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QUARTEL com exposição de mais de 150 peças

Chama-se “Pedro Gouveia e os Outros” e é uma exposição que pode ser visitada até ao dia 27 de maio na QUARTEL, Galeria de Arte de Abrantes, no antigo quartel dos Bombeiros.

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Trata-se de uma exposição de Pedro Gouveia e dos seus trabalhos. E “os Outros” juntam-se a Pedro Gouveia porque são trabalhos, quadros na maior parte, que fazem parte da coleção do artista. Trabalhos que foi adquirindo ao longo da vida e que guarda pelo prazer de criar e contemplar arte. E o artista, entre um sorriso aberto, explica que o que faz ou compra é para ele. Não vende nem oferece. Um dia, quando já cá não estiver, alguém tomará a iniciativa de fazer com esta coleção o que entender.

Para já, e até maio, tem grande parte do seu espólio na Galeria de Arte de Abrantes. E quando questionado sobre o número de peças distribuídas pelos espaços da QUARTEL olha à volta e atira “150, devem ser uma 150 trabalhos.”

Pedro Gouveia é um abrantino, mas não natural de Abrantes. Nasceu em 1954 em Angola onde viveu até aos 21 anos. Corria o ano de 1975 deixou Angola e radicou-se na cidade florida. Foi professor do 1.º ciclo e do ensino especial.

O gosto pela pintura começou desde criança. Ainda em Angola tinha uma casa com muitos jardins e começou a pintar o que via. O “dom” herdou-o da mãe, também ela tinha um traço fantástico. Mas diz que foi o pai que mais o incentivou quando via as folhas com as pinturas e lhe dizia “sais mesmo à tua mãe.” nal de Abrantes que este é um gosto que teve e tem e que, mesmo nos dias de hoje, pode acordar e ir para o cavalete de pincel em punho para explanar na tela um qualquer “sonho que sonhou.”

Pedro Gouveia diz que pinta quando quer e lhe apetece e são trabalhos que saem a qualquer hora. E por onde passa gosta de deixar marca na comunidade, nem que seja nas visitas que fazia com os seus alunos a exposições e galerias.

Nesta exposição, começa com um retrato desenhado da sua mãe, a dona Mécia e tem também vários autorretratos. O mais recente pretende mostrar no seu “interior humano” a angústia que vive por estes dias.

Há depois um cantinho com diversas esculturas africanas que hoje, afirma, muitos dizem ser arte africana, mas que representa uma parte da sua vida, da meninice e juventude.

E deu um outro exemplo do que pode ser a arte. Uma vez deixou em casa uma tela toda pintada a vermelho e umas semanas depois, quando regressou a casa aplicou no vermelho da tela a criatividade para criar um quadro.

“As obras de arte transportam-me para os lugares e momentos vividos e sonhados”, revela o artista e colecionador.

Esta exposição pretende mostrar os quadros que pintou e adquiriu por influência do seu trabalho, professor, que o levou de norte a sul de Portugal e à ilha da Madeira.

“Criar arte é tomar consciência deste mundo físico/social/cultural que, construindo mentalidades evolutivas nas sociedades, nela nos insere quase que mecanicamente.”

A exposição “Pedro Gouveia e os Outros” pode ser visitada na galeria QUARTEL até 27 de maio de terça a sábado das 14 às 17:30.

Jerónimo Belo Jorge ecorreu, em Abrantes, a 1ª Mostra Internacional de Cinema Documental do Ensino Superior. Foi uma iniciativa da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes (ESTA), através do seu curso de licenciatura em Cinema Documental. A 5 e 6 de janeiro, foram apresentados, na Biblioteca António Botto, documentários produzidos por anteriores e atuais alunos deste curso. A 1ª edição, diremos que em modo de aprendizagem, ficou reservada ao material da casa, mas a 2ª edição vem já prometida como de alcance mais vasto. Ou seja, a Mostra afirma-se, embora ainda só no nome, como internacional.

Quer isto dizer que estamos a assistir a uma dinâmica que, embora ainda em gestação, já promete tornar-se um caso sério. E sério em várias dimensões. Por um lado, oferece aos estudantes deste curso e desta Escola o encontro com produtos de origens e escolas diversas, em linguagens diferentes, ocasião propícia para aprendizagens que seriam mais ou menos impossíveis de outro modo. E se, além dos filmes, vierem também os realizadores, a aprendizagem terá um alcance mais vasto. Será, sem dúvida, uma forma de afirmação da ESTA e da cidade em geografias onde agora são ainda ignoradas. Mas a Mostra é também, de modo inevitável, a produção de um evento. E também nessa produção os alunos fazem aprendizagens de outro tipo, obtêm competências que a vida verá a apreciar mais tarde e que não são fáceis de obter no tipo de ensino centrado na sala de aulas. Aliás, os alunos que produziram esta 1ª Mostra disseram isso mesmo: “Aprendemos muito”. Há ainda um aspeto de particular interesse para a cidade,

José Alves Jana / FILÓSOFO

ou seja, para a sociedade local em que a ESTA se insere. Embora de forma despercebida, quase clandestina, na ESTA há uma série de jovens artistas a desenvolverem as suas competências de realizadores de cinema – cinema documental. Sob o lema «Pensar Cinema. Olhar o Mundo. Fazer Cinema.», temos ali um centro de produção cultural: pensamento, filmes, inov-ação. Só ao fim de 13 anos esta licenciatura dá sinais maiores de vida na cidade, com a Mostra, mas nunca é tarde para começar. E não é grande atrevimento dizer que todos, cidade e escola, ganhamos se forem desenvolvidos processos de interação entre este curso e a cidade.

Pois bem, a Mostra aí está, com promessa de futuro. Como primeira que foi, “mostrou” que tem ainda que aprender, mas é isso mesmo a vida. Por exemplo, a divulgação não foi eficiente. Não se compreende que o subscritor destas linhas tenha recebido a informação na véspera à tarde e anunciando apenas o primeiro dia dos dois que a mesma iria ter. Foi bom e saudável a informalidade com que tudo decorreu, mas isso não pode diminuir o rigor com que as coisas devem decorrer (por exemplo, no que respeita aos horários, que são para cumprir, ou na segurança do discurso verbal). Não é só no documentário que há técnica e estilo, também num evento. Mas é claro que numa primeira edição as lições não estão ainda todas aprendidas. “O caminho faz-se caminhando” (A. Machado).

Falta dizer que esta é uma das poucas coisas que neste nosso território se apresentam com ambição cultural. E, sobretudo, que este curso e a Mostra ordem ser um foco de cultura cinematográfica de que todos poderemos beneficiar. Parabéns. Mãos à obra!

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