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from E&M_Edição 56_Janeiro 2023 • Guia de Fitness & Wellness - Trabalhar o Corpo (e a Mente) em Maputo
Sasha Vieira, responsável pela incubadora Standard Bank, faz um balanço de cinco anos de actividade deste ‘viveiro’ de ideias empreendedoras situado bem no coração de Maputo
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Texto M4D • Fotografia Mariano Silva
ASasha está aqui desde o dia zero da Incubadora. Como é que nasce este projecto, em Agosto de 2017?
Bem, olhando para trás, foi um caminho longo e desafiante. Começámos por uma constatação óbvia: olhando a algumas estatísticas do País, em 30 milhões de pessoas, apenas 1,7 milhões de moçambicanos tinham acesso ao sector formal de emprego.
Depois, ao nível do empreendedorismo, e segundo o Índice Global GEI (indicador da saúde do ecossistema de empreendedorismo que mede a qualidade deste e a extensão e profundidade do ecossistema de apoio), Moçambique classificava-se apenas em 124.º no total dos 137 países de todo o mundo.
Das 14 áreas avaliadas, as competências das startups, do capital de risco, do capital humano e da internacionalização tiveram as pontuações mais baixas. Como podíamos começar a encarar e resolver este problema? - perguntámo-nos. E foi com base nessa premissa que avançámos para este projecto.
Olhando o empreendedorismo enquanto chave transformadora do País...
Sem dúvida, o futuro de qualquer país pode e deve ser baseado no empreendedorismo. Mas tivemos muitos desafios, o ecossistema era, e é ainda, muito ‘verde’ e são precisos muitos recursos.
Mas a ideia-base esteve sempre lá: o que é que o Standard Bank pode fazer pelos empreendedores moçambicanos? Claro que oferecer serviços bancários, obviamente, é a parte da solução financeira.
Mas faltava, realmente, uma ideia clara sobre como é a vida de um empreendedor, quais as suas necessidades, como é que nos poderíamos colocar dentro dos seus sapatos e quais os recursos de que eles precisam para criar uma empresa sustentável.
Tínhamos muitas perguntas e, por isso, fomos em busca de respostas. Começámos por fazer várias entrevistas com o sector privado, com organismos públicos e vários actores dentro do ecossistema para entender melhor como poderíamos desenhar um mecanismo, uma incubadora que respondesse, de facto, a estas questões.
Daí surge, então, o primeiro esboço do que é hoje a Incubadora, é assim?
Sim, sempre num processo de experimentação. O modelo inicial do que oferecemos foi-se alterando, fomos arranjando parcerias com diversos programas e a própria Incubadora organizou e patrocinou vários programas de capacitação desde a sua inauguração oficial, em Agosto de 2017.
A esse nível, o nosso principal programa de bootcamp de empreendedorismo, o #iDeate (22 edições já realizadas), organizado em colaboração com a ideiaLab, foi um verdadeiro sucesso, com quase 900 participantes treinados até hoje, e com vários ex-alunos vencedores de prémios e competições internacionais, além de garantir o financiamento para os seus projectos. Fomos patrocinadores da comunidade de programação MozDevz ao longo dos anos, e apoiamos os seus esforços para permitir que programadores e codificadores de Moçambique tenham acesso a formação de boa qualidade, a ferramentas e aos recursos necessários para empreender.
Já antes, desde 2015, o Standard Bank patrocina o Seedstars Maputo, que faz parte da Seedstars World Global Summit, e no qual já houve vários vencedores locais que competiram na Seedstars Regional Global Summit, em África, e na Global Summit em Lausanne, na Suíça.
O banco vê toda esta dinâmica enquanto investimento, na sua própria evolução, até ao nível do serviço, é assim?
Sim, enquanto grupo, estamos sempre a olhar para formas através das quais
o banco se possa envolver cada vez mais neste universo da inovação e associar-se a fintechs e outras startups, reconhecendo o valor de soluções ágeis e inovadoras no universo de pagamentos e cobranças, e olhando ao inevitável futuro digital dos negócios no sector financeiro.
O conceito de ‘incubadora’ está um pouco ‘na moda’ como solução mágica para todos os problemas, e não será tanto assim, até porque tem de haver incubação, aceleração, acompanhamento na ligação e introdução num mercado que não é fácil. Qual é a receita que esta experiência que já têm vos trouxe para as PME poderem encarar, com sucesso, estes desafios?
Basta olhar para a questão das parcerias que foram essenciais para criar e a fazer evoluir a arquitectura da Incubadora, que tem cinco pilares estratégicos e cinco pilares operacionais da nossa oferta aos empreendedores (ver caixa).
Como dizia, o ecossistema é ‘verde’ e, por isso, o pilar das pessoas e capacitação, os serviços de suporte ao desenvolvimento de negócio, o acesso aos mercados e acesso a financiamento e a monitoria são fundamentais.
Mas tudo começa na pessoa e na avaliação do seu nível de maturidade. As startups, quaisquer que sejam, enfrentam muitos desafios. Na Incubadora do Standard Bank, a capacitação é parte integrante do nosso modelo estratégico, podemos dizer que é a prioridade das prioridades. É imperativo que projectemos e executemos programas que equipem os jovens e aspirantes a empreendedores com a capacidade de entender a ciência e as metodologias que estão por trás do passo de iniciar um novo negócio, por forma a desenvolver ideias inovadoras. Mas, mais importante ainda, para perceber como podem elas ser transformadas em negócios sustentáveis
Depois, o acesso aos mercados também desempenha um papel crítico. Se houver poucas ou nenhumas oportunidades de mercado, as ideias e soluções tornam-se redundantes, e é por isso que nos desafiamos a pensar em formas de fazer parcerias com startups locais de Moçambique e fintechs para compartilhar os nossos desafios específicos e os dos nossos clientes, e assim determinar a sua capacidade de os resolver.
Isso cria uma oportunidade de as vincular à nossa cadeia de suprimentos e, possivelmente, à dos nossos clientes, o que já acontece.
Uma das vossas apostas actuais é o iCreate, um programa de aceleração de startups que é uma evolução do iDeate (incubação), um dos vossos primeiros programas. Em que consiste?
É um programa de aceleração que iniciámos em 2021, em parceria com a ENI, na altura muito direccionado para a cadeia de valor do GNL, em que escolhemos as empresas com mais potencial que tinham saído do programa iCreate.
Na segunda edição, avançámos em parceria com a embaixada do Reino dos Países Baixos com um foco mais para empresas geridas por mulheres em várias províncias do País. Até hoje, tivemos 46 empresas e 86 participantes que se graduaram nos dois programas, que estão agora numa fase de digitalização, muito acelerada pela pandemia e pela situação no Norte do País.
O projecto da incubadora não é comummente encontrado na banca, em Moçambique ou noutros mercados. Como é que este projecto é visto como investimento e não como despesa?
É um facto, mas, modéstia à parte, e mesmo sabendo que este é um trabalho que nunca está acabado, pois há sempre melhorias a introduzir, depois dos bons resultados que fomos alcançando, as várias equipas do Standard Bank do Gana, Angola, Tanzânia, Namíbia, Quénia,
Zâmbia e Essuatíni já estão a replicar o modelo de incubadora que começou aqui em Moçambique. Indo à sua questão, sabemos que as PME têm dificuldades de acesso aos mercados financeiros em todo o mundo, há elevadas taxas de insucesso, e em cada dez novas empresas sete falham nos primeiros cinco anos. Em África essa estatística é ainda mais elevada.
Portanto, a questão é: como podemos desbloquear o acesso ao financiamento neste meio de alto risco, sem ferramentas de gestão, colaterais e viabilidade financeira?
Para nós, a possibilidade mais forte de melhorar este cenário é ser um player na criação de novas ferramentas de suporte ao universo das PME e começar a criar um ecossistema desde a raiz. Com este suporte, e já temos resultados disso, as PME valorizam-se, conseguem aceder a financiamentos e, claro, acabam
por ser também, na maioria dos casos, clientes do próprio banco.
Há casos de sucesso de empresas que tenham começado aqui e que hoje sejam referências no mercado?
Há muitos exemplos desta realidade de que falo, quer startups, quer empreendedores, como a Márcia Uetela (que participou na segunda edição do iDeate), que tem tido enorme reconhecimento, ou a Karinga wa Karingana que, através da sua passagem pela Seedstars, acabou por fechar uma parceria com a rede Nandos em Londres.
Há vários exemplos destes que são muito conhecidos, mas, para mim, o objectivo principal é a sustentabilidade dos negócios, seja numa escala mais pequena ou numa mais abrangente.
Há uma propensão maior para as startups de tecnologia ou acolhem todo o tipo de ideia e projecto de negócio?
Aqui somos ‘agnósticos’ em relação a isso. Há, é um facto, ideias muito repetitivas, e sem grande potencial, em várias áreas, e também ajudamos nesse direccionamento, de perceber qual é a ideia
viável e sustentável. Recentemente, nota-se uma tendência relacionada com as energias renováveis ou com a economia circular, por exemplo. Não é só tecnologia como se pensa.
Quais são os principais pilares da vossa estratégia para os próximos cinco anos?
Continuar a cultivar as parcerias no sector de oil&gas, mas também com outras grandes empresas. Em termos de programas estamos a estudar os requisitos, os desafios.
Queremos desenvolver cada vez mais intervenções que vão ao encontro das necessidades existentes, coisas direccionadas e concretas, e também caminhar no sentido da capacitação profissional, no empreendedorismo, recursos humanos, com casos de estudo locais, tudo através de plataformas digitais que são uma das nossas grandes apostas, até
OS PILARES DA INCUBADORA
São essencialmente cinco, todos voltados para a construção de conhecimento de empreendedores e PME nacionais.
Capacitação
Pilar de Pessoas: Procura resolver conhecimentos específicos ou lacunas de conhecimento, ou competências que podem ajudar os fundadores e proprietários das PME a construir e administrar seus negócios de forma mais eficaz, ou seja, com conhecimento.
Desenvolvimento de Negócio, Serviço de Suporte (BDSS)
Pilar de Operações: A chave do sucesso de uma PME é a forma como inicia a sua actividade, bem como a gestão quotidiana da empresa. Os empresários não têm acesso ao devido aconselhamento jurídico, conhecimentos financeiros e contabilísticos, marketing , branding, aconselhamento , RH, fiscalidade, etc. As masterclasses para PME e os nossos serviços de aconselhamento podem fornecer-lhes um apoio crítico
Acesso ao Mercado
Pilar do Cliente: O acesso a clientes é estrategicamente mais importante do que o acesso ao financiamento, pois a capacidade de demonstrar interesse pessoal dos clientes afecta a capacidade de atrair as soluções de financiamento certas. Além disso, os clientes são a alma da sustentabilidade de qualquer organização e a capacidade de gerar crescimento. Exemplos deste pilar são o Clube de Comércio, Dias de Demonstração, Ligações da Cadeia de Suprimentos
Acesso ao Financiamento
Pilar do Financiamento: O acesso a finaciamento adequado é relevante para a maturidade do negócio e fundamental para o crescimento e sustentabilidade de qualquer negócio. O Standard Bank criou produtos de crédito relevantes para os seus clientes. Também apoiamos com vínculos a mecanismos alternativos de financiamento.
Acesso a Mentoria
Pilar de Recurso: Cada negócio é único e requer um conjunto único de mentores, sejam eles especialistas do sector, empreendedores que desenvolveram negócios semelhantes de sucesso, líderes de pensamento, motivadores, etc. Através dos programas da Incubadora, de especialistas bancários e dos nossos parceiros e clientes, procuramos conectar os clientes às pessoas certas.
A INCUBADORA EM NÚMEROS
30 357
É o número de mulheres moçambicanas que estão na plataforma Lionesses of Africa em Moçambique. Já se realizaram 27 eventos da Lionesses LEAN-IN com mais de 75 empreendedoras como oradoras.
Empreendedores já foram graduados do programa de incubação iDeate. Começou em 2018 e vai na sua 22.ª edição.
Participantes no Programa iCreate. Começou em 2021 e, até hoje, trabalhou com 46 empresas.
876
86
para fazer escalar os programas. Por fim, trabalhar mais ainda a questão do capital, para o qual não existem ainda muitas soluções devido ao risco elevado, e em como desenvolver mecanismos alternativos associados à aceleração, continuando com a participação dos sectores público e privado para agregar fundos e vontades.
Se há coisa que mudou nos últimos anos em Moçambique foi a adopção da palavra empreendedorismo que, de facto, se tornou corrente no dia-a-dia de milhões de pessoas. Gostaria de perguntar-lhe as grandes lições que aprendeu nestes cinco anos?
A primeira coisa foi a noção de ter começado com um projecto com um conceito novo no País, em que nós próprios tivemos de aprender primeiro com as PME e perceber o que era necessário para começar.
E isto porque nós próprios somos uma startup dentro do Standard Bank e estamos sempre a procurar aprender.
Por isso mesmo, há uma proximidade enorme com as PME, com os seus desafios, com a sua visão e expectativas que não são apenas de capital, são sonhos específicos, querem causar impacto no seu País. Aprendi também que, antes de correr, é melhor ir passo a passo, procurar perceber se há impacto positivo, resultados que são úteis aos empreendedores, e ter foco permanente.
Por fim, descobri que há muito talento e potencial neste País. Há desafios para desbloquear. Mas, se olhar aos últimos cinco anos, é possível observar que se em 2015 a palavra empreendedorismo nem sequer era pronunciada, hoje isso mudou totalmente. Há meio milhão de jovens a chegar ao mercado de emprego todos os anos e isso significa que não há tempo a perder. Ninguém faz nada sozinho, e é por isso que temos muitos parceiros, do sector público ao sector privado, e esta parte é crítica para poder usar melhor os recursos e estender o impacto.
O que significa para si o empreendedorismo?
Em primeiro lugar, é um mindset, é uma atitude. Mas com o tempo, aprendi que também é inovação e implementação, ou seja, como é que eu vou identificar os desafios, criar a solução e quais os recursos para implementar. É isto.
O Que o Sector Privado Sente, Vê e Quer Para 2023?
Algumas das decisões do Banco de Moçambique não têm, à primeira vista, favorecido a actividade empresarial embora, em pano de fundo, tenham apontado à estabilidade macroeconómica. Ao longo do ano, por exemplo, as taxas de juro de referência subiram 4 pontos percentuais. No balanço de 2022 e, perspectivando o novo ano, há questões por alinhar. O Governo faltou ao debate, mas não faltaram os recados sobre como este deve conduzir a política fiscal e ajudar o BdM a reencaminhar a economia para a estabilidade
Texto Celso Chambisso • Fotografia Mariano Silva
De há alguns anos a esta parte, a conjunturas interna e internacional impõe sucessivos desafios ao ambiente de negócios. E as soluções assumidas pelas autoridades competentes para resolver os desequilíbrios dos mercados, no caso o Banco Central (através da Política Monetária) e o Governo (por meio da política fiscal), estão longe de satisfazer a classe empresarial.
Cada vez menos capaz de resistir à multiplicidade de obstáculos – que vão desde o covid-19 à guerra na Ucrânia, passando pelas elevadas taxas de juro, de inflação, cargas fiscais, etc. –, a classe empresarial sentou-se à mesa com o Banco de Moçambique (BdM) e procurou provar, com detalhes, que as soluções de política monetária adoptadas pelo regulador, afinal, desajudam as empresas.
As elevadas taxas de juro
É nas elevadas taxas de juro que as empresas encontram o maior obstáculo à sua actividade. Isto não é novo, mas ganhou uma dimensão considerável nos últimos tempos. Ricardo Sengo, presidente do Pelouro de Política e Serviços Financeiros da CTA (Confederação das Associações Económicas de Moçambique), começou por recordar que o ano 2022 foi caracterizado por sucessivos aumentos das taxas de juro de política monetária (taxa MIMO) e da prime rate.
No caso da MIMO, em Janeiro de 2022, o BdM manteve em 13,25% a taxa que vigorava desde 2021. Mas alterou-a para 15,25% em Março deste ano, e para 17,25% em Setembro, representando uma variação total do corrente ano em 4 pp (pontos percentuais).
Em relação à prime rate, que tinha sido fixada em 18,6% em Janeiro, subiu 0,5, 1,5 e 2 pp, em Maio, Julho e Outubro, respectivamente, resultando, igualmente, num acumulado de 4 pp durante o ano.
Outras taxas directoras, nomeadamente a Facilidade Permanente de Cedência (FPC) e a Facilidade Permanente de Depósitos (FPD), foram também ajustadas em alta na ordem dos 4 pp. A FPC passou de 16,25% para 20,25%, e a FPD de 10,25% para 14,25% entre Janeiro e Novembro do presente ano.
“A medida é, no seu todo, penalizadora para o sector privado e para a sociedade em geral, porque vai reduzir, em grande medida, o acesso ao financiamento, sem deixar de referir o aumento do custo do crédito para com a banca comercial em que os agentes económicos nacionais têm de incorrer”, referiu Ricardo Sengo. O responsável considera que terão sido estes ajustes os responsáveis pelo crescimento tímido da economia em 0,45 pp no segundo trimestre em comparação com o primeiro, dado o “fraco desempenho empresarial.”
Assim, para o próximo ano, a sugestão do sector privado é que o Banco Central procure actuar no sentido de promover maior previsibilidade e evitar grandes variações das taxas de juro do mercado.
Negócios deram prejuízo
Através do Índice de Robustez Empresarial – relatório da CTA que acompanha a evolução do desempenho das empresas e do ambiente macroeconó-
mico ao longo do tempo – o director-executivo da organização destacou a recuperação do dinamismo empresarial, graças a novos projectos de investimentos de diversos sectores.
Com efeito, o índice de robustez empresarial melhorou, ainda que em escala reduzida, na ordem de apenas 1 pp (de 28% para 29%).
Apesar disso, o cenário que se verifica é de aumento de custos acompanhado da queda de receitas, o que piorou as hipóteses de lucratividade das empresas.
Cálculos feitos pelo sector privado indicam que, em média, o custo por unidade de produção das empresas subiu de 6517 meticais para 6628 meticais do primeiro ao segundo trimestre. No mesmo período, a receita média por unidade de produção caiu de 6225 meticais para 6223 meticais. Este grau de deterioração do desempenho, na ordem dos 4,1%, resultou em prejuízos de 292 meticais por unidade de produção no primeiro trimestre, e 305 meticais no segundo trimestre.
No que diz respeito ao aumento de custos, a causa está muito ligada à subida dos preços dos combustíveis, que afectou todos os sectores, ao impactar directamente sobre os preços dos transportes e da indústria.
Os custos da actividade empresarial também foram agravados pelo aumento dos preços dos insumos agrícolas e pelo crescimento da inflação.
JUROS PERMANECEM ALTOS
Todas as taxas de juro de referência aumentaram ao longo do ano. Uma medida que sufoca o sector privado, mas na qual o Banco Central vê alívio aos mais pobres
O ano foi marcado pelo aumento dos custos, queda da receita e da lucratividade
TAXA MIMO
(Em % ao longo de 2022)
Jan. Mar. Set.
3,25
15,25 17,25
PRIME RATE
(Em %)
Jan. Mai. Jul. Out.
18,6 19,1
20,6 22,6
OUTRAS TAXAS DIRECTORAS
(Em %)
Jan. 2022
Taxa FPC
Taxa FPD
18,6 Nov. 2022
18,6 22,6
18,6
CRISE NAS EMPRESAS
(Em meticais por unidade de produção)
CUSTOS MÉDIOS
6517
6628
RECEITA MÉDIA
LUCRO MÉDIO
-292 -305 6225 6223
Trimestre I Trimestre I I
A análise do ponto de vista da produtividade empresarial (através do índice de produtividade) aponta para que em cada metical investido num determinado sector, se percam 0,05 cêntimos em retornos numa perspectiva agregada. Este resultado não encoraja a realização de novos investimentos.
Estagnação no emprego
Quando há crise, não há emprego. Pelo contrário, é expectável que haja despedimentos. É o que destaca Eduardo Sengo com base em dados fornecidos pela Contact. Ao longo do ano não houve expansão de postos de trabalho.
“A economia foi sendo sustentada pelo emprego temporário e em tempo parcial porque os sectores que surgiram não tinham certezas sobre a sustentabilidade do seu negócio. Por exemplo, o turismo, que ainda se debate com vários obstáculos, e a comercialização agrícola que é sazonal por característica”, justificou.
E porque as taxas de juro elevadas são o aspecto que mais prejudica o sector empresarial, Eduardo Sengo rebate o argumento apresentado pelo Banco Central para a manutenção das taxas de juro, e que assenta sobre o seu principal mandato (o de promover inflação baixa e estável e, dessa forma, proteger as camadas mais pobres da sociedade).
“Quando olhamos para a distribuição do crédito à economia, percebemos que é maioritariamente concedido a particulares e não a empresas. Tal significa que, de alguma forma, a subida das taxas de juro afecta os particulares, incluindo as camadas da sociedade que o Banco Central acredita estar a tentar proteger. Ou seja, tenta evitar a perda do poder de compra através de uma medida que retira o rendimento disponível das famílias”, criticou.
Banco Central garante ter “situação sob controlo”
No encontro, o Banco de Moçambique fez-se representar pela administradora da instituição, Silvina de Abreu, que ouviu atentamente os pontos colocados pelo empresariado.
Lembrou que o BdM tem como mandato primário a manutenção da estabilidade de preços, o que pressupõe que se tenha uma inflação baixa, ao nível de
inflação ao nível de um dígito. Assim, de acordo com a responsável, a decisão de manter as taxas de juro foi sustentada pelos elevados riscos e incertezas associados às projecções.
Entre os riscos mais importantes, destacou a prevalência da tensão geo-política na Europa cujo fim não é previsível; o abrandamento da procura externa; as perspectivas de abrandamento do crescimento mundial em 2023 devido, essencialmente, ao aprofundamento dos efeitos do conflito entre a Rússia e a Ucrânia; os isolamentos que têm lugar na China para travar novas ondas do covid-19; os agravamentos das taxas de juro de política monetária que os bancos centrais de quase todos os países do mundo estão a fazer para controlar a inflação; e a tendência do enfraquecimento do dólar perante as principais moedas, entre outros riscos”, justificou a administradora do Banco de Moçambique.
Ou seja, as condições que determinam a fixação das taxas de juro ao nível actual são impostas por um estudo minucioso dos riscos prevalecentes interna e internacionalmente.
“Quando tivemos condições de reduzir a taxa MIMO, fizemo-lo. Não é por prazer que o BdM continua com taxas de juro em níveis elevados. Mas só as poderemos reduzir quando estivermos num cenário em que as condições analisa-
das dos riscos e incertezas nos permitirem essa redução, o que não é o caso”, explicou.
O que se espera em 2023?
Coube ao vice-presidente do Pelouro de Política e Serviços Financeiros da CTA, Oldemiro Belchior, fazer a antevisão do desempenho da economia em 2023. “A incerteza vai permanecer elevada.
Na nossa óptica, teremos pressões inflacionistas que podem resultar em mais medidas restritivas por parte do Banco de Moçambique. Tais riscos incluem uma possível escalada da tensão entre a Rússia e a Ucrânia, bem como outros eventos geo-políticos e desastres naturais relacionados com as mudanças climáticas. Também não excluímos efeitos de segunda ordem, seja através dos aumentos salariais mais elevados e persistentes ou através de medidas de estímulo fiscal mais fortes”, explicou.
Belchior estima que um cenário de aumento do preço das matérias-primas importadas em cerca de 50% acima das previsões poderá manter a inflação nos níveis actuais, o que quer dizer que poderá falhar a intenção do Banco Central de tentar mantê-la num dígito.
O efeito disso, segundo o responsável, é o impacto que se gera ao nível da procura de financiamento e na oferta do crédito bancário. “Do lado da procura, créditos mais caros tornam os investimentos privados menos apetecíveis, menos rentáveis e menos viáveis economicamente.
E, do lado da oferta, a preocupação tem que ver com as vulnerabilidades do sector financeiro, já que o próprio Banco de Moçambique aponta o crédito mal-parado ou crédito não produtivo como um dos potenciais riscos que podem degradar a qualidade dos activos detidos em balanço nos bancos”, anotou.
“Por isso, mesmo cientes da prevalência de riscos no próximo ano, recomendamos que haja algum gradualismo na subida das taxas de juro, porque o sector privado é dependente do consumo de capital alheio que é disponibi-
lizado pela banca comercial. Torna-se, por isso, crucial que haja uma melhor coordenação entre a política monetária e a política fiscal no sentido de reduzir as pressões inflacionistas, e de o Banco Central conseguir cumprir com o seu mandato principal”.
Ao mesmo tempo que teme pela subida das taxas de juro em 2023, Oldemiro Belchior antevê cenários que podem favorecer a sua descida, nomeadamente a queda da inflação ocasionada pelo início da exploração do gás na bacia do Rovuma, pela entrada de fluxos internacionais sob forma de desembolsos das ajudas financeiras internacionais, pela retoma dos empréstimos multilaterais do FMI e do Banco Mundial, entre outros.
No frente-a-frente de balanço de 2022 e as perspectivas para 2023, o sector privado e o Banco Central deixaram clara a prevalência de elevados riscos para a estabilidade económica
um dígito, e estável a médio prazo (dois anos). Assume, entretanto, que a ideia é proteger o poder de compra das famílias, incentivar investimentos e favorecer o crescimento económico de uma forma equilibrada e estável. Mas explica que, para assegurar a estabilidade monetária, o Banco Central tem como principal instrumento a taxa MIMO.
Silvina de Abreu esclareceu aos empresários que o Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique (CPMO) decide sobre a taxa MIMO conforme a análise que faz sobre as perspectivas de evolução da inflação no médio prazo. E sempre que notar que há um desvio em relação ao objectivo pretendido, ajusta, em termos de decisão, a medida mais adequada para manter a