E&M_Edição 76_Setembro 2024 • Infra-estruturas - Raio-X à Logística: Por Onde Começar?

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SUSTENTABILIDADE

PROJECTO PRIVADO MOSTRA INICIATIVAS SIMPLES PARA ALCANÇAR A SUSTENTABILIDADE

SECTOR EMPRESARIAL DO ESTADO FMI IMPÕE UM CALENDÁRIO DE MEDIDAS PARA COMBATER A CORRUPÇÃO. O QUE VAI MUDAR?

PERFIL

“CONFIAMOS ABSOLUTAMENTE EM MOÇAMBIQUE”, MOISÉS JORGE, PCA DO MILLENNIUM BIM

INOVAÇÕES DAQUI

QUAIS OS MODELOS DIGITAIS QUE MOÇAMBIQUE PODE IMPORTAR DE CABO VERDE E PORQUÊ?

INFRA-ESTRUTURAS

A falta de infra-estruturas trava o crescimento da economia há décadas e, mesmo com ajuda externa, Moçambique tem dificuldade em resolver problemas crónicos no ar, mar e terra. Da burocracia à falta de capacidade de gestão, eis o mapa (possível) do labirinto

Um Entrave ao Desenvolvimento

MMoçambique enfrenta desa os signi cativos na área da logística, que comprometem o desenvolvimento e a competitividade da economia. A infra-estrutura de transporte, crucial para o crescimento económico, revela-se insuciente e ine ciente, com problemas que afectam a circulação de pessoas e bens.

A principal estrada do País, a N1, queliga o sul ao norte, é um exemplo claro das di culdades da logística. A falta de manutenção e a incapacidade de modernização desta estrada estratégica limitam o desenvolvimento de uma rede de transporte terrestre minimamente e ciente.

A este problema sobrepõe-se a ausência de uma ligação ferroviária contínua que conecte o norte ao sul do País. Uma infra-estrutura há muito pensada, mas que nunca avançou. A rede ferroviária moçambicana, embora presente em várias regiões, carece de integração, e esta fragmentação impossibilita um transporte de mercadorias e ciente e de baixo custo, forçando uma dependência excessiva do transporte rodoviário, já decitário, e agravando os custos logísticos.

A ineficiência nas redes de transporte aumenta os custos de produção e reduz a atractividade do País

cio. As ligações aéreas internas são caras e pouco frequentes, o que isola ainda mais as regiões remotas do País. No que toca ao transporte marítimo, a situação é igualmente preocupante. Apesar de possuir uma vasta costa e vários portos, enfrenta di culdades na implementação de um sistema de cabotagem e caz. A cabotagem, que poderia ser uma alternativa viável ao transporte rodoviário, é subutilizada devido à falta de embarcações adequadas, custos elevados e burocracia excessiva. Estes desa os logísticos têm um impacto directo na competitividade da economia moçambicana. A ine ciência nas redes de transporte aumenta os custos de produção e distribuição, reduz a atractividade do País para investidores estrangeiros e limita a capacidade das empresas locais de competir nos mercados internacionais. Além disso, a di culdade em escoar produtos das zonas rurais para os centros urbanos e mercados impede o pleno aproveitamento dos recursos naturais e agrícolas.

SETEMBRO 2024 • N.º 76

DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos

EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso

JORNALISTAS Ana Mangana, Filomena Bande, Jaime Fidalgo, João Tamura, Luís Patraquim, Nário Sixpene

PAGINAÇÃO José Mundundo

FOTOGRAFIA Mariano Silva

REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos DEPARTAMENTO COMERCIAL comercial@media4development.com

CONSELHO CONSULTIVO

Alda Salomão, Andreia Narigão, António Souto; Bernardo Aparício, Denise Branco, Fabrícia de Almeida Henriques, Frederico Silva, Hermano Juvane, Iacumba Ali Aiuba, João Gomes, Rogério Samo Gudo, Salim Cripton Valá, Sérgio Nicolini

ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO

E PUBLICIDADE Media4Development

Rua Ângelo Azarias Chichava nº 311 A — Sommerschield, Maputo – Moçambique; marketing@media4development.com

IMPRESSÃO E ACABAMENTO

RPO Produção Grá ca

TIRAGEM 4 500 exemplares

EXPLORAÇÃO EDITORIAL E COMERCIAL EM MOÇAMBIQUE Media4Development NÚMERO DE REGISTO 01/GABINFODEPC/2018

A aviação também enfrenta desa os consideráveis, com uma infra-estrutura aeroportuária inadequada e uma oferta limitada de voos domésticos e internacionais. Este cenário di culta a mobilidade de pessoas e mercadorias, afectando negativamente o turismo e o comér-

A mudança dependerá, obviamente, da capacidade de dar a volta por cima destes problemas: é crucial investir em infra-estruturas, manutenção regular e implementar políticas que promovam a integração dos diferentes modos de transporte.

Nesta edição, a E&M faz um raio-x às di culdades e ajuda a descobrir as peças que faltam para a construção de um sector fundamental para Moçambique ter uma economia mais competitiva.

18 NAÇÃO

18 Infra-estruturas. Como a economia sobrevive sem uma espinha dorsal, quer rodiviária, quer ferroviária, com di culdades na aviação e no transporte marítimo? Especialistas ajudam-nos a entender a dimensão do problema

32 Terra. O martírio logístico das estradas moçambicanas

34 Ar. O que impede a aviação de descolar?

36 Mar. Cabotagem, uma solução (in)viável?

38 Caminhos-de-ferro. CFM entram na logística do petróleo e gás

14 ESG

12 Sustentabilidade. Projecto “Eco Mulembja” ajuda a mudar a mentalidade das comunidades para as boas práticas no contexto ESG

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NEGÓCIO

40 Maiores empresas de África. Saiba quais são as maiores empresas, as que mais crescem e os países em destaque no continente, segundo a revista African Business

46

SHAPERS

40 Gregory Mankiw. Como é que o economista americano conseguiu destacar-se como formador e, ao mesmo tempo, contribuir para o desenvolvimento da teoria dos ciclos económicos?

MERCADO & FINANÇAS

48 Empresas Públicas. FMI impõe uma série de procedimentos a serem seguidos pelo Sector Empresarial do Estado para combater a corrupção e promover a transparência. Como irão funcionar?

E&M TALKS

44 Banca. “Con amos Absolutamente em Moçambique”, Moisés Jorge, Presidente do Conselho de Administração do Millennium bim 58

63 ESPECIAL INOVAÇÕES DAQUI

64 Mobile bankink. A 5.ª edição do Anual Innovation Summit revelou o quanto Moçambique pode ganhar se importar modelos digitais de Cabo Verde. Saiba quais

68 Wei. Conheça a plataforma criada por jovens moçambicanos para auxiliar na preparação para diferentes tipos de exames

73

16 Absa Bank Moçambique

28 Standard Bank Moçambique

44 FNB Moçambique

OPINIÃO POWERED

12 Rui Henriques, Gonçalo Cardoso e Vera Nunes, EY

48 Wilson Tomás, Analista | Research, Banco Big Moçambique

50 Miguel Marques de Carvalho, Associado Sénior, Pimenta e Associados

56 iago Fonseca, Sócio e director de criação da Agência GOLO

SECÇÕES

4 Sumário

5 Editorial

6 Observação

10 Números em Conta

42 Radar África

68 Panorama

ÓCIO

74 Escape. Uma aventura pela praia do Cabo Dourado, na Croácia 76 Gourmet Lolacakes, a oportunidade de saborear um bolo que transmite amor 77 Adega Pinta Negra Tinto de 2022, um vinho com medalha de ouro 78 Empreendedor Uma lição de Clara Ramalhão sobre como as ciências exactas se interligam com a arte 80 Agenda Tudo o que não pode perder neste mês de Setembro 82 Ao volante Kawasaki Ninja 7, a primeira moto híbrida do mundo

Mundo, Setembro de 2024

Crises e Futuro do Planeta

No dia 24 de Setembro, líderes mundiais vão reunir-se em Nova Iorque, Estados Unidos, para uma reflexão sobre as diversas crises que assolam o planeta, a propósito da 79.ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

O líder do órgão deliberativo da ONU, Dennis Francis, apelou a uma visão renovada do multilateralismo e afirmou que há comunidades, em todo o mundo, a “pagar o preço” por conflitos que lhes

Discutidos

na Cimeira de Líderes

são alheios, mas com prejuízos globais. O evento sobre o futuro partilhado da humanidade precisa de apoio e adesão pública, frisou. Para Francis, os riscos de os conflitos se transformarem em guerras regionais tornam-se cada vez mais reais. Ao mesmo tempo, o planeta sofre com incêndios florestais, temperaturas cada vez mais elevadas, subida dos mares e seca. Durante a semana de alto nível da Assembleia Geral da ONU, a Cimeira de Líde-

res do Pacto Global da ONU reunirá, em sessões paralelas, líderes empresariais, intervenientes nos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), sociedade civil, membros de governos e funcionários da ONU de todo o mundo, comprometidos em elevar a sustentabilidade.

A cimeira vai destacar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável como modelo para as empresas se prepararem para “empreendimentos responsáveis”.

Crescimento

Governo quer Economia

Azul a assumir contributo cada vez maior para o PIB de Moçambique

Segundo a Estratégia de Desenvolvimento da economia azul (EDEA), o Governo prevê que a economia do mar contribua com 300 mil milhões de meticais para o Produto Interno Bruto (PIB) até 2030.

Na verdade, as estimativas da EDEA apontam para dois cenários: num, mais pessimista, a contribuição da economia azul no PIB pode situar-se na casa dos 246,1 milhões de meticais. No cenário optimista, pode ascender a 300 milhões de meticais. Estas estimativas baseiam-se na percentagem média anual de evolução dos sectores da pesca, turismo e transporte marítimo.

“A falta de dados disponíveis constituiu um grande obstáculo para fazer estas projecções, sendo necessário recorrer ao uso de proporções e fontes secundárias de dados”, sublinha o documento. Estas previsões indicam que, com um crescimento sustentável e investimentos estratégicos nos sectores da pesca, turismo, transporte marítimo, energias renováveis e indústria extractiva marinha, a economia azul poderá transformar-se num dos pilares económicos do País.

“Estes sectores, integrados na EDEA, têm demonstrado um potencial significativo para impulsionar o crescimento económico e a criação de empregos, bem como para melhorar a qualidade de vida das comunidades costeiras”, aponta o documento.

Finanças

Banco de Moçambique revoga sanções por incumprimento de reservas obrigatórias

O Banco de Moçambique (BdM) revogou a penalização que determinava o bloqueio de contas para as instituições financeiras que incorressem em défice na constituição de reservas obrigatórias por dois períodos consecutivos. Este alívio foi oficializado num aviso emitido pelo regulador que entrou em vigor a 9 de Agosto.

Sustentabilidade

A penalização já tinha sido alvo de críticas, nomeadamente do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de associações empresariais, que alertaram para os potenciais impactos negativos sobre a liquidez do sistema bancário e, por extensão, sobre a economia. A revogação vem ao encontro dos alertas feitos ao BdM.

Moçambique cria unidade de nanciamento contra mudanças climáticas

No âmbito da luta contra as mudanças climáticas, o Governo criou uma Unidade de Financiamento Climático, dirigida por Albano Manjate, recentemente nomeado pelo ex-ßßßßßßßßßministro da Economia e Finanças, Max Tonela. A decisão se-

Logística

gue um decreto presidencial aprovado em Fevereiro e confere ao Ministério a responsabilidade de supervisionar as finanças relacionadas com o clima e estabelecer esta unidade especializada.

A criação desta nova estrutura, aprovada por um Comité Interministerial para a Reforma da Administração Pública, no início deste ano, tem como objectivo principal coordenar e reforçar a resposta de Moçambique aos impactos associados a alterações climáticas. A estrutura será responsável pela gestão de recursos financeiros dedicados a iniciativas que visem mitigar eventuais prejuízos.

Moçambique e Maláui negoceiam facilidades para comércio e transporte transfronteiriço

O Ministério da Indústria e Comércio de Moçambique está envolvido em negociações com as autoridades do Maláui, visando a facilitação do comércio e do transporte transfronteiriço entre os dois países. Financiado pelo Banco Mundial com um mon-

tante de 9,4 mil milhões de meticais, este esforço bilateral abrange um período de seis anos e visa reforçar as reformas necessárias para dinamizar o comércio. No País, a implementação deste acordo poderá resultar em melhorias substanciais nas infra-estruturas e nos procedimentos ao longo dos principais corredores de transporte, facilitando o acesso ao mercado regional e global. O projecto conjunto também prevê o reforço da coordenação regional e o apoio à implementação efectiva das reformas acordadas, proporcionando benefícios económicos mútuos. Com o sucesso destas negociações, tanto Moçambique quanto o Maláui poderão assistir a um crescimento económico robusto, sustentado por um comércio transfronteiriço mais ágil e simplificado, esperam as autoridades.

Quais São as Empresas (e os Países) Com Mais Patentes de IA Generativa?

O lançamento de assistentes de IA como o ChatGPT criou um entusiasmo público significativo pela IA generativa (GenAI). Os avanços tecnológicos em GenAI são também reflectidos no aumento acentuado da actividade de patentes e, de facto, o número de famílias de patentes (grupos relacionados com a mesma invenção ou tecnologia) em GenAI cresceu de apenas 733 em 2014 para mais de 14 000 em 2023. Entre os programas ou modelos de GenAI com mais patentes estão as Redes

Adversárias Generativas (GANs), essenciais, por exemplo, na produção de imagens, e os Autocodificadores Variacionais (VAEs) que processam dados, permitindo a criação de novos tipos de informação. São utilizados na produção de imagens, detecção de anomalias e aprendizagem semi-supervisionada. E também, claro, os Grandes Modelos de Linguagem (LLMs) baseados em descodificadores, como o GPT, que interagem connosco aproveitando a vasta quantidade de da-

dos disponíveis. São excelentes para produzir aplicações que conseguem completar texto, fazer tradução, sumarização e... conversar.

Ao nível dos países, é a China que domina a corrida pelas patentes relacionadas com a IA generativa, com a Tencent e a Baidu no topo da lista. Os dados foram recolhidos pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI); Agência das Nações Unidas para a Inovação e Criação.

Total de Patentes de GenAI

Baidu anunciou recentemente o seu chatbot, o Ernie 4.0

As vantagens da Alphabet (empresa mãe da Google) estão nas ciências, transportes e nas telecomunicações

A Adobe está a apostar nas patentes de IA na área da gestão documental e publishing

Empresa

Àmedida que Moçambique continua a posicionar-se como um dos mercados emergentes mais promissores de África, as empresas enfrentam o desafio de adaptar as suas funções financeiras e fiscais e de recursos humanos a um ambiente de negócios em constante evolução.

Uma abordagem integrada de Managed Services surge como uma solução inovadora para impulsionar a eficiência, garantir conformidade e sustentar o crescimento económico, na medida em que permite às organizações externalizar funções non-core com parceiros especializados.

No contexto financeiro, fiscal e de processamento salarial, isto significa confiar a especialistas externos tarefas como contabilidade, compliance fiscal, regulatório, mas também em práticas a jusante e a montante destes processos, tais como contas a pagar, contas a receber, gestão de contratos, entre outros, num modelo em que a tecnologia pode estar integrada no serviço.

Em Moçambique, à semelhança de outros mercados emergentes, muitas Empresas ainda dependem de processos internos tradicionais, que podem ser ineficientes, manuais e susceptíveis a erros. A complexidade do sistema fiscal, combinada com a necessidade de cumprir regulamentações locais e internacionais, coloca uma pressão adicional sobre os recursos internos, que podem encontrar numa parceria de Managed Services a dinâmica e adaptabilidade necessária para suprir tais desafios.

Por outro lado, um modelo de Managed Services confere às Empresas duas vantagens competitivas de relevo: (i) por um lado, a flexibilidade do modelo permite à gestão a recepção de informação sistematizada, com repor-

Função Financeira e Fiscal – Abordagem Managed Services

tes desenhados à medida das necessidades das várias áreas dentro da organização, disponibilizando todos os dados necessários à tomada de (melhores) decisões; por outro (ii), a externalização destas funções permite às empresas libertarem-se do investimento necessário em tecnologia, formação de equipas face a regulamentação com mudanças regulares, etc. , podendo focar-se no seu Core business, minimizando investimento em áreas non-core da organização.

Importa ter em consideração que um importante stakeholder das empre-

Moçambique tem condições de fazer uma implementação acelerada ‘leapfrog’) destes mecanismos

sas Moçambicanas – a Autoridade Tributária – tem investido na modernização da sua relação com os contribuintes, e perspectiva-se que novos desafios sejam introduzidos numa janela temporal relativamente curta. Com efeito, é natural que a Autoridade Tributária prossiga o caminho de outras congéneres na adopção de mecanismos de reporte que visam dar visibilidade sobre a informação financeira e fiscal das empresas, nomeadamente através da adopção do Standard Audit File for Tax purposes (SAF-T) de facturação e contabilidade. A nossa experiência nos países em que nos encontramos a colaborar com Empresas e com Autoridades Tributárias de-

monstra que Moçambique tem condições de fazer uma implementação acelerada (‘leapfrog’) destes mecanismos, uma vez que, de certa forma, beneficiará da experiência de implementação dos países que o fizeram previamente. Este protocolo de transmissão de informação automática para a Autoridade Tributária constituirá um desafio e uma pressão enorme para as empresas, uma vez que não só serão confrontadas com novos requisitos de reporting fiscal, como terão inevitavelmente de aumentar o controlo de qualidade sobre a informação financeira/fiscal que estão a transmitir, bem como dar resposta a potenciais auditorias fiscais decorrentes de inconsistências apresentadas em declarações fiscais submetidas.

O desafio é grande e o trabalho de antecipação, na gestão e controlo de qualidade da informação urge. O modelo de Managed Services é uma das soluções que podem permitir responder a estes desafios de forma eficaz, na medida em que permitirá criar um modelo adaptativo – Insourcing* / Co-Sourcing** / Outsourcing*** - que conjugue as melhores pessoas, o desenho de processo certo e a tecnologia que melhor se enquadre na realidade e requisitos de cada negócio.

* Insourcing – Modelo no qual a equipa de projecto desenha e implementa o processo, que será operacionalizado e mantido com recursos internos da Empresa.

** Co-Sourcing – Modelo misto em que, tipicamente, após a implementação do processo, este é executado com recursos do prestador de serviços e da Empresa, com funções e responsabilidades partilhadas.

** Outsourcing – Externalização completa do processo para o prestador de serviços.

‘Cozinhar’ a Sustentabilidade

Se deixarmos de usar carvão vegetal, o planeta agradece. Mas isso é impensável para a maioria das famílias que ainda depende desta fonte de energia. Como contornar o dilema?

Texto Filomena Bande •Fotogra a D.R.

Como forma de encontrar alternativas sustentáveis ao uso do carvão vegetal, a Biomotta, uma empresa moçambicana que actua na protecção e preservação do meio ambiente, desenvolveu o projecto de formação “Eco Mulembja”, num bairro com o mesmo nome (Mulembja), no distrito da Manhiça, em Maputo. A actividade durou um mês (entre 5 de Julho a 5 de Agosto). A capacitação focou-se principalmente nas mulheres e foi pensada para encontrar respostas a desa os ambientais críticos, tais como a necessidade de adopção de fontes renováveis, gerir resíduos sólidos e acautelar a exploração de recursos orestais.

Como fazer? Este projecto trabalhou quatro aspectos importantes da sustentabilidade: a protecção dos recursos orestais; a formação e emancipação das mulheres e de outros membros da comunidade em técnicas de produção de biomassa; a gestão e reaproveitamento de resíduos sólidos; e a criação de uma fonte de rendimento para as famílias e comunidades envolvidas.

Protecção dos recursos orestais O carvão ecológico proposto pela Biomotta às comunidades é produzido a partir de material reciclado e resíduos sólidos (lixo) de vegetais e papel, explicou o engenheiro ambiental e presidente do Conselho de Administração da Biomotta, Michaque Mota. É uma forma de “travar a exploração dos recursos orestais, como a lenha das árvores”. Este seria um passo importante na luta contra os riscos ambientais que a comunidade enfrenta.

De acordo com um estudo intitulado “Cadeia de Valor e Mercado de Combustíveis Lenhosos em Moçambique”, realizado pela consultora ambiental Greenlight (que se dedica à área das energias),

“a procura de biomassa para a produção de carvão vegetal tem trazido impactos ambientais e socioeconómicos adversos”. Tais impactos traduzem-se no uso excessivo dos recursos orestais, causando a des orestação, o que provoca erosão e destruição de ecossistemas.

A produção do carvão ecológico O projecto Eco Mulembja, que abrangeu cerca de 100 membros da comunidade, na sua maioria mulheres, consistiu em treiná-las em todas as técnicas envolvidas na produção do carvão biodegradável, num processo “simples”, garante o PCA da Biomotta. “Inicia-se com a recolha da matéria-prima, derivada de resíduos agrícolas, solos urbanos e materiais orgânicos biodegradáveis de origem animal. Trabalhamos com serradura, bagaço de cana-de-açúcar, papel descartado, casca de amendoim e outros tipo de substratos”, explicou.

Neste processo, ainda segundo o responsável, o primeiro passo consiste na trituração da matéria-prima, transformando-a em substrato. De seguida, junta-se a um ingrediente aglutinador, para car uma pasta consistente, obtendo-se assim um material pronto para moldar, como pedaços de carvão. O processo termina com a secagem desse novo carvão, ao sol.

Reaproveitar resíduos sólidos

Com todo este processo, a comunidade aprendeu a valorizar o lixo, como o bagaço de cana-de-açúcar, casca de mandioca, restos de alface e de outros vegetais, além do papel descartado, recolhido maioritariamente nas escolas. Este conhecimento, transmitido à comunidade, serve como medida para solucionar outro problema, que é o excesso de lixo acumulado. Ou seja, os membros da comunidade passaram a ver o lixo como matéria-prima e a recolhê-lo para posterior transformação – quer dizer, reciclando-o.

Uso de resíduos orgânicos

A produção de carvão ecológico tem merecido destaque como uma alternativa mais sustentável ao carvão tradicional, especialmente em países como Índia, Uganda, Quénia e Etiópia, destaca a Universidade da Pensilvânia (EUA). Materiais como cascas de coco, resíduos agrícolas e sobras de cozinha são cada vez mais utilizados para mitigar a des orestação.

Bagaço de cana-de-açúcar, casca de mandioca, restos de folhas de alface (ou outros vegetais) e papel descartado. Estes são quatro dos principais ingredientes reciclados para fazer o novo carvão Ingredientes

Benefícios ambientais

A produção de carvão ecológico a partir de resíduos diminui signi cativamente o impacto ambiental, comparado ao carvão convencional. Este processo não só reduz a necessidade de des orestação, mas também contribui para a diminuição das emissões de carbono, uma vez que utiliza métodos de carbonização mais e cientes e menos poluentes.

100 pessoas

É o número total de bene ciários do projecto Eco Mulembja, no distrito da Manhiça, província de Maputo, que têm acesso a uma nova forma de rendimento.

Desa os e limitações

Apesar dos avanços, a produção de carvão ecológico ainda enfrenta desa os, especialmente relacionados com a descentralização da cadeia de produção e a falta de políticas que promovam práticas de re orestamento, refere a Universidade da Pensilvânia (EUA). Além disso, em países como o Brasil, a substituição das orestas naturais por plantações de eucalipto para produção de carvão, continua a ser uma solução com limitações ecológicas devido à falta de biodiversidade nas plantações.

Rendimento para as comunidades

Segundo Eliel Jonas Mahanuque, coordenador do projecto Eco Mulembja e professor na comunidade bene ciária do projecto, a capacitação é uma solução importante para o crescente desemprego, constituindo uma nova fonte de rendimento para as famílias. “É uma iniciativa que surge num momento oportuno, visto que a comunidade está a passar por um período difícil, em que muita gente cou desempregada devido ao encerramento da açucareira da Maragra. Esta era uma indústria que empregava uma boa parte da comunidade da Manhiça e que gerava rendimento para muitas famílias”, revelou.

Estas palavras encontraram eco nas declarações de Felismina Mbeve, uma das donas de casa bene ciárias do projecto. “É uma grande alegria ter aprendido a fazer carvão, porque é muito simples e consigo fazê-lo sozinha para vender. Aprendi coisas bastante importantes e faço questão de as transmitir aos meus lhos e a outras pessoas que, inicialmente, não se identi cavam com o projecto”, concluiu.

E no futuro?

Michaque Mota revelou que um dos principais objectivos da Biomotta, a curto prazo, é expandir o projecto para mais regiões, partilhando as boas práticas. “Acreditamos que esta é uma tarefa fundamental para a construção de resiliência a nível das comunidades locais, criando oportunidades, especialmente para as mulheres, que são o nosso foco”.

Cultivando Futuros Líderes. O Impacto do Programa de Graduados do Absa

Num mercado de trabalho cada vez mais dinâmico e competitivo, os Programas de Graduados emergem como uma resposta estratégica para o desenvolvimento e crescimento profissional dos jovens recém-formados.

Comprometido em contribuir para os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a Agenda 2030, o Absa Bank Moçambique desenvolve o seu Programa de Graduados, uma iniciativa que visa preparar uma nova geração de profissionais de alta performance.

Com uma duração de 10 meses, este programa é desenhado especificamente para jovens recém-graduados de instituições de Ensino Superior, com idade máxima de 25 anos. Desde 2016, o nosso Programa de Graduados produziu mais de 126 novos profissionais para o mercado nacional, dos quais 81% foram integrados pelo próprio Banco.

Entre as muitas histórias de sucesso deste programa, destaca-se a de Jesse Fuleque, que integrou a edição de 2023. Formado em Contabilidade e Auditoria, o Jesse teve a oportunidade de explorar três áreas distintas da Banca: Finanças, Marketing e Relações Corporativas, e Canais. Esta experiência permitiu-lhe não só desenvolver competências técnicas essenciais para a sua carreira, mas também impulsionar o seu crescimento pessoal. No final do programa, foi convidado a integrar uma das áreas em que mais se destacou, iniciando a sua carreira no Absa Bank Moçambique em Janeiro de 2024.

Reflectindo sobre a sua jornada, afirma: "O Programa de Graduados foi uma porta importante para a minha introdução no mercado de trabalho. Após a minha formação, precisava de aplicar os conhecimentos adquiridos na faculdade. O Absa deu-me essa oportunidade e, mais ainda,

permitiu-me explorar áreas diferentes da minha formação, pelas quais, com o tempo, me apaixonei."

Esta visão é partilhada por muitos outros participantes do programa. Leandra Ouana, uma das integrantes da edição de 2024, também testemunha o impacto positivo da iniciativa. "Fui aceite no programa em Fevereiro de 2024 e, até ao momento, passei por duas áreas nas quais aprendi imenso.

Ao lidar com a diversidade das equipas aqui no Banco, pude aprender a interagir com as pessoas de forma eficaz, atingindo assim os objectivos estabelecidos. A experiência ajudou-me a desenvolver habilitações que até então desconhecia, como a criatividade e a capacidade de pensar fora da caixa.

Acções como fazer apresentações, elaborar relatórios precisos e até implementar projectos são aprendizagens valiosas que certamente vão im-

Com uma duração de 10 meses, este programa é desenhado especificamente para jovens recémgraduados das instituições de Ensino Superior, com idade máxima de 25 anos. Desde 2016, o Programa de Graduados produziu mais de 126 novos profissionais para o mercado nacional

pulsionar a minha carreira," comenta Leandra. O processo de selecção é rigoroso e inclui várias dinâmicas, como entrevistas e outras metodologias focadas na avaliação das competências transversais (soft skills) dos candidatos. Competências como criatividade, comunicação, liderança, proactividade, trabalho em equipa, visão estratégica, flexibilidade e capacidade de resolução de conflitos são criteriosamente analisadas.

Hanifa Hassangy, Directora de Capital Humano do Absa Bank Moçambique, explica: "Este programa é projectado para proporcionar aos participantes uma experiência de aprendizagem abrangente.

Os jovens recém-formados têm a oportunidade de adquirir competências técnicas e comportamentais, usufruir de mentoria e de oportunidades de rotação em diferentes áreas do Banco, o que lhes permite obter uma visão mais ampla do negócio e desenvolver uma base sólida de conhecimento.

Esta imersão no ambiente de trabalho permite que os participantes apliquem os conhecimentos académicos em situações práticas e, assim, adquiram experiências valiosas."

Com o Programa de Graduados, o Ready to Work e outros programas direccionados à juventude, o Absa reafirma o seu compromisso com o desenvolvimento dos jovens moçambicanos desde o início das suas carreiras, contribuindo activamente para o progresso do País.

O Banco investe no crescimento pessoal e profissional dos participantes, desde a aquisição de competências técnicas até ao aperfeiçoamento das competências socioemocionais. Ao acelerar o desenvolvimento do potencial juvenil, o Absa Bank Moçambique reforça o seu papel na construção de uma empregabilidade mais robusta e resiliente em Moçambique.

Infra-estruturas

O Milagre da Logística, Sem Espinha Dorsal

A principal via do País é uma manta de retalhos. Os motoristas têm de contornar cada buraco da estrada para o camião não se partir. Entre o norte e o sul, há milagres diários para fazer chegar mercadorias ao destino. Pelo mar, a cabotagem parece inviável; pelo ar, procura-se nova gestão. O Banco Mundial aprovou ajuda, mas os processos burocráticos parecem in ndáveis

Texto Celso Chambisso e Redacção •Fotografia iStock Photo & D.R.

As cadeias de logística e a sua interligação desempenham (ou deveriamdesempenhar)um papel crucial no desenvolvimento económico de Moçambique, facilitando o transporte de mercadorias e a integração regional. Com uma localização estratégica na costa sudeste de África, Moçambique serve como um corredor vital para os países sem saída para o mar, como Zimbabué, Zâmbia e Maláui, oferecendo acesso aos portos de Maputo, Beira e Nacala (os três grandes corredores logísticos do País).

No entanto, o País enfrenta desa os signi cativos, incluindo falta de infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias, o que limita a e ciência das operações logísticas. Investimentos contínuos são essenciais para melhorar a articulação, reduzir custos de transporte e impulsionar o comércio e o crescimento económico, quer no País, quer na região da África Austral. Mas o que é que, de facto, acontece?

Estradas: uma grande di culdade Ao nível rodoviário, por onde circula a maioria das mercadorias, Moçambique tem sobrevivido sem uma espinha dorsal: conseguir atravessar a Estrada Nacional Número 1 (N1) de autocarro ou em veículos pesados é quase um milagre, porque a estrada só existe nos mapas. Na realidade, aquilo a que se chama N1 são pedaços de vias sem condições de circulação, sem manutenção adequada e sem correcções de traçado, mesmo nos troços identi cados há décadas como zonas de inundação ou onde os terrenos estão a ceder.

Outras infra-estruturas, como as pontes, só não caem graças à ajuda externa. As sucessivas promessas de reabilitação feitas pelas autoridades nunca se concretizaram. Talvez seja graças à ajuda externa que a recuperação da N1 venha a acontecer, se o País conseguir aplicar as verbas aprovadas há dois anos pelo Banco Mundial.

O processo burocrático parece não se conseguir resolver e, agora, a previsão é que as obras comecem em 2025, entre Inchope e Caia, no coração de Moçambique, onde se encontram as províncias de Sofala, Manica e Zambézia. Mas, como os adiamentos têm sido constantes, resta esperar para ver.

"As estradas são vitais para a actividade económica, crescimento, inclusão social e redução da pobreza", disse Idah Z. Pswarayi-Riddihough, directora do Banco Mundial para Moçambique,

Madagáscar, Comores, Maurícias e Seicheles,naalturadaaprovaçãodoapoio nanceiro equivalente a 850 milhões de dólares. "Esta operação é fundamental", justi cou.

Entretanto, as empresas de transportes de passageiros e de mercadorias relatam aventuras para conseguir trabalhar; outras fecham porque a actividade é um prejuízo constante. Ainda há dois anos, a empresa de transporte de passageiros Maningue Nice paralisava a actividade em todo o País, devido à degradação da N1: "Fomos obrigados a parar, porque estávamos a trabalhar para comprar peças, sem receita, sem poder pagar salários, nem dívidas aos bancos", explicou o administrador Bakari Shemwaliku. Rotas que os autocarros da companhia percorriam num ou dois dias, ligando as províncias moçambicanas, passaram a fazer em três ou quatro, aumentando o esforço nanceiro da empresa e afastando os clientes, acrescentou.

Outro testemunho que cou no livro de memórias da degradada N1 foi o de Flávio Naiene, dirigente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), quando disse à Lusa que viajar por aquela estrada "é um grande martírio". "Temos de 'namorar' os buracos. Se não forem 'namorados', o camião ca pelo caminho", descreveu. As estradas são apenas a parte mais visível de um problema muito mais profundo e transversal.

Legislação desajustada

A E&M ouviu António Simões, Country Manager da Rangel Logistics Moçambique, uma das empresas de logística de peso no mercado, presente em 220 países. Conhece os sistemas logísticos de vários mercados, como Portugal e Angola. No caso de Moçambique, faz um alerta: "Há uma série de contingências legais que impedem medidas normais em qualquer ponto do mundo". A que se refere? Por exemplo, se um agente eco-

SOBRECARGA ÀS ESTRADAS

Em Moçambique, o trânsito de passageiros por cada quilómetro de estrada é 58 vezes maior em comparação ao movimento por via aérea, 129 vezes maior do que pelas ferrovias e 940 vezes mais do que por via marítima. Já no que diz respeito às mercadorias, apesar de o maior uxo seguir por ferrovias, as estradas também desempenham um peso signi cativo

Mercadorias

Em milhões de toneladas por quilómetro (Tkm *)

Passageiros

Em milhões de passageiros por quilómetro (Pkm *).

*Pkm Unidade de medida correspondente ao transporte de passageiros na distância de um quilómetro

*Tkm – unidade de medida que equivale ao peso, em toneladas, da carga transportada, multiplicado pelos quilómetros do transporte

nómico quiser enviar uma simples palete de mercadoria ou comida para animais, de Maputo para a Beira, tem de ter uma licença de agricultura. E esta mercadoria, seja importada ou produzida em Maputo, não dispensa o pagamento de uma taxa ao Ministério da Agricultura para poder transitar para a Beira. Logo, se um comerciante tiver um armazém em Maputo e quiser vender a nível nacional tem custos e obstáculos.

O processo não compensa e é empurrado para a sua área – onde não precisa de apresentar licenças. Além disso, para levar mercadorias importadas para outro ponto do País, é preciso carregar uma série de documentos. É preciso comprovar que foram pagos direitos alfandegários, apesar de a mercadoria estar a ser transportada dentro do País. Mas há mais obstáculos.

Situação crítica nos portos "Por exemplo, na actividade portuária, a lei estabelece que um navio só pode

MÁ QUALIDADE DA REDE VIÁRIA

Apesar de as estradas exercerem um papel primordial na logística estão longe de poder garantir e ciência à actividade produtiva e competitividade à economia

FONTE CINE, referente a 2022

atracar no Porto de Maputo se tiver uma quantidade muito signi cativa de contentores para a capital. Caso esteja carregado de contentores destinados a países vizinhos, está interdito de parar. Ou seja, a lei não permite o trânsito de contentores nos portos nacionais, isto é, toda a mercadoria que é descarregada tem de ser obrigatoriamente desalfandegada”, descreveu.

Uma situação que “não acontece noutras realidades”. “Geralmente, os navios podem atracar num determinado porto e deixar mercadorias para outros países - que são depois transportadas em embarcações de menor dimensão para o destino nal”. "Por isso costumo dizer: o que é verdade em Moçambique, é mentira no resto do mundo. E vice-versa", ironizou.

António Simões argumentou que, por causa destes e outros obstáculos, demora muito tempo ligar os continentes a Moçambique (geralmente três meses), já que as companhias têm de

criar uma massa crítica su ciente para deslocar um navio só para Maputo, evitando cargas de outros destinos. "Isto acontece também na carga aérea”. Moçambique teria vantagens em ser um ponto de trânsito de mercadorias, mas “a lei o não permite", acrescentou António Simões.

Resultado: perda de competitividade

Há cada vez menos navios de mercadorias com destino a Maputo, Beira ou Nacala devido a barreiras legais sem lógica para o mercado. "Num passado recente, tínhamos mais de um navio por mês, da mesma companhia, a passar por Maputo. Hoje temos um de mês a mês. Nalgumas situações, temos um

As empresas de transportes de passageiros e de mercadorias relatam aventuras para conseguir trabalhar; outras fecham porque a actividade é um prejuízo constante

em cada dois meses”, lamentou António Simões.

Como resultado, todas estas voltas pelo mar e por um universo legal repleto de burocracias e regras sem sentido acabam por tornar os produtos mais caros. As mercadorias são importadas em navios maiores, que são relativamente mais onerosos. Mas, acima de tudo, o que está em causa é a demora para fazer a gestão de um uxo su cientemente grande que justi que a entrada do navio no porto.

Trata-se de um processo com custos elevados, porque exige vários pagamentos, a várias entidades, não só scalizadoras, como ao próprio porto. E quanto maior o navio, maiores os custos.

N1: A ESPINHA DORSAL QUE AINDA FALTA A MOÇAMBIQUE

Troços cruciais a requali car

CABO DELGADO

Metoro-Pemba: 94 km

ZAMBÉZIA:

Chimuara –Nicoadala: 176 km

SOFALA:

Gorongosa –Caia: 168 km

SOFALA:

Inchope – Gorongosa: 70 km

2600 Km

A N1 é o corredor rodoviário mais longo do País. Zonas frágeis e afectadas por con itos não estão adequadamente integradas com o resto da economia, agravando a pobreza.

O processo burocrático tem-se arrastado para o arranque das obras com os fundos do Banco Mundial. O ministro das Obras Públicas disse em Junho que, devido a exigências estipuladas pelo organismo, os concursos deverão demorar e as obras arrancar só em 2025.

850M USD

O apoio do Banco Mundial para recuperar a N1 e outros projectos rodoviários tem nanciamento indicativo de 850 milhões de dólares com duração prevista de dez anos.

508 Km

Extensão de troços prioritários. Outras actividades nanciadas incluem o envolvimento da comunidade, capacitação das mulheres e melhor gestão da segurança rodoviária.

FONTE: Banco Mundial/Governo

Marromeu

FALTA UMA FERROVIA NORTESUL

Uma linha férrea vertical seria a espinha dorsal ideal para baixar o custo da logística e impulsionar investimentos. Mas não a temos. A actual rede está orientada horizontalmente

Lichinga

Chipata Lilongwe

Chimoio Mutare Moatize

Somabhula

Rutenga

Chócue Chicualacuala

Nelspruit

"Logo, o que é que as companhias fazem? Deixam esses contentores noutros portos de onde depois um navio menor os recolhe e os traz a Maputo. Mas esta solução também tem um ponto fraco: provoca atrasos signi cativos. Tudo inconvenientes que, do ponto de vista legal, podiam ser eliminados", concluiu.

Centro e norte sem massa crítica

Outra das grandes preocupações da logística em Moçambique são as assimetrias regionais. É que a distribuição física de mercadorias funciona de sul para norte, mas não há uxos no sentido contrário. Ou seja, os camiões seguem cheios para o norte, mas voltam vazios. Portanto, não há massa crítica nas regiões centro e norte que viabilize o retorno dos camiões com carga. Quando existe mercadoria, é de baixo preço e, consequentemente, não pode equilibrar a factura do transporte. Assim, quem paga a factura é

FERROPORTUÁRIOINVESTIMENTOPROMETIDO

A informatização dos processos, a formação do pessoal e a importação de equipamentos modernos são as principais mudanças previstas no sector

930,5

milhões USD

Investimentos estratégicos dos CFM 2021-24

Corredor de Nacala Dos 900 km entre Moatize e Nacala, cerca de 250 km estão no Maláui

Corredor da Beira É uma via importante principalmente para Zimbábue e Zâmbia

Maputo Dinamiza o comércio externo principalmente da África do Sul

485,5 42520

milhões USDmilhões USDmilhões USD

SECTOR FERROVIÁRIO

262,1

SECTOR PORTUÁRIO INVESTIMENTOS TRANSVERSAIS

364,8

Investimento nas linhas férreas

223,4 milhões USD milhões USD

Investimento em locomotivas e vagões

Para levar mercadorias de um ponto para o outro, é preciso carregar uma série de documentos que comprovem, inclusive, o pagamento de direitos alfandegários – apesar de estarem em circulação doméstica

Investimentos em infra-estruturas

60,2 milhões USD milhões USD

Investimento em dragagem e equipamentos

Investimento em formação e Tecnologias de Informação 20,0 milhões USD

quem envia e, em última análise, o custo re ecte-se no preço nal ao consumidor.

Os problemas da logística aérea

Relatórios da Organização Internacional da Aviação Civil (ICAO), Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) e do Instituto Nacional de Aviação Civil de Moçambique (INAC) são elucidativos sobre a dimensão dos problemas da aviação, que prejudicam tanto a e ciência quanto a competitividade do sector. Eis alguns dos principais desa os:

1 Infra-estrutura limitada

Muitas das infra-estruturas aeroportuárias precisam de modernização e expansão para lidar com o aumento do tráfego aéreo. As instalações de carga nalguns aeroportos são insu cientes, o que di culta a movimentação e ciente de mercadorias.

CRESCIMENTO ANUAL DO TRÁFEGO

Nos três principais corredores ferroportuários, assiste-se ao aumento do tráfego de mercadorias e de passageiros

Tráfego de mercadorias

Em

Transporte de passageiros

Manuseamento de carga

Total do sistema CFM

*Projecção de 2024

2 Interligações aéreas

Moçambique tem interligações aéreas limitadas, tanto em termos de voos domésticos, quanto internacionais. A situação restringe o uxo de mercadorias e encarece o transporte, tornando-o menos competitivo.

3 Custos elevados

Os custos de operação de serviços aéreos em Moçambique são elevados devido a factores como taxas aeroportuárias altas, custos de combustível e tarifas de navegação aérea. Esses custos são reectidos no preço nal ao consumidor.

4 Capacidade de carga limitada

As aeronaves disponíveis para transporte de carga em Moçambique têm capacidade limitada, o que di culta a circulação

de grandes volumes ou cargas pesadas, especialmente em rotas internacionais.

5 Burocracia e regulamentação

O processo regulatório em Moçambique pode ser complexo e demorado, o que afecta a rapidez com que as mercadorias podem ser processadas e transportadas. A burocracia excessiva também leva a atrasos e aumenta os custos operacionais.

6

Segurança e manutenção

Garantir a segurança das operações aéreas é um desa o contínuo, especialmente em relação à manutenção das aeronaves e à formação de pessoal especializado. Problemas na área podem resultar em atrasos e acidentes, comprometendo a abilidade do transporte aéreo.

Ferrovias sem entrepostos

A ferrovia é uma alternativa à estrada, mas a rede está orientada da costa para o interior, de forma transversal. Não existe uma linha longitudinal que ligue o sul ao norte, apesar de ter sido projectada há vários anos. Não existem estações associadas a entrepostos de mercadorias, nem equipamentos para fazer uma movimentação rápida de mercadorias, como acontece nos países desenvolvidos, por exemplo, movendo-a de carruagens para camiões. Esta é mais uma limitação logística crucial.

Joaquim Zucule, administrador-executivo dos CFM, acrescenta a necessidade de consolidar a informatização de processos, acabando com despachos em papel nas fronteiras, para aumentar a e ciência na movimentação de pessoas e bens - não apenas na parte interna, mas na relação

Os custos de operação de serviços aéreos em Moçambique são elevados devido a factores como taxas aeroportuárias altas, custos de combustível e tarifas de navegação aérea

com as empresas de logística e transportes dos países vizinhos. O Porto da Beira, por exemplo, "apresenta sérios problemas de e ciência. À entrada no terminal de combustíveis, registam-se las muito longas. Por isso, a meta, para já, é aumentar a capacidade de movimentação de combustíveis", revelou.

Novos investimentos à vista

Estão previstos investimentos para a transformação do sector, mas é 'ver para crer', face ao histórico de promessas por cumprir. O administrador-executivo dos CFMprometeinformatizaçãoeformação de recursos humanos (maquinistas, revisores, chefes de estação, entre outros) para concretizar a modernização da empresa.

Paralelamente, os CFM pretendem criar rotas directas Maputo-Hara-

re (Zimbabué), Maputo-Essuatíni, Maputo-África do Sul, Beira-Harare e Nacala-Maláui. "Para isso, já estamos a trabalhar com as nossas congéneres para a implementação, a curto prazo”, disse Joaquim Zucule.

A meta é trazer divisas para o País, já que cerca de 80% da actividade ferroviária corresponde a volumes de carga que envolvem os países sem acesso ao mar. Assim, parte dessas divisas deve ser reinvestida na compra de locomotivas, por exemplo.

Zucule admite que o Porto de Nacala, apesar de ser novo, moderno e “gigante” ao nível da África Austral, enfrenta a concorrência dos investimentos que estão a ser feitos no porto de Lobito, em Angola. "Temos de estar preparados para, rapidamente, vender a nossa ambição e visão em relação ao porto de Nacala".

COMO CIRCULAM AS MERCADORIAS?

A distribuição percentual global do transporte de mercadorias por tipo (aéreo, marítimo, terrestre) é amplamente dominada pela via marítima.

TRANSPORTE MARÍTIMO

Cerca de 80% a 90% do volume total de mercadorias a nível mundial é transportado por via marítima. Este é o método mais utilizado devido à sua capacidade de transportar grandes volumes a longas distâncias.

TRANSPORTE TERRESTRE

Aproximadamente 10% a 20% do volume total de mercadorias é transportado por via terrestre, incluindo rodovias e ferrovias. Este tipo de transporte é geralmente utilizado para circulação de todo o tipo de bens.

TRANSPORTE AÉREO

Representa menos de 1% do volume total de mercadorias transportadas globalmente. No entanto, é preferido para mercadorias de alto valor, perecíveis ou urgentes, embora o custo seja muito mais elevado.

FONTE UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development), IATA Air Cargo Reports, Banco Mundial, OCDE

“Interconectividade Regional é o Ponto Forte da Logística em Moçambique”

Ao encarar a logística como um pilar, os desa os do sector ganham outra preponderância, assinala Fanile Shongwe, Director da Banca de Investimento do Standard Bank Moçambique

Texto M4D •Fotogra a Mariano Silva

Fanile Shongwe, Director da Banca de Investimento do Standard Bank Moçambique, destaca o sector logístico como um pilar essencial para o desenvolvimento económico do país. Com uma costa extensa e ligações regionais estratégicas, Moçambique tem o potencial de ser um líder logístico na África Austral. No entanto, desa os como a manutenção de infra-estruturas e a necessidade de maior conectividade norte-sul persistem. Shongwe sublinha a importância da tecnologia para melhorar a e ciência e reduzir custos, e vê um futuro promissor, impulsionado por investimentos estrangeiros e parcerias regionais, que poderão transformar o País num centro logístico vital para a região.

Como é que o Standard Bank analisa o sector da logística e o seu reconhecido potencial para o desenvolvimento da economia nacional?

Moçambique é a nossa casa, e impulsionamos o seu crescimento há 130 anos. Somos o maior banco de África em termos de activos, com presença em 20 mercados. Estamos rmemente focados em sectores que impulsionam o crescimento económico nos países onde estamos presentes, incluindo Moçambique. A infra-estrutura (que inclui transporte e logística) é um dos nossos sectores-chave, e reconhecemos a sua importância na facilitação do comércio regional, na criação de emprego e, em última análise, no impulso ao crescimento económico. Temos relações estreitas com as principais partes interessadas no sector de transporte e logística e contribuímos para o crescimento e concretização

do potencial do sector através da partilha do nosso conhecimento especializado, soluções bancárias e de consultoria. Por exemplo, estamos envolvidos no Corredor Logístico de Maputo (CLM) desde 2003, que contribuiu com mais de 2,086 mil milhões de dólares para o PIB de Moçambique na última década.

Como descreveria o estado actual da infra-estrutura logística no País, e quais são os principais pontos fortes e a precisarem de melhorias? Moçambique é um país com 2500 Km de costa e 4500 Km de fronteiras terrestres. A infra-estrutura logística é desenvolvida transversalmente, de oeste para leste, ligando os clusters mineiros e agrícolas dentro de Moçambique e nos países vizinhos aos portos de saída. O País tem uma rede viária de 30 000 Km e 2500 Km de linha férrea, o que é crítico no apoio à integração regional do País, particularmente com a entrada em vigor da Área de Livre Comércio Continental Africana (AfCFTA). A principal força do sector logístico em Moçambique é a sua interconectividade regional. Consequentemente, os nossos portos principais são de entrada estratégica para o hinterland regional tanto para uxos de importação como de exportação. A principal fraqueza do sector logístico de Moçambique é a conectividade limitada no sentido norte-sul, faltando ligações que conectem os corredores paralelos leste-oeste entre si. Adicionalmente, a vasta extensão do País torna difícil a manutenção da rede rodoviária. Não obstante, estas fraquezas estão a ser abordadas através de projectos para a reabilitação das redes rodoviárias nacionais, maioritariamente nanciados por DFIs.

É CA(SA) e Sloan Fellow (London Business School) e actualmente director-executivo da Banca de Investimento do Standard Bank. Com mais de 15 anos de experiência no Grupo Standard Bank, o maior credor do continente Africano, desempenha funções como Chefe Regional de Soluções de Finanças Corporativas para a África Austral e Central, é responsável por uma carteira de empréstimos e adiantamentos de mais de mil milhões de dólares.

Olhando para os subsectores, há também desa os...

No Rodoviário o maior desa o tem sido encontrar um ponto de equilíbrio entre mobilizar recursos e nanciamento para necessidades de manutenção da infra-estruturas existentes versus o investimento na expansão da rede. Para os caminhos-de-ferro, o desa o advém dos volumes crescentes movimentados ano após ano, impulsionados pelo aumento do comércio regional e global, o que coloca pressão sobre a capacidade existente e exige investimento constante na expansão. O principal desa o para os portos é garantir que permaneçam competitivos a nível regional, sendo mais e cientes, rentáveis e mais bem conectados, permitindo-lhes atrair mais tráfego para os seus terminais. O porto de Maputo, que é gerido pela MPDC, e está integrado no Corredor Logístico de Maputo, investiu mais de 800 milhões de dólares desde 2003 para modernizar e expandir a sua infra-estrutura. Como resultado, é bem visto e classi cado pela sua e ciência na África Austral. Igualmente, o Porto da

FANILE SHONGWE

O País tem uma rede viária de 30 000 Km e 2 500 Km de linha férrea, o que é crítico no apoio à integração regional do País na SADC

Beira atingiu a classi cação mais elevada de todos os Terminais de Contentores da África Austral pelo Índice de Desempenho dos Terminais de Contentores do Banco Mundial, à frente de portos como o de Walvis Bay, Durban e Dar Es Salaam. Isto foi alcançado graças a um investimento signi cativo em equipamentos, infra-estruturas e sistemas. Em última análise, os portos e corredores são interdependentes. Os caminhos-de-ferro e as estradas são essencialmente as artérias que fornecem o sangue vital aos portos. Sem investimento, os portos não poderão operar ao seu potencial e vice-versa. Nota-se também um desao nos postos fronteiriços, que pode ser um impedimento nos períodos de pico. No entanto, através do funcionamento

ininterrupto e fronteiras de paragem única o Governo tem vindo a trabalhar para reduzir o tempo em trânsito.

Os custos logísticos são competitivos em comparação com outros países da região? Quais os principais factores que in uenciam esses custos? Os principais factores que in uenciam o custo da logística na região são a distância (que impacta o consumo de combustível, desgaste e manutenção) e o estado da infra-estrutura entre dois pontos. Moçambique é extremamente competitivo em comparação com outros países do bloco regional da SADC, devido às distâncias mais curtas desde a origem da carga até ao seu destino. Ou seja, Moçambique é a rota mais rápi-

STANDARD BANK MOBILIZOU MAIS DE MIL MILHÕES DE DÓLARES PARA DESENVOLVIMENTO DO SECTOR LOGÍSTICO EM MOÇAMBIQUE

O Standard Bank tem equipas dedicadas no País e na região que trabalham ao lado das empresas, não apenas como credores, mas também como consultores, para garantir que os projectos sejam de valor acrescentado, bancáveis e, em última análise, bem-sucedidos.

A nossa ligação ao Standard Bank Group e ao Banco Industrial e Comercial da China (ICBC) posiciona-nos para aceder aos mercados de capitais internacionais como uma fonte adicional de financiamento e liquidez para financiar projectos. Nos últimos anos, mobilizámos mais de mil milhões de dólares em capital para o desenvolvimento do sector em Moçambique, abrangendo caminhos-de-ferro, portos e estradas. E o banco tem parcerias com portos estratégicos como o Porto de Maputo desde 2003, quando a MPDC recebeu a concessão, e continuamos a colaborar com a MPDC no aumento da capacidade e eficiência do porto. Demonstrando o nosso compromisso com o sector, o Standard Bank, em colaboração com outras instituições financeiras e bancos locais, apoiou projectos nos principais corredores de desenvolvimento de Moçambique, nomeadamente os corredores de Maputo, da Beira e de Nacala. Recentemente, desenvolvemos, em parceria com a connigarth, um estudo macroeconómico do sector portuário para a MPDC, que foi um elemento-chave na sua decisão estratégica de estender e expandir a concessão existente do Porto de Maputo.

da e barata para os mercados internacionais de transporte marítimo para a Zâmbia, Zimbabué, Maláui e uma grande parte do sudeste da República Democrática do Congo.

Como é que a tecnologia está a ser usada para superar os desa os logísticos?

A tecnologia é utilizada para aumentar a e ciência e produtividade, simplicar processos, aumentar a segurança, reduzir custos, eliminar fraudes e reduzir a probabilidade de erro humano. A automatização e digitalização dos processos é uma ferramenta crítica no arsenal das empresas que operam no sector logístico. A MPDC e os seus parceiros são um estudo de caso perfeito de como a tecnologia pode ser aplicada para superar desa os logísticos. Conseguiram integrar sistemas tecnológicos com entidades como a Alfândega e o Km4, o que contribuiu para a melhoria da e ciência, reduzindo os tem-

pos de espera de 24 para 10 horas. Tradicionalmente, sistemas de gestão operacional totalmente digitais, o rastreio em tempo real de pessoas e carga, o uso de câmaras em pontes de pesagem para identi car camiões e sistemas de marcação de camiões nos portos melhoram a gestão do tráfego e eliminam o uso de processos baseados em papel. O movimento automatizado de carga dentro dos portos é também outra área onde a tecnologia está a ser utilizada para melhorar processos.

O que torna Moçambique atractivo para o investimento no sector logístico? Moçambique é um hub estratégico para a África Austral, o que signi ca que os investidores podem facilmente obter acesso ao mercado do hinterland, devido à interconectividade regional e à infra-estrutura já existente. Existem também incentivos para atrair investidores estrangeiros, incluindo isenções scais,

Zonas Económicas Especiais e um quadro regulamentar que simpli cou o processo de investimento, tornando-o mais fácil para as empresas estrangeiras.

Como é que o País está a posicionar-se no contexto da integração regional e que oportunidades daí advêm?

Como membro da Zona de Comércio Livre da SADC, o País bene cia de políticas comuns, redução de tarifas e de barreiras comerciais com os seus pares. Moçambique subscreve ao Plano Indicativo de Desenvolvimento Regional da SADC e está a capitalizar a sua posição estratégica junto ao oceano Índico, investindo pesadamente em infra-estruturas que suportam a integração regional. As parcerias regionais entre países criam uma série de oportunidades de crescimento para as economias e negócios.

Falava dos corredores de desenvolvimento, como o de Nacala e de Maputo.

Que papel desempenham na melhoria da logística no País?

Os corredores de desenvolvimento melhoram signi cativamente a logística de um país, ao melhorar as redes de transporte, a optimizar as rotas comerciais e a estimular a actividade económica. O impacto económico do CLM (Corredor Logístico de Maputo) é tangível e material, mas isto resultou de investimentos materiais e de uma estratégia deliberada para integrar o corredor através de caminhos-de-ferro, fronteiras e estradas. O CLM criou mais de 331 500 empregos e gerou 500 milhões de dólares em impostos na última década. A recente reabilitação do Porto de Nacala transformou-o num dos mais modernos da África Subsaariana e poderá bene ciar de um concessionário com forte especialização para elevar o Corredor de Nacala. Os avanços mais recentes nestes projectos incluem a extensão da concessão do Porto de Maputo até 2058, durante a qual a MPDC pla-

neia investir 2 mil milhões de dólares para duplicar a capacidade de movimentação do porto, incluindo o aumento da capacidade operacional de 37mtpa para 54mtpa, o aumento da capacidade do terminal de contentores de 270 mil por ano para um milhão de contentores por ano, a expansão do Terminal de Carvão de Matola de 7,5mtpa para 18mtpa e do Terminal de Carga Geral de 9,2mtpa para 13,6mtpa. Os concessionários do Porto da Beira também se comprometeram a investir 290 milhões de dólares ao longo dos próximos 15 anos na expansão e modernização do porto, aumentando a capacidade de manuseamento de contentores de 300 mil para 700 mil contentores por ano, bem como aumentos na capacidade de carga geral, armazenamento, melhoramento dos pontos de acesso, entre outros.

Que políticas públicas ou regulamentações vê como essenciais para melhorar o ambiente logístico em Moçambique? Como país em desenvolvimento, é importante para Moçambique aprender com o que os países desenvolvidos zeram bem e internalizar as lições de precaução en-

os países circulem sem interrupções, eliminando a necessidade de trocar de locomotiva na fronteira e os consequentes atrasos. Isto aliviará a pressão sobre as estradas e transferirá a carga para os caminhos-de-ferro. Apesar destes desenvolvimentos positivos, é necessário fazer mais para reduzir a burocracia no posto fronteiriço, a digitalização do processo aduaneiro, a implementação de um sistema de paragem única e a adopção do AfCFTA.

Que tendências vê a moldar o futuro da logística no País nos próximos anos? Começo por falar da sustentabilidade na logística. A Agência Europeia do Ambiente prevê representar até 40% das emissões globais de dióxido de carbono até 2050, a menos que sejam tomadas medidas e cazes. Portanto, os intervenientes na indústria terão de tomar medidas concretas para reduzir o seu impacto ambiental, o que implica compensação de carbono, optimização das rotas de transporte e mudança para veículos eléctricos ou da estrada para o caminho-de-ferro. Dito isto, existem muitas outras razões pelas quais as empresas do sector devem implementar

“O Standard Bank está a trabalhar ao lado das principais partes interessadas no sector logístico para concretizar a visão de futuro do País para o sector”

sinadas pelos seus erros. Melhorar a facilidade de fazer negócios é um bom ponto de partida para melhorar o ambiente, e vejo a implementação do Pacote de Medidas de Aceleração Económica (PAE) como uma excelente iniciativa com várias medidas que impactam o sector logístico. A esse nível, a iniciativa 11 é chave porque visa melhorar a competitividade dos aeroportos e corredores logísticos, simpli cando procedimentos destinados a aumentar a e ciência nas fronteiras. Há também incentivos para o transbordo nos principais portos e tarifas mais competitivas aplicadas nos principais portos, corredores logísticos e aeroportos. Estamos encorajados pelos passos dados pelo Governo de Moçambique e da África do Sul para tornar o CLM mais e ciente; o posto fronteiriço de Komatipoort/Ressano Garcia agora opera 24 horas, o que reduziu a congestão na fronteira. A CFM e a Transnet assinaram recentemente um acordo que permitirá que os comboios de ambos

estratégias de logística verde, particularmente em Moçambique, dada a susceptibilidade do País a eventos climáticos que causam interrupções no sector, resultando em perdas de receita. Antecipamos que haverá um grande foco na resiliência climática, o que exigirá cooperação com o Governo nacional. A melhor forma de prever o futuro é criá-lo, e o Standard Bank está a trabalhar com as principais partes interessadas no sector para concretizar a visão de futuro do País para o sector. Nos próximos cinco a dez anos, espera-se que os projectos de GNL estejam operacionais e isso trará os seus próprios desa os logísticos, e o País deve estar preparado para absorver a demanda adicional criada por esses projectos e corresponder ao nível de serviço exigido por uma indústria tão sensível e crítica. A modernização, expansão da capacidade e a capacidade de fornecer serviços de valor acrescentado, além da logística como a conhecemos, agora serão temas chave.

O Martírio Logístico Das Estradas Moçambicanas

Os investimentos em estradas dependem de ajuda externa. As parcerias público-privadas (PPP) não têm trazido resultados para o nanciamento doméstico. Aparentemente, a escassez de infraestruturas não tem m à vista.

Otestemunho de quem desenvolve actividades que dependem das estradas, no dia-a-dia, à escala nacional, é impressionante. “A infra-estrutura de estradas e pontes existente no País apresenta graves de ciências, que têm um enorme impacto nas operações”, disse à E&M a directora-geral da TL Logistics, Kiluva Taveira. Cada percurso demora muito mais que o esperado, há “um desgaste acelerado da frota, avarias que surgem a qualquer momento, há elevados custos de manutenção e, inclusive, problemas de segurança da carga transportada”, descreveu.

O que poderia ser feito para melhorar a situação e tornar o País competitivo? “Deveriam ser feitos investimentos na N1, nas estradas de acesso e em plataformas logísticas, ao longo da estrada, infra-estruturas com áreas de descanso para os motoristas e parqueamento para os camiões, assim como locais para fornecimento de alimentação, higiene, etc. Isto para além de melhorias nas condições de circulação, nomeadamente sinalização e segurança das vias”, completou.

Tudo isto está a ser feito, timidamente e de forma insu ciente face às necessidades do País, num cenário de dé -

ce nanceiro crónico para realizar intervenções na rede de estradas.

Alta dependência externa

De acordo com o Programa Integrado do Sector de Estradas (PRISE 2023), para o nanciamento das intervenções do programa de estradas foi aprovado um orçamento de 20 208 milhões de meticais, dos quais 7612 milhões internos (38%), provenientes das taxas cobradas aos utilizadores e do Orçamento do Estado, e 12 596 milhões de meticais de recursos externos (62%), provenientes das contribuições dos parceiros de cooperação, na forma de donativos e créditos concessionais.

Apesar da cobertura externa, as intervenções continuam muito aquém das necessidades. Dos pouco mais de 33 000 quilómetros de extensão da rede de estradas classi cadas, em que cerca de 80% não está asfaltada, a previsão do Governo, que consta do Plano Económico e Social e Orçamento do Estado (PESOE 2024), é de reabilitar, este ano, apenas 232 quilómetros de estradas nacionais e regionais. O mesmo documento prevê que sejam asfaltados apenas 72,5 quilómetros. Há ainda uma rubrica de manutenção periódica que inclui 235 quilómetros, entre outros pequenos aspectos. Um esforço que está longe de fazer a diferença rumo à mudança reivindicada pelo

Dos 33 000 quilómetros de estradas classificadas (80% não pavimentadas), o Governo prevê reabilitar apenas 232 ao longo deste ano, asfaltar 72,5 e fazer a manutenção periódica de 235

ALTA DEPENDÊNCIA EXTERNA

Apenas 38% das necessidades internas para as obras de construção, reabilitação e manutenção de estradas provém de recursos internos

72,5

Quilómetros

É a extensão de estradas que o Governo prevê asfaltar no presente ano, o que está muito aquém das necessidades actuais de melhoramento das vias

sector e pela população. Uma solução de nida pelo Estado como estratégica para resolver o problema é a concessão de estradas a privados para uma gestão através de parcerias público-privadas (PPP). Mas as experiências já realizadas não têm surtido efeito.

Porque não resulta a privatização?

As concessões envolvem a transferência de responsabilidades de operação e manutenção de certas estradas para empresas privadas, em troca de tarifas cobradas aos utilizadores, geralmente em forma de portagens. Ângelo Macuácua, PCA do Fundo de Estradas – entidade responsável pela manutenção, reabilitação e expansão da rede rodoviária –, arrola os cinco principais motivos que di cultam a privatização das estradas em Moçambique.

1 Condições económicas desfavoráveis

A crise económica, na sequência das dívidas ocultas, que veio à tona em 2016,

afectou a con ança dos investidores, reduzindo o interesse em novos projectos de infra-estruturas. Isso limitou a capacidade de o Governo atrair investimentos para novas concessões.

2 Riscos de investimento

O problema de segurança, especialmente em Cabo Delgado, além da instabilidade económica, aumentou a percepção de risco entre potenciais investidores privados, di cultando a obtenção de nanciamento e a concretização de novas concessões.

3 Retorno do investimento

O baixo poder aquisitivo da população moçambicana e a resistência ao pagamento de portagens em algumas regiões têm sido obstáculos para garantir retornos su cientes, tornando o negócio menos atractivo para empresas privadas investirem em novas concessões.

A LÓGICA DAS CONCESSÕES

Desde o início da década de 2000, o Governo de Moçambique começou a concessionar certas estradas a entidades privadas. A ideia é atrair investimento privado para a melhoria e manutenção da infra-estrutura rodoviária, reduzindo a pressão sobre os recursos públicos.

O objectivo principal das concessões é melhorar a qualidade das estradas e assegurar uma manutenção regular, utilizando os recursos nanceiros obtidos através das portagens. As estradas sob gestão das PPP incluem a N4, que liga Maputo à fronteira com a África do Sul em Ressano Garcia, sendo esta uma das principais rodovias concedidas a privados. A concessão foi dada à Trans African Concessions (TRAC), uma empresa sul-africana, em 1997, por um período de 30 anos. É um eixo fundamental para a África do Sul exportar ferro-crómio através do Porto de Maputo. Outras concessões incluem a N6, que liga o Porto da Beira à fronteira com o Zimbabué. Trata-se igualmente de um eixo fundamental para abastecer países vizinhos.

4 Capacidade institucional e regulatória

Apesar dos esforços para melhorar a regulação e gestão de concessões, ainda há desa os signi cativos relacionados com a capacidade institucional do Fundo de Estradas e de outras entidades governamentais em monitorizar e regular e cazmente as concessões existentes.

A complexidade dos contratos de concessão e a falta de experiência nalgumas áreas têm sido barreiras para avançar com novas concessões.

5 Negociações complexas

As negociações para novas concessões têm sido longas e complexas, muitas vezes levando a atrasos na implementação. Diferenças entre os interesses do Governo e dos investidores, bem como a necessidade de proteger os interesses públicos, resultaram em negociações prolongadas que, em alguns casos, levaram ao abandono de projectos.

O Que Impede a Aviação de Descolar?

Apesar de Moçambique despertar o interesse de grandes operadores da aviação, não há mercado com dimensão para que permaneçam e imprimam e ciência ao transporte aéreo. O que está a falhar?

Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.

Globalmente, o volume de mercadorias transportadas por via aérea representa menos de 1%. Em Moçambique, a realidade não é diferente. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), referentes a 2022, considerando todas as mercadorias transportadas pelos diferentes meios (rodoviário, ferroviário, marítimo e aéreo), o peso do transporte pelo ar foi de 0,02% (ver infogra a nas páginas 27 e 28). Ainda assim, a via aérea é a preferida para o transporte de mercadorias de alto valor, perecíveis ou que precisem de ser entregues rapidamente. Este é um sector que tem enfrentado problemas em Moçambique, vários e antigos obstáculos. Comecemos pela ponta do icebergue..

Caos na aviação

Enquanto o Governo adopta medidas para tornar o País mais atractivo ao investimento externo (como a isenção de vistos), as condições no mercado da aviação, que é o principal interessado no processo, movem-se no sentido contrário. Durante muito tempo, têm-se registado problemas estruturais. O mais recente está relacionado com a insuciência de divisas no mercado cambial, que sofreram uma redução signicativa nos últimos meses, prejudicando a actividade dos operadores, sobretudo internacionais.

O que é que está efectivamente a acontecer? O presidente do pelouro do Turismo da Confederação das Asso-

ciações Empresariais de Moçambique (CTA), que também é CEO da agência de viagens Cotur, Muhammad Abdullah, mantém contacto com os operadores da aviação e ajuda-nos a perceber a dimensão do problema.

Air France bloqueia operações

Recentemente, a companhia francesa Air France pretendia voar para Moçambique, e até chegou a anunciar voos para o País. Mas desistiu, no segundo trimestre deste ano. No entanto, antes de tomar este passo, a Air France restringiu as tarifas mais baixas. Isto é, o mercado moçambicano só tinha acesso às ‘full-fare’ (mais caras). Por exemplo, uma viagem Maputo-Paris-Maputo, que pode custar entre 50 a 60 mil meticais, no mercado moçambicano estava disponível apenas por 160 mil meticais.

Quando as maiores agências do mercado de viagens em Moçambique (Cotur, Avitum, etc.) confrontaram a companhia, a Air France argumentou que não conseguia expatriar as divisas para França, no sentido de fazer face aos custos das operações. Por isso, compensou esse obstáculo, aumentando o preço, o que culminou, mais tarde, com o bloqueio total do mercado moçambicano.

“Hoje, se quisermos viajar pela Air France, não podemos comprar passagens aéreas em Moçambique. Temos de o fazer através da África do Sul ou outro país em que esta companhia esteja activa. Isto é preocupante e degradante para as nossas aspirações”, lamentou Muhammad Abdullah. Entretanto, a companhia Cathay Paci c,

A insuficiência de divisas faz com as companhias aéreas ponderem restringir as vendas, podendo até cancelar operações

Moçambique investiu, nos últimos anos, em infra-estruturas aeroportuárias que têm uma utilização residual, como em Gaza e Nacala

É o número de companhias aéreas que operam no mercado moçambicano, agora a enfrentar uma crise provocada pela escassez de divisas

OS VELHOS PROBLEMAS DA LAM

Desde logo, os problemas do sector da aviação estão associados às crises crónicas da companhia de bandeira, Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), que durante anos tem apresentado sérios problemas operacionais (voos atrasados, reprogramados ou cancelados), relacionados com uma frota reduzida, falta de investimentos e a de ciente manutenção das aeronaves. Para resolver a questão, o Governo decidiu contratar a empresa sul-africana Fly Modern Ark (FMA), em Abril de 2023, para recuperar a LAM, com um plano de reestruturação em curso, agora sob a direcção de Américo Muchanga, nomeado em Julho para dirigir a companhia.

de Hong Kong, que também estava activa em Moçambique, desistiu pelas mesmas razões.

Mais companhias ameaçam sair Neste momento, o mercado tem 23 companhias aéreas activas, que permitem o acesso a outras que não estão activas no País. Mas a insu ciência de divisas faz com que estas também ponderem restringir as vendas, podendo juntar-se às que anunciaram o cancelamento da sua presença em Moçambique. Muhammad Abdullah refere ter recebido um ultimato de operadores dirigido ao mercado: “Estamos a dar mais uma oportunidade para ver se as coisas melhoram. Mas, se continuarem assim, muito em breve vamos anunciar a interrupção”, disse o CEO da Cotur.

Além disso, de acordo com o responsável, companhias como a Ethiopian Airlines e a Qatar Airways também ameaçam cancelar voos para Moçambique, caso as divisas continuem a escassear. “Algo tem de ser feito antes de ‘batermos no fundo’, principalmente nesta área das viagens”, referiu aquele responsável.

Apesar das contrariedades, de acordo com o relatório da Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA), o sector das viagens aéreas gerou um volume de negócios da ordem dos 150 milhões de dólares no primeiro semestre deste ano, comparativamente a 100 milhões em igual período do ano passado, o que revela um nível de crescimento assinalável.

É um nível de crescimento que se pode perder caso o mercado das divisas continue escasso.

Cabotagem, Uma Solução (In)Viável?

Porque é que o transporte marítimo doméstico não funciona num país com uma costa tão extensa como Moçambique? Saiba o que vai mal

Osório Lucas, director-executivo da Sociedade de Desenvolvimento do Porto de Maputo (MPDC), empresa concessionária do Porto de Maputo, é uma das vozes que reconhecem a importância da cabotagem – navegação doméstica, porto a porto – num país marcado pela insegurança e pela má qualidade das estradas. Entende que seria mais apropriado que a carga fosse transportada pelo mar. Mas porque é que isso não acontece?

“Há razões que fazem com que a retoma da cabotagem leve tempo (no passado, a cabotagem já esteve activa na costa moçambicana). Primeiro, nem todos os portos têm infra-estruturas para suportar a cabotagem. O Porto de Nacala, por exemplo, agora, tem guindastes. Mas antes, os navios, tinham de ter os seus próprios postes de carga, o que obrigava a custos de operação maiores”, argumentou.

Depois, falta completar a cabotagem com a entrega à porta do armazém. Pelo mar, o fornecedor leva a carga até ao porto,ondedemoraatésairparaumcamião, para ser levada por estradas, na sua maioria em mau estado. “No m de tudo, o tempo de entrega e o custo logístico acabaporsermaior”queporviaterrestre, explicou o PCA do MPDC, antes de concluir: a cabotagem não escapa ao problema de infra-estruturas, que afecta todos os sectores da economia”.

Excesso de burocracia

António Simões, country manager da Rangel Logistics Moçambique, diz que

já fez um estudo sobre a cabotagem em Moçambique, e entende que há factores que tornam esta modalidade de transporte inviável. Aponta, concretamente, as diferenças de uxo económico entre o norte, centro e sul do País, como um factor a ter em consideração. Ou seja, a cabotagem só seria rentável no sentido sul-norte, e não no sentido contrário, já que os navios seguiriam cheios para abastecer o norte, mas regressariam vazios por falta de massa crítica. E isto desencorajaria o investimento nesta modalidade de transporte.

A esta questão acrescenta-se a excessiva burocracia. “Se eu tiver 20 camiões de mercadorias, levar o equivalente a essa quantidade para Pemba por via marítima seria muito mais económico do que seguir por estrada. O problema é que, efectivamente, a burocracia inerente à colocação dessa mercadoria dentro do navio é quase como fazer uma exportação”. O que acontece? É que o processo passa pelos mesmos procedimentos aduaneiros de uma exportação, em termos de documentação e de outras formalidades aduaneiras, excluindo o pagamento do IVA e outros encargos inerentes. “Isso limita os uxos para rentabilizar um navio de pequena dimensão a fazer cabotagem nos portos moçambicanos”, revelou.

António Simões sublinha que a combinação de obstáculos como a burocracia e os longos períodos de paragem nos portos para movimentação de mercadorias faz da cabotagem uma actividade inviável. “Por isso é que várias empresas já apareceram com o objectivo de fazer cabotagem, mas todas desistem a

A cabotagem só seria rentável do sul para o norte, porque que os navios seguiriam cheios, mas regressariam vazios
Texto Celso Chambisso & Redacção • Fotografia

2 700

É a linha de costa de Moçambique de norte a sul, que seria viabilizada pela cabotagem como alternativa à estrada Qulómetros

GOVERNO RECONHECE INSUSTENTABILIDADE DA CABOTAGEM

Há dois anos, numa cerimónia pública, em Pemba, a vice-ministra dos Transportes e Comunicações revelava que a cabotagem era insustentável e corria o risco de ir à falência. Entre as causas, apontava um exemplo: a lei de navegação marítima nacional obriga os operadores de navios a usarem rebocadores em cada porto onde atracam. “O uso de rebocadores é muito caro e às vezes não se justi ca, porque os marinheiros conhecem os portos”, explicou Manuela Rebelo, sem revelar os valores cobrados pelo uso de rebocadores. Na altura, a governante prometeu mudanças na legislação. Os responsáveis pelo sector, que apontam o mar como uma oportunidade, continuam à espera. A logística moçambicana e toda a economia também.

meio do percurso. Fazem uma ou duas tentativas e não resistem porque, efectivamente, não encontram soluções. É que, para todos os efeitos, quem compra quer receber a mercadoria em casa, por questões de controlo da qualidade e da quantidade”. E é natural que um distribuidor que está em Pemba, Nacala ou Nampula não vá querer assumir qualquer risco em relação à recepção das mercadorias”, anotou.

De facto, nada avança

Há quatro anos, o grupo francês de logística Peschaud e o Governo moçambicano relançaram o serviço de cabotagem, transporte marítimo de mercadorias, porto a porto, em Moçambique, com a ambição de ligar o País de norte a sul. Mas o projecto cou pelo caminho.

O objectivo era “criar a maior auto-estrada marítima do País”, referia a Sociedade Moçambicana de Cabotagem (SMC), detida pela empresa Peschaud Moçambique (75%) e pela estatal Transmarítima (25%). O serviço ainda ligou, durante cerca de um ano, o Porto de Maputo, capital do País, até Afungi, na província de Cabo Delgado, onde estava a ser construído o maior investimento privado em África, liderado pela petrolífera francesa Total, para exploração de gás natural. O investimento da SMC rondava os seis milhões de dólares (417 milhões de meticais).

A SMC publicava na Internet as movimentações das suas embarcações, Ylang e Greta. A última publicação da empresa no Facebook é de Janeiro de 2021. Dois meses depois, um ataque armado a Palma suspendeu o investimento no complexo industrial de gás natural. Esse ataque, com um número de mortes até hoje por revelar, paralisou o investimento (até hoje) e afastou o maior cliente da SMC. Em Novembro de 2021, foi a própria SMC a interromper a navegação porque, “com a paralisação das actividades da Total”, a embarcação Greta viajava “apenas com 15% da sua capacidade”, justi cou Luís Carvalho, administrador da SMC.

Um fracasso antigo

Mas já antes tinha havido outras tentativas de fazer da cabotagem a opção para transportar boa parte das mercadorias e passageiros em Moçambique. Algo que se assume como natural num país com mais de 3 mil quilómetros de costa. Em 2020, por exemplo, a SMC diagnosticava uma necessidade de “processos simpli cados, menos onerosos e que dêem resposta às críticas existentes no passado”. Os anos passam, os obstáculos prevalecem.

CFM Entram na Logística do ‘Oil&Gas’

A empresa estatal vê a entrada de empresas moçambicanas no ramo do petróleo e gás como uma oportunidade de negócio no sector, além de acenar com a bandeira do “conteúdo local”

Texto Redacção • Fotografia D.R.

Aempresa estatal Portos e Caminhos-de-Ferro de Moçambique (CFM) deu início em Julho às operações da CFM Logistics. Como o nome indica, trata-se do ramo da empresa pública dedicada à logística, mais concretamente a serviços marítimos de apoio ao sector do petróleo e gás.

A CFM Logistics pretende prestar serviços em todas as actividades das petrolíferas, desde a fase inicial de prospecçãoatéàsfasesseguintes,emque os furos de pesquisa dão bons resultados e se avança para a exploração – seja em terra, seja no mar. No caso, Moçambique tem assistido a operações de prospecção ao longo da costa centro e norte do País, após seis concursos de atribuição de blocos. A bacia do Rovuma, dividida entre águas territoriais da Tanzânia e de Moçambique, tem das maiores reservas de gás natural do mundo. Ali, o País tem três projetos de exploração aprovados, mas apenas um está a facturar com a exportação de gás natural liquefeito (GNL), a plataforma utuante Coral Sul, dirigida pela petrolífera ENI. Quanto aos outros, o projecto da TotalEnergies está a avançar, com vários técnicos e equipas no terreno, mas a informação é escassa, depois dos ataques armados de Março de 2021. O terceiro projecto, liderado pela ExxonMobil, continua à espera de uma decisão de investimento.

O novo braço da empresa pública começou a trabalhar no Porto de Nacala, com a aquisição de dois rebocadores e dois barcos-piloto, tradicionalmente usa-

dos para auxiliar a chegada de cargueiros e outros navios de grandes dimensões aos cais ou outros locais marcados em mapas. “É um gigantesco desa o e uma extraordinária oportunidade”, referiu Agostinho Langa Júnior, presidente do conselho de administração dos CFM. “Estamos a implementar um mandato do Governo na implementação dos projectos de petróleo e gás, mas sobretudo a contribuir para o desenvolvimento de Moçambique”, referiu.

A ambição da CFM Logistics

Segundo o PCA dos CFM, a ideia é “envolver toda a cadeia de produção, logística e venda de recursos energéticos”, tendo em conta o potencial do Rovuma, mas também a produção na zona sul, na região de Pande e Temane. A empresa pretende aplicar o seu know how no manuseamento portuário, após uma avaliação com parceiros, clientes e outros intervenientes no sector.

Com quase 130 anos de actividade, os CFM vêem também nesta área uma oportunidade de “construir novas infra-estruturas ou reabilitar e ampliar as já existentes” para atender à procura da indústria de petróleo e gás. “A CFM Logistics é a resposta à altura dos desaos que são continuamente apresentados pelas concessionárias, contratadas, subcontratadas e demais parceiros”, disse. Ao mesmo tempo, a empresa poderá garantir “a implementação da estratégia de promoção do conteúdo local” junto do sector do petróleo e gás, tanto em termos de emprego como de associação com privados nacionais.

A aposta pode ajudar a “construir infra-estruturas ou reabilitar as já existentes” para atender à procura da indústria do ‘oil&gas’

CFM APRESENTAM LUCROS?

A nova empresa foi apresentada numa altura em que foram divulgados os lucros da CFM: cresceram 26% em 2023, para 2,9 mil milhões de meticais, apesar das consequências das intempéries, segundo o relatório e contas consultado pela Lusa. A administração deliberou a aplicação de 65% dos lucros em reservas e os restantes 35%, equivalente a mil milhões de meticais, em pagamento de dividendos ao Estado, único accionista. No documento, a administração lembra que a passagem do ciclone Freddy levou à paralisação de terminais de petróleo e carvão na Beira durante 10 dias, sendo estes importantes para países do interior da África Austral.

Por sua vez, o transporte ferroviário nacional aumentou 25% em 2023, face ao ano anterior, para mais de 6,6 milhões de passageiros, graças à “plena operação de automotoras” que entraram ao serviço em Agosto de 2022, “aumentando a capacidade de transporte de passageiros na região sul e centro do País”.

Gana

Previsões para produção de cacau

O clima quente e seco no Gana está a dicultar os esforços para aumentar a produção de cacau, com as ores e os frutos a murcharem nas explorações agrícolas do sudoeste – um dos principais centros de produção do país da África Ocidental. Esperava-se que a produção recuperasse

continuam tímidas

para 700 000 toneladas na época 2024-25, depois de o mau tempo, as doenças e a falta de fertilizantes terem resultado numa escassez do ingrediente para o fabrico do chocolate pelo terceiro ano consecutivo. O Gana é o maior produtor mundial de cacau a seguir à Costa do Mar m.

África

Haverá vacinas contra a varíola dos macacos?

Jean Kaseya, director-geral do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, foi mordaz quando, a meio de Agosto, classi cou um surto de mpox (varíola dos macacos) em rápida propagação como uma emergência de saúde pública em todo o continente. A Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu, logo a seguir, um alerta global. Kaseya disse que a nova estirpe mutante se espalhou por meia dúzia de países, porque a região não obteve o apoio adequado durante o surto global de uma versão mais branda, em 2022. Embora África seja o único continente onde a mpox é endémica, nessa altura não recebia vacinas – e agora precisa de cerca de quatro mil milhões de dólares

para combater a doença. Custando cerca de 100 dólares por dose, segundo Kaseya, a maioria dos países não tem condições para as comprar.

Ainda há esperança de travar o surto e vontade parece não faltar. EUA e Europa têm reservas e a Bavarian Nordic, uma das poucas empresas com uma vacina aprovada, a rma que será capaz de satisfazer as necessidades do continente. Mas há obstáculos. Por exemplo, é necessário que haja um pedido formal dos países que precisarem de vacinas. As dádivas serão a forma mais rápida de fazer chegar a imunização à República Democrática do Congo (RDC), epicentro do surto que já matou mais de 550 pessoas.

Burundi

Após quatro anos de liderança do Presidente Evariste Ndayishimiye, no Burundi, os defensores dos direitos humanos, activistas, jornalistas e membros da oposição política continuam a enfrentar intimidação, assédio, prisões e detenções arbitrárias e processos judiciais injustos, a rmou a Amnistia Internacional (AI). A organização divulgou um novo documento informativo sobre a persistente repressão do espaço cívico no Burundi.

“A onda de repressão em curso frustrou as esperanças de uma mudança signi cativa na abordagem do Governo em relação à sociedade civil e de abrir espaço para a discussão de questões prementes de direitos humanos no país”, a rmou Tigere Chagutah, director regional da AI.

Comércio Zâmbia e RDC retomam actividade transfronteiriça

A Zâmbia retomou o comércio com a República Democrática do Congo (RDC) depois de as autoridades se terem reunido para resolver um diferendo que levou ao encerramento da fronteira comum. A decisão da RDC de proibir as importações de cerveja, refrigerantes e lima provocou protestos.

A Zâmbia reagiu encerrando a fronteira como medida para proteger camionistas que estavam a ser atacados. A RDC produziu mais de 2,8 milhões de toneladas de cobre no ano passado, quase toda transportada através da Zâmbia para portos regionais na Namíbia, África do Sul e Tanzânia.

África do Sul

Rand valoriza-se e bate recorde de 13 anos

O rand da África do Sul superou uma série de máximos durante o mês de Agosto, como já não se via há 13 anos. A moeda chegou a valorizar-se de forma signicativa durante nove dias consecutivos. Foi a sequência em alta mais longa desde Janeiro de 2011. Um sinal importante, assinalaram vários analistas, que vêem o rand como indicador das perspectivas dos mercados emergentes.

Em Agosto, o rand chegou a ser a moeda com melhor desempenho face ao dólar entre as cerca de 150 moedas globais monitorizadas pela Bloomberg. Os activos sul-africanos ganharam a preferência dos investidores desde que a coligação ANC e Aliança Democrática assumiu o poder há dois meses.

Etiópia

Con ito armado arrasta atrocidades

As forças de segurança etíopes cometeram ataques generalizados contra pro ssionais médicos, doentes e instalações de saúde na região de Amhara, no noroeste do país, desde o início dos combates em Agosto de 2023. Muitos destes ataques constituem crimes de guerra, indica um novo relatório da Human Rights Watch (HRW) que documenta ataques em 13 cidades da região, envolvidas em

Quénia

na região de Amhara

combates entre as forças etíopes e a milícia Amhara, conhecida por Fano. Os civis da região estão a suportar o peso da violência à medida que estes ataques põem em causa cuidados essenciais. Entre Agosto de 2023 e Maio de 2024, a HRW entrevistou 58 vítimas e testemunhas de abusos, pro ssionais médicos e trabalhadores humanitários, informação que sustenta o mais recente relatório.

Investidores dão sinal positivo à venda de obrigações

A venda de obrigações relacionadas com infra-estruturas, pelo Quénia, atraiu uma forte procura, num teste fundamental ao apetite dos investidores, depois de uma onda de protestos antigovernamentais ter levado as autoridades a anular um plano crucial de aumento de impostos. A venda das obrigações ocorreu pouco

Tanzânia

depois de a Moody’s Investors Service e a Fitch Ratings terem reduzido, ainda mais, a pontuação de crédito (‘rating’) do país da África Oriental, colocando-a ao nível de ‘lixo’, em resposta à decisão das autoridades de abandonar as novas taxas - depois de protestos terem matado dezenas de pessoas em todo o país.

Polícia liberta membros da oposição

A polícia da Tanzânia libertou 520 membros da oposição que tinham sido detidos para travar uma alegada manifestação que, segundo as autoridades, poderia ter desencadeado distúrbios. Os activistas, que estiveram detidos sem serem acusados, incluíam o líder do partido Chadema, Freeman Mbowe, e o

Botsuana

acusados de convulsão

seu vice, Tundu Lissu. A repressão ocorreu na sequência de protestos antigovernamentais no Quénia, onde morreram pelo menos 61 pessoas, e na Nigéria, onde morreram mais de 20. Com as eleições agendadas para 2025, a Presidente Samia Hassan parece determinada a não tolerar convulsões.

Crise nos diamantes provoca cortes da despesa pública

O Botsuana planeia reduzir as despesas em novos veículos e viagens para os funcionários do Governo, e poderá atrasar alguns projectos de capital para compensar a queda de receitas de diamantes, de acordo com a ministra das Finanças, Peggy Serame. A nação da África

Austral é o maior produtor mundial de diamantes em bruto, em termos de valor, e as vendas geram a maior parte das suas receitas. O excesso de oferta e a fraca procura por parte de compradores chineses cruciais tiveram impacto no mercado global de diamantes.

As Maiores Empresas (e as Que Mais Crescem) em África

O grupo Naspers lidera a lista das 250 maiores empresas do continente. Seguem-se três bancos e uma mineradora. A África do Sul coloca nove empresas entre as dez mais valiosas

Ovalor das maiores empresas do continente, de acordo com a classi cação publicada anualmente pela revista African Business, voltou a cair este ano. A capitalização total de mercado das 250 maiores empresas cotadas em África foi de 505 mil milhões de dólares, uma queda de 9% face ao ano anterior. A novidade é que a principal responsável por essa queda é precisamente a maior empresa, a Naspers, cujo valor de mercado tem vindo a decrescer. Com sede na Cidade do Cabo, a Naspers opera em todo o mundo no sector da tecnologia e multimédia (com 2 mil milhões de clientes), mas também noutras áreas tão distintas como a editorial (é proprietária do grupo Abril no Brasil) ou o capital de risco. A utuação do preço das acções da Naspers não resulta das operações na África do Sul, nem sequer no continente, mas do envolvimento na tecnológica Tencent (adquiriu uma participação de 33% em 2016), cotada em Hong Kong, com resultados decepcionantes. Nos lugares seguintes surgem, a uma distância confortável, três bancos sul-africanos: Absa, FirstRand e Standard Bank, seguidos de outras empresas do mesmo país, como o grupo nanceiro Capitec Bank, a gigante das telecomunicações Vodacom e as mineiras Anglo American Platinum e An-

gloGold Ashanti. Entre estas, destaca-se a Vodacom, que caiu da quarta posição, em 2023, para a sétima, este ano. No entanto, os analistas antevêem um outlook positivo, graças, entre outros factores, à aquisição bem-sucedida da lial da Vodafone no Egipto.

Empresa de Marrocos no ‘top’ 10 A única empresa que não é sul-africana e está entre as 10 primeiras é o banco marroquino Attijariwafa Bank, que subiu do 14.º para o 8.º lugar. A capitalização de mercado segue uma tendência ascendente graças à expansão para novos mercados no continente. Os analistas estimam que o banco possa ultrapassar alguns rivais sul-africanos nos próximos quatro anos.

As maiores subidas na classi cação das maiores empresas de África estão fora do ‘top’ 10 e foram protagonizadas pelo Banque Centrale Populaire de Marrocos (que saltou do 31.º para o 20.º lugar), pela Harmony Gold Mining, da África do Sul (que subiu 25 posições para o 24.º lugar) e pela construtora imobiliária egípcia Talaat Moustafa (que ascendeu do 146.º ao 50.º lugar). Em sentido contrário, a operadora móvel MTN, da Nigéria, saiu do ‘top’ 10 (caiu da 9.ª para a 35.ª posição), devido, em grande parte, à desvalorização da moeda local (naira).

Importa referir que o ranking da African Business inclui apenas empresas pri-

A classificação inclui apenas empresas privadas cotadas em bolsa, senão, petrolíferas como a Sonatrach (Argélia) e Sonangol (Angola), garantiriam um lugar próximo do topo

milhões de clientes

É o número de utilizadores que fazem do Grupo Naspers a líder de África

vadas cotadas em bolsa. Caso contrário, petrolíferas como a Sonatrach, da Argélia, e a Sonangol, de Angola, garantiriam certamente um lugar próximo do topo.

As empressas mais dinâmicas

O jornal britânico Financial Times, em parceria com a consultora Statista, elabora também uma classi cação complementar, centrada nas 125 empresas africanas cujas receitas mais cresceram nos últimos três anos.

A África do Sul mantém-se como país com mais empresas na lista (42), mas a diferença para a Nigéria (25 empresas) reduziu-se, apesar da crise económica nigeriana, marcada pelo aumento da inação e pela desvalorização da moeda (naira).

O Quénia continua em terceiro lugar (12 empresas), mas a novidade é a ascensão de Marrocos, que coloca uma dúzia de rmas no topo, quando eram apenas três no ano anterior. As empresas sediadas nas Maurícias também tiveram um bom desempenho (são nove, mais cinco que no ano passado).

Nesta lista do Financial Times/Statista, a empresa vencedora é a nigeriana Omniretail, uma plataforma de comércio electrónico que ajuda pequenos retalhistas, proprietários de quiosques e comerciantes a digitalizarem os seus negócios. A vice-campeã é a Kyosk.App, sediada nas Ilhas Maurícias, que capacita retalhistas tradicionais e agricultores do continente africano com uma plataforma de distribuição digital inovadora. A empresa foi fundada em Nairóbi, no Quénia, e expandiu-se para a Tanzânia, Uganda e Nigéria.

FNB Expande Serviços Com Inauguração de Instalações Modernas em Tete e na Matola

OFNB Moçambique inaugurou, em 2024, duas novas agências, um marco que reforça o compromisso do Banco em proporcionar uma experiência bancária superior para mais de três milhões de munícipes de Tete e 1,5 milhão na Matola.

A 11 de Julho, em Tete, foram inauguradas as novas instalações do FNB na capital da Província. O novo balcão, localizado na Avenida Eduardo Mondlane, foi projectado com um design moderno e espaçoso, ocupando uma área total de 616 m², dos quais 256 m² são reservados para o atendimento personalizado. “Este espaço foi concebido para oferecer uma experiência de atendimento rápida, personalizada eacessível,cumprindotodasasexigências de acessibilidade”, lê-se no comunicado.

A cerimónia de inauguração contou com a presença de Sérgio Chitará, presidente do conselho de administração do FNB, acompanhado pelo vereador das Finanças, Arnaldo Morais, em representação do Município de Tete. Também estiveram presentes representantes do Banco de Moçambique, do governador da cidade de Tete, da secretaria de Estado, além de clientes, parceiros e co-

laboradores do Banco. Sérgio Chitará expressou a sua satisfação com a inauguração do novo balcão, destacando: “este é um marco significativo na nossa jornada para oferecer melhores condições e um serviço de excelência aos nossos clientes em Tete. Mais do que um local para transacções bancárias, este espaço reflecte o nosso compromisso em estar próximo dos nossos clientes e contribuir para o desenvolvimento económico da região”, destacou.

Arnaldo Morais, vereador das Finanças, elogiou o esforço do FNB em melhorar a infra-estrutura urbana com instalações modernas na movimentada Avenida Eduardo Mondlane. “Estas novas instalações não apenas fortalecem a nossa infra-estrutura urbana, como são tam-

A 30 de Julho, o FNB inaugurou um balcão na Matola, com potencial para beneficiar 1,5 milhão de pessoas após uma reabilitação estrutural

bém um investimento importante no desenvolvimento económico e social de Tete. O comprometimento do FNB é fundamental para impulsionar o crescimento contínuo desta região, conhecida pelas suas diversas actividades económicas.”

“Localizado no Bairro Francisco Manyanga, o novo balcão do FNB está estrategicamente posicionado para atender eficientemente às necessidades bancárias da comunidade de Tete, promovendo um acesso facilitado aos serviços financeiros essenciais”, pode ler-se ainda no comunicado.

Novo Balcão na Matola para servir 1,5 milhão de potenciais clientes

A 30 de Julho, o FNB inaugurou outro novo balcão, na Matola, com potencial para beneficiar 1,5 milhão de pessoas após uma reabilitação estrutural.

Para o Director de Retalho do FNB, Nasser Meggi, "a reabilitação está alinhada com a nossa estratégia de modernização de imagem, mas sobretudo de investimento na capacidade dos nossos colaboradores para poderem melhor servir os nossos Clientes e parceiros. Representa igualmente um marco significativo na nossa jornada para oferecer condições melhoradas, conveniência e um serviço de excelência”. Por seu turno, a directora do Banco de Moçambique (BdM) – filial da Matola, Paula Libombo, em representação do Governador da instituição, enfatizou a importância da expansão dos serviços financeiros para a inclusão financeira no país. “A reinauguração deste balcão visa oferecer maior conforto e comodidade aos seus utentes, elevando os níveis de inclusão financeira e bancarização da economia. Esperamos que este balcão ofereça produtos e serviços de qualidade, cada vez mais próximos dos seus destinatários, com foco na criatividade, inovação e advocacia,” vincou.

Esta cerimónia contou também com a presença do presidente do Conselho Municipal da Cidade da Matola, Júlio Parruque, do Administrador-Delegado e membros da comissão executiva do FNB, bem como de outros convidados, clientes e parceiros do FNB Moçambique.

Quando a Ciência é Complementar à Literacia Económica

Gregory Mankiw é um economista americano amplamente reconhecido pelas suas contribuições para a ciência, tanto em termos académicos, quanto na formulação de políticas públicas. É considerada uma gura central da economia contemporânea

Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R

Ao longo da carreira, Mankiw consolidou-se como gura in uente na economia moderna, autor de obras fundamentais, como "Principles of Economics", um dos livros de introdução à economia mais utilizados no mundo. O impacto de Mankiw na ciência económica é vasto, da macroeconomia à teoria do crescimento, passando pela in uência em decisões políticas cruciais nos Estados Unidos.

Contribuições académicas

As ideias de John Stuart Mill encontraram aplicaçãoemdiversosaspectosdasuateoria. Mankiw é mais conhecido pela abordagem didática à teoria económica, o que se re ecte nas suas publicações e no ensino. O livro "Principles of Economics" transformou a maneira como a economia é ensinada, ao introduzir conceitos complexos de uma forma acessível. Mankiw procurou tornar os princípios económicos compreensíveis, focando-se na ideia de trade-o s (contrapartidas) e incentivos, elementos centrais para entender as escolhas individuais e colectivas.

Além do trabalho como educador, Mankiw contribuiu para o desenvolvimento da teoria dos ciclos económicos. Foi um dos pioneiros na utilização do conceito de rigidez de preços e salários para explicar utuações económicas. O modelo New Keynesian incorpora a ideia de que a rigidez pode gerar ine ciências e justi car a intervenção de um Governo em momentos de crise económica.

Principais in uências de Mankiw Mankiw teve in uência directa em políticas económicas, especialmente durante o período em que foi presidente do Conselho de Assessores Económicos do Presidente George W. Bush entre 2003 e 2005. Nessa posição, ajudou a moldar a resposta económica do Governo americano em diversas áreas, incluindo a política scal.

Um dos momentos mais notáveis foi a defesa de cortes de impostos como ferramenta para estimular o crescimento económico. Mankiw argumentou que cortes bem desenhados poderiam impulsionar o investimento e o consumo, gerando um crescimento sustentado. Essa visão levou a grandes reduções de impostos pela administração Bush, embora essas medidas tenham sido controversas e alvo de críticas.

Outro exemplo da sua in uência foi a posição sobre a globalização e o comércio internacional. Mankiw foi defensor convicto do livre comércio, argumentando que os benefícios para o bem-estar global superam os custos associados à perda de empregos em sectores menos competitivos. Essa perspectiva in uenciou a política comercial dos Estados Unidos, apesar da resistência de alguns sectores da sociedade e de outros economistas.

O Pensamento de Mankiw

As ideias de Gregory Mankiw são fundamentadas em princípios microeconómicos, como a análise de incentivos e a ideia de trade-o s. Ele acredita que os indivíduos e as empresas tomam de-

Mankiw argumenta que cortes de impostos podem impulsionar o investimento e o consumo, gerando um crescimento sustentado

cisões baseadas em incentivos e que essas escolhas individuais formam a base para a compreensão de fenómenos macroeconómicos maiores.

Mankiw é frequentemente associado à síntese neoclássica, que combina elementos da teoria keynesiana com a microeconomia neoclássica. Defende que, embora os mercados tendam a ser e cientes no longo prazo, há espaço para intervenções governamentais no curto prazo para corrigir ineciências, especialmente em tempos de crise económica.

Um ponto central na obra de Mankiw é a defesa do uso de modelos económicos simpli cados para compreender a realidade. Ele argumenta que modelos económicos, mesmo sendo abstracções, são ferramentas poderosas para prever o comportamento económico e orientar a política económica. Este pensamento está re ectido no seu trabalho sobre o multiplicador scal e a análise dos efeitos de diferentes políticas scais e monetárias.

Aplicabilidade das teorias

Na política económica, os princípios defendidos por Mankiw foram utilizados para moldar decisões em áreas como impostos, regulação e comércio internacional. O seu apoio ao livre comércio e à globalização, por exemplo, tem sido uma pedra angular na defesa de acordos comerciais e na argumentação contra o proteccionismo.

Além disso, as suas ideias sobre o papel da educação económica são frequentemente mencionadas em debates sobre como melhorar a literacia económica da população em geral. Mankiw acredita que uma compreensão básica dos princípios económicos é essencial para o funcionamento de uma democracia saudável, onde os eleitores possam tomar decisões informadas sobre políticas económicas.

Nasceu a 3 de Fevereiro de 1958 em New Jersey. Estudou economia na Universidade de Princeton e no Massachusetts Institute of Technology (MIT). Ensinou Macroeconomia, Microeconomia, Estatística e Princípios de Economia.

A sua pesquisa inclui trabalho sobre ajuste de preços, comportamento do consumidor, mercados nanceiros, política monetária e scal e crescimento económico. De 2003 a 2005, liderou o Conselho de Consultores Económicos do Presidente dos EUA, George W. Bush.

GREGORY MANKIW

A“doença holandesa” é um termo económico que designa as consequências negativas que podem advir de um aumento do valor da moeda de uma nação. Está principalmente associada à descoberta ou exploração de um recurso natural valioso e às repercussões inesperadas que essa descoberta pode ter na economia do país. O termo foi cunhado pela revista The Economist em 1977, quando analisou uma crise que ocorreu nos Países Baixos após a descoberta de vastos depósitos de gás natural no Mar do Norte, em 1959. A riqueza recém-descoberta e as exportações maciças de gás natural provocaram uma valorização acentuada do florim – moeda holandesa até 2002, tornando as exportações de todos os seus produtos e serviços não petrolíferos menos competitivas no mercado internacional.

O fenómeno ocorre tipicamente na sequência de um aumento das exportações associadas a recursos naturais, o qual resulta numa entrada substancial de moeda estrangeira. Nesta situação, há uma tendência de valorização da moeda nacional, pois há uma maior procura pela moeda do país para realizar transacções comerciais. Embora a valorização possa, à primeira vista, parecer positiva, esta pode espoletar efeitos negativos sobre outros sectores da economia não relacionados com o sector em que tenha ocorrido o crescimento económico, sendo, geralmente, as indústrias de agricultura, produção e transformação as que mais tendem a sofrer.

Com a valorização da moeda nacional, os produtos não relacionados com a exploração dos recursos naturais tornam-se menos competitivos para compradores estrangeiros, traduzindo-se numa redução das exportações desses outros produtos, prejudicando sectores não directamente relacionados com os recursos em questão. Por outro lado, o fortalecimento da moeda nacional conduz a um maior poder de compra dos agentes eco-

Doença holandesa – Exploração de Recursos Naturais e Efeitos Económicos

nómicos residentes a nível internacional, tornando assim mais competitivos os bens e serviços importados, e desmotivando ainda mais a produção local.

Estas tendências associadas à valorização cambial e à concentração de riqueza no sector dos recursos naturais podem levar a uma desindustrialização progressiva. Os investimentos noutros sectores da economia tendem a diminuir, uma vez que a atenção e os recursos se concentram na exploração e exportação dos respectivos recursos valiosos. Esta desindustrialização resulta numa dependência crescente do sector de

Países que dependem de um conjunto limitado de recursos naturais encontram-se mais expostos à volatilidade económica

recursos naturais, aumentando o risco da economia e a exposição mais acentuada a ciclos económicos.

Os países que dependem fortemente de um recurso, ou de um conjunto limitado de recursos naturais, encontram-se, assim, mais expostos à volatilidade económica devido às flutuações nos preços internacionais desse(s) recurso(s). Se o preço desse(s) recurso(s) no mercado global cair substancialmente, o país poderá entrar numa crise económica profunda, pois grande parte da sua receita, gerada a partir da exploração desse recurso, também reduz de forma significativa. Além das implicações económicas, a exploração e dependência de recursos naturais pode ter efeitos sociais e políticos. A riqueza gerada e a sua concentração tendem a originar desigualdades econó-

micas e sociais, aumentando o risco de corrupção e conflitos relativamente à distribuição dos recursos. A gestão dos recursos e a sua distribuição equitativa tornam-se questões cruciais para a estabilidade política e social do país.

Países como o Reino Unido, o Canadá e a Rússia sofreram os efeitos da doença holandesa devido à forte expansão e exploração dos seus recursos naturais. A experiência de vários países que já enfrentaram esta realidade levou ao desenvolvimento de medidas para mitigar os efeitos e riscos associados à doença holandesa, tais como: privilegiar a diversificação económica; adopção de um regime de câmbio flexível; políticas fiscais focadas no controlo da inflação; investimento em serviços públicos; encorajamento da poupança e investimentos e promoção da educação para os residentes; criação de fundos soberanos, entre outros. A implementação destas estratégias pode ajudar os países a gerir os desafios associados à doença holandesa e promover um desenvolvimento sustentável.

Em Moçambique, com a descoberta e a exploração dos megaprojectos de gás natural na região de Cabo Delgado, embora o País se encontre também exposto aos riscos da doença holandesa, existem mitigantes. Em particular, deve destacar-se que os accionistas destes projectos são, na sua maioria, multinacionais, e as receitas previstas para a exploração do gás serão, em grande medida, e numa primeira instância, utilizadas para o pagamento do financiamento do projecto, não entrando assim, de forma directa, na economia moçambicana. Por outro lado, as receitas que serão alocadas ao país nos primeiros anos, sobretudo na forma de royalties, serão canalizadas em parte para o Orçamento do Estado, cabendo ao Governo a responsabilidade de decidir a sua alocação, e a outra parte para o Fundo Soberano, criado recentemente e em específico para lidar com alguns dos riscos da doença holandesa, tendo como objectivo preservar riqueza para as gerações futuras.

Aplicação do Direito da Concorrência em Moçambique: Principais

Desenvolvimentos e Tendências Para o Futuro

Miguel Marques de Carvalho • Sócio, Miranda & Associados, Coordenador da Equipa de Direito da Concorrência da Miranda Alliance & Suheil Salém • Associado Sénior, Pimenta e Associados, membro da equipa de Direito da Concorrência da Miranda Alliance

Volvidos 3 (três) anos desde que a Autoridade Reguladora da Concorrência (ARC) de Moçambique iniciou funções, afigura-se oportuno destacar os principais desenvolvimentos na aplicação da legislação de concorrência em Moçambique ao longo deste período, bem como as perspectivas para o futuro. Essa análise prospectiva é especialmente relevante no contexto da integração de Moçambique na Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e na União Africana, em particular no âmbito do Acordo da Zona de Comércio Livre Continental Africana (afCFTA), que Moçambique ratificou.

e maior diversidade de escolha para os consumidores. Tendo isto presente, pode considerar-se, com propriedade, que a ARC tem procurado desempenhar com diligência o seu papel de garante do cumprimento das regras de protecção da concorrência.

O Protocolo sobre a Política de Concorrência da ZCLCA proíbe as práticas comerciais consideradas anticoncorrenciais e/ou incompatíveis com o mercado da ZCLCA

Comecemos por considerar brevemente os principais resultados atingidos até agora pela ARC. No que respeita ao controlo prévio de concentrações, de Agosto de 2021 a Junho de 2024, foram submetidas à aprovação da ARC quarenta e seis (46) notificações de controlo de concentrações, envolvendo um volume de negócios total de 533 mil milhões de dólares dos Estados Unidos da América. Os três sectores de actividade com o maior número de notificações de controlo de concentrações são os sectores do comércio, da energia e da indústria transformadora. No domínio das práticas anticompetitivas, foram investigados vinte e um (21) casos de práticas anticompetitivas, incluindo três (3) casos de abuso de posição dominante e um (1) de gun-jumping, ou seja, de implementação de uma operação de concentração antes da aprovação por parte da ARC. A ARC já sancionou empresas em três (3) processos. Além disso, realizou quatro (4) estudos económicos nos seguintes sectores: sector do transporte aéreo de passageiros, sector da produção e distribuição de açúcar, sector dos serviços de táxi e de transporte com base em aplicações e sector da produção de clínquer e cimento de construção.

Cabe a este propósito assinalar que o objectivo último do direito da concorrência é o de promover uma concorrência efectiva nos mercados, que permita gerar preços mais baixos, mais inovação

Com a ARC agora em pleno funcionamento, afigura-se pertinente antecipar quais poderão ser as tendências para o futuro em termos da aplicação da legislação de concorrência em Moçambique, uma vez que o País faz parte da SADC e ratificou o afCFTA, onde se têm verificado desenvolvimentos significativos em termos de política de concorrência. Estes desenvolvimentos requererão ajustamentos no actual quadro legal da concorrência em Moçambique, com vista a alinhar a mesma com as políticas e directrizes regionais e continentais da concorrência. Embora esta convergência pareça promissora em teoria, existem desafios práticos que devem ser considerados.

Concorrência na SADC

A nível regional, Moçambique é membro da SADC. No seio da SADC, no que respeita à política de concorrência e protecção do consumidor, existem dois instrumentos fundamentais: (i) o Protocolo de 1996 sobre o Comércio - em particular o Artigo 25, que se centra na política de concorrência - e (ii) a Declaração da SADC de 2009 sobre a Cooperação Regional na Política de Concorrência e do Consumidor. Ao assinarem estes instrumentos, os Estados-membros comprometeram-se a aprovar e aplicar legislação de concorrência e de defesa do consumidor nos seus respectivos países, a estabelecer um sistema de escrutínio judicial adequado e a criar um sistema eficaz de cooperação regional nestas áreas. Além disso, em 2015, foram criados a nível da SADC grupos de trabalho especializados em cartéis, controlo de concentrações e abuso de posição dominante. Recentemente, o Secretariado da SADC elaborou uma política-quadro de concorrência e um modelo de lei da concorrência, mas que aguarda a aprovação

Há necessidade de harmonizar as regras da concorrência, olhando para o mercado comum regional da SADC

final do Comité de Comércio do Conselho de Ministros da SADC. Estão também a decorrer discussões sobre a potencial criação de uma autoridade de concorrência regional, semelhante à Comissão de Concorrência da COMESA ou a Comissão da CEMAC.

No âmbito da Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA), um instrumento crítico a ter em conta é o Protocolo sobre a Política de Concorrência, adoptado durante a 36.ª sessão da Assembleia da União Africana, realizada de 18 a 19 de Fevereiro de 2023 em Adis Abeba, Etiópia. Este instrumento entrará em vigor 30 dias após o depósito do 22.º instrumento de ratificação, o que ainda não ocorreu. O Protocolo sobre a Política de Concorrência da ZCLCA proíbe as práticas comerciais consideradas anticompetitivas e/ou incompatíveis com o mercado integrado e unificado da ZCLCA.

Este Protocolo estabelece objectivos ambiciosos em matéria de concorrência em todo o continente africano, em particular a criação de um regime de concorrência africano uniforme alinhado com os objectivos de integração económica previstos para o continente.

No âmbito desta convergência regional e continental da política de concorrência entre as nações africanas, há importantes desafios que devem ser considerados. Por exemplo, em matéria de controlo de concentrações, as jurisdições das autori-

dades regionais da concorrência e da autoridade continental da concorrência devem ser claramente delimitadas. O objectivo é evitar sobreposições desnecessárias de jurisdição relativamente a uma mesma transacção transfronteiriça, que poderia implicar uma redundante multiplicação de análises do impacto da transacção na concorrência e, consequentemente, atrasos significativos na sua conclusão. Acresce que aplicação das regras de concorrência nos Estados que integram uma organização regional ou continental como a SADC e a União Africana deve ser tendencialmente uniforme entre eles, por uma questão de segurança jurídica, que é crucial para os agentes económicos. Com efeito, entre os objectivos condutores da integração regional e continental devem estar precisamente a redução da burocracia e da incerteza regulatória para as empresas, de forma que se aumente a competitividade no mercado.

Delimitação de competências

Todos estes factores concorrem para a necessidade de uma delimitação clara de poderes e competências entre os diversos níveis – nacional, regional, continental –de aplicação do direito da concorrência, mas também para a necessidade de introdução de regras de concorrência uniformes e claras, que permitam às empresas distinguir condutas legais de condutas ilegais, não apenas num país em es-

pecífico, mas também nos mercados regional e continental em que esse país está integrado. Outro aspecto fundamental diz respeito ao comércio entre as nações africanas. De acordo com o mais recente relatório da Comissão Económica para a África (CEA) sobre a avaliação dos progressos da integração regional em África, a integração regional africana está a progredir, embora a um ritmo reduzido. Com efeito, os países africanos continuam a efectuar mais trocas comerciais com o resto do mundo do que entre si − o comércio intra-africano em percentagem do comércio global situa-se na ordem dos 13%.

Deste modo, por muito robustas e integradas que sejam as políticas de concorrência, se as nações africanas não estiverem dispostas a adoptar políticas favoráveis ao comércio intra-africano, como a eliminação de direitos e tarifas de importação, a convergência regional em matéria de direito da concorrência não trará as vantagens desejadas.

Desta forma, a questão crítica que se coloca é se as nações africanas estão política, económica e socialmente preparadas para criar um mercado único africano semelhante ao que existe, por exemplo, na União Europeia. Em nossa opinião, isso determinará em larga medida o sucesso ou insucesso da convergência regional e continental em matéria de direito da concorrência.

FMI Impõe Prazos: Vem aí Mais

Transparência?

As empresas públicas publicam pouca informação e dispõem de poderes que abrem portas à corrupção. Como contrapartida à linha de crédito concedida ao País, o FMI exige o cumprimento de medidas para a economia ganhar transparência

Os alertas acerca da corrupção em Moçambique repetem-se, de tempos a tempos, e às vezes são feitos pelas próprias autoridades, num acto de reconhecimento da gravidade do problema. As receitas para lidar com a situação são conhecidas, mas falta implementá-las. O Fundo Monetário Internacional (FMI) está a fazer um esforço para que as medidas anticorrupção se concretizem, exigindo a aplicação de algumas delas como contrapartida da linha de crédito concedida ao País, há dois anos, no valor de 456 milhões de dólares.

No último relatório periódico de avaliação, que serve para validar novos desembolsos, o fundo pede “atenção” aos riscos de corrupção no Sector Empresarial do Estado (SEE) e exige medidas de transparência na gestão por parte do Governo. Nestes programas de apoio do FMI, o que se diz nas avaliações periódicas é tão importante como a entrada dos desembolsos nos cofres do Estado, pelo sinal que dá para o resto do mundo e pelo que isso implica para a con ança na economia do País.

“É importante melhorar a transparência nos processos de contratação pública das empresas públicas para abordar as vulnerabilidades à corrupção e melhorar a e ciência da despesa pública”. O que está em causa é o quadro jurídico que “concede às empresas públicas um amplo poder” para realizarem aquisições directas em situações não competitivas, aumentando os riscos de corrupção”. Este poder permite fazer contratos sem respeitar princípios ou concursos, invocando “processos excepcionais em situações de força maior”, sem indicar “critérios

objectivos ou salvaguardas”. Dada a dimensão do sector, o Governo e os cidadãos devem prestar atenção aos processos de aquisição das empresas públicas”, aponta o relatório. No entanto, a tarefa a gura-se como uma missão de detective, porque “falta divulgação regular de dados sobre o desempenho do SEE”.

FMI apoia, mas exige reformas

No relatório, o FMI referiu que está a trabalhar com o Ministério da Economia e Finanças com vista a reformar o SEE e pediu, como primeiro passo para uma maior transparência”, a „publicação das políticas de aquisição das empresas públicas, juntamente com os planos anuais de aquisição” ou a implementação de políticas de „transparência da propriedade bene ciária e anticorrupção”. O compromisso está estabelecido e há prazos para cumprir, entre Dezembro e Março de 2025.

É certo que as autoridades costumam fazer referência a recentes reformas do quadro jurídico das empresas públicas e aos “esforços em curso”, mas o FMI diz que não chega. É necessária mais atenção aos quadros de governação corporativa para melhorar o desempenho” do SEE e mais independência. O relatório defende o fortalecimento “da independência e da autonomia dos conselhos de administração das empresas públicas” com “objectivos claros”, clari cando os papéis do Estado (como proprietário), dos conselhos de administração e da gestão.

Escolher com base na competência O processo de indicação do conselho “deve ser formalizado e realizado com base no mérito competitivo e em prin-

Parque de Ciências e Tecnologia de Maluana, norte da província de Maputo

“É importante melhorar a transparência nos processos de contratação pública das empresas públicas para abordar as vulnerabilidades à corrupção e melhorar a eficiência da despesa pública”

NOVAS MEDIDAS DE TRANSPARÊNCIA

As empresas públicas moçambicanas vão ter de disponibilizar publicamente informação sobre os processos de contratação, a partir do próximo ano, conforme assumido pelo Governo com o FMI durante a quarta avaliação à linha de crédito alargada (ECF, sigla em inglês)

DEZEMBRO DE 2024

O Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE) terá de publicar até Dezembro deste ano as políticas de contratação pública para dez empresas públicas, medida que o FMI a rma “ajudar a combater os riscos de corrupção”.

FEVEREIRO DE 2025

Prazo para publicação de diploma, do Ministério da Economia e Finanças, exigindo que o IGEPE e cada empresa pública “publiquem no seu site as políticas de aquisições no prazo de 15 dias após a aprovação do IGEPE”.

MARÇO DE 2025

Prazo para publicação pelo MEF dos dados sobre pagamentos atrasados entre as empresas públicas e para com o Estado.

AS EMPRESAS PÚBLICAS E AS PARTICIPADAS

São no total mais de 33 empresas, das quais 23 participadas pelo Estado e as restantes 15 pertencentes ao Estado moçambicano. Fique a saber quais são

Empresas públicas

ENH - Empresa Nacional de Hidrocarbonetos

CFM Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique

EDM Electricidade de Moçambique

Aeroportos de Moçambique

Rádio Moçambique

Televisão de Moçambique

Empresa Moçambicana de Dragagens

Correios de Moçambique (em liquidação)

Imprensa Nacional de Moçambique

Regadio do Baixo Limpopo

Hidráulica de Chókwè

Parque de Ciência e Tecnologia de Maluana

Empresas participadas maioritariamente pelo Estado

Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB)

Tmcel - Moçambique Telecom

Petromoc

LAM - Linhas Aéreas de Moçambique

BNI - Banco Nacional de Investimento

Silos e Terminal Graneleiro da Matola

EMOSE - Empresa Moçambicana de Seguros

Sociedade do Notícias

Empresa Moçambicana de Exploração Mineira

DOMUS - Sociedade de Gestão

Imobiliária

Monte Binga

Transmarítima

Sociedade Moçambicana de Medicamentos

Sementes de Moçambique

Complexo Agro-Industrial de Chókwè

BVM - Bolsa de Valores de Moçambique

Empresa Moçambicana de Importação e Exportação de Medicamentos

EMOPESCA

Companhia do Pipeline Moçambique

Zimbabwe

FONTE IGEPE

Edifício sede da seguradora estatal Emose, na baixa da cidade da Maputo

cípios transparentes que busquem prossionalismo e competências relevantes”, acrescenta o relatório do FMI. Por outras palavras, devem ser combatidos outros critérios de proximidade na hora de indicar administradores. O FMI sublinha a necessidade de “garantir que os membros do conselho das empresas públicas não assumam outras funções em órgãos reguladores ou de supervisão” e“declaremasuapropriedade,sehouver, em todas as empresas públicas”.

Atenção à folha salarial O FMI repetiu ainda um alerta que divide analistas independentes: o Fundo defende a redução dos gastos com os salários da função pública moçambicana e

O FMI sublinha a necessidade de garantir que os administradores das empresas públicas não assumam outras funções em órgãos reguladores ou de supervisão

O QUE É O SEE?

O Sector Empresarial do Estado moçambicano é constituído por cerca de 20 empresas, detidas totalmente ou em parte pelo Estado. As firmas representam um “risco” para as finanças públicas, com contas debilitadas de forma crónica e gestão deficitária.

FMI PEDE CLAREZA

“No futuro, as autoridades devem considerar a revisão do quadro jurídico para sujeitar as empresas públicas às regras de contratação pública, especialmente no que diz respeito aos requisitos de transparência, ao mesmo tempo que consideram a flexibilidade adequada, mas limitada, para aquelas que competem com o sector privado”.

diz que está a ser “mais difícil do que o esperado”, alertando para o “pesado fardo” para as nanças públicas. Essas diculdades na implementação da reforma, aponta o FMI, resultaram em derrapagens de 3,3% do PIB em 2022. Em 2023, o peso da massa salarial caiu para 15,1% do PIB, face aos 16,1% em 2022, mascou acima do limite orçamental xado em 13,8% do PIB.

“As despesas com a massa salarial representam um pesado fardo para asnanças públicas - equivalente a 72% das receitas com impostos em 2023”, alerta-se no documento do FMI, apontando-se que esse volume de despesa limita os gastos do Estado com apoios sociais e outras necessidades de desenvolvimento.

O Texto Que Não Foi Escrito.

iago Fonseca • Sócio e Director de Criação da Agência GOLO PCA do Grupo LOCAL de Comunicação

Arevista estava em fecho. O editor já tinha enviado várias mensagens a pedir o texto. Não havia texto. O texto não tinha sido escrito. “Amanhã de manhã sem falta envio-te”.

As culpas do atraso já se tinham transformado em desculpas.

E desculpas, se pensarmos bem, também são textos. São palavras a explicar. A justificar.

Mas o ponto é que nenhum texto existe.

Até ser escrito.

Os escritores e redactores vivem nessa ansiedade todos os dias.

E por mais incrível que seja, só dessa ansiedade saem os textos.

Escrever é a essência da comunicação. Na verdade, não se trata de escrever, mas sim de dizer. Falar.

Que no fundo é muito mais. Contar. Explicar. Argumentar. Responder. Afirmar. Expressar. Declarar. Afirmar. Mencionar. Relatar. Revelar. Discutir. Conversar. Comunicar. Informar. Dialogar. Declarar.

E há muitas mais palavras nessa linha. Não é preciso armazenar todas na cabeça. Nem fingir que se é uma enciclopédia. Ou fingir que se é inteligente. É só perguntar ao ChatGPT e aparece uma lista gigante.

A palavra anunciar também surge nessa lista.

E anunciar é dizer.

Estamos também numa fase muito interessante. Onde tudo está a mudar a uma velocidade nunca antes vista. Redes sociais. Inteligência Artificial. Aplicações para tudo e mais alguma coisa.

Chega-se a tal ponto que nem a própria coisa sabe o que é. Porque todos os dias já é outra coisa.

E quando se entende o que se passa, até isso já passou. Ninguém de facto pode afirmar ao certo que consegue saber onde vai estar a humanidade nos próximos dez a vinte anos.

Antes era possível prever com base nos ciclos históricos. Desta vez não.

O consumo dos media digitais está a mudar os hábitos de tal forma que nem os hábitos se habituam.

Ou, como se diz localmente, “nem o costume acostuma”.

O dia-a-dia, neste caso, o dia-a-noite de quem trabalha numa agência de comunicação não ajuda.

O escritor estava sem texto.

O escritor estava sem texto. E sem tempo.

O editor estava sem tempo. E sem texto. E com uma revista para lançar. Impressa e digital.Escrever, na publicidade, é conhecido como a actividade do copywriting. Ou na linguagem comum do dia-a-dia, o copy

O copy é a mensagem. O principal elemento da argumentação.

E por isso carrega uma enorme responsabilidade.

Não se pode dizer qualquer coisa.

O melhor copy é o mais honesto. O mais puro. O mais sincero. E acima de tudo é a voz da pessoa que o escreve.

Outra coisa interessante sobre escrever é que comunicar não se limita a escrever.

Os publicitários conseguem escrever ou dizer com imagens apenas. Ou com sons.

Ou com qualquer coisa que apele aos sentidos humanos desde que faça sentido.

Por isso se diz, comunicar não é o que a gente faz. É o que os outros entendem.

O mundo está a mudar os hábitos tão rápido que nem os hábitos se habituam

A indústria publicitária global tenta adaptar-se.

No fundo, finge que consegue acompanhar.

E isso também criava pressão no escritor. Porque seria tão artificial como a própria tal “inteligência” fingir que se sabe tudo o que se está a passar.

O escritor sem texto e em desespero decidiu recorrer à Inteligência Artificial e, em vez de escrever um texto, escreveu um prompt: por favor, escreve um texto com feeling sobre marketing com o máximo de duas a três páginas e 2000 caracteres.

Em segundos apareciam textos. Textos e textos. Mas não aparecia o tal fee-

ling. E isso levantou muitas outras questões. E essas questões tinham de ser feitas com texto e respondidas com texto também. No caso de escrever para algo que seja publicado.

A pressão voltou. Como explicar o que não se explica? Como explicar o que se sente?

O escritor pensou no que sentia. Mas só sentia o que pensava.

Começou a fazer perguntas a si mesmo: como se pode chamar inteligência de inteligência, se é artificial? Afinal, a palavra artificial significa algo não natural. O escritor pegou num aplicativo de A.I. e perguntou o que quer dizer a palavra artificial. E a resposta foi: que não é natural. Dissimulado, fingido. Então, nesse momento, percebeu que, além de não sentir, a inteligência

artificial também não pensa também. E começou a pensar mais nisso. Afinal, artificial é sinónimo de falso.

E pensou em coisas como fogo-de-artifício. Que é bonito de ver. Mas é artificial. E polui o ambiente. A natureza. E isso sim é natural. O planeta. O mundo. O universo.

Lembrou-se de como mais bonitas que o fogo-de-artifício. eram as estrelas cadentes, numa noite escura, no meio de uma reserva natural.

Tentou pensar em mais coisas. Em quão artificial a humanidade pode estar a ficar.

Texto e contexto.

E em vez de escrever sobre inteligência artificial, achou melhor escrever sobre inteligência natural. Foi mais fun-

do e pensou nos contornos que tudo isso teria localmente num país como Moçambique.

Pensou nos milhões de pessoas, lá, nos distritos, nas províncias. Fora da bolha das grandes cidades, como Maputo. Que já está a ficar tão artificial como essa tal inteligência.

Respirou fundo. Pegou na caneta e no bloco. Abriu o laptop com um blank document.

Tudo para ser escrito sobre um novo tema: inteligência local.

O telemóvel começou a tocar. Whatsapp’s a entrarem. Havia uma urgência. Era preciso entregar outros textos mais urgentes ainda.

Teve de parar.

E o texto, naturalmente, não foi escrito.

Ilustração • Maisa N. Chaves, Ilustradora na Agência Golo
“Con

amos Absolutamente em Moçambique”

Depois de assumir o cargo mais elevado da hierarquia do Millennium bim em Maio deste ano, o agora PCA do banco tem, na verdade, um percurso difícil de igualar. Do balcão à área comercial, foi crescendo na carreira com um já pouco usual ‘amor à camisola’ de uma instituição onde está desde o primeiro dia, e por onde passou os últimos 29 anos da sua vida pro ssional

Como é que têm sido estes primeiros meses como PCA de um banco que viu nascer, e onde começou a trabalhar há quase 30 anos?

Tem sido interessante, porque chego a este ponto partindo lá de baixo. E, contrariamente àquilo que acontece com muitos que são convidados para um lugar como este, em que não conhecem a casa, o meu caso é totalmente diferente. A novidade tem que ver com os novos desafios do banco, do mercado, mas não me sinto a figura mais importante do Banco porque importantes somos todos. Hoje lido mais com aspectos institucionais, estatutários, aspectos regimentais, aspectos de corporate governance.

Reparei que disse com algum orgulho que começou a carreira “lá por baixo”...

Naverdade,jásão29anosaquieestajornada tem quase o mesmo tempo de vida que um dos meus filhos, por exemplo. Por aí, pode ver a importância que teve esta instituição na minha vida pessoal e na minha carreira.

Está hoje mais distante da área operacional, não sente falta?

Estranhamente, eu não tenho muitas saudades do passado. O que passou viveu-se intensamente, e a vida continua.

E olhando para a frente?

Há um desafio enorme, porque o bim é hoje uma grande marca. A verdade é que, quando começámos, fizemos uma ‘revolução’ financeira, verdadeiramente, no contexto moçambicano. Pode-se dizer tudo, mas há um antes e um depois do bim. Olhando para aqueles que me antecederam, pessoas verdadeiramen-

te excepcionais como o Mário Machungo, ou o Rui Fonseca, posso dizer que é um grande desafio, não só manter o rumo do Millennium bim, como, naturalmente, introduzir, com os meus colegas, algumas inovações para melhorar ainda mais a qualidade dos nossos serviços, a notoriedade da marca, elevando-a a uma espécie de bim inevitável para o consumidor.

O que quer dizer quando refere que há um antes e um depois do bim no sector financeiro em Moçambique?

Refiro-me à forma de fazer a banca. Para os que têm mais idade, existe essa percepção. Actualmente, as pessoas não

“Não me sinto a figura mais importante do banco porque importantes somos todos”

conseguem aperceber-se que, até meados da década de 90 do século passado, quando o bim surgiu no mercado, não tínhamos cartões de crédito, de débito, não tínhamos ATM e sistemas de pagamentos online. E a partir do dia 25 de Outubro de 1995, isso aconteceu. Naquele dia o sector financeiro mudou no País.

Do balcão à liderança do banco, a sua vida pessoal e profissional é indissociável deste trajecto de quase 30 anos do Banco. Vai para Portugal jovem, aos 22 anos,

estudar, trabalhar. Qual a importância dessa etapa na sua vida?

Sim, fui para Portugal estudar. Foi um caminho improvável, porque normalmente as pessoas iam para fora do País através do sistema existente na época. Fui através de amigos, de padres, foi um caminho diferente. E isso certamente mudou a minha forma de ser e de ver as coisas. Era comunista na quinta-feira à noite e quando aterro em Lisboa, no dia seguinte, estou totalmente diferente, confrontado com tudo o que era contrário àquilo que se passava cá naquele tempo. E depois a vivência com as pessoas, aquela fase muito política de Portugal, com os debates entre Mário Soares, Álvaro Cunhal, de facto, rapidamente transformaram a minha mentalidade e a forma de ver o mundo.

E por lá acabou por ficar e iniciar a sua carreira...

Sim, uma série de anos. Comecei a namorar em Portugal. Comprei lá o meu primeiro carro, a primeira casa, os filhos...

Mas aí, dá-se uma reviravolta na sua vida, e regressa em 1995 a Moçambique para a abertura de um então novo banco, o bim. Como foi esse regresso?

Não era ainda Millennium na altura, era uma operação do BCP, que ia abrir um banco em articulação com o Estado moçambicano. Fui à entrevista e integrei a primeira equipa de formação. Cheguei a pensar que provavelmente não regressaria mais a Moçambique. Estava integrado, estava a fazer a minha vida normalmente, e o ambiente também não era o mais atractivo para quem já tinha tido a experiência ocidental. Mas depois com as alterações que ocorreram no País e com o projecto específico do BCP,

Paulo Alexandre

que tinha sido também um banco revolucionário em Portugal, senti que havia qualquer coisa a vivenciar. Foi um investimento da minha parte. Cheguei em Agosto, depois de 10 anos fora.

Para fazer parte da equipa inicial de um novo banco, num País que, até certo ponto, e depois de uma década a viver fora, também é novo para si. Que memórias tem desse momento?

Foi muito interessante, de uma certa utopia até. Éramos um grupo de jovens, prontos para fazer uma revolução no sector financeiro e começar tudo de novo. Os clientes a entrarem-nos porta adentro, porque todos queriam ter um cartão nosso, queriam ter um cheque do bim, era tudo novidade. E nós a fazermos aquilo que mais gostávamos, que era verdadeiramente vender, dar a conhecer o banco, um projecto em tudo diferente daquilo que existia, pelo menos com a modernidade e a inovação

que aportávamos. O nosso lema era esse mesmo, inovação e modernidade no sistema financeiro do País.

Chegou para que função?

Eufuiformado,noPorto,paraseranalista de crédito. Mas quando chego a Moçambique, o Lima Félix, que foi o primeiro administrador delegado, um homem do norte de Portugal com aquele feitio muito directo, disse-me: ‘Moisés, não há crédito a analisar mas há um banco a fazer-se e a precisar de se dar a conhecer ao mercado, portanto, passas para a área comercial’. E assim se deu a minha entrada na área comercial. Sabe, eu sou muito tímido e achei que aquele era um desafio que provavelmente não iria superar porque tinha de lidar e interagir com as pessoas para ‘vender’ o banco, vender os produtos, enfrentar rejeições, objecções...

Começou pela base, portanto...

Na verdade, sim. O ‘bicho’ comercial começou aí, fui um dos primeiros, naquele

Pós-Graduado em Finanças, com especialização em Instituições Financeiras, Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia do Porto, Mestrado em Estudos Africanos/Gestão no ISTEC, assumiu o cargo de Presidente do Conselho de Administração (PCA) do Millennium bim em Moçambique há poucos meses. Membro da Comissão Executiva do mesmo banco, Moisés Jorge iniciou a sua carreira, em 1991, na FDO – Empresa de Construção Civil em Braga. Em 1993, transitou para a empresa Gomes do Monte Construções – Póvoa de Varzim. Ingressa no Grupo Millennium BCP, em 1994, em Portugal, trabalhando em diversas direcções, em preparação para instalação e início de actividades do bim em Moçambique.

dia, a ser gestor de conta, mais tarde veio a designação de gestor de cliente. Depois foi o trajecto aparentemente normal, ou não, mas foi o que foi. Fui gestor de conta, depois director comercial da rede de retalho, abrimos o Private Banking, na Armando Tivane, só muito mais tarde é que entrei na área das empresas. Fui o primeiro director da direcção da qualidade, um conceito ‘fora de caixa’ no mercado da altura e passei pela Direcção de Recrutamento, Integração e Desenvolvimento das Pessoas. Na altura, houve uma semi-separação entre a Direcção de RH mais convencional, digamos, que fazia a parte administrativa, processamento de salários e uma área específica dedicada ao recrutamento, formação, integração e desenvolvimento de talentos.

No entanto, em 2002, regressa a Portugal novamente. Porquê?

Sim, sou um homem da família e em 2002, sensivelmente, a minha volta para Portugal e o Eng. Jardim Gonçalves

disse-mequeterialugarnobanco,em Braga, no Norte, onde já tinha vivido. Começo no balcão do banco naquela cidade, passo pelo Porto, por Lisboa, em várias áreas, sempre em contacto com a área operacional e combinando com a área comercial.

E por lá fica até 2006. Como é que se dá esse regresso novamente a Moçambique?

Porque me disseram, e eu concordei, queondeeramesmonecessáriaaminha experiência era em Moçambique. E assim voltei para liderar o Corporate Banking e continuar com a minha paixão inesperada, a área comercial, onde fiquei até 2015, ano em que, mais uma vez, os accionistas entenderam que deveriamrecomporaComissãoExecutiva. E foi nessa altura que a passei a integrar, até ao primeiro trimestre de 2024.

Quais para si terão sido os marcos em termos pessoais e profissionais nessas experiências lá fora?

Normalmente valorizo muito mais o institucional e a equipa. Isto é, mais do que o que o Moisés fez ou deixou de fazer, prefiro valorizar o que a equipa on-

de o Moisés estava integrado fez. E um dos pontos, de facto, marcantes para mim, foi iniciar o banco de uma forma diferente, segmentando o mercado. E foi marcante também porque, na altura, estávamos a fazer aquilo que o ‘afro-pessimismo’ não deixa fazer.

Em que aspecto?

A taxa de insucesso dos projectos em Moçambique e no continente africano é muito elevada, sabemos. E nós conseguimos quebrar esse mito. Depois, fazer parte de uma equipa multicultural, multigeracional e multifuncional, foi qualquer coisa de marcante. Por fim, recordo a fusão com o BCM, que foi qualquer coisa de extraordinário, duas casas culturalmente diferentes.

Em algum momento desses primeiros anos imaginava que o tal banco pequeno, com pouco mais de 65 funcionários, seria um dia, passados quase 30 anos, um banco sistémico? Havia já esse plano ou perspectiva? Para lhe ser honesto, não, não pensávamos nisso, mas havia qualquer coisa, sim, que nos prendia.

Era o quê?

O facto de o banco ter origem numa casa-mãe que tinha feito, em poucos anos, história no sector financeiro em Portugal. E isso sim, dava-nos uma certa esperança de que este projecto seria o de criar um banco de referência no País, apesar do contexto de que falava, porque Moçambique estava num processo de transição de uma economia planificada para a economia do mercado e isso tinha os seus desafios.

A experiência de ‘fazer banca’ em Portugal é diferente aqui. Como se lida com isso?

Aqui exige-se a criatividade porque o dia-a-dia não tem as facilidades que a Europa tem. Toda a infra-estrutura está presente e mais, há inúmeras pessoas preparadas, formadas, não só no seu dia-a-dia, mas pelas escolas, pelas experiências e aqui é diferente. Portanto, a exigência para os profissionais da banca cá, a meu ver, é maior, porque têm de ser criativas e proactivas para as coisas poderem acontecer.

Há duas coisas no seu trajecto que são um pouco diferentes

do habitual. A primeira é a sua carreira, cá e lá e a forma como chega a PCA de um banco que praticamente já conhecia. A outra é o facto de ter passado toda a sua carreira na mesma instituição, o que é pouco habitual no sector financeiro em Moçambique. Porque nunca mudou?

Sim, eu fiquei aqui, apesar das propostas milionárias que fui recebendo porque o projecto bim, para mim, nunca foi um caminho para o qual tenha vindo apenas pelo dinheiro, mas porque sempre achei que o banco era uma escola. Ainda hoje o é. Será difícil encontrar na banca em Moçambique algum banco onde não esteja alguém que não tenha passado por aqui. Mas os jovens de hoje são impacientes, e eu compreendo perfeitamente a sua impaciência, porque também tenho filhos assim. Procuram resolver os seus problemas imediatos, e isso leva a que muitos circulem bastante e não ganhem raízes profissionais.

Que conselho é que daria a esses jovens, se pudesse?

Não sou uma pessoa para dar conselhos mas sim para partilhar o que penso.

É bom testar várias culturas, é bom testar várias organizações mas em algum momento temos que nos estabilizar. Ter muitos empregadores em pouco tempo, no CV, não é um bom sinal. Ser-se proativo, autodidata, curioso, é das coisas que os jovens devem cultivar. Aquela expressão de John F. Kennedy, deve estar sempre presente: o que é que eu posso fazer pela organização? Sem estar passivamente à espera que a organização faça sempre algo por mim.

Assumiu, há meses, o cargo de PCA do Millennium bim. Qual é a agenda e a principal missão deste seu mandato?

Uma das missões que tenho como responsável máximo da organização, e tendo em conta algumas perturbações que temos tido nos últimos tempos, com aquelas filas nos nossos balcões é investir fortemente na tecnologia para que os nossos balcões sejam o mais moder-

te da instituição do Millennium bim, confiamos absolutamente neste País e que é possível transformá-lo num actor essencial no panorama regional e, porque não, mundial, até por força dos recursos que detemos. Dito isto, o Millennium bim, como costumo dizer, funciona como, de facto, um pulmão ou um coração que bombeia o sangue para o resto do nosso organismo e nós entregámos ao mercado recursos suficientes para que as nossas empresas, as famílias e as pessoas invistam. E nós estamos, seguramente, preparados e teremos capacidade, liquidez e capital para o fazer. Fazemos a nossa parte e é preciso que os diferentes actores que gerem a política monetária, política fiscal, e cada um de nós, as empresas, façam a sua parte. Costumo dizer que Deus deu muito a Moçambique em termos de investimento em recursos naturais, paisagens, território e pessoas. Agora, falta uma parte nossa e compe-

“O bim nunca foi um caminho para o qual tenha vindo apenas pelo dinheiro, mas porque sempre achei que o banco era uma escola. E é”

nos possível, e possam de facto responder às preocupações dos nossos clientes. Depois, precisamos de estabilizar o sistema de pagamento electrónico e já estamos a trabalhar para o fazer. Por fim, outro tema tem a ver com a responsabilidade social. Queremos partilhar com a comunidade aquilo que a comunidade nos dá, sem esquecer a diminuição da pegada ecológica e a transição energética. Já temos balcões que funcionam com painéis solares, e vamos fazer um parque solar aqui mesmo na sede. A boa governança, a transparência, a accountability, a equidade de género e de oportunidades para todos os que aqui trabalham. Somos dos bancos mais robustos do mercado e queremos manter e reforçar essa robustez a médio e longo prazos. A ética, a integridade, a seriedade, a honestidade, como costumo dizer, são valores que não negociamos porque o nosso maior valor é a confiança.

Como vê Moçambique nos próximos anos? Sente que está aberto o caminho para alcançar a prosperidade, ou nem por isso? Há uma coisa que, para mim, é óbvia, como pessoa e como representan-

te-nos, a nós, responsavelmente, fazer o nosso papel. Diria que, essencialmente, o País vai ter de investir naquilo que leva mais tempo a dar resultados.

Em quê?

Na Educação, é uma condição necessária. Sem educação, na base, e sob o ponto de vista técnico-profissional, será difícil desenvolver o País.

Pela sua experiência de muitos anos a lidar com o sector privado, não acha que falta um pouco daquilo a que hoje se fala de mindset empresarial, de querer fazer bem, crescer, a uma larga fatia do sector empresarial em Moçambique?

Se as empresas não forem responsáveis, se faltar transparência, se não houver prestação de contas, equidade e gestão de risco, certamente não vão sobreviver no mercado. Por vezes as pessoas esquecem-se que um banco é uma empresa, tem accionistas e vende um produto especial que é dinheiro e, por isso mesmo, tem de haver um grau de certeza e confiança nos investimentos que fazemos.

especial inovações daqui

64 FINANÇAS DIGITAIS

A 5.ª edição da Annual Innovation Summit destacou modelos africanos para promover a inclusão nanceira e mostrou a transformação que os serviços estão a proporcionar aos mercados

A plataforma criada por moçambicanos para estudar para exames (académicos, de condução ou outros...)

As notícias da inovação em Moçambique, África e no Mundo

MOBILE BANKING

Os Modelos Digitais Que Moçambique Pode Importar de Cabo Verde

A 5.ª edição ds Annual Innovation Summit, encontro global dedicado à inovação, revelou como a cooperação pode acelerar a inclusão nanceira, e Cabo Verde surge como um modelo a seguir

Habitualmente realizado em Angola, desta vez o Annual Innovation Summit (AiS) decorreu em Moçambique, onde reuniu especialistas, instituições financeiras e empresas tecnológicas. Num formato híbrido, o evento deu especial atenção ao espaço lusófono africano (PALOP), e um dos temas em destaque foi a experiência da banca e carteiras digitais em Moçambique, Angola e Cabo Verde. O painel de discussão incluiu três intervenientes: a Flutterwave, maior empresa africana de tecnologia de pagamentos, a carteira móvel M-pesa e a Pagali, uma empresa de pagamentos de Cabo Verde.

O painel acabou por apontar para a possibilidade de Moçambique seguir o exemplo de Cabo Verde para resolver problemas de falta de regulamentação para criação de novos serviços financeiros digitais, cada vez mais necessária à medida que o mercado cresce. Este é, na verdade, um problema frequentemente levantado pelos operadores do sector das finanças digitais.

Caso Pagali (Cabo Verde)

Quando a Pagali começou a funcionar em Cabo Verde, em 2013, não havia

legislação, recordou Arlinda Peixoto, CEO e fundadora da empresa. Mas os cabo-verdianos conseguiram criar um sistema eficiente e seguro, que promove a inclusão financeira e impulsiona o comércio electrónico. O que foi feito?

Os principais fornecedores de serviços financeiros digitais colaboraram com a Sociedade Interbancária e Sistemas de Pagamentos (SISP), o equivalente à SIMO Rede de Moçambique, e, por essa via, criaram ferramentas para alcançar o público e garantir a acessibilidade dos serviços financeiros.

“Com o tempo, influenciámos a criação da legislação e procurámos unir-nos à sociedade interbancária para que todos os cartões bancários pudessem ser usados na nossa plataforma (Pagali). Hoje, estamos conectados aos bancos, o que permite que toda a população tenha acesso aos nossos serviços”, contou Arlinda Peixoto.

Com um desenho intuitivo, a plataforma permite efectuar pagamentos, ligando os utilizadores a uma ampla rede de instituições financeiras e fornecedores de serviços, através da Internet. Com suporte para vários tipos de cartões, a plataforma permite ainda realizar compras e transferir fundos, promovendo a inclusão financeira e im-

“Influenciámos a criação da legislação e unimonos à sociedade interbancária para que todos os cartões fossem usados na nossa plataforma”, Arlinda Peixoto, CEO da Pagali

FINANÇAS DIGITAIS

pulsionando o comércio electrónico em Cabo Verde.

Conquistas de Cabo Verde

De acordo com as estatísticas oficiais, o acesso aos serviços financeiros digitais tem crescido significativamente nos últimos anos em Cabo Verde. O país tem avançado na regulamentação seguindo padrões internacionais, o que permitiu que as actividades financeiras começassem a ser realizadas inteiramente pela Internet.

Esta iniciativa alargou a inclusão financeira, num país com sete bancos comerciais, melhorou a eficiência dos processos de financiamento e reduziu as taxas de juro aplicáveis às operações de crédito.

Fruto das mudanças, o país foi reconhecido pelo Banco Mundial como líder na África Ocidental em governação digital, subindo 62 posições no índice de maturidade digital global ao longo dos anos, passando para a 38.ª posição mundial, o que é visto como uma resposta ao compromisso do arquipélago em integrar tecnologia e inovação no sector financeiro.

Caso M-pesa Moçambique Em Moçambique, os serviços M-pesa são o melhor exemplo de sucesso. Com 11 anos no mercado, contam hoje com uma rede de quase 90 mil agentes para depositar e levantar dinheiro nas carteiras virtuais, associadas ao número de telemóvel. Funciona com códigos, mesmos nos antigos telefones de teclas numéricas.

Os serviços estão assim espalhados por todo o país. Clientes pagam ao comerciante de rua através do telefone, de um número de telemóvel para outro, com códigos, sem pegar em dinheiro. Através destes agentes M-pesa, os serviços chegam aos pequenos comerciantes que, por sua vez, ajudam a divulgar as suas funcionalidades junto das comunidades, principalmente as que não têm acesso aos serviços bancários e agências tradicionais.

Neste painel, a marca M-pesa foi representada por Dianora Matola, que tem uma experiência de 14 anos no sector dos serviços financeiros. A responsável destacou o crescimento e a maturidade do mercado de carteiras móveis em Moçambique.

Na ocasião, recordou que o serviço M-pesa tem 10 milhões de subscritores e processa mais de um bilião de meticais em transacções anuais, incluindo a arrecadação de 49 mil milhões de meticais em nome do Governo e 108 mil mi-

Depois do M-pesa, os serviços financeiros em Moçambique também ganharam impulso com a entrada da Flutterwave, plataforma que facilita pagamentos em vários países africanos

lhões para empresas, cifras que representam volumes consideráveis.

Caso Flutterwave

Os serviços financeiros também ganharam impulso assinalável com a entrada no mercado africano (e moçambicano) da Flutterwave. O que faz? A história arrancou em 2016, face às dificuldades em movimentar dinheiro no continente. “Assim, surgiu a ideia de criar a Flutterwave, uma infra-estrutura que facilita pagamentos em vários países”, explicou Hermínio Manjate, director de operações e parcerias da Fluterware Moçambique

Recentemente aprovada pelo Banco de Moçambique para operar no País, a Flutterwave processa pagamentos em mais de 30 países e ajuda os clientes a expandir os seus serviços. Permite que comerciantes de diversas categorias (dos mais pequenos aos maiores), assim como empreendedores, tenham acesso a uma ‘app’ de cobranças, seja através de cartões, de carteiras móveis ou transferências bancárias.

“DESREGULAÇÃO”, O VELHO PROBLEMA

10 1

milhões bilião de meticais

Valor de transacções anuais

Total de subscritores

49

mil milhões de meticais anuais

Valor de transacções anuais

108

mil milhões de meticais

Valor anual de cobranças para empresas

Apesar dos avanços em inovação e cobertura dos serviços nanceiros digitais, a falta de leis e regras continua a preocupar os operadores. “Há um trabalho de base que deve ser feito, da governação à interoperabilidade”, observou Hermínio Manjate, da Flutterwave. A interoperabilidade não se deve limitar apenas a bancos e carteiras móveis (como acontece actualmente), mas deve incluir os ‘Payment Service Providers’, que em português signi ca Fornecedores de Serviços de Pagamento. Estes fornecedores têm poderosos computadores e bases de dados online ligados a várias redes, como a Visa, que servem websites como a Amazon, Temu, eBay e outros, dos mais conhecidos aos familiares. Este software pode ser instalado em ‘websites’ e receber pagamentos, mas, para que isso possa ser feito em meticais ou outra moeda local, é preciso que cada banco central de na as regras para o seu país. Foi o que zeram os cabo-verdianos.

IA, UM DESAFIO A TER EM CONTA

A Inteligência Arti cial (IA) foi identi cada como uma ferramenta crucial para o futuro dos serviços nanceiros, com aplicações que vão desde chatbots para apoio ao cliente até à automatização de processos de negócios, passando pela própria literacia nanceira.

De acordo com Igor Salvador, um dos responsáveis pela área de informática do Nedbank Moçambique, é preciso legislação que acompanhe a inovação tecnológica.

O Caminho Para Vencer Nos Exames de Admissão

Way é uma palavra em inglês que signi ca “caminho” para chegar a algum lado. Pronuncia-se “wei”, nome dado à plataforma criada por moçambicanos para facilitar o sonho de entrar no ensino secundário, superior ou numa escola de condução

Três jovens moçambicanos, de diferentes áreas académicas, decidiram criar uma ‘app’ que prepara os utilizadores para diferentes tipos de exames. Adaíma Mustafa (criador de produto), Henrique Chigumane (designer gráfico) e Ivan Bila (programador) desenvolveram a plataforma Wei, uma ferramenta que, além de preparar estudantes para exames de admissão, proporciona um espaço de simulação, com direito a um guia de correcção e a uma oportunidade de auto-avaliação.

Segundo os criadores da Wei, a ideia surgiu como uma aplicação para ajudar os estudantes a prepararem-se para os exames de admissão ao ensino superior, mas deu origem a uma empresa de software que responde a outras necessidades de formação. Por exemplo, passou a integrar exames do ensino secundário e de escolas de condução.

“No início, a Wei era apenas uma página web com perguntas de exames e respostas, mas tivemos a ideia de a transformar em algo maior, mais interactivo e diferente de outras plataformas sobre exames de admissão”, contou Adaíma à E&M. Assim, “a primeira coisa em que pensámos foi a simulação: tal como o nome indica, dá ao estudante a possibilidade de resolver um teste dentro da plataforma, como se es-

tivesse numa sala de exames, com tempo cronometrado e com acesso ao resultado final, calculado com base nas fórmulas usadas nas universidades”.

Seguiram-se outras funcionalidades, como a possibilidade de acesso às correcções e aos planos de estudo, nos quais o utilizador pode aceder a vários conteúdos divididos em tópicos, facilitando a assimilação da matéria e a auto-avaliação.

Inteligência Artificial na Wei Uma das inovações da Wei é a aposta em novas tecnologias. A empresa tem explorado recursos de Inteligência Artificial (IA) tanto nos bastidores, como na assistência aos utilizadores. “Para digitalizar os exames, tivemos muitas dificuldades.

Era necessário pegar num exame em papel, transcrevê-lo num processador de texto e só depois podíamos colocá-lo na app. Mas com a IA, passámos a usar uma ferramenta em que basta tirar uma foto ao exame. A aplicação ‘percebe’ o texto e envia-nos o ficheiro já digitalizado”, explicou Henrique Chigumane.

A Wei já conseguiu disponibilizar 250 exames na app em menos de uma semana. Relativamente aos exames para a obtenção de cartas de condução, a IA ajuda a interpretar os sinais de trânsito e a explicar as suas funções.

A Wei já disponibilizou 250 exames na ‘app’ em menos de uma semana. Relativamente aos exames para a obtenção de cartas de condução, a IA ajuda a interpretar os sinais de trânsito

Acessibilidade universal

O grupo acredita que a plataforma pode ser extremamente útil para os estudantes que estão em zonas onde é difícil ter acesso a um centro de estudos ou à preparação para exames e, por isso, pretende trabalhar na expansão dos serviços. “Queremos expandir esta estratégia para que os estudantes de várias regiões do País tenham conhecimento da existência da app e possam assim ter uma ferramenta de auxílio aos seus estudos. Estamos também a planear transformar a Wei numa plataforma para cursos de curta duração”, revelou Ivan Bila.

A Wei está disponível na Play Store e também no formato web através do endereço https://exames.wei.co.mz/. A app é gratuita, mas conta com algumas funcionalidades pagas. Actualmente, o acesso aos exames para a preparação custa, para o ensino médio, 100 meticais por duas semanas, e 172 meticais para o ensino superior, pelo mesmo período.

Recente, mas já mereceu distinção Criada no final de 2022, este ano a Wei decidiu participar num concurso organizado pelo Instituto Nacional de Comunicações (INCM), que envolveu um total de 30 startups, onde sete (incluindo a Wei) foram seleccionadas para fazer uma apresentação de três minutos nos escritórios do INCM. Posteriormente, foram convidadas para uma conferência da instituição.

A Wei sagrou-se vencedora, conquistando um prémio monetário de 50 mil meticais. “Ficar em primeiro lugar num universo de 30 startups é algo muito significativo porque, pela primeira vez, decidimos sair um pouco da nossa zona de conforto e descobrimos que estamos a fazer algo que é realmente impactante”, declarou Adaíma Mustafa.

IVAN BILA Programador
HENRIQUE CHIGUMANE Designer grá co
ADAÍMA MUSTAFA
Criadora de produto
Empresa Wei
Tecnologies App: Wei Sector
Formação (exames online)
Fundação 2022

Tecnologia

A Zoho, uma empresa global de tecnologia, estabeleceu uma parceria com a She Code Africa (SCA), uma organização sem fins lucrativos dedicada a capacitar as mulheres africanas no domínio da tecnologia.

Esta colaboração tem como objectivo melhorar as competências das mulheres profissionais e estudantes de tecnologia em toda a África. A parceria gira em torno das sessões “formação de for-

Inovação

Informatização remota

PHC lança software de gestão onlineem Moçambique

Chama-se PHC GO e é uma solução online de raiz na cloud - informatização remota -, que permite que as empresas usufruam de uma gestão completa, fácil e rápida a usar. Este software, que tira partido da implementação de Inteligência Artificial para tornar mais produtivo o trabalho das pessoas, foi pensado para quem procura velocidade e produtividade no negócio e não quer ficar por fora da transformação digital. Com mais de dez anos de investigação e desenvolvimento em software na Cloud, a solução permite uma gestão completa da empresa e acesso onde e quando quiser, utilizando um computa-

dor, um smartphone ou um tablet. O PHC GO apresenta-se também como uma solução para ajudar as empresas de Mid Market (médio porte) a optimizar a gestão. Este Sistema Integrado de Gestão Empresarial (ERP) proporciona funcionalidades como gestão comercial, contabilidade e finanças, recursos humanos ou relatórios e análises, permitindo, desta forma, optimizar processos e tomar decisões com base em dados actualizados.

Esta solução foca-se, ainda, na eficiência, rapidez de utilização e aprendizagem, bem como na poupança de tempo ao automatizar tarefas rotineiras.

madores” da Zoho, que irão apresentar aos formadores da SCA Academy o Zoho Creator, uma plataforma de desenvolvimento de aplicativos de baixo código. Estas sessões irão capacitar os formadores com as competências necessárias para utilizar o Zoho Creator de maneira eficaz. Os orientadores irão depois transmitir os seus conhecimentos aos alunos da SCA, permitindo-lhes criar aplicações de impacto na vida das mulheres.

BAD lança ferramenta digital para acompanhar projectos em tempo real

O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) apresentou a solução digital ‘RASME’ (que significa Avaliação, Supervisão, Monitoramento e Avaliação Remota), com o objectivo de recolher dados precisos e fiáveis em tempo real para acompanhar o progresso dos projectos de desenvolvimento em formatos digitais.

De acordo com um comunicado de imprensa do BAD, a RASME, que em breve será alargada a outros países afri-

canos, utiliza tecnologias digitais avançadas para melhorar os processos de monitorização e avaliação dos projectos. Com a RASME, a recolha de dados sobre projectos é mais rápida, mais eficiente e mais rentável, permitindo uma melhor concepção e implementação das futuras operações do banco.

Utilizando dispositivos móveis e imagens aéreas ou de satélite, a solução RASME IT colecta dados precisos e confiáveis em tempo real para monitorar o andamento do projecto em formatos digitais (dados, fotos, vídeos, mapas, entre outros) directamente do campo.

Esta iniciativa continental ilustra a transição digital empreendida pelo BAD para transformar os seus processos operacionais e reforça a parceria entre as unidades públicas de gestão de projectos e os especialistas sectoriais do banco.

Healthtechs Robot dentista controlado por IA realiza primeiro procedimento do mundo num humano

Um robot autónomo controlado por Inteligência Artificial completou pela primeira vez um procedimento dentário num paciente humano, oito vezes mais rápido do que um dentista humano.

Desenvolvido pela Perceptive, um fornecedor de tecnologia de cuidados de saúde, sediado em Boston, EUA, o robot utiliza um scanner volumétrico 3D portátil que emprega a tomografia de coerência óptica (OCT) para criar modelos 3D detalhados da boca do paciente. Esta tecnologia utiliza feixes de luz em vez de raios X nocivos, fornece imagens de alta resolução e detecta cáries com uma precisão de 90%.

A primeira tarefa do robot foi preparar um dente para uma coroa dentária, um processo que normalmente demora cerca de duas horas em duas visitas para um dentista humano, mas que foi concluído em 15 minutos pelo robot.

A Perceptive afirma que o robot pode funcionar com segurança, mesmo em condições de movimento significativo do paciente, com testes bem-sucedidos.

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ESCAPE

Zlatni Rat

Neste verão, valerá a pena conhecer a praia mais bela da Croácia

GOURMET Lolacakes

A oportunidade de saborear um bolo que transmite amor

ADEGA

Pinta Negra

Que tal incluir a marca campeã do mundo nos seus vinhos?

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EMPREENDEDORA

Clara Ramalhão

Quando a actividade médica além fronteiras se cruza com a fotogra a e a arte

AGENDA

Setembro 2024

Todos os eventos globais que não pode perder, incluindo as artes

VOLANTE

Kawasaki Ninja 7

O fabricante japonês Kawasaki acaba de apresentar a primeira moto híbrida

Praia Zlatni Rat, também conhecida como Cabo Dourado, Croácia, Europa

ZLATNIRAT

O seu formato triangular confere um aspecto exótico ao local, figurando em praticamente todas as listas das praias mais belas da Europa

A Praia Que Nunca

ESTA PRAIA CHAMA-SE

ZLATNI RAT, também conhecida como Cabo Dourado, e fica na Croácia, Europa. Tem uma particularidade usada no ‘marketing’ do local: diz-se que está em constante movimento e isso é visível nas fotografias. Formada por um cascalho finíssimo, banhada por mar límpido e azul, Zlatni Rat seria apenas mais uma praia croata, não fosse o facto de uma parte do areal, que entra mar adentro, mudar de forma e de direcção, ao sabor da maré. É um movimento constante. O fenómeno resulta da acção do vento e das correntes marítimas, tal como em todas as praias (em especial as dos muito mais extensos areais moçambicanos), originando uma mudança pequena e quase imperceptível, mas registada em fotos.

O movimento do mar

Todos os anos, o cabo da praia de Zlatni Rat tende a

mover-se quase 20 graus e a estender-se por cerca de 30 cm. É considerada um dos símbolos do turismo balnear croata e um dos locais mais procurados e populares da ilha de Brac. As correntes opostas e a brisa, sempre presente, atraem muitos entusiastas de desportos como windsurf, kitesurf e mergulho.

Quando o sol se põe, as ruas e as esplanadas dos restaurantes e bares iluminam-se. É possível comer em qualquer restaurante, sem reserva, embora seja melhor salvaguardar-se durante os meses de Verão.

Experiência relaxante

O percurso entre o porto e o areal é, para muitos, uma experiência relaxante: o caminho em pedra tem, nas laterais, milhares de árvores que parece acompanharem os visitantes até ao destino. Também é comum encontrar bancas com diferentes

produtos à venda, desde comes e bebes até ao pronto-a-vestir e acessórios.

Diversas actividades

Neste lugar, é difícil manter-se focado, visto que, ao longo do passeio de 20 minutos, irá passar por dezenas de praias que, tal como Zlatni, têm águas cristalinas e espreguiçadeiras para alugar.

Além dos desportos que tiram partido da ondulação, há várias outras actividades disponíveis, como passeios de barco, que o levam a conhecer outras praias da região. Estes podem ser realizados em grupos, com desconhecidos ou em pares. Os preços começam nos 120 euros (cerca de 8 200 meticais).

Texto Ana Mangana
Praia Zlatni Rat, também conhecida como Cabo Dourado, Croácia, Europa

Além dos desportos náuticos que tiram partido da ondulação, há muitas outras actividades disponíveis, como passeios de barco que levam os visitantes a conhecer outras praias da região

Para ir até à praia, tem de começar por viajar até à Croácia. Assim que chegar ao país, pode apanhar um barco que o leva até Bol. Cada viagem custa cerca de cinco euros (342 meticais).

A praia ca em Brac, a maior ilha da Dalmácia, região que abrange territórios da Croácia, Bósnia, Herzegovina e Montenegro.

Actividades recreativas na Praia Zlatni Rat, Croácia, Europa
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Horário de funcionamento

Segunda a sábado, das 9:00 às 18:00 horas

MUITAGENTEDIZ que não existe festa sem bolo. O bolo concentra boa parte da alegria em todos os contextos de celebração,etalvezporissose diga que sair da festa antes do cortar do bolo é o mesmo que não ter participado. É um dos momentos altos das celebrações em praticamente todas as culturas e há quem o coloque no “top 3” das necessidades primordiais de qualquer festa, logo depois dos trajes e da decoração. Agora, imagine queimar uma etapa e pensar no bolo como parte da decoração. É esta a proposta da Lolacakes, da jovem confeiteira moçambicana Lourência Elsa. A marca promove, além de uma explosão de sabores e variedades de bolos, a arte do “cake design” que signi ca, nas palavras da confeiteira, fazer bolos com arte. “Ser ‘cake designer’ é uma forma de arte, e cada bolo que faço é uma expressão dessa arte, com muita dedicação e técnica”.

A inspiração?

O Que É Preciso Para Que Um Bolo Transmita Amor

A Lolacakes surge em plena pandemia, quando Lourência, estudante de linguística, se viu obrigada a passar muito tempo em casa. O principal hobby era reproduzir receitas de bolos que encontrava na Internet, fazendo delícias enfeitadas e tentando inovar nos sabores. Lola, como é conhecida, apercebeu-se que recebia encomendas por causa do que partilhava nas redes sociais. Com o abrandar da pandemia, investiu em formação em confeitaria, dentro e fora do País, e consolidou o negócio. Já participou nalguns concursos em Moçambique e até já venceu. Lola tem vindo a ganhar notoriedade na Internet e através de feiras em que vende as “fatias da felicidade”.

Um mundo de bolos!

Os bolos são feitos com ingredientes de alta qualidade e muito amor. “Ofereço uma personalização única, que garante que cada bolo seja especial e atenda exactamente ao que o cliente deseja”, justi cou. Lola trabalha com tudo em confeitaria, mas são os bolos que dão corpo à marca. Um leva maior destaque: o Red Velvet. Com uma receita especial, leva recheio de brigadeiro e geleia de frutos vermelhos, numa combinação perfeita de sabores e textura de massa macia. O que o torna especial é a intensidade do sabor do cho-

colate e o “red velvet” (geleia de frutos vermelhos), que contrasta com a doçura do brigadeiro.

Sabor misturado ao amor Lola sublinha que aplica todo o amor na sua arte. “Fazer bolos, para mim, é mais do que um trabalho, é uma paixão. Cada bolo que faço carrega uma parte de mim, é uma forma de expressar carinho e afecto.

Para além da arte da confeitaria, a Lolackes ministra workshops e mini-cursos para confeiteiros iniciantes, aspirantes e todos os interessados.

Texto Filomena Bande

GOURMET

Vinho de grande vocação gastronómica, porta de entrada da AdegaMãe para a elegância e frescura dos tintos com o carácter da região de Lisboa. A gama Pinta Negra, além do tinto vencedor, apresenta ainda vinhos brancos, rosés e espumantes

Um Vinho Campeão Com Pinta Negra

O VINHO PINTA NEGRA TINTODE2022, da AdegaMãe (Torres Vedras, Portugal), recebeu uma medalha de ouro no Concurso Mundial de Bruxelas, uma das mais prestigiadas competi ções internacionais no sec tor do vinho.

O vinho Pinta Negra, que tem um valor referência de apenas 3,99€ (cerca de 205 meticais) foi descrito, no concurso, como um “vinho de grande vocação gastro nómica, porta de entrada da AdegaMãe para a elegância e frescura dos tintos com o carácter da região de Lisboa”. A gama Pinta Negra, além deste tinto vencedor, apre senta ainda vinhos brancos, rosés, espumantes e referên cias de vinho em lata.

Esta distinção “vem re forçar a consistência de um vinho com uma extraordiná ria relação qualidade/pre ço e que tem vindo a as sumir-se com um dos su cessos da casa de Torres Vedras”, lê-se no comunicado que anunciou a vitória do Pinta Negra. A produção é de 2 milhões de garrafas, tendo como destino principal o mercado português, América do Sul (Brasil e Colômbia) e África.

Os vinhos da Adega Mãe têm sido reconheci dos por vários apreciado res e são enquadrados pela crítica como produtos com boa relação preço-qualida de, numa adega cuja história começou na gastronomia.

“Uma família empreen dedora, que partilha uma forte paixão pela terra onde nasceu, concretizou o sonho antigo de erguer uma ade ga que celebrasse a heran

ça histórica da região, fortemente marcada pela cultura da vinha e do vinho”. É assim que o projecto é apresentado no portal da marca na Internet, deixando transparecer a proximidade dos fundadores com a vinha.

Características

O Pinta Negra Tinto 2022 possui cor vermelha rubi, um conjunto aromático jovem e fresco, onde predominam notas orais.

É um vinho frutado de bagas silvestres, com um corpo médio. Mostra taninos suaves muito bem equilibrados, com a fruta silvestre a deixar um nal vivo, de sabor intenso. O ataque é suave e o desenvolvimento na boca é bastante leve, com alguma mineralidade que vem com sabores frutados e tanino discreto, redondo e macio. É o acompanhante perfeito para carnes grelhadas e massas.

A origem

A AdegaMãe nasce na família fundadora do Grupo Riberalves que opera no mercado do bacalhau - a sua principal marca é designada Dory, um nome que é também uma referência a uma embarcação ligada à pesca do bacalhau.

A adega surge como uma homenagem da família Alves à sua matriarca, Manuela Alves. É, igualmente, uma referência para o enoturismo da região de Lisboa. Destaca-se pelas actividades desenvolvidas em torno da vinha e do vinho.

Texto Filomena Bande

PINTANEGRA TINTO2022

Uva: Aragonêz e Castelão

País: Portugal Região: Lisboa

Volume: 750mL

Teor

Alcoólico: 13,5% ABV

Safra: 2018

Clara e a equipa de médicos que a acompanhou, realizaram, no ano passado, intervenções cirúrgicas em cerca de 30 crianças moçambicanas com ‘Papilomatoses Laríngeas’, doença que, quando não diagnosticada ou tratada em tempo útil, pode ser fatal

ONGD MASSALA

A Associação de Médicos no Abraço a Moçambique foi criada em 2016 e tem como propósito a melhoria dos serviços de saúde no País através da aplicação e formação de médicos nacionais em tecnologias médicocirúrgicas

CLARA RAMALHÃO é um exemplo raro de como a dedicaçãoàsciênciasexactaspode, e no seu caso só deve, coexistircomapaixãodevota,erealizada, pela Arte enquanto bem maior e supremo instrumento da verdadeira cura do Ser. Médica Neurorradiologista no Hospital Pedro Hispano, com ligação académica ao Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto, a verdade é que, sob o olhar de Clara Ramalhão, a imagiologia, a especialidade clínica pela qual é reconhecida prossionalmente, ganha toda uma verdade pluridimensional, tornando-se viva, nómada, eternamente errante. Em retratos fotográ cos, frases e acções a que foi dando vida ecorpo, ao longo dos anos

Alma Africana

Clara nasceu em Moçambique, e esta ligação íntima, nada ín ma, com o continente africano, torna-se demasiado evidente, e transversal, ao seu trabalho clínico, e também artístico.Assuassériesfotográcas frequentemente divagam sobre o Continente, como na

Clara, Como

exposição “Gentes e Lugares que se Cruzam num Cenário Ocre”, que destaca a vida e as paisagens do deserto do Saara edaJordânia,sendoumtributo visual às tonalidades ocre e à vibrante cultura muçulmana desses locais.

No âmbito clínico, sempre humano, desenvolve projectos de cooperação e de apoio ao desenvolvimento humano do País que a viu nascer e que foi vendo, de longe, enquanto cresceu —, ao nível da formação de médicos e técnicos em Imagiologia Hospital Central de Maputo, desde 2009, tendo criado com pioneirismo em toda a África Subsaariana o primeiro projecto de cooperação desta especialidade, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian —, e que

agora replica na Guiné Bissau, no Serviço de Imagiologia do Hospital Simão Mendes, a convite do Ministério da Saúde local, desde 2023. Dessetrabalhosurgiaem2016 a ONGD Massala — Associação de Médicos no Abraço a Moçambique —, que tem como propósito a melhoria dos serviços de saúde no País através de tecnologias de imagiologia avançadas para detectar a Papilomatoses Laríngeas, uma lesão tumoral, por norma benigno, mas com potencial morbimortalidade em função da possível malignização, quando não identi cado e atempadamente tratado. Hoje, o projecto integra uma acção com horizonte alargado, o “Plano Nacional de Rastreio e Trata-

a Cura

mento de Crianças com Papilomatoses Laríngeas”, sendo apoiado pelo Millennium bim. “É um projecto que não só fortalece os laços entre Portugal e Moçambique, mas também proporciona diagnósticos mais precisos e tratamentos mais e cazes para as comunidades locais e, certamente, já tem salvo muitas vidas, e continuará a fazê-lo”. Edi cado no Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Central de Maputo, em Junho de 2018, este novo serviçoé,naverdade,oresultado concreto de um trabalho de vários anos em Moçambique e, durante a última missão, a ONGD organizou e realizou

uma Missão Médica eno País. “Esta missão foi um enorme sucesso que resultou de um processo de cooperação excepcional com as equipas de médicos moçambicanas e foi realizada no Centro de Diagnóstico e Tratamento das Papilomatoses Laríngeas no Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Central de Maputo”, recorda.

Tratar e retratar Durante esse período, Clara e a sua equipa realizaram intervenções cirúrgicas em cerca de 30 crianças. “Somos um grupo de médicos que, de forma altruísta e de coração aberto, procura responder às áreas de maior carência na saúde da população moçambicana”, explica. “Venho para cá já há muitos anos. Este País chama-me, desde sempre, por razões afectivas e familiares, primeiro, e hoje em dia, porque me apaixonei por

Neurorradiologista graduada no Hospital Pedro Hispano, licenciada em Medicina pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, é também membro da Sociedade Portuguesa de Neurorradiologia. Ao seu percurso acrescem os projectos humanitários em Moçambique e na Guiné e a arte. Fotógrafa premiada, com Mestrado em Fotogra a Artística pela Escola das Artes da Universidade Católica do Porto, realizou inúmeras exposições fotográ cas, colectivas e individuais, nacionais e internacionais. É ainda autora de três livros de fotogra a artística: “A Voz da Forma”, com prefácio do Mia Couto (2019); “Reinata Sadimba, Deusa Mãe Sob a Gravura Da Pele De Barro Suada”, (2021) e “Só Neste Porto Só” (2022). Está nesta altura a preparar a sua quarta obra.

ele, pelas pessoas, pelas imagens que aqui vejo, e por aquilo que me fazem sentir. Gostaria de devolver isso, a esta terra e a estas pessoas. Estamos juntos e conscientes da causa nobre que abraçamos, com a promessa de avançar com convicção e há que agradecer aos parceiros que apoiaram na aquisição dos equipamentos, que são caros, aos voluntários que vieram comigo de Portugal e, claro, aos médicos e equipas de apoio moçambicanas que estiveram connosco e que continuam desde o ano passado este trabalho de melhorar a vida daqueles que procuram os seus cuidados no Hospital Central de Maputo”. Aqui, o trato encontra o retrato. Estão ambos sempre presentes no olhar de Clara, e ambos resultam da incessante viagem na busca pela cura. Aconteça ela pela via da ciência, pelos caminhos da boa vontade ou pelos

Vida e obra itinerantes Nessa espécie de mecanismo intrínseco que só encontra explicação quando não se tenta fazê-lo, é na viagem que percorre, sinuosa mas não errante, pela vida, que residem as perguntas por responder e, mais do que tudo, as respostas por apreender. “A vida encanta-me. Não sei de onde vem, nem porque a procuro. Mas sei que a encontro, muitas vezes, em olhares, muitas deles em Moçambique, e só tenho pena de não a conseguir reproduzir em todo o seu esplendor, porque é maior que as palavras que escrevo e as imagens que retrato”.

inexplicáveismistériosdaarte edecomoelanosfazsentirvivos, humanos ou inteiros. “O enfoque primordial do meu trabalho é o gesto, a cor da expressão, o olhar do outro, percepcionados pelo meu”.

E é aqui, no constante diálogo entre a realidade, a imagem e as palavras que reside a sua verdadeira forma de expressão artística, uma consequência da aprendizagem sistémica do seu dia-a-dia como médica, de um m para ela, ou uma continuidade para o tudo, que desconhece. “Não sei, há de facto similitudes que, quando penso sobre elas e quando vivo o que sinto, vou descobrindo, entre a prática clínica e a criação, ou a recriação, que acontecem na fotogra a e no que escrevo. Acho que tudo se inicia na forma como percepciono o mundo. Não a tento explicar, tento, sim, viver essa forma de estar, de ser”.

Prefere habitualmente os grandes formatos (optando quase sempre pelo semi-brilho e aplicação em Dibond) que considera a escolha mais certeira para a expressão das suas imagens, procurando assim transmitir, na relação o mais directa possível, a paixão que imprime ao que faz e, ao mesmo tempo, “honrar a grandiosidade do que o seu olhar vai captando.”As suas obras têm sido exibidas em locais prestigiados como a Ordem dos Médicos no Porto e o Museu do Douro (em Portugal). Em Maputo, no Camões IP, e em vários outros lugares como, ainda recentemente, no Museu dos Clérigos. “A fotogra a permite-me congelar momentos efémeros, transformando-os em memórias eternas”.

De emoção à or da pele, mas em convivência permanente, “nem sempre pací ca” embora sempre conivente, com a razão, a sua vida, a sua obra e os seus resultados, em livro, exposição ou bene ciários das suas artes, são, diz, “a materialização de um sonho” que não lhe custa identi car: “poder partilhar com o mundo as ‘minhas’ imagens envoltas numa mensagem muito própria, e a minha relação profunda, umbilical e sanguínea com África e as suas gentes”.

Texto Pedro Cativelos

CLARA RAMALHÃO

Todos os eventos globais que não pode perder, desde a sustentabilidade ao desporto, incluindo as artes

EM NOVA IORQUE (EUA) vai realizar-se a 79.ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, que marcará um período intenso para a diplomacia. O primeiro dia do debate geral de alto nível será na terça-feira, 24 de Setembro. As prioridades devem incluir o fortalecimento do multilateralismo, com ênfase na promoção da paz e da segurança internacionais. Na capital chinesa, Pequim, vai decorrer o Fórum de Cooperação China-África. Esta nona edição reunirá

FUTEBOL Champions League 2024/25 17 de Setembro uefa.com

Prepare-se, pois a Champions League 2024/25 está em contagem decrescente e com novidades. A primeira ronda de jogos da agora chamada “fase da liga” da principal competição da Europa está programada para os dias 17, 18 e 19 deste mês. Até o sorteio da Liga dos Campeões será inovador e será realizado maioritariamente através de um software, que ajudará a reduzir o diferencial entre as equipas em confronto.

CIMEIRA

79.ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas Nova Iorque / Estados Unidos da América De 10 a 24 de Setembro news.un.org

A 79.ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas arranca dia 10 e o primeiro dia do debate geral de alto nível será terça-feira, 24 de Setembro. Para África, a cimeira será crucial em várias frentes. As prioridades incluem o combate às mudanças climáticas, que afectam desproporcionalmente o continente, e o fortalecimento da segurança e estabilidade, especialmente em regiões afectadas por con itos. Questões relacionadas com a justiça económica e a voz de África no cenário internacional também deverão estar em destaque.

Setembro é um Mês

altos representantes africanos e chineses para discutir a trajectória futura da cooperação sino-africana.

No mundo do streaming, o destaque vai para a estreia da quarta e última temporada de “A Amiga Genial”, série baseada nos livros da tetralogia napolitana da escritora Elena Ferrante, eleito o melhor livro do século XXI pelo e New York Times.

As novidades literárias trazem “Linguagem Corpo-

FÓRUM

Fórum de Cooperação China-África

Pequim / China

De 4 a 6 de Setembro focac.org

Desde a sua criação em 2000, esta conferência ministerial tem fornecido uma plataforma para a solidariedade intercontinental e cooperação económica, solidicando os laços entre a China e as nações africanas. Esta nona edição reunirá altos representantes africanos e chineses, em Pequim, a capital do gigante asiático, para discutir a trajectória futura da cooperação sino-africana.

de Regressos

ral”, de Glenn Wilson. Um livro onde irá descobrir tudo o que precisa para compreender a mensagem que a sua aparência transmite, desvendar e compreender a linguagem não-verbal dos outros e saber projectar os sinais certos para poder gerir a impressão que lhes quer passar. Imprescindível.

Texto Luís Patraquim

STREAMING

“A Amiga Genial” T4 / HBO MAX

10 de Setembro

É a quarta e última temporada de “A Amiga Genial”, série baseada nos livros da tetralogia napolitana da escritora Elena Ferrante. Eleito o melhor livro do século XXI pelo e New York Times, “A Amiga Genial” foi lançado em 2011 e transformado em série televisiva em 2018. Na produção audiovisual, cada temporada adapta um dos quatro livros da série. O enredo é ambientado no século XX em Nápoles, Itália, e acompanha as seis décadas de amizade entre duas mulheres que se conheceram na infância: Lila e Lenu. Tal como nos livros, a série começa com Lenu ser informada sobre o desaparecimento da sua amiga Lila.

ARTES

Filme Moçambicano “Caly”

Estreia já a 14 de Setembro

Dirigido por Alcy Caluamba & Criss SWB • Produção: A.M Agency Alcy Media • Patrocínio: Boa Coisa mz • Música o cial: CALY by Laylizzy ft Jay Arghh • Apoio: Jeep Moz

O cinema moçambicano vibra com a espera pela estreia, no dia 14 de Setembro, do lme Caly do jovem moçambicano Alcides Caluamba, ou simplesmente Alcy Caluamba, como é popularmente conhecido.

Trata-se de um lme de acção cujo enredo se desenrola na história de um sequestro. No lme, após o sequestro da esposa e lha, Caly, o personagem protagonista de onde deriva o nome do lme, confronta os seus medos e desa a a traição, embarcando numa missão perigosa para salvá-las, enfrentando inimigos inesperados e revelações chocantes ao longo do caminho. O lme promete prender o público, servindo uma intensa mistura de acção, drama e emoção, algo que já tem acontecido graças aos trailers publicados, que já mobilizam os espectadores. Esta é também uma das raras vezes em que o cinema moçambicano é brindado com trabalhos de produtores nacionais.

Alcy Caluamba é um jovem moçambicano conhecido como o rei das paródias na Internet. Com uma carreira em produção audiovisual, ganhou destaque ao dobrar entrevistas e vídeos virais num tom humorístico.

LIVROS

Linguagem Corporal

Autor: Glenn Wilson • Género: Desenvolvimento pessoal • Editora: Alma dos livros

Em quase todos os aspectos da nossa vida social, a capacidade de interpretar e cazmente os sinais da linguagem corporal e de gerir a impressão que transmitimos aos outros pode ser decisiva. Quando existe uma discrepância entre aquilo que é dito e os sentimentos que são transmitidos de forma indirecta através das expressões faciais e da linguagem corporal, damos mais relevância àquilo que vemos do que àquilo que nos é dito. Isto deve-se ao facto de a linguagem corporal “deixar escapar” certas emoções e atitudes que poderíamos ter preferido esconder daqueles que nos observam. O processo de recepção é imediato e, em grande medida, inconsciente, apesar de se poder tornar consciente por intermédio de um processo de análise que poderá conhecer neste livro.

Outros Lançamentos

1. All Creatures Great and Small T5 (Channel 5)

2. English Teacher (FX)

3. Slow Horses T4 (Apple TV+) e Tell Me Lies T2 (Hulu)

4. Fight Night: e Million Dollar Heist (Peacock) e e Perfect Couple (Net ix)

5. Power Book II: Ghost T4B (Starz)

6. Universal Basic Guys (FOX)

7. Emily in Paris T4B (Net ix), e Old Man T2 (FX), Meia-Noite no Hotel Pera Palace T2 (Net ix) e Billionaire Island (Net ix)

8. How To Die Alone (Hulu)

9. American Sports Story: Aaron Hernandez (FX) e High Potential (ABC)

10. Tulsa King T2 (SkyShowtime) e Invejosa (Net ix)

11. Twilight of the Gods (Net ix), Agatha All Along (Disney+), A Rainha das Vilãs (Net ix)

12. La Maison (Apple TV+) e e Penguin (Max)

13. Matlock (CBS), Rescue: Hi-Surf (FOX) e FROM T3 (MGM+)

14. Brilliant Minds (NBC), 9-1-1: Lone Star T5 (FOX) e Frasier T2 (SkyShowtime)

15. Murder in a Small Town (FOX)

16. Chicago Med T10 (NBC), Chicago Fire T13 (NBC), Chicago P.D. T12 (NBC), Midnight Family (Apple TV+) e Grotesquerie (FX)

STREAMING

KAWASAKI NINJA 7

Marca: Kawasaki

Modelo: Ninja 7

Motor:

Híbrido (eléctrico e endométrico)

Kawasaki Ninja 7, a Primeira Moto Híbrida do Mundo

O FABRICANTE JAPONÊS KAWASAKI é pioneiro na produção de motorizadas híbridas, com a Ninja 7 Hybrid, a primeira moto do mundo a possuir dois motores, um deles eléctrico.

A moto foi apresentada como parte de uma série de inovações da Kawasaki, que já havia surpreendido com os modelos eléctricos Z e-1 e Ninja e-1. A Ninja 7 Hybrid tem um motor de 451cc a quatro tempos arrefecido a líquido, de dois cilindros, com uma caixa de velocidades sem embraiagem que pode ser utilizada manualmente ou em modo automático. Ao lado, está um motor eléctrico de 9 kW.

Esta moto nasce com o objectivo de cumprir o objectivo da Kawasaki de atingir a neutralidade carbónica graças a uma combinação de motores que ajude a reduzir emissões e consumos de combustível, mas permitindo ao condutor usufruir de um desempenho superior.

Em termos de dimensões, a Ninja 7 Hybrid está dentro dos padrões de uma moto convencional de média cilindrada. Combina o desempenho de uma moto de 600 ou 700cc com a capacidade de aceleração de uma moto eléctrica que compete com uma desportiva de 1000cc graças à função “e-boost”, ou seja, fruto da aceleração eléctrica. Tudo isto, mantendo os consumos próximos do que vemos numa moto de 250cc, com motor a combustão interna.

Entre as principais características, destaca-se o sistema “start-and-stop”, que desliga o motor de combustão quando a moto está parada, para economizar combustível e reduzir emissões.

Destaque também para o “Automatic Launch Position Finder (ALPF)”, que selecciona automaticamente a primeira relação de caixa quando a moto está parada,

facilitando arranques suaves e rápidos. Além disso, um modo “walk” permite movimentar a moto para frente e para trás, a baixas velocidades, ideal para manobras de estacionamento.

O desenho da Ninja 7 Hybrid combina estética arrojada e desportiva, característica da família Ninja, com elementos modernos que re ectem a sua natureza eléctrica.

O quadro em treliça foi projectado para incluir de maneira e ciente dois motores e a bateria de iões de lítio de 48V, para garantir uma distribuição ideal de peso e melhorar a condução e estabilidade da moto.

No cockpit, um painel de instrumentos colorido oferece ligação avançada a ‘smart-phones’ através da aplicação Rideology da Kawasaki, dando acesso a informações cruciais de maneira intuitiva e interactiva.

Esta

moto nasce com o objectivo de cumprir o objectivo da Kawasaki de atingir a neutralidade carbónica graças a uma combinação de motores que ajude a reduzir emissões e consumos de combustível, mas permitindo ao condutor usufruir de um desempenho superior

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