“Ambicionamos Formar Mais para Acompanharmos o Desenvolvimento”
Estamos num contexto de competitividade global em que os Transportes e Comunicações são decisivos para o crescimento socioeconómico. O que dizer, então, da formação nestas áreas? Como estamos e até onde podemos chegar?
Fique a saber nesta entrevista com Luís de Almeida, administrador-delegado da Transcom, instituição que criou o ISUTC e o ITC
ATranscom foi fundada há 25 anos com o objectivo de criar instituições de ensino privadas. Começou por fundar o Instituto de Transportes e Comunicações (ITC), voltado para o ensino técnico-profissional e que este ano faz precisamente 25 anos. A ideia era formar profissionais qualificados em áreas especializadas como a electricidade, mecânica e construção civil, e que pudessem resolver o problema da insuficiência de técnicos dessas áreas no mercado de trabalho. Para isso, a Transcom teve de contar com accionistas de peso, todos ligados à área dos transportes e comunicações, como a Tmcel, Electricidade de Moçambique (EDM), Visabeira, Entreposto, etc., e que também precisavam de formar quadros para as suas instituições.
No ano 2000, dois anos depois da sua criação, fundou o Instituto Superior de Transportes e Comunicações (ISUTC) para formar licenciados em engenharia e gestão, sendo a oitava instituição de ensino superior mais antiga do País. A seguir, Luís de Almeida, administrador-delegado da Transcom, lança um olhar ao que foi, é e se deve esperar destas instituições cujo diferencial está no elevado grau de empregabilidade dos seus formandos.
Sabemos que o Engenheiro Luís de Almeida assumiu o cargo de administrador-delegado da Transcom em Março de 2020, em pleno período do covid-19. Quais terão sido os constrangimentos que este facto impôs ao seu enquadramento e da sua equipa de trabalho nas novas funções?
Foi bastante difícil porque as pessoas não estavam nos escritórios, trabalhavam
a partir de casa. Os próprios alunos deixaram de ir à escola e tinham aulas em casa. Isso obrigou a uma rápida adaptação não só minha, mas também das escolas (ISUTC e ITC) aos constrangimentos do covid-19. Mas, felizmente, conseguimos e penso que o ISUTC foi uma das poucas instituições de ensino que cumpriram integralmente o calendário académico que determinaram.
Falemos um pouco da relevância deste tipo de ensino mais especializado num país como Moçambique.
Há 25 anos houve um grande ganho de experiência na formação. O ISUTC tem cerca de 2300 alunos inscritos e a ITC cerca de 2700. O total perfaz perto de 5000 alunos e isso deu-nos uma visão muito boa do mercado moçambicano, da necessidade de formação e do que é preciso fazer.
O que reparámos é que existe a necessidade de uma formação contínua ao longo da vida. Não basta uma licenciatura. As pessoas devem continuar a aprender e ganhar novas experiências e conhecimentos porque a tecnologia evolui.
Por isso criámos uma formação para executivos ou formação contínua, e hoje temos um conjunto de cursos para pessoas que estão a trabalhar, mas que também precisam de novos conhecimentos. Temos igualmente cursos para os que acabaram as licenciaturas, mas trabalham em áreas paralelas e precisam de outros conhecimentos para melhor desempenharem as suas funções.
Moçambique precisa fortemente de pessoas com formação e capacitadas para o trabalho.
Gostaria de lhe perguntar quais são as apostas, ao nível da formação, no médio e longo prazo?
Temos, internamente, uma grande ambição que vai também ao encontro da ambição do País, que é muito grande e está em crescimento e, portanto, a formação tem um papel crucial para poder desenvolver e explorar as potencialidades em diversas áreas. A nossa ambição não é só desenvolver as nossas instituições. Por exemplo, em Maputo, vamos construir um centro tecnológico do ISUTC para podermos ter mais laboratórios e mais alunos que se vão formar e estar mais bem preparados para os desafios do amanhã. Estamos igualmente a finalizar o lançamento do ensino à distância porque queremos levar o ISUTC para fora de Maputo e acredito que teremos, em breve, a acreditação para permitir que pessoas que estejam fora da cidade possam aceder.
Na formação para executivos estamos a desenvolver cursos nas áreas de gestão, liderança e negócios, não apenas em parceria com os nossos docentes, mas também com entidades de fora como, por exemplo, o ISCTE que é accionista da Transcom e é uma universidade de referência em Portugal. Contamos, igualmente, com a parceria do Instituto Técnico de Lisboa para desenvolver cursos de mestrado ou formação para executivos
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Texto Celso Chambisso • Fotografia Mariano Silva
em áreas mais técnicas. A nossa ambição é de conseguir formar cada vez mais pessoas em Moçambique para acompanhar o desenvolvimento que o País está a registar.
Falou na pretensão da Transcom de construir um centro de tecnologia. Este é o caminho, sobretudo na área da formação. Em que consistirá a aposta do ISUTC e ITC na componente da tecnologia?
A tecnologia é crucial não só para o mercado de trabalho, mas também na formação, que é hoje diferente da que foi há uns anos. E, do meu ponto de vista, dentro de cinco ou dez anos será muito diferente da que é hoje. Os anos de 2020 e 2021, com o covid-19, aceleraram muito o processo de transformação.
As pessoas passaram a usar computadores e a comunicarem-se de outra forma. A tecnologia entrou muito rapidamente no ensino. Hoje em dia, não basta ter um docente a explicar os conteúdos
aos alunos porque eles têm acesso a tudo e nós estamos a criar conteúdos e a reinventar-nos para nos adaptarmos.
Em termos de mercado de trabalho, a tecnologia evoluiu tanto que hoje estamos a ver a utilização da Inteligência Artificial em muitas áreas de negócios. Temos de nos adaptar não apenas quanto à Inteligência Artificial, mas em toda a nossa forma de trabalhar e de nos comunicarmos. Actualmente, existem empresas a trabalhar em fusos horários diferentes e que obrigam a outras formas de interacção. Por isso a tecnologia é indispensável e como instituição de ensino muito vocacionada para as engenharias e para a tecnologia estamos muito atentos a isso.
O centro de tecnologias que está a ser projectado terá uma filosofia virada para as questões que acaba de mencionar?
Exactamente. Sentimos a necessidade de dar formação aos nossos alunos,
BLuis Veloso de Almeida, engenheiro, é um executivo sénior com mais de 30 anos de experiência em liderança, desenvolvimento de negócios e gestão em mercados internacionais como África, China e Europa. Actualmente é administrador-delegado da Transcom, a entidade instituidora do ISUTC e do ITC.
Tem uma vasta experiência no sector financeiro: foi presidente da Comissão Executiva do Banco Mais em Moçambique, vogal do conselho de administração da SIMO rede, membro do conselho de administração da Caixa Económica de Cabo Verde e do conselho de administração do Banco África Ocidental e Managing Director na Geocapital.
É licenciado em Engenharia Mecânica pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa e fez o Programa Avançado de Gestão para Executivos da Universidade Católica Portuguesa.
e não apenas a teórica. Vamos começar a ter uma vertente muito mais prática em laboratórios onde possam experimentar esse tipo de coisas, por isso construiremos o nosso centro tecnológico para dispormos dos nossos próprios laboratórios. O nosso centro tecnológico será partilhado entre o ITC e o ISUTC e poderá estar aberto a empresas (temos parcerias com muitas) para o caso de quererem fazer alguma investigação ou achar alguma solução que esteja disponível.
E essa realidade é para quando?
Para muito breve. A construção está prevista para este ano e contamos que em meados do próximo ano já esteja em funcionamento, pelo menos numa primeira fase, porque está a ser construído em duas fases.
O ITC já leva 25 anos e o ISUTC 23. Ao longo desses anos quais são as transformações que estas instituições foram capazes de operar na formação de quadros?
Fomos introduzindo novos cursos. Hoje em dia temos dez cursos dos quais oito na área das engenharias e dois na área de gestão. Temos também os graus de mestrado.
Fomos evoluindo no corpo técnico e nos cursos, acompanhando o desenvolvimento do País e adaptando-nos às ne-
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“Existe a necessidade de uma formação contínua ao longo da vida. As pessoas devem continuar a aprender e ganhar novas experiências e conhecimentos”, Luís de Almeida, Transcom
cessidades de todos os momentos. Basicamente, o que se fez foi melhorar as condições para poder prestar um ensino melhor. Algo que esteve sempre na raiz destas instituições é o rigor no ensino.
Fazemos questão de que todos terminem os cursos que iniciam e, mais do que isso, estejam capacitados para executar com qualidade o trabalho que fizerem.
Isso é fundamental e há um grande reconhecimento do mercado de que as pessoas formadas no ISUTC estão entre as melhores, principalmente na área das engenharias.
Quando falamos com as empresas sentimos esse reconhecimento. A taxa de empregabilidade é elevada, praticamente 100% dos nossos alunos têm emprego muito rapidamente e passado pouco tempo conseguem chegar a posições de destaque nas diversas organizações.
A avaliar pelo nível de procura pelos cursos das vossas instituições, sente que a juventude moçambicana já se apercebeu da grande vantagem de aqui se formarem?
Com certeza. Estou completamente convencido que os encarregados de educação e os próprios alunos têm a noção de que se tirarem um curso no ITC e no ISUTC a probabilidade de se formarem com qualidade, arranjarem um emprego e evoluírem no trabalho é muito grande.
Só ao nível do ITC, no presente ano, tivemos mais de 1000 candidatos. Isso mostra o interesse que as pessoas têm pelos nossos cursos. É importante lembrar, neste contexto, que atendendo à posição geográfica de Moçambique, em que os países ao redor têm o inglês como língua oficial, no primeiro ano os alunos do ISUTC têm uma disciplina de inglês, e provavelmente, talvez possamos
ÁREAS DE FORMAÇÃO
O ISUTC e o ITC já formaram milhares de pessoas que revelam um alto grau de empregabilidade
Licenciatura em Engenharias
• Engenharia Electromecânica
• Engenharia Ambiental
• Engenharia Electrónica e de Telecomunicações
• Engenharia e Ciência dos Computadores
• Engenharia Civil e de Transportes
• Engenharia Ferroviária
• Engenharia Informática e de Telecomunicações
• Engenharia Mecânica e de Transportes
• Engenharia Electrotécnica
Licenciaturas em Gestão e Finanças
• Gestão bancária e de seguros
• Contabilidade e Auditoria
• Gestão e Finanças
QUALIFICAÇÕES DO ITC
• Construção Civil
• Electricidade de Manutenção
Industrial
• Gestão de Recursos Humanos
• Técnico de suporte informático CV4
• Técnico de administração de sistemas de redes CV5
• Técnico de programação de aplicações de rede web CV5
• Electricidade industrial
• Gestão patrimonial e financeira
• Gestão
• Contabilidade
aumentar as disciplinas nessa língua por forma que os alunos possam sair com o seu domínio e poderem trabalhar noutros países. Esse factor é muito importante e muitos dos empregadores já nos perguntam se os alunos são fluentes em inglês porque já não trabalham só em Moçambique.
Gostava que lançasse um olhar sobre as perspectivas de crescimento do País nos próximos anos.
Acho que é um País grande, com potencialidades gigantescas desde a área da agricultura, das pescas, etc. Tem toda uma indústria por desenvolver, recursos naturais que são muito falados hoje em dia. Tem tudo para se desenvolver como um País auto-suficiente e exportador. Precisa, no meu ponto de vista, de mais pessoas formadas e capacitadas para tirar partido dessa riqueza.
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