítica de serviços que vai dar vida à cidade. Vamos arrancar com apartamentos na primeira fase. Nas fases seguintes, complementaremos com o resto – a parte habitacional mista, a parte do lago e o parque ecológico.”
“Queremos introduzir tecnologias ‘smart enviroment’, que significam um ambiente inteligente, mobilidade ‘smart’, tudo o que são tecnologias que melhorem ou reduzam as emisões de carbono, razão pela qual prevemos a introdução de autocarros dentro da cidade com conversão para o sistema eléctrico, para termos menos poluição”, assinala.
“Pretende-se ainda digitalizar toda a cidade, para torná-la conectada, e com isto melhorar a eficiência na recolha do lixo, no tratamento dos resíduos sólidos e na captação e tratamento das águas pluviais para irrigar as áreas verdes”, conclui.
B
EMPRESA
Uxene SA
PROJECTO
Smart City
PROPRIETÁRIO
Henrique Bettencourt
CRIAÇÃO
2020
Agritech
Estudantes criam máquina controladora de temperatura para a agricultura
Estudantes da Escola Superior de Desenvolvimento Rural (ESUDER), unidade orgânica da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) localizada em Vilankulo, província de Inhambane, criaram um protótipo de máquina controladora de temperatura e humidade na actividade agrícola.
O sistema começa no computador, num programa denominado hardline, que serve para escrever os códigos.
A informação é transportada para uma placa que, em conexão com sensores, revela a temperatura que se faz sentir no ambiente em causa.
Os estudantes explicam que o protótipo funciona também com recurso à energia eólica, o que minimiza custos quanto à sua implementação, e irá também ajudar a maior parte do público-alvo, tendo em conta que se destina às zonas rurais, onde ainda há falta de corrente eléctrica.
O sistema poderá fazer face sobretudo ao desafio que a maioria dos agricultores do distrito de Vilankulo tem vindo a sofrer com a perda de insumos causada pela temperatura e humidade altas.
O mesmo sistema funciona também na avicultura, ajudando a estipular a temperatura ideal para cada um e denunciando qualquer alteração do termómetro.
Digitalização
Banco Mundial anuncia 200 M$ para apoiar processo de digitalização no País
O Banco Mundial vai desembolsar 200 milhões de dólares para apoiar o País no processo de digitalização, no âmbito do projecto “Aceleração Digital de Moçambique”, lançado a 12 de Dezembro de 2022, na Cidade de Maputo, com a parceria dos Ministérios da Ciência e Tecnologia, Educação e Desenvolvimento Humano e da Secretaria de Estado do Ensino Técnico Profissional.
A iniciativa prevê que, nos próximos seis anos, pelo menos 50% da população tenha acesso à Internet em todo o território nacional, e que a cobertura seja alargada às zonas rurais para mais de dois milhões de pessoas que não têm acesso ao sinal de telefonia móvel.
Actualmente, no País, apenas sete milhões de pessoas têm acesso à Internet, dos cerca de 30 milhões de habitantes que compõem a população total moçambicana. E, nas zonas rurais, um terço da população vive em locais onde não há sequer sinal nem habilidades para o uso da rede. O Ministério dos Transportes e Comunicações pretende, assim, através deste projecto, reverter este cenário e desenvolver o sistema das telecomunicações no País.
Competição
Startup senegalesa Kwely ganha o MEST Africa Challenge 2022
A startup senegalesa Kwely foi a vencedora do MEST Africa Challenge 2022 e assegurou 50 mil dólares em financiamento de capital próprio.
Trata-se de uma startup que procura redefinir o posicionamento e a imagem dos produtos fabricados em África, aumentar a sua competitividade nos mercados internacionais e fazer com que compradores e consumidores globais descubram a extensa gama de ingredientes naturais e saudáveis que o continente tem para oferecer.
Também desbloqueia o acesso aos mercados globais e fornece soluções de embalagens para criar condições equitativas para os pequenos produtores que se aventuram no comércio internacional. A plataforma foi construída com tecnologia de ponta, com características únicas, que reflectem a forma como as empresas e os fornecedores transaccionam uns com os outros, tendo em conta os prazos de entrega, as quantidades mínimas de encomendas, as ordens de compra e os pedidos de cotação, e permite maior facilidade e rapidez aos compradores para fazerem encomendas e receberem as suas mercadorias onde quer que se encontrem.
O MEST, fundado no Gana em 2008 pelo empresário Jorn Lyseggen, é um programa pan-africano de formação em software e empreendedorismo e incubador de empresas, que ajuda a lançar as startups tecnológicas em todo o continente. Até à data, já formou milhares de empresários e investiu em mais de 80 startups.
Agronegócio
Governo confia na transferência de tecnologias para acelerar transformação da agricultura
O Governo vê a transferência de tecnologias e a investigação agrária como prioridades para Moçambique acelerar o processo de transformação do sector da agricultura, para evitar que o País dependa totalmente da importação de tecnologias e criar, assim, as suas próprias. “A transferência de tecnologias é uma das sete componentes estruturais de apoio à agricultura familiar do Programa Sustenta, que tem como um dos principais objectivos integrar o produtor familiar na cadeia de valor”, disse o vice-ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Olegário Banze.
O governante falava na abertura do seminário sobre Revisão Periódica de Tecnologia (REPETE), que juntou investigadores, extensionistas e produtores, com o objectivo de reflectir sobre os pacotes tecnológicos no processo produtivo.