E&M_Edição 80_Janeiro 2025 • Mercado de Segunda Mão - Os Dilemas da Roupa Usada

Page 1


FINANÇAS EM ÁFRICA AS IMPLICAÇÕES DO RECUO DOS BANCOS EUROPEUS E ENTRADA DOS NORTE-AMERICANOS

MERCADO BOLSISTA

BVM PRETENDE DUPLICAR O NÚMERO DE EMPRESAS COTADAS ATÉ 2028. COMO?

INTERNACIONAL

TRUMP DE REGRESSO À CASA BRANCA. QUAIS OS IMPACTOS PREVISTOS EM ÁFRICA?

ARTE

OS SEGREDOS DE UM CERAMISTA MOÇAMBICANO PARA VINGAR NO MUNDO ARTÍSTICO

MERCADO DE SEGUNDA MÃO

OS DILEMAS DA ROUPA USADA

O pronto-a-vestir em segunda mão é um mercado que movimenta milhões, alimenta muitas famílias e veste a maioria dos moçambicanos. Mas qual o equilíbrio entre a economia circular e os riscos para a economia local e o ambiente?

Roupa em Segunda Mão:

Que Impacto?

Ocomércio de roupa usada é um fenómeno económico e social profundamente enraizado em Moçambique e em muitos países africanos. Popularmente conhecidas como “calamidades” - nome herdado dos fardos de roupa usada, doados ao país para vítimas da guerra ou calamidades naturais – estas peças movimentam milhões de meticais e vestem milhões de pessoas.

No entanto, o sector carrega uma dualidade: é, ao mesmo tempo, um rendimento para famílias, mas uma barreira estrutural à existência de uma indústria têxtil local.

Do ponto de vista económico, as roupas usadas são acessíveis e oferecem uma alternativa viável para consumidores de baixo rendimento. O sector gera empregos em mercados informais e contribui para a redução de resíduos nos países de origem das peças. Em Moçambique, onde a produção têxtil nacional é limitada, estas roupas preenchem uma lacuna na oferta e garantem diversidade de vestuário, a preços competitivos.

As roupas usadas são acessíveis e oferecem uma alternativa viável para consumidores de baixo rendimento

Só que a dependência de roupas usadas tem um custo: a indústria têxtil local, em qualquer ponto de África, sofre uma concorrência desleal, com a avalanche de roupas baratas, importadas. Em Moçambique, as poucas fábricas têxteis que ainda resistem enfrentam problemas de falta de investimento, infra-estrutura

precária e di culdades de acesso a matérias-primas. Isto enfraquece a cadeia produtiva nacional, inibindo a criação de empregos formais no sector. Além das implicações económicas, os riscos ambientais são signi cativos, porque o descarte inadequado de resíduos têxteis é um problema crescente que ameaça a saúde pública e o meio ambiente. Embora os intervenientes do mercado minimizem o problema (por exemplo, o coordenador do Centro de Desenvolvimento Empresarial da Associação Comercial da Beira, Fernando Hin Júnior, estima em apenas 5% o volume de artigos desperdiçados), parte importante das roupas em segunda mão acaba em aterros, contribuindo para a emissão de gases com efeito estufa. Para mitigar estes impactos, é urgente adoptar políticas públicas que equilibrem o comércio de roupas usadas e o desenvolvimento da indústria local. Incentivos scais para fábricas têxteis, investimento em tecnologias de reciclagem e campanhas de consciencialização sobre consumo sustentável são passos fundamentais. O fortalecimento de parcerias público-privadas pode impulsionar a produção local e criar uma economia circular mais e ciente.

Regulamentar o sector de roupas usadas, enquanto se investe no crescimento da indústria têxtil nacional, é a chave para um futuro em que a moda deixe de ser um vestígio do passado e se torne numa oportunidade para todos.

JANEIRO 2025 • N.º 80

DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos

EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso

JORNALISTAS Ana Mangana, Filomena Bande, Jaime Fidalgo, João Tamura, Luís Patraquim, Nário Sixpene

PAGINAÇÃO José Mundundo

FOTOGRAFIA Mariano Silva

REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos

DEPARTAMENTO COMERCIAL comercial@media4development.com

CONSELHO CONSULTIVO

Alda Salomão, Andreia Narigão, António Souto; Bernardo Aparício, Denise Branco, Fabrícia de Almeida Henriques, Frederico Silva, Hermano Juvane, Iacumba Ali Aiuba, João Gomes, Rogério Samo Gudo, Salim Cripton Valá, Sérgio Nicolini

ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO E PUBLICIDADE Media4Development

Rua Ângelo Azarias Chichava nº 311 A — Sommerschield, Maputo – Moçambique; marketing@media4development.com

IMPRESSÃO E ACABAMENTO

RPO Produção Grá ca

TIRAGEM 4 500 exemplares

EXPLORAÇÃO EDITORIAL E COMERCIAL EM MOÇAMBIQUE Media4Development

NÚMERO DE REGISTO 01/GABINFODEPC/2018

22 NAÇÃO

22 Roupas de segunda mão. Moçambique está entre os maiores receptores africanos de roupa usada proveniente da Europa. Qual é a dimensão deste mercado e os impactos ambientais a ele associados?

32 Negócio em tempos de crise. Comerciantes de roupa usada nos vários mercados de Maputo enfrentam uma grave crise nanceira decorrente da queda das vendas durante as manifestações póseleitorais

34 O mercado africano. O esforço para restaurar e implantar uma industria téxtil e de vestuário competitiva, perante a concorrência das roupas de segunda mão mais baratas e de boa qualidade

MERCADO DE CAPITAIS

ESG

Panorama nanceiro em África. Bancos europeus estão gradualmente a ser substituídos por norte-americanos em vários países. Que mudanças se perspectivam para os mercados nanceiros?

POWERED BY

16 MAZARS

20 ABSA

OPINIÃO

12 Nilza Tenguice & Yara Soto, Global

Markets Analysts do banco BIG

42 Saad Quayyum, Nikola Spatafora, Sanghamitra Mukherjee e Hamza Mighri, Departamento Africano do Fundo Monetário Internacional

48 João Gomes, Partner @BlueBiz

SECÇÕES

3 Sumário

4 Editorial

6 Observação

8 Radar

10 Números em Conta

44

38 COOPERAÇÃO EUAÁFRICA

Capitalização bolsista. A Bolsa de Valores de Moçambique ambiciona subir das actuais 16 para 30 empresas cotadas em 2028 e atingir até a 35% do PIB de capitalização bolsista. Como o fará?

Regresso de Trump à Casa Branca. Analistas africanos antevêem um aumento dos custos de endividamento em África, assim como impactos na ONU e nas relações bilaterais

46

SHAPERS

orstein Veblen. O economista norte-americano demonstrou como aspectos culturais in uenciam o comportamento dos agentes económicos, principalmente através de gastos ostensivos

50

MERCADO & FINANÇAS

Alertas climáticos. Moçambique sai da COP29 com avisos urgentes sobre os riscos das alterações climáticas, incluindo impactos em migrações e urbanização, exigindo respostas imediatas

55 ESPECIAL INOVAÇÕES DAQUI

56 Negócios. APME lança plataforma que visa promover a transformação digital e a projecção de negócios das PME

60 Gestação Saudável. Michela Tsope, engenheira moçambicana, cria plataforma que presta assistência pré-natal a mulheres grávidas

36 Radar África

64 Panorama

ÓCIO

66 Escape. Uma aventura pelo lodge mais luxuoso de África, o Silvan Safari 68 Gourmet Conheça as novas tendências globais da gstronomia para 2025 69 Adega Conheça a tendência dos vinhos destilados neste ano que começa 70 Empreendedor O ceramista Jerry revela uma experiência de sucesso no mundo artístico 72 Agenda Tudo o que não pode perder neste mês de Janeiro 74 Ao leme da moderna lancha D60 anunciada para o Verão de 2025 65

Ensino em Moçambique, 2025

Educação em Risco: a Incerteza no Regresso às Aulas em 2025

A incerteza em torno do regresso às aulas no ano lectivo de 2025, em Moçambique, tem gerado preocupação generalizada. O sector da Educação, pilar fundamental para o desenvolvimento socioeconómico do País, enfrenta desafios crónicos, como baixos salários, falta de infra-estruturas adequadas e escassez de materiais didácticos. A estes problemas acresce, agora, o impacto de manifestações de professores, desde o ano passado, com o final do ano lectivo abalado por casos de escolas em que os docentes boicotaram a correcção de exames finais. Todos estes factores colocam em risco o início do ano escolar 2025. Em resposta, o Governo tem tentado promover negociações com os sindicatos de professores, procurando soluções viáveis. No entanto, as respostas são consideradas insuficientes por muitos docentes, que exigem aumentos salariais e melhores condições de trabalho. Embora tenham sido prometidos investimen-

tos no sector, não há implementação efectiva devido a limitações orçamentais e por causa da complexidade das reformas necessárias.

A Educação não é apenas um direito básico, mas também um investimento no futuro de qualquer nação. Quando o sector educativo é inviabilizado, os impactos negativos estendem-se além das salas de aula. O atraso na formação das crianças e jovens compromete o desenvolvimento do capital humano e limita o crescimento económico sustentável.

Além disso, o afastamento prolongado dos alunos das salas de aula pode levar ao aumento do abandono escolar, a um crescimento da delinquência juvenil e à perpetuação da pobreza. É imperativo que se encontre uma solução negociada e sustentável para a crise, valorizando os professores e garantindo condições dignas de trabalho. Só com uma educação forte é que Moçambique poderá aspirar a um futuro mais justo e próspero.

Finanças públicas Moçambique já tem uma política de investimento do Fundo Soberano

O Governo de Moçambique aprovou, recentemente, a Política de Investimento do Fundo Soberano, documento estratégico que define onde é aplicado o dinheiro poupado com a exploração de gás natural. A política define parâmetros essenciais, como o perfil de risco dos investimentos, os limites de risco de crédito e as margens de desvio permitidas nas aplicações financeiras.

O Índice de Referência Estratégico, incluído no documento, estabelece directrizes sobre a classe de activos, instrumentos financeiros permitidos, países e moedas elegíveis para os investimentos. Entre os critérios aprovados, destacam-se a duração da aplicação dos recursos (documento que define prazos específicos para a aplicação dos fundos, visando garantir retornos sustentáveis a longo prazo), margens de desvio permitidas (estabelece limites para desvios em relação às metas estabelecidas, garantindo estabilidade nas operações financeiras) e limites de risco de crédito (determina critérios rigorosos para a avaliação de mercados, emissores, instrumentos, contrapartes e prazos de vencimento) .

Além disso, foram aprovados indicadores de desempenho para avaliar a gestão e valorização da carteira de investimentos, permitindo uma monitorização contínua da administração do Fundo. O Fundo Soberano de Moçambique foi aprovado em 2023 como instrumento essencial para assegurar a gestão responsável das receitas provenientes da exploração de recursos naturais, especialmente gás natural. Com a exploração de hidrocarbonetos numa plataforma flutuante no norte do país, o fundo visa acumular reservas financeiras, mitigar a volatilidade dos preços das matérias-primas e promover o desenvolvimento económico sustentável.

Dívidas do Estado

Executivo diz que está a mobilizar fundos para pagar dívidas a fornecedores

A medida é pressionada pela necessidade de reduzir o impacto negativo das manifestações na tesouraria das empresas, que estão a enfrentar dificuldades de facturação devido às restrições de mobilidade dos trabalhadores, por causa dos bloqueios das vias durante os protestos pós-eleitorais.

São pelo menos 1,4 mil milhões de meticais que estão a ser mobilizados pelo Governo para acelerar e garantir o pa-

gamento das dívidas do Estado a fornecedores de bens e serviços, segundo o ministro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala, para quem o pagamento de facturas em atraso é uma das principais preocupações do sector privado, por afectar a tesouraria das empresas. <Temos a oportunidade de tirar partido dos pontos fortes que o País tem para salvaguardar a estabilidade macroeconómica=, apontou o ministro.

Política scal FMI recomenda reforço da gestão scal para investimento público sustentável

O Fundo Monetário Internacional (FMI) recomendou ao Governo de Moçambique melhorias do quadro fiscal para assegurar despesas públicas mais sustentáveis. Apesar dos progressos alcançados com a implementação do quadro orçamental a médio prazo, a instituição destacou a necessidade de estabelecer regras e melhorar o relatório de riscos fiscais.

Entre as propostas apresentadas, o FMI sugere a inclusão de considerações

Conservação

climáticas na avaliação e execução de grandes projectos nacionais. Isso inclui melhorar informações climáticas nos códigos de construção e assegurar a continuidade dos projectos durante a execução orçamental. Reforçar a gestão de caixa e os controlos de compromisso para evitar atrasos nos pagamentos é outra das recomendações centrais. Além disso, o FMI destacou a necessidade de uma análise quantitativa sobre os desastres naturais, devido ao risco fiscal que representam. Moçambique está situado no final do corredor anual (entre dezembro e abril) de ciclones devastadores do oceano Índico. Um exemplo recente foi o ciclone Chido, que provocou dezenas de mortes em Nampula e Cabo Delgado. Eventos anteriores, como os ciclones Idai e Kenneth, em 2019, e mais recentemente o Freddy, resultaram centenas de mortes e prejuízos significativos.

Moçambique re rma compromisso com a conservação e controle ambiental

O Governo de Moçambique aprovou um novo regulamento sobre o comércio internacional de espécies ameaçadas de extinção, alinhado com a Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES, sigla inglesa). A medida visa proteger e contro-

lar o comércio das espécies em risco. Em 2022, a Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC) catalogou cerca de dez mil espécies em Moçambique, incluindo 5743 plantas, das quais 250 são endémicas e 4271 espécies de fauna terrestre, como insectos, aves e mamíferos. O esforço de catalogação continua através de instituições de pesquisa.

Ainda na área ambiental, o Governo ratificou um acordo para criar a Área de Conservação Transfronteiriça entre Moçambique, Zâmbia e Zimbabué, formalizado em Harare, em Julho. Com uma extensão de 38.435 km², a área abrange distritos estratégicos nas três nações, ao longo do rio Zambeze.

Sustentabilidade

Enabel investe 1,8 milhões USD em projectos de transição energética

A Agência Belga de Desenvolvimento (Enabel) anunciou a disponibilização de 1,8 milhões de dólares para financiar projetos voltados à transição energética e mudanças climáticas em Moçambique, no período de 2024 a 2027. O montante, equivalente a 116 milhões de meticais, será gerido através do Fundo de Estudo e Mecanismo de Preparação para a Transição Energética e Resiliência Climática (STEP), em colaboração com o Governo moçambicano.

O coordenador do grupo de financiamento climático na Enabel, Salomão Povane, explicou que o STEP é um mecanismo flexível para mobilizar recursos rapidamente e gerar conhecimento em áreas como estudos, consultorias, eventos e de-

Gestão

senvolvimento de capacidades. Os fundos estão divididos em duas vertentes principais: assistência técnica e projectos-piloto.

Para a assistência técnica, estão destinados cerca de 577 mil dólares, com um limite de 52,4 mil dólares por projecto. Já para projectos-piloto, o valor total é de 1,25 milhão de dólares, com um limite de 209,9 mil dólares por iniciativa.

Os projetos de assistência técnica devem ser executados em três meses e podem ser propostos por associações, instituições governamentais, sociedade civil, academia e sector privado. Vicente Matsinhe, gestor de projetos da Enabel, destacou que apenas entidades sem fins lucrativos podem concorrer ao financiamento.

Nova função do e-Sistafe reforça transparência e controlo da despesa públiva

O governo promete reforçar a transparência e o controlo dos gastos públicos através de uma nova funcionalidade na plataforma e-SISTAFE. A partir deste ano, o sistema de gestão financeira do Estado passa a incluir um módulo de auditorias internas, permitindo um acompanhamento mais rigoroso da aplicação de recursos em órgãos e instituições públicas, incluindo entidades descentralizadas.

Segundo Manuel António dos Santos, presidente do Centro de Desenvolvimento de Sistemas de Informação de Finanças (CEDSIF), os primeiros testes da ferramenta serão realizados numa fase-piloto prevista para este início de ano. A expectativa é expandi-la gradualmen-

te, consolidando a normalização dos procedimentos financeiros no sector público. Além da nova funcionalidade, o e-SISTAFE já apoia processos essenciais como a contratação pública electrónica. Com o Módulo de Gestão do Património do Estado (MPE), a plataforma integra a planificação, orçamentação e execução financeira, promovendo maior eficiência e fiabilidade nos pagamentos.

Desde a sua implementação, em 2004, o e-SISTAFE tem modernizado a administração pública. Entre os avanços estão a descentralização da gestão financeira, a expansão da Conta Única do Tesouro (CUT) e a introdução do Número Único de Identificação Tributária (NUIT), que ampliou a base de contribuintes.

Energia Moçambique quer parceria com o Brasil para produção de biocombustíveis

O Governo de Moçambique está em negociações com empresas brasileiras para fomentar a produção local de biocombustíveis, uma iniciativa inserida no Pacote de Medidas de Aceleração Económica (PAE). Após um estudo de viabilidade conduzido pelas consultoras GreenLight e LBC, com apoio financeiro da International Finance Corporation (IFC) e auxílio técnico da cooperação norte-americana USAID SPEED, foram identificadas culturas promissoras como cana-de-açúcar, mandioca, soja e girassol.

O plano prevê subsídios e quotas obrigatórias para atrair investimento e reduzir a dependência de combustíveis fósseis, promovendo o desenvolvimento económico sustentável. O estudo também destacou a importância de um quadro regulatório claro e de infra-estrutura adequada para o sucesso da estratégia, visando a criação de uma cadeia de valor que envolva agricultores, indústrias e consumidores.

O Governo espera que a colaboração com o Brasil acelere o crescimento do sector energético.

Turismo Plataformas digitais internacionais podem ser tributadas em Moçambique

Uma nova proposta de lei, em Moçambique, poderá obrigar plataformas digitais internacionais, como Booking e Trivago, a pagar impostos sobre as transações realizadas no país. As empresas, que recebem comissões pela intermediação de serviços de alojamento, operam sem tributação directa sobre os rendimentos obtidos em Moçambique. A proposta está em fase de preparação e será submetida à aprovação na próxima legislatura, visando integrar aquelas operações na administração fiscal nacional.

Amorim Ambasse, director da Unidade de Tributação da Economia Digital na Autoridade Tributária, explicou que a proposta reforça a obrigação de repatriamento das receitas provenientes do sector turístico, com um prazo de 15 dias após a saída do turista. A medida também se insere na estratégia de regulamentação da economia digital, um sector em rápida expansão. Simultaneamente, o Instituto Nacional de Turismo está a registar estâncias turísticas no Sistema de Gestão de Turismo para aumentar o controlo do sector.

Dívida Global Ultrapassou os 100 ‘Tris’ em 2024

Em 2024, a dívida pública global atingiu os 102 biliões de dólares (‘trillion’, na numeração usada nos EUA), com os Estados Unidos e a China a contribuírem significativamente para o aumento dos níveis de dívida. Isto representa um aumento de US$ 5 biliões em relação ao ano passado e um mau sinal para o fu-

Ranking: Dívida Pública por País

turo, em que se espera que os níveis de dívida aumentem mais rapidamente do que o previsto anteriormente, à medida que as políticas governamentais falham em lidar com os riscos associados a ela, e num cenário de envelhecimento da população e de crescentes custos de saúde. Além disso, as tensões geopolíticas que

se vivem em vários pontos do mundo, podem levar a maiores gastos com defesa, adicionando mais pressão aos orçamentos governamentais.

Este gráfico mostra a dívida pública por país em 2024, com base nos dados do World Economic Outlook de Outubro de 2024 do FMI.

Como a maior economia do mundo, o montante da dívida dos EUA continua a crescer, representando 34,6% do total da dívida pública mundial. No geral, os pagamentos líquidos de juros sobre a dívida nacional dispararam para 892 mil milhões de dólares no ano scal de 2024. Até 2034, esses custos devem alcançar 1,7 bilião de dólares, com os custos líquidos totais de juros a somarem 12,9 biliões na próxima década. Uma montanha crescente de dívida e taxas de juros mais altas estão entre os principais factores que impulsionam o aumento do custo líquido dos juros.

Participação da Dívida Global por País

A dívida pública global aumentou 42,4 biliões de dólares desde 2015, quando era de 59,7 biliões de dólares.

Pública Global Total

102,1 biliões de dólares

Participação na Dívida Global: 34,55

Com mais de 36 biliões de dólares em dívida pública, o montante dos EUA é mais do dobro do registado pelo segundo país com maior endividamento (China, 16,5 biliões de dólares).

A dívida pública da China é de 90% do seu PIB, um aumento em relação aos 40% de há uma década.

O Sudão, em con ito permanente, tem a maior dívida pública como percentagem do PIB, com 344%.

Dívida

Nilza

Yara

O Arrefecimento Económico da China: Causas, Consequências e Potenciais Efeitos

OGoverno chinês aprovou em Dezembro o aumento do défice orçamental para 4% do PIB em 2025, o valor mais elevado de sempre, mantendo um objectivo de crescimento da economia de 5%. O novo indicador do défice compara com uma meta inicial de 3% do PIB para 2024 e está alinhado com uma política fiscal mais proactiva, conforme definido na reunião do politburo chinês, em Dezembro. O adicional de um ponto percentual de despesa em percentagem do PIB representa 1,3 trilião de yuan (equivalente a cerca 180 mil milhões de dólares norte-americanos) e representa mais uma medida entre várias que têm sido anunciadas para estimular a economia chinesa.

Nos últimos anos, a China tem enfrentado um arrefecimento económico, o que afecta a economia global, dada a importância do país no comércio internacional, na cadeia de fornecimentos e enquanto centro de produção mundial.

Entre os principais factores que contribuem para a desaceleração estão o enfraquecimento do sector imobiliário, a política de “zero-covid” e as respectivas consequências económicas, o envelhecimento populacional, as tensões geopolíticas e comerciais, em particular com os Estados Unidos, e o aumento do endividamento corporativo.

a economia: o encerramento de fábricas, a interrupção das cadeias de abastecimento e o enfraquecimento do consumo doméstico reduziram significativamente a actividade económica. Embora tenha sido abandonada em 2022, ainda persistem os efeitos colaterais desta política, como uma população reticente em consumir e um mercado de trabalho desajustado.

O envelhecimento populacional da China, que acelerou nas últimas décadas, mesmo após o fim da política do “filho único”, em 2016, é outro factor crucial. A taxa de natalidade tem diminuído e a população activa está a envelhecer rapidamente. Há implicações económicas significativas, como a redução da força de trabalho, uma pressão crescente sobre o sistema de segurança social e uma diminuição do consumo interno, à medida que uma grande parte da população entra na idade de reforma.

As tensões comerciais com os Estados Unidos, exacerbadas pela guerra comercial iniciada em 2018, também têm prejudicado a economia. O aumento das tarifas de importação, das restrições ao acesso a tecnologias avançadas, como semicondutores, e de sanções a empresas chinesas afectaram sectores essenciais.

Além disso, questões geopolíticas, como a disputa sobre Taiwan, geram incertezas adicionais para os investidores.

As

tensões comerciais com os Estados Unidos, exacerbadas pela guerra comercial iniciada em 2018, também têm prejudicado a economia (chinesa)

O sector imobiliário, que representa uma parcela significativa do PIB chinês, enfrenta há vários anos uma crise de endividamento, exemplificada pelo colapso de gigantes imobiliários como a Evergrande. Este cenário expôs a fragilidade do sector, causado por um endividamento excessivo. A desaceleração neste sector reduziu a procura por materiais de construção, prejudicando a indústria pesada e as exportações, além de diminuir a confiança dos consumidores e dos investidores privados. A política de “zero-covid”, adoptada durante a pandemia, teve um impacto devastador sobre

O aumento substancial do endividamento corporativo e a desaceleração do crédito, especialmente no sector privado e nas empresas estatais, restringiram o crescimento das pequenas e médias empresas, que dependem de financiamento para expandir as suas operações.

Este arrefecimento económico da segunda maior economia do mundo traz vastas consequências para a economia global. A redução na procura por matérias-primas, como petróleo, cobre e alimentos, pode afectar os países produtores que têm a China como mercado de exportação de referência. Enquanto motor do comércio global, o

A desaceleração da China poderá re ectir-se na produção e comercialização de componentes electrónicos

país tem um papel fundamental na produção e no consumo interno, o que implica menos importações e afecta principalmente os países asiáticos e as economias emergentes que dependem das exportações. A desaceleração pressiona também as cadeias de abastecimento globais, uma vez que a China continua a ser um centro crucial de produção e exportação.

A escassez na produção de produtos e componentes electrónicos poderá intensificar-se, afectando empresas em todo o mundo. Moçambique, que tem a China como importador de referência de matérias-primas, incluindo carvão mineral e madeira, poderá enfrentar desafios. A queda da procura de carvão mineral, por exemplo, poderá reduzir

as receitas do País e afectar a execução orçamental.

Além disso, a pressão sobre os preços das matérias-primas pode levar a cortes nos empregos no sector mineiro, aumentando as tensões sociais e económicas em Moçambique. A adaptação às mudanças exigirá políticas e estratégias económicas adequadas, como a diversificação das exportações e a promoção de outros sectores da economia para mitigar os riscos e explorar as oportunidades que podem surgir durante este período de transição. A longo prazo, os efeitos do arrefecimento económico chinês podem ser mais pronunciados. A China terá de lidar com o envelhecimento populacional, que restringe o potencial de crescimento, e adaptar-se a um cenário

global mais polarizado, com um crescente distanciamento comercial e tecnológico entre os Estados Unidos e outras grandes potências.

A transição para uma economia mais focada em serviços e consumo interno será um desafio, especialmente sem as mesmas taxas de crescimento que caracterizaram as décadas anteriores.

Se o país não resolver questões estruturais da sua economia, poderá enfrentar um crescimento mais lento e desafios significativos para garantir a sua estabilidade social e política. O impacto desta transição económica será sentido em todo o mundo, exigindo que governos e empresas ajustem as suas estratégias para lidar com um novo paradigma económico global.

Bancos NorteAmericanos Ocupam Lugar dos Europeus

À medida que os bancos europeus se afastam de África, os norte-americanos estão a fazer o oposto, embora ainda estejam de forma relutante na banca de retalho

Os bancos europeus estão a recuar em África, enquanto os concorrentes norte-americanos avançam. Em Outubro, Jamie Dimon, director executivo do JP Morgan, o maior banco do mundo, a rmou: “Queremos [expandir a nossa presença] em África, a cada dois ou três anos”.

O entusiasmo é partilhado por outros. “África oferece imensas oportunidades para os nossos clientes, particularmente nos sectores dos minerais críticos, tecnologia, energia, recursos naturais e desenvolvimento de infra-estruturas”, salienta Yvonne Ike, responsável pelo negócio do Bank of America (BofA) na África Subsaariana.

Na África francófona, “a Costa do Mar m tem tudo”, diz Ike. “Uma economia diversi cada, um sector privado dinâmico, recursos de petróleo e gás e estabilidade cambial. Estamos entusiasmados por estabelecer uma presença mais forte na Costa do Mar m e no Senegal, que também tem grande potencial.”

A crença do maior banco do mundo O Citigroup prefere deixar os números falarem. Está presente em 12 países africanos, comparado com dois (em breve quatro) do JP Morgan e apenas um do BofA e da Goldman Sachs. O primeiro es-

critório africano do Citi remonta a 1920, na África do Sul. Contudo, não se espera que clientes particulares possam abrir contas em bancos norte-americanos em África, num futuro próximo. “A taxa de retorno na banca de retalho geralmente não é muito atractiva”, explica Otaviano Canuto, ex-vice-presidente do Banco Mundial e actualmente investigador sénior no Policy Center for the New South, um think-tank em Marrocos.

“Operar neste sector exige conhecimento local” e essa “não é a estratégia dos bancos norte-americanos.” Canuto menciona também os obstáculos regulatórios. “As autoridades dos EUA podem ser implacáveis se algumas transacções ou clientes parecerem pouco transparentes. A análise custo-benefício não favorece uma incursão na banca comercial”, sublinha.

Domínio em fusões e aquisições Entretanto, Citigroup, Bank of America, JP Morgan e Goldman Sachs têm reforçado serviços corporativos e trabalho de consultoria para governos africanos. No primeiro semestre de 2024, os cinco principais consultores de fusões e aquisições na África Subsaariana foram todos bancos americanos.

Este ano, o gigante sul-africano de televisão Canal+, detido por Vincent Bolloré, contratou o BofA Securities e o

O Citigroup, que registou receitas de 20,3 mil milhões USD no terceiro trimestre de 2024, e é liderado por Jane Fraser, possui uma vantagem em África graças à sua longa presença

JP Morgan como consultores nanceiros na aquisição da Multichoice. Os cinco maiores bancos norte-americanos representaram 94% do valor global das transacções no período, segundo dados da LSEG Data & Analytics. O Morgan Stanley liderou com transacções no valor de 15,4 mil milhões de dólares.

O Citigroup, que registou receitas de 20,3 mil milhões de dólares no terceiro trimestre de 2024 e é liderado por Jane Fraser, possui uma vantagem em África graças à sua longa presença, e está determinado em lucrar com esta posição. “A era do Estado todo-poderoso dará lugar ao investimento privado local e estrangeiro”, a rma Papa Sall, director do Citi para a África Ocidental e Central.

“O crescimento do sector privado impulsionará a próxima expansão na maioria dos nossos mercados. Esta é a nossa força natural, porque já servimos essas mesmas multinacionais e grandes empresas locais à medida que se expandem nos sectores das infra-estruturas, agricultura, recursos naturais, saúde, entre outros.”

Em 2022, o Citi concedeu uma linha de crédito rotativa de 125 milhões de dólares à Airtel Africa e ajudou a startup de saúde mPharma do Gana a angariar 35 milhões de dólares. A recente viagem de Jamie Dimon ao continente evidenciou o empenho do JP Morgan em recuperar terreno.

Boom no comércio

Os bancos dos EUA estão preparados para agir assim que a Zona de Comércio Livre

Continental Africana (AfCFTA) se materializar. “O JP Morgan ou o Goldman Sachs seguirão o movimento assim que o número de transacções aumentar”, diz Canuto. “Se os mercados de capitais se desenvolverem, particularmente com a integração entre bancos centrais, a relação risco-retorno tornar-se-á muito atractiva.”

Entretanto, os bancos norte-americanos estão a apostar num circuito que já está em ascensão: as ligaçõesnanceiras e comerciais entre África e o Médio Oriente.

Em 2022 e 2023, os países do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC)nanciaram cerca de 113 mil milhões de dólares em investimento directo em África, mais do que canalizaram ao longo de toda a década de 2012 a 2022 (102 mil milhões de dólares). O circuito funciona nos dois sentidos. Muitas empresas africanas, particularmente nigerianas, utilizam o Dubai como centro para alcançar mercados no Médio Oriente e Ásia.

Um acordo inovador no Gabão

Os bancos norte-americanos continuam a dominar a histórica área de emissões de dívida soberana. Em 2023, o Bank of America, em colaboração com a Corporação Financeira Internacional dos EUA, liderou um swap de 500 milhões de dólares de dívida do Gabão. Duas semanas após a conclusão do acordo, um golpe de Estado derrubou o Governo gabonês. Contudo, os títulos continuam a negociar-se bem.

Corredor do Lobito

Todos os olhares estão voltados para o Corredor do Lobito, um vasto projecto de infra-estruturas destinado a facilitar o transporte de minerais críticos entre Angola, Zâmbia e a República Democrática do Congo. Contudo, uma segunda administração Trump continuará a investir em África? O histórico de secundarização do continente, no primeiro mandato, não é animador.

O Presidente Joe Biden, que visitou Angola em Dezembro, apoiou pessoalmente o projecto, com Washington a investir mais de 4 mil milhões de dólares. Os bancos dos EUA estão profundamente envolvidos no nanciamento.

“O próximo Governo continuará a encorajar esforços para construir parcerias sólidas com estados africanos e empresas locais, a m de resistir à concorrência internacional”, diz uma fonte interna.

J. Peter Pham, antigo enviado de Trump para a região dos Grandes Lagos e Sahel, acredita que os EUA continuarão focados nos minerais africanos essenciais para a transição energética e tecnologias avançadas.

No entanto, questiona o estatuto da África do Sul no AGOA (Lei de Crescimento e Oportunidades Africanas), criticando a postura de Pretória, de condenação de Israel pela catástrofe humanitária em Gaza.

Porque importa? Porque a África do Sul é a principal porta de entrada dos bancos americanos em África.

BANCA TAMBÉM MUDA DE MÃOS NOS PALOP

No retalho, são sobretudo os bancos pan-africanos e os estados que têm adquirido as antigas presenças, casos do Standard Chartered, BNP Paribas e Société Générale, cujas subsidiárias africanas foram recentemente adquiridas pelo Vista Group que anunciou a compra da operação moçambicana do francês Société Générale em Agosto de 2024. “Com a nalização da aquisição de 100% do banco Société Générale Moçambique, o Vista Group Holding passa a operar em cinco países: Burkina Faso, Gâmbia, Guiné-Conacri, Moçambique e Serra Leoa, ampliando assim a sua presença em África”, refere uma informação daquele grupo, sem adiantar os valores envolvidos no negócio.

Recordando que o banco conta com oito agências no País, a mesma informação explica que este “passará a designar-se Vista Bank Moçambique”. “A aquisição do banco Société Générale Moçambique representa um marco importante na jornada do Vista Bank Group rumo ao seu objectivo de se tornar um grupo de serviçosnanceiros pan-africano de classe mundial, com operações em 25 países até 2026”, explica Simon Tiemtore, presidente do grupo, citado na mesma informação.

Com outra dimensão, mas exempli cativo desta lógica de saída dos bancos europeus dos mercados africanos, a portuguesa Caixa Geral de Depósitos (maior accionista do BCI, em Moçambique, e também do Banco Internacional de São Tomé e do Caixa Angola) anunciou, no início do ano, a decisão de venda da sua participação de 59,81% no cabo-verdiano Banco Comercial Atlântico à Coris Holding, aguardando apenas a aprovação do regulador daquele país lusófono. A sociedade com sede no Burkina Faso foi, assim, a escolhida pelo Governo português, em detrimento das propostas apresentadas pelo IIBGroup Holdings, sediado no Bahrein, e do ganês First Atlantic Bank, numa venda feita por um valor a rondar os 70 milhões de euros.

Face à situação actual, poderá haver um agravamento da despesa pública devido ao aumento de gastos com a segurança e a necessidade de reconstrução

Impactos Económicos da Instabilidade Política em Moçambique

Este documento analisa os impactos da instabilidade política na economia de Moçambique, examinando a redução do PIB, a fuga de investimentos estrangeiros, a desestabilização do sector dos transportes e do comércio, o ambiente de negócios desfavorável e as consequências sociais.

O documento também apresenta dados económicos e a avaliação de risco, destacando a classificação de risco e as perspectivas para o crescimento económico, dívida pública, inflação, desemprego e reservas internacionais.

Porfim,concluiaanáliseapresentando recomendações sobre a necessidade urgente de tomada de medidas para estabilizar a situação política em Moçambique e promover um ambiente propício para o crescimento económico e o bem-estar social.

Redução do PIB

A instabilidade política tem impactado negativamente o Produto Interno Bruto (PIB) de Moçambique. A incerteza política e os conflitos têm resultado na redução dos investimentos estrangeiros e na desaceleração do crescimento económico.

Impacto no investimento externo

A crise política afasta investidores estrangeiros, que são cruciais para o desenvolvimento de sectores estratégicos como o de gás natural e de infra-estruturas. Projectos importantes podem ser adiados ou cancelados devido à falta de segurança e previsibilidade.

Impacto no sector de transportes e comércio

As manifestações e bloqueios nas fronteiras e portos têm paralisado o transporte de mercadorias, afectando o comércio interno e externo. Isso resulta na escassez de produtos, aumento de preços e prejuízos para a economia.

Ambiente de negócios desfavorável

A instabilidade cria um ambiente de negócios desfavorável, levando empresas locais e multinacionais a reconsiderarem as suas operações no país. A insegurança política e económica pode resultar na retirada de empresas e na perda de empregos.

Impacto social da instabilidade política

Além dos impactos económicos, a instabilidade política também afecta a vida quotidiana dos cidadãos. A violência e os tumultos dificultam a realização de actividades económicas e a manutenção de uma rotina estável.

Dados económicos e avaliação da Fitch

A Fitch Ratings classificou o risco de Moçambique em 'CCC+' e a instabilidade económica e social que vivemos actualmente não ajuda a melhorar. Esta classificação reflecte os elevados níveis de dívida pública, dificuldade na gestão das finanças públicas, baixo PIB per capita, finanças externas fracas, fracos indicadores de governação e uma situação de segurança desafiadora.

A Fitch esperava que o crescimento real do PIB de Moçambique permanecesse forte, com uma média de 4,5% entre 2024 e 2025, impulsionado pelo desenvolvimento do sector do gás natural liquefeito (LNG) e pela retoma dos projectos de infra-estrutura. Contudo, face à situação actual, poderá haver um agravamento da despesa pública devido ao aumento de gastos com a segurança e a necessidade de reconstrução.

Previa-se também que a relação dívida/PIB do Governo devia diminuir para 93,6% do PIB no final de 2024 e 90,2% em 2025, principalmente devido ao forte crescimento nominal do PIB, mas, actualmente, esta meta está comprometida.

As manifestações pós-eleitorais estão a comprometer o desempenho da economia moçambicana

Dados estatísticos adicionais O PIB de Moçambique deverá crescer para 1536 biliões de meticais (aproximadamente 22,322 milhões de euros) em 2024, o que corresponde a um crescimento económico esperado de 5,5%.

A taxa de inflação anual foi de 6,8% em Outubro de 2024, reflectindo aumentos nos preços dos alimentos e combustíveis. A taxa de desemprego em Moçambique foi estimada em 25,3% no final de 2023, com uma leve redução esperada para 24,8% em 2024

devido à criação de novos empregos nos sectores de construção e energia.

As Reservas Internacionais Líquidas foram de 3,7 mil milhões de dólares em Novembro de 2024, suficientes para cobrir cerca de cinco meses de importações de bens e serviços não factoriais.

Projecto a Crescer Para Incluir Formação Pro ssional

A Fundação Clarisse Machanguana já apresenta números sólidos e quer expandir horizontes. Nos planos está uma academia multifuncional que, além do desporto, incluirá competências pro ssionais, promovendo a educação e emancipação

Texto Celso Chambisso •Fotogra a D.R

AFundação tem o nome da criadora, Clarisse Machanguana, a primeira moçambicana a actuar na WNBA, campeonato pro ssional de basquetebol feminino dos Estados Unidos (entre 1999-2002), o mais competitivo do mundo. A organização nasceu em 2014 e tem usado o desporto para criar oportunidades para os mais novos, em todo o País. Uma nova etapa está a chegar. A antiga jogadora anunciou a intenção de abrir uma academia multifuncional no distrito de Marracuene, província de Maputo, num espaço de um hectare. A ambição do projecto inclui mais áreas de actividade, além do desporto.

O que se pretende com a academia? Geralmente, fazemos as nossas actividades em escolas públicas. Algumas escolas não têm infra-estrutura, só têm um campo de areia. Então, como somos uma organização que usa o desporto para emancipar os jovens, precisamos de um espaço para implementar essas actividades, onde possamos ter treinadores preparados para continuar a potenciar os meninos e meninas. Também privilegiamos o contacto com os pais das crianças: participam nos nos-

sos programas para que entendam o que fazemos, tornando-se parte da mudança de comportamento que queremos levar até aos jovens. É essencialmente para isto que precisamos de uma academia, sem falar na necessidade de um lugar para leccionar matérias em temas nos quais queremos apostar. Esta será a nossa futura academia.

Quais são os parceiros da Fundação nesta ideia?

O nosso principal parceiro é o MozaBanco. Mas existem outros parceiros da Fundação Clarisse Machanguana que não têm qualquer relação com o projecto da academia multifuncional. Estes incluem a Embaixada dos Estados Unidos, a ExxonMobil, a WNBA (liga de basquetebol feminino dos EUA), a Embaixada do Canadá e a Agility. Apesar de já termos estes parceiros, continuamos em busca do apoio de grandes empresas para nos fortalecermos como fundação e para fortalecer o projecto da academia multifuncional.

De que forma a academia irá contribuir para a criação de emprego?

Primeiro, pelo menos 50 a 60 pessoas teriam emprego através da criação e fun-

“Desta intervenção já saíram quatro jovens para se formarem nos EUA e na Europa. Creio que criámos um movimento credível que mostra que os jovens têm muita vontade...”

cionamento da academia. Segundo, indirectamente, vai dar oportunidades aos fornecedores de bens e serviços que nos vão garantir meios para o funcionamento da academia: equipamento desportivo, académico, tecnológico, audiovisual, entre outros. Terceiro, quem benecia directamente são os jovens formandos. Em quarto lugar, temos os professores, os treinadores e a equipa administrativa. Por último, há que considerar os talentos que sairão da academia.

Que tipo de valências pro ssionais ou técnicas serão oferecidas para facilitar a entrada dos jovens no mercado de trabalho?

Quando tivermos a academia, vamos fornecer os materiais relacionados com as matérias que vão ser ensinadas, sejam computadores, máquinas para trabalhar mecânica ou electricidade, tudo o que

de de género, ou seja, educar a menina no sentido de ela acreditar que pode fazer a maior parte dos trabalhos que um homem é capaz de fazer. Para isso, temos de prepará-la, não só mentalmente, mas oferecendo educação adequada.

Desde a criação da fundação, em Dezembro de 2014, quais foram os maiores marcos alcançados?

Nós já trabalhámos em várias escolas do País, estivemos em interacção com, no mínimo, 20 mil crianças em todas elas. Desta intervenção já saíram quatro para se formarem nos Estados Unidos e na Europa. Mas, acima de tudo, eu creio que criámos um movimento credível que mostra que os jovens têm muita vontade de desenvolver competências. Também temos criado oportunidades para treinadores, através de clínicas que vão melhorando práticas de ensino. Fazemos o mesmo em relação a árbitros mais jovens para melhorar a capacidade de trabalho.

diga respeito aos cursos que vamos leccionar. Mas tenho de admitir que é muito difícil fazer promessas num país como o nosso, em que amanhã eu posso morrer e a Fundação falir. Por isso, tem de haver muito cuidado com o que se diz, porque o futuro é incerto. O importante é que existe um sonho e vamos correr, vamos fazer de tudo para o concretizar.

As intervenções da fundação dão muita ênfase à emancipação feminina, através de computadores oferecidos às meninas em escolas, por exemplo. O que pretende mudar com esta intervenção? Vivemos numa sociedade em que a meninanãoéprioridade.Primeirovemorapaz, depois a menina. Quando os pais pensam no emprego dos lhos, colocam o rapaz à frente e só depois a menina. Então, estamos a tentar incutir a noção de igualda-

20 000

E quais têm sido os grandes desa os?

> 600

Mais de seiscentas crianças bene ciam do acesso à literacia digital

Crianças já abrangidas pelas actividades em várias escolas do País desde 2014 360

Atletas juniores seleccionados pela Fundação Clarisse Machanguana para participarem no Jr. NBA

Vou dar-lhe um exemplo: nós estávamos muito bem antes da covid-19, mas quando a pandemia começou, tudo estagnou, porque os que apoiam as nossas iniciativas são maioritariamente estrangeiros e quando se vão embora, tudo pára. Isto é, não somos sustentáveis. O segundo exemplo é a recente tensão política pós-eleitoral, em que as organizações que nos apoiam começam a car relutantes. De uma maneira geral, eu diria que todas as pessoas que participam num programa como o nosso devem ter a noção de que são oportunidades que vêm beneciar crianças e não responder aos desaos pessoais. Muitas vezes fazem-se programas com professores ou treinadores que têm di culdades de salário, com problemas de transporte e outras barreiras às actividades. É isso que é preciso mudar.

Como é que olha para o futuro da Fundação e a sua in uência?

Olho para a Fundação com optimismo. Nós zemos parcerias muito importantes e de grande gabarito, caso da ligação à WNBA, o que demonstra que somos uma organização séria e que merece o abraço de uma organização como aquela. Também o zemos com a ExxonMobil, de peso internacional. E temos a parceria com o MozaBanco, que tem também uma presença nacional relevante. Continuamos a trabalhar para ter outras parcerias e acredito que demos passos muito importantes que demonstram a seriedade do nosso trabalho.

Pessoas e Cultura Organizacional: A Base do Sucesso no Absa Bank Moçambique

Num mundo empresarial em constante transformação, o sucesso e a longevidade de uma organização dependem, em grande parte, da força da sua cultura organizacional e do investimento nas suas Pessoas. O Absa Bank Moçambique destaca-se como um exemplo de como a valorização humana pode transformar desafios em oportunidades, consolidando um futuro sustentável.

O Banco tem investido de forma consistente no desenvolvimento das competências dos seus Colaboradores, com destaque para a parceria estratégica com o IMD Business School, uma das mais prestigiadas instituições de formação executiva do mundo. Através desta colaboração, o Absa oferece aos seus Colaboradores acesso a programas de excelência, que combinam o rigor académico com abordagens práticas e inovadoras. Estes programas preparam as equipas para lidarem com os desafios de um mercado dinâmico e em constante mudança, fortalecendo a sua capacidade de liderança, inovação e tomada de decisões estratégicas.

Além disso, cerca de 60% dos Colaboradores já actuam num modelo de trabalho híbrido, que alia flexibilidade à efi-

ciência operacional. Este enfoque reflecte a visão do Absa: equipas bem preparadas são o alicerce de uma organização estável, resiliente e pronta para enfrentar as dinâmicas de um mercado em constante evolução. A Diversidade e a Inclusão são pilares fundamentais na cultura do Absa. Este compromisso é evidente no equilíbrio de género nas posições de liderança, onde cerca de 50% dos cargos são ocupados por mulheres. Promover equidade não só fortalece a colaboração interna, como também fomenta a inovação, criando um ambiente onde diferentes perspectivas se encontram para gerar soluções mais robustas e eficazes.

A saúde e o bem-estar dos Colaboradores são prioridades estratégicas do

A capacidade de inovar e adaptarse rapidamente caracteriza o Absa, especialmente ao longo da última década

Banco. Programas abrangentes de apoio psicológico, jurídico e social, que também beneficiam os dependentes dos Colaboradores, reforçam essa dedicação. Estas iniciativas, aliadas ao modelo de trabalho híbrido e à Proposta de Valor ao Colaborador, têm sido essenciais para alcançar um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional. Este compromisso foi reconhecido internacionalmente: pelo segundo ano consecutivo, o Absa recebeu o prémio de “Melhor Lugar para Trabalhar” pela revista Global Banking and Finance e foi também distinguido com o prémio de “Melhor Programa de Equilíbrio entre Trabalho e Vida” em Moçambique.

A parceria com o IMD não é apenas um investimento no crescimento dos Colaboradores, mas também um reflexo da visão estratégica do Absa em alinhar a capacitação interna com as exigências de um mercado competitivo. Ao proporcionar formações de nível mundial, o Banco assegura que as suas equipas estão equipadas com ferramentas e conhecimentos de ponta para liderar a transformação digital, fortalecer as relações com os Clientes e contribuir activamente para o crescimento económico de Moçambique.

A capacidade de inovar e adaptar-se rapidamente caracteriza o Absa, especialmente ao longo da última década. Esta transformação notável deve-se, acima de tudo, à qualificação e ao comprometimento das suas equipas, que constantemente superam expectativas.

O exemplo do Absa Bank Moçambique demonstra que uma organização que investe nas suas Pessoas e constrói uma cultura organizacional sólida está preparada para enfrentar qualquer desafio. É esta abordagem visionária que tem consolidado o Absa como uma referência em Moçambique, provando que o verdadeiro sucesso não se limita aos resultados financeiros, mas reside na força, resiliência e dedicação das suas equipas.

Com o foco contínuo nas Pessoas, na excelência e em parcerias estratégicas, como a do IMD, o Absa reafirma o seu compromisso de crescer lado a lado com os seus Clientes e com o País.

O Valor da Roupa em Segunda Mão

A maioria dos moçambicanos (80%) recorre ao mercado de roupas usadas para se vestir: o País é o segundo maior importador da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), depois da Tanzânia. Cada peça tem um signi cado importante para o rendimento de milhares de famílias, mas é também um problema para quem pensa em desenvolver a indústria têxtil local. Quanto vale o mercado da roupa em segunda mão em Moçambique?

Texto Celso Chambisso • Fotografia iStock Photo & D.R.

No movimentado mercado de Xipamanine, em Maputo, Alzira e Fátima ajustam cuidadosamente as roupas nas suas bancas. “Vender roupa usada é a forma de sustento da minha família há mais de dez anos”, diz Alzira, enquanto organiza uma la de camisas coloridas. Fátima concorda: “Aqui, cada venda é um passo para pagar a escola dos meus lhos e garantir comida na mesa.”

Do outro lado das bancas, Francisco e Marta, dois consumidores, percorrem com atenção as pilhas de roupas. “Consigo vestir-me bem, gastando muito menos”, explica Francisco, exibindo um par de calças de ganga recém-adquirido. Marta acrescenta: “Ao preço das roupas novas nas lojas, eu não teria possibilidade de renovar o guarda-roupa.”

As respostas re ectem a importância do mercado de roupas em segunda mão, em Moçambique. O sector gera emprego, sustenta famílias e oferece acesso fácil a pronto-a-vestir. É parte importante da economia circular, que começa noutros países (onde as peças são compradas novas), movida pelo trabalho de intermediários e comerciantes e pela procura constante de consumidores em busca de qualidade a preços acessíveis.

O preço mínimo das peças de roupa é de 10 meticais (cerca de 16 cêntimos de dólar), aumentando conforme a qualidade, que é determinada por factores que incluem a aparência, estado de conservação, moda e funcionalidade.

Peso da roupa usada na economia O dados o ciais estimam que as roupas usadas tenham contribuído com 11 milhões de dólares para o Produto Interno Bruto (PIB) de Moçambique, em 2023. É um valor pouco expressivo, cerca de 0,5% do total de cerca de 22 mil milhões de dólares que compõem o PIB. Ainda assim, é uma actividade comercial com in uência no rendimento da população, aponta o estudo “ e socio-economic impact of the second-hand clothing industry in Africa and the EU27+” (O impacto socioeconómico da indústria de vestuário em segunda mão em África e na UE27+), elaborado pela Oxford Economics e que foi encomendado pela organização não-governamental (ONG) Humana, associação sem ns lucrativos que promove a reutilização de têxtil desde 1998. O resultado coloca Moçambique entre os três maiores receptores africanos de roupa de segunda mão importada dos 27 países que integram o bloco da União Europeia (UE), a par do

Gana e do Quénia. Segundo este estudo, em 2023, o País importou de várias partes do mundo cerca de 15 mil toneladas, avaliadas em 15,4 milhões de dólares. Aproximadamente um quinto da quantidade era proveniente dos 27 países da União Europeia.

Mas os números divergem, consoante a fonte. A UN Comtrade, um repositório de estatísticas de comércio internacional das Nações Unidas, apresenta valores ainda maiores, indicando que as importações da UE27+ (7,6 milhões de dólares, correspondente a 7600 toneladas) representam quase me-

Moçambique importou cerca de 40 mil toneladas de roupa usada em 2023 e é o segundo maior importador da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), depois da Tanzânia

tade da roupa em segunda mão. As estimativas da Oxford Economics basearam-se nos dados fornecidos pela Ajuda de Desenvolvimento de Povo para Povo (ADPP) Moçambique, uma organização que importa roupa usada e parceira da Humana.

Um mercado ainda maior Ouvindo um interveniente no mercado, chegamos a valores ainda maiores. Fernando Hin Júnior, coordenador do Centro de Desenvolvimento Empresarial da Associação Comercial da Beira, entidade que trabalha com a ADPP, refere que

Moçambique importou quase 40 000 toneladas de roupa usada em 2023. O valor é mais do dobro das estimativas da Oxford Economics e UN Conmtrade, porque inclui as doações feitas no âmbito das acções humanitárias e outras regiões fornecedoras.

São dados que fazem de Moçambique o segundo maior importador ao nível da região da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), a seguir à Tanzânia. "Quem vende, obviamente, ganha algum dinheiro para poder sustentar a sua família. Também é uma oportunidade para as famílias

ROUPAS EM SEGUNDA MÃO EM NÚMEROS

50 5700

Valor do sector em Moçambique, em 2023

Pessoas que vivem desta actividade à escala nacional

1 000 000

Número total de bene ciários directos deste mercado

Peso das importações globais que são absorvidas por Moçambique

39 320

Quantidade total importada em 2023, segundo a ADPP

milhões USD empregos de famílias toneladas toneladas

2735

Quantidade importada só da União Europeia, em 2023

15,4 1,7%

milhões USD

Valor total das importações, em 2023

FONTE Oxford, ADPP e UN Comtrade (das Nações Unidas)

moçambicanas, porque a maior parte não tem condições para adquirir roupa nova", disse, citado pela Lusa.

Cerca de 80% dos moçambicanos compram roupa usada, proveniente sobretudo da Europa, e o rendimento de um milhão de famílias depende deste mercado. O País absorve 1,7% das importações globais de roupa em segunda mão, disse, acreditando estarmos perante um mercado bené co, ao promover a economia circular (reutilização de produtos), incorporando o reaproveitamento de peças descartáveis ou de muito baixa qualidade.

A indústria local Moçambique já teve uma indústria têxtil e de vestuário promissora, mas que, por diversos motivos, faliu. Há quem associe a di culdade em revitalizá-la com a entrada de artigos em segunda mão – o vizinho Zimbabué, por exemplo, já aboliu a importação de roupa usada para incentivar a produção nacional. Para a União Africana, “uma das razões da fraca industrialização ou revitalização da produção têxtil” no continente “é a facilidade de importação de artigos em segunda mão".

Mas a Oxford Economics entende que, no caso de Moçambique, a importação de roupas em segunda mão não é o principal problema para o desenvolvimento da indústria local. A consultora indica que as principais barreiras são outras, de raiz estrutural, tais como políticas económicas instáveis, falta de investimento público e privado no sector e ausência de modernização das infra-estruturas – além de um passado marcado pela guerra civil (1976-1992).

“As indústrias locais dependem frequentemente de tecidos importados e enfrentam a concorrência da moda rápida importada”, explicam os analistas da Oxford. “Embora o crescimento das importações de artigos em segunda mão tenha feito aumentar a concorrência aos fabricantes locais de vestuário em Moçambique (tal como em toda a África), este é apenas um dos desa os que o sector enfrenta”.

Paralelamente, devido à pobreza, o mercado das roupas usadas “continuaria a ser um importante fornecedor de vestuário, mesmo que as actividades locais de fabrico se expandissem”, acrescenta a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que cita pro ssionais de moda. Moçambique, hoje, não tem uma indústria têxtil e de vestuário e as mais recentes tentativas de revitalizá-la têm fracassado.

Reutilizar até à exaustão

A produção têxtil é uma das maiores responsáveis pela poluição da água e emissões de gases com efeito de estufa, globalmente. Esta é uma questão crítica em países como o Gana, onde o lixo têxtil é frequentemente descartado de maneira inadequada.

No caso de Moçambique, segundo Hin Júnior, o problema não existe, porque há umaculturadereaproveitamentodaroupa em segunda mão. "Quando a roupa usada chega aos centros de triagem, só cerca de 5% é de baixa qualidade”, que não dá para reutilizar, e mesmo essa percentagem é reciclada pelas indústrias locais de limpeza".

O resto volta a ser vendido e também pode ser transformado por alfaiates em mercados informais e ao ar livre. "Quando o consumidor já não precisa da roupa que comprou nestes mercados, passa-a para familiares e amigos. Há uma cultura de reaproveitamento. Resíduos, só os que resultam do trabalho dos alfaiates", indicou. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) estima que 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis sejam gerados anualmente em todo o mundo.

Riscos ambientais

Alguns ambientalistas são mais críticos sobre os riscos associados à entrada massiva de vestuário em segunda mão

Este sector gera emprego, sustenta famílias

e oferece acesso fácil ao vestuário: é possível comprar uma peça a partir de 10 meticais

no País. Vânia Cavel, jurista e investigadora da área da sustentabilidade ambiental, sedeada em Maputo, indica que “apesar de esta indústria desempenhar um papel central na economia de Moçambique, oferecendo opções acessíveis para milhões de pessoas, a popularidade crescente traz uma série de impactos ambientais signi cativos, muitas vezes negligenciados”. Segundo Vânia Cavel, há cinco pontos chave a ter em conta.

1

Gestão de resíduos

Apesar do benefício inicial, a gestão inadequada de roupas não vendidas gera problemas ambientais. Muitos mercados de roupas usadas carecem de siste-

mas adequados de descarte, resultando na acumulação de resíduos têxteis. Estudos mostram que, em vários pontos do globo, grandes quantidades de roupas descartadas são queimadas a céu aberto, libertando gases tóxicos e agravando a poluição do ar, um cenário que pode passar impune em Moçambique.

2 Poluição das águas e do solo

Resíduos têxteis abandonados também afectam os recursos hídricos e o solo. Durante a estação chuvosa, tecidos sintéticos e quimicamente tratados podem contaminar rios e ribeiros, prejudicar ecossistemas aquáticos e representar um risco para a saúde pública.

O VALOR DO MERCADO EUROPEU

Embora África seja o maior consumidor e bene ciário das roupas em segunda mão (absorve cerca de 35% da produção global), há um grande impacto desta indústria noutros continentes, especialmente na União Europeia.

Por exemplo, em 2023, de acordo com a Oxford Economics, o sector gerou empregos verdes e contribuiu com milhares de milhões de euros no PIB, apoiando cerca de 150 mil empregos.

O impacto é ainda mais expressivo em países da Europa Oriental, como Bulgária, Roménia e Polónia, onde as taxas de emprego foram mais altas do que a média nacional. Cerca de 80% dos empregos na indústria são ocupados por mulheres, com salários justos e oportunidades acessíveis.

3 Transporte e emissões de gases

O transporte de roupa usada, de países doadores até Moçambique, contribui para emissões signi cativas de gases de efeito de estufa. Embora o transporte marítimo seja mais e ciente, a dependência de transporte rodoviário interno agrava o impacto ambiental.

4 Incentivo à economia circular

Uma abordagem sustentável requer o fortalecimento da economia circular em Moçambique, com a criação de programas de reciclagem, desenvolvimento de indústrias têxteis e promoção de práticas de consumo consciente.

MOÇAMBIQUE CONSOME VESTUÁRIOPOUCO

Dados da Oxford Economics estimam que cada moçambicano adquire e veste, em média, 1,3 quilos de roupa por ano, o que está muito abaixo da média africana (5 quilos) e da Europa (15 quilos).

A alternativa à roupa usada é a "fast-fashion", à base de bras sintéticas e de fabrico asiático, que pode vir a ocupar o mercado da roupa de segunda mão oriunda da Europa, devido a novas regras de transferência de resíduos da UE.

Organizações como a Associação para a Promoção de Resíduos e Reciclagem (APRORE) têm defendido a criação de cadeias de valor mais sustentáveis.

Especialistas da Oxford Economics recomendam que o escoamento de roupas em segunda mão na Europa deixe de privilegiar África, para minimizar impactos ambientais. Além disso, os governos e o sector privado devem colaborar para apoiar a sustentabilidade e a equidade, mantendo diálogo entre todos os envolvidos, como as ONG, comerciantes e instituições governamentais, aumentando a consciencialização pública sobre a importância da economia circular.

Tendências globais do mercado

O mercado mundial de vestuário em segunda mão deverá atingir 350 mil milhões de dólares (cerca de 325 mil milhões de euros) até 2028 e representará 10% do mercado da moda a nível mundial até 2025. Em 2023, a venda em segunda mão cresceu 15 vezes mais depressa do que o sector de vestuário tradicional, sendo que a opção online registou

Devido à pobreza, o mercado das roupas usadas “continuaria a ser um importante fornecedor de vestuário, mesmo que as actividades locais de fabrico se expandissem”, UNESCO

um crescimento de 23% ao longo do ano, segundo dados revelados por um estudo recente produzido pela empresa de estudos de mercado GlobalData. "Há uma perspectiva de relação qualidade-preço que se tornou mais importante numa altura de forte in ação. Há um ângulo de sustentabilidade, que faz com que muitos estejam favoravelmente predispostos para a economia circular, e há um ângulo de individualidade em que os consumidores valorizam a singularidade dos produtos disponíveis em segunda mão", explica Neil Saunders, analista de retalho da GlobalData.

Saunders prevê que, até 2028, o mercado global de segunda mão cresça 77,8%. O analista espera que o sector registe o crescimento mais rápido na Ásia e valha 150 mil milhões de dólares até 2028, o que o tornará o maior mercado global, seguido da Europa.

O relatório também revela que 62% dos executivos do sector retalhista acreditam que os seus clientes se preocupam com a sustentabilidade da marca. A promoção dos objectivos de sustentabili-

O

MERCADO

DE ROUPA USADA EM MOÇAMBIQUE

É um dos sectores em expansão, com grande impacto social e económico. Vários factores in uenciam este mercado, desde a origem das roupas até à sua comercialização local. Eis as principais particularidades deste mercado em Moçambique:

PROVENIÊNCIA

A maior parte das roupas usadas que circulam em Moçambique provém de países como Estados Unidos, Reino Unido e resto da Europa, além de uma quantidade signi cativa de roupas enviadas da Ásia. Estas roupas chegam ao País através de doações ou compras em mercados internacionais, sendo seleccionadas e reprocessadas antes de serem distribuídas.

COMERCIALIZAÇÃO

Após a chegada ao País, as roupas usadas são distribuídas e vendidas em mercados informais e em lojas especializadas, como as chamadas "feiras de roupa usada".

PROBLEMAS

Embora o mercado de roupas usadas seja uma alternativa viável, falta regulamentação para o sector. É também um foco de concorrência desleal para outras áreas da cadeia têxtil e representa um risco ambiental, por falta de gestão de resíduos. Além disso, a qualidade das roupas e a escassez de peças de boa qualidade podem limitar as opções para os consumidores.

Feiras informais: são pontos de venda mais comuns, onde pequenos comerciantes compram lotes e revendem em diferentes cidades. Lojas formais: algumas das grandes cidades, como Maputo, têm lojas dedicadas à venda de roupas usadas, a preços mais elevados que nos mercados.

PREÇOS

O preço das roupas usadas pode variar consideravelmente dependendo do estado da peça, da marca, do ponto de venda, entre outros factores. No entanto, em média, os preços são muito mais acessíveis do que os de roupas novas, o que torna este mercado atractivo para muitos consumidores.

Feiras e mercados informais: as roupas podem ser adquiridas a preços que variam de 10 a 800 meticais (entre 16 cêntimos de dólar e 12,6 dólares), dependendo da qualidade e do tipo de peça. Lojas especializadas: as peças em bom estado podem custar entre 500 a 2000 meticais (entre 8 e 31,6 dólares), com variações de acordo com a marca e o estilo.

PONTOS DE ENTRADA

As roupas usadas entram em Moçambique principalmente por portos e fronteiras terrestres:

Porto de Maputo e da Beira: são os principais pontos de entrada das roupas usadas, que são distribuídas para várias regiões do País.

Fronteiras terrestres: as roupas também chegam através das fronteiras com a África do Sul e Zimbabué, muitas vezes em grandes volumes através de comerciantes informais.

dade foi uma das razões para 77% das marcas inquiridas considerarem a venda em segunda mão, sendo a terceira razão mais popular depois da aquisição de mais clientes (89%) e da geração de receitas (85%). "As marcas devem considerar a venda em segunda mão porque é um segmento em crescimento e é uma parte do mercado em que os consumidores estão interessados e com a qual se envolvem", diz o analista.

Aposta no online

A análise estima que as compras online de moda em segunda mão continuarão a crescer, uma vez que a Geração Z (os nascidos entre 1997 a 2012) e os Millennials (nascidos entre 1981 e 1996) preferem o retalho digital ao físico. O relatório conclui que 51% dos compradores da Geração Z preferem comprar artigos em segunda mão online, um número apenas superado pelos Millennials, dos quais 55% preferem comprar vestuário em segunda mão online. O individualismo e a auto-expressão são

As Nações Unidas estimam que 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis sejam gerados anualmente, em todo o mundo

factores determinantes entre estes consumidores. No entanto, os consumidores, em geral, procurarão dar prioridade ao valor em compras futuras, de acordo com o relatório, que concluiu que 59% dos compradores preferem não efectuar uma compra se não conseguirem encontrar um "bom" negócio. "Os compradores mais jovens - Geração Z e Millennials - serão os que mais contribuirão para o crescimento nos próximos cinco anos. Ambas as gerações estão muito interessadas na sustentabilidade e gostam de fazer compras em segunda mão.

A Geração Z também está a ver o seu poder de compra aumentar, o que ajudará a impulsionar os seus gastos ", a rmou Saunders.

O relatório também considera o potencial de envolvimento do Governo no mercado da segunda mão. Observa que 44% dos consumidores vêem a política têxtil circular como uma questão não partidária e 42% acreditam que o Governo deve tomar medidas legislativas para promover a moda sustentável.

Como a Crise Afecta o Negócio da Roupa

As “calamidades”, roupa em segunda mão nos mercados de Maputo, estão (literalmente) numa situação trágica. A actividade sustenta milhares de famílias, mas as manifestações pós-eleitorais abalaram a rotina de vendedores e clientes

Num dia normal, os mercados de Maputo, como o de Xikelene, Xipamanine e o de Zimpeto, estariam a fervilhar de actividade. Haveria sempre clientes junto dos comerciantes de roupas usadas, conhecidas localmente como “calamidades”. O nome nasceu nos fardos de roupa usada, doados ao país para vítimas da guerra ou calamidades naturais. Num dia normal, um comerciante conseguiria vender 10 a 20 peças, arrecadando entre 2000 e 5000 meticais, dependendo da localização da banca e da qualidade das mercadorias. Mas o cenário mudou. Nos corredores do mercado de Xipamanine, as conversas animadas entre vendedores e compradores foram substituídas pelo silêncio. As bancas estão fechadas e os comerciantes que permanecem têm uma expressão tensa no rosto. Para Júlio Mahumane, que vende roupas usadas há mais de 15 anos, as manifestações pós-eleitorais e consequentes paralisações deixaram um rasto de prejuízos. “Vai ser difícil recuperar”, diz à E&M. O clima de instabilidade dura há, aproximadamente, três meses e tudo mudou, de forma drástica. Os mercados funcionam em horário reduzido, e muitos clientes têm medo de sair de casa. O resultado? Vendas em queda livre. “Há dias em que nem vale a pena vir ao mercado. Ficamos a olhar para os corredores vazios. Os clientes têm me-

do de aparecer. Temem que haja insegurança nas ruas,” conta Júlio, com um olhar de desalento.

Ao lado, Alzira Cuna explica que “num dia bom, podia fazer até 6000 meticais, especialmente aos fins-de-semana, quando há mais movimento.”

Situação semelhante vive Maria Manjate, comerciante no mercado do Zimpeto, que recorda dias intensos, especialmente aos fins-de-semana. “Agora, quase não temos vendas. O transporte ficou difícil e as pessoas estão sem dinheiro”, lamenta.

Fátima António, vendedora há cinco anos no mercado do Xiquelene, já “há dias” que não vende nada. “O meu maior medo é não conseguir pagar o transporte para voltar para casa. Estamos numa luta diária”. Amélia Cossa, também comerciante no Xiquelene, revela que se conseguir vender cinco peças num dia, “já é uma vitória. Há dias em que volto para casa sem dinheiro.”

Além das paralisações, o preço das mercadorias importadas subiu, pressionando ainda mais os pequenos comerciantes. Alguns, como Fátima Cumbe, relatam ter recorrido a empréstimos informais para manter o seu negócio, mas as taxas de juros elevadas comprometem as margens de lucro.

Crise (também) do lado da procura Por outro lado, os compradores também ajustaram a rotina e o orçamento para en-

O abastecimento de novas mercadorias está comprometido. A importação de roupas usadas depende de cadeias logísticas que foram interrompidas pelos bloqueios nas estradas

frentar os tempos de incerteza. Luís Cossa, cliente regular do mercado de Xiquelene, explica que a instabilidade obrigou a família a priorizar itens essenciais. “Agora, só compro roupa quando é realmente necessário. Antes, comprava, pelo menos, uma vez por mês.”

VENDER PELO WHATSAPP OU EM CASA PARA CONTORNAR A CRISE

Diante dos obstáculos, os comerciantes procuram alternativas para sobreviver. Além de apostarem na redução de alguns preços, alguns decidiram avançar com vendas via WhatsApp. “Eu envio fotos das roupas para os meus clientes habituais e combino entregas, quando possível”, conta Alzira Cuna. Apesar de reconhecer os limites da estratégia, porque as comunicações também não estão estáveis, é uma alternativa à falta de contacto nos habituais mercados.

Fátima Cumbe, que também vende roupas usadas na sua comunidade, tenta ampliar a clientela atendendo directamente em casa. “As pessoas têm medo de andar nas ruas, então faço entregas ao domicílio, para ver se consigo vender um pouco mais,” explica.

Apesar das di culdades, a resiliência é uma constante entre os comerciantes, que esperam que a situação melhore e que o uxo de clientes volte ao normal. Porque, enquanto tal não acontece, a luta para sustentar as suas famílias continua, todos os dias.

Na mesma linha, Manuel Nhacale, que costuma fazer compras no Xipamanine, diz que as roupas de segunda mão “sempre foram uma opção acessível” para a família. “Mas, ultimamente, não compro. Prefiro guardar o dinheiro para despesas mais importantes, porque não se sabe quanto tempo poderão demorar os protestos. Nem sabemos quais serão as consequências no preço dos bens de consumo básicos, como alimentos, escola para as crianças e saúde.”

Como resultado, a roupa em ‘stock’ acumula-se, o que também implica um aumento de custos com o armazenamento e pressiona o preço a cair, para estimular a procura. Os comerciantes de roupa em segunda mão, na generalidade, já estão a acumular prejuízos e temem dias piores, caso a instabilidade se prolongue por mais tempo.

Impacto na cadeia de fornecimento

Além das vendas directas, o abastecimento de novas mercadorias também está comprometido. A importação de roupas usadas depende de cadeias logísticas que foram interrompidas pelas manifestações e bloqueios de estradas. “A última remessa que recebi foi há mais de um mês”, lamenta Joaquim Tovela, vendedor no Xipamanine.

“Os custos subiram, e agora tenho de vender mais caro para cobrir as despesas, numa altura em que o mais racional seria baixar o preço para atrair clientes”, explica o comerciante. Tovela é dono de uma pequena empresa de importação de roupas usadas e aponta que os bloqueios nas estradas levaram os fornecedores a atrasar as entregas. “Cada atraso significa mais prejuízo e mais incerteza”.

Uma Batalha Difícil

Para a Indústria Local

Muitos países africanos já tiveram uma indústria têxtil promissora que, por diversos motivos, caiu. Hoje, lutam para restaurá-la, mas a concorrência da roupa importada em segunda mão impõe-se

Em 2023, o Conselho da ZonadeComércioLivreContinental Africana (ZCLCA) concordou em desenvolver um protocolo para impedir o comércio preferencial de roupas de segunda mão. É que este mercado entra em choque com parte dos objectivos fundamentais da ZCLCA, principalmente o de criar um mercado único de bens e serviços no continente africano e, por conseguinte, promover o comércio intra-africano.

“Um dos principais objectivos da ZCLCA é o aumento da competitividade das economias do continente e o desenvolvimento industrial, através da diversificação e promoção da cadeia de valor regional, do desenvolvimento agrícola e da segurança alimentar. O acordo da ZCLCA visa eliminar progressivamente os obstáculos aduaneiros e não aduaneiros ao comércio de mercadorias entre os estados africanos”, argumenta a União Africana (UA), dando a entender que a importação de roupas de segunda mão compromete o comércio continental. Apesar desta manifesta intenção, nada de concreto foi feito, até agora, para materializá-la.

A ideia não é de hoje. Há cerca de nove anos, a mesma intenção tinha sido expressada pela Comunidade da África Oriental (CAO). De acordo com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), a CAO quis, em 2016, proibir todas as impor-

tações de roupa usada até 2019, para estimular a produção local. No entanto, a proibição foi considerada uma infracção ao AGOA — um mecanismo que permite que países africanos elegíveis exportem alguns dos seus produtos para os EUA sem pagar impostos — , o que acabaria por levar a intenção da CAO ao fracasso. O Quénia, por exemplo, recuou na pretensão para salvaguardar os benefícios substanciais do acordo comercial do AGOA.

Uma ‘batalha’ difícil

Alguns países, individualmente, também têm tentado levar a cabo iniciativas proteccionistas, desencorajando a importação de roupa usada. Mas estas iniciativas encontram barreiras estruturais. É que, ao mesmo tempo que a indústria têxtil local é pouco desenvolvida e incapaz de responder à crescente procura, as roupas usadas importadas são mais baratas e de melhor qualidade. O que acontece nos países que tentam restringir a venda de roupa de segunda mão?

O Ruanda, por exemplo, aumentou a tarifa de importação de roupas em segunda mão de 20 cêntimos para 2,50 dólares por quilo, em 2018, o que levou à sua remoção da lista dos países beneficiários do acordo de comércio preferencial AGOA.

Em 2023, o Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, decretou que as pessoas deveriam parar de usar roupas em segunda mão, porque desestimulam a

Ao mesmo tempo que a indústria têxtil em África é pouco desenvolvida e incapaz de responder à crescente procura, as roupas usadas importadas são mais baratas e de melhor qualidade

produção local. O Governo deste país ainda tenta desencorajar a entrada de roupas usadas no mercado.

Outros países africanos, onde o comércio de roupas de segunda mão é proibido ou limitado, incluem a África do Sul, a Etiópia e o Zimbabué.

Algumas nações tomam medidas específicas por razões de ordem sanitária. No Gana, o regulador proíbe a importação de roupa interior e lenços de segunda mão. Neste país, roupas de segunda mão são classificadas como bens de alto risco, com “graves implicações para a saúde, segurança e ambiente.”

A natureza dos problemas

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Ruanda, um dos países que proibiram o comércio de roupa usada, enfrenta uma fraca procura local de vestuário. No país, só uma pequena classe média pode comprar roupas novas, feitas localmente. A maioria da população, com baixos rendimentos, não tem dinheiro para tal e recorre à roupa importada.

Por seu lado, o Uganda proibiu a importação de vestuário, em 2023. Segundo a Oxford, a queda da indústria local deveu-se à nacionalização do sector têxtil, nas décadas de 1960 e 1970, que conduziu a uma má gestão. O sector não se modernizou, prevaleceram práticas comerciais injustas, não se desenvolveu uma cadeia de valor e faltaram competências técnicas. Tudo isto impediu o sucesso do sector do vestuário. As autoridades acreditam que o país só pode ser bem-sucedido se acabar com a importação de roupas usadas e se tomar em consideração a correcção daqueles (muitos) problemas.

A competitividade dos preços

De acordo com o Banco Mundial, o preço médio das roupas em segunda mão, em África, varia amplamente devido a factores como a localização e a qualidade das peças e dinâmicas de mercado local. Em países como Quénia, Uganda e Gana, o custo por peça pode ir de 50 cêntimos de dólar (cerca de 30 meticais) para roupas básicas a 5 dólares (300 meticais) para itens de melhor qualidade, especialmente em mercados populares. Estudos recentes mostram que a inflação prevista para África (4,9% em 2024) continua a prejudicar o comércio de roupas usadas, fazendo subir os preços em mercados informais devido à alta procura e aos custos crescentes de importação. Ao mesmo tempo, o comércio inter-regional é afectado pela quebra de 5% nas exportações africanas desde o início de 2024.

O partido do Presidente senegalês Bassirou Diomaye Faye conquistou uma maioria esmagadora nas eleições legislativas, abrindo caminho para que o novo líder do país implemente uma agenda de reformas focada na estabilização das nanças do Estado e na criação de em-

pregos. O partido Pastef obteve 130 dos 165 assentos na Assembleia Nacional, face aos 29 anteriores.

O seu antecessor, Macky Sall, cuja aliança tinha uma maioria com pouca margem na legislatura anterior, reconheceu a derrota.

África

Médio Oriente busca novos investimentos em África

O Citigroup, citado pela Bloomberg, lançou a informação: investidores do Médio Oriente estão a explorar oportunidades em África, especialmente em projectos agrícolas, de minerais críticos e energia renovável. Segundo o grupo nanceiro, as actividades de prospecção estão de olho em países como o Quénia,

para reforçar a segurança alimentar da região do Golfo, e na África do Sul, para transacções industriais e ligadas à energia renovável, diversi cando as suas economias para além do petróleo. Os investidores do Médio Oriente estão a juntar-se a empresas dos EUA e da China na procura por negócios.

Angola Biden anuncia mais 600 milhões para ferrovia

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, concluiu a visita de Dezembro a Angola, a anunciar um nanciamento de 600 milhões de dólares para um projecto ferroviário multinacional. O objectivo é reforçar o investimento dos EUA em infra-estruturas de minerais críticos em África e conter a in uência chinesa. Este compromisso junta-se aos 553 milhões de dólares oferecidos para o Corredor do Lobito, que liga a cintura de cobre da África Central à costa angolana. A visita ocorreu poucas semanas antes de Biden deixar o cargo e numa altura em que os EUA tentam recuperar terreno em relação à China, que tem vindo a consolidar a sua in uência no continente há décadas.

Con itos assolam quase 10% do continente

Cerca de 10% de África está mergulhada em con itos, com combates a espalharem-se e intensi carem-se nos últimos três anos, segundo um novo relatório da empresa de consultadoria de riscos Verisk Maplecroft. Além da guerra civil no Sudão, a insegurança agravou-se na região oeste do Sahel após uma série de golpes de Estado, refere o relatório. “Todos os indicadores apontam para uma maior intensi cação da violência em 2025”, disse Hugo Brennan, director de pesquisa da Verisk Maplecroft.

Namíbia

Primeira mulher eleita

Presidente da República

O partido Swapo conseguiu manter-se no poder, na Namíbia, apesar de registar o pior desempenho eleitoral de sempre, com a candidata Netumbo Nandi-Ndaitwah a tornar-se a primeira mulher a vencer a Presidência do país. O Swapo obteve 53% dos votos, uma queda em relação aos 65% de há cinco anos, face a um descontentamento generalizado com os elevados níveis de desemprego, corrupção e desigualdades sociais.

O Swapo governa este país da África Austral desde a independência da África do Sul em 1990.

Mali Militares libertam CEO australiano Terry Holohan

A Junta Militar que dirige o Mali libertou o director-executivo da Resolute Mining, Terry Holohan, e outros dois funcionários, poucos dias após a empresa australiana de mineração de ouro concordar em pagar cerca de 160 milhões de dólares, valor exigido pelos militares por alegados incumprimentos scais. Holohan

Nigéria

e os colegas estiveram detidos por mais de uma semana, depois de o CEO ter viajado para o país para se reunir com as autoridades scais e de mineração.

O Mali é um dos países africanos com mais minas de ouro (principal exportação do país) e é um dos maiores produtores mundiais.

Repressão mortal contra protestos populares

As forças de segurança da Nigéria usaram força excessiva para reprimir manifestações contra o elevado custo de vida, com várias provas e testemunhos de que a polícia disparou para matar, segundo a Amnistia Internacional. Multidões marcharam em várias cidades nigerianas em

Quénia

Agosto de 2024 e a Amnistia anunciou, no nal do ano, que podem ter morrido 24 pessoas, apontando para uma aparente tentativa das autoridades de encobrir as atrocidades.

A Nigéria vive uma das mais graves crises económicas da sua história.

Taxa de 1% nos safaris para conservar a natureza

O Quénia, conhecido pelos seus icónicos safaris, planeia cobrar uma taxa de 1% sobre os bilhetes de entrada em parques e reservas para nanciar a conservação da vida selvagem. As verbas deverão car guardadas num fundo próprio.

Maláui

O turismo é a maior fonte de divisas do país após as remessas da diáspora e as exportações agrícolas.

O número de visitantes nas reservas do país cresceu 43%, para 3,6 milhões no ano passado.

Rede eléctrica terá baterias de armazenamento

O Maláui está a construir o primeiro sistema de armazenamento de energia em baterias, uma tecnologia que pretende proteger a rede eléctrica de ciclones que têm afectado o país nos últimos anos, a par da destruição causada em Moçambique. A Global Energy Alliance for People and Pla-

net, um fundo que visa acelerar a transição para energia limpa, está a fornecer até 20 milhões de dólares para o projecto.

O Governo malauiano e a empresa estatal de energia também entram no projecto nanceiro, com o objectivo de concluir o sistema no próximo ano.

Zimbabué

Reunião ilegal dá pena de prisão ao líder da oposição

O líder do partido da oposição do Zimbabué foi condenado a uma pena suspensa de dois anos de prisão por organizar e participar numa reunião ilegal com outros membros do partido, anunciou a Human Rights Watch. Jameson Timba, líder interino do partido da oposição Coligação de Cidadãos para a Mudança (CCC, na sigla em inglês), e outros 34 membros estavam detidos desde Junho e foram libertados imediatamente, mas as condenações permanecem. Todos os detidos tiveram ança negada várias vezes.

A Ambição da Bolsa de Valores Moçambicana

A BVM subiu dois lugares no Índice de Mercados

Financeiros de África do Absa e lançou um novo plano estratégico. As ambições estão traçadas até 2028: a BVM quer chegar às 30 empresas cotadas e impulsionar a economia real

Texto Redacção • Fotografia D.R.

Antes dos dias de incerteza que se vivem em Moçambique, com impacto na economia do País, a Bolsa de Valores de Moçambique (BVM) lançou um novo Plano Estratégico ambicioso: a BVM quer chegar às 30 empresas cotadas e atingir uma capitalização bolsista equivalente a 35% do Produto Interno Bruto (PIB) moçambicano até 2028, com o intuito de impulsionar a economia real.

As metas constam do novo plano para o período 2024-2028, explicou o presidente do conselho de administração da BVM, Salim Valá, em entrevista à Lusa. A BVM conta hoje com 16 empresas cotadas, para uma capitalização bolsista que representa 28,54% do PIB, números que fazem com que as metas previstas sejam realizáveis, frisou. “São possíveis de alcançar e ultrapassar através de um trabalho conjunto entre os distintos actores do ecossistema, usando a experiência e as lições dos 26 anos” da bolsa moçambicana.

“O sistema nanceiro pode ser galvanizado por um mercado de capitais que propulsione a economia real” e “incentive o investimento produtivo de médio e longo prazo”, disse Valá, colocando a BVM no centro do mercado nanceiro – uma praça onde as empresas podem encontrar mecanismos para se nanciar.

Induzir “alto desempenho”

Contas feitas, seria uma forma de induzir um “alto desempenho” nas empresas, “estimulando investidores a aplicar as suas poupanças em títulos cotados e com retornos satisfatórios”, à semelhança de mercados bolsistas mais maduros. Outra das consequências seria um reforço da transparência, por via da “boa governação corporativa e integridade do mercado”,sobescrutíniodosaccionistas.

O novo plano estratégico assenta em cinco pilares “fundamentais”, como a dinamização dos mercados (accionista e obrigacionista), a modernização tecnológica, o desenvolvimento e comercialização de novos produtos, serviços e instrumentos nanceiros, a promoção do quadro normativo e a capacitação e visibilidade institucional.

Aposta nos serviços tecnológicos

O plano para os próximos quatro anos prevê também um crescimento dos actuais 26 305 titulares registados na Central de Valores Mobiliários (CVM), para “cerca de 50 000” em 2028. Desta forma, a BVM ganharia densidade e capacidade para atrair empresas “de diferentes dimensões e ramos de actividade, bem geridas, lucrativas e com ética empresarial”, a par da entrada de “investidores nacionais e estrangeiros”.

O novo plano estratégico também prevê a adopção de “mecanismos inovadores de desenvolvimento do mer-

O plano para os próximos quatro anos prevê um crescimento dos actuais 26 305 titulares registados na Central de Valores Mobiliários (CVM), para “cerca de 50 000” em 2028

cado”. Segundo Salim Valá, pretende-se “adequar as plataformas tecnológicas de negociação e da CVM aos padrões internacionais”, visando “tramitar com celeridade novos negócios, e assegurar a interligação com as bolsas de valores regionais e outras praças nanceiras de eleição”.

Os números da BVM

A capitalização bolsista da BVM cresceu quase 11% no primeiro semestre de 2024, em termos homólogos, passando a valer o equivalente a 28,6% do PIB moçambicano. De acordo com dados da instituição, esta capitalização bolsista atingiu, nos primeiros seis meses do ano, 203 852 milhões de meticais e registou um crescimento de 102,2% no volume de negócios, para 16 697 milhões de meticais.

Apesar de o número de acções cotadas continuar a corresponder a 16 empresas, o número de emissões de dívida corporativa, relativas a obrigações e papel comercial, subiu 20%, de 25 para 30, o número de títulos cotados passou de 84 para 92 títulos (+9,5%), o nanciamento total à economia cresceu 8,6%, para 338 679 milhões de meticais (4986 milhões de euros) e o número de títulos e de titulares na CVM passou de 274 para 301 títulos (+9,9%) e de 25 470 para 26 074 titulares (+2,4%).

BVM sobe dois lugares

No Índice de Mercados Financeiros de África do Absa (Absa Africa Financial Markets Index 2024), publicação anual que analisa o desempenho das praças nanceiras no continente, a BVM subiu dois lugares, da 22.ª para a 20.ª posição (entre 29 países). Moçambique ganhou dois pontos graças às “fortes perspectivas de crescimento” e à “facilitação do controlo de capitais”.

“Uma nova lei cambial entrou em vigor em Abril de 2024, permitindo a libe-

No ano de 2024, o Índice de Mercados Financeiros do Absa chegou à oitava edição, a qual revelou “a maior proporção de melhorias já registada”, segundo o CEO interino do grupo, Charles Russon

ralização de alguns controlos de capital”, nota o Absa. Entre os seis pilares analisados, o ‘ranking’ concedeu a pontuação mais elevada ao ambiente macroeconómico e transparência. O elo mais fraco da avaliação foi o reduzido desenvolvimento de fundos de pensões.

No ano de 2024, o Índice de Mercados Financeiros do Absa chegou à oitava edição, a qual revelou “a maior proporção de melhorias já registada”, indicou Charles Russon, CEO interino do grupo Absa.

“Estou con ante de que África está mais bem posicionada para aproveitar o futuro, caso as mudanças contínuas na infra-estrutura de mercado sejam im-

plementadas” para “garantir que os uxos de capital se tornem mais livres e sejam atraídos para as economias africanas, à medida que as condições nanceiras domésticas se tornem mais favoráveis”, acrescentou.

Paraconstruiroíndice,ogrupocontou como“thinktank”FórumO cialdeInstituições Monetárias e Financeiras (O cial Monetary and Financial Institutions Forum, www.om f.org). O OMFIF realizou análises quantitativas com base em informações publicamente disponíveis e entrevistou mais de 50 organizações em África, incluindo bancos centrais, bolsas devaloreseórgãosreguladores,recolhendo dados e percepções.

O Crescimento na África Subsaariana Está a Divergir

Do Departamento Africano do Fundo Monetário Internacional (FMI)

“A inversão desta divergência de crescimento é uma prioridade regional... É também uma prioridade humanitária”

AÁfrica Subsaariana incluiu, em 2024, nove das vinte economias com o crescimento mais rápido do mundo. Estas estatísticas surpreendentes, no entanto, raramente aparecem nas discussões sobre as perspectivas da região. Em vez disso, os números principais enfatizam, normalmente, o desempenho económico médio relativamente modesto. Esta discrepância re ecte um padrão de crescimento a duas velocidades, em que uma parte signi cativa da região apresenta um desempenho inferior.

Nos últimos dez anos, o crescimento nos países com utilização intensiva de recursos (RIC, sigla inglesa) da África Subsaariana – e especialmente nas economias exportadoras de combustíveis como Angola, Chade e Nigéria – abrandou acentuadamente, cando muito abaixo do crescimento nos países não-RIC (como a Etiópia, o Ruanda e o Senegal). No essencial, os rendimentos dos RIC estagnaram. Isto marca um forte contraste com a década que antecedeu 2014, quando registaram um rápido crescimento, em linha com o forte desempenho global da região.

A divergência pós-2014 entre RIC e não-RIC foi impulsionada em grande parte pela combinação de dois factores. Em primeiro lugar, os RIC, e especialmente os exportadores de combustíveis, registaram um declínio dramático nos seus preços de exportação de matérias-primas por volta de 2014–15, à medida que o “superciclo” das matérias-primas –um período de aumento acentuado dos preços – chegou ao m. Desde então, o declínio dos termos de troca foi apenas parcialmente revertido.

Em segundo lugar, e de forma crítica, o impacto do choque nos termos de troca nos RIC foi exacerbado por vulnerabilidades estruturais pré-existentes, incluindo um ambiente de negócios deciente, capital humano limitado, fraca governação e má gestão das receitas dos recursos.

A fraca governação, a corrupção sistémica e um clima empresarial desfavorável afectam a produtividade e a produção – e os efeitos são mais marcantes quando os preços das matérias-primas descem. Estas fragilidades afectam tan-

to o próprio sector dos recursos como as perspectivas de diversi cação da economia para outros sectores. Por exemplo, o potencial de roubo da produção de petróleo mina a e ciência produtiva e desvia recursos preciosos de utilizações mais produtivas.

Outro exemplo: uma governação fraca pode ser um impedimento central ao investimento do sector privado de uma forma mais ampla. Os exportadores de combustíveis fora da região, com uma governação geralmente mais forte, resistiram muito melhor à queda dos preços das matérias-primas.

A análise do corpo técnico do FMI con rma que os choques nos termos de troca têm um impacto mais forte e mais duradouro no crescimento em países com uma governação fraca. Estimamos que, por cada agravamento de 1% nos termos de comércio de um país, o crescimento a médio prazo é cerca de um queto de ponto percentual superior em países com desa os de governação mais reduzidos.

Além disso, a má gestão dos recursos agravou o choque original através de uma tendência orçamental pró-cíclica. A política orçamental nos RIC, incluindo na África Subsaariana, está geralmente muito mais correlacionada com os choques económicos, intensi cando os seus efeitos, em comparação com outros países. Por exemplo, quando os preços das matérias-primas estão elevados, muitos RIC, especialmente os exportadores de combustíveis, embarcaram em projectos de capital dispendiosos que são, muitas vezes, mal planeados e implementados. Quando os preços das matérias-primas caem, há reduções acentuadas nas despesas de capital. Além disso, muitos países exportadores também fornecem subsídios consideráveis aos combustíveis, cujo custo aumenta à medida que os preços do petróleo sobem, limitando a capacidade de poupar durante os períodos de expansão, ao mesmo tempo que excluem as despesas de desenvolvimento favoráveis ao crescimento. O país exportador médio de petróleo da África Subsaariana tem gasto, consistentemente, desde 2011, todas as suas receitas petrolíferas no ano em que foram acumuladas.

A inversão desta divergência de crescimento é uma prioridade regional, uma

Saad Quayyum
Nikola Spatafora
Sanghamitra Mukherjee
Hamza Mighri

Nos últimos dez anos, as economias intensivas em recursos da África Subsaariana registaram um crescimento muito

mais lento do que o resto da região.

Crescimento do PIB per capita, ajustado para Paridade do Poder de Compra em dólares, mediana.

Não intensiva em recursos

Não intensiva em recursos não combustíveis 2000-20142015-2023

Intensiva em recursos

Exportadores de combustíveis

Fonte: FMI, Perspectivas Económicas Mundiais. Nota: Os exportadores de combustíveis são Angola, Camarões, Chade, Guiné Equatorial, Gabão, Nigéria e República do Congo. Os países intensivos em recursos não combustíveis são Botsuana, Burquina Faso, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Eritreia, Gana, Guiné, Libéria, Mali, Namíbia, Níger, Serra Leoa, África do Sul, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabué.

vez que os RIC representam cerca de dois terços do PIB e da população da África Subsaariana. É também uma prioridade humanitária. O fraco desempenho do crescimento traduziu-se em fracos resultados de desenvolvimento –o progresso no combate à pobreza nos RIC foi efectivamente interrompido em 2014. Em comparação com as crianças noutras partes da região, espera-se que uma criança nascida, hoje, num RIC, vi-

Os países da África Subsaariana com forte governação respondem melhor a choques nos termos de troca.

Produto Interno Bruto per capita, percentagem.

Fonte: Banco Mundial, Indicadores de Desenvolvimento Mundial; e cálculos do pessoal do FMI.

Nota: A gura mostra a resposta dinâmica cumulativa do PIB real per capita a uma diminuição de 1% nos termos de troca para países com índices de governação acima da média (azul) e abaixo da média (vermelho), com base nos Indicadores de Governação do Banco Mundial.

va menos quatro anos, em média, e tenha uma probabilidade 25% superior de viver na pobreza.

O relançamento do crescimento duradouro exigirá um ambiente macroeconómico estável. Quadros scais mais prudentes e implementados de forma consistente podem ajudar a enfrentar os desa os da má gestão dos recursos — e também ajudar a garantir que o crescimento é mais resiliente no futuro.

Além disso, reformas amplas para resolver as fraquezas estruturais – reforçar a governação, melhorar o ambiente empresarial, acumular capital humano e resolver os estrangulamentos infra-estruturais – podem ajudar os países a diversicarem-se e a crescerem. E para os exportadores de combustíveis, que enfrentam a transição global para a energia verde, a necessidade de diversi cação é cada vez mais urgente.

Acumular capital humano é uma das medidas estratégicas rumo ao crescimento

África Prepara-se

Para o Efeito Trump

Analistas africanos antevêem mudanças com a nova administração norte-americana. Há impactos à vista na ONU, nas relações bilaterais (especialmente com a África do Sul) e nos custos de endividamento

Oque esperar em África de um novo mandato de Donald Trump? A consultora Oxford Economics considera que a vitória nas eleições presidenciais norte-americanas de Novembro de 2024 vai aumentar os custos de endividamento para os países africanos e deverá fazer descer os preços do petróleo – pelo menos, a crer na declaração de intenções do novo inquilino da Casa Branca.

Se Trump passar das palavras aos actos, tal deverá signi car “mais in ação nos Estados Unidos devido à imposição de tarifas, e por causa de uma política orçamental mais expansionista, o que, por sua vez, signi ca maiores custos de endividamento para África e um impulso in acionário para os países que importam bens dos EUA”, escreveu o director do departamento africano na Oxford Economics, Jacques Nel.

Um momento inoportuno

O analista aponta que este expectável aumento da in ação “surge numa altura inoportuna, já que muitos governos africanos ainda estão a lidar com as consequências orçamentais da pandemia de covid-19, da guerra na Ucrânia e da forte subida das taxas de juro nas economias avançadas”. Estas pressões, acrescentou, “vão ser reforçadas por um dólar mais forte, o que aumenta os custos das importa-

ções e intensi ca o fardo da dívida externa” para os países que, como os lusófonos Angola ou Moçambique, têm boa parte do endividamento em moeda externa.

Por outro lado, os preços do petróleo poderão descer porque “Trump abraça os combustíveis fósseis, o que aumenta a oferta, e mostra cepticismo sobre as alterações climáticas, o que poderá travar a transição verde”.

Petróleo mais barato?

A previsível descida do preço do petróleo terá um efeito misto para os países africanos, diz o analista, salientando que, “para os países exportadores de petróleo, signi ca menos receitas de exportação, ao passo que para os restantes países do continente vai representar uma pressão para fazer descer a in ação”.

Assim, conclui o director do departamento africano da Oxford Economics, “as implicações macroeconómicas previstas de uma Presidência de Trump vão, no geral, ter um impacto negativo na maioria das economias do continente, mas isto pode ser compensado pela garantia de maiores investimentos norte-americanos, o que vai requerer negociações inteligentes por parte dos governos africanos”.

In uência na ONU

A actual embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Linda omas-Green-

A previsível descida do preço do petróleo terá um efeito misto. Nos países exportadores, significa menos receitas. Para os restantes países, será uma pressão para fazer descer a inflação

eld, manifestou apoio para que África garanta um lugar permanente (sem direito a veto) no Conselho de Segurança. Com a administração Trump, o empurrão norte-americano poderá deixar de se notar. No primeiro mandato cou clara a vontade de cortar no nanciamento à ONU e favorecer relações bilaterais, pelo que o impulso para a reforma do Conselho de Segurança não deverá ser prioridade.

O regresso de Trump “apresenta aos países africanos uma oportunidade de assumirem uma posição proactiva na de nição das suas relações políticas e económicas com os EUA e no desenvolvimento de estratégias resilientes, em vez de apenas reagirem às mudanças nas políticas”, defendeu Emmaculate Liaga, investigadora sedeada em Addis Abeba para o Institute for Security Studies, (ISS).

África do Sul na corda bamba

Atenção especial devem merecer os próximos capítulos da relação entre os EUA e a África do Sul, conhecida a oposição norte-americana ao caso no Tribunal Internacional de Justiça, aberto pelo Estado sul-africano, contra Israel por causa de Gaza. E há também os laços estreitos do país com a China e a Rússia.

Na agenda, a África do Sul assumiu a presidência do G20 (desde 1 de Dezembro) e vai acolher a cimeira de Joanesburgo de 2025. O país enfrenta agora um duplo desa o: “manter a neutralidade e, ao mesmo tempo, abordar as crescentes divisões geopolíticas – procurando construir consensos entre os membros do G20 e um grupo alargado dos BRICS”, perante uma liderança mais isolacionista de Trump, escreveu Liaga.

Outras curiosidades envolvem a posição a assumir pelo novo Presidente do EUA em relação ao Quénia e se o vai preservar como aliado não pertencente à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), seguindo a mesma linha de preferência por relações directas com determinados países, em vez de fóruns multilaterais.

Há também a dúvida: será que os EUA vão reconhecer a Somalilândia, contra a crescente in uência da China no Djibuti? E ao nível da União Africana, qual será a posição acerca do mecanismo concebido para nanciar operações de apoio à paz?

A América é o maior contribuidor para este tipo de operações da ONU, mas, com Trump, a relação com as Nações Unidas parece não car a ganhar.

Consumo e ‘Status’: As Lições de Veblen

orstein Veblen é reconhecido como um dos economistas mais provocadores do nal do século XIX. As teorias sobre o comportamento humano, a relação entre economia e cultura e a crítica às instituições capitalistas tiveram um profundo impacto no pensamento económico

Thorstein Veblen, economista e sociólogo americano de ascendência norueguesa, destacou-se por unir perspectivas económicas, antropológicas e sociológicas. A abordagem interdisciplinar e a crítica contundente à procura desenfreada por estatuto e consumo excessivo são ainda hoje aplicáveis, orientando re exões sobre desigualdade social e sustentabilidade económica.

Veblen é mais conhecido pela obra-prima e eory of the Leisure Class (A Teoria da Classe Ociosa), de 1899, onde introduziu conceitos como "consumo conspícuo" e "ociosidade conspícua". O economista desa ou o pensamento económico ortodoxo ao questionar o comportamento das classes sociais num sistema capitalista, enfatizando que a economia não é apenas uma ciência matemática, mas também social e cultural.

O reconhecimento de Veblen reside na capacidade de questionar a ideia de que o mercado opera de forma eciente e de que os agentes económicos são sempre racionais. Em vez disso, Veblen argumentou que o comportamento económico é in uenciado por factores culturais, psicológicos e sociais, uma visão que precedeu e in uenciou a economia comportamental moderna.

"Consumo conspícuo "

No centro da obra de Veblen está o conceito de "consumo conspícuo", que descreve como as classes abastadas ostentam riqueza e estatuto através de gastos e actividades luxuosas. Para Veblen, tal não era apenas uma forma de satisfazer necessidades, mas também um mecanismo para estabelecer distinção social. Trata-se de um comportamento, segundo o economista, que contribui para perpetuar desigualdades e para um desperdício de recursos, fruto de economias baseadas na aparência.

Outra contribuição importante do autor é a ideia de "ociosidade conspícua", que re ecte a prática de evitar trabalhos considerados vulgares para demonstrar ‘status’ social elevado. Tal noção liga-se ao “consumo conspícuo”, enfatizando como a procura pelo prestígio molda decisões económicas.

A "classe ociosa"

Veblen também introduziu o termo "classe ociosa" para descrever os grupos privilegiados que, ao controlar recursos sem participar directamente na produção, exercem um papel desproporcional na economia. O economista e sociólogo criticava a forma como as instituições económicas perpetuavam tais dinâmicas, muitas vezes ine cazes e socialmente prejudiciais.

No centro da obra de Veblen está o conceito de "consumo conspícuo", que descreve como as classes abastadas ostentam riqueza e estatuto através de gastos e actividades luxuosas

orstein Veblen (1857-1929)

nasceu no Wisconsin, Estados Unidos. Estudou Filoso a na Universidade Johns Hopkins e recebeu o doutoramento na mesma área em 1884 pela Universidade de Yale.

De 1906 a 1909, foi professor na Universidade de Stanford e, de 1911 a 1918, leccionou na Universidade do Missouri. Trabalhou também na Nova Escola de Pesquisa Social de 1919 a 1926. Morreu poucos meses antes da Quinta-Feira Negra, que desencadearia a Grande Depressão, em 1929.

Instinto e inovação

Veblen desa ou a visão de que os indivíduos tomam decisões económicas exclusivamente racionais. Argumentava que instintos básicos — como os de trabalho e de emulação — in uenciam as escolhas humanas. Ao mesmo tempo, via a tecnologia como uma força transformadora capaz de mudar as instituições e os comportamentos sociais.

Aplicabilidade das teorias de Veblen

Embora muitas das ideias tenham sido desenvolvidas há mais de um século, a sua relevância persiste em várias áreas, nomeadamente:

• Estudos de consumo e marketing –empresas e analistas de mercado utilizam a noção de consumo conspícuo para compreender como o desejo por estatuto molda o comportamento do consumidor. O comércio de produtos de luxo, como carros desportivos e moda de marcas prestigiadas, ba-

THORSTEIN VEBLEN

seiam-se frequentemente naquela lógica.

• Sustentabilidade e economia verde –a crítica de Veblen ao desperdício é aplicável às discussões modernas sobre consumo sustentável. Movimentos a favor da economia circular e da redução do consumo excessivo encontram re exo na sua obra.

• Economia comportamental – pesquisas contemporâneas, como as de Daniel Kahneman e Richard aler, ecoam a crítica de Veblen à racionalidade económica. Estudos que analisam vieses cognitivos e decisões irracionais estão alinhados com a sua ênfase na in uência de factores sociais e culturais.

• Análisededesigualdades– académicos que estudam desigualdades, como omas Piketty, consideram conceitos ‘veblenianos’ ao explorar como o capital e a riqueza são usados para perpetuar hierarquias sociais.

• Críticas ao capitalismo – movimentos que questionam as práticas corporativas e a concentração de poder económico inspiram-se frequentemente nas críticas de Veblen às instituições económicas.

Críticas ao pensamento de Veblen Apesar de reconhecidas como relevantes, algumas das ideias de Veblen foram consideradas vagas ou excessivamente pessimistas. A visão de classes impulsionadas exclusivamente por motivações egoístas foi acusada de subestimar a complexidade do comportamento humano. Além disso, os críticos indicam que Veblen falhou em oferecer soluções práticas para os problemas que diagnosticou.

Outros questionam a abordagem interdisciplinar, argumentando que diluiu o rigor teórico típico da economia convencional. A sua escrita irónica também di cultou a popularização imediata das ideias que defendia.

O Legado Duradouro de orstein Veblen

orstein Veblen permanece como gura de referência para economistas, sociólogos e estudiosos de diversas disciplinas. A crítica à sociedade de consumo, à desigualdade e às instituições económicas oferece considerações valiosas num mundo que enfrenta problemas como as mudanças climáticas, concentração de riqueza e crises nanceiras.

Mais do que um teórico da economia, Veblen foi um crítico social que incentivou uma abordagem mais holística e ética para compreender a economia.

Ostentação de riqueza ou um dos focos nos estudos de Veblen

Vem este artigo a propósito de uma pergunta que me é frequentemente colocada nos programas de coaching executivo por coachees que, em Moçambique,trabalhamem sectoreseorganizações marcadas pela alta cultura hierárquica.

Neste artigo, convido os meus leitores/as a responderem à seguinte questão: será o Bypass Hierárquico (BH) uma prática nociva, ou uma janela para a resolução rápida de problemas?

Para complementar esta reflexão sugiro a leitura de três outros artigos que escrevi nesta coluna: “Yes Boss”1; É (Im)possível negociar com um Bully?2 “Gestor Intermédio, Espécie em vias de extinção?”3

1. O que é o Bypass Hierárquico (BH)? Na minha opinião o Bypass Hierárquico (BH) é uma prática social em que:

- A cadeia de comando formal é ignorada,

- permitindo interacções directas, - entre níveis hierárquicos distintos, - sem o envolvimento dos intermediários (v.g. chefias intermédias) previstos,

- [Intermediários] esses que asseguram um papel crucial na coordenação organizacional, - conectando estrategicamente a alta liderança e a base operacional.

- Tal prática pode ocorrer nos dois sentidos da cadeia de comando:

• Ascendente: quando um colaborador salta o superior imediato e comunica-se directamente com a alta liderança.

• Descendente: quando um gestor ou líder ignora subordinados directos e comunica com níveis hierárquicos mais baixos.

2. Características fundamentais do BH São características-chave do BH:

Ignorar a Hierarquia Estabelecida: o BH ocorre quando as rotas formais de comunicação são deliberada ou inad-

BypassHierárquico: Nunca, Jamais e em Tempo Algum?

vertidamente ignoradas, causando rupturas na ordem interna.

Quebra do Fluxo de Informação: esta prática frequentemente resulta em informações incompletas ou distorcidas, já que os níveis intermediários não têm oportunidade de agregar contexto ou de validar dados.

Impacto na Autoridade das Chefias Intermédias: ao contornar gestores ou intermediários, o BH enfraquece a autoridade e a legitimidade desses líderes dentro da equipa, dificultando o alinhamento estratégico.

Acelerador em Crises: embora possa ser usado para resolver problemas urgentes, o BH cria frequentemente prece-

nível de regulamentação e ao foco em mitigação de riscos, colaboradores frequentemente procuram decisões rápidas, contornando os canais formais.

Tecnologia da Informação: problemas técnicos urgentes frequentemente levam ao bypass, especialmente em organizações que carecem de sistemas estruturados de triagem.

Sector Público: a burocracia, o favorecimento e favoritismo e os fluxos formais podem ser contornados por pressão política ou busca por resultados rápidos.

Conhecer os sectores onde o BH é mais frequente é crucial para se adoptarem estratégias específicas de mitigação dos seus efeitos negativos, e reforçar as chefias intermédias, nestes contextos.

O Bypass Hierárquico gera custos expressivos tanto financeiros quanto comportamentais para as organizações

4. Estratégias para lidar com o BH Vejamos algumas situações comuns que originam o Bypass Hierárquico.

1. Relatório Directo ao CEO

• Causas: falta de confiança no gestor intermédio; necessidade de decisões rápidas; percepção de inacessibilidade do gestor imediato.

• Efeitos Negativos: enfraquecimento da autoridade do gestor descartado; desconfiança entre os níveis; aumento de conflitos.

dentes prejudiciais, incentivando comportamentos similares em situações que não sejam uma emergência.

Tensões Interpessoais: esta prática pode criar um ambiente de desconfiança, com gestores sentindo-se desvalorizados e colaboradores confusos sobre os canais correctos de comunicação.

3. Sectores de actividade em que mais se verifica o BH

O Bypass Hierárquico (BH) tende a ser mais prevalente em sectores de actividade que possuem i) estruturas hierárquicas rígidas, ii) alta complexidade de processos, iii) e uma forte dependência de decisões centralizadas. Alguns exemplos: Sector Financeiro: devido ao elevado

• Efeitos Positivos: maior celeridade na resolução de crises.

• Estratégias de Combate: reforço da comunicação interna; mediação de conflitos; promoção de confiança; implementação de sessões de treino e coaching sobre hierarquia; uso de mediadores internos para melhorar o fluxo de comunicação; reuniões de alinhamento semanal; avaliação de desempenho focada no engajamento hierárquico.

2. Subordinado Queixa-se Directamente ao Director

• Causas: percepção de injustiça; lacunas no processo de feedback; falta de empatia do gestor imediato.

• Efeitos Negativos: clima organiza-

hierárquicas nas organizações

cional tenso; desgaste emocional do gestor descartado.

• Efeitos Positivos: exposição de problemas estruturais na liderança.

• Estratégias de Combate: implementação de canais anónimos de feedback; formação e coaching em liderança; alinhamento de expectativas; introdução de políticas de “escalar problemas” bem definidas; auditorias regulares de canais de comunicação.

3. Acesso Directo à Equipa de TI para Resolver Problemas Pessoais

• Causas: impaciência para aguardar o fluxo normal; falta de compreensão dos processos; urgência percebida.

• Efeitos Negativos: desvio de prioridades da equipa de TI; aumento do tempo de resolução de problemas organizacionais; desmotivação da equipa técnica.

• Efeitos Positivos: resolução de questões urgentes.

• Estratégias de Combate: estabelecimento de um sistema de tickets de atendimento; consciencialização sobre o impacto de bypasses; supervisão rigorosa; implementação de um sistema de priorização de pedidos; designação de responsáveis para a triagem de solicitações.

4. Decisões de Recursos Humanos sem Consultar o Director da Área

• Causas: pressão para preenchimento rápido de vagas; falta de integração entre equipas; desejo de autonomia.

• Efeitos Negativos: contratações desalinhadas com os objectivos estratégicos; conflitos internos; aumento do turnover.

• Efeitos Positivos: agilidade em necessidades críticas de recrutamento.

• Estratégias de Combate: alinhamento prévio de directrizes; sistemas centralizados de aprovação; revisõesregularesdeprocessosdeRH; utilização de um painel de aprovação para decisões críticas; maior integração entre as equipas de RH e os gestores de linha.

5. Comunicação Directa com Clientes para Resolver Reclamações

• Causas: necessidade de resposta rápida; desconfiança no gerente de relacionamento; busca por controlo direto.

• Efeitos Negativos: contradição nas informações fornecidas; impacto negativo na experiência do cliente; desgaste do gerente de relacionamento.

• Efeitos Positivos: retenção do cliente em situações críticas.

• Estratégias de Combate: capacitação dos gestores de relacionamento; definição de um fluxo único de comunicação com clientes; criação de um sistema de gestão de reclamações; desenvolvimento de manuais de conduta para tratamento de clientes; supervisão periódica das interacções com clientes.

5. Quanto Custa o BH?

O Bypass Hierárquico (BH) gera custos expressivos para as organizações, tanto financeiros quanto comportamentais. De acordo com a Harvard Business Review (HBR, 2023), 35% das organizações enfrentam problemas recorrentes de BH e essas situações estão associadas a uma queda de até 20% na eficiência operacional devido ao (re)trabalho, duplicidade de esforços e confusão hierárquica. Além disso, 60% dos gestores relataram que decisões foram enfraquecidas por bypasses, impactando negativamente a

satisfação de colaboradores em até 15%.

Em termos de turnover, a Society for Human Resource Management (SHRM, 2022) apontou que organizações afectadas pelo BH têm um aumento de 10% nas taxas de rotatividade entre gestores intermediários, com custos estimados em 120% do salário anual de cada gestor substituído. Esses valores incluem despesas com recrutamento, integração e perda de produtividade.

6. Em conclusão

O Bypass Hierárquico (BH) é uma prática social que, embora possa parecer inofensiva, ou até útil em situações específicas, carrega implicações muito sérias para a estrutura e a cultura das organizações.

Em sectores e organizações com estruturas de comando e controlo, o BH desafia normas estabelecidas, intensifica conflitos e compromete a eficiência organizacional.

Os custos associados à prática do BH, ascendente ou descendente, são expressivos. Desde o aumento do turnover até a redução da produtividade, passando pela perda de engajamento e confiança, o impacto é profundo e multifacetado. Dados de fontes, como o de Harvard Business Review e o de SHRM, ilustram como o BH afecta directamente os resultados financeiros e a saúde organizacional, especialmente em culturas altamente hierárquicas, como é o caso de Moçambique.

Estratégias para mitigar o BH incluem a promoção de comunicação clara, o fortalecimento da autoridade dos gestores intermédios e o desenvolvimento de protocolos organizacionais robustos. Exemplos bem-sucedidos mostram que é possível transformar o ambiente corporativo, reduzindo os impactos do BH e promovendo a confiança, maior colaboração e engajamento.

As chefias intermédias, quando devidamente emancipadas, são fundamentais para evitar a desorganização provocada pelo BH, promovendo uma coordenação integrada entre os diferentes níveis organizacionais.

Assim, e na minha opinião, o Bypass Hierárquico (BH) deve ser tratado como uma prática nociva a ser evitada, como uma linha vermelha a não ultrapassar, nunca, jamais e em tempo algum.

1 https://www.diarioeconomico.co.mz/2020/09/04/ opiniao/yes-boss/

2 https://www.diarioeconomico.co.mz/2022/04/08/ opiniao/e-impossivel-negociar-com-um-bully/

3 https://www.diarioeconomico.co.mz/2022/08/31/ opiniao/gestor-intermedio-especie-em-vias-de-extincao/

Há muitas questões complexas à volta das relações

2025: Alterações Climáticas Agravam Crises Humanitárias

À saída de uma Cimeira do Clima (COP29) com avaliações muito diferentes, Moçambique cou com vários alertas para os riscos cada vez mais sérios que enfrenta. O efeito das alterações climáticas em corredores de migrações ou zonas de urbanização são exemplos dos dossiês que exigem acção

Redacção • Fotografia D.R.

São previsões, mas são sucientemente sérias para actuar já: as alterações climáticas deverão agravar-se e as consequências deverão piorar a situação humanitária já complicada da África Austral, onde se situam Angola e Moçambique, alertou a agência da ONU para os Refugiados (ACNUR).Oavisoconstadorelatório“NoEscape: On the Frontlines of Climate, Conict and Displacement” (“Sem fuga possível - Na linha da frente do clima, conitos e deslocações”, em português), lançado o cialmente durante a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas de 2024 (COP29), que se realizou em Novembro, em Baku, Azerbaijão. No documento, apresentado pelo alto-comissário do ACNUR, Filippo Grandi, e pela refugiada e activista climática Grace Dorong, salienta-se que a África Austral regista uxos populacionais complexos provocados por deslocações forçadas, migração voluntária e padrões de mobilidade circular.

As alterações climáticas, no entanto, “são susceptíveis de complicar ainda mais esta dinâmica”, o que torna ainda mais vivo o clamor de apoio nanceiro para lidar com os efeitos das alterações climáticas.

Corredores passam por Moçambique

“Os principais corredores, como os que vão do Zimbabué e de Moçambique para a África do Sul, ou da República Democrática do Congo para a Zâmbia, poderão ser palco de tensões acrescidas à medida que os recursos se tornam mais escassos e os movimentos populacionais aumentam”, detalha. Este é o primeiro relatório climático do ACNUR e “explora a intersecção entre o clima e a deslocação, as lacunas no actual nanciamento climático, o futuro da protecção jurídica para as pessoas afectadas e a necessidade de investimento em projectos de resiliência em contextos frágeis e afectados por con itos.”

Urbanizar no contexto do êxodo rural

Outro especialista alertou para a relação entre fenómenos meteorológicos e migrações, no contexto da COP29. De acordo com o investigador Pedro Vicente, as alterações climáticas são uma oportunidade para reformar políticas públicas no continente africano, especi camente em termos agrícolas e de reorganização urbana. “O continente africano é o que mais sofre com as al-

No contexto de êxodo rural, é necessário fazer uma boa integração, inclusive no mercado de trabalho, através de formações profissionais para melhorar as aptidões, particularmente as dos jovens

terações climáticas, devido à pobreza e à incapacidade de responder às mesmas, nomeadamente na agricultura, em que há mais secas, e nas cidades, onde há eventos mais extremos, como inundações”, explicou um dos fundadores do centro de investigação NOVAFRICA, da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

Segundo o Diário Económico (www. diarioeconomico.co.mz) e Lusa, Pedro Vicentereferiuque“éprecisoolharpara a questão da urbanização” e “da saída das pessoas do ambiente rural para as cidades.” No contexto de êxodo rural, é necessário fazer uma boa integração, inclusive no mercado de trabalho, através de formações pro ssionais para

875 453 hectares

A des orestação em Moçambique afectou 875 453 hectares em quatro anos, apesar de ter recuado durante 2022, atingindo sobretudo as províncias de Niassa e da Zambézia. Uma parte signi cativa desta desmatação tem vindo a registar-se na oresta do Miombo que, além de Moçambique, cobre outros dez países da África austral, incluindo Angola.

melhorar as aptidões, particularmente as dos jovens.

“Falta motivação política”

“Estas medidas estão relacionadas com um conjunto de políticas públicas ao nível das cidades que alguns governos não estão muito orientados para executar”, alertou. O investigador deu o exemplo de Moçambique, onde o NOVAFRICA tem projectos, como sendo um caso de país que não tem “motivação política para abraçar a questão da urbanização porque não quer fazê-la”.

“A urbanização [em Moçambique] acontece porque as pessoas não têm alternativa, não por ser uma política pública”, pois o Governo foca-se mais, ale-

FUNDOS AUMENTAM, MAS AQUÉM DO ESPERADO

Os países ricos comprometeram-se na COP29 a conceder mais fundos aos mais pobres ameaçados pelas alterações climáticas. Na reunião de Novembro em Baku, capital do Azerbaijão, o representante dos 45 países mais pobres do mundo denunciou um acordo “pouco ambicioso”, referindo-se aos 300 mil milhões de dólares anuais até 2035 de ajuda dos países desenvolvidos. Actualmente, o valor ronda 100 mil milhões de dólares anuais. “O montante proposto é lamentavelmente baixo”, denunciou a delegada indiana Chandni Raina, ao criticar a presidência da COP29.

• O compromisso nanceiro foi assumido pelos países europeus e pelos EUA, Canadá, Austrália, Japão e Nova Zelândia, sob a égide da ONU, para os países bene ciários se adaptarem a inundações, ondas de calor e secas. Mas também para investirem em energias com baixas emissões de carbono, em vez de desenvolverem as economias a carvão e petróleo, como fazem os países ocidentais há mais de um século.

• Os europeus, os maiores doadores mundiais de nanciamento climático, não estavam dispostos a ir além do montante acordado, numa altura de restrições orçamentais e de convulsões políticas. Mas acreditam que contribuíram para um resultado histórico. Os países mais pobres e os estados insulares do Pací co, das Caraíbas e de África discordam: exigiam o dobro ou mais.

• “Nenhum país conseguiu tudo o que queria, e estamos a sair de Baku com uma montanha de trabalho para fazer “, a rmou Simon Stiell, chefe da ONU para o clima.

• O Greenpeace África classi cou como “colonialismo climático” o acordo nanceiro na COP29: “A oferta do Norte global não é apenas inadequada: é um insulto a todos os africanos que já estão a sofrer com as catástrofes climáticas. Isto não é nanciamento climático, é colonialismo climático”, a rmou Fred Njehu, estratega político pan-africano da organização ambientalista, em comunicado.

gadamente, no desenvolvimento rural, contextualizou. Outra questão especíca de Moçambique é que não existem propriedades, apenas concessões, e “isso faz parte de um conjunto de políticas públicas que podem ser alteradas”, disse. Por exemplo, “a terra é propriedade do Estado e não pode ser vendida ou, por qualquer outra forma, alienada, hipotecada ou penhorada”.

O responsável defende que os governos africanos devem chamar mais a atenção para o facto de estarem a ser prejudicados pela poluição de outras nações e pedir mais ajuda.

No entanto, as recentes convulsões sociais em Moçambique devem relegar os dossiês para níveis de prioridade inferiores.

Trocar dívida por investimento?

Moçambique esteve presente num debate sobre a iniciativa de Portugal

Palavra suaíli para ‘brachystegia’, miombo é um género de árvore que inclui um grande número de espécies e uma formação orestal que compõe o maior ecossistema orestal tropical em África, sendo fonte de água, alimento, abrigo, madeira, electricidade e turismo.

ACORDOS PELO MEIO AMBIENTE DE MOÇAMBIQUE

A Tra gura, um dos maiores ‘players’ mundiais no comércio de matérias-primas, incluindo hidrocarbonetos, vai colaborar com Moçambique para desenvolver projectos de restauração orestal em larga escala, conforme um acordo assinado em Baku, à margem da COP29. Em causa está o Projecto Regional de Restauração da Floresta do Miombo, no âmbito da Implementação da Declaração de Maputo sobre o Maneio Sustentável e Integrado deste ecossistema orestal com cerca de 300 milhões de habitantes, em África, segundo informação do Ministério da Terra e do Ambiente. “O objectivo é produzir créditos de carbono para a sua comercialização no mercado voluntário”, anunciou. O fundo internacional para o clima Mitigation Action Facility (MAF) doou 18,6 milhões de euros para a iniciativa moçambicana, que visa a construção de infraestruturas sustentáveis para o tratamento de resíduos no País. Trata-se de um programa de economia circular, criado em Agosto de 2020, e que abrange uma área em que Moçambique tem desenvolvido esforços.

de troca de dívida por projectos ambientais. E ouviu o primeiroministro de São Tomé e Príncipe, Patrice Trovoada, admitir que o peso da dívida tem di cultado a mitigação das alterações climáticas no seu país, elogiando o mecanismo. A troca esteve em foco na última COP29. O chefe de Governo referia-se a uma forma inovadora usada por Portugal para acordar com Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, em 2023, um alívio da dívida bilateral por troca com investimentos climáticos no mesmo valor, envolvendo empresas portuguesas, sendo que o acordo assinado com Cabo Verde prevê 12 milhões de euros e o de São Tomé e Príncipe é de 3,5 milhões de euros.

Nos encontros de Baku, representantes das delegações de Angola e Moçambique manifestaram também interesse em assinar protocolos semelhantes com Portugal.

Países africanos querem mais recursos para a mitigação de eventos climáticos extremos
MIOMBO

especial inovações daqui

56 E-BUSINESS

A Associação Moçambicana das Pequenas e Médias Empresas (APME), em parceria com a Startup Africa News, desenvolveu uma plataforma capaz de congregar todas as informações empresariais de interesse para os mercados, com foco na internacionalização. Saiba o que é e como funciona.

Jovem moçambicana cria uma app que permite às mulheres grávidas ter acesso a cuidados pré-natais

As notícias da inovação em Moçambique, África e no Mundo

Plataforma Mostra Empresas ao Mundo

As micro, pequenas e médias empresas (MPME) desempenham um papel fundamental no desenvolvimento económico e na criação de emprego. No entanto, a adopção de novas tecnologias ainda representa um problema para muitas. Felizmente, esta barreira pode ter os dias contados

Muitas empresas nacionais enfrentam barreiras, todos os dias, como falta de acesso a financiamento, ausência de capacidade técnica em matérias de gestão ou dificuldades na aquisição de meios tecnológicos. A insuficiência de plataformas para apoiar as empresas na integração de ferramentas tecnológicas torna o cenário ainda mais complicado. Para sanar esta lacuna, a Associação Moçambicana das Pequenas e Médias Empresas (APME) uniu-se à Startup Africa News e desenvolveram a Plataforma de Inovação e Desenvolvimento de Negócios para Startups.

De acordo com Inocêncio Paulino, presidente da mesa da assembleia da APME, a plataforma actuará como um veículo digital, oferecendo soluções personalizadas que vão desde a exposição do negócio ao acesso a investidores.

Ao promover a adopção de tecnologias, esta iniciativa poderá também aumentar a produtividade, melhorar a eficiência operacional e ampliar o alcance de mercado por parte das MPME, permitindo que se posicionem, de forma estra-

tégica, num ambiente cada vez mais digitalizado e competitivo.

“A ideia é que os empresários tenham maior capacidade técnica e tecnológica de desenvolverem negócios com os seus pares, primeiro, da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), depois, de toda a África, e, em último plano, da União Europeia (UE), entre outros países do mundo”, esclareceu Inocêncio Paulino.

Que vantagens traz?

Tendo em conta a dificuldade de acesso a financiamento, Paulino explicou que, através da plataforma, estarão expostas ideias de negócios a investidores de todo o mundo. Uma montra para “possibilitar o cruzamento de informação com potenciais investidores. Muitas vezes, as empresas ou os financiadores procuram planos de investimento e enfrentam dificuldades para aceder a estes. Através desta plataforma, será possível terem acesso aos planos de negócio de cada empresa”, explicou.

Negócios numa aldeia global Joseph Mata, representante da Startup Africa News, explicou à E&M que esta

Estão registadas na plataforma 750 empresas, ou seja, 60% das que fazem parte da APME. Com o registo, ganham acesso a credenciais para poderem expor ideias e produtos na Internet

Texto Ana Mangana • Fotogra a D.R.
Presidente da Mesa da Assembleia da APME

MATA

Responsável de Negócios da Startup África News

<Na era da tecnologia, pretendemos incluir os agentes económicos que se encontram em zonas rurais e que, muitas vezes, não têm a possibilidade de criar um website=, Startup Africa News

quer ajudar as empresas a expandir os negócios além-fronteiras e acabar com a exclusão dos negócios que se encontram em zonas rurais, com dificuldades de acesso à Interneteque,muitasvezes,nãotêmcondições para crescer online.

“Quando se fala de startups, referimo-nos a empresas emergentes. Na era da tecnologia, pretendemos incluir os agentes económicos que se encontram em zonas rurais e que, muitas vezes, não têm a possibilidade de criar um website ou diferentes canais de comunicação para estarem expostos no mercado”. Através da plataforma e de iniciativas com os governos locais, novos caminhos podem ser percorridos. “Não é uma coi-

sa automática, mas é um primeiro passo que estamos a tentar dar para mudar o cenário em Moçambique.”

Estão registadas na plataforma 750 empresas, ou seja, 60% das que fazem parte da APME. Com o registo, ganham acesso a credenciais para poderem expor ideias e produtos na Internet. “Queremos crescer e chegar a mais de 30 mil pequenas e médias empresas em todos os sectores de actividade.

O papel da investigação

A investigação “é muito importante para o ambiente de negócios”, pelo que “serão criadasligaçõesainstituiçõesdeensinotécnico-profissional e universidades, no senti-

do de promover a investigação e o desenvolvimento de novas ideias”, acrescentou Inocêncio Paulino.

O acesso à Plataforma de Inovação e Desenvolvimento de Negócios Para Startup é feito através do endereço https:// startupafrica.news/. Dentro da plataforma, poderá encontrar informações sobre diferentes empresas, eventos e várias publicações e, de seguida, pesquisar por APME, para ter acesso a toda a informação referente às empresas que fazem parte da associação ou, simplesmente, usar o endereço https://www.apme.org.mz/ index.php.

Para ter acesso a todas as funcionalidades, as firmas devem pertencer à associação, cumprindo os requisitos habituais para novos sócios. Outros serviços da APME incluem acções de formação, acesso a fóruns, conferências e missões empresariais.

As MPME representam quase 100% do sector produtivo moçambicano, sendo responsáveis por gerar empregos e promover a inovação. A criação da plataforma é mais uma iniciativa para ajudar as empresas a crescerem na Internet.

GESTAÇÃO SAUDÁVEL

Cuidado Materno na Palma da Mão

Em Moçambique, muitas mulheres grávidas enfrentam longas caminhadas para receber cuidados médicos, especialmente nas zonas rurais. A plataforma “Gestação Saudável” surge como solução tecnológica que aproxima os serviços essenciais, oferecendo acompanhamento remoto e reduzindo riscos durante a gravidez

Afalta de acesso a cuidados médicos para mulheres grávidas em Moçambique é um problema crítico, agravado pelas grandes distâncias até às unidades de saúde nas áreas rurais.

Esta realidade contribui para complicações que poderiam ser evitadas com um acompanhamento adequado desde o início da gravidez. Para enfrentar a questão, a plataforma “Gestação Saudável” foi desenvolvida para ligar profissionais de saúde a mulheres grávidas, sem que estas precisem de sair de casa. A aplicação móvel vai estar disponível em breve, para uso público.

Além das funções mais avançadas, vai permitir que as mulheres recebam informação sobre saúde materna, alertas para consultas e lembretes para cuidados essenciais. Depois, além das consultas virtuais, vai dar orientações sobre nutrição e sinais de risco, ajudando a reduzir as complicações associadas à gestação sem acompanhamento. A aplicação foi criada por Michela Tsope, jovem moçambicana for-

mada em Engenharia de Tecnologias e Sistemas de Informação pela Universidade Joaquim Chissano (UJC), como parte do projecto final de licenciatura. “A ideia é oferecer uma ferramenta que facilite o acesso a informações fiáveis e incentive hábitos saudáveis durante a gestação”, explicou.

A plataforma foi testada em colaboração com o Hospital Geral José Macamo, em Maputo, envolvendo um grupo de gestantes e profissionais de saúde. Apesar das dificuldades de algumas utilizadoras em comprar acesso à Internet ou ter ‘smartphones’, a reacção inicial foi positiva, com resultados encorajadores do sistema em áreas urbanas e arredores.

Como funciona?

“Gestação Saudável” é uma plataforma online com várias facetas. Por um lado, permite às gestantes consultarem informação sobre alimentação e exercícios adequados para uma gravidez saudável. Por outro, permite marcar consultas ou estabelecer ligação a médicos e especialistas para esclarecer dúvidas. Embora a plataforma ainda não esteja disponível, Michela revelou planos

A plataforma vai permitir que as mulheres grávidas tenham consultas virtuais e recebam informações sobre saúde materna, alertas e lembretes para cuidados essenciais

Área

Saúde materna

Plataforma

Gestação

Saudável

Criação 2024

Criadora

Michela

Tsope de implementá-la inicialmente, em parceria com unidades sanitárias. “Pretendemos que a plataforma seja uma extensão dos serviços de saúde, permitindo maior eficiência e proximidade entre as gestantes e os profissionais”, referiu. A engenheira enfrenta agora o desafio de captar financiamento pa-

Texto Ana Mangana • Fotogra a

ra que o projecto fique plenamente operacional. “Muitos projectos promissores não avançam por falta de recursos, mas acredito que a plataforma ‘Gestação Saudável’ pode fazer a diferença, porque é importante para a vida de muitas mulheres”, afirmou. Esta não é a primeira experiência de

Michela Tsope em projectos tecnológicos. Já participou noutro projecto inovador, uma plataforma para o mapeamento e monitorização de infra-estruturas sanitárias, premiada pelo Ministério da Saúde.

Mas, infelizmente, não foi implementada por falta de dinheiro, um problema

recorrente para soluções tecnológicas promissoras em Moçambique.

Mais do que um simples aplicativo, esta ferramenta se torna numa verdadeira parceira das mulheres durante a gravidez, oferecendo suporte, conhecimento e segurança necessários num momento tão transformador.

Ciência

EdTech Moçambicano vence concurso de startups na Holanda

Edmilson Novele destacou-se na competição global de startups “Get in The Ring”, realizada na Holanda, após vencer a fase regional em Moçambique. O evento reúne startups de mais de 200 cidades, oferecendo uma plataforma para soluções inovadoras e enfrentarem desafios globais.

Representando Moçambique, Novele apresentou a sua startup Tivane Game Studio, uma plataforma de ensino direccionada para crianças.

Jovem cria dispositivo para detectar pesticidas em alimentos

Sirish Subash, um adolescente indiano de 14 anos residente na Geórgia, desenvolveu o PestiSCAND, um dispositivo portátil que promete detectar pesticidas em frutas e alimentos. A inovação rendeu-lhe o título de “America’s Top Young Scientist” e um prémio de 25 mil dólares numa concurso da multinacional 3M.

Durante quatro meses, Sirish trabalhou com um cientista da 3M para aperfeiçoar o dispositivo. Os finalistas foram avaliados pela aplicação de conceitos STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia

e Matemática), pelo pensamento inovador e pela capacidade de inspirar. O PestiSCAND surgiu após o jovem descobrir que alguns produtos agrícolas têm altas taxas de resíduos de pesticidas ligados a doenças como cancro e Alzheimer.

A ferramenta usa luz reflectida em frutas e legumes para identificar pesticidas, aplicando Inteligência Artificial. Foram feitos mais de 12 mil testes em alimentos como maçãs, espinafres e tomate para validar o projecto, demonstrando o seu potencial para melhorar a segurança alimentar.

InfoTech Tecnologia contra fake news: startup norueguesa lança ferramenta

A desinformação continua a ser uma ameaça global, intensificada pelo uso da Inteligência Artificial para criar conteúdos falsos com som e imagem. Em Mo-

çambique, após as últimas eleições gerais, esta realidade ficou evidente nas redes sociais. Para combater o problema, a startup norueguesa Factiverse desenvolveu uma ferramenta dirigida a empresas para a verificação de factos em tempo real. A solução analisa textos, vídeos e áudios, ajudando empresas a economizar tempo e a reduzir riscos reputacionais e legais.

A Factiverse verifica informações em motores de busca como o Google e o Bing, além de usar bases de dados académicas.

A ferramenta já é utilizada por empresas de comunicação social e de finanças, incluindo um dos maiores bancos da Noruega. A startup acredita que a sua solução pode transformar a forma como as instituições avaliam informações online, fortalecendo a confiança pública e promovendo um ambiente digital mais seguro e transparente.

A ideia nasceu da necessidade de melhorar a educação, especialmente em regiões de difícil acesso no País. Esta foi a primeira vez que a Tivane Game Studio participou num concurso deste tipo, em que cada criador tem um tempo definido para fazer a sua apresentação. Agora, a empresa procura mais parcerias para transformar a educação em Moçambique e ambiciona consolidar-se como uma referência.

Conectividade Moçambique tem Internet de baixa qualidade

Moçambique continua longe dos países africanos com melhor ligação à Internet, segundo o relatório “The State of Mobile Network Experience in Africa” produzido pela Open Signal. O estudo avaliou 27 países africanos considerando critérios como velocidade média de ‘download’ e qualidade.

Moçambique ocupa a 19.ª posição, à frente de nações como Zâmbia, Camarões e Angola, que está em último lugar. A África do Sul lidera com uma velocidade de ‘download’ de 34,5 Mbps, mais de 50% superior à do segundo colocado, o Zimbabué, e quatro vezes superior à de Angola.

Quase 60% dos países avaliados têm um índice de qualidade inferior a 30%, reflectindo problemas em oferecer serviços digitais básicos. Trata-se de uma realidade que destaca o desafio em assegurar conectividade em grande parte do continente, onde redes instáveis prejudicam o acesso a serviços essenciais como educação, telemedicina e transacções financeiras.

A Open Signal recomenda que os países africanos invistam em infra-estrutura, regulação, capacitação digital, acesso a dispositivos e adopção de tecnologias como 4G e 5G, para promover a inclusão digital e impulsionar o desenvolvimento económico.

66 68 69

ESCAPE

Silvan Safari

Todas as atracções numa só estância turística na África do Sul

GOURMET

Novos sabores

Conheca as tendências gastronómicas globais para 2025

ADEGA Tendências 2025

O poder das embalagens e garrafas na qualidade dos vinhos

72 70

EMPREENDEDOR

Jerry Empreender transformando barro e metal em obras de encher o olho

AGENDA Janeiro

Todos os eventos globais que não pode perder, incluindo as artes

74

VOLANTE Iate D60

Ao leme da moderna marca espanhola de iates, a António Yachts

Turistas na Pirâmide de Gizé, no Egipto

ÁFRICADOSUL

Todas as atracções possíveis num só lugar: o Silvan Safari Lodge

Silvan: Aventura e Luxo

A INICIATIVA WORLD

TRAVEL AWARDS distinguiu o Silvan Safari Lodge, na África do Sul, como o mais luxuoso do género em África. Este é um lugar para desfrutar da vida selvagem num espaço de conforto e requinte onde a arquitectura é uma das jóias. O nascer do sol e o crepúsculo criam palcos perfeitos para fotografias inesquecíveis. Os amantes de viagens que apreciam um toque de luxo têm tudo aqui.

A diferença começa na cozinha

Há elementos que desempenham um papel importante no estatuto do Silvan Safari Lodge, a começar pela cultura gastronómica. O pequeno-almoço, o almoço e o jantar incluem opções deliciosas de refeições sul-africanas ou cozinha internacional. E para uma experiência completa, há a opção de refeições servidas em plena natureza.

Safari Lodge Icónico Premiado

Os chefs garantem pratos com ingredientes frescos, de origem local e acompanham-nos com um copo de vinho. Lembre-se, a África do Sul é um país de produção vinícola à escala internacional. Por isso, cada refeição pode ser acompanhada por um copo escolhido a partir de um catálogo refinado. Um jantar ao luar ou à luz das estrelas está entre as preferências dos visitantes.

Serviço de topo Os funcionários simpáticos e prestativos ajudaram o espaço a ganhar renome internacional. Estão prontos para atender aos pedidos de hóspedes com restrições alimentaresoupreferênciasespecíficas.Aomesmotempo,aequipa de transporte proporciona várias opções de percurso, incluindo voos para Sabi. Há ainda pessoal dedicado para

quem pedir um safari de caça privado ou um tratamento de spa, cujo poder reside nos elementos tradicionais de relaxamento e cura.

Arquitectura de encher o olho

A paisagem arquitectónica do Silvan Safari Lodge é uma maravilha da engenharia. Apresenta uma mistura de design clássico e modernos, o que não é comum no Mzansi. A madeira e os tijolos sustentam as estruturas do alojamento e são complementados por janelas do chão ao tecto para permitir a entrada de mais luz natural. É fácil ver a vida selvagem através destas grandes janelas a partir do conforto de uma cabana. O nascer e o pôr-do-sol tornam-se ainda mais convidativos a partir do alojamento. A decoração interior consiste numa mis-

Silvan Safari Lodge na Reserva de Caça de Sabi Sands, África do Sul

tura de peças tradicionais e modernas.

Suítes luxuosas

O Silvan Safari Lodge tem seis suítes luxuosas, cada uma com um deque privado, piscina e muito espaço. Os pátios têm vista para a extensa Reserva de Caça Sabi Sand e são apresentados como um local perfeito para relaxar e apreciar a natureza.

Além disso, cada suíte tem o nome de uma árvore indígena e apresenta uma decoração rústica e moderna. Um duche ao ar livre em cada uma torna a experiência ainda mais imersiva. Por último, existem dois Land Rovers atribuídos às seis suítes para uso dos ocupantes nas deslocações pela reserva.

Onde está localizado?

O Silvan Safari Lodge está situado no coração da Reserva de Caça Sabi Sand. A proximidade com o Parque Nacional Kruger aumenta a lista de atracções e experiências. Sabi faz parte do Grande Kruger, onde vivem dezenas de animais selvagens, incluindo leões, búfalos, leopardos, elefantes e rinocerontes. Os visitantes podem viajar através do Aeroporto Internacional Kruger Mpumalanga de Nelspruit ou do Aeroporto de Skukuza, dentro do parque Kruger. Voos regulares ligam estes aeroportos às principais cidades sul-africanas, como Joanesburgo, Cidade do Cabo e Durban.

São necessárias cinco a seis horas de carro para chegar à Reserva de Caça Sabi Sands a partir de Joanesburgo. Alguns hóspedes optam por uma viagem de carro da cidade até ao Silvan Safari Lodge para apreciar a paisagem que Mzansi tem para oferecer. Uma floresta única dá as boas-vindas ao lodge, proporcionando serenidade e uma experiência em comunhão com a natureza.

Texto Ana Mangana

Os

chefs garantem pratos com ingredientes frescos, de origem local e acompanham-nos com um copo de vinho.

Lembre-se, a África do Sul é um país de produção vinícola à escala internacional
Safari no Parque Nacional Kruger
Silvan Safari Lodge Restaurante, África do Sul

As tendências para 2025 revelam um movimento claro em direcção a uma gastronomia mais consciente, personalizada e tecnológica

GASTRONOMIA

EM2025

Dos ingredientes à automatização, que a saber as grandes inovações dos grandes chefs

O UNIVERSO GASTRONÓMICO está em constante transformação e, a cada ano, surgem novas tendências que rede nem a maneira como nos relacionamos com a comida. Com 2025 acabadinho de começar, é hora de olhar para a frente e entender quais serão as novidades que ditarão o rumo da gastronomia no mundo.

Da valorização de ingredientes locais até às inovações tecnológicas na preparação, o portal brasileiro “Cozinha sem Cortes” indica os caminhos a seguir por pro ssionais de cozinha e entusiastas da gastronomia.

1. Ingredientes nativos

A procura por uma culinária mais consciente e ligada à natureza tem crescido de forma expressiva. Em 2025, vamos assistir à utilização cada vez maior de ingredientes subutilizados, como mandioca e plantas nativas que promovem a biodiversidade.

O que levar à mesa?

Vários chefs estão a explorar maneiras de trazer estes ingredientes para o centro dos pratos, valorizando a produção local e reduzindo o impacto ambiental. A sustentabilidade não é apenas uma tendência, mas uma necessidade que chegou para car, e os restaurantes que conseguirem integrar essa prática estarão à frente do mercado.

2. Dietas baseadas em ADN

A tecnologia estará ainda mais integrada na gastronomia, permitindo criar dietas personalizadas baseadas no ADN do consumidor.

A abordagem poderá contribui para uma alimentação mais saudável e adequada à saúde de cada pessoa. Restaurantes que adoptarem a alimentação personalizada poderão cativar mais clientes.

Novos Pratos de

3.

A fermentação selvagem é uma técnica que vem ganhando espaço nas ementas e em 2025 promete ser ainda mais explorada. A técnica, que utiliza microorganismos na fermentação de alimentos, é capaz de criar sabores complexos e novas texturas que surpreendem o paladar. Pães, conservas e bebidas fermentadas com ingredientes locais são alguns dos exemplos a observar, enriquecendo a gastronomia com notas ácidas, intensas e exclusivas.

4. Valorização do produtor local

A cozinha regenerativa vai além da sustentabilidade, procurando revitalizar ecossistemas de onde os alimentos são provenientes. Traba-

2025

lhar directamente com agricultores conscientes de práticas de protecção na cadeia produtiva liga os consumidor à origem dos alimentos, criando um senso de responsabilidade e respeito pela comida servida no prato.

5. Automatização

A tecnologia é aliada da gastronomia e a utilização de robôs na preparação de alimentos deverá continuar a crescer. São mais e cientes e ajudam a inventar experiências personalizadas e memoráveis. Imagine ter um robô a preparar um prato exclusivo baseado nas suas preferências alimentares. Trata-se de uma realidade que promete revolucionar o sector.

Texto Celso Chambisso

Novas texturas

As marcas também contam com as embalagens para maximizar a experiência do consumidor e estimular novos sabores através de garrafas pensadas para consumo individual

O Poder do Design

Para Levar Bebidas à Mesa

ACADAANO, a Verallia, líder europeia na produção de garrafas e outras embalagens de vidro, apresenta as tendências do mercado para vinhos e bebidas espirituosas. A apresentação feita no ano passado, em conjunto com a agência Barcelona Morels, visa inspirar e destacar os principais desenvolvimentos do sector e as direcções futuras. O design é fundamental. Até 2025, quatro grandes tendências emergem em resposta a consumidores que procuram novas experiências e dão prioridade ao bem-estar, acima de tudo.

Quem são os consumidores?

Re ectindo sobre as novas práticas de consumo de vinhos e bebidas espirituosas, a análise de tendências de 2025 é feita através do olhar a três diferentes per s de consumidores: os “eco-activistas”, preocupados com os desa os ambientais, preferem marcas comprometidas com a sustentabilidade (produção local, embalagens recicláveis), os “consumidores conscientes”, focados no bem-estar, procurando bebidas que estejam em harmonia com os seus objectivos holísticos (baixo teor alcoólico, com ingredientes naturais) e os “experimentais”, em constante procura por novos sabores.

Através destes per s, a Verallia indica quatro grandes tendências, que ilustram a evolução da indústria do vinho e das bebidas espirituosas:

1 2 3 4

O retorno da ética e da sustentabilidade. As marcas apostam na autenticidade e abraçam a sobriedade das embalagens e as suas imperfeições. Aqui, há uma aposta na reutilização de garrafas e utilização de ingredientes não convencionais com o objectivo de respeitar os recursos do planeta.

Menos álcool, mais bem-estar. Diante da forte procura por bebidas com baixo teor alcoólico, surgem sabores complexos que exigem apresentações ‘premium’, cheias de vitalidade. Experiências personalizadas. Através de sabores inéditos, as fronteiras entre os diferentes tipos de álcool diluem-se com o avanço das bebidas “ready to drink” para misturas de sumos com licores de baixo teor alcoólico e coquetéis à base de vinho, entre outros. As marcas também contam com as embalagens para maximizar a experiência do consumidor e estimular novos sabores através de garrafas pensadas para consumo individual.

A procura por valor agregado. A ênfase é colocada no design sensorial para criar experiências de luxo. Esta procura de valor acrescentado traduz-se também no surgimento de edições limitadas e de licores de autor.

Cada perfil, sua garrafa

“Compreender os novos per s de consumidores e as suas preferências por bebidas e ocasiões de consumo é crucial para garantir o sucesso”, explica Elena Andia, directora de Marketing da Linha Selectiva. Para a marca que fornece as garrafas, a tarefa implica “uma forte consideração por desa os ambientais, num regresso a valores naturais e a algum minimalismo.”

Texto Celso Chambisso

Propostas de novos designs

Em resposta às tendências, a Verallia propõe novos desenhos para garrafas.

GRAÇA

Uma garrafa elegante e contemporânea perfeita para novos vinhos brancos e rosés mais leves.

HERANÇA

Um formato intemporal para bebidas espirituosas ‘premium’, com tradição e modernidade no mesmo design.

LORA

Um design icónico para vinhos espumantes com formas arredondadas para momentos agradáveis e comemorativos.

MIXOLOGISTA

Um desenho inspirado na arte dos coquetéis.

ARIETA

Silhueta que combina estilo e so sticação.

No mundo: Tendências de embalagens de vinhos

PEQUENO

Uma garrafa ultraleve projectada para consumo individual. Prática e exível com diversas opções de fecho.

“Eu começo pelo esqueleto,

utilizando barro para moldar a base. Depois, corto chapas de inox e ajusto

até obter a forma nal”

Jerry tem nas mãos a arte de dar forma real a materiais metálicos e de barro

JEREMIAS

LOPES MATUSSE

Ceramista e Artista

Plástico Moçambicano

JEREMIAS LOPES MATUSSE, conhecido como Jerry Artista, é um ceramista e artista plástico nascido a 5 de Novembro de 1980 em Maputo, no Bairro do Aeroporto.

Actualmente, o artista vive no bairro T3, onde montou o seu pequeno atelier no qual desenvolve a sua arte e mistura criatividade, resiliência e uma forte ligação com a cultura.

O artista começou a desenvolver as suas habilidades nas artes em 1997, aos 17 anos, com o seu antigo mentor zimbabueano, que lhe ensinou o caminho da cerâmica, e em 2000 deu início à sua trajectória a solo, estando a trabalhar desta forma até hoje.

Com os seus caminhos marcados pela paixão e perseverança, a sua arte é um re exo do que signi ca transformar matéria-prima – seja argila ou metal – em obras que contam histórias e exaltam a cultura local.

Muito da inspiração de Jerry vem da cultura dos Bushmen – um dos povos indígenas mais antigos de África, que vive no deser-

Entre o Barro e o Metal:

to do Kalahari, tradicionalmente nómadas, especializados na caça e na colheita, e com um vasto conhecimento da natureza – pois o artista considera a simplicidade e a sua ligação com esta civilização fascinantes.

“Tento levar esta essência para as minhas obras, que são uma celebração das raízes e da identidade cultural”, assinala.

Actualmente, trabalha em casa, com os seus lhos, que são aprendizes. A produção de cada peça é um trabalho que exige dedicação e tempo, conforme explica.

“Eu começo pelo esqueleto, utilizando barro para moldar a base. Depois, corto chapas de inox e ajusto até obter a forma nal”.

As esculturas em barro passam por um forno

Como Jerry Tenta Esculpir o Futuro

artesanal no seu atelier, um processo essencial para garantir durabilidade e qualidade. As peças de metal, por outro lado, requerem corte e longas horas de moldagem.

Jerry escolhe o aço inoxidável como material principal para as suas criações em metal. Apesar do custo elevado deste material, o inox é ideal porque não enferruja e garante a durabilidade das peças.

O artista conta que tem de comprar estas chapas na vizinha África do Sul, pois não as encontra em Moçambique, o que considera ser um dos seus maiores desa os.

O tempo médio para concluir uma obra é de 30 dias, período em que Jerry

transforma o trabalho duro em arte que inspira e encanta.

Da primeira exposição à conquista de novos mercados

A sua primeira oportunidade surgiu em 2006, com uma exposição no Instituto Camões em Maputo, seguida de uma exibição de artes no Hotel Avenida, em 2008.

Em 2014, teve a sua primeira exposição fora do País, na Cidade do Cabo, África do Sul, e, em 2015, na Associação da Fotogra a, também em Maputo. Desde então, o seu talento tem sido reconhecido por empresas e hotéis que têm decorado os seus espaços com o seu trabalho. Para além da África do Sul,

o ceramista atravessou fronteiras, expondo o seu trabalho em países como Portugal. “Foi emocionante enviar uma das minhas esculturas para Lisboa, pô-la no avião. Esse momento fez-me acreditar que a minha arte podia ir ainda mais longe”, recorda.

Outros locais onde as suas obras estão exibidas são o Hotel Afrin, em Maputo, e alguns parques da cidade da Beira, em Sofala.

Apesar das suas realizações, Jerry continua a enfrentar desa os, como a falta de apoio aos artistas da sua área, a di culdade de acesso aos mercados internacionais para exposições e a obtenção dos materiais de que necessita para criar as suas obras.

Uma das suas estratégias para divulgar o seu trabalho e aumentar o seu alcance é o uso das redes sociais, onde mantém as páginas “Jerry Artista” no Instagram e Facebook.

Para o futuro, o artista sonha “com um atelier maior e mais bem equipado”, pois pretende alargar a sua produção e “realizar exposições internacionais que promovam a arte moçambicana”, pelo que considera fundamental o apoio do Ministério da Cultura.

O ceramista também quer apoio para uma exposição fora de Moçambique, como na Europa e em França, pois acredita que a sua arte retrata alguns dos acontecimentos importantes que os antepassados viveram dia após dia.Jerry também deixa uma mensagem para os jovens artistas e para aqueles que querem seguir esta área: “Nunca desistam dos vossos sonhos. Por mais difícil que seja, o esforço e a paixão compensam sempre”.

Com esta determinação, continua a esculpir o futuro, peça por peça, transformando desa os em obras-primas.

Texto Germano Ndlovo

A NÃO PERDER EM JANEIRO

Todos os eventos globais que não pode perder, desde a sustentabilidade ao desporto, incluindo as artes

OANOCOMEÇADEFORMA

ESPECTACULAR, com a elite do ténis mundial a medir forças nos courts abrasivos de Melbourne, Austrália. Batalhas intermináveis com jogadas que cam na memória e só possíveis com tenistas como Djokovic ou Alcaraz. Em Davos, Suíça, o Fórum Económico Mundial contará com uma forte presença de líderes africanos para discutir questões económicas e de desenvolvimento relevantes para o continente. O grupo africano será liderado pelo Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e pela Presiden-

TÉNIS / GRAND SLAM

Open da Austrália Melbourne, Austrália De 12 a 26 de Janeiro ausopen.com

Novo ano e novo Australian Open. O primeiro Grand Slam do ano está mesmo à porta. É a 112.ª edição do torneio, a 56.ª realizada na Open Era e promete marcar o resto do calendário. Todos os membros do top 50 da ATP e WTA con rmaram presença, incluindo estrelas como Novak Djokovic, Aryna Sabalenka, Jannik Sinner e Carlos Alcaraz. Novak Djokovic conquistou o título em 2023, derrotando Stefanos Tsitsipas na nal.

ECONOMIA

Fórum Económico

Mundial

Davos-Klosters, Suíça

De 20 a 24 de Janeiro weforum.org

Este evento global terá uma forte participação de líderes africanos, discutindo questões económicas e de desenvolvimento relevantes para o continente. O grupo africano será liderado pelo Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e pela Presidente da Tanzânia, Samia Suluhu Hassan, que irão discutir temas como o Acordo de Livre Comércio do continente africano, que tem o potencial de criar mais de 30 milhões de empregos adicionais. A presença africana em Davos destacará a importância da cooperação internacional, a criação de empregos e o crescimento económico sustentável.

Da Austrália a Davos...

O que Marca o Início de 2025?

te da Tanzânia, Samia Suluhu Hassan.

Em Luanda, vai realizar-se a Conferência Internacional sobre Biodiversidade e Áreas de Conservação. Esta iniciativa visa fortalecer a protecção ambiental e troca de experiências, com ênfase em mecanismos nanceiros e soluções inclusivas e sustentáveis para a preservação ambiental. No streaming, destaque para “American Primeval”, sé-

CONFERÊNCIA

BIODIVERSIDADE

Conferência Internacional sobre Biodiversidade e Áreas de Conservação (CIBAC)

Luanda / Angola De 30 a 31 de Janeiro minamb.gov.ao

Dirigida para soluções sustentáveis, esta iniciativa visa fortalecer a protecção ambiental, com ênfase em mecanismosnanceiros e soluções inclusivas e sustentáveis para a preservação ambiental. O evento promete ser uma plataforma de troca de conhecimentos sobre biodiversidade.

rie que retrata o Velho Oeste, com os valores de inocência e tranquilidade a desaparecerem, dando lugar a uma terra dominada pelo ódio e pela violência. Uma dramatização ctícia e violenta da colisão entre culturas, religiões e comunidades, enquanto homens e mulheres lutam e morrem pela supremacia numa terra sem lei.

Texto Luís Patraquim

STREAMING

“American Primeval” / Net ix 9 de Janeiro

Em 1857, no Velho Oeste, os valores de inocência e tranquilidade estão a desaparecer, dando lugar a uma terra dominada pelo ódio e pela violência. A paz está em extinção e muito poucos conhecem o signi cado da compaixão. Uma dramatização ctícia e violenta da colisão entre culturas, religiões e comunidades, enquanto homens e mulheres lutam e morrem pela supremacia numa terra sem lei.

A série segue uma mãe elho que fogem do passado e formam uma família improvável enquanto enfrentam o duro e implacável ambiente do Oeste Americano, onde a liberdade e a crueldade caminham lado a lado.

ARTES

Trilhos de Vida e Arte: Uma Re exão Visual Entre Moçambique e Brasil

A exposição “Comboio D’Olhos”, patente no Instituto Guimarães Rosa, em Maputo, reúne as criações do artista grá co moçambicanoJustinoCardosoedofotógrafobrasileiroEduardoVargas.Amostra combina banda desenhada e fotogra a para explorar o impacto social e cultural da linha férrea (Corredor de Nacala) que atravessa o norte de Moçambique.

Abandadesenhada“ComboioÁspero”,deCardoso,ofereceuma narrativa poética sobre as di culdades enfrentadas pelos passageiros e as mudanças provocadas pelo desenvolvimento industrial na região. Já o ensaio fotográ co “Olhos Passageiros – Todos os Olhos”, de Vargas, destaca os olhares humanos encontrados ao longo do trajecto entre Nampula e Cuamba, revelando histórias pessoais e colectivas.Aexposiçãotambémapresentatextosexplicativoseuma instalação imersiva que transporta o visitante para o ambiente do comboio. Com uma abordagem artística e antropológica, “Comboio D’Olhos” re ecte sobre o impacto das transformações económicas e sociais nas comunidades locais.

Além de promover o intercâmbio cultural entre Moçambique e Brasil, a exposição também incentiva uma discussão mais ampla sobre o papel da arte na preservação da memória histórica e na consciencialização sobre os desa os enfrentados por comunidades afectadas pelo desenvolvimento industrial. Através de imagens e narrativas visuais, o público é convidado a re ectir sobre questões como migração, identidade e sobrevivência.

Justino Cardoso, reconhecido pela sua trajectória na banda desenhada moçambicana, e Eduardo Vargas, com a sua pesquisa visualnaregiãodoCorredordeNacala,unemassuasvisõesparacriar uma ponte cultural entre os dois países. A mostra, que se estende até14deFevereirode2025,ofereceumaexperiênciasensorialehistórica única, ressaltando a importância da arte como veículo de transformação social.

LIVROS

AI_Novator

Autor: Pedro Dionísio, João Guerreiro, Hugo Faria, Vicente Rodrigues e Rogério Canhoto • Editora: Bertrand • Género: Gestão / Marketing

A abertura ao público do ChatGPT trouxe a Inteligência Articial generativa para a ordem do dia da agenda empresarial pelos seus impactos na produtividade das organizações. Por outrolado,aentradaemvigora1deJaneirode2024daCorporate Sustainability Reporting Directive da União Europeia vem reforçar a necessidade de as empresas evoluírem no sentido de melhores práticas de sustentabilidade. Em linha com esta realidade, os autores propõem um livro em que tanto a IA como o ESG são apresentados como orientações que podem contribuir para a inovação, um factor fundamental para as organizações acrescentarem valor e ganharem competitividade. AI_Novator apresenta como novidades exemplos de aplicação da Inteligência Arti cial generativa em todos os capítulos das temáticas de marketing.

STREAMING

Outros Lançamentos

Dia 1: Black Snow T2 (Stan), Missing You (Net ix) e SAS Rogue Heroes T2 (BBC)

Dia 2: Lockerbie: A Search for Truth (Sky), Going Dutch (FOX), Animal Control T3 (FOX) e e Way Home T3 (Hallmark+) e e Rig T2 (Prime Video)

Dia 3: O Clube T6 (OPTO)

Dia 4: When the Stars Gossip (Net ix)

Dia 5: Mayfair Witches T2 (AMC), When Calls the Heart T12 (Hallmark Channel) e SkyMed T3 (CBC)

Dia 6: Saint Pierre (CBC)

Dia 7: Will Trent T3 (ABC), e Rookie T7 (ABC), DOC (FOX), North of North (CBC), Son of a Critch T4 (CBC) e e Oval T6 (BET)

Dia 8: Shifting Gears (ABC) e Wild Cards T2 (CBC)

Dia 9: On Call (Prime Video) e Asura (Net ix)

Dia 10: Goosebumps: e Vanishing T2 (Disney+) e Machos Alfa T3 (Net ix)

Dia 12: Miss Scarlet T5 (PBS)

Dia 15: Allegiance T2 (CBC) e Desordem Pública (Net ix)

Dia 16: XO, Kitty T2 (Net ix)

Dia 17: Severance T2 (Apple TV+)

Dia 22: Prime Target (Apple TV+)

Dia 23: HarlemT3(PrimeVideo)e eNightAgentT2(Net ix)

Dia 26: Watson (CBS)

O iate possui quatro motores Mercury V12 600hp . Tem uma velocidade máxima superior a 45 nós e uma velocidade de cruzeiro de aproximadamente 30 nós

Um Iate Topo de Gama para 2025

A MARCA ESPANHOLA De Antonio Yachts anunciou o lançamento do seu novo iate D60, que estará disponível a partir de meados de 2025. O modelo é o culminar de anos de experiência e desenvolvimento de uma gama completa de embarcações.

O D60 virá equipado com quatro motores ocultos, seguindo a solução que distingue todos os modelos da marca, do tipo Mercury V12, com 600 cavalos para proporcionar um desempenho desportivo, com uma velocidade máxima superior a 45 nós (74 km/h) e uma velocidade de cruzeiro de aproximadamente 30 nós (55 km/h).

A con guração combina as vantagens dos motores integrados com a eciência dos modelos “fora de borda”, proporcionando um equilíbrio perfeito entre desempenho e economia.

O design do D60 tira partido doespaçocomumadistribuição inovadora e um conceito de circulação que integra três áreas distintas. Na popa, salta à vista um solário com mesa e consola central.

A zona de refeições, na área central e protegida do sol, pode acomodar mais de dez pessoas. Na proa, várias con gurações são possíveis, combinando um solário principal, um grande sofá e mesas, com a opção de um jacuzzi integrado que pode ser descoberto ao deslizar a tampa do solário.

O tecto principal possui uma estrutura que oferece uma área de refeições versátil. Este espaço pode ser completamente envidraçado para uma climatização perfeita. No interior, o D60 apresenta uma distribuição inovadora que inclui uma cozinha num nível intermé-

dio. Na área das cabines, há um espaço central que dá acesso a uma suíte espaçosa com sofá, escritório, casa de banho completa com chuveiro independente e um guarda-roupa.

Os camarotes da proa podem ser con gurados de acordo com as preferências do proprietário. A cabine da tripulação, com acesso independente a partir da proa, possui duas camas e uma casa de banho própria.

Com técnicas de fabrico avançadas e um design de casco próprio, promete eciência nas longas distâncias e agilidade nas manobras costeiras. O D60 promete ser um marco na linha de produtos da De Antonio Yachts.

O design do D60 tira partido do espaço com uma distribuição inovadora e um conceito de circulação que integra três áreas distintas. Na popa, salta à vista há um solário com mesa e consola central

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.