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O Oeste Americano (I)

O Oeste Americano: a última fronteira, o lugar do sonho. O lugar do cinema, da televisão, da música. O lugar familiar onde nunca estivemos.

O Oeste Americano foi, para o meu avô, o lugar do selvagem: do cowboy, do índio, do xerife. Foi o lugar do herói solitário que, sobre o dorso do seu cavalo, rasgava infinitas planícies em direcção ao Pacífico e com ele trazia a ordem e a justiça para o indomável e desconhecido território.

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Foi o lugar de Gary Cooper, John Wayne, James Stewart e Clint Eastwood, seus heróis e símbolos de uma geração. É, para o meu pai, La La Land (1), o lugar do seu maior amor, a sétima arte (2). É o lugar do argumento e da representação; o lugar de Tarantino, Spielberg, Scorsese, Fincher e de tantos outros mestres da ficção que tornaram Hollywood no lugar do cinema por excelência.

eO Oeste Americano chegou até mim de forma distinta: não pelo cinema ou pela televisão, mas pela música. California Love, canção de 2Pac, Dr. Dre e Roger Troutman, foi a minha introdução não só ao universo angelino (4), mas a outra das mi- nhas grandes paixões: o hip-hop. Fascinado, de imediato comprei All Eyez on Me (3) na discoteca mais próxima da minha casa. Escutei o disco tantas vezes que, mesmo desconhecendo o significado da larga maioria das suas palavras, conseguia recitá-las de memória, sem falhar uma única canção. Não havia retorno e, depois de Tupac, foi a vez de mergulhar nas discografias de Snoop Dogg, NWA, Dr. Dre, Cypress Hill, Soul Assassins, The Game... Sabia tudo o que havia para saber acerca do rap de LA: o mainstream, o underground (5), as discografias, as editoras e até as animosidades entre os artistas da região.

Seria óbvio apontar o ritmo das canções ou a irreverência das rimas proferidas pelos MC, como as razões para o meu interesse, mas a verdade é que as desconheço - tal como desconheço as razões para tantas das minhas mais importantes paixões, que se instalaram no meu coração sem clara causa ou justificação, para nunca mais partirem.

Facto é que a pop que passava nas rádios, ou os discos de jazz que o meu pai tinha em casa, não me moviam assim, e só o rap conseguiu tocar-me a ponto de influenciar a minha trajectória de vida. Mais do que as canções, eram os videoclipes que realmente me fascinavam.

Estes tinham uma identidade visual só possível em LA, tão única e vincada, que me era impossível ficar-lhe indiferente: as largas avenidas ladeadas por palmeiras, os lowriders, as tatuagens, a cultura chicana, a cultura afro-americana, a proximidade ao Pacífico, as cores, os Chuck Taylor, os Nike Cortez (6)... “Quem me dera ter nascido em LA”, pensava, durante as tardes colado ao ecrã da televisão ligada na MTV.

Ao mesmo tempo que mergulhava a fundo no rap da costa oeste, foi-me apresentada outra e ainda mais imersiva forma para explorar LA: GTA San Andreas. Eu sei, eu sei, Los Santos, a metrópole digital onde parte da narrativa do jogo tem lugar, não é “exactamente” LA. Mas, para mim, rapaz de 14 anos que habitava no outro lado do mundo, Los Santos era suficientemente LA para crer que eram as suas luminosas ruas e avenidas que a minha personagem, CJ, desbravava sob o meu comando.

Los Angeles foi o lugar do meu primeiro fascínio - só anos mais tarde descobri Tóquio e Hong-Kong, sobre os quais já aqui escrevi - e, portanto, hoje estranho a demora e hesitação em visitá-la. Talvez tenha sido consequência desse sentimento de familiaridade: para quê visitar um lugar sobre o qual já tanto sei? Certamente existirão experiências mais enriquecedoras.

Porque não explorar o Laos? Ou a Malásia? Foi a Sara, minha namorada, que insistiu na viagem. “OK, mas se vamos a LA, quero também ver algo novo”, disse eu, como se alguma vez já lá tivesse estado. “Juntamos Las Vegas, pronto”, e após quinze horas de voo aterramos em LAX.

O ar é quente e pesado, consequência do smog, e desesperamos por uma brisa fresca e por algo que nos sacie a fome. “In-N-Out? Há um mesmo aqui ao lado! Aquele em que o Bourdain comia sempre após aterrar no aeroporto”.

Hum… one double-double, one cheeseburger, two fries and a vanilla milkshake. 17,95$? Keep the change and have a great day!”. E “damn, these are good!”, desabafa a família ao nosso lado. Concordamos. Melhores hambúrgueres à la fast food que já comemos? Provavelmente.

É com os níveis de sódio no sangue anormalmente altos que começamos a nossa odisseia até ao centro e, de imediato, duas surpresas: a dimensão da cidade e o seu trânsito. Em Los Santos não havia estes problemas… era sempre a andar! As estradas eram lugar para assapar, os sinais de trânsito eram mera decoração, e um minuto chegava para cruzarmos a cidade de ponta a ponta… Saudades, GTA.

A verdadeira Los Angeles é gigantesca - e congestionada. A distância entre o aeroporto e West Hollywood, onde fica o nosso motel, é de 23 milhas (37 quilómetros) e demoramos mais de duas horas a percorrê-las. A auto-estrada tem seis faixas de trânsito em cada um dos sentidos e nem assim o trânsito flui. De uma ponta à outra da cidade, de Calabasas a Santa Ana, são mais de 60 milhas (96 quilómetros)... Percorrê-las em hora de ponta? Não, obrigado.

Mas pronto, ao menos conseguimos sintonizar a rádio na 93.5 KDAY, que passa aquele g-funk (7) dos 90’s propositadamente criado para as vastas e demoradas estradas californianas e distraímo-nos a planear o roteiro turístico dos dias seguintes.

A Feira do Livro é um evento anual para a valorização da literatura

A FEIRA DO LIVRO DE MAPUTO completou a sua 9.ª edição nos dias 27 e 28 de julho, organizada pelo Conselho Municipal de Maputo em parceria com outras instituições. Mais uma edição para consolidar o objectivo de celebrar a literatura moçambicana e internacional.

A organização tem por hábito homenagear dois escritores em cada edição, um ainda vivo e outro a título póstumo. Desta vez, os homenageados foram Mia Couto e Rui de Noronha. O primeiro é um dos maiores escritores moçambicanos da actualidade, o que tem mais livros traduzidos, com publicações em 24 países e autor daquele que é considerado um dos melhores livros africanos do século XX, “Terra Sonâmbula”. Rui de Noronha, falecido em 1943, foi classificado como percursor da poesia moderna moçambicana e um dos melhores poetas de África até hoje.

Para esta edição, a feira carregou como lema “Surge et Ambula”, em referência a

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