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O que Aprendemos com o Energy Observer?
Esteve recentemente em águas moçambicanas o Energy Observer, um barco francês inovador e sustentável, movido a energia solar, eólica e a hidrogénio gerado a partir da água do mar por electrólise. Circula pelo mundo há seis anos a sensibilizar para a importância das energias renováveis. Chegada a nossa vez, o que aprendemos?
Àmedida que o mundo enfrenta os efeitos devastadores das alterações climáticas, apercebe-se da importância de mudar para fontes de energia renováveis. O sector dos transportes, em particular, foi identificado como um contribuinte significativo para as emissões de carbono. A viagem do Energy Observer (EO) serve para testar todo o tipo de tecnologias em situações extremas, para depois as adaptar a outras embarcações, habitações e meios de transporte.
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Para o sucesso da viagem, a energia solar é recolhida por 130 metros quadrados de painéis fotovoltaicos no topo do barco, enquanto duas grandes turbinas nheiros liderada por Victorien Erussard. Serve como modelo de transporte sem emissões.
Victorien Erussard, nascido em Saint-Malo, na França, é um ‘skipper’ [capitão de embarcações], oficial da marinha mercante e empresário francês que ganhou várias competições de barco à vela. Teve a ideia de transformar o barco e, para tal, juntou-se ao realizador de documentários Jérôme Delafosse, que explora os oceanos há 23 anos e já passou mais de 20 mil horas no mar.
Energy Observer em Maputo eólicas transformam o vento em electricidade. Tudo isto de uma forma limpa e eficiente. O Energy Observer também conta com uma unidade de dessalinização da água do mar, que depois dá origem a hidrogénio, que vai para dentro de tanques, pronto a ser transformado em energia. Quando escurece ou não há vento suficiente para fazer girar as turbinas, o barco recorre a esta fonte. É conhecido como o primeiro barco certificado do mundo movido a hidrogénio.
A embarcação saiu do porto de Saint-Malo, França, a 26 de Junho de 2017, para passar por 101 portos em 50 países.
Inovador e inspirador, o EO, avaliado em 5,2 milhões de dólares, é um antigo navio de corrida construído em 1983, que foi submetido a extensas modificações e transformado numa embarcação do futuro por uma equipa de enge-
Ao navegar no oceano Índico em direcção à Cidade do Cabo, na vizinha África do Sul, o EO parou a 18 de Maio em Moçambique, onde foi abrigado pelo porto de Maputo, na capital do País, devido ao mau tempo em alto mar. A equipa a bordo foi recebida pela Associação Moçambicana de Energias Renováveis (AMER) e pela Embaixada da França.
Mayra Pereira, membro da AMER e presidente da Associação Lusófona de Energias Renováveis (ALER), explica que esta é uma tecnologia inovadora e que demonstra a países como o nosso a importância de pensar de forma diferente. “Temos de começar a pensar em sistemas híbridos, uma vez que o nosso País tem e pode usar diferentes tipos de recursos”. É uma forma de “descarbonizar e prevenir um agravamento das mudanças climáticas. Como País, temos de ver como adaptar este tipo de tecnologia aos nossos contextos locais”, disse Mayra Pereira.
Depois de aguardar em segurança pela melhoria das condições meteorológicas, o EO regressou ao mar na manhã de 23 de Maio, em direcção à sua 80.ª escala, na Cidade do Cabo.
Embaixador dos 17 Objectivos do Desenvolvimento Sustentável
Os 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2015, são uma chamada global à acção para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que todos possam desfrutar de paz e prosperidade.
A inovação levou à nomeação de Victorien Erussard como o primeiro embaixador francês para os 17 ODS, em 2018. Nesse mesmo ano, foi criado um fundo para o EO cumprir o papel de embaixador e sensibilizar aquelas metas a atingir até 2030, em consonância com os acordos de Paris e os compromissos assumidos pelo Governo francês para combater os efeitos das alterações climáticas.
Desde a sua partida, o EO percorreu mais de 50 mil milhas náuticas, fez mais de 80 escalas em mais de 40 países e recebeu mais de 350 mil visitantes de diferentes aldeias para exposições educativas.
Um barco com 40 anos de história
Lançado em 1983, o EO celebra este ano o seu 40.º aniversário com múltiplos recordes e uma história impressionante. De navio de corrida mais rápido do mundo em 1994 à primeira embarcação autónoma em energia desde 2017, passando pela construção de ponta, muitas vezes optimizada, e um design de alto desempenho, tudo contribui para o transformar numa máquina com múltiplas vidas.
Construído sob o nome de Formule TAG pela Canadair, famoso construtor de aviões canadiano, o EO teve uma prestigiada linhagem de ‘skippers’. Criado pelo designer líder de navios, Nigel Irens, o barco exibia alta tecnologia e materiais compósitos. Com 24 metros de comprimento, pesava menos de 10 toneladas para mais de 440 m2 de área velica.
Era rápido. Passou por um longo período de desenvolvimento pontuado por desmantelamentos, mas, acima de tudo, marcado por altas performances, como o recorde de velocidade em 24 horas de 512,5 milhas em 1984. Em 1992, Peter Blake, o velejador mais célebre do mundo, decidiu aumentar o tamanho do barco para 25,90 m para bater o recorde de velocidade à volta do globo, o famoso Troféu Júlio Verne, em dupla com Robin Knox Johnson, outra lenda britânica das regatas oceânicas.
Recebeu o nome de Enza e foi prolongado até aos 28m! Assim readaptado, em 1994, o navio ganhou o Troféu Júlio Verne, o verdadeiro “santo graal” da velocidade oceânica, com a marca de 74 dias, 22 horas e 17 minutos (14,68 nós de ve- locidade média) durante um duelo dantesco com o trimarã de Olivier de Kersauson.
Depois de se tornar o barco mais rápido à volta do mundo, foi comprado pela velejadora britânica Tracy Edwards em 1997, que tentou novamente o Troféu Júlio Verne com uma tripulação exclusivamente feminina, mas acabou por naufragar. No ano 2000, o velejador Tony Bullimore comprou-o e alongou-o ainda mais, para 31 metros, de forma que participasse na The Race, regata à volta do mundo para assinalar a entrada no novo milénio, e depois na Oryx Cup, com partida de Doha, no Qatar, em 2005. Deixado em repouso durante alguns anos, foi finalmente reactivado e profundamente redesenhado por Victorien Erussard e as suas equipas em 2015 para se tornar no Energy Observer. O navio passou de 15 para 35 toneladas, com volumes de casco maiores e uma nacela central [compartimento, divisão] moldada como um trimarã de corrida.
Energy Observer 2 a caminho
Há um novo projecto francês de transporte marítimo baseado num cargueiro multifuncional de média dimensão alimentado a hidrogénio líquido. Com emissões zero, o “laboratório flutuante” está a ser desenvolvido pela mesma empresa responsável EO. Agora, a companhia está a desenvolver um navio de carga de última geração que combine capacidades de transporte com emissões zero e maior autonomia. O navio terá 120 metros de comprimento, 22 metros de largura, um peso bruto de cinco mil toneladas, uma propulsão eléctrica de quatro MW e uma potência de célula de combustível de 2,5 MW. O conceito faz parte de um novo programa Energy Observer 2025.
Prevê-se que viaje a 12 nós (22,2 km/h, que é a velocidade média dos grandes cargueiros) com um alcance previsto de quatro mil milhas náuticas (7408 quilómetros). Como parte do desafio, o Energy Observer 2 (EO2) integrará grandes tanques de hidrogénio e terá de gerir temperaturas muito baixas.
Para além do sistema de propulsão eléctrica e da alimentação de combustível a hidrogénio, o EO2 estará também equipado com um sistema de navegação denominado Oceanwings, desenvolvido pela startup francesa Ayro, a mesma responsável pelo sistema de propulsão au- xiliar utilizado no pioneiro Energy Observer. Outros parceiros do projecto são a conterrânea Air Liquide (especialista em hidrogénio), o Grupo CMA CGM, especialista francês em logística marítima, e a norueguesa LMG Marin para o design naval do veículo.
Esta última trabalha com propulsão descarbonizada (separação do carbonato de cálcio em óxido de cálcio e dióxido de carbono) e desenvolveu o primeiro ferry a hidrogénio líquido do mundo, denominado Hydra.
“No Energy Observer, a melhor energia é aquela que não utilizamos. Para sermos bem sucedidos na transição nos próximos anos, temos de reduzir o nosso consumo de energia e de recursos para diminuir o impacto no planeta. É necessário sensibilizar o público para que deixe finalmente de tratar a Terra como um recurso ilimitado e indestrutível”, pode ler-se no website do Energy Observer.