Serie II, n. 0 9 (2009)
Economia & Empresa Universidade Lusiada • Lisboa
Universidade Lusiada Editora Lisboa • 2009
, ·.a....~!.~~:ij@,iYV-ji~ge Lusiada - Catalogao;:ao na Publicao;:ao
LlJS1.4DAi!EcQo~ia
a
Er4resa. Lisboa, 2001 I propr. Fu nda~ao Minerva - Cultura Ji:nsino-e.lnvestigac;:ao;Eientifica ; dir. Jose Eduardo Carvalho. - S. 2, n. 1 (2001 ). - Lisboa : Universidade Lusiada, 2001. - 24 em. - Anual Continua~ao de: Lusiada: revista de ciencia e cultura. Serie de economia ISSN 1645-6750 I;USie3f~nqmfad}. Eliij)resa
1. Economia - Peri6dicos 2. Gestao de Empresas - Peri6dicos I - CARVALHO, Jose Eduardo dos Santos Soares, 1939CBC CDU
HB9.L87 HD28.L87 330(051) 658(051)
Ficha T•knica Titulo Lusiada. Economia ft empresa Serie II Proprietario Fundao;:ao Minerva - Cultura - Ensino e lnvestigao;:ao Cientifica Director Prof. Doutor Jose Eduardo dos Santos Soares Carvalho
N. • 9
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Prof. Doutor Fernando Teixeira de Almeida
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FCT Funda~ao para a Ciencia e a Tecnologia MINISTERIO DA crENCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR
SUMARIO Nota de Abertura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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0 neoliberalismo de regula.;ao como interven.;ao do Estado -A regula.;ao e a Constitui.;ao Brasileira de 1988 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Giovani Clark
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Contagio financeiro entre mercados de acc,;oes de pafses desenvolvidos durante a crise asiatica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Julio Lobiio
Senior Co-housing in 1ural areas: Telemedicine the answer? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Cristina Caramelo Gomes e Ana O-istina Lott Dare Um novo paradigma na teoria econ6mica: A necessidade de repensar a escassez de recursos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Antonio Eduardo Martins e Felipa Lopes dos Reis
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93
A importancia da gestao de competencias nas organiza.;oes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Joiio Sousa. Mendes e Manuela Sarmento
111
A Lideran.;a eo Trab<llho em Equipa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Jose Carlos Dias Rou.co e Manuela Sarmento
141
Measuring Corporate Identity: A case study using a Corporate Personality Scale . . . . Gau.rav Bahirvani, Natdlia Teixeira e Rui Vinhas da Silva
163
Gestao da Marcano ambito dos Servi.;os: 0 Trabalho Temporario . . . . . . . . . . . . . . . Joana Madureira
187
A Era virtual das tecnologias de informac;ao e comunicac;ao- Arte e expressividade ern multimedia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Maria Eduardo Carvalho
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S
Nota de Abertura A mudanc;a no paradigma do ensino universitario, com as alterac;oes inerentes a implementac;ao do Processo de Bolonha, obriga hoje a reflectir sobre a problematica da formac;ao pedag6gica dos professores. Com efeito, ha hoje muito a reflectir sobre esta problematica da docencia universitaria, submetida a constantes transformac;oes nos seus fundamentos te6rico-metodol6gicos, gerados a partir de estudos sobre o desenvolvimento profissional docente e, de modo especffico, sobre a formac;ao pedag6gica do professor universitario. A formac;ao do professor universitario tem sido entendida, por forc;a da tradic;ao, como quase exdusivamente aos saberes do conteudo do ensino. Espera-se que o professor seja, cada vez mais, urn especialista na sua area, tendo-se apropriado do conhecimento legitimado academicamente no seu campo especifico. Edgar Morin, o fil6sofo e soci6logo frances, que nos visitou este ano, deixou-nos uma mensagem de reflexao sobre o actual modelo de docencia universitaria. Nas suas palavras, a excessiva especializac;ao no ensino e nas profissoes produz um conhecimento incapaz de gerar uma visao global da realidade, uma inteligencia cega. Conhecer apenas fragmentos desagregados da realidade faz de n6s cegos e impede-nos de enfrentar e compreender problemas fundamentais do nosso mundo enquanto humanos e cidadaos, e isto e uma ameac;a para a nossa sobrevivencia. Esta demonstrado que a capacidade de tratar bern os problemas gerais favorece a resoluc;ao de problemas especfficos. Urn bom cientista e alguem que procm路a ideias de outros campos do con.h.ecimento para fecundar a sua disciplina. Todos as grandes descobertas se fazem nas fronteiras das disciplinas, diz Morin. A passagem da docencia baseada no ensino para a docencia baseada na aprendizagem, recomendada no Processo de Bolonha, implica a revisao das praticas docentes e um novo perfil do professor universitaxio. Naturalmente, a formas;ao pedag6gica do professor nao pode abranger todas as dimensoes da formac;ao do professor universitario; mas nao pode dissociar aspectos dessas dimens6es do pedag6gico. 0 exercicio da docencia universitaria, exige competencias que extrapolam a situac;ao de sala de aula, as quais tambem tem caracter educativo. A descentrac;ao do acto educativo para a aprendizagem do aluno, o aprender a aprender e hoje uma questao de formac;ao, que se manifesta tambem Lusiada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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Nota de Abcrtura
em relac;ao ao professor universitario, que historicamente exerceu sempre a func;ao docente centrada no ensino. A formac;ao pedag6gica do professor univers itario deve orienta-le para uma pnitica nao reprodutiva que s6 sera superada pelo exercfcio da investigac;ao e da publicac;ao do conhecimento. E a partir da pratica da investigac;ao que o conhecimento cientffico e ampliado, tornando a docencia universitaria mais actualizada e socialmente construfda. Ha necessidade de uma nova cultw路a de formac;ao pedag6gica, cuja centralidadc nao pode estar s6 no processo ensinoaprendizagem, mas tambem noutras func;oes hoje exercidas pelos professores nas universidades, como as de pesquisa e de tut6ria. Isto significa a necessidade de urn olhar mais amplo sobre os p6los que possibilitam a organizac;ao de programas, projectos ou acc;oes isoladas de formac;ao. Por outro !ado, impoe-se a noc;ao de vocac;ao entre os professores universitarios. A permissibilidade selvagem, a pertenc;a a varios estabelecimentos, o ensino como hobby de fim-de-semana, esUio condenados para sempre. Nao se improvisa professor quem quer, quando quer e como quer. 0 scu poder fundamenta-se em conhecimentos e num comportamento que se impoe a todos. 0 papel do professor implica opc;oes carregadas de consequencias: uma carreira especffica, urn estilo de vida, respeilo pcla prioridadc, urn certo orgulho em fornecer uma contribuic;ao pessoal ao progresso do conhecimento. A presente edic;ao de "Lusiada- Economia & Empresa" re(me um conjunlo de contribuic;oes multidisciplinares, foca ndo materias especffi.cas mas complementarcs entre si, sobretudo no domfnio da gestae das competencias do factor humano. Abre esta 9.a edic;ao com tres artigos no campo da economia, com tematicas plenas de interesse e oportunidade. Em retrospectiva hist6rica, o primeiro lex to incide sobre "0 neo/iberalismo de regula~iio como interven~iio do Estado", abordando o caso da regulac;ao e a Cons tituic;ao Brasilcira de 1988. A partir do estudo dos comandos da Constituil;ao Brasileira actual, alterados para atender a regu lac;ao, o autor mostra como aq uela impoe ao Estado o poder I dever de agir na vida socioecon6mica. 0 segundo artigo tern como tema "0 contagio finnuceiro entre mercados de ac~oes de parses desenvolvidos durante a crise asiatica", ocorrida em 1997/1998, no qual o autor s ustenta a hip6tese, pelos testes aplicados, de que a autonon1ia entre mercados dos pafses estudados diminuiu nesse p erfodo. 0 terceiro artigo oferece urn tema de grande actualidade e relevancia, com o titulo "Senior co-housing in rural areas: is telemedicine the answer? As autoras mostram que o "co-housing"- habitac;ao em comunidade ou em condomfniopode contribuir para o melhoramento da qualidade de vida dos indivfduos, minimizar a desertificac;ao de areas mais remotas e promover a gentrificac;ao nas areas urbanas, pela humanizac;ao do ambiente construfdo, com o uso de novas tecnologias, como a telemedicina. 0 texto seguinte aborda o tema "Um
novo paradigma na teoria econ6mica: a 11ecessidade de repensar a escassez de recursos". 6
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
Nota de Abertura, p. 5-7
Segundo os autores, a crescente diferenc;a entre a capitalizac;ao bolsista das empresas (o seu valor de mercado) e o valor expresso nas pec;as contabilfsticas revela o capital intelectual que lhe esta adstrito. 0 segundo bloco de artigos, focado na gestao das organizac;oes, inida-se com um texto sabre "A importancia da gestiio de competencias nas organizaqoes". Neste axtigo, os autores procuram evidendar as competencias que os indivfduos possuem ou podem d esenvolver no contexte do trabalho, no ambito do saber-saber/ do saber-.fazer e saber-ser. Analisam as comunidades de pratica, onde o conhecimento e criado e partilhado dentro das organizac;oes. Em complementaridade, o texto seguinte tem como tema "A liderant;a e o trabalho em equipa", no qual os autores procuram mostrar que os lideres emergentes tem cotnportamentos especfficos para se aiirmarem con-to tal, realc;ando as dimensoes "impacto e influencia", "raciocinio analftico" e "direcc;ao". Segue-se um artigo focado na identidade corporativa, um ramo da reputac;ao organizacional, com o titulo "Measuring corporate identity: a case study using a corpomte personality scale". 0 estudo desenvolvido pelos autores procurou rn.edir as perspectivas dos empregados na sua propria organizac;ao, em varias dimensoes definidas numa escala (Corporate Character Scale), mostrando como a componente interna da organizac;ao molda a reputac;ao organizacional. 0 penultimo artigo centra a investigac;ao no mercado do sector do trabalho temporario, tema de grande relevancia atendendo sobretudo as reestruturac;oes empresariais, resultantes de fusoes e aquisic;oes. Com o titulo "A gest-iio da rnarca no ambito dos servit;os - o trabalho tempordrio", a autora avalia a influencia da marca no mercado do sector do trabalho temporario, caracterizando os servic;os em contraposic;ao com os produtos; analisa, numa perspectiva dual, os aspectos tangiveis e intangfveis da marca. A organizac;ao desta edic;ao culmina com urn texto subordinado ao tema "A Era virtual das TIC- Arte e expressividade em multimedia" . A autora, psic6loga clfnica, procura desconstruir erros de concepc;ao entre o virtual e o real nas tecnologias de informac;ao e comunica~ao. Releva, por outre lade, o papel da percepc;ao e da expressividade na linguagem. multimedia. Uma palavra de elementar justi<;a para agradecer a colaborac;ao dos autores pelos inestimaveis contributes para a concepc;ao e produc;ao do presente numero de "Lustada- Economia & Empresa", assegurando a qualidade eo interesse cientifico dos artigos publicados.
ODIRECTOR
Jose Eduardo Carvalho
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n.0 9/2009
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0 NEOLIBERALISMO DE REGULA<;AO COMO INTERVEN<;AO DO ESTADO A REGULAC::AO E A CONSTITUI<;AO BRASILEIRA DE 1988
Giovani Clark Doutor em Oireito Econ6mico/UFMG (Brasil) Diretor-Presidente da Funda<;ao Brasileira de Direito Econ6mico (FBDE)
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n.O 9/2009
Resumo: 0 presente trabalho destina-se a versar sobre o neoliberalismo de regulac;ao como uma tecnica de intervenc;ao do Estado no domfnio econ6mico e social no sistema capitaJista do seculo XXI e uma imposic;ao do poder econ6mico privado as nac;oes e aos povos. Sendo a nao ac;ao un1 mito midiatico e uma ret6rica academica. A partir do estudo dos comandos da Constituic;ao Brasileira atual, alterados para atender a regulac;ao, mostraremos como aquela impoe ao Estado o poder I dever de agir na vida socioecon6mica, existindo ainda incompatibilidade pratica entre a atuac;ao regulat6ria estatal e a efetivac;ao dos ditames transformadores da Caxta Magna de 1988.
Palavras-chave: Regulac;ao, Regulamentac;ao, Neoliberalismo, Constituic;ao Brasileira de 1988, Escola da Analise Econ6mica do Direito, Polltica Econ6mica Geral, Polftica Economica Setorial.
Abs tract: This paper deals with new liberalism of regulation as a technique of state intervention in the economic and social domain in the capitalist system from the 21st centmy and an imposition of economic power private for nations and people. Since no action is a myth of the press in general and an academic rhetoric. From the study of the commands of the current Brazilian Constitution, modified to meet the regulation, we show how constitution rules the Government, requires the power/duty to act in socioeconomic life and there is still conflict between practice performance and effectiveness of the state regulatory dictates processors of the 1998 Constitution of Brazil.
Key-w01'ds: Regulatory, Regulation, New liberalism, Constitution of Brazil,l988, Economic Analysis of Law, General Political Economy, Sector Political Economy.
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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Giovani Clark
1. Introdu-;ao
Nas tres ultimas decadas do seculo XX e no inicio do seculo XXI diversos estudiosos e politicos pregaram a saida dos Estados do domfnio economico e social como solw;ao para debelar as crises c.fclicas das economias de mercado, minimizar o flagelo social contemporaneo e liquidar os deficits orc;amentarios dos Estados sociais consolidados ou nao. Nesse sentido, polfticas economicas foram pastas em pratica, iniciando-se nos Estados Unidos e na Inglaterra, mas disseminadas posteriormente por outros Estados nacionais. Em ambiente mundial propfcio e conforme os anseios do capital, a badalada "retrac;ao" estatal da vida economica ganhou forc;a no mundo e obteve algumas denominac;oes, ate "consolidar-se" como regulac;ao, ou neoliberalismo de regulac;ao. Logicamente, no intuito de diferenciar do neoliberalismo anterior, chamado de regulamentac;ao, usa-se aquela nomenclatura (regulac;ao), inclusive porque a forma de atuac;ao dos poderes publicos e distinta. Porem, a realidade desses nossos tempos n6s apresenta outra, ou seja, a presenc;a do Estado na vida economica (mao visfvel) continua intensa em inumeras esferas, seja atraves de incentives a agricultura, na polftica estatal de credito e de cambia ou nos reajustes de tarifas pelas agendas de regulac;ao. Tamhem existem atitudes estatais, inclusive cobradas pelos ardorosos defensores da regulac;ao, em casas de abusos do poder economico, promovido pelos carteis; ou na execuc;ao de obras de infra-estrutura em setores vitais, a fim de alcanc;ar o crescimento modernizante ou o desenvolvimento sustentavel. Nao restam duvidas, porem, que, na ordem de valores actualmente aceite no espac;o cultural ocidental europeu, a intervenc;ao do Estado na sociedade se afirma como urn dado palpavel e adquirido. Efectivamente, o retorno a uma absoluta nao intervenc;ao do Estado no social e, especificamente, no economico (ÂŤregresso a Adam SmithÂť), inspirado nas teses neo-liberais dos economistas de Chicago, como o conhecido Milton Freidman, nao corresponde em parte alguma a uma realidade. (. .. ) E que a opc;ao que hoje se apresenta aos cidadaos (eleitores) nao aparece em termos dilematicos absolutes (intervenc;ao ou absoluta nao intervenc;ao), mas em termos gradualfsticos (maior ou menor intervenc;aq) (VAZ, 1998, p. 63). A realidade fatica do seculo XXI e bern distinta da propaganda pelos te6ricos da regulac;ao, inclusive quanta aos seus efeitos, perversos nos Estados em desenvolvimento e nas populac;oes pobres, vista que os poderes publicos nao sairam de cena da vida socioeconomica, alias, pelo contrario, apenas apresentaram uma tecnica diferenciada de ac;ao. Encarnando a face contemporanea do neoliberalismo e seguindo a batuta do capital, sobretudo do financeiro, realizamos, no Brasil, significativas mudanc;as em nossa Carta Polftica de 1988, como tambem fizeram os portugueses na Constituic;ao de 1976, bem como outras Nac;oes, implantando comandos constitucionais viabilizadores da regulac;ao.
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Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
0 neoliberalismo de regula~ao como interven~ao do Estado, p. 9-30
Obviamente a nossa legisla~ao infraconstitucional foi modificada frene ticamente, a fim de moldar-se a nova forma de atuac;ao estatal, determinada pela Lei n. 0 8.987 de 13/02/1995 (Dispoe sobre a Concessao e Permissao de Servi~os Pttblicos), Lei n. 0 9.472 de 16/07/1997 (cria a Agencia Nacional de Telecomunica~ao- Anatel), Lei Complementar n. 0 101 de 04/05/2000 (Fixa Normas de F ina n~as Publicas voltadas para a Responsabilidade na Gestao Fiscal), Lei n. 0 11.079 de 30/12/2004 (Nonnas Gerais de Parceria Publica-Privada), etc.
2. A Regula~ao enquanto Tecnica de Interven~ao
A mitol6gica da retirada estatal da vida econ6mica e social, ou seja, o retorno do "parafso perdido" do laissez faire de Adam Smith na contemporaneidade, teve como principal base te6rica as ideias da Escola americana de Chicago, liderada por Milton Friedman. Aquelas fincaram os alicerces do neoliberalismo de regula~ao. Sobre as premissas de uma minima ac;ao do Estado na realidade socioecon6mico foi construfdo o Consenso de Washington em 1990, norteador das politicas econ6micas voltadas a tais fins, denominadas reguladoras, que se baseava na suposta eficiencia da iniciativa privada no mercado e na pseudo incompetencia gerencial do Estado social na economia. A bandeira da ilusao era menos Estado e mais mercado. Para tanto, deveria criar-se urn Estado mfnimo com restritas func;oes no ambito da presta~ao dos servic;os publicos e das atividades econ6micas, deixando as for~as do mercado rege-lo, digo, os poderes econ6micos privados impondo as normas para o processo produtivo e social. Em sfntese, substituir, ao maximo, o Estado pelo setor privado. Escreve Alan Greenspan sobre o infcio da regulac;ao nos Estados Unidos, no governo do Presidente Gerald Ford, em meados dos anos 70 do seculo passado: [... ] A escolha de Chicago nao foi por acaso: o raciocfnio econ6mico por tras da desregulamenta~ao foi desenvolvido basicamente por Milton Friedman e por outros transviados da chamada Escola de Chicago. Esses economistas elaboram volumoso trabalho sobre a teoria de que os mercados e pre~os, nao os planejadores centrais, eram os melhores distribuidores dos recursos da sociedade. As premissas Keynesianas que haviam dominado Washington desde o governo Kennedy sustentavam a possibilidade da gestao ativa da economia; os economistas de Chicago argumentavam que o governo deve intervir menos, nao mais, pois a regulamenta<;ao cientifica nao passava de mito. Agora, depois de anos de estagfla~ao e do fracasso recente dos controles de pre~os e sahirios, polfticos de ambos os Iados estavam propensos a concordar que a microgestao por parte do governo havia ido Ionge demais. Chegara a hora de tentar algo novo. Com efeito, desenvolveu-se em Washington notavel consenso sobre polftica econ6mica- uma convergencia de atitudes entre a esquerda liberal e a Lusiada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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Giovani Clark
direita conservadora. De repente, todos procuravam canter a infla~ao, reduzir os gastos deficitarios, atenuar a regulamenta~ao e estimular os investirnentos. A campanha de desregulamenta~ao de Ford de inicio mirou as rodovias, o frete em caminhoes e a avia~ao civil. E, nao obstante a maci~a oposi~ao por parte de empresas e sindicatos, em poucos anos o Congresso desregulamentou os tr@s setores (GREENSPAN, 2007, p. 68). A implanta~ao do neoliberalismo de regula~ao pelo mundo contou com altera~oes dos textos constitucionais, privatiza~oes e desestatiza~oes das empresas estatais, redu~ao de direitos sociais, facilita~oes para a movimenta~ao de capitais, cria~ao de agendas reguladora, reestrutura~ao do comercio internacional, etc. Na realidade a chamada safda do Estado do domfnio economico e social como se propagou na mfdia, jamais aconteceu, e nao era o objetivo da regula~ao. Essa nada mais e do que uma tecnica de interven~ao estatal na vida socioeconomica com as muta~oes ditadas pclo capitalismo contemporยงneo. Estas transforma~oes tern vindo a atravessar todo o s istema mundial, ainda que com intensidade desigual consoante a posi~ao dos paises no sistema mundial. As implica~oes destas transforma~oes para as polfticas econ6micas nacionais podem ser resumidas nas seguintes orienta~oes ou exigencias: as economias nacionais devem abrir-se ao mercado mundial e os pre~os locais devem tendencialmente adequar-se aos pre~os internacionais; deve ser dada prioridade a economia de exporta~ao; as polfticas monetarias e fiscais devem ser orientadas para a redu~ao da infla~ao e da divida publicae para a vigilยงncia sabre a balan~a de pagamentos; os direitos de propriedade privada devem ser claros e inviolaveis; o sector empresarial do Estado deve ser privatizado; a tomada de decisao privada, apoiada por pre~os estaveis, deve ditar os padroes nacionais de especializa~ao, a mobilidade dos recursos, dos investimentos e dos lucros; a regula~ao estatal da economia deve ser minima; deve reduzir-se o peso das polfticas sociais no or~amento do Estado, reduzindo o montante das transferencias sociais, eliminando a sua universalidade, e transformando-as em meras medidas compensat6rias em rela~ao aos estratos sociais inequivocamente vulnerabilizados pela actua~ao do mercado (SANTOS, 2002, p. 35). Os Estados nacionais foram criados para possibilitar o desenvolvimento do mercado e o fortalecimento do capital. Aqueles sempre agiram na vida socioeconomica, seja no mercantilismo do seculo XVIII, no neoUberalismo de regulamenta~ao do seculo XX, e ate mesmo no liberalismo do seculo XIX (AGUTLLAR, 2006). Dentro da propria ideologia liberat outrossim, partindo do pressuposto da escassez dos bens e da configura~ao da propriedade como justa recompensa aos laboriosos, o Estado se colocava como o principal garante da situa~ao dos poucos beneficiados contra a inveja dos muitos que nada tinham, para utilizar a expressao de Adam Stmith (CAMARGO, 2007, p. 33).
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Lusfada. Economia & Em presa, Lis boa, n. o 9 I 2009
0 neoliberalismo de regula~o como interven\'aO do Estado, p. 9-30
Diverso do senso comum, no liberalismo os Estados agiam na vida economica, seja limitando a importa~ao de certos produtos em nome da protec;ao da industria nacional, seja fragi lizando as corporac;oes de oficial em prol do mercado trabalho. Por sinal, um dos pais do liberalismo, Adam Smith, em sua obra "A Rigueza das Nac;oes", admite a ac;ao estatal no curso natural da economia (oferta e procura), sobretudo para alimentar os trabalbadores e fornecer carvao para as maquinas (COELHO, 2007). Outrossim, em caso de desinteresse, omissao e incapacidade do setor privado, os liberais admitiam a intervenc;ao estatal na economia. Reforc;ando o pensamento anterior, bem lembra o autor lusitano Boaventura Santos da criac;ao das instituic;oes pttblicas no Estado de Direito e de sua legislac;ao economica e social a fim de implementar o liberalismo. E arremata o cilado jurista portugu ~s: "Isto significa que as polfticas do laissez faire foram aplicadas, em grande medida, atraves duma activa intervenc;ao estatal. Por outras palavras, 0 Estado teve de intervir para nao intervir" (SANTOS, 2005, p. J19). Assim sendo, nao passa de uma ilusao a completa omissao do Estado (mao invisfvel) na vida economica e social. Estudos sobre as polfticas economicas estatais atraves dos tempos comprovam o conn路ario (HUBEMAN, 1986). Sempre existiu uma densa participac;ao dos 6rgaos publicos em diversos setores, inclusive no atual neoliberalismo de regula~ao, porem, em moldes diferenciados, como por exemplo, na regulamentac;ao, onde o Estado se fazia presente atraves das cmpresas estatais, o chamado Estado empresario (interven~ao direta), e das nonnas legais (intervenc;ao indireta), incluindo as de planejamento. 0 neoliberalismo, novo pacto, foi uma soluc;ao para a crise do liberalismo enfrentada a partiJ: das 03 primeil-as decadas do seculo XX. A nova tecnica de ac;ao regulamentadora do Estado no domfnio socioeconomico teve como marcos hist6ricos o New Deal americano e as ac;oes estatais duranle e ap6s as guerras mundiais. Aquele e urn velho conbecido, nao nasceu no final do seculo passado, como querem transparecer alguns, e urn dos seus grandes te6ricos foi John Maynard Keynes, defensor da planejada ac;ao estatal na vida economica. Portanto, o neolibcralismo possui duas fases distintas, o da regulamenla~ao transcorrido em boa parte do seculo XX eo de regulac;ao dos dias atuais. No neoliberalismo de regula<;ao possufmos as agendas de regulac;ao (interven<;ao intermediaria), estabelecendo normas jurfdicas produzidas simultaneamente aos comandos estabelecidos pelos Estados comunitarios (Uniao Europcia), entes internacionais (Organizac;ao Mundial do Comercio, Fundo Monetario Internacional) e empresas transnacionais. Paralelamente, os poderes publicos tambem agem por intermedio da legisla~ao advinda dos Poderes Legislativo e Executivo, fixando impostos, derrubando barreiras comerciais, estabelecendo investimentos, etc.
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa,
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Giovani Clark
3. A Escola da Analise Economica do Direito
As teorias sobre a regula<;ao foram abra<;adas e construfdas pela Escola da Analise Econ6mica do Direito (AED). Esta possui como premissas as ideias da Escola de Chicago e os questionamentos de seus estudiosos sobre os altos custos da interven<;ao estatal na vida socioecon6mica e de sua eficiencia na promo<;ao do bern estar social. [...] Ou seja, era a partir das necessidades te6ricas de fundamenta<;ao do Direito que se busca subsfdios na teo ria econ6mica. Com a AED, verifica-se uma inversao nessa sistematica, partindo-se da teoria econ6mica e de anaJises empfricas dos efeitos dos institutos juridicos sobre a economia, para buscar uma transforma<;ao ou reformula<;ao do direito. [... ] [... ] Portanto, a ideia e empreender uma analise das conseqiiencias do ordenamento jurfdico vigente num dado momento hist6rico, incluindo normas constitucionais, infraconstitucionais e decisoes judiciais (jurisprudencia) sobre a economia, notadamente em rela<;ao a aloca<;ao de recursos escassos, para, entao, proceder a uma adequa<;ao dos institutos jurfdicos aos criterios da racionalidade economica, sobretudo no que se refere a eficiencia e a maximiza<;ao da riqueza (FLORENZANO, 2004, p. 36-37). No pensamento da dita Esc0la, o Direito nao deve moldar imaginariamente a vida economica, mas sim os fatos I! atos econ6micos devem fixar os comandos normativos para aquela. Nesse caso, o vetor prevalente e o desenvolvimento eficiente da economia pelo seu curso "natural" ditado pelo mercado (oferta e procura), cabendo ao Direito moldar-se a necessidade daquele. Em sfntese, e a ado<;ao das teses jurfdico-economicas ultraliberais de Richard Posner, dentre outros, do Estado mfnimo e da regula<;ao economica e social. Preleciona a Prof. Guiomar T. Estrella Faria, em sua obra "lnterpreta<;ao Economica do Direito", a respeito de uma das linhas de raciodnio te6rico da Escola da Analise Econ6mica do Direito, partindo da obra Roscoe Pound:
Ao longo das trinta ptiginas de seu artigo, como jti foi analisado acima, a maior preocupat;;iio do renomado jurista americana foi demonstrar a niio interferencia das condit;;oes econ6micas das partes e dos julgadores no cartiter e no sentido das decisoes dos casas concretos no sistema do common-law. Esse angulo de observat;;iio da teoria estudada torna evidente ter o comentarista considerado a Interpretat;;iio Econ6mica do Direito como uma maneira de, criando a norma concreta para o caso, atender a fatores econ6micos, au seja (como jci assinalamos na Introdut;;iio deste trabalho), ao deduzir a norma para o caso, atender a fatores metajurfdicos, pertencentes ao universo econ6mico, vale dizer, a analise do caso, pelo juiz, sob urn enfoque economico (FARIA, 1994, p. 28-29). A Escola da Analise Economica do Direito, apesar de suas varia<;oes doutrinarias (FLORES FILHO, 2006), fundamenta teoricamente no ambito do Direito as teses do Consenso de Washington de 1990, digo, a regula<;ao. E em regra, ela
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regu la~ao como interven~ao do
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resultou somente efeitos positivos aos donos do dinheiro e aos Estados desenvolvidos. E importante ressaltar que as Emendas Constitucionais, a Carta Magna Brasileira de 1988, voltadas para a insen;ao do neoliberalismo de regular;ao, em meados dos anos 90, foram escoradas, logicamente, nas axgumenta~6es jurfdicas da Escola da Analise Economica do Direito.
4. A Regula~ao no Brasil
Apesar de algumas tentativas anteriores, como a cria~ao do programa nacional de desestatiza~ao (Lei n. 0 8.031 de 12/04/1990), a implanta~ao da regula~ao no Brasil efetivou-se na pn1tica como "Plano Real", datado de 1994, que objetivava a priori combater as press6es intlacionarias. Como escreve Batista Jr. (2005), no referido "Plano" abriu-se de forma indiscriminada, as portas para a entrada dos produtos importados, estabeleceu a paridade cambial entre o d6lar e o real, facilitou a entrada de capital estrangeiro, entre outras medidas. Tivemos a queda da inflac;ao, mas paralelamente conquistamos a redw;ao do tamanho da industria nacionat sobretudo das pequenas; aceleramos o desemprego estrutural; aumentamos o deficit da balanc;a comercial e aprofundamos a nossa dependencia economica. Era a chegada do neoliberalismo de regulac;ao, antes mesmo de qualquer altera<;ao na Carta Politica de 1988. No Brasil, o processo de imposi~ao da ordem neoliberal foi mais complexo e tardio. As lutas sociais, desde o final dos anos 1970, estavam na base da derrubada da ditadma militar e da construc;ao de instrumenl:os politicos e organizativos- oPT em 1980, a CUT em 1983, o MST em 1984 - que buscavam a transforma~ao social do ponto de vista democratico e popular. Assim, o que foi implantado em varios paises da America do Sut nos anos 1980, vers6es do neoliberalismo na periferia, no Brasil foi interditado, em grande medida, ate o inicio dos anos 1990. Mesmo a vit6ria de Collo1~ em 1989, nao significou a imposir;ao do conjunto do ditador neoliberal. 0 neoliberalismo instalar-se-a no Brasil, com todas as suas conseqi.iencias, em 1994 (PAULA, 2005, p. 32). Nao tardaram muito as alterac;oes na Constitui~ao brasileira atuat por intermedio das emendas, a partir de 1995, a fim de enraizar a implanta~ao da regular;ao. Todavia, contrariou a ideologia constitucional adotada (SOUZA, 2005) em nossa Carta Magna, "liquidando" o nacionalismo existente, em virtude do termino da distin.c;ao entre empresa brasileira e empresa brasileira de capital nacional (Emenda Constitucional n. 0 06 de 15/08/1995); do fim da restri<;ao de explorar;ao da pesquisa e lavra de recursos minerais e o aproveitamento de potenciais hidraulicos, mediante autoriza~ao ou concessao pela Uniao, a brasileiros ou a empresa brasileira de capital nacional (Emenda Constitucional n. 0 06 de 15/08/1995). Lus!ad.li. Ecpncrtda & Empresa, Lisboa, n.0 9/2009
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E ainda, dentre outras altera<;6es, quebrou-se o monop6lio da empresa estatal- Petrobras- sobre o petr6leo (Emenda Constitucional n. 0 09 de 1011111995); retirou-se a exigencia da predominancia dos armadores nacionais e navios de bandeira e registros brasileiros no transporte de cargo no pais (Emenda Constitucional n. 0 07 de 1510811995); e em anos mais recentes, exterminamos a fixa<;ao dos juros reais de 12% ao ano (Emenda Constitucional n. 0 40 de 29 I 05 I 2003). Em sfntese, as citadas emendas, assim como outras, realizaram uma parcial desconstru<;ao (ScAFF, 2004) da Constitui<;ao Econ6mica original, chocando-se com os fundamentos, fins e principios da mesma (art. 170 da CRl), revogando seus limites implicitos (CLARK, 2001) e impossibilitando a eficacia da Carta Politica brasileira de 1988, sobretudo no tocante a execu<;ao dos comandos destinados a mutac;ao de nossa realidade socioecon6mica perversa, injusta e autoritaria. Tambem as privatiza<;6es e a desestatiza<;ao de servic;os publicos e atividades econ6micas geridas pelo Estado, em regime de monop6lio ou de concorrencia, foram colocadas em pratica. As empresas estatais detentoras daqueles servi<;os e atividades foram transferidas ao capital privado, internacional, em regra, por pre<;os vise pagas em moedas podres (parcialmente), sem qualquer preocupa<;ao com os ditames da Constitui<;ao Econ6mica brasileira. No fim do seculo XX e no infcio do seculo XXI, as politicas neoliberais de regulamentac;ao passaram a restringir a expansao e a mobilidade do capital. 0 novo ambiente mundial de fim da guerra fria, queda do socialismo real e de alta evoluc;ao tecnol6gica resulta em press6es por outras polfticas econ6micas ao gosto dos donas do capital. Os Estados nacionais passam a executar o neoliberalismo de regula<;ao, transferindo servi<;os e atividades a iniciativa privada (via privatiza<;ao e desestatiza<;ao) agora, atraentes ao capital, em face dos avanc;os cientfficos e da "redu<;ao" dos ganhos com a industria belica da guerra fria. A tecnologia tornou lucrativos setores que anteriormente tinham baixa lucratividade, ou nao tinham, e estavam nas maos do Estado (CLARK, 2006, p . 241). As vergonhosas privatiza<;6es nacionais, por exemplo, sempre maculadas por suspeitas, desrespeitaram o mandamento constitucional de soberania econ6mica (art. 170, I da Constituic;ao da Republica) "transferindo" as riquezas nacionais ao capital estrangeiro, inviabilizando assim a nossa autodeterminac;ao sobre aquelas (pre<;os, explora<;ao, preserva<;ao), enfraquecendo a posi<;ao brasileira nas trocas internacionais, porque nao temos mais o controle explorat6rio dos nossos principais produtos de exporta<;ao (recursos naturais). Diferentemente, as nac;oes desenvolvidas continuam com os segredos dos cadeados das caixas pretas de suas tecnologias, principal produto de exportac;ao daqueles pafses.
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CR significa Constitui-;ao da Republica Federativa do Brasil de 1988.
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A defesa do consumidor (art. 170, V da CR) tambem foi deixada de lado, dentre outros comandos constitucionais. Diante dos diversos oligop6lios privados, dos antigos servi~os estatais, os consumidores possuem seus direitos aviltados, seja pela duvidosa qualidade dos servic;os prestados, ou seja, pelas escorchantes tarifas cobradas pelos mesmos. Logicamente, tudo com o benepl<kito das agencias reguladoras que deveriam coibir quaisquer abusos. As politicas economicas regulat6rias nao se limitaram a transferir cobic;adas atividades e servi~os estatais, via privatizac;ao e desestatizac;ao, para a iniciativa privada, criou ainda "novos mercados" para ela, dilatando os seus lucros. Os setores que continuaran1 nas n1aos dos poderes publicos, digo, nao sofreram claras ac;oes de privatizac;ao, exemplificando, no caso brasileiro, as areas de educac;ao, saude, previdencia social e segmanc;a publica, tiveram seus servic;os sucateados e desprovidos dos investimentos governamentais, ampliando, ainda mais, os mercados para os donos do dinheiro. Portanto, o Estado Democratico de Direito, com suas polfticas economicas de regulac;ao, nao s6 transferiu diretamente seus servic;os e atividades economicas ao setor privado, mas, tambem, age concomitantemente precarizando e reduzindo a sua inserc;ao em setores de sua responsabilidade. Todavia, a iniciativa privada "atende", apenas, aos consumidores capazes de pagarem os prec;os exigidos por ela, ficando os sofridos servic;os publicos para as camadas pobres e misen1veis da popula~ao.
5. A
Regula~ao
ea
Constitui~ao
de 1988
A regulac;ao e uma tecnica de intervenc;ao estatal na estrutma economica e social adotada na contemporaneidade e assim sendo, deve seguir as normas fixadas pela Carta Magna brasileira de 1988. Portanto, as ac;oes e programas executados pela Uniao, Estados Membros, Distrito Federal e Municfpios devem estar dentro dos parametros de planejamento constitucionalmente previstos (art. 174, Caput da CR), destacando-se nesse sentido, a Lei do Plano Plurianual (art. 165, I da CR), a Lei de Diretrizes Orc;ament<hias (art. 165, II da CR) e a Lei do On;amento anual (art. 165, III da CR). As diversas formas de intervenc;ao, sejam elas diretas, indiretas, ou intermediarias, se apresentam no Brasil como mecanismos de atuac;ao publica na vida econornica, mesmo nesses tempos de regula<;ao (adota preferencialmente as duas ultimas). Essas modalidades de ac;ao estatal apresentam-se no Texto Constitucional brasileiro de 1988, principalmente, nos arts. 173, Caput e 175, Caput da CR (direta); arts. 174, Caput e 173, ยง 4. 0 da CR (indireta) e arts. 21, XI; 1.75 e seu ยง unico da CR (intermediaria). Em nosso territ6rio detectarnos a intervenc;ao indireta (produc;ao de normas juxidicas do Legislativo ou do Executivo) quando a Uniao produz lei para viabilizar as pequenas empresas no mercado, criando ambiente para sobreviLusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n.0 9/2009
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vencia das mesmas (Lei Complementar n. 0 123 de 14/12/2006); ou entao, algum municipio renuncia parte do imposto sobre propriedade predial e territorial urbana (art. 156, I da CR), desejando a revitaliza~ao I reforma do patrimonio hist6rico da cidade em maos dos particulares, buscando o progresso do turismo. Em rela~ao a a~ao direta, atua~ao estatal via empresas que operam no mercado em regime de monop6lio ou de concorrencia, continuamos com algumas, tais como: Banco do Brasil, Empresa Brasileira de Correios e Telegrafos, Companhia Energetica de Minas Gerais, etc. Essas podem fortalecer o mercado interno e democratizar o consumo de hens e servi~os. As polfticas economicas de regula~ao no Brasil por diversos motivos, entre eles, pelas pressoes dos movimentos sociais, nao conseguiram liquidar por completo as empresas publicas e as sociedades de economia mista que representavam, fundamentalmente, o Estado empresario. Ap6s as privatiza~6es nacionais, restaram, ainda, minguadas empresas estatais produtoras de hens e servi~os. Por vezes, ate se cria alguma, como e o caso da Empresa de Pesquisa Energetica (Lei n. 0 10.847 /2004) datada de 15 de mar~o de 2004. Quanto a interven~ao intermediaria no Brasil, uma das festejadas pelos defensores da regula~ao, esta e representada pelas agendas reguladoras, ensina Souza (2005). Nela cria-se o ente estatal, a agenda, e ela possui, ainda, a competencia legal para editar "normas tecnicas" de qualidade, quantidade e expansao, bern como para definir reajustes de tarifas, fiscalizar e punir, administrativamente, a iniciativa privada sujeita aos seus marcos regulat6rios. Eimportante ressaltar que as agendas possuem poder distinto das empresas estatais para influenciar no mundo dos neg6cios e nos destinos das na~6es, no caso, bern mais tenue, porque elas apenas regulam, nao produzem hens e nem servi~os como o Estado empresario. Este sim possufa uma for~a execut6ria e capacidade realizadora maior na estrutura produtiva e no tecido social. Sem qualquer incompatibilidade com as modalidades de interven~ao apresentadas (direta, indireta e intermedi<iria), ao contnirio, articulam-se, apresentaremos outras, a fim de aprimorar o estudo do tema proposto. Seguindo o ensinamento de Savy (1977) e tambem os nossos escritos (CLARK, 2001), temos ainda a interven~ao geral e a setorial, previstas na Carta Magna brasileira de 1988. Tambem admitidas no neoliberalismo de regulamenta~ao e de regula~ao. 0 texto da Constitui~ao da Republica Federativa do Brasil possui comandos, principalmente na Constitui~ao Economica, redigidos dentro dos moldes do Standard Juridico (SOUZA, 2005), admitindo no plano te6rico, somente, a ado~ao das tecnicas intervencionistas de regulamenta~ao ou de regula~ao, apesar das modifica~oes constitucionais promovidas serem no sentindo de implantar essa ultima. A solu~ao do "standard jurfdico" apresenta-se como expediente que inspira urn tipo de lei no sentido mais generico, mais abrangente, sem a rigidez habitual das demais leis e que permite a adapta~ao constante a realidade, bus20
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cando aperfei<;oar o aspecto dinamico da legisla<;ao, referente ao econ6mico (SOUZA, 2005, p. 141-142). Na interven<;ao geral, encontramos a polftica econ6mica conjuntural (politica fiscal e or<;amentaria, politica de moeda e credito, polltica de pre<;o e a politica externa), a polftica econ6mica a medio prazo (politica de concorrencia, politica de emprego e politica de rendimento) e a politica econ6mica estrutural (investimentos). Ja a interven<;ao setorial e quan.do se adota uma politica econ6mica especffica envolvendo um ou mais segmentos econ6micos, independentemente ou nao da interven<;ao geral. Ressaltamos, novamente, que o Texto Constitucional de 1988 imp6e o poder I dever da Uniao, Estados-membros, Distrito Federal e Municfpios de realizarem suas pollticas econ6micas inseridos na racionalidade do planejamento. Nao e por outro motivo a imposi<;ao dos mandamentos, dentre outros, dos arts. 21, IX; 25, ยง 3_0; 30, VIII; 48, IV; 84, XXIII; 165; 166; 174, Caput e ยง 1.0 da Constituic;;i:lo da Republica, articulando-se a interven<;ao geral (art. 174, Caput e ยง V da CR) com a setorial (art. 187, Caput da CR). Portanto, o neoliberalismo de regula<;ao no Brasil deve agi.J: no dominio socioecon6mico nacional seguindo as normas legais de planejamento (Lei do Plano Plurianual, principalmente), viabilizando os fins e materializando os princfpios da Carta Magna. Na polftica econ6mica conjuntural, inicialmente temos a politica fiscal e or<;amentaria onde a Uniao, Estados e Municfpios agem assiduamente no dominio econ6mico e social. 0 aumento, a diminuic;ao ou cria<;ao de impostos, exemplificando, podem resultar na expansao do setor de servic;os ou na retra<;ao da industria de m6veis. Assim como a eleva<;ao acentuada da carga tributaria a detenninados contribuintes pode ajudar a dilatar os gastos publicos com a dfvida social, fazendo, paralelamente, a justi<;a distributiva. Outrossim, o mesmo remedio, acrescimo de tributos a populac;ao em geral, pode levar a estagna<;ao econ6mica. A Carta Polftica brasileira atual, no capitulo do Sistema Tributario Nacional (arts. 145 a 162) impoe aos poderes publicos a missao de atuar na vida socioecon6mica atraves dos tributos. A Uniao (arts. 153 e 154 da CR) pode agir via os impostos de exportac;ao e de importa<;ao, aumentando o primeiro e diminuindo o segundo, sufocando inflac;ao sazonal de demanda; ou entao, reduzindo o imposto incidente sobre determinado produto industrializado ecologicamente correto (chuveiro com energia alternativa). Os Estados-membros (art. 155 da CR) manejam os impostos sobre circula<;ao de mercadorias e sobre propriedade de veiculos automotores, por exemplo, podendo, portanto, induzir ou inibir um setor econ6mico (de bens recidaveis), conforme a alfquota do primeiro tributo; ou ainda, estimular a compra de veiculos automotivos alternatives (uso de combustiveis renovaveis), em face da baixa tributa~ao dos referidos impostos. Lusfada. Econom ia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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Os Municipios (art. 156 da CR) tambem intervem na vida economica por intermedio dos tributos, reduzindo, temporariamente, para algumas especies de im6veis, o imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana, a fim de estimular novas edificat;oes e automaticamente estimular o turismo de aguas marinhas. 0 poder local tern ainda a possibilidade de taxar os servit;os de qualquer natureza e, atraves dele, ampliar o numero de empresas prestadoras de servit;os, diminuindo o desemprego na cidade. Apesar de termos urn federalismo perverso e centralizado, onde a UnH'io concentra a maioria das competencias tributarias e o maior volume de sua arrecada<;ao, tanto a Uniao quanto os Estados e Municipios atuam no ambito economico e social, atraves da polftica fiscal. Isso independentemente dos tributes tercm uma destinat;ao "originariamente" fiscal ou extra-fiscal, eles realizam tal missao. Ademais, a Carta Magna brasileira de 1988, quanto impoe a seletividade dos produtos industrializados (art. 153, ยง 3.0 , I da CR) e de circulat;ao de mercadorias e servit;os (art. 155, ยง 2. 0 , III da CR) em funt;ao da essencialidade dos mesmos, cxplicita, mais uma vez, o papel intervencionista dos poderes publicos, especificamente da Uniao e dos Estados, respectivamente, nos exemplos em tela. Outrossim, nao se pode pensar em polftica fiscal desvinculada da ort;amentaria. Essa e uma pet;a fundamental na vida das nat;oes e dos neg6cios privados, estando configurada fundamentalmente na Lei ort;amentaria anual (art. 165, III da CR) entre n6s. A mesma e elaborada pelos Munidpios, Estados e pela Uniao, seguindo os comandos legais estabelecidos pela Lei do Plano Plurianual (art. 165, I da CR) e pela Lei de diretrizes ort;ament<hias (art. 165, II da CR), podendo causar inflat;ao, por exemplo, devido a falta de investimentos em setores de energia e transportes, vitais para a produt;ao agrfcola e industrial; ou entao, gerar retrat;ao economica, proveniente de gastos publicos excessivos no pagamento das dividas governamentais previstas no ort;amento, em detrimento de investimentos estatais em infra-estrutural basica. Logicamente, as leis de or<;amcnto nao podem escapar dos limites ditados pela Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n. 0 101/2000). Ainda dentro da polftica economica conjuntural, temos as polfticas de moeda e a credito. Elas sao de competencia da Uniao (arts. 21, VII e VIII; 22, VI e VII da CR) e influenciam no dia a dia das empresas e dos cidadaos. 0 volume de moeda (papel, metalica ou plastica) no mercado gera inflat;ao, em caso de excesso, resultando na limitat;ao do consumo de bens a populat;ao; ou ainda, na deflat;ao, originada pela pequena quantidade de moeda no mercado, levando a redu<;ยงo dos pret;os dos produtos, abaixo de seus valores de custo, causando o desaparecimento dos bens e a possfvel falencia dos fornecedores. A polftica de credito pode ser manejada, dentre outras maneiras, atraves da concessao de dinheiro mais barato a micros e pequenos neg6cios existentes no pafs, reduzindo-se o imposto sobre operat;oes de credito (art. 153, V da CR), aquecendo assim a oferta de bens e servit;os no mercado consumidor e dila22
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tando a cria~ao de empregos formais . Pode, a Uniao, acarrear recursos de seus bancos oficiais para as classes nao abastadas do pais adqu irirem, ampliarem e refonnarem suas propriedades rurais ou urhanas. Logicamente, todas as a~ocs acima irao influenciar o setor financeiro e ohviamcn.te a atuac;ao dos hancos privados, levando os mesmos a diminuil'em seus ganhos com os juros, devido a oferta de credito acess!vel a populac;ao e as empresas pelo Estado. Ja em rela<;ao a politica de pre<;o, a nossa Conslitui<;ao de 1988 estabelece poderes para a Uniao e os Estados legislarem concorrentemente sohre Direito Economico, produc;ao e consumo (aTt. 24, 1 e V da CR). Outmssim, os Poderes Locais tambem podem Iegislar sohre as mesmas materias (CLARK, 2001), quando aquela possibilita aos Municipios a atuarem sohre assuntos de interesse local e sup lementar a legisla<;ao federal e estadual no que couher (art. 30, I e II da CR). No prec;o esta emhutida a margem de lucro do seto!~ pode o primeiro possihilitar o consume a inumeras classes sociais ou apenas das mais ricas. A Uniao pode estahelecer prec;os maximos a certos hens no intuito de controlar as margens de ganho de setores oligopolizados; aos Estados e pennitido garantir pre<;o mfnimo aos produtores de Ieite, em face do poderio economico das industrias processadoras e da importancia do alimento na dieta das crian<;as. Os Municfpios podem, ainda, fomentar o prec;o pactuado, via seu Conselho de Desenvolvimento Economico e Social, onde os diversos segmentos sociais esUio representados, garantindo a manutenc;ao do valor de determinado servi<;o, por urn ano, por causa da infl a~ao setorial. Finalm.ente, em. relac;ao a politica de pre<;os, existe ainda a possihilidade da Uniao lanc;ar mao da Lei Dclegada n.0 04 de 26/09/1962 para tahelar prec;os e servi<;os em virtude de alla dos mcsmos, provocada pela diladura dos carteis, monop6lios e oligop6lios privados, em instante de crise na econornia de mercado, buscando a consagra~ao do consumo popular. Alias, o Supremo Tribunal Federal julgou a constitucionalidade da dita Lei Delegada, apoiando-se, fundamentalmente, nos arts. 173, ยง 4. 0 e 174, Caput da Carta Constitucional brasileira (SOUZA e CLARK, 2008). Ain d a, quanto a polftica economica conjuntural, temos a polltica externa onde a Uniao (art. 22, VII da CR) atua no do:minio economico e social pelos mecanismos de entrada e safda de hens, servi<;os, capitais e tecnologia. Conforme as polfticas econ6micas desenvolvidas no Brasil no comcrcio internacional, teremos maior ou menor independen.cia perante os fornecedores estrru.1geiros e a efelividade da soberania economica ditada pelo art. 170, I da Constitui~ao de 1988. Dessa forma, a Uniao pode incentivar a importa<;ao de alguns produtos destinados a inihir 0 uso do tahaco, preservando a saude dos brasileiros fumantes e nao fumantes e diminuir os gastos publicos com os efeitos negatives produzidos por aquele; tambem e possfvel desestimular a exporta~ao de bens em alta de pre<;os no Brasil, refreando o dragao da infla<;ao. Na execu<;ao de tais
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medidas, em ambos os casos, podemos abrir linhas de credito especiais ou reduzir as barreiras burocraticas. Em relar;ao a entrada e salda de capitais (art. 172 da CR), a Uniao pode seduzir investimento estrangeiro em alguns setores produtivo, alargando o percentual de remessa de lucros ao pafs da empresa investidora, mas paralelamente vincular uma maior absorr;ao de mao de obra formal. Nada impede que se adotem medidas tributarias para desestimular os nacionais a aplicarem no exterior. No campo da tecnologia (arts. 218 e 219 da CR), css~ncia no mundo do seculo XXI, para finda1¡ com a espoliar;ao das nac;oes desenvolvidas e de seus capitais sobre as Nac;oes em desenvolvimento e suas popular;oes, e nao mais continuarmos adquiri-las no exterior, como fazemos a mais de 500 anos, devemos mudar a rota, como por exemplo, reforr;ar os caixas das instituic;oes publicas e comunitarias de pesquisa e ensino, objetivando produzir tecnologicamente endogenamente ou em conjunto com outras Nac;oes em d esenvolvimento. Outrossim, o Texto Constitucional de 1988 determina aos poderes publicos a missao de promover e incentivar a ci~ncia e a tecnologia, possibilitando claramente, ainda, a aplicac;ao de recursos dos Estados-membros e do Distrito Federal no setor (art. 218, § 5.0 da CR). Saindo da politica econ6mica conjuntural, onde o Estado atua de forma instantanea na estrutura econ6mica e social, atraves das ac;oes supra citadas, passaremos para a polftica economica a medio prazo (polftica de concorr~ncia, de emprego e de rendimento). A polftica de concorrencia e cogitada pela Carta Magna de 1988, em seu art. 173, § 4. 0 , estabelecendo: "A lei reprimira o abuso do poder economico que vise a dominac;ao dos mercados, a eliminac;ao da concorr~ncia e ao aumento arbitrario dos lucros". A Lei n. 0 8.884 de 11/06/94, que dispoe sobre a prevenc;ao e repressao as infrac;oes contra a ordem econ6mica, impondo ao Conselho Administrativo de Defesa Economica (CADE), autarquia federal, a rnissao de punir administrativamente (multas, cisao da empresa, publicac;ao da condenac;ao em jornal de circular;ao) os infratores da ordem economica, podendo ser eles pessoas ffsicas e/ou jurfdicas. No ambito penal, temos a Lei n. 0 8.137 de 27/12/90, definidora dos crimes contra a ordem tributaria, econornica e as relac;oes de consumo, fixadora das sanr;oes penais aos seus transgressores. Em materia de abuso do poder econ6mico podem existir conjuntamente as sanc;oes administrativas e penais, bern como a responsabilidade civil dos infratores. Como em todo mundo capitalista, no Brasil, a legislac;ao, como a acima referida, nao veda a exist~ncia do poder economico, apenas limita a sua atuac;ao e o uso ilegal de seu poder no sistema economico. Assim sendo, quando agimos de forma contundente e eficaz na prevenc;ao e repressao dos atos de abuso do poder economico por intermedio de politicas publicas cumpridoras das leis existentes, estaremos inviabilizando os altos prer;os exigidos pelos carteis e ampliando o poder de compra dos consumidores. 24
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lnfelizmente, no Brasil vivemos em estagio de Fetiche das Leis (SOUZA e CLARK, 2008), no tocante ao abuso do poder economico. A completa falta de eficacia daquelas gera entre n6s o parafso dos oligop6lios e o inferno dos consumidores. Dentro da politica economica a media prazo, possuimos ainda a polftica de emprego. E de competencia da Uniao, legislar sobre direito do trabalho (art. 22, I e XVI da CR) e sua interven<;ao indireta (via n01路mas juridicas) nas rela<;6es laborais pode ser no sentido de reduzir a jornada de trabalho amainando o subemprego e o desemprego; criar incentives tributaries em busca do citado objetivo; ou fixar "reajustes" anuais nos salarios dos trabalhadores da iniciativa privada, recompondo as perdas da infla<;ao, acrescidos de aumentos reais, buscando assim maior justi<;a na eterna disputa desigual entre capital e trabalho. Apesar dos Municfpios e Estados-membros nao possufrem competencia para atum路em no direito do trabalho, estes devem, juntamente com a Uniao, agix para garantir o pleno emprego (art. 170, VIII da CR), via suas politicas economicas dirigidas ao turismo, a agropecuaria, ou a industria, seja atraves de linhas de creditos, renuncia tributaria ou de obras de i.J.<fra-estrutura, onde a expansao do emprego esteja embutida em suas finalidades. Finalizando, na polftica economica a media prazo temos a politica de rendimento. Ela versa sobre as diversas formas de distribui~ao dos ganhos, digo, de remunera~ao dos "fatores da produ~ao" (SouzA, 2005), ou seja, o salario advindo do trabalho, a renda auferida das propriedades, o lucro surgido da produ~ao e os juros originados do capital. No campo do salario, tipo de remunerac;ao estabelecida ao trabalhador possuidor de emprego, uma das especies de trabalho, temos o sah'irio minimo e o salario familia, garantidos constitucionalmente (art. 7, IV e XII da CR), que devem ser usados pelos governantes para valorizar o trabalho humano (art. 170, Caput da CR) e viabilizar o direito ao trabalho (art. 6 da CR). Conforme os valores fixados para aqueles (salarios minimo e familia), pela Uniao (art. 22, I da CR), em sua politica salarial, se efetiva os ditames acima do Texto Constitucional, remunerando corretamente os trabalhadores pelos servi~os prestados e lhes possibilitando uma vida digna, ou se perpetuara o aumento dos lucros. Uma das formas de auferir ganhos e por intermedio de renda originada dos aJugw?is de im6veis urba.nos e rurais ou de maqui.J.1as. Mesmo a nossa Carta Politica de 1988 garantindo o direito a propriedade privada (arts. 5, XXII e 170, II da CR), sobre ela recai uma fun~ao social, tanto as de consumo (art. 5, XIII da CR), como as de prodw;ao (art. 170, III da CR). Dessa forma, diante das dificuldades habitacionais vividas em nosso pais, marcante nos grandes centres urbanos, a Uniao atua de forma indireta (Lei n. 0 8.245 de 18/10/1991) estabelecendo para metros legais para os locadores de im6veis residenciais requererem os mesmos sem motiva~ao (30 meses) e veda os reajustes dos alugueis vinculados as varia~oes do salario mfnimo ou do cambio. Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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0 Estado, ao desenvolver politicas de renda (impositiva), interferindo na propriedade residencial, cuida da distribuic;ao dos ganhos e da justic;a social, logo nao deve permitir o desestimulo dos proprietaries, motivado pelos baixos vaiores dos alugueis, nem o esmagamento dos inquilinos, devidos aos vaiores proibitivos daqueles. 0 lucro e adquirido por todo aquele que reune os fatores da produc;ao (capital, materia prima, trabalho e organizac;ao). A Constituic;ao de 1988 permite o mesmo, mas veda o seu aumento de forma arbitraria (art. 173, ยง 4. 0 da CR). No capitaiismo o lucro e um "plus" conquistado pela empresa ou pelo empresario pelo seu "esforc;o de empreender uma atividade". No caso do lucro, a politica economica pode taxar fortemente um segmento poluidor atraves do imposto sobre a propriedade industrial de competencia da Uniao (art. 153, IV da CR), a fim estimular o uso de energia limpa, ou ainda tabelar prec;os de algw1s bens via a Lei Delegada n. 0 04/1962, dominado por oligop6lio praticante de cartel, possibilitando o consumo do trabalhador. Em ambas as hip6teses, iremos restringir os lucros, mas, com outras medidas, poderfamos amplia-lo. Ja em relac;ao aos juros (arts. 21, VIII e 22, VII da CR), apesar da lastimavel revogac;ao do comando constitucional que o taxava em 12% ao ano (Emenda Constitucional n. 0 40 de 29/05/2003), qualquer tipo de propriedade, inclusive a do capital, esta sujeita a uma func;ao social (art. 170, III da CR). Assim sendo, a politica economica destinada aos juros deve perseguir os fins da Constituic;ao economica, nao podendo ampliar extraordinariamente os ganhos dos bancos nero, muito menos, empobrecer e subordinar os que dependem de seus emprestimos e servic;os. Quando a Uniao aumenta a emissao de titulos da divida publica no mercado, tais tftulos governamentais irao concorrer com a necessidade dos particulares em obter dinheiro, resultando em uma maior demanda por capital e, conseqilentemente elevando o montante de juros pagos aos banqueiros. A Uniao, tambem, pode incentivar a compra a credito de im6veis, ofertando emprestimo com juros baixos nos bancos oficiais, dilatando assim o volume de recursos destinados ao setor, reduzindo, por conseguinte, a margem de ganho do sistema financeiro em virtude da concorrencia. Por derradeiro, dentro da politica economica geral, possufmos a polftica estrutural, nela o Estado (Uniao, Estados-membros, Municfpios) investe recursos originados de seu orc;amento ou dos ganhos das empresas estatais em fundos de desenvolvimento, obras de infra-estrutura, compra de bens tecnol6gicos, interferindo em todo o sistema economico, gerando desenvolvimento sustentavel ou o crescimento modernizante. Pode contar, ainda, com recursos privados de pessoas juridicas, por intermedio de aplicac;oes direta, em parceria com o Estado (Lei n .0 11.079/2004 da Parceria Publico-Privada). Algumas obras estatais em ferrovias e portos podem diminuir o custo da produc;ao, agilizando o transporte dos bens e aumentando o seu consumo, moti26
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vado pela redu~ao dos pre~os . Investimentos governamentais em regioes pobres podem resultar em redistribui~ao da popula~ao urbana e melhor nivel de vida, a criar;ao de uma empresa publica, por exemplo, transformadora do Iixo pode alimentar as industrias de materia prima reciclada, trazendo muta~6es no processo produtivo e no tecido social. A politica econ6mica setorial e a a~ao estatal em mn ou mais setores da vida econ6mica e social, seja na produr;ao de frutas, no turismo regional ou na industria de base. Ela deve ser coerente e ha1路m6nica com a politica economica geral e as tres esferas de poder territorial (Uniao, Estados-membros, Mw1idpios) podem executa-Ia. A politica economica setorial pode exigir obras de infra-estrutma, cria~ao de empresas estatais, estatizar;ao de empresas privadas, incentivos tributarios, fundos de in.vestimentos, concessao de ten路as publicas e todos os demais mecanismos acima descritos de atu.ar;ao governamental, a fim de efetivar a justi~a social fixada pela Constitui~ao brasileira atu.al. Resumidamente, em nossa Nac;ao a ac;ao estatal no dominio economico e social deve ter como base constitucional os comandos referidos acima. Logicamente, outros tipos de atua~ao sao protagonizados com base em ou.tros artigos de nossa Lei Maxima, seja na produc;ao, na circula~ao, na reparti~ao ou. no consumo. Contudo, a regu.lac;ao no Brasil significou, a partir da ultima decada do seculo XX, o manejo "contido" das pollticas econ6micas, como assenta o capital privado e organismos internacionais (Fundo Monetario Internacional, Banco Mundial, etc) as Na~6es em desenvolvimento. Aquela se exprime como u.ma atuac;ao estatal conservadora por intennedio da polftica economica conjuntural, prioritariamente, "esquecendo-se" das polfticas economicas de medio prazo e das estruturais. Em detrimento do Texto Constitucional brasileiro atual e embasado nas teses da Escola da Analise Econ6mica do Direito, deixamos ao sabor dos donos dos d.inheiros a politica de concorrencia, fundamental para repreensao ao abuso do poder economico; a polftica de reparti~ao, essencial na distribu.ic;ao dos ganhos entre capital e trabalho; bern como a politica estrutural, por deixarmos de fazer investimentos em setores estrategicos na miragem de saldar uma dfvida publica secular e nao auditada. Inclusive, na atualidade (anos de 2008 e 2009), o neoliberalismo de regulac;ao demonstra objetivamente, mais uma vez, o seu. !ado destruidor, seja no Brasil ou nas demais Nar;oes. Em virtude da ''contida" atuac;ao estatal no domfnio economico, todavia sempre em prol da multiplicac;ao dos ganhos do capital, instalou-se uma aguda crise socioecon6mica mundial iniciada nos setores imobiliario e financeiro dos Estados Unidos. A irresponsabilidade e a ineficacia das polfticas economicas reguladoras publicas e privadas estao resu.ltando em recessao, dilatac;ao dos nfveis de desempregados e em mortos, ou seja, na "pandemia reguladora". Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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6. Conclusoes
A regula~ao e uma tecnica de interven~ao estatal na vida socioeconomica imposta a economia de mercado do seculo XXI, perpetuadora do modelo p6s-colonial para as chamadas Na~oes em desenvolvimento, como o Brasil, e multiplicadora de poderes e ganhos ao mega capital internacional"global". Realizamos uma serie de altera~oes (emendas) no texto da Constitui~ao brasileira de 1988, apesar de seus comandos possufrem uma reda~ao generica (Standard Jurfdico), sendo teoricamente (somente) admissfveis a regulamentac;ao e a regulac;ao; aprimoramos suas normas a segunda, ja que o mesmo foi construfdo dentro de uma realidade de regulamentac;ao. Contudo, o neoliberalismo de regula~ao mostrou-se incompatfvel para a efetivac;ao de nossa Carta Magna, ou seja, de seu preambulo; dos fundamentos do Estado Democratico de Direito (art. 1 da CR); dos objetivos fundamentais da Republica (art. 3 da CR); e ainda com os fundamentos, fins e princfpios da Constituic;ao Economica (art. 170 da CR), porque retira a forc;a execut6ria e a capacidade realizadora estatal no sistema produtivo e no tecido social, como exigem os ditames constitucionais e a propria realidade nacional. Tendo em vista as rafzes hist6ricas brasileiras, de Nac;ao colonizada e explorada, inclusive nesse seculo, e de fundamental importancia a atuac;ao estatal nas estruturas socioeconomicas, atraves de seu poder economico e do aparato institucionallegal. Nao temos uma visao romantica do Estado como ente isento e de condutas racionais, mas sim uma visao dialetica, ja que os poderes publicos possuem suas a~oes ditadas pelos conflitos de classes e pelos interesses antagonicos de uma sociedade complexa. Assim sendo, quando a regulac;ao restringe a atuac;ao estatal e repassa o regramento social para o mercado, digo, ao poder econornico privado, refreia e amaina as demandas e pressoes sociais, junto a maquina governamental, pelo cumprimento dos ditames constitucionais mudancistas, bern como esvazia urn dos espac;os de conquistas sociais (o Estado). 0 Texto Constitucional de 1988 impoe o poder I dever do Estado em agir no domfnio economico e social de forma planejada, a fim de transformar o nosso oceano de injusti~as e materializar plenamente o desenvolvimento sustentavel, a existencia digna, a func;ao social das propriedades, a soberania nacional, a defesa do consumidor, etc. Por conseguinte, o neoliberalismo de regula~ao colide com tais comandos. Portanto, a regula~ao no Brasil, assim como nas demais nac;oes, nao significa a nao ac;ao governarnental no sistema economico e social. Isso e urn mito. Como no passado, atualmente os poderes publicos (Uniao, Estados-membros e Municfpios) agem constantemente nas realidades, atraves de investimentos, legislac;ao e agendas de regulac;ao. Por fim, nesses dias de 2009, na efervescencia da crise economica internacional, novamente todos os Estados nacionais sao chamados para salvar o capitalismo, e prioritariamente o grande capital, modificando as suas formas ante-
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riores de atua<;ao no processo economico. Ate alguns meses atras o aparato estatal era incompetente, caro e "recha<;ado" da vida economica. Agora e o Prfn.cipe Salvador que estatiza bancos, concede emprestimos milionarios ao setor automobilfstico, reduz tributos, realiza obras indutoras a fim de estancar os efeitos da crise e efetivar a convulsao social. Em sfntese, o neoliberalismo de regula<;ao tambem e incompativel para a continuidade do capitalismo no tempo e no espa<;o.
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CONTAGIO FINANCEIRO ENTRE MERCADOS DE AC~OES DE PAISES DESEN VOLVIDOS DURANTE A CRISE ASIATICA
Julio Lobao Doutor em Finan<;as pela Universidade do Minho Professor na Universidade Lusfada do Porto
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9 I 2009
Resumo: Neste estudo avaliamos a importancia do fen6meno de contagio entre os mercados de ac<;oes de nove pafses desenvolvidos durante o epis6dio da crise da Asia (1997-1998). Recorremos, para o efeito, a aplica<;ao e compara<;ao de dive.rsas metodologias, conducentes a capta<;ao do fen6meno, nas suas varias acep<;oes, incluindo testes de: correla<;ao, Kolmogorov-Smirnov, valor ext.remo, raiz unit<'iria, cointegra<;ao, causalidade e outros baseados na estimativa de modelos de vectores autoregressivos. Os resultados indicam que o contagio financeiro entre os mercados desenvolvidos da amostra foi muito forte durante a crise da Asia. Os efeitos sentiram-se tanto no curto prazo como no Iongo prazo, e com implica<;oes no aumento da frequencia e associa<;ao temporal das rendibilidades extremas. A generalidade dos testes sustenta a hip6tese de que a autonomia entre os mercados da amostra diminuiu. Estes resultados poem em causa a capacidade de diversifica<;ao do risco em situa<;oes de crise atraves de metodos que ignorem a possibilidade de contagio entre mercados.
Palavras-chave: Contagio Financeiro, Crises Financeiras, Mercados de Ac<;oes, Mercados Desenvolvidos, Cointegra<;ao.
Abstract: In this study, we evaluate the importance of the contagion phenomenon in the stock markets of nine developed countries during the Asian Crisis of 1997-1998. We recurred to the use and comparison of several methodologies that are able to consider the phenomenon including correlation tests, Kolmogorov-Smirnov tests, extreme value tests, unit root tests, cointegration tests, causality tests and other tests based on the estimation of vector regressive models. The results suggest that the contagion was very intense during the crisis. The effects were felt both in the short and in the long run and with implications in the increase of the frequency and temporal association of the extreme returns. Most tests confirm the hypothesis of diminishing independence among the markets. These results call into question the risk diversification capability in situations of crisis through methods that ignore the contagion phenomenon.
Key-words: Financial Contagion, Financial Crisis, Capital Markets, Developed Markets, Cointegration.
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1.
Introdu~ao
Ate aos anos 80 do seculo passado, as crises financeiras eram vistas como eventos que ocorriam em mercados individuais, sem car<kter sistemico. Mereceu, por isso, pouca aten~ao, a epoca, a possibilidade de transmissao de efeitos entre paises. A situa~ao alterou-se ao Iongo dos anos 90 a medida que se assistiu ao desencadear de uma serie de graves crises financeiras: a crise do Mecanismo Europeu de Taxas de Cambio (1992), a crise do Mexico (1994-1995), a crise da Asia (1997-1998), a crise da Russia (1998) e a crise do Brasil (1999) e a crise da Argentina (2001-2002). Uma das caracterfsticas mais impressionantes destas crises foi que o momenta da sua ocorrencia e a sua intensidade nao pareceram estar relacionados com os problemas fundamentais com que os paises se defrontavam. Alem disso, as consequencias negativas associadas aos epis6dios de instabilidade nao se Jimitaram aos pafses de origem sendo antes transmitidos rapidamente a varios mercados em todo o mundo constituindo aquila a que se passou a designar na literatura por efeitos de contagio.l
E importante estudar a transrnissao internacional de choques entre os mercados financeiros por razoes de varia ordem. Em primeiro Iugar, o contagia pode ter profundas implica~oes na gestao de carteiras e, particularmente, nos processos de diversifica~ao internacional do risco. Urn pressuposto importante da maioria dos modelos de aval i a~ao dos activos financeiros e das estrategias de investimento que neles se fundamentam e 0 de que uma parte do risco e especffica aos paises ou mercados de investimento. Em consequencia, a diversifica~ao internacional dos investimentos devcria possibilitar a diminui~ao deste tipo de risco. No entanto, se os comovimentos entre os mercados aumentarem em consequencia do fen6meno do contagia no seguimento de urn choque negativo, poder-se-ao colocar em causa os beneffcios da diversifica~ao precisamente quando esses beneffcios seriam mais necessarios. Em segundo Iugar, a importancia da tematica do contagia vern refor~ada pela tendencia de integra~ao dos mercados financeiros a nfvel mundial. 0 advento de novas tecnologias e a liberaliza~ao dos mercados financeiros internacionais tern causado urn aumento notavel nos fluxos internacionais de capitais o que, por sua vcz, tern por efeito o aumento da possibilidade de transmissao internacional de choques. Alguns autores tern defendido que urn grau excessivo t Apesar dos epis6dios de crise referidos terem sido os mais notados tanto pela comunidade acad~mica
como pelos agentes de mercado, ~de referir que a associa,ao temporal das crises ocorridas ao Iongo da d~cada de 90 esta Ionge de se limitar a esses casos. Utilizando uma no~i'io de crise cambial comummente aceite, EICHENCREEN et. nl. (1996) e CARAMAZZA el nl. (2004) moslram que, dos 58 epis6dios de crise cambial ocorridos ao Iongo da d~cada, 48 se deram em grupos de duas ou mais.
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na mobilidade internacional dos capitais pode estar a con.tribuir para urn aumento da vulnerabilidade dos mercados financeiros a epis6dios de contagio.2 Em terceiro Iugar, o estudo do contagia e importante para se aferir do papel e eficacia das intervenc;oes das instituic;oes financeiras internacionais em contexto de crise. Se existir contagia pode estar justificada uma intervenc;ao multilateral ou a intervenc;ao de instituic;oes financeiras internacionais como o Fundo Monetario Internacional, par exemplo. Ao contrario, se a propagac;ao do choque idiossincratico inicial se processar pelo facto dos fundamentais dos paises estarern muito relacionados, a disseminac;ao da crise sera apenas o resultado do processo de integrac;ao dos mercados pelo que a ajuda internacional nao terc1 motivos para existi.r. 0 objectivo deste trabalho e o de avaliar da existencia de contagia em dados de frequencia diaria entre os mercados de acc;oes de nove pafses desenvolvidos (Portugal, Espanha, Irlanda, Grecia, Franc;a, Reina Unido, Alemanha, EUA e Japao) durante o epis6dio da crise financeira da Asia em 1997-1998. Sao discutidos os resultados de um conjunto alargado de testes de contagia onde se incluem testes de Kolmogorov-Smirnov, testes de valor extrema, testes de rafz unitaria, testes de cointegrac;ao, testes de causalidade e testes baseados na estimativa de modelos de vectores autoregressivos. Uma das contribuic;oes deste trabalho relaciona-se com as caracterfsticas da amostra adoptada. Em primeiro lugat~ e ao contrario da generalidade dos estudos que tende a concentrar-se nos efeitos de contagia num (mico pais, no presente trabalho analisam-se os efeitos de contagia em varios pafses. Em segw1do lugat~ os dados utilizados no estudo empfrico do contagia tern frequencia diaria no que se distinguem da generalidade dos estudos do tema que se socon路em, geralmente, de dados com periodicidade semanal ou mensal. Os dados diarios apresentam a vantagem importante de permitirem detectar efeitos de contagia de curto prazo que poderiam ser imperceptfveis em amllises com dados de menor frequencia (NAGAYASU, 2001). Em terceiro lugar, o estudo incide sobre os efeitos de contagia numa amostra 拢armada unicamente por paises desenvolvidos o que constitui um caso raro nos trabalhos sobre o tema. De facto, o impacto do fen6meno de contagia nos pafses desenvolvidos tern sido uma materia, em grande medida, ignorada pela. comunidade academica apesar de existirem evidencias de que as alterac;oes ocorridas nestes mercados podem ter consequ.endas nao despiciendas sobre as restantes economias.3 Ver, por exemplo, STIGLITZ (2002) e HARTMANN et al. (2004). e REINHART (2005), por exemplo, concluem que um epis6dio de contagio s6 supera uma dimensao regional se tiver um impacto sign.ificativo num dos principais centros financeiros a n.lvel mundial 2
3 KAMINSKY
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Por Ultimo, o estudo empfrico debrw;a-se sobre o contagio nos mercados de acc;oes ao contrc:'irio da maioria dos estudos que se centra no estudo do fen6meno nos mercados cambiais. 0 presente artigo encontra-se organizado do seguinte modo: na secc;ao seguinte apresentamos uma revisao da literatura sobre o tema. Nos pontos 3 e 4 descrevemos a amosh路a e a metodologia utilizadas. No ponte 5 apresentamos os resultados do estudo empirico. No ponto 6 apresentam-se as principais conclusoes e sugestoes para investigac;ao futura.
2. Revisao d e Literatura
Existem varias teorias explicativas do contagio. A investigac;ao te6rica do tema divide as causas do contagio entre causas fundamentais e o contagio puro. As causas fundamentais do contagio podem ser de natureza comercial ou financeira. 0 contagio entre economias atraves do canal comercial ocorre sempre que a desvalorizac;ao da moeda de urn pafs, na sequencia de urn cheque especffico a esse pais, afecte os fundamentais de outros pafses (GERLACH e SMETS,
1995).
0 canal financeiro de contagio atende a propagac;ao de cheques intemacionais em resultado do cumprimento de determinadas normas de actuac;ao definidas a priori por parte dos investidores internacionais, e que se podem referir a questoes como a composic;ao das carteiras ou criterios de liquidez, rendibilidade ou risco a cwnprir (KAMINSKY e REINHART, 2000; KODRES e PRITSKER, 2002). 0 chamado contagio puro abrange os mecanismos de t:ransmissao internacional de choques nao reladonados com os fundamentais e que se referem a problemas de informac;ao resultantes de imperfeic;oes de mercado, de efeitos de demonstrac;ao ou de incentives a imitac;ao entre os investidores (KING e WADWHANI, 1990; BIKHCHANDANJ et al., 1992; BASU, 1998). Em termos empfricos, foram varios OS autores que se debruc;aram sobre o fen6meno do contagio durante a crise da Asia. BAIG e GOLDFAJN (1999) realizaram uma das analises mais completas no ambito dos testes de correlac;ao. Atenderam a rendibilidade dos Indices de acc;oes, taxas de juro, spreads da dfvida e taxas de cambio de cinco pafses asiaticos (Indonesia, Coreia, Malasia, Filipinas e Tailandia) com o objective de verificar a ocorrencia de comovimentos excessivos nessas variaveis durante a crise de 1997. Os autores conclufram que, para cada variavel, a maioria dos coeficientes de correlac;ao entre os pafses aumentou significativamen te no periodo de turbulencia, entre Julho de 1997 e Maio de 1998, quando comparada com a verificada no periodo considerado h路anquilo, entre Janeiro de 1995 e Dezembro de 1996. Estes efeitos foram mais not6rios nas divisas enos spreads da dfvida do que nas rendibilidades das acc;oes.
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As opinioes sobre o impacto da crise Asiatica nao sao consensuais. Enquanto que THANYALAKPARK e FILSON (2002) e WANG (2004) constatam a inexistencia de contagia generalizado na crise Asiatica, CAPORALE et al. (2005) encon.traram sinais de contagia na crise Asiatica. WALT! (2006), numa aplica~ao de urn teste de valor extrema proposto por FAVERO e GIAVAZZI (2002) aos dados referentes a crise Asiatica em cinco paises (Filipinas, Coreia, Malasia, Tailandia e Indonesia), concluiu que a hip6tese de interdependencia normal e rejeitada por larga margem a favor da hip6tese de contagia. A transmissao realiza-se de forma nao linear e assimetrica: os choques positives podem ter urn impacto negativo ou positivo enquanto que os choques negatives tern um efeito sistematicamen.te negativo. No campo dos testes de causalidade, KHALID e KAWAI (2003) nao encontraram sinais significativos de contagia entre os mercados de ac~oes, de cambios e taxas de juro de nove pafses asiaticos durante a crise de 1997. LIMe YANG (2004) aplicaram os testes de causalidade a dados diarios relatives aos mercados de ac~oes de varios pafses asiaticos entre os anos de 1990 e de 2000. Os resultados apontaram para a existencia generalizada de efeitos de contagia na sequencia da crise Asiatica. Por fim, CERRA e SAXENA (2002) aplicaram urn modelo ao estudo do contagia cambial que afectou a Indonesia, durante a crise do Sudeste Asiatica em 1997 caracterizado pelo facto da probabilidade de h路ansi~ao entre diferentes processes de gera~ao de dados variar ao longo do tempo. Mostrou-se que se verificaram efeitos importantes de contagia provenientes da Tailandia e da Coreia e que esses efeitos se fizeram sentir tanto no mercado de dhnbios como no mercado de ac~oes.
3. Amos tra 3.1. Tratamento dos Dados
Os dados do estudo consistem nas rendibilidades diarias dos indices de ac~oes de nove pafses (ver tabela 1.): Portugal (PORT), Espanha (ESP), Irlanda (IRL), Grecia (GREC), Alemanha (AL), Franc;a (FR), Reino Unido (RU), Estados Unidos da America (EUA) e Japao (JAP). As observa~oes dizem respeito ao periodo que vai desde 5 de Janeiro de 1993 (inicio do indice portugues PSI20) ate 25 de Novembro de 2004. As rendibilidades foram calculadas pelas primeiras diferen~as entre os logaritmos dos indices obtidos a partir do sistema de informa~ao financeira Reuters. Foram inicialmente seleccionadas apenas as observa~oes comuns aos nove Indices num total de 2528 observa~oes para cada pais. Em seguida, para preservar a dinamica da evolu~ao dos indices, foram acrescentadas por interpola~ao Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n .0 9/2009
37
Julio Lobao
linear as observa~oes em falta nos dias onde existiam observa~oes para, no mfnimo, sete dos nove paises da amostra. Este procedimento nao foi seguido quando se verificou a ausencia, para o mesmo pais, de mais do que uma observa~ao em dias sucessivos. Desta forma, foram acrescentados dados respeitantes a mais 350 dias atingindo-se, portanto, o ntimero de 2878 observa~oes diarias par pais num total de 25 902 observa<;6es. Tab ela 1. indices de Ac~oes q ue Compoem a Amostra Pais
fndice
Varia vel
Portugal
PSI20
PORT
Espanha
IBEX35
ESP
Irlanda
ISEQ
IRL
Grecia
ATG (Main General Index)
GREC
Alemanha
DAX
AL
Fran~a
CAC40
FR
Reino Unido
FfSE
RU
Estados Unidos da America
S&P500
EUA
Japao
Nikkei
JAP
3.2. Seleq;iio do Periodos de Crise e do Periodos Tranquilo
Para estudar os efeitos da crise da Asia e necessaria seleccionar urn perfodo de crise e urn perfodo considerado tranquilo. A defni<;ao de cada urn destes perfodos e necessaria para se poderem comparar OS resultados dos testes estatfsticos obtidos em cada urn dos perfodos. 0 periodo de crise deve corresponder ao perfodo em que a crise assumiu os aspectos mais crfticos e o perfodo tranquilo deve ser urn perfodo de referenda, em que os mercados nao tenham evidenciado urn comportamento atfpico. Assim, torna-se necessaria analisar a sequencia dos acontecimentos que configuraram a crise da Asia. Ainda antes do infcio da crise cambiat a Tailandia mantinha a sua divisa em paridade com urn cabaz de outras moedas fortemente relacionadas com o d6lar norte-americana. Entretanto, os mercados financeiros da Tailandia tornaram-se alvo de pressoes contfnuas em 1996 continuando a sofrer varios ataques especulativos no infcio do ano de 1997. As autoridades tailandesas tentaram defender a moeda atraves de aumentos da taxa de jura de curta prazo e de intervenc;oes no mercado cambial mas, apesar dos seus esforc;os, foram forc;adas a permitir a flutua~ao da moeda no dia 2 de Julho de 1997. Na sequencia do 38
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
Contagia financeiro entre mercados de acr;oes de parses desenvolvidos ..., p. 31.-59
colapso da moeda tailandesa, os mercados financeiros do Sudeste e Sudoeste Asiatica - em particular a Tailandia, Malasia, Indonesia, Filipinas e Coreia sofreram. importantes perdas durante o final de 1997 e inicio de 1998. Nos meses seguintes, os mercados regionais enfrentaram uma pressao crescente e essa pressao reflectiu-se na subsequente turbulencia nas cotac;oes cambiais. Uma significativa desvaloriza<;ao do peso filipino ocorreu a 11 de Julho tendo-se seguido a desvalorizac;ao do "ringitt" da Malasia no dia 14 do mesmo mes e da rupia da Indonesia no dia 14 de Agosto. Em Outubro, a crise fez-se sentir mesmo em pafses com grandes reservas de divisas como a Formosa e Hong-Kong. Na semana de 20 de Outubro, o indice de ac<;oes de Hong-Kong perdeu aproximadamente urn guaxto do seu valor. A medida que a crise se desenvolvia, uma intensa volatilidade afectava os mercados de cambios e de acc;oes de toda a regiao culminando na passagem do "won" coreano ao regime de flutuac;ao cambial no dia 22 de Dezembro de 1997. As noticias de tensao econ6mica e politica, particularmente os sinais de fragilidade no sector bancario, tomaram-se habituais nos paises aiectados. Apesar de se terem iniciado muito antes, as negociac;oes com o Fundo Monet<.'irio Internacional nao produziram resultados senao em Janeiro de 1998, altura em que foi assinado o primeiro acordo de refinanciamento. Os tres meses e meio que se seguiram foram mais calmos ate que o surgunento de uma crise politica na Indonesia, em meados de Maio, provocou uma nova vaga de turbulencia nos mercados financeiros. No ano que se segu.iu ao desencadear da crise, as divisas dos pafses afectados tinham sofrido deprecia<;6es que se situavam entre os 35 e os 80 por cento, reduzindo substancialmente a tiqueza. Os fluxes de capitais lfquidos passaram de urn saldo positivo de 73 mil milhoes de d6lares no ano de 1996 para um saldo negativo de 11 mil milhoes de d6lares no ano seguinte. Todos os paises afectados sofreram taxas de crescimento negativas durante urn a tres trimestres quando antes da crise o crescimento se situava em torno dos 5 por cento. A Coreia, Malasia, Filipinas, Singapura, Tailandia e Indonesia passaram por recessoes em 1998 e parte de 1999. Os efeitos nos pafses desenvolvidos nao se fizeram sentir ate ao inicio da crise em Hong-Kong, no dia 17 de Outubro de 1997, em que se verificou urn aumento de 30 por cento nas taxas de juro de curta prazo e a subsequente depreciac;ao cambial em Dezembro do mesmo ano. No dia 27 de Outubro, ordens sucessivas de venda no valor de 600 mil milhoes de d6lares fizeram suspender a sessao no mercado de ac<;6es dos EUA (Dow Jones), algo inedito desde a adopc;ao dos procedimentos de suspensao da negociac;ao institufdos em 1988. Os epis6dios de intensa volatilidade sucederam-se praticamente num ritmo diario ate ao final domes de Novembro. 0 dia 12 de Janeiro de 1998 assinala, de certo modo, o final do periodo mais critico da crise, com as perdas resultantes do anuncio da falencia de um dos maiores bancos de investimento da Asia, o Peregrine de Hong-Kong, ocorrido precisamente nesse dia. Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9 I 2009
39
Julio Lobao
SACHS et al. (1996) e INTERNATIONAL MONETARY FUND (1998a, 1998b) apresentam maiores desenvolvimentos sobre a crise da Asia. Uma vez que o presente estudo se debrw;a sobre os efeitos da crise Asiatica nos paises desenvolvidos, o perfodo de crise considerado inicia-se no dia 17 de Outubro de 1997 e prolonga-se ate ao dia 30 de Janeiro do ano seguinte. Este perfodo de crise e bastante semelhante ao escolhido por FORBES e RrGOBON (2002) e RIGOBON (2002). Como perfodo tranquilo seleccionamos as observat;oes correspondentes ao anode 1996. Este perfodo parece ser urn born perfodo de controlo na medida em que os mercados ja tinham recuperado por esta altura da crise do Mexico de 1994-1995 e ainda nao se vislumbrava qualquer outra crise. Esta foi igualmente a escolha de outros autores como, por exemplo, BAZDRESCH e WERNER (2001).
4. Metodologia Para aferir da existencia de contagio entre os mercados desenvolvidos da amostra durante o desenrolar da crise da Asia, recorreu-se a aplicat;ao de uma bateria de testes que se descrevem a seguir. 4.1. Testes de Correlafao
Os coeficientes de correlat;ao captam os comovimentos de curto prazo entre os mercados. Seas correlat;oes aumentarem significativamente, isso significa que os mercados se afastaram das relat;oes ditadas pelos movimentos habituais dos fundamentais. Se, ao contrario, as correlat;oes nao aumentarem de forma significativa, enUio os mercados estarao simplesmente a reagir a choques comuns. Procedeu-se ao cakulo das correlat;oes entre as rendibilidades dos varios mercados. Com estes elementos testa-se, em prirneiro Iugar, se as correlat;oes encontradas sao, quer individualmente quer em conjunto, difcrentes de zero utilizando para o efeito, respectivamcnte, o teste de significancia estatfstica do coeficiente de correlac;ao de Pearson e o racio de verosimilhant;a (PlNDYCK e ROTEMBERG, 1990). Em segundo Iugar, comparam-se as correlat;oes para aferir se os valores encontrados sao significativamente superiores nos perfodos de crise face ao que se observa nos periodos tranquilos. Utilizamos, para este efeito, o teste t de heterocedasticidade em duas sub-amostras proposto por FORBES e RrGOBON (2002). 4.2. Testes de Kolmogorov-Smirnov Uma alterat;ao significativa nas caracterfsticas estatfsticas das series da amostra constitui uma indicat;ao de que o processo de gerat;ao dos dados se alterou o que configura a existencia de contagio. 40
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Contagio financeiro entre mercados de ac.;oes de pafses desenvolvidos .. ., p. 31-59
Procedemos a realizac;ao dos testes de Kohnogorov-Smirnov com o objective de aferir se as caracterfsticas estatisticas da func;ao da distribuic;ao da amostra se alteram significativamente no perfodo de crise face a urn perfodo considerado tranquilo. Como forma de aumentar a robustez do teste levamos ainda a cabo o seu ccHculo comparando as caracterfstkas da distribuic;ao de probabilidade da serie no perfodo de crise face a todo o perfodo da amostra.
4.3. Testes de Valor Extrema Se a frequencia e associac;ao temporal das observac;oes extremas nos mercades da amostra registar um aumento significative durante o perfodo de crise tal constitui sinal da existencia de contagio. Comec;amos por investigar que parcela das observac;6es se localiza nos percentis extremes correspondentes aos 5% e aos 95% da distribuic;ao de probabilidade. Estes dados, assim calculados, permitem aferir se o perfodo de crise foi marcado por uma maior frequencia de rendibilidades extremas. No entan.to, esta evidencia nao constitui, s6 por si, prova da existencia de contagio. E necessaria que as observac;6es extremas se verifiquem em simultaneo nos varios mercades da amostra. Por isso, investigamos ainda a associac;ao temporal das observac;6es extremas.
4.4. Testes de Raiz Unitciria e de Cointegrap'io Sao realizados testes de rai.'z unitaria e testes de cointegrac;ao entre as variaveis. Os testes de raiz unit<hia permitem detectar variaveis nao estacionarias e evitar o problema associado as regress6es espurias. Quanto a rafz unitaria, sao aplicados dois testes: o teste ADF de Dickey e Fuller (DICKEY e FULLER, 1979) e 0 teste de Phillips-Penon (PHILLIPS e PERRON, 1988). 0 metodo de Phillips-Penon distingue-se do teste ADF porter em considerac;ao a possibilidade de alterac;ao de regime da serie temporal enquanto que, ao mesmo tempo, permite a analise das propriedades dos dados temporais sem se necessitar de conhecer a priori o memento da alterac;ao de regime. A utilizac;ao de dois tipos de testes pode ser util dado que a hip6tese nula do teste ADF pode nao con.duzir a rejeic;ao da hip6tese nula do teste de rafz unitaria na presenc;a de uma quebra estrutural no processo de gerac;ao dos dados. Alem disso, tal como e salientado por PERRON (1989), a utilizac;ao de urn teste de rafz unitaria convencional num subconjunto dos dados pode causar perdas no poder de teste susceptfveis de provocarem, erradamente, a rejeic;ao da hip6tese nula. 0 desfasamento das variaveis no caso do teste ADF e seleccionado recorrendo-se a tres criterios de informac;ao - o criteria de Akaike, o de Ha1manLusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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JUlio Lobao
-Quinn e o de Schwarz- adoptando-se o maior desfasamento proposto por estes tres tmHodos. 0 numero maximo de desfasamentos de partida e seleccionado de acordo como criterio de Bierens. Para o teste de Phillips-Perrone utilizado urn estimador de variancia de longo prazo do tipo Newey-West com vista a se efectuar a correc~ao da heterocedasticidade e da autocorrela<;ao dos dados. Para confinnar que nao ocorreram diston;6es relacionadas com a dimensao das series temporais sao ainda levadas a cabo iterac;6es do valor p com base num processo autoregressive de Gauss atraves do metodo de bootstrapping. A cointegra~ao implica que, em bora duas series temporais possam divergir significativamente, existe uma relac;ao estavel de Longo prazo. Por exemplo, se as series de rendibilidades de dois mercados nacionais forem cointegradas, isso significa que se comportam de forma similar, no longo prazo, face aos mesmos choques. Os vectores de cointegrac;ao sao calculados para todo o periodo da am.ostra e tambem para cada um dos subperfodos de crise. Utilizam-se os testes de Maxima Verosimilhanc;a de Johansen, nomeadamente o teste de maximizac;ao de lambda e o trace test Q'OHANSEN, 1988, 1991, 1994; JOHANSEN e }USEUUS, 1990), para se investigar a existencia de rela<;6es de cointegrac;ao entre as vaxiaveis. 0 desfasamento das variaveis e escolhido tendo em considera<;ao dois criterios de informa<;ao - o criterio de Hannan-Quinn e o criterio de Schwarz - adoptando-se o maior desfasamento proposto a partir de urn desfasamento maximo de oito per1odos.
4.5. Tes tes de Causalidade de G1路anger Os testes de causalidade de Granger pennitem aferir da existencia de rela<;6es de causalidade entendidas num sentido estatistico. A existencia de tais relac;oes, entre um dado par de mercados, conduzira a aceita<;ao da existencia de contagio. E necessaria ter ainda em aten~ao que tal causalidade pode verificar-se em ambos os sentidos (o mercado A "causa'' o mercado B e, ao mesmo tempo, o mercado B "causa" o mercado A). Sao efectuados testes de causalidade de Granger (ENGLE e GRANGER, 1987; GRANGER, 1969, 1988) para averiguar seas alterac;6es num dado mercado precedem, de forma sistematica, as alterac;6es noutro mercado. Dado que as regress6es do teste de causalidade de Granger incluem variaveis dependentes desfasadas, a estimativa com OLS gera coeficientes enviesados. Por este motivo, utiliza-se para a estimativa das equa<;6es o metodo da maxima verosimilhanc;a com informac;ao completa conhecido por Full Information Maximum Likelihood (FIML). Este metodo envolve o calculo de iterac;6es tendentes a transformar as equa<;6es de forma a eliminar as correlac;6es dos resfduos entre as mesmas e permite a convergencia para urn sistema de equac;6es que e linear tanto nos parametres como nos coeficientes. 0 FIML proporcion.a
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estimadores equivalentes, em termos assimpt6ticos, aos gerados pelo metodo tri-etapico de minimiza~ao dos quadrados. 0 desfasamento das variaveis e detenninado utilizando tres criterios de infonnac;ao - o criteria de Akaike, o de Hannan-Quinn e o de Schwarz - adoptando-se o maier desfasamento a partir de tnn desfasamento maximo de oito perfodos. Procede-se ainda a testes da significancia estatistica de inclusao de periodos de desfasamento adicionais.
4.6. Testes baseados em Modelos de Vecto1'es A ut01'egressivos (VAR) Os metodos VAR apresentam varias vantagens em rela~ao a outros metodos de estudo do contagia. Em primeiro lugar, permitem estudar as interacc;:oes exercidas entre os varies mercados reconhecendo os potenciais problemas de endogeneidade impllcitos na utilizac;ao de dados de elevada frequencia. Em segundo lugar, os modelos VAR permitem distinguir entre os movimentos dos mercados que se devem aos pr6prios cheques daqueles outros que tern origem em cheques provenientes de outros mercados. Por ultimo, proporcionam informa~oes acerca das respostas desfasadas entre as variaveis medindo o tempo necessaria ate que os cheques deixem de se fazer sentir. As func;oes de resposta a impulses calculadas a partir dos VAR possibilitam a medic;ao e o teste da significancia estatfstica da magnitude e persistencia do impacto, ao longo do tempo, num dado mercado, de uma inovac;ao ocorrida noutro mercado. A decomposic;ao da variancia permite identificar quais os mercados cujas variac;oes podem ser explicadas por inovac;oes noutros mercados. Desta forma, e possivel averiguar, comparando as variac;oes verificadas no periodo de crise e nos periodos tranquilos, a possibilidade de quebra nas rela~oes entre os mercades. ROGERS (1994) mostra que as fun~oes de resposta a impulses e a decomposic;ao das variancias tendem a alterar-se em periodos de turbulencia. No presente estudo procede-se ao calculo de urn modele VAR para cada perfodo considerado. Na analise dos dados da amostra, sao aplicados modelos de vectores autoregressive (VAR), estudadas as principais fun~oes de reacc;oes a impulses e decompostas as variancias (PESARAN e SHIN, 1998). Na estimativa do modele VAR e utilizado, pelas razoes aduzidas acima, o metoda Full Information Maximum Likelihood.4 Quante a determinac;:ao do desfasamento das variaveis, o procedimento e tambem semelhante ao utilizado nos testes de causalidade de Granger: tem-se em conta os tres criterios de informa~ao supracitados, adoptando-se o maior desfasamento a partir de um desfasa4 No calculo do modelo VAR com a imposic;;ao das restric;;oes decorrentes das relcu;:oes de causalidade enh路e as variaveis os estimadores OLS nao sao eficientes pelo que se recorre ao metodo conhecido por Seemi11giy llurelnted T<egressjoll (SUR) para se ter em conta toda a matriz de correlac;oes de todas as equac;;oes antes de se utiliza( o metodo FIML.
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Julio Lobao
mento maximo de cinco periodos. Procede-se ainda a testes da significancia estatistica de inclusao de perfodos de desfasamento adicionais. No caso da crise da Asia, os tn?s crih~rios adoptados suge.rem a adop~ao de urn unico periodo de desafasamento pa.ra a equa\aO relativa ao perfodo tranquilo enquanto que para o periodo de turbulencia, o criteria de Akaike conduziu a adop~ao de utn desfasamento de 5 perfodos na equa\ao respectiva. Nas fun\6es de resposta a impulsos teve-se em considera~ao urn horizonte temporal de dez dias para a amllise dos epis6dios de crise. Adopta-se o criterio mais exigente de dois desvios-padrao para se avaliar da significancia das fun\6es de resposta a inova\6es sendo que esses desvios-padrao sao calculados de acordo como modelo de BAILLIE (1987).
5. Resultados empil'icos Com
excep~ao
do caso notavel da Grecia, a generalidade dos mercados de ac~6es apresenta, durante o periodo tranquilo, urn nivel de dependencia linear muito elevado em rela~ao aos restantes mercados da amostra (ver tabelas 2. e 3.). Dos 36 coeficientes, 23 apresentam-se significativos a 1% registando-se os valores mais elevados nas correla\6es entre os mercados de Espanha e Fran\a (0,59) e entre os mercados do Reino Unido e os de tres outros paises: Irlanda (0,5), Alemanha (0,51) e Fran~a (0,66). Apesar de, em termos hist6ricos, as rela\6es lineares entre os mercados serem ja bastante estreitas, verificou-se o aumento dos coeficientes de correla~ao no perfodo de crise. Atingem-se neste periodo niveis muito elevados no irldicador de correla~ao nao apenas nos paises tradicionalmente mais integrados (Espanha, Reino Unido, Alemanha e Fran~a), mas tambem em mercados onde esse comportamento e bastante menos habitual como em Portugal, ou ate raro como no caso do Japao. Os valores de correla~ao registados durante o perfodo de crise sao, regra geral, muito significativos em termos estatfsticos. A tabela com as diferen\aS permite-nos perceber que os aumentos de correla\aO estendem-se a todos os pafses da amostra sendo particularmente elevados em Portugal face aos mercados de Espanha (aumento de 0,66), Irlanda (aumento de 0,55), Alemanha (aumento de 0,5), Fran~a (aumento de 0,64) e Reino Unido (aumento de 0,53). Contam-se em numero de 12 os aumentos de correla~ao significativos a urn nivel de significancia estatfstica de 5%. Em conclusao, a compara~ao entre os coeficientes de correla~ao no perfodo tranguilo e no periodo de crise da Asia permite inferir que houve uma quebra estrutural nas rela<;6es entre as rendibilidades dos mercados o que se constitui como evidencia de contagio de cuxto prazo entre os mercados desenvolvidos.
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Tabela 2. Coeficientes de Correla~ao entre Rendibilidades durante o Periodo da Crise da Asia
PORT
l'crfodo: l'ORT I
Cr ise da Asin (PC) ESP 0,76***
ESP
GREC 0,28* • 0,35*'"
RV=
No. Obs. =
2J3.64M*
IRL
AL
FR
RU
0,8*** 0,74*** 0,32*M
0,78*"*
0,78*''* 0,85***
0,69''** 0,78''*"
0,81""'* 0,38* •* 0,76•C$
EUA
621 .lAP
0, 16
0,43* • •>
0,46"** 0,24$
0,53*** 0, 18
0,28'' *
0,27'"'
0 ,75*~((
0,69'''''*
0,28 • '''
0,37* " '
AL
0,82"'"*
0,72'"'"'
0,51**''
FR
I
0,8~''*
0.32*** 0,4*•*
o,su<•
0,51''*'' 0,18
GREC
JRL
RU EUA .IAI'
0,52***
Notas: RV eo r6cio de vcrosim ilha'1~a; os va lores das estatlsticas assinalados com •, •• e ... sao significativos com um grau de signi ficancia de 10%, 5% e 1% respectivamente. A negrito ind icam-se os valores em que os coe· ficientes de correla9ao sao ig uais ou superiores a 0,5.
Tabela 3. Coeficientes de Correla~ao entre Rendibilidades durante o Periodo Tranquilo Relativamente a Crise da Asia l>crfodo: PORT
l'ORT ESl> GREC IRL AI.
I
RV=
Crise da Asia (PT)
250,06**"
No. Obs. =
2178
JAP
ESP
GREC
IRL
AL
FR
RU
EUA
0,1
0, 16'"''
0,25 ***
0.28***
O,t3••
0.04
0,1
0,05
0.39*"~
0.44*"*
0,59''*''
0.15"'* 0,49•-*
0,21**•
0.2*'''' .().02
0,17''' **
FR RU EUA
0.05
0,09
0,07
0,05
0,47***
0,38*"*
o,s~:(*:$
(),23~M
0,53'"'")
0,5 1 *~$
0,2 13 ** 0, 17"'**
0,66'''**
0,3 1**"
0,25**''
0.35 "**
0,24 3 ' * 0.06
0,45~**
.TAl' Notas: RV eo racio de verosimilhan9a; os valores das estatfsticas assinalados com',** e "'*sao significativos com um grau de significancia de JO%. 5% e 1% respectivamente. A negrito indicam-se os valores em que os cocficientes de correla,ao s.'io iguais ou superiores a 0,5.
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J(d[o Lobao
Tabela 4. Varia~ao da Correl a~ao entre Rendibilidades do Periodo de Crise da Asia e RendibiHdades do Respectivo Periodo Tranquilo ESl'
GREC
mL
AL
fiR
RU
EUA
J AP
PORT
0,66~':'
0.12
0,55'' *
0,5**
0,53''"'
0.12
0,33*
ESP GREC
I
0.35*" 0,15
0.36*"'
0,(•4"'"' (),26M
0.29~*
0,25*
0,33*
0.32"'
0.20
0, 19
0. 19
0,20
0.29*~
0,37$0
0. 19*
0, 14
0,29**
0.2 1"
O.o7 0,14 0,09
0.27''
0. 14
0.27*
PORT
mL AL FR
I
RU
0,06
EUA
0.12
.l AP Notas: Os valores das estat(sticas assinalados com •, •• e .... sao significativos com urn grau de signific§ncia de 10%, 5% e 1% •-espectivamente. A negrito indicam·se os valores correspondentes a aurnentos nos coeficien· tes de correla~1io igua is ou superiores a 0,5.
A crise da Asia teve efeitos significativos ao nivel da alterac;ao das distribuic;6es de probabilidade dos mercados da amostra, principalmente quando as comparac;oes sao efectuadas em relac;ao ao periodo tranquilo (tabela 5.). Apenas nos casos da lrlanda, Franc;a e EUA, a estatfstica de teste de Kolmogorov-Smirnov registou valores com significancia superior a 5%. No entanto, quando se estabelece a comparac;ao com todo o periodo da amostra constata-se que a crise apenas teve efeitos significativos para os mercados de Portugat Alemanha e Japao. Podemos assim concluix que a crise da Asia teve efeitos moderados na alterac;ao das distribuir;oes de probabilidade das rendibilidades dos mercados da amostra. Tabela 5. Estatisticas do Teste de Kolmogorov-Smirnov aplicado a Compara~ao entre o Periodo de Crise da Asia eo Respectivo Periodo Tranquilo e entre o Periodo de Crise da Asia e Todo o Periodo da Amostra PCvs. PT PORT ESP GREC IRL
AL FR RU EUA JAP
0,26*** 0,2** 0,24*** 0,15 0,24*** 0,19* 0,22** 0,18* 0,27***
PC vs. Todo o Periodo 0,16* 0,12 0,15 0,11 0,15* O,Q7
0,12 0,13 0,21***
Nota: Os valores das estatfshcas assinalados com •, •• e .... sao significativos com um grau de significancia de 10%, 5% e 1/i., resp<>ctivamente.
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Lusiada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 9/2009 0
Contagio financeiro entre mercados de ac~oes de pafses dcsenvolvidos..., p. 31-59
Durante a crise da Asia todos os mercados evidenciaram uma frequencia de valores extremos nas rendibilidades muito acima do esperado, quer quando se atende aos valores relativos ao periodo tranquilo, quer quando se consideram os valores de referenda de todo o periodo da amostra (ver tabela 6.). Esta evidencia verifica-se tanto nas observac;oes extremas positivas como nas negativas. 0 (wico pais asiatico da amostra, o Japao, apresentou em ambos os casos valores muito superiores aos de qualquer outro pafs. Mesmo os pafses menos afectados (Portugal, EUA e lrlanda) registaram uma incidencia de observac;oes extremas cerca de SO% superior ao esperado face aos valores de referenda de todo o periodo da amostra. 0 valor total de 189,7% de observac;oes extremas pode ser interpretado como indicando que, em media, quase dois mercados por sessao apresentam rendibilidades extremas (muito elevadas ou muito baixas) quando, em media, se esperaria que apenas urn mercado tivesse esse comportamento. Apesar de parecer liquido que a crise da Asia foi caracterizada por uma maior prevalencia de observac;oes extremas, e necessaria considerar o grau de coincidencia temporal entre essas observac;oes extremas de forma a podermos ajuizar dos efeitos de contagio.
Tabela 6. Percentagem de Observa~oes Extremas em cada Mercado na Crise da Asia, no Periodo Tranquilo e em Todo o Periodo da Amostra Percentil 95%
Percentil S% PC
0,0% 0,4% 0,8% 1,2% 0,8% 0,4% 0,8% 1,7% 1,7%
5,0% 5,0% 5,0% 5,0% 5,0% 5,0% 5,0% 5,0% 5,0%
8,8% 10,3% 5,9% 10,3% 11,8% 7,4% 11,8% 10,3% 22,1%
0,8% 0,4% 1,2% 0,8% 0,0% 0,0% 0,4% 1,7% 0,4%
5,0% 5,0% 5,0% 5,0% 5,0% 5,0% 5,0% 5,0% 5,0%
16,2% 20,6% 19,1% 16,2% 22,1% 17,6% 23,5% 16,2% 38,2%
3,3% 2,1%
10,0% 10,0% 10,0% 10,0% 10,0% 10,0% 10,0% 10,0% 10,0%
7,9%
45,0%
98,5%
5,8%
45,0%
189,7%
13,6%
90,0%
PT
JAP
7,4% 10,3% 13,2% 5,9% 10,3% 10,3% 11,8% 5,9% 16,2%
Total
91,2%
To do Periodo
PC
PT
To do Periodo
To do Periodo
PC PORT ESP GREC IRL AL FR RU EUA
Total Percentis Extremos
PT
0,8% 0,8% 2,1% 2,1% 0,8% 0,4% ],2%
Notas: Os valo1-es d os percentis de 5% c 9S'i;, f01·am ca lculados para cada mercado e para todo o perfodo. Por esse moti vo, a percentagem de observa~iies que ai se Joca lizam e constante. Consideram-sc como observa~oes extremas as menores do que o valor do percentil d e s~·;. e as maiores d o que o percentil de 95~(•. A negrito ind ica-se o m ercado que registou a maior percentagem das observar;oes nos extremes da distribui~ao de pi"Obabilidade no pel"fodo tranquilo e no periodo de crise.
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JUlio Lobao
Assim, na tabela 7. apresentam-se dados relativos a coincidencia temporal das observa~6es extremas. Verifica-se que a associa~ao entre observa~oes extremas e muito significativa. Em cerca de 11% das sessoes, sao pelo menos quatro os mercados com observa~oes para alem dos valores extremos considerados como limite. A incidencia de observac;oes extremas e maior no !ado das observac;oes negativas (13,2% das sessoes com quatro ou mais mcrcados com rendibilidades extremas negativas) do que no das observac;oes positivas (8,8%). Em 0,7% das sessoes verifica-se que oito dos nove mercados apresentam observac;oes extremas. Em conclusao, pode-se afirmar que a crise da Asia foi caracterizada por maior turbulencia dos mercados reflectindo-se quer no aumento do numero de observac;oes extremas guer no aumento da coincid~ncia temporal entre estas mesmas observac;oes. Tabela 7. Percentagem das Sessoes com Observa ~oes nos Extremos com Coincidencia Temporal entre Mercados durante a Crise da Asia, no Periodo Tranquilo e em Todo o Periodo da Amostra
N.o Mercados 0 1 2
3 4
5
6 7
8 9
Total
Obs. Extremo Negativo (%) Obs. Extremo Positivo (%)
Total Obs. Extremos (%)
PC
PT
To do Periodo
PC
PT
To do Periodo
PC
PT
Todo Periodo
75,0% 8,8% 0,0% 2,9% 4,4% 2,9% 1,5% 2,9% 1,5% 0,0%
94,6% 4,1% 0,4% 0,4% 0,4% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%
78,8% 12,4% 3,3% ],5% 1,6% 0,8% 0,8% 0,6% 0,1% 0,1%
54,4% 27,9% 5,9% 2,9% 1,5% 2,9% 1,5% 2,9% 0,0% 0,0%
95,9% 3,3% 0,0% 0,8% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%
76,8% 13,5% 4,7% 1,6% 1,3% 1,0% 0,7% 0,4% 0,0% 0,0%
64,7% 18,4% 2,9% 2,9% 2,9% 2,9% 1,5% 2,9% 0,7% 0,0%
95,2% 3,7% 0,2% 0,6% 0,2% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%
77,8% 13,0% 4,0% 1,5% 1,4% 0,9% 0,8% 0,5% 0,1% 0,1%
100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Notas: Considcrou-se como extremo negativo o va lor do percentil de 5% e como cxtremo positivo o va lot· do per· centil de 95%. Apresentam-se na tabcla a pet·centagem de observac;oes que s5o menores do que o extremo ncgativo e que sao maiores do que o extremo posi tivo e desagregam·se as observac;oes de acot·do com o numero de mercados que registamm observa<;Oes extremas (negativas c positivas) na mcsma sessao. Por exemplo, o valor de 2,9% na quarta linha e primeira col una de resultados indica que, em 2,9% das sesslles do perfodo tranquilo (PC) considcrado, sc observou que tres mercados aprcscntarnm, em simu ltanco, rcndibilidades que se situam ll esquerda do cxtremo negativo.
No periodo tranquilo seleccionado para a crise da Asia, os testes de raiz unitaria indicam que as variaveis sao estacionarias e tanto o teste de maximizac;ao do lambda como o trace test sugerem que as variaveis sao cointegradas entre si.
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Contagio financeiro entre mercados de acc;6es de pafses desenvolvidos ..., p. 31-59
No perfodo de crise, no entanlo, a situa<;ao muda de forma substancial. Os testes de rafz unitaria nao permitem rejeitar a possibilidade de que exista uma rafz unitaria na maioria dos mercados. Estes sugerem que apenas os mercados da Gnkia, Irlanda e Japao sao estaciom'irios, que os mercados de Portugal, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos sao integrados de primeira ordem e que os de Espanha e Fran<;a sao integrados de ordem dois (ver tabelas I.l. e 1.2., em anexo). No que diz respeito a cointegra<;ao existem tambem diferen<;as assinalaveis face ao perfodo tranquilo: das 36 rela<;oes bivaxiadas entre os nove mercados em anaHse, em nove casos pode-se rejeitar a hip6tese da existcncia de uma xela<;ao de cointegra<;ao entre os mercados. Estes resultados permitem afirmar que, no perfodo de crise, a rela<;ao de equillbtio de Iongo prazo se quebrou entre varios mercados afectando principalmente o mercado da Grecia que nao mostra rela<;6es de cointegra<;ao em cinco dos oito casos possfveis. 0 numero de rela<;oes de causalidade de Granger estatisticamente significativas aumentou substancialmente durante o perfodo da crise da Asia quando comparado com o periodo tranquilo: passaram de 26 para mais do dobro (53) (ver tabelas 8. e 9.). Dw路ante o per!odo tranquilo, sao os mcrcados de Portugal e Grecia que menos contxibuem para influenciar sistematicamente os restantes mercados (nao "causam" nenhum mercado) enquanto que as rendibilidades do mercado dos EUA, o mercado mais influente, afectam a rendibilidade de seis outros mercados. Durante o perfodo de crise todos os mercados passaram. a "causar'' urn m1mero superior de pafses com excep<;ao da Espanha que continuou a "causar" tres mercados. Os mercados da Fran<;a e Reino Unido juntam-se aos EVA para formarem o grupo de mercados que mais afectam a rendibilidade dos restantes mercados da amostra: influenciam 7 mercados em 8 possfveis. Espanha torna-se o mercado que menos contribui para explicar os restantes no perfodo de crise ("causa" 3 mercados). A evolu<;ao mais significativa entre os dois periodos em compara<;ao registou-se para os mercados de Portugal e Grecia que viram a sua influencia ser exercida em seis mercados quando no perfodo tranquilo, como se disse, nao afectavam significati.vam.ente qualquer mercado. No perfodo tranquilo, os testes de causalidade mostram que EUA e Portugal s6 podiam ser explicados, com significado, por urn mercado (a Alemanha, em ambos os casos) enquanto que 4 mercados influenciavam a evolu<;ao nas rendibilidades de Espanha, Irlanda, Alemanha e Reino Unido. Durante o pcrfodo da crise da Asia todos os mercados passam a ser explicados porum numero superior de mercados da amostra sendo que o da Espanha e o mais influenciado enquanto que o mercado do Japao e o que 6 "causado" por urn n(Lmero menor de mercados (4). Em resumo, a compara<;ao dos resultados dos testes de causalidade entre o perfodo tranquilo eo perfodo da crise da Asia sugere que se assistiu a altera<;oes que se traduziram num aumento significative da inJerdependencia entre os diversos mercados da amostra. Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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JCtlio Lobao
Tabela 8. Quadro-Resumo dos Resultados dos Testes de Causalidade de Granger para o Pel'iodo da Crise da Asia
ESP
PORT
GREC
IRL
AL
FR
RU
EUA
JAP
N
N
S
S
N
s . . - .. -
GREC
S
S s s s . . --··. --·-- ..... --·---
IRL
S
N
AL
N
RU EUA
s s
JAP
N
Total
6
s
PORT
. ·- -·---·---
ESP
S
S
s
' - ·-- -
.-
S
s
. -- ... -
S
Total
5 s s s 8 --·-·--- ------ - · I-- ·----·-··1----- --· N S S 7 .
··-· - ·· ..
-···---- ··-....,-·.···-,-!-- ·- · - ·· --·- ···--·- ·-- ---·--··--· ··-··--·--- ·--·- . ..
-- ·--· ... ·-
S
N
S
N
(S)
S
S
(S)
6 (2)
S
S
6 {I)
7
6 ( I)
53 (6)
-· ·- ·-· ·----·-..·-·--. ' ·-··- ---.. -.·-·N N S . S S S S 5 ......... - --·--1---·- · ....... -· - - ---- -···- ---- ---1-·------·- ·-·-·--------· - ---- ----- ·---- · - - N S S S : S S S 7 FR S _____..._ 1-·---·· ·-- - -· --·- _____ .. __ . : .... ,.~~---·--- ·- -- ........ -- .... --·~--
-...-- ----~~ -- · --------
(S)
N
S
·-·---·-·- 1-------- - ·-· ......... " .............. - ·--· -- ...... ...... __ -------·-·~ · --·-·---· .. - ·-·-- .... 5 ( I) N S N S (S) N . . _ S..... ····-- - --·-- - - · .. -·-- ... 4 (2) (S) N N (S) S S N -~~-··-···
3(1)
6
6{1)
5(1)
7(1)
7(1)
Notas: Os mercados em col una "causam" os mercados em linha; S e (S) significam que se pode rejeitar a hip6tese nula de que o mercado em coluna "nao causa" o mercado em linha com tun nfvel de significancia de 5% e de 10%, respectivamente; N significa que nao se pode rejeitaa· a hip6tese nu la de que o mercado em col una "nao causa" o mercado emlinha corn um nJvel de signifidincia de 10~;,.
Tabela 9. Quadro-Resumo dos Resultados dos Testes de Causalidade de Granger para o Periodo Tranquilo da Crise da Asia PORT
ffiiT ~·~
_
ESP
N _... .... --·- -.....
GREC
IRL
AL
FR
RU
EUA
.lAP
N
N
S
N
N
N
N
~..
ESP N N -· - ·-·-···-· ·-·-··-·-- ----·- ... ,_,_. .. ·-
..
':'·-~·
___
GREC
N ....... ..... --·-IRL N
-·-
S
-~-
. ..
S S ··--· --------- -
...
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N N -· -·-· -- -·
S
-
S
... ...... N ..., .... ...... ----·------ ..·---............. ____ ..__ .. -----· -
N
,.
N
Total
· -·~·
4
-·-·-~··
3 ( I)
(S)
S
N
(S)
S
S
N
4(1)
S
S
N
4
S
S
N
·-----~---~-----~-
S
N
.
.
N
·---·--- ·- .... .. __ ._,~- -~·"-'- - -~-~--- . _.
N S AL FR N N ... - ·- ·- - ·-- c-·-------· RU N N
N
N
---- .. - ·- "--·-·- ·----- -· S
--
------.. -- ---·- ---·-·-- .. ~-------- ----·~------· ----- -·- ---.... ·- 1- -·---
N N S . ..---- ·--- .. .. N ($) S
·Eu-;.-·-- . . . ."N · · ---·N·· · .....N.... .....c-s) ·-· --
.
·· ·"'-'-""'"d._.__,_, ........ ----·--·-·-· ··---
N
... · .
-·-·-N'·-· ·
S
S
3
4 (I)
1-(i) -
-N - .. .... N --·-·----,~-- N . - . ..... ......... . ------ ---- ·-· ......... .... ---1-· ...... ..... ---- ·- -- ·- · - .. --·- ........ ·-·"·--------·-·-.--·- _ _____ ,..... . N N N S N S 2 JAP N N Total
0
3
0
3(2)
4
4 (2)
4
6
2
26(4)
Notas: Os merc~dos ern coluna "causam" os merc~dos em linha; S e (S) significam que se pode rejeitar .a hip6.~<.' nul~ de que o rnercado em coluna "nao causa" o mercado em linha com um nivcl de significanda d.e-5~9 e de 10%, respecti vamente; N signi fica que nao se pode rejeitar a hip6tese nula de que o mercado el~1 cohl>la "nao causa" o mercado em linha com um nfvel de significiincia de JOj;,.
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A analise das func;oes de resposta a impulsos calculadas a partir do modelo VAH sugere que as interacc;6es entre os mercados da amostra durante o periodo tranquilo foram em numero e intensidade ntoderados. Registaram-se 18 casos de choques slgnlficativos, em regra com o sinal esperado, e com persish~ncia, a niveis estatisticamente significativos, de um periodo apenas, embora os choques s6 desaparec;am por completo ao fim de 4 sessoes (ver tabelas ILL e JI.2., em anexo). 0 mercado dos EUA constitui-se como o mais importante a julgar pela influencia que exerce junto dos mercados de Espanha, h路landa, Alemanha, Franc;a, Reino Unido e Japao. Neste perfodo, as evidencias apontam o mercado da Alemanha como o mais vulnen'ivel aos restantes mercados sofrendo o impacto das variac;oes nas rendibilidades de Espanha, Irlanda, Franc;a e EUA. Com o desenrolar da crise da Asia, o padrao de interacc;ao entre os mercados da am.ostra altera-se de forma sensfvel: aumenta para 22 o numero de choques com significado e aumenta a persistencia dos choques uma vez que se passam a observar 8 casos em que o choque se prolonga com significado estatfstico por mais do que uma sessao. Os EUA continuam a exercer uma forte influencia enquanto que Irlanda e Franc;a sao os mercados em que os choques significativos provenientes dos restantes mercados sao em maior numero. A comparac;ao das func;oes calculadas para o perfodo tranquilo e para o perfodo de crise permite estabelecer algumas diferenc;as: a configurac;ao das curvas durante o periodo tranquilo mostra que os choques entre os mercados tern urn efeito de curta dura<;ao que desaparece ao fim de 4 sessoes enquanto que, durante a crise da Asia, o efeito dos choques e de maior magnitude e tambem mais persistente. Os graficos 1. e 2., que representam as fun<;5es de resposta a impulsos do Japao a choques provenientes do mercado do Reino Unido, ilustram o que acabamos de referir. Grafico 1.
Fun~ao
de Resposta a Impulsos do Mercado do Japao a Inova~ao no Mercado do Reino Unido no Periodo Tranquilo da Crise da Asia Resposta de JAP a inovac搂o em RU - PT
0.00. 0,00. 0,00 0.00. 0 .00. 0.00. 0.00. 0,00.
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Julio Lobao
Gn\fico 2. Fun~ao de Resposta a Impulsos do Mercado do Japao a lnova~ao no Mercado do Reino Unido durante a Crise da Asia a movavao em 0.00. 0.00. 0,00. 0.00. 0.00. 0.00. 0.00. 0.00. 0.00.
A cornparac;ao entre a decomposic;ao da variancia no perfodo tranquilo
e no perfodo da cri.se da Asia sugere gue a autonomia dos mercados desenvolvidos se atenuou no perfodo de crise. E verdade que, mesmo no perfodo tranquilo, alguns dos mercados registavam nfveis relativamente modestos de autonomia face aos restantes mercados da amostra, mas em todos os casas se registou uma quebra significativa na relac;ao entre os mercados sob analise. Pode-se conclui1~ a partir das func;6es de resposta a impulsos e da decomposic;ao das variancias, que os mercados perderam autonomia durante a crise da Asia tornando-se mais vulneraveis as variac;6es ocorridas nos restantes mercados da amostra. Estes resultados sugerem a existencia de contagia na acepc;ao segundo a qual o fen6meno se caracteriza pela tran.smissao intern.acional de choques. Interpretando globalmente os testes realizados pode-se concluir que, durante a crise da Asia, se observaram muito fortes sinais de contagia, tanto no curto prazo como no longo prazo, e com implicac;oes no aumento da frequencia e associac;ao temporal das rendibilidades extremas. Os testes de alterac;ao da func;ao de distribuic;ao de probabilidades, a partir dos quais se pretende inferir alterac;6es no processo de gerac;ao dos dados, sao os 'Lmicos que nao assinalam a presenc;a de contagia. Todos os outros testes sustentam a hip6tese de que a autonomia entre os mercados da amostra diminuiu e de que os choques com origem nos mercados da amostra foram em maior numero e com maior persistencia (ver tabela 10.). Como seria de esperm~ o mercado do Japao parece ter sido, do conJunto dos mercados da amostra, o mais afectado pela crise da Asia.
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Tabela 10. Quadro-Resumo dos Resultados dos Testes d e Causalidade dos Testes Empiricos Aplicados a Crise da Asia Testes
Resultado
Testes de Correla~ao
./
Testes de Kolmogorov-Smirnov Testes de Valor Extremo
./
Testes de Ra(z Unit<Uia
./
Testes de Cointegrac;ao
./
Testes de Causa lidade de Granger
./
C1)
"0 <II
~ ~
Vl ;:l
<II
u
<lJ
"0
~
da Variancia
Vl
Vl
0
~
'0 0
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Decomposi~ao
~
Ql
:.:E
Func;oes de Resposta a Impulsos
6. Conclusoes e sugestoes para
investiga~ao
./
./
futura
As crises financeiras ocorrid as ao Iongo dos anos 90, nomeadamente no Mecanisme Europeu de Taxas de Ciimbio (1992), no Mexico (1994-1995), no Sudeste Asiatico (1997-1998), na Russia (1998) e no Brasil (1999), tiveram significativas repercussoes a nfvel internacionaJ e fizeram surgir um novo interesse no cstudo do fen6meno do contagio. Em consequencia, muitos estudos se tem debruc;ado nos ultimos anos sobre a h·ansmissao de choques de rendibilidade principalmente entre os mexcados financeiros das economias emergentes. E importante estudar a existencia do contagio nas situac;oes de crise financeira uma vez que os processos de diversificac;ao internacional do risco que nao tenham em considerac;ao os efeitos de contagio, podem nao ser suficientes para a atenua c;ao da incerteza inerente aos investimentos de carteira em activos financeiros cotados nos mercados desenvolvidos. Este efeito pode ser mais not6rio durante os perfodos de crise, precisamente a altura em que a diversificac;ao c mais necessaria. 0 presente b·abalho propos-se conb·ibuir neste campo de investigac;ao avaliando os efeitos de contagio entre os mercados de acc;oes de nove pafses desenvolvidos dUl·ante a crise da Asia de 1997-1998. E importante salienta.r que o trabalho empfrico realizado, que consistiu na aplicac;ao de urn conjunto alargado de testes de contagio ao epis6dio de crise em Lusfada:, ~WrtQlnia &. Empresa, Lisb()a, n.0 9/2009
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JUlio Lobao
questao, permite que o fen6meno seja considerado atendendo a complexidade que, em nossa opiniao, lhe e inerente. Com efeito, consideramos que a natureza do fen6meno tern sido simplificada pelo facto de ter prevalecido ate ao momento na literatura a tendencia de se quantificar cada urn dos seus efeitos parcelares (por exemplo, na volatilidade, nas fun<;6es de distribuic;ao de probabilidade, nos paru6es de causalidade entre os mercados, na magnitude e persistencia dos choques de rendibilidade) sem ter em conta que o contagio e um s6 fen6meno susceptive! de manifestar, em simuW1neo, efeitos diversos nos multiplos parametros que caracterizam os mercados financeiros. Por outras palavras, pretendemos, na analise dos efeitos de contagio, passar de uma visao unidimensional do fen6meno para uma perspectiva multidimensional onde se atenda, portanto, de forma integrada, as suas diversas mani.festa<;oes. Alem disso, a literatura tem-se debruc;ado sobretudo sobre o contagio nos mercados emergentes, ignorando o estudo do fen6meno, quase por completo, nos mercados desenvolvidos. Assim, foi aplicado urn conjunto alargado de testes de contagio onde se incluem testes de correlac;ao, testes de Kolmogorov-Smirnov/ testes de valor extremo, testes de rafz unitaria, testes de cointegrac;ao, testes de causalidade e testes baseados na estimativa de modelos de vectores autoregressivos. Os resultados dos testes levados a cabo permitem concluir que foi muito forte o contagio verificado entre os mercados de acc;oes dos paises desenvolvidos durante a crise da Asia. 0 fen6meno manifestou-se tanto no curto prazo como no Iongo prazo/ e com implicac;oes no aumento da frequencia e associa<;ao temporal das rendibilidades extremas. Os testes de alterac;ao da func;ao de disb:ibuic;ao de probabilidades, a partir dos quais se pretende inferir alterac;oes no proceSSO de gera<;aO dos dados, SaO OS uniCOS que nao assinalam a presen<;a de contagio. Todos os outros testes sustentam a hip6tese de que a autonomia entre os mercados da amostra diminuiu e de que os choques com origem nos mercados da amostra foram em maior numero e com maior persistencia. 0 presente estudo permite ainda estabelecer comparac;oes entre os resultados obtidos para os distintos testes. Em func;ao dos resultados obtidos, pode-se concluir que a escolha da metodologia de teste de contagio e critica nos resultados dos estudos empiricos levados a cabo. De facto/ notam-se diferenc;as sensfveis nos resultados dos varios testes efectuados consoante o teste e os respectivos efeitos de contagio considerados. Os resultados sugerem que as conclusoes acerca da presenc;a do contagio podem depende1~ em grande medida, da defini<;ao previa dos efeitos de contagio sob teste. Por este motivo, as conclusoes dos eshtdos empfricos de contagio ganl<ariam em robustez se se apreciassem nao uma mas varias noc;oes de contagio. Os pr6ximos caminhos a percorrex na investigac;ao nesta area deverao insistir numa maior ligac;ao entre as teorias explicativas do contagio e os testes a aplicar. Urn dos principais desafios no futuro devera passar pela identificac;ao dos efeitos preconizados por cada uma das teorias explicativas do contagio e pelo teste em separado de cada um desses efeitos. 54
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Contagio financeiro entre mercados de ac~oes de pafses desenvolvidos ..., p. 31-59
Para alem disso, encontram-se ainda por investigar outras areas relacionadas com o contagia. Referimo-nos, em primeiro lugar, a necessidade de se desenvolverem estrategias de investimento que permitam responder a transmissao de choques entre mercados. Em segundo lugru.~ o estudo dos efeitos de contagio nao s6 entre mercados, mas tambem entre diversas categorias de activos pode constituir-se como uma importante direcr;ao de investigar;ao futura. Por ultimo, e provavel que o estudo do fen6meno com o recurso a dados com frequencias elevadas, se possivel a nfvel intra-day, permita lanr;ar alguma luz sobre as relar;oes entre o contagio e a microestrutura de mercado, nomeadamente entre o processo de descoberta dos prer;os e a transmissao de choques de rendibilidade nos mercados financeiros.
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Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n.0 9/2009
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]@o Lobao
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ANEXOS Tabela 1.1. Resultados dos Testes de Raiz Unitaria ADF e de Phillips-P enon para a Crise da Asia durante o Periodo de Crise
Teste d e Phillips-Perron
TesteADF
Estat.
Prob.
Testes Akaike I Han nan-Quinn /Schwa1-z
Estat.
Prob. 0.00000
PORT
-2.0837 (8)
0.25000
8,8,8
-78.37 (14)
ESP
-2.5518* (8)
o:nooo
8,8,2
-40.81 (14)
0.00000
Gl~EC
-3.9304 (2)
0.00000
2,2,2
-73.60 (14)
0.00000
TRL
-3.2335 (9) -2.3917 (8)
0.02000
9,9,1
-47.00 (14)
0.00000
AL
0.14000
8,8,2
-56.08 (14)
0.00000
FR
-2.7168 (10)
0.07000
10,8,2
-58.22 (14)
0.00000
RU
-2.3006* (10)
10,5,1
-42.31 (14)
0.00000
EUA
-2.4182* (10)
0.17000 0.14000
10,10,7
-56.73* (14)
0.00000
JAP DIF(PORT)
-3.1274* (5)
0.03000
5,5,2
-59.30 (14)
0.00000
-3.4366 (10) -2.6571 (13)
0.01000
10,10,8
-83.07* (14)
0.00000
DIF(ESP)
13,13,2
-59.16 (14)
0.00000
DJF(AL) DIF(FR)
-4.0865 (9) -2.5425* (14)
0.09000 0.00000
9,9,8
0.00000
14,11,2
DIF(RU)
-4.2049 (10)
0.11000 0.00000
-73.24 (14) -78.94* (14)
10,10,2
-61.98 (14)
0.00000 0.00000
0.00000
DIF(EUA)
-3.7678 (11)
0.00000
11,11,7
-79.23* (14)
DIF2{ESP)
-3.8048 (14)
0.00000
14,14,8
-76.68 (14)
0.00000
DIF2(FR)
-4.0727 (14)
0.00000
14,14,3
-93.48* (14)
0.00000
Notas:
E11tre parentescs indica-sc o
nt.1mero de dcsfasamentos utilizados nos testes. A negrito indicazn-se os C()SOS c'n que pelo mcnos
urn dos testes indica que nao se podc rcjcitar a hip6tese de existf!ncia de uma rafz uniMria co1n S% de signi£ic~ ncia. • indica
· que a simulu~o nao confirma os resultados iniciais do teste.
Lusfada. Economia & Empxesa, Lisboa, n. 0 9/2009
57
Julio Lobao Tabela 1.2. Resultados dos Testes de Rafz Unih1ria ADF e de Phillips-Perron para a Crise da Asia durante o Periodo Tranquilo
Estat.
-4.0271 (8} -5.4988 (5) -3.5489 (14) -3.8228 (8) -5.9069 (5) -4.6765 (10) -4.8152 (1 0) -5.3255 (7) -6.0706 (4)
PORT ESP GREC
lRL AL
FR RU EUA JAP
Teste de Phillips-Ferron
TesteADF Testes Akaike/HannanProb. -Quinn/Schwarz
0.00000 0.00000 0.01000 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000
8,6,2 5,5,3 14,11,4 8,8,4 5,4,4 10,10,3 10,10,3 7,7,5 4,4,3
Estat.
Prob.
-228.03 (19) -187.35 (19) -187.49 (19) -201.78 (19) -268.69 (19) -222.38 (19) -211.42 (19) -174.65 (19) -285.41 (19)
0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000
Notas: Entre par~ntescs illd ica-sc o ''Umero de desfasamentos utilizadoo nos testes. A negrito indicarn--se os casos em que pclo menos um dos testes indica que niio sc podc rcjcit~r a hip6tese de existCncia de umn ra(z unihiria com que a simu l a~ao nao con(irma os resultados iniciais do teste.
s~·~
de signifidincia.
~
ind ica
Tabela 11.1. Quadro-Resu mo dos Resultados das Funs:oes de Resposta a Impulsos obtidas para a Crise da Asia durante o Perfodo de Crise POirl'
GREC
13$1'
IR l..
Al..
PORT
FR
RU
I
I
I. +
EVA
3
2 1.2
...
+.·
I ... I
JAI>
ESI'
..·· _____I___ ____l_ . GREC
I
.. ____2 _ ·-
+ IRL
2
I
1••~
2
-.+
+
..! .... +
-j
+ FR
1.5
2 . 3.4
+.-
+.-
--·- . __ -- _ ... -- .. _.__ ,
RU
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2
J•,
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+
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+ I
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Ji\1>
J.:. ... i
+
·' 1.2.3 + ... ,+
•.
·~·
Notas: Respostas dos mercados em linha a hnpulsos provC.11icntcs dos mercados ern coluna; Cada cetula tem trCs linhas: na primeira linha indica-se o nUmero de perlodos durante os quais a rcsposta do ll'ICrC"ado e 111 linh(l (oi significativa de acordo com o critCrlo de dois desvioS-J><1drao, na segundn linha i11dic:a-se o nUmet'l.) de
ordem desses perfodos, na tcrwi•·a linha indica-sc o sinal da respo.~ta ao impufso; as mlulols 1'1 2io pl'ccnchidas correspondem a aust!ncia de resposta significativa de aoordo com o cri t~rio dcfinido de dois desvios-padrio.
58
Lusfada. Econorn ia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
Contagio financeiro entre mercados de ac~oes de pafses desenvolvidos ..., p. 31-59 Tabela II.2. Quadro-Resumo dos Resultados das Fun~oes de Resposta a Impulsos obtidas para a Crise da Asia durante o Pedodo Tt·anquilo
r'Orn
ES P
GREC
IRl.
FR
Al.
F.UA
RlJ
JA P
PORT
(
ESP
--· +
GllF.C
+ tilL
..
····-··········
.. ·'··-+
--
+
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+
+
I'R
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.....•1._...... ·--~-
RU
+
'·
+ I
L- .. +
+
GUt\
JA P
-· .. - ·- .···-- ........ ....·- r ...
.
I
;. +
Notas: Rcspostas dos m~rcados em linha a impulsos p rovea\iC•ltCS dos rncrcados em col\ma; Cada cc!lula tem to!s linhas: na pl'imeira Jinha illdi<.·a~ o nUmcro de perfodos durante os quais a r\."Sposta do tncrcado em linha foi significativa de acordo com o critCrio de dois desvjo,s.padrao, r1a segllllda 1i1lhn indica·sc o n(unero de ord~m dcs.-;cs pe riodo~ na terceira Jinha indicaMse o sinal da msposta ao impulso; as celulas nolo preenchidas corrcspondc-m a JusCncia de rcsposla significativa de acordo como criterio de(inido de dois desvi os~padrao.
4l!sfada-. Econo:mia & Empresa, Lisboa, n.0 9/2009
.59
SENIOR CO-HOUSING IN RURAL AREAS: TELEMEDICINE THE ANSWER?
Cristina Cararnelo Gomes Doutorada em Arquitectw-a pela Universidade de Salford, Reino Unido
Ana Cristina Lott Dare Mestre em Design pela Universidade Lusfada de Lisboa
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n.0 9/2009
Abstract: Desertification of rural areas is a major problem that developed countries face; simultaneously, the percentage of the senior population in urban areas increases dramatically. This research is grow1ded on the theory that public and private investment in senior co-housing may help to fight depopulation in rural areas and, at the same time, help to regenerate both urban and rural populations, tlwough relocation. Yet, the theory bas a major constraint: health services are not, broadly speaking, promptly available in those locations and, by definition, surrounding areas and senjor citizens require a higher standard of health care. This paper shows that the constraint can be solved with a dual approach to health caTe: including health care units and staff within the development, in an exclusive or shared concept, and telemedicine.
Key-words: Telemedicine; Cohousing; ICT; Inclusive Design; Domotics.
Resumo: Os paises desenvolvidos e em vias de desenvolvimento confrontam-se com o grande desafio da desertificac;ao das areas rurais e remotas em sim.ultaneo com o significado crescente da expansao do n.umero de indivfduos mais velhos, no territ6rio em geral e nas areas urbanas em particular. 0 conceito subjacente ao Cohousing, habitac;ao em comunidade (ou em condomfnio), financiado por investimento pttblico e/ ou privado, podc contribuir para o melhoramento da qualidade de vida dos indivfduos, minimizar a desertifica<;ao de areas mais remotas e promover a gentrificac;ao nas areas urbanas, pela recolocac;ao dos indivfduos, pela humanizac;ao do ambiente construfdo e pela actualizac;ao das suas func;oes aos requisites do quotidiarlO. Contudo, as vantagens apresentadas pela teoria sao contrariadas pela insufich?ncia ou inexistencia de servi<;os nas mais diferenles areas (social, cultural, etc.) com especial incidencia na prestac;ao de cuidados de saude. Esta comunicac;ao objectiva que as contrariedades podem ser contornadas por uma diferente abordagem a concepc;ao do ambiente construido e as func;oes a( desempenhadas e sobretudo pelas possibilidades permitidas e motivadas pelas novas tecnologias com especial atenc;ao para a Tclcmedicina.
Palavras chave: Telemedicina; Cohousing; ICT; Design Inclusive e Dom6tica.
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
63
Cristina Caramelo Gomes e Ana Cristina Loll Dare
1. Aims and Objectives
Depopulation of inland rural areas is a major problem that developed countries face. Portugal is no exception and there is an increasing number of small villages becoming deserted and depopulated especially in the inland area. The evolution of this problem is closely observed both by national and local authorities but the adopted measures adopted so far have produced a few results only. Another problem that developed countries also deal with is the increase in the percentage of senior population. This segment has special requirements and specific problems with a strong impact on society, and most of them require policy measures. Among these problems, there is the housing and care issue which, combined with the distribution of the population in the country, generate massive concentration of elderly people in urban areas. This research develops the theory that public and private investment in senior cohousing may help to fight depopulation in rural areas and, at the same time, help to regenerate both urban and rural populations, by relocating the required workforce. Cohousing is a new concept of living in community, tailored by individuals with similar characteristics, such as age. Senior cohousing combines the concept of living in community with the concept of assisted housing. Senior cohousing in rural areas raises the concept of rural leisure housing, and they all blend into a sustainable environmental friendly concept. The theory has a major constraint that needs tackling: health services are not, broadly speaking, promptly available in those locations and surrounding areas and, by definition, senior citizens require a higher standard of health care. This paper discusses that the constraint can be solved with a dual approach to health. care: including health care units and staff within the development, in an exclusive or shared concept, and telemedicine. In fact, telemedicine may provide the answer to the need of maintaining the cost of health care units at a reasonable level whilst keeping the required quality standard: ancillaxy means of diagnostic operating remotely and remote specialized attendance with local support can dramatically reduce the operating costs. Should such hypothesis be proved, the main constraint to the underlying theory is solved and a conceptual model can be developed to implement senior cohousing in 1ural areas. This paper presents the preliminary findings of this matter.
2. Cau ses and Stimulus
2.1. Social and demographic considerations Portugal is a small country on the west European coast, limited to the west and south by the Atlantic Ocean and to the North and East by Spain. History
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Luslada. Economia & Em presa, Lisboa, n. 0 9/2009
Senior co-housing in rural areas: Telemedicine the answer?, p. 61-92
has demonstrated a preference for settling on coastal areas, and the century XXI has brought no changes: the opportunities to develop activities and to grant economic requirements are significantly higher by the sea, where big metropolitan areas, such as Lisbon and Oporto are located; inland regions have low or non-existent employment opportunities, as well as a shortage of social equipment and services. These circumstances have fostered desertification and migration, leaving an elderly population in xesidence: According to the 2006 Portuguese statistical data, ratios of elder population are as follows: 112 youngex to 100 seniors (INE, 2008); yet interior regions like the Alentejo achieved a ratio of 171 seniors to 100 younger (lNE, 2006). This situation presents a considerable demographic challenge and a low birth rate only increases this problem. In 2006, Portugal recorded a resident population composed of 15,5% of young people (below 15 years old) to 17,3% of elderly people (65 years and over); which means 112 seniors to 100 younger (lNE, 2008). Families' structure presents also new challenges. The number of small families is growing, and the majority are composed of one or two individuals (45,7%); families with offsprings are decreasing and so is the number of offsprings: 42,8% without children; 32% with one child; 20,3% with two children and 3,9% with three children (INE, 2007). Although most senior citizens are included in some social welfare situations, 62% of them are still working because social allowances are small and they can hardly eke out a living. This segment of the Portuguese population is quite vulnerable to poverly and social exclusion, as a considerable nwnber of individuals earn an income below the poverty line. This sector of population is characterised by a low education level and poor health and housing conditions (BRANCO & GoN<;:ALVES, 2001). This situation makes this sector largely dependent on social services, as less than half of the relatives that are employed are allowed to change their professional schedules to deliver family assistance and only 13,4% would want to work less to be allowed to spend more time with their children and other dependable relatives (INE, 2007). As it is, public services are insufficient and inefficient; waiting lists for health care are long and usual and house care is broadly unavailable. In consequence, senior people survive with few stimuli, insufficient care, at home, on their own, while they can as their (or their relatives') economic resources leave them with no further options. The alternatives are not sympathetic. Retirement houses are, in most cases, the only possible solution to solve the question until nature takes its course. These institutions have different quality levels that impact on the cost, but the general quality level is low; the cheapest are the non-licensed institutions, despite their general conditions being poor. The licensed institutions must fulfil some licensing criteria matching facilities and services standards, but still the average level is poor. Some institutions receive self-sufficient individuals during the day and provide them with some indoor and outdoor activities; other institutions receive disabled or less able individuals providing them with some Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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Cristina Caramelo Gomes e Ana Cristina Lott Dare
medical assistance and a place to stay. Most of the supporting institutions are privately owned and public institutions supply assistance to just a small percentage of the population: in Lisbon municipality, public institutions offer assistance to 2,5% of the senior population (JPB, 2008). Altogether, a visit to the average senior s upport institution in Portugal gives us the feeling of visiting a storage facility of, as the great 20th century Portuguese poet, Fernando Pessoa once wrote, "Postponed dead bodies" (PESSOA, 1998). The problem starts with funding but hardly ever ends there. The Portuguese community doesn't include senior citizens or does not offer them any other special benefits. A small tour around parking lots proves that disabled parking plots are occupied by individuals that present no physical disability, leaving us with the feeling that the mental disability is the most frequent in Portuga l: no other reason for an apparently healthy individual to occupy a disabled parking is obvious... Broadly speaking, the community offers no services and those that do exist are poor and inefficient and in most cases are located a long distance from the users who have, in most cases, limited displacement capabilities. For the past decade the coun try has suffered a renovation of the health care system based solely on econom ic reasons: emergency set路vices are closing and some of the remaining close for the night, speciality medicine is only available in some urban centres, thus forcing individuals to travel Jong distances to receive health care. These situations are very well documented by the Portuguese press, media documents, blogs, daily news and political demonstrations and some of the most dramatic examples come from borderline municipalities, where people have decided to look for Spanish neighbouring villages for cross-border health care. The most ridicule situations are the ones within interior borde1~ where population prefer, or are forced, to use Spanish services (MARTINS, 2007). During the second half of the 20th century inland rural areas became deserted because of internal migration to the coastline in search for better professional oppoliunities. This process still happens and some counties have serious problems with a significant decrease in the number of population, and the settlement of old individuals forced by memories or economic possibilities to stay. Desertification of areas is strongly influenced not only by the non-existence of employment but mainly (and for young seniors and individuals with economic possibilities) by the lack of social equipment regardless of its speciality: health and education. Demographic studies illustrate just that (INE, 2006). The problem of the desertification of interior areas has been a very convenient political issue, being referred to in political shows and campaigns. To promote the settlement of individuals some municipalities and parishes promote a subsidy, an amount of money for each marriage or bir!hi the subsidy of birth increases with the number of children, and provide economic help along the first five years of the child's life. Some parishes add kinder garden allowances. The subsidy to attract the settlement of emigrant fam ilies has also been a solution to tackle this problem. 66
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
Senior co-housing in rura l areas: Telemedicine the answer?, p. 61-92
Although these solutions present some results, they have not been successful; economic subsidies are not enough for individuals who require social assistance and life opportunities. Children stay when. they do not need school, then start to go out, mainly on teen age to attend specialised school or university; the emigrants after a small period of time give up of subsidy and move to the cost line or cities in search for work.
2.2. Economic considerations
Most Portuguese own their own houses. Reasons for this are mainly political, because lease legislation in Portugal imposes limits to the rents value and to its yearly update since the 1920s (SILVA, 1994). Real estate investment is not attractive from the landlord's point of view, as the expected retum is low. The real estate market has been targeted by private and public investment. Broadly speaking, the second has a smaller interference and a significant one in some market segments: rehabilitation of the historical and ancient areas, social housing and support to co-operative construction. Public investment is not profit oriented and, consequently, provides housing on a budget. It is not, however, easily accessible and only a small part of the population benefits from it. The majority of families satisfy their housing needs in the private investment sector, at higher prices. The weight of mortgages in familiar budget is noteworthy and financial institutions extend the period of loans to up to 50 years. This situation works like an anchor preventing location changes when needed; this also influences th.e general trend to buy small houses where the need to accommodate a relative for a period of time or permanently is impossible without the privacy of individuals being interfered. In the most populated areas the prevailing type of construction is the one where each floor is accessed through several steps, frequently without a lift. Buildings are common property and each modification, despite its inclusion result, requires the agreement through majority (unless there is municipal or governmental obligation). This agreement depends on the budget, but mainly on the humanity, consciousness and open mindfulness of each inh.abitant. Particularly, metropolitan areas present buildings with more than three floors, with stairs and (sometimes) lifts. This model is widely spread from the city centre to the near and far periphery. The most frequent typology consists of two bedrooms, one living/ dinning room, one kitchen and one bathroom. Real Estate prices are determined by room dimension, finishing but mainly by the location value. This implies the choice of peripheral areas, more or less dose to the city centre, and dwelled mainly by night time population. The more distant from the city centre, the less it costs but also it also has fewer transports and equipment, which means less quality of life (GOMES, 1999). Built environment becomes an un-balanced and un-humanised place where the Lusiada. Economia & Emp(esa, Lisboa, n. 0 9/2009
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individual hardly lives with some dignity and quality of life, especially those with special requirements, such as seniors.
2.3. Settlement and built environment considerations Real Estate speculation and wrong urban plannirtg make the immediate profit appear as the main pmpose to draft the city plan. During the last century, the cities' growth followed an unsustainable model, both to their identity and the quality of life provided to their inhabitants. The car use in daily life has expanded the distance between residence and workplace, families and individuals, like no other means of transportation. Traditional methods of planning metropolitan areas are uncharacterised, creating unsustainable communities, through the spoilt energetic management as the addition of physical and psychological human stress. New considerations towards individuals and their life styles will demand new ways of planning the city, periphery and house (GOMES & AOUAD, 2005). Fig. I. The community planned for the car: path ways and roundabout. Special attention to the lady with a baby trolley. (GOMES, 2007)
Built environment has different causes of obsolescence, as human beings have several ways of diminishing its performance. The important issue is to define the bridge that supports and balances both life cycles, in public and private spaces. If new life styles require inclusive design, the most critical question is the need of people who are not able to live all alone, within exclusive environments anymore (KEATES & CLARKSON, 2004). In view of the character of contemporaneous life, it is important to define the population, its anthropometric and ergonomic description and life style. If the percentage of people with physical or sensorial diseases/ impairments is not considered significant (when compared with the whole population), the proportion of the elderly is so, as so are the temporal impairments caused not by individuals requirements but by environment, activities, functions, products or communication systems. 68
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Fig. II. Residential areas: main entrances, paths and steps on traditional assembly. (GOMES, 2007)
Human beings have been spectators of these changes v.rith the flexibility required to live within inhtm1an environs, luxury houses which, by their exclusivity, limit the independence of the human condition and consequently the quality of life. This is true for public buildings and is more effective within residetttial areas. Urban environment should take individuals considerations (Adaptive Environments, 2006). Public spaces should introduce safe equipment, dimensions and finishing, promoting activities and interaction among individuals. Gardens or exterior spaces are not suitable if they do not offer seats, shadows, equipment, such as cafe shops or a vending machine, local fairs, reading seats (on a quiet area), thematic workshops, musical or theatre scenarios, appealing to the human sensitive perception to attract and. maintain people. Accessibility is important tO' promote the mobility of individuals, despite physical requirements for the elderly or the young couples with children. Considerations should be taken to pavement dimensions, sloping, finishing, colours, and textures. Pedestrian ways, commercial and leisure spaces, spaces and equipment to outdoor aclivities can be crucial towards the promotion of a stronger commitment with the community and the interaction between individuals within the same area. Public buildings, despite their age or historical interest, should provide solutions for including individuals, appealing to different ages, desires and needs. Indoors scenaxio is not different. Fig. III. Shopping centre accessibility: slopes and handrail don't fulfil legal requirements. (G OMES, 2007)
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Inside the house considerations must be made to doors and corrid ors width; kitchens should be more ergonomic to individual reach; secure to the use of gas and electricity equipment to both children and elderly (GREENSTEIN, 1997). Toilets should guaranty the accessibility and the security provided by good illumination, water drainage and textured finishing avoiding falls. Inclusive design is a recent area of knowledge even though it results from the awareness of each professional and intervenient in daily life activities. The complexity of the built environment elected it as one of the major areas which need the data and knowledge of the inclusion concept. Efforts are being made to include the training and practice of these issues in architectural conception but always with a strong opposition from professionals, owners and, frequently also, users. Inclusive is considered expensive and useless. Municipalities have been blind to this reality. Despite the fact that the law of 123/97 (Decreto-Lei, 1997) established a seven years term for public spaces and buildings to com.ply with its requirements, the reality is that when this statue was replaced in 2006 by the Decreto-lei 163/06 (extending the requirements to residential buildings) the vast majority of the consequences of the first regulation was still not enforced and aimed buildings and spaces were and still are, not inclusive and non-complying with legal requirements. Until recently, the Portuguese legislation respecting public buildings accessibility requirements excluded people whose requirements were not a wheel chair and applied only to public buildings. Presently, the legislation applies also to dwellings but it is still a document where the "should" prevails instead of the "have to". Municipal (or governmental) authorities have a crucial responsibility to prevent unacceptable attitudes, decisions and practices while promoting and encouraging good practices. Legal support can be of extreme importance because of legislalion application and implications. If these examples are harmful to individuals in general, they have a s trong impact in individuals with special requirements in particular. The legislation of the past decade reveals practices which comprehend no more than the one ordered by law, with no other (anthropometric, ergonomic or cognitive) concern. In fact, they could be more or less accessible but they are nol inclusive (GOMES, 2006).
3. Telemedicin.e 3.1.
The ICT as a tool to commtmicate
During the last century, telecommunications enabled comm.unication between communities and indiv iduals. More than reaching people by road, maritime or air transportation, the possibilities granted by the telephone, fax,
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telegram, telex offered not only the relationship between organisations and individuals but aLso shortened distance in time. Geographical barriers and the isolation of the people living in remote areas diminished. Inducing the economic existence of regions and individuals, they could also establish a multisided link between the hypothesis that telecommunications and transportation bring together individuals but simultaneously promote the insertion of individuals, houses, and facilities in peripheral and I or remote areas. Telecommunications advances allow new methods of work and iiu1ovative production. The works result is no longer "goods"; that is the time of ii1formation. This product requires quality production, incompatible with mass production and unskilled, irresponsible and unhealthy workers. The media, as communication tools, determii1es the ability to reach transmission. If there are no technological aids, geographic proximity is essential to social insertion. If the way to establish communication is gesture, then the transmitter must be within the field of vision of the receiver. The same happens with oral conununication. If there is some sort of technology available, the distance may increase and the number of individuals available to socialise increases. Transmission is amplified. This amplification may be reached by any technological means. Writing is one way, smoke signs is another, Internet yet another. The only significant difference among them is range and efficiency (GOMES, 2003). People use the ICT and the Intemet for different reasons that range from work, research activity to public bureaucratic and humanitarian services. Some people use this new communication tool and feel integrated in a virtual group with similar interests; some people aim that the introduction of the ICT at woTkplaces diminishes face-to-face contact, allow more working hours and this, increased by the .inclusion of the ICT in the dwelling, enhance the possibility to develop a workaholic and isolated personality. The ICT can both minimise the feeling of social isolation or emphasise the same feeling. Email or a home page can be a process of contact as so the traditional telephone, mail or smoke signs used to be. The modern life style is characterised by a constant dynamic and a dispersion of the family elements throughout the workplace, the kindergarten, the school, the nursery and home. This dispersion is deemed to be necessary for a better quality of life, measured ii1 education, health, elderly care and professional achievement. The big question should be, however, how the ICT can improve or stress our daily life. The majority of the surveys gathered can present some biased conclusions provided by fancy or unfocused questi.ons. The fact that the number of physical contacts diminishes does not mean that communication between individuals or between individuals and groups or organisations is reduced. In fact, social integration is not determined by the number of contacts, but by the quality of these contacts. The statement "alone in the crowd" is a very well known "cliche". The ICT cam1ot provoke social isolation as it was conceived to be a communication tool to overcome geographical and time constraints. Social isolation Lusfad a. Economia & Em presa, Lisboa, n." 9 I 2009
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is a consequence of the lack of interaction between individuals and groups. The way people interact with each other is an essential characteristic of the individual personality, influenced by education, culture, social and economic realities where the individual's placement is inherited. Apart from this, social isolation is always described in associalion with age, living alone in elderly, reform and distance from the daily habits, physical disability, and illness. This is not new. Everyone can speak about experiences of colleagues, neighbourhoods, and relatives who, in a certain moment of their lives, became lonelier because of a specific reality. Social isolation is related with the humat'l being as an individual and how he/ she interacts with the social environment he/ she is inherent to. Once the fea tures and requirements of human behaviour are identified, the impact of the ICT on focused issues like personal and professional contacts, daily habits, the fatnily life, on other ways of gathering information and communication, such as TV, newspapers, telephone, mail, e tc may be assessed. Another item which is worthy of analysis is the role of the IC1: particularly the Internet, as a tool of the humanitarian or human care helpdesk (GOMES, 2002). The Internet's purpose, as other forms of remote conununication, such as mail, telephone, TV, newspapers a nd magazines, is the communication between individuals, groups, organisations and ideas. Both the process and the result will certainly demonstrate the strength of a network connection between individu als and organisations, show the advantages which can be brought and minimise the disadvantages that were identified in a structurally undefined manner. That young people are the cluster more interested in the ICT is neither new nor surprising: this reality includes mobile phones, email, messenger or features as Internet phone. In fact, the last decade switched spectacularly the way people exchange information and the need to be online (available) emerged. Each of these items has already some observance from senior cluster for daily life commw1ications; from the neighbours' conversation, to distant relatives' piece of news, to order bread from the supermarket, to appoint a visit to a doctor. Mobile phones can be the easiest tools to use, which is why they have a stronger presence in this group. As regaxds the Internet, seniors present more difficulty, and some hesitation lo use it explains the percentage of the Internet use within this group, 25% (lNE, 2007a). Some political decisions can benefit the increase of the ICT implementation and usage. Telecommunications coverage, telecommunications costs, the permission of more activities online, considerations to the perception of information and a more inclusive virtual world can be the key to a challenge between individuals and regions. New technologies allow the "physical as perceptional" presence of individual in a more than ever remote distance. A good illustration of these statements is the result of an experiment promoted by Capinha, a remote village in the interior municipality, which offered the free access to the Internet. This vill age, usually populated by senior citizens 72
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has begun a new way of attracting population: through the possibility to interact for free. At the beginning, there was a boundary between the two sets of individuals but this boundary has tended to disappearing. At the same time, the municipality has provided training sessions and Internet rooms for whoever may be interested. More than work or commercial applications, curiously these individuals generally use this tool to contact relatives emigrated in other European countries and even to communicate between neighbours within the same village through the Messenger. In fac t, the way of communication is challenging the distance between regions shortening the proximity between individuals (FONSECA, 2008).
3.2. Tele concept - a new way of living
The ICT inclusion in daily life has enabled technical performance of security, especially in the healthiest areas of the house, favouring the inclusion of individuals with severe and complex needs. Moreove1~ it has also been the most frequently used technical device of communication, leisure and work activities for people in general (GOMES, et al., 2000). Considering that the ICT was conceived and developed as a tool to minimise geographical and time constraints (among other constraints), it has become very difficult to identify it as a cause or the reason to design or tackle any kind of isolation, particularly social kind. Along with these statements, characterising the citizen of the 21st century, the citizen of the information society, is crucial. Besides, we should pinpoint his/her physical, educational, social, cultural and economic identity and verify the impact of the ICT in his/her natural and daily behaviours. The latter years of the previous century witnessed a complete revolution of the way people developed its professional and social I personal activities. This revolution was granted by the computers increased performance and portability and by its introduction in our homes and in our everyday life. Nowadays, the computer is an interactive tool expanded by Internet connection. The availability of the resources in expansion on the Internet provides us with information that can be a precious help in: Work: enhanced performance and information level; Research: quantity and accuracy of the information make it a perfect tool to gather and manage information; Leisure times: games, travel, cultural and o ther sites can provide entertainment; Public service: can be divided into two categories- the bureaucratic one and the social/humanitarian one. The ICT is essential in the modem lifestyle. It has got out of the office and invaded our houses, leisure facilities and transport. Lus1ada. Economia & Empresa, Lisboa, n .0 9/2009
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This sense of "attaining" allows new ways of doing the type of activity independently as long it deals with information. These phenomena challenge standards of individual behaviour and they draft new ways of living. Both the metropolitan areas, and the coastal areas are hubs of employment, training, graduatiOJlv health and social facilities; nevertheless these areas are also characterised by violence, poverty, environmental pollution, urban chaos and exclusion (FIDALGO, 1999). h1dividuals have some difficulties to identify themselves with any place: they spend more time in the workplace but they act as a visitor; in the dwelling area they are closed at home, resting, managing or enjoying family life. The mono ftmctionality of these areas is also an added value to this feeling (GOMES, 1999). This reality, together with the development of land communication, moves individuals to rural areas with a rapid and comfortable access (by private transport), in the past as a seasonal occupation, is tending to become permanent. Yet, this reality is not too clear in nwnber when compared with the preference for the urban centres. Nevertheless, it constitutes a very interesting paradigm. Reasons for these movements include the number of retired individuals who decide to retmn to their place of birth as liberal professionals and entrepreneurs searching for new values associated to comfort and luxury. These two sets are the extremes of a line which explains the lack of representativeness of the sample within the whole population; the first is characterised by low education levels, poor incomes depending on welfare, but identified with the place by birth or antecedents; the second is characterised by higher incomes, good education levels, regardless of their economic and social condition. Even though they are not identified with the place, they are open to accept and live with the local habits. They work with the "tele concept" where travel distance has been replaced by mobiles, emails, wireless, confidence in remote transactions, etc. Whereas the lack of social and cultural facilities is a reality, their economic status and their time management enable different alternatives. Information society aims and demands an informed community; therefore, those regions and individuals must be informed by the ICT potential of large coverage and of providing individuals with the capability of "doing". Technical and economic capacity of each region of promoting the use of The ICT can grant neglected regions a valuable contribution to the promotion of a new way of populaling and managing. The opportunities raised by new technical performances of individuals, the opportunities offered by tele-work, e commerce and telemedicine can be cmcial to the idea of shortening the distances in a global village.
3.3. Telemedicine a new paradigm to be present
It is widely accepted that Telemedicine concerns the ability to promote interactive healthcare using the I CT. This new paradigm endorses/ increases the speed up of diagnosis and therapeutic care delivery for special mobile con74
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ditions, emergencies, virtual care centres/hospitals, assisted living, patient's homes, etc. ... (ETHEL, 2008). In fact, telemedicine explores the communication potential of the ICT despite geographical or individual barriers. Albeit it seems a different way of doing medicine, Telemedicine does not change nor should change anything in the ethical procedures taken by a professional within this clus ter: just the means. Informally, TeJemedicine starts with the telephone, once this technology provides the effective communication to call the doctor, to describe symptoms, to prescribe treatment and to tackle a considerable set of situations (TELEMEDICINE RESEARCH CENTRE, 2007). The expansion of communicalion provided by computers and the Internet, the introduction of digital technology in complex and everyday equipment allows to expand their applications. Nowadays, Telemedicine enables the exchange of e mails, individual information integration, video technology for diagnosis, prescription, treatment, and surgical intervention, among other types of communication. The exchange of information can be done between hospitals, services, doctors and patients. Many advantages can be considered by the use of Telemedicine. The major one is the possibility to offer care and reliance to people who due to regional or individual qualities have been excluded from the traditional system (BUITERFIELD, 2008). Yet, different studies have demonstrated also its benefit for individuals, who, due to health specification, ethnical rituals or just diffidence, understand the benefits of some privacy. This privacy, together with promptness can be a crucial reason for a more effective and fast assistance to users. Telemedicine can and should be a crucial issue towards a better local, regional and national health care system. Yet, its positive forwarding will only be made possible if there is a strong awareness and commitment by competent political authorities, professional clusters and individuals for a more effective, efficient. and convenient service (ETHEL, 2008). The implementation of this new method of looking after people can be started by an easy and informal solution such as emailing questions cu<d answers on the Internet messenger with webcam, whenever direct contact is demanded (although image is fairly good) . In a more institutional appliance, this remote exchange of information can be helped by a portal with suggestions for users, remote access to administrative procedures, contacts to specialised professionals or in more specified cases to promote permanent contact to individuals with chronicle features. The expansion of equipment capacities as communication. technologies has made the video technology as the preferable one to see, study and interact with patient in real time giving the confidence needed to implement and invest in this new approach to health care (TELEMEDICINE DEPARTMENT, 2008). Technology improves to unexpected levels and many studies are undertaken to understand and develop the impact of tl1is model of quality of care and satisfaction (AMERICAN TELEMBDICINE ASSOCIATION, 2008). Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n.â&#x20AC;˘ 9/2009
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People have reacted harmfully to this change and maybe this is the main reason for this exchange being blocked. This reaction results from negative experiences of remote actions and activities, pessimistic opinions on the health care system. in general, and also due to the lack of knowledge of legal, practical, privacy and interoperability related issues (ETHEL, 2008). But the seed was already dropped in institutions and gradually some information integration has been made possible, such as the invitation to appoint services by phone or on the Internet, and the fact that some doctors have started to give their professional emails to patients promoting a more effective communication between them. This reality is more effective at private health care institutions located in the metropolitan areas. This pattern illustrates the sense of global connection between individuals, equipment, competences, information towards the reduction of cmmnute movements and a more care and intelligent assistance. It is worth of mention the fact that telemedicine, as any other activity helped by the ICT, does not and should not replace face-to-face professional contact and human affection. Telemedicine does not and should not be implemented by economic reason, once this answer can be a source of failure of the process and the reason to increase the suspicion towards new technologies as new methods of doing. In Portugal it is possible to identify three "virtual" public services, operating within a domestic framework, different in methods although their objectives aim prompt assistance to individuals as a choice beyond hospitals and health centreSi yet all are very well classified by their users. The National Health Service -health line - (MINISTERTO DA SA(JDE, 2007) provides a phone line number which people can call to 24hours a day, and express their anxieties and ask for assistance. On the other side of the line, qualified professionals suggest different approaches to medical recommendations, including the contact to other public services. This service deals with the whole population once there are specialised services directed to children and to the elderly. The service focused on children, "trim, trim, doi, doi" (CAEIRO, 2008) works also 24hours a day, and is the one that has received more positive feedback from its usersi all the observations written on various online documents, reveal the professionalism, the attention and the knowledge demonstrated by players. Several dted opinions pinpoint the quality and suggest the extension of this model to other medical areas. The third service is the "linha do cidadiio idoso" - line for the elderly - (PROVEDOR DE Jusrt<;:A, 1999), intends to be a phone communication where senior individuals can learn their individual rights; in practice this service works from 9 to 5 (although a recording system covers the period from 5 to 9), and the seniors individuals who use it describe their anxieties, their need of help and often declare how they have been abused of. According to statistics of this service, the victims are mostly individuals aged between 71 and 90 years old, and have experienced violence and negligent acts. Most experiences of vio-
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lence are caused by the institutions which they depend on, and they also include negligence and financial abuse by direct relatives. In a country with so many asymmetries, as Portugal, Telemedicine.~ as a new approach, can be a significant help to the reality lived by so many areas. The experience related by users of those media, demonstrates that several areas, remote and peripheral ones, have deficient number of qualified staff to respond to the requirements of the population. Some municipalities present a poor number of "medico de famflia" (doctor of the family) whereas others present a typical picture of health centres. This is the case of Aveiro's district, although its coastal geographical location and the existence of some industry. 30851 users (4%) do not have their "medico de famllia"; 1813 decided not to have it; and the ones who prefer to have it, represent a ratio between doctor and patient from 1/1450 to 1/1750 depending on the parish (COSTA, 2008). Although this implies a personal contact between players and users, this traditional model is inefficient once the imbalance between the parties do not allow the time and concern required; yet its design results from economic options. Telemedicine should not be enforced by economic criteria: users must feel comfortable with the model, and for that a multidiscipline's team is essential, with well qualified professionals (in the academic and practical levels). In consequence of the reasons mentioned above, Telemedicine can be a model to implement within areas with special requirements, ranging from desertification to non-existence of social facilities. The example of Capinha village and the success of some "virtual" social services, give the impetus to define some areas as pilot studies for implementation and evaluation. By observing these examples, it is possible to state that remote areas can be helped throughout net commtmication, fading the gap between city centres and remote areas, where people can feel attracted by geographical or thematic interest, return to family origin, cost reduction (like dwelling, commuting, net communications, etc....) without being economic, social or culturally segregated.
4. CoHousing Everywhere, people talk about feeling isolated, or about not feeling safe at home. In today's fast-paced world of competition and lonely individualism, we need a place to belong to, a place where we feel safe and supported. And yet, when we need to get away, we need a place to be ourselves- quiet, separate and safe. While community living is not a new phenomenon, one must acknowledge that with the success of cohousing, the idea is being spread for the first time on a global scale. If globalization tends to destroy cultural variation, the flexibility Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n." 9/2009
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of cohousing has allowed it to resist that trend and to adapt to people's needs in different cultural contexts. Cohousing communities combine the autonomy of private homes with advantages of shared resources and more sustainable living where people know and interact with each other. Yet cohousing offers an ideal balance of privacy and community, with members choosing to interact within neighbourhood activities at the level they prefer. The basic traits include a common house, shared faci lities, self-governance by consensus and design input by community. Residents usually own their homes, which are clustered around a "common house" with shared amenities. The amenities may include a kitchen and dining room, children's playroom, workshops, guest rooms, home office support, arts and crafts area, laundry and more. Each home is self-sufficient with a complete kitchen, but resident-cooked dinners are often available (Canadian Cohousing Network, 2004). Cohousing residents involve themselves in the planning, design ongoing management and maintenance of their community, meeting frequently to address each of these processes. Cohousing neighbourhoods propose environmentally sensitive design with a pedestrian orientation. The optimal community size contains between 12 and 36 households emphasizing a multi-generation mix singles, couples, families with children, and elders. In addition, several new communities are designed especially for elders (THE COHOUSING ASSOCIATION OF THE UNITED STATES, 2008). The majority of these built communes have a relationship with the ICT. A detailed search on the internet makes us understand that this relationship has different goals, such as the presentation of the community, the interaction with people in and outside community, and the assistance to inhabitants. Several cohousing communities have websites where it is possible to establish contact with the community. They state the concepts and principles beyond the construction site, illustrate it with technical and artistic drawings, photographs, observations of inhabitants and visitors. These portals can also be very interesting to introduce inhabitants; lo promote events calendars, and is also possible to find email addresses as blogs to encourage the virtual communication between inhabitants and between them and others. Yet, it is noteworthy the fact that the existence of each communHy portal does not restrict any personal website, personal or professional email address, or virtual contacts of each individual or family. The six defining characteristics of cohousing: â&#x20AC;˘ Participatory process - the future residents organise and participate in the planning and design process of their communities so that it meets theiJ: needs, and are responsible as a group for final decisions; â&#x20AC;˘ Deliberate neighbourhood design - the physical layout and building orientation encourage a strong sense of community. The private residen-
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ces are clustered on the site, leaving more shared open spaces. The dwellings typically face each others across a pedestrian and courtyard, with cars parked in the periphery, and sometimes with underground parking structures. Often, the front doorway of every house affords a view of the common house; Private homes and common facilities - Communities are generally designed to include significant common facilities for daily uses, to supplement private living areas. Complete resident management- Unlike a typical condominium homeowner's association, residents in cohousing usually manage the development, and also perform much of the work required to maintain the property. They take part in the preparation of common meals, and meet regularly to solve problems and develop policies for the community. Non-hierarchical structure - There are not real leadership roles. Decisions are made togethe1~ as a community, often using a decision-making models such as consensus; o shared community economy- The community is not a source of income for its members. Typically the maintenance work of the village is considered as a task to be developed also by cohousers, a contribution to shared responsibilities. This is a significant change to the dynamics between neighbours and defines another level of community beyond the scope of cohousing.
4.1. A brief history
The cohousing idea originated in Denmark, in the late 1960's, as a group of families designed a neighbourhood to reflect their desire for friendship and trust among neighbours of all ages, safety for children and the elderly, a spirit of cooperation and caring for each other, opportunities to share time and resomces and a design and development process that respected the environment. The Danish concept of "living community" has spread quickly. Worldwide, there are now hundreds of cohousing communities, expanding from Denmark in the U.S., Canada, Australia, Sweden, New Zealand, The Netherlands, Germany, France, Belgium, Austria, among other countries. Cohousing residents broadly aspire to "improve the world, one neighbourhood at a time" and the goal is "lo explore and model innovative approaches to ecological and social sustainability". In Europe, countries can be divided into two groups: the Scandinavian countries, including Denmark, Sweden, and also Holland, which pioneered cohousing more than 30 years ago; and the Mediterranean countries, including Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n.O 9/2009
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France, Spain and Italy, which are only now beginning to realise the advantages of cohousing. One interesting observation that can be extrapolated from the European experience is that across the different countries' approaches to cohousing, cohousing for the elderly is booming across Europe. This is a positive sign, as the biggest challenge for cohousers in the years to come will be to ensure that elder are integrated into the larger society as fully as possible. As the European experiences show, the highly nature of cohousing can offer a more sustainable alternative to society (MATIHIEU, 2007).
4.2. Senior Cohousing Traditional forms of housing no longer address the needs of many older people. Dramatic demographic, economic, and technological changes in our society have created a population that lives longe1~ ages healthier and is looking for alternatives to their current housing situation as they age (OuRRETI, 2006). Senior cohousing takes the original concept and modifies it according to the specific needs of senior, as usually limited to those 55 years of age or over. The result is a welcoming little village that invites involvement, cooperation and friendship - a recreation of earlier times when community participation was viewed as an essential part of social, mental and physical health (DE LA GRANGE, 2006). Cohousing offers the social and practical advantages of closely knit neighboUt·hood consistent with the realities offered by the twenty-first century life, as assistive technology and the ICT. In senior cohousing residents can choose to grow older meaningfully, consciously and independently in a self-manage, close-knit community; it is similar to the mixed-generation cohousing model, with the following modifications: • Careful agreements among residents about co-care and its limits; • Use of inclusive design appropriate for seniors: each living space should support the transition from a house with an active lifestyle to one that supports progressing needs accessibility; • Size limitations- a maximum of 30 living units, usually 15-25; • Common areas, indoors and out, are designed to provide easy access and recreation for all levels of physical and sensorial ability; • Studio residences can be included in community's common house to provide living quarters to home health aides whose services may be shared by several residents, allowing to remain at home for all but major medical emergencies; • Senior-specific method for creating the community.
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Senior cohousing technology can be a precious help lo the safe, comfortable and healthy use of the built environment. From the simple sensor to wate1~ gas or electrical control, to assistive equipment to improve posture, mobility, strength, or more sophisticated features, the existence as the performance of technology can be vital to reach the objectives of the community in general and the individual in paliicular (SCOTTl-lANSON, C. & SCOTTHANSON, K. 2005). Contemporaneous seniors are familiar with the use of mobile-phones, and sometimes computers, and the Intemet. Each of these items can be a tool to improve commtmication between relatives, neighbours, professionals from different areas, individuals with common interests, special requirements, etc.; if is not the case, professional staff from the common house as any neighbour can help in this communication management. Physical, sensorial as mental conditions can be resultants from chronological or biological features, emerging the need to have a medical centre or privileged access to the most near one. The ICT can be the tool to step up the contact, to permit virtual assistance through simple equipment, such as mobile-phone (by ora l description), computer, internet and webcam to video equipment to support more complex requirements. Cohousers tend to be people who are seeking to improve their quality of life, people who are interested in a large community around them and who like to think globally and act locally. To the best of their ability, they take responsibility for themselves, for the world they experience, and for their children will inherit. Cohousing offers the environmental solu tions and sense of community that our society needs for such a long time.
5. Case studies The inclusion of two case studies aims to illustrate the implementation of the concept within different geographical regions, with different types of individuals but the same desire to provide comfort, interaction between individuals as generations in a sustainable way to promote a more participative life for people in general and seniors in particular. The two cases selected aims to determine some visible indices which can and should be consider within lhe planning of built human environment.
5.1. La Querencia, Califomia The first case to study is located in Fresno, California, United States, within an area of 1.1 hectare nearby an elementary school and retail areas. Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, 11.0 9/2009
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La Querencia is a project of cohousing headed for an intergenerational community characterized by twenty eight homes and common facilities like chi ldren's playground areas, pool, spa and exercise facilities, and also a common house to commune activities, such as dinner and living areas. The built complex is targeted to active adults who wish to live in community in accordance wi th the rules determined for this venture. The resident population is characterized by different backgrow1ds: single, married, with and without children, working and retired individuals and families. This complex has no Ieade1~ as cohousing principles suggest, and all decisions are taken under group discussion. It is a multi-generational friendly environment within easy walking distance between various facilities. The main goal is the balance between this new life style and energetic efficient design within a natw路al environment. There are no prototypes towards religious and political beliefs only the aspiration of living withiJ"l. an interactive and sustainable neighbow路hood. The values proclaimed by the group concern the share and care concepts, personal growth, privacy an.d commLmication, teamwork and fun, and sense of family. La Querencia does not differ from a condominium as so many others under the target of a population with income. Legally it will have the same requirements and demands like monthly fees; but cohousing commLmities in general and La Querencia in particular are targeted to the sense of community. This sense is illustrated by the location of the built complex, geographical orientation of each building, facilities offered, urban design, a common house a nd the communicati on between the different home units, backyards and walkways. Usually, the common house is the core of these community condominiums; this condition is made possible by the activities, functional areas and support offered. This is the case of la Querencia. The common house is featured by a kitchen, a great room and a sitting room, children area, laundry facilities, guest apartment and terrace. The freedom to use if wished the services provided by the common house allows people to have different daily schedules, interact with inhabitants or visitants of the complex, according to their aims and needs. There are four different typologies of private houses, ranging from two to five bedrooms; despite the disparity of rooms number as available area, all units include: kitchen, living room, laundry, covered entrance, and yaxd (with the exception of upstairs flats). The houses intend to materialize the sustainability of the complex, using natural and qualified materials to ensure a more comfortable thermal and acoustic environment, low maintenance as energy efficiency and management. Although sustainability is a very interesting issue on its own, in fact helps also within the quality of life of individuals with some requirements as senior ones. The use of equipment for energy efficiency and maintenance improves the functionalities of the community, and reduces the
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dependence on electricity and gas equipment, as private gardens. Walking distances develop the outdoor living and neighbourhood interactions. The houses have different typologies, usually split in two levels though the first level guaranties all the facilities needed in case of mobile condition. The purpose to have a familiar and human environment, allows temporary residence of visitors, in private units and, if required, within common house. Understanding the importance of domestic animals for some individuals and families, La Querencia allows the existence of domestic pets within private dwellings although is from their owners the responsibility to take care, and to manage their daily life. The cohousing inhabitant arrives from different or similar backgrounds according to the objectives of the particular complex. In the case of La Querencia, inhabitants come from different professional, economic and cultuxal backgrounds. Most are active adults who feel affection for living in community. AJthough this reality, every inhabitant has his or her own dwelling, the exclusive use of its backyard, allowing privacy if desired. Nevertheless, common areas as facilities available increase the contact between individuals; nevertheless this does not requires or compel the communication and resembling to everyone. Ethical and respectful rules must be defined and obliged. The individual is free to choose who wants to private with as it is morally obliged to behave with respect for the whole community. This is very important for the accomplishment of common activities, such as exercise room, cleaning and cocking within main house, garden and pool maintenance, etc.
5.2.
Sao Jose de Alcala"' Algarve
The second case study is located within Freguesia Meixolheira Grande, Portimao, Portugal, a parish with 88 square kilometres and 3 598 inhabitants (COSTA, 2001). The building complex w ithin an axea around 20.000 m2, was constructed aiming to answer to a very aged population cluster in interior desertification. This model was designed for the gentrification of the inland rural areas where there is a large number of ageing population and few work opportunities for the youth. Aldeia Lar Sao Jose de Alcalar was created for a very poor and ageing population, the big majority is aged over 75 years, couples, singles or widow I I e1~ without any possibility to live all alone at home. To deal with this sense of incapacity and loneliness, several individuals tried to commit suicide, and that was a main issue to deal with and a crucial one to sustain and promote this project (COSTA, 2000).
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Fig. IV. Communitarian house, youth and children facilities, dwelling en vironment. (GOMES & DARE, 2008)
The Project of Aldeia lar Sao Jose de Alcalar was created for the elderly people living in Meixolheira Grande commtmity. The physical layout and geographic orientation encourage a strong sense of neighbourhood. The 52 private residences are clustered on the s ite, allowing different open spaces used as small gardens supporting different activities to interaction re lationship. Residences were planned in two rounds blocks opened to a garden and pedestrian ways. The layout invites an involvement, cooperation and friendship. Fig. V. Facilities location: A - Common house; B and C- 52 private residences; D- amphitheatre and coffee shop; E - School (COSTA, 2000)
The big "S" (solidarity) shaped building at the starting point of the complex is the common house. This place is where elderly people share amenities. There are a kitchen and a dining room, guest's room, arts and crafts area, laundry, beauty, chapel, home office support and medical care. In the outside, there are amphitheatre and a coffee shop. A visit to the site made us realise that individuals interact and are deeply involved with these areas. 84
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Fig. VI. Chapel, living room and lib rary. A special attention to the obsolete computer. (GOMES & D ARE, 2008)
The medical care support is like a resting room, where a nurse takes care of the residents' medication. A doctor visits the site on a weekly basis, assisting individuals and redirecting to different types of assistance in case of need. Medical technology is not available but a freeze1~ to store some prescriptions and the equipment to measure blood pressure is present. Computers are used to perform administrative tasks and internet is a dream for the youth space. Although the example, reveals that a significant inadequacy of prompt support to this fragile population is similar to the experience lived by the majority of interior areas, and results from different policies adopted along the decades by every local and national government. Fig. VII. Medical care: the only technology available is the telephone. (GOMES & D ARE, 2008)
Most individual who dwell the complex, were farmers, increasing the importance of horticulture, which can be seen on different pru:ts of the site and this activity is promoted between individuals as the vegetables consumed by residents are cropped there.
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Fig.. VIII. Horticulture and Ute hang out are important spaces to interact as the pavement at the front door. (GOMES & D ARE, 2008)
Residences present a typology taking inclusive design principles into account that respond to the elderly's needs. Dwellings are composed of a living room, kitchen, bathroom and one or two rooms depending on the residents. The house itself has the flexibility enough to transit from the active lifestyle feature to an accessible one. For that, the dimensions of corridors and bathrooms are important to support all the details needed for a more inclusive environment. In the first block, there are 26 wuts with one bedroom for the couples, and in the second block, there are 26 w1its with 3 bedrooms for groups of male and female setuors. Each house is self-sufficient with complete kitchen, but residents can chose the common house as the place to take the meals, not needing to cook and, tl1us, increasing the interaction between them. The complex also presents a building used as a kindergarten and a space to receive lhe youngsters after school; both spaces aim to help families with children during the working hours. Both worlds, young and senior, live within the same space and interact along different indoor and outdoor activities. Fig. IX. D welling environme11t, an inclusive approach. (GOMES & DARE, 2008)
Aldeia lar Sao Jose de Alcalar neighbourhoods propose environmentally sensitive design with a pedestrian orientation and cars should be parked in the outskirts.
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Traditional forms of senior cohousing do not present any leader; due to the characteristics of Aldeia Lar, there is a leader, Father Domingos Costa, who aims to manage the complex, giving answer to its financial social, and cultural as spiritual needs. Financially, the institution depends on the contribution of residents, through their pension and with the contribution of the parish. In Portugal, most senior individuals survive with a pension. It is the major earning for these people and it is often lower than the domestic minimum salary. This social benefit is a heritage from the presidential regime before the 25 April of 1974, which qualify individuals to a pension whenever they did not receive any contribution to a pension fund or when the tim.e of contribution was not sufficient to guaranty the pension. Aldeia lar Sao Jose de Alcalar started to work in 1995 and nowadays it shelters 105 senior individuals; the suicide rate has dropped to zero. 1
6. Future Trends
The ageing of population and poor job opportunities in the inland of Portugal are vital reasons for the desertification process. Elderly people need to stay at their home for much longer without losin.g mobility for social relationships. Nowadays, the traditional houses do not contribute for the inclusion of senior cluster. Elderly in particular and individuals in general requi.Jes a flexible and human built environment to support the individual and family life cycle. The scientific and technical evolution in the world opens a large range of solutions challenging traditional society patterns towards a more inclusive and sustainable one. Cohousing concept is a case of success in. different continents and is spreading across Europe. The innovation proposed by this paper is to link cohousing concept, with the evolution and deployment of the ICT (with special i11cidence within Telemedicine). The benefits from this match will influence the quality of seniors' life and youngsters' settlement of population in the interior areas. The idea is the revitalization of urban areas as dwellings, promoting a more inclusive and sustainable built environment as a balance between metropolitan and rural areas. Since the begim<ing of the draft of this paper, media have reported news about the proliferation of Internet hotspots in different municipalities in this country (LOUREIRO, 2008) and its success attracting visitors. Technological changes are challenging the way people inhabit and use cities and villages. The hwnanization of built environment is an objective to reach where the support to the individual is crucial to its economic, social and cultural survival. Cohousing and practical experiences, such as Sao Jose de Alcalar, can be important for the increase of demographic features of interior areas, its economic surLusiada. Economia & Empresa, Lisboa, n.0 9/2009
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viva! and the quality of life of senior citizens. The health care requirements can be accessible through telemedicine enabling a cost-effective solution. Sao Jose de Alcalar employs 60 workers to support 105 seniors and manage the kindergarten. This means that 60 families have found work in a rural area; together with the fact that the parish has managed to settle more than 200 inhabitants, including senior citizens. This is not a figure to underestimate. The underlying concept of this project is admirable and its success remarkable. The ICf can be a precious help to communicate with the health cluster, cutling commuting costs and thus freeing resources for investment if it is intended to go even further.
7. Conclusions
Population settlement nearby communication ways and big cities is an old issue with no solution while political, social and cuJtural policies do not create opportunities to link individuals to regions with different features. Desertification of the interior areas is not just a question of imbalanced employment and academic development opportunities; it deals with the lack and often with the non-existence of social facilities to promote the quality and dignity proper to individuals regardless of their sex, age, race or special needs. Present-day society presents a new paradigm, with an aged but healthy and active population, who aim and need m.ore inclusive environments. The p lanning of the cities in general and the planning of habitats in particular demonstrates the lack of hun1an concerns within theix conceptual process. Economic profits, doubtful management and political decisions reveal their influence on the built envil'Onment. Technological equipment and performance increase, although too many individuals and institutions show a poor and inappropriate use of them. This reality emerges a suspicion about the ICT as all professional activities require these tools to develop tasks. The quality and dignity of the various levels of human life cycle are crucial values towards the respect for human life and human being. Economic, technical and human resources arc insufficient in number, qualifications and concentrated within metropolitan areas. Portugal known before condominiums constructed under different objectives, special attention to "vilas operarias", which were habitats built near industries where it was possible to identify dwellings, social facilities, such as cafeterias and theatres, to establish relations among neighbourhoods. In view of this, it is possible to state that the model of cohousing is not original but the conceptual idea is so. The senior cluster of Porluguese population is very well related with rural and interior areas, by origin or by the need to escape from the hectic life of the
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city. The need for special care and medical assistance works as an anchor to city environment. Even though public assistance in city centre is not perfect, it shows more alternatives when it is compared with interior realities. Tele concept in general and telemedicine in particular could be an answer towards these interior rural areas. Telemedicine applications could be qualified alternatives to the actual system, allowing less waiting time, access to specialised professionals, selection of priorities to specialised diagnosis, assistive care and living. To implement both models, cohousing and telemedicine, is vital to inform and educate professionals and users on their direction. Living in the community is an interesting experience but rules must be defined, obliged and individuals should be penalised in case of disrespect. Special attention is needed to the application of the ICT in sensitive issues as medical assistance, towards the dissipation of a general opinion of suspicious and inefficiency. A detailed observation to international experiences can be useful to analyse success as drawbacks factors. A detailed study of national behaviours and reality will establish the differences between national and international realities towards the successful achievement of any pilot study. From the different experiences analysed during this research, it is possible to state that new models of settlement are needed and realistic. The aid provided by the ICT can be decisive to its success, specifically if implanted within interior areas towards the settlement of a heterogeneous population.
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Key terms and their defi nitions Assisted Living- Intend to balance dwelling facilities and residents requirements. Aims to provide assistance and supervision, ranging from simple daily life activities to other more demanding situationSi promotes the health, safe and well being of individual towards his or her independence and dignity. Built Environment -All the man-made surroundings that support and increase human activities, ranging from. large scale (as a metropolitan area or a village) to personal (balance between human and built environment life cycles). Cohousing - Living in community. Composed by commun.itarian house with different facilities, including kitchen, living room, rooms and medical care, and private homeSi the conununity is very influenced by residents' opinions and decisions, and is managed and owned by residents who aim to Jive in a neighbourhood that privileges individuals interaction. Domotics- Information Technology at home: promotes security control (including features as light and gas control, protection) but also the network devices which can contribute to challenges to remote opportunities towards individual comfort, social interaction and assisted living. Elderly - Characteristic of the individual who has 65 and over. Nowadays, although age implications as retirement, elderly is a significant group of individuals, by number, but also by their affordability, social activities (as senior universities, or by opposition to complete loneliness) and aim to live as independent as they can. ICT - Information Communication Technology is the study, conceptualization, implementation and management of information using cornputers an.d communication systems, such as the Internet. Inclusive Design - Design of products, environments and communication systems to be used by the majority of individuals without adaptation and special design towards the social integration of all individuals in general and the ones with particular needs. Independent Living - Arrangement that maximizes independence and self-determination, especially of disabled or elderly persons living in a community instead of in a medical facility. Real Estate- In the built environment is the land and all the fixed, immovable or pennanently attached to it, such as buildings, boundaries fixtures, structures, improvements, etc. This subject usually includes also the air <md mineral rights, and suTface rights which can be leased, sold, transferred together or separately. More than that is one of the best and favoured investments. TeJemedicine - Telemedicine is the ability to provide interactive healthcare, making use of modern teclu1ology and telecommunications.
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UM NOVO PARADIGMA NA TEORIA ECONOMICA: A NECESSIDADE DE REPENSAR A ESCASSEZ DE RECURSOS
Antonio Eduardo Martins Professor convidado da Universidade Aberta
Felipa Lopes dos Reis Professora Auxiliar da Universidade Aberta
Lu~fada.
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Resumo: A constante evolw;ao da sociedade exige um esfon;o contfnuo para desenvolver novos paradigmas. A gestao do capital intelectual das organizat;oes e de importancia crucial. Apresentando uma actualiza<;ao do estado da arte, o presente documento descreve a metodologia geral que o investigador utilizou para sintetizar um. modelo de capital intelectual. 0 estudo empfrico desenvolvido mostra a relevancia de um novo paradigma explica tive da ciencia econ6mica. As conclusoes permitem avaliar a relevfmcia do esludo do capital in telectual para a gestao das organizat;oes numa sociedade do conhecimento. Palavl'as-chave: Ciencias Econ6micas, Capital Intelectual, Economia do Conhecimento, Gestao do Conhecimento.
Abstt路act: The constant evolution of society requires a continuous effort to develop new paradigms. The management of intellectual capital of organizations is of crucial importance. Presenting an update of the state of the art the present paper describes the general methodology that the researcher used to synthesize an intellectual capital model. The empiric study developed shows the relevan ce of a n ew explicative paradigm in economic science. The conclusions allow to evaluate the relevance of the study of intellectual capital for the management of organi zations in the knowledge society. Key-words: Economic science, Intellectual Capital, Knowledge Economics, Knowledge Management
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Ant6nio Eduardo Martins e Felipa Lopes dos Reis
Compreender como o conhecimento e d esenvolv ido numa organiza~ao e previa para gerir o conhecimento e o capital intelectual (EUROPEAN MANAGEMENT JOURNAL, 1996, MARTINS e REIS, 2008). SIIARMER (2001) i.ntroduziu o conceito de conhecimento "auto-transcendente", afi rmando que e "o conhecimento implicito antes da sua incorpora~ao", isto e, a capacidade de detectar a presen~a de potencial_ de ver o que ainda nao existe. Isto esta, geralmente, associado aos artistas. Shru:mer cita Miguel Angelo, que, ao falar da escultw-a de David, tera afirmado: "David ja estava na pedJ.路a. Eu s6 retirei tudo o que nao fazia parte de David". A capacidade para ver David onde OS outros a penas viam pedra e 0 que distingue OS verdadeiros g randes artistas. Com efeito, a crescente diferenc;a entre a capitalizac;ao bolsista das empresas (o seu valor de mercado) c o valor expresso nas suas pec;as contabilisticas revela o capital intelectual que lhc csta adstrito. Para alguns, isto e a ev id ~nci a do aparecimento da sociedade de informac;ao onde os recursos imateriais, mais do que os materiais, sao fontes da cria~ao de valor (DRUCKER, 1993; RETCH, 1991). As inclicac;oes do capital intelectual aqui patentes evidenciam a mru1ifesta~ao do capital intelectual das empresas, demonstrando a sua existencia (EDVINSSON e MALONE, 1997; LEV e ZAROWJN, 1998; STEWART, 1997; SVEIBY, 1998). Contudo, a diferen<;a nunca c explicada, mas e usada para desenvolver diversas rubricas ou mesmo relat6rios aut6nomos pru路a alem d o relat6rio e contas financeiro. BRENNAN e CONNELL (2000) desenvolveram uma interessante estrutura para comparar diversos esquemas da classifica<;ao principal, conforme se resume na tabela 1. condi~ao
Tabela 1. Desenvolvido por Sveiby (1998; 1997)
Kaplan e Norton (1992)
Estrutura Monitor de recursos intangfveis
Estrutura Interna Estrutu ra Extern a Compet~ncia Pessoal
Bala11Ced Scorecard (ava lia~ao ponderada}
Perspcctiva Interna Proccssual Perspectiva de Cliente Perspectiva de A prendizagem e Crescimento Pcrspectiva Financeira
Classifica~ao
Ed vi nsson e Malone (1997)
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Classifica-;ao
das fontes Esquema de valores Skandia
Compet~ncia Relacional Capital Humano Capital Estrutu ral
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Um novo paradigma na teoria econ6mica: a necessidade de repensar a escassez de recursos, p. 93-109
Afinal, muitas das estruturas possuem as m.estnas tres abrangentes categorias de classificac;:ao - capital humano, capital de cliente e capital intelectual. Contudo, a classificac;ao deste esquema esta, distintamente, presente em cada um dos modelos identificados.
0 papel da gestifo na gestifo do conhecimento A gestao esta associada com algo que "possui con.otac;:oes de sistematizac;ao, fornecimento de estruturas, e contribui para o sen tido total de coe..rencia para uma organizac;:ao" (ADDLESON, "Organizing to Know", 200, 138). Outros atributos da gestao incluem coordenac;:ao, controlo, integrac;:ao, e o recm-so de pessoas, processes, e estrategias para atingir um objective. Na gestao do cmmecimento, o principal objectivo e gerir o conhecimento tacito e explfcito derttro de uma organizac;:ao. Para gerir o conl.1.ecimento explicito, as organizac;oes devem: - Gera1~ criar ou adquirir conhecimento; - Codificar e organizar conhecimento para facilitar o seu acesso; - Tornar o conhecimento disponfvel para outros atraves da comunicac;ao ou publicac;oes; - Facilitar o acesso e recuperac;:ao do conhecimento; - Usar e aplicar conhecimento para resolver problemas, suportar decisoes, melhorar desempenhos, conduzir e analisar situac;:oes e processes de forma a suportar actividades de neg6cios. Assim, fica evidente o importante papel das tecnologias de infonnac;:ao na Gestao do Conl<ecimento. Com efeito, as tecnologias de informac;ao podem funcionar como um poderoso impulsionadot~ e fornecer ferramentas efectivas e eficientes para todas as facetas da gestao do conhecimento, incluindo aquisic;ao, partilha e aplicac;:ao de conhecimento. A habilid ade das aplicac;oes das tecnologias de informac;:ao para pesquisat~ ordena4 indexat~ arquivar, seleccionar e transmitir informac;:ao pode facilitar e melhorar a ordenac;ao, organizac;:ao, classificac;ao e disseminac;:ao de infonnac;ao. Tais tecnologias como os sistemas de gestao de relac;ao de b ases de dados, sistemas de gestao docu mental, In ternet1 intra-redes, motores de busca, ferramentas de trabalho, sistem as de suporte de performance, sistemas de suporte de decisoes (DSSs), valorizac;:ao e armazenamento de dados, e-mail, video-conferencia, as notfcias e as discussoes de grupo, podem desempenhar o papel de pivot para facilitar a gestao do conhecimento. Contudo, as tecnologias de informac;ao em si nao conslituem o "corac;ao" da gestao de conhecimento e um projecto nao e a gestao de conhecimento simp lesmente porque utiliza ou incorpora as aplica<;6es da tecnologia de informac;ao. Lusiada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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Estas apenas desempenham urn papel de suporte na gestao de conhecimento; este sozinho nao promove conhecimento. Enquanto as tecnologias de informa<;ao ajudam os indivfduos a localizar informa<;ao, as pessoas tem de determinar onde e que a informa<;ao e apropriada e relevante de acordo com as suas necessidades particulares, tendo de analisar, interpretar, compreender e localizar a informa<;ao no seu contexto para o converter em conhecimento. Neste ambito, a identifica<;ao de alguns dos principais vectores de pesquisa a segui1~ tern assumido particular importancia, nomeadarnente, a identifica<;ao de indicadores ao nfvel da qualifica<;ao do factor htu11ano e da m.udan<;a organizacionaJ, com vista a potenciru路 os investimentos em tecnologias de informa<;ao e comw1ica<;ao. Segue-se, neste campo, a recomenda<;ao de QUINN (1991), quando reconhece a necessidade de estudar a realidade organizacional, a partir de uma diversidade de dimens6es, organizadas de forma paradoxa!, sustenta11.do, d e resto, que a pr6pria gestao empresarial revela uma dicotomia polarizada que e de dificil descri<;ao, quer da parte dos te6ricos quer dos praticos. 0 processo de cria<;ao do conhecimento (NONAKA e TAKEUCHI, 1997) constitui-se como pe<;a essencial no modelo d e inova<;ao o que, na era do conhecimento, representa, cada vez com maior relevo, urn claro factor competitivo. Por outro lado, pode-se afirmar que a competitividade de uma economia e fun<;ao da intensidade do conhecimento existente nessa sociedade o qual, por seu turno, esta dependente da competitividade do sistema de ensino, ciencia e tecnologia e sistema produtivo, tambem designado por sistema nacional de inova<;ao (GOUVEIA e TEIXEIRA, 2005). A inova<;ao enquanto cerne do pr6prio processo d e cria<;ao do conhecimento, dos seus factores essenciais, modelos e quantifica<;ao, e urn dos baluartes da sociedade actual, em que a efem.eridade dos modelos empresariais, das rela<;oes laborais, dos modelos sociais e do pr6prio Estado-Na<;ao parece estar a revelar-se definitivamente. 0 estudo subjacente a este paper e constituido basicamente por varios instrumentos d e recolha de informa<;ao. Em primeiro lugar, realizaram-se questiom\rios aos diversos agentes organizacionais no ambito do programa Rede do IEFP (que e um programa de Consultoria, Forma<;ao e Apoio a Gestao d e MPE's que tem como objectivo incentivar a forma<;ao eo desenvolvimento dos recursos huma110s nas MPE's no ambito do seu "Programa de Forma~ao para as Pequenas e Medias Empresas"). Assim, 0 programa REDE e exclusivamente orientado para OS gestores e trabalhadores das MPE's (com menos de 50 trabalhadores), independentemente do sector de actividade em que se enquadram ou da sua fase de desenvolvimento em que se encontram.
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Um novo p <1radjgma na teoria econ6 mica: a necessidade de repensa r a escassez de recursos, p. 93-109
0 recurso a estes dados teve como objective a cria<;ao de uma plataforma de trabalho e a identifica<;ao dos principais vectores determinantes do desempenl<o para as micro e pequenas empresas, o que perrnitiu consolidar uma verdadeira Iir\ha de investiga<;ao. Este questionario foi analisado atraves do software SPSS, e realizado em anos subsequentes (2002, 2003, 2004, 2005 e 2007). Em 2006 nao se produziu qualquer avalia<;ao da aplica<;ao e evolu<;ao do Programa REDE por motivos estruturais alheios a nossa investiga<;ao. A partir destes trabalhos, elaborou-se o guiao para a constru<;ao do questionario final que constitui a base do estudo quantitativa que foi submetido a um pre-teste, de cuja analise ressaltaram aspectos a considerar na valida<;ao do instrumento de recolha de dados.
2. Problema de investiga\ao A evolw;ao do paradoxa de Solow e crucial para a detennina<;ao do contexto desta investiga<;ao, ou seja, a dificuldade de encontrar uma rela<;ao entre o investimento em tecnologias de informa<;ao e comunica<;ao e a melhoria da produtividade do factor trabalho, ao inves do sucedido na era industrial, onde investimento era quase sempre sin6nimo de aumento produtivo. A esta luz, podem-se sistematizar tres solu<;oes fundamentais para responder a estes desafios da economia do conhecimento: a necessidade do aumento exponencial do investimento em TIC, a subsequente necessaria forma<;ao dos indivfduos e as mudan<;as organizacionais resultantes das antecedentes. A literatura permite-nos formular a pesquisa atraves dos parametros seguintes: como e que as pequenas empresas estao a ger:ir o seu Capital Intelectual, dado o investimento que foram for<;adas a fazer em TIC e dado que, sendo pequenas e flexfveis, nao tem, aparentemente, necessidade de alterar a sua estrutura organizacional. Assim, pretendeu-se estudar a rela<;ao existente entre as dimensoes do Capital Intelectual e as variaveis organizacionais (forma<;ao e mudan<;a) das empresas do tecido econ6mico avaliado.
Paradigma de investigafiiO Desta forma, pretendia-se concluir sobre a incidencia de uma metodologi.a de reten<;ao de Capital Intelectual, junto das micro e pequenas empresas, tendo para o efeito recorrido aos dados primaries do programa Rede do Institute de Em.prego e Forma<;ao Profissional que tern exactamente por objecto essa realidade. Lusfada. Economia & Em pre sa, Lis boa, n. 0 9 I 2009
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Na verdade, pode-se estax na presen<;a de crescirnento por duas vias. Por urn lado identifica-se o crescirnento por via da utiliza<;ao e rectu路so ao programa Rede e, por ouh路o, o crescimento por via organica. Ao nivel empfrico, dispoe-se, actualmente, de uma plataforma consideravel de questiom1rios, distribufdos pela respectiva estratifica<;ao e temporalmente abrangendo os anos de 2002, 2003, 2004, 2005 e 2007. Nestes termos, foram produzidos trabalhos capazes de extrair conclusoes sobre as vari<iveis inova<;ao, forma<;ao profissional continua, processes (pois sao processes fiaveis que incentivam a coope.ra<;ao) e qualidade medida pelo cliente (que e urn garante de fidelidade), numa esquematizac;ao como a que segue: Fonnac;ao <::::> equipa
Inovac;ao <::::> capital individual
Processes <::::> pessoal qualificado
Qualidade <=> defeitos
A p.roblem<:ltica da produtividade desde ha muito que e, persistentemente perseguida por academicos e pnHicos, coexistindo, paci6camente, a doutrina que a subjuga a determinante txabalho e a deterrninante capitat com a inc6gnita premente da indomavel previsibilidade que lhe assiste1 sendo txabalho e capital factores corn variac:;oes conhecidas. A teoria do Capital Intelectual permite responder de forma cabal a esta questao, uma vez que no campo dos actives intangfveis podera estar a derradeira resposta ao problema, h.a muito no cexne da analise organizacional. Podemos mesmo estar na presen<;a de uma nova equa<;ao da produtividade, formulada do seguinte modo: Produtividade
H
f (Capital; Trabalho; Capital Jntelectual)
Assim, desenvolveu-se diverse trabalho de campo para a valida<;ao dos pressupostos base su.bjacentes a tematica, a Quantificac;ao do Capital Intelectual nas Organizac:;oes. Clarificando, os nossos objectives de investiga<;ao sao os segu.intes: a) Pretendeu-se identificar os principais determinantes que influenciam a gestae do conl'lecimento, tendo por base, inicialmente, o referencial teorico existente; b) De segu.ida, ah路aves da analise de urn primeiro questionario, as PME'S portuguesas, procu.rou-se isolar os vectores de criac:;ao e retenc:;ao do conhecimento desse universe empresarial; 100
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Um novo paradigma na teoria econ6mic<:~: a necessidade de repensar a escassez de rccursos, p. 93-109
Deste n<odo pretende-se testar e validar as seguintes proposit;oes de partida: Hl) Espera-se que o factor equipa, relevancia dada ao cliente, processes de neg6cio e importancia atribufda ao capital individual, assuma uma importancia nao equitativa na amostra em analise; H2) Espera-se que a impo.rtancia atribufda ao capital individual assuma uma importancia mais significativa quando se trate de individuos com maior grau de qualificat;ao nos domfnios do neg6cio e das TIC, encontrando-se uma distribuic;:ao mais equilibrada.
Na verdade, tal como nos apresenta MARTINS (2000), sinteticamente, podemos afirmar que as n.ossas hip6teses de partida assumem que os principais determinantes do capital intelectual estao relacionados com uma combinat;ao de factores: o individuo, a equipa, o cliente e o processo. 0 metodo de investigac;:ao a que recon:emos consubstancia--se em tres partes, proporcionando desta forma uma evolw;ao sequencia] da linha orientadora da investigat;ao. Numa primeira etapa realizou-se, como ja se referiu, uma analise documental sobre a problematica ensaiada com o nftido prop6sito de consolidar a base te6rica de pesquisa e permitir a aproximat;ao a diversas quest5es e hip6teses de investigat;ao, atendendo nomeadamente a diversa investigac;:ao que vem sendo produzida sobre a tematica. De seguida, atraves do recUl路so a metodologia de estudo de caso, realizou-se o estudo qualitative, que permitiu identificar urn conjunto de variaveis pertinentes, que ainda nao forarn devidamente realc;:adas. Posteriormente, atraves da realizat;ao de entrevistas a especialistas desta area de investigac;:ao prclticos e ou te6ricos, procedemos a valida~ao primaria. 0 estudo quantitative constitui a terceira e ultima parte desta investigat;ao, realizando-se atraves de guestionarios uma avaliat;ao das hip6teses apresentadas e permitindo a construt;ao de um modelo de aferit;ao da retent;ao do Capital Intelectual nas organizac;:oes. Recorre-se ao metodo de estudo de caso porque pennite uma investigat;ao para se preservar as caracterfsticas holisticas e significativas dos acontecimentos da vida real, tal como a maturidade dos sectores econ6micos (RYAN et al., 1.992; YIN, 2005). A metodologia generica proposta e suficientem.ente eficiente e flexfvel para lidar com as diferentes realidades sociais, variaveis de decisao e restrit;oes normalm.ente encontradas na area das ciencias empresariais.
3.
Mudan~a
de paradigma: o repensar da escassez de recursos
Antes de 1980, as principais teorias de gestao focalizavam-se nas estruturas industriais como base para compreender as vantagens competitivas. De Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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acordo com as economias neoclassicas e pressuposto que os recursos podem ser homogeneamente distribufdos denlro das industrias e, em compensa~ao, facilmente acessfveis por organiza~oes competitivas. Contudo, o cerne da gcstao destina-se a descobrir formas inteligentes de cornbinar produtos e mercados, p romovendo o equilibria do poder com os fornecedores, clientes e avalia~ao do potencial substituto de tecnologias e/ ou produtos e/ ou servi~os . A n1ensagem principal da linha de pensamento de urn economista, numa visao de estrutura "industrial e organizacional" (Roos e Roos, 1997) assenta na venerac;ao do meio envolvente mais do que o interior da organizac;ao. Alias, os estudos (e modelos) propostos por PORTER, tao em voga nas escolas de gestao e mesmo os modelos de competitividade eslratcgica de ANSOFF, radicam a sua principal val~ncia na posi~ao estrategica da organizac;ao face ao meio envolvente. Na verdade, as teo.rias que assentam a sua base na escassez de recursos, deixam de possuir poder explicalivo global, entrando em crise. Com efeito, os activos de recursos humanos nao sao eslritamertte o mesmo que activos de conhecimento, nem sao urn subconjunto. Os activos de recursos humanos medem a entrega de activos de conhecimento dinamico (sujeito ao aumento ou atrofio) atraves de urn individuo. Assim, os activos de recu1路sos humanos t~m a potencialidade de promover um aumento, mas sao limitados no seu espac;o de desenvolvimento. Por outro !ado, um activo de conhedmento pode residir num indivfduo, grupo, organizac;ao, livro ou maquina. Os activos de conh.ecimento sao mais imu taveis, e podem ser desdobrados numa variedade de mecanismos de entrega. Se os activos de conhecimento forem capturados num sistema especializado, podem ser, par exemplo, aplicados para melhorar a performance de outro que faz a mesma tarefa em toda a organiza~ao. Os activos de recursos humanos sao avaliados, em parte, em perspectivas bascadas no potencial dos colaboradores para promover futuras descobertas e invenc;oes ou sugerir inovac;oes/meJhorias. Assim, e comum ver os activos de recursos humanos (medidos pclo salario) firmemenle aprcciados no infcio de uma carreira. Em contraste, os aclivos de conhecimento (pelo menos os captmados porum sistema especializado) sao avaliados com base no conhecimento carrente que eles possuem e no seu espac;o de difusao. A menos que exista algum mecanismo para reformular e modifica1~ os activos de conhecimento sao, frequentemente (mas nem sempre), firmemente depreciados pelo passar do tempo. As questOes de posse sao tambem diferentemente avaliadas. Nos Estados Unidos da America do Norte, a maioria dos estados quer revogar os acordos de emprego que comprometem a habilidade de urn empregado usar as suas capacidades para veneer na vida. Os activos de conhecimento nao podem pertencer tolalmente nem a uma organizac;ao, nem ao colaborador. Os acti vos de conhecimento individual residem no colaborador. Os activos de conhecimento que exis-
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tem no nivel organizacional, nos livros/ manuais, ou sistemas especfficos sao daramente da propriedade da empresa. A velocidade com que os activos de conhecimento podem ser aplicados varia substancialmente. Quando desdobrado atraves de um sistema humano de entrega, a velocidade de raciocfnio e controlada pela taxa de processes de pensamento humano. Quando capturados num sistema especifico, a velocidade de raciocfnio e limitada pela eficiencia da inferencia da base motor I conhecim.ento e a velocidade do hardware do computador. Quando capturados em livros ou manua:is, a velocidade de desdobramento e limitado pelo tempo gasto a localizai~ interpretar e reflectir sobre a in.forma<;ao. Estas diferen<;as esta.o sumariadas na tabela 2 abaixo indicada. Tabela 2.
Compa ra~ao
entre Activos de Conhecimento e Activos de Recursos Humanos
Activos de Conhecimento
Activos de Recurso Humano
Vida econ6mica detenninada pela taxa de mudan~as ocorridas na area
Vida econ6mica determinada pela sua pennan~ncia na empresa
A empresa ou o colaborador pod.em ser os possuidores
Os colaboradores sao os possuidores
Pode residir na empresa e ser utilizado por individuos, livros, maquinas, etc.
Reside apenas no uso de um unico individuo
Capacidade limitada por auto-melhoria, manuten~ao requerida
Aprendizagem activa possfvel
Valor determi.nado pelo espa..o de difusao e conhecimento base estatico
0 valor inclui componentes prospectivas e retrospectivas
Velocidade de uso controlada pela velocidade do sistema de conclusoes
Velocidade coni:J:olada pela taxa de processos de pensamento humano
Fonte: Ant611io Eduardo MMtins, 2008.
A expressao Economia Baseada no Conhecimento (EBC), que se banalizou nos ultimos anos, traduz algo de emergente, em vias de se consun:tat~ m.ais do que um sistema econ6mico acabado. Contem, pois, um elemento voluntarista, apologetico, de wishful thinking, pelo que importa, mesmo neste assunto do conhecimento, nao confundir desejos com realidades (MuRTEIRA, 2005). 0 lugar nevni.lglco ocupado no passado pelo operario industrial nesta categoria tfpica e estrategica do sistema econ6mico, e hoje ocupado pelo trabaIhador do conhecimento, de fonna<;ao superio1~ ele proprio muitas vezes gestor de actividades "intensivas em conhecimento". Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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4. Dados da Investiga~ao
As fragilidades do tecido socio-econ6mico constitufdo pelo universe das PME's sao bern conhecidas e prendem-se com o facto de, tal como aconteceu com a transic;ao no periodo da revoluc;ao indush路ial, em que as empresas nacionais se atrasaram no processo de modernizac;ao, nao estarem igualmente reunidas, agora, as condic;oes da sua transic;ao para a sociedade do conhecimento. E, efectivamente, comum dizer-se que Portugal perdeu muitas oportunidades, atrasando-se relativarnente as sociedades europeias no seculo XIX. Em muitos aspectos, o atraso tornou-se quase irreversfvel. Neste infcio do seculo XXI, a fonnac;ao dos pequenos empres<li"ios e da sua forc;a de b:abalho parece ser a via de acesso necessaria para a transic;ao para a sociedade do conhecimento, sobretudo se for conjugada com a conh路atac;ao de jovens quadros tecnicos, preparados para tirar partido das novas tecnologias da informac;ao e do conhecimento, as quais, se forem conjugadas eficazmente com os saberes tradicionais, poderao revelar-se como um verdadeiro motor do crescimento sustentado. Alguns estudos apontam o facto de, mesmo ao nivel das m.elhores pequenas c medias empresas portuguesas, os factores de crescimento de valo1~ medido ah路aves da produtividade, e associado a noc;ao de conhecimento ou de capital intelectual, nao representarem mais de 20% . 0 grosso do tecido empresarial, micro, pequenas ou medias empresas, circunscreve-se, deste modo, a explorac;ao dos factores tradicionais do capital e do trabalho, conto nos tempos da revoluc;ao industrial. Sao ainda mal dominados os mecanismos da valorizac;ao dos produtos nacionais: um par de sapatos nacional, feito em Portugal, vende-se em Londres a um prec;o tres vezes inferior ao de um par de sapatos italiano, feito exactamente na mcsma fabrica que o primeiro. Olhando esta realidade por outro prisma, poderfamos constatar o enorme potencial de crescim.ento das PME's, desde que elas apostem nos facto res de desenvolvimento pr6prios da sociedade do conhecimento.
0 cresciment:o de valor deriva, segw1.do as pesquisas que temos realizado, junto das pequenas e medias empresas portuguesas, de 4 grandes famflias de actividades que a seguir se ex poem: 1.1. Modernizac;ao dos postos de trabalho com a correspondente contrata-
c;ao de quadros tecnicos, tendo como finalidade a eficiencia e a fiabilidade dos processes e a reorganizac;ao do trabalho, que permita a sua actual.iza<;ao face ao meio eventualmente em profunda turbulencia; 1.2. Formac;ao da mao de obra, nao apenas no que respeita ao saber tecnico mas, sobretudo, ao nfvel relacional e emocionaC fundamentais para a criac;ao de espirito de equipa, com a finalidade de desenvolver competencias e fazer circular o sabe1~ entre todos os trabalhadores;
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1.3. Aposta na gualidade, procurando diminuir os defeitos, monitorizando
a satisfac;ao dos clientes e controlando redamac;oes e devoluc;oes, com vista a fidelizac;ao de clientes e parceiros, procurando, em suma, chegar ao zero erro; 1.4. Aposta rto desenvolvimento de produtos e mercados, a partir de indivfduos apaixonados pelo espirito crftico e de debate, de analise de incidentes e de melhoria continua, explorando exitos e procurando a inspirac;:ao em boas praticas, tudo isto, com vista a inovac;ao. Estes sao os factores que determinan.1., actualmente, a produtividade e a criac;ao de valor, para alem do bin6mio capital/ trabalho. Estas linhas de reflexao podem ajudar a contextualizar o que se vem fazendo, optimizando os aspectos de inquiric;ao e de potenciac;ao da avaliac;:ao do capital intelectual. 0 con.fronto entre os resultados obtidos e as 4 dimensoes invocadas conduz a seguinte condusao: se se tomarem con1o paradigmaticos, numa primeira leitura, os dados relativos a identificac;ao de necessidades residuais, verifica-se que a percepc;ao que daf resulta aponta para uma centralizac;ao dos empresarios nos clusters dos processos e da formac;:ao das pessoas (exemplo "ter ferramenta de planeamento das actividades facil de utilizar", "estimular e motivar o pessoal para uma melhor produtividade"). Secundariamente, encontramos preocupac;:oes com a melhoria da qualidade e inovac;ao (vide tabela infra). Tabela 3.
Identifica~ao
de necessidades
PREOCUPA~OES
Qualidade Percebida pelo Mercado
Preocupac;oes com os Processos
Preocupac;ao com a Forma~ao das Pessoas lnvestimento no Desenvolvimento e Inova~ao
-
PERCENTAGEM
., Melhorar a imagem da empresa
40,9%
• Ter ferramenta de planeamento das actividades facil de utiliza<
40,9%
•
Apoio na concepc;ao I elaborac;ao de folhetos
34)%
•
Dispor de um sistema de controlo de custos adequado a actividade
31,8%
• Estimular e motivar o pessoal para uma melhor produtividade
•
Promover a formac;ao do pessoal na <hea comporta menta 1
38,6% 34;1%
• Gerir melhor o tem.po
31,8%
• Saber que investimentos no desenvolvimento e inovac;ao SaO OS mais adequados a empresa
3M%
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A aposta no capital hwnano e fundamental, mas investindo tambem mais na qualidade, como por exemplo, analisando as reclama<;:6es dos dientes e perscrutando o mercado, bem como, principalmente, atraves da aposta na inova<;:ao, atraves da criac:;ao de eguipas de investiga<;:ao e desenvolvimento dos produtos e pesquisa de novas nichos de mercado, consegue-se ter um leque de pequenas e medias empresas com capacidade pr6pria, para serem competitivas no mercado e para atingirem nfveis de rentabilidade desejaveis. 0 resumo da investiga<;:ao foi sintetican1.ente resumido por MARTINS (2008) atraves do modelo esquematico que se segue: Fig. 1. Desenvolvimento actual do modelo Capital Humano (.':apitill de Talcnh,s Individuais
Capital de .."'.<tuipu Ools.1. de
Grupu:;dl'! l)isfunCi O!W ili ~OtOS
l d~ias
lntera~a i v-as
Mercado hncrno de SabCfl..'"$.
Gmpt')!> El~tr6u icos de Tt'AbAIIIO
Baw
d~
l)adns
Concx~o PeriOdic:\
dos. l,rcxessos Simplilic;u;ilo c Racibnaliz.1t;i'io
Capi1al clc ClicnleS
Capilal <k
1•roccssos
Capital F.stnotural
Fonte: Martins e Lopes, 2008; Martins c Lopes, 2009.
E de salientar que a abrangencia e os desenvolvimentos do modelo constituem-se como objecto de investiga<;:6es futuras. 5. Conclusoes: A perspectiva de Capital Intelectual focaliza-se no valor, nao no custo 0 aumento da tw·buh~ncia, a crescente n<udan<;:a e a necessidade de conhecimento conduziu ao aumento da complexidade, ambas interna e externamente nas organizac;oes. A focalizac;ao do capital intelectual e um efeito directo deste desenvolvimento. Espera-se que o capital intelectual se relacione com este
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amnento de turbuH~ncia, necessidades de conhecimento e mudan<;a de necessidades. A complexidade relaciona-se com o numero e tipos de rela<;oes e "elementos" existentes num sistema. A complexidade esta tambem ligada a composi<;ao, estrutura e ft.tn<;ao do sistema (RESCHER, 1998, p. 1). De acordo com esta perspectiva, existe um grau de complexidade em todos os sistemas. No caso de existir uma elevado grau de complexidade, o sistema comportamental ira facil mente ser identificado como ca6tico. Isto e, encontramo-nos numa situa<;ao onde a performance do sistema, baseado na forma como as varias partes operam, e de diffcil explica<;ao. Desde que se verifica um aumento de complexidade num sistema, a subsequente expansao tem tendencia para a seguir (RESCHER, 1998, p. 6)i por exemplo, a complexidade alimenta-se a si propria. E a complexidade que constitui o problema e e a gestao do capital intelectual, que pode solucionar esse problema. Esta e uma das razoes pela qual "gerir recursos intelectuais pode ser a tarefa mais simples e importante de um neg6cio" (STEWART, 1997, p . XIII). 0 capital intelectual, de acordo com ULRICH (1998, p. 15) possui urn caracter crftico para os sistemas pelas seguintes razoes: • A procura de conhecimento funcional num sistema econ6mico em expansao esta no seu auge (entidades ligadas ao capital humano). • Ao prop6sito e significado de trabalho levado a cabo acresce importancia (entidades simb6licas). • A primeira linha torna-se notoriamente importante em rela<;ao ao valor do cliente (entidades ligadas por redes). • A aprendizagem e inova<;ao tornam-se njtidamente importan.tes na nova economia (entidades estruturais). A perspectiva de Capital lntelectual adquire o potencial para a cria<;ao de valor de wn recurso ou uma transfonna<;ao como ponto de partida, nao obstante a sua origem, complementando assim a estrutura da contabilidade. Enquanto o anterior modelo baseado na estrutura econ6mico-financeira d.a contabilidade fornece uma excelen.te pergunta para estudar os custos que se relacionam com as transac<;oes hist6ricas e futuras, esta nova estrutura<;ao permite olhar para as fontes de cria<;ao de valor e para o seu caminho, identificando vectores que pennitam ser con.vertidos em resultados financeiros, nao obstante a origem dessas fontes. 0 futuro das organiza<;oes depende da forma como encaram a nova realldade em que se encontram emergidas. Afinal, o caminho faz-se, andando e a crise paradigmatica obriga ao repensar da gestao e do papel dos recursos esgotaveis no centro da teoria econ6mica, posi<;ao que ha muito vinha ocupando e que se verifica revelar desajustada da realid.ade organizacional vigente, onde a sustentabilidade a Iongo prazo e a cria<;ao de vectores intangfveis de valor assumem papel primordial. Lusiada. Economi a & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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Ant6nio Eduardo Martins e Fclipa Lopes dos Reis
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A IMPORTANCIA DA GESTAO DE COMPETENCIAS NAS ORGANIZAc;OES
Joiio Sousa Mendes Docente na Universidade Lusfada de Lis boa Doutorando em Ciencias da Gestao na Universidade Lusfada
Manuela Sarmento Professora Associada com Agrega~ao da Academia Militar Professora Catednltica Convidada da Universidade Lusfada
Lusfada. Economi a & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
Resumo: 0 presente axtigo tem por objectivo analisar as competencias que um individuo possui ou pode desenvolver no contexto do trabalho, no ambito do sabet~ do saber-fazer e do saber-ser. A avalia«;ao do desempenho esta directame.nte relacionada com as competencias do indivfduo, pennitindo definir quais as competencias necessarias para a execu<;ao das tarefas nmn posto de trabalho. 0 recrutamento e selec«;ao de individuos para a organiza«;ao baseiam-se nas competencias necessarias para a execu«;ao das tarefas, que devem ser desempenhadas com rigot~ eficiencia, eficacia, por forma a produzir satisfa<;ao do trabalhador e consequente aumento da produtividade. Nesta perspectiva, desenvolvem-se os actuais conceitos e opinioes sabre competencias, assim corn.o os principais modelos associados a tematica da gestao do conhecimento. Tambem se analisam as comunidades de pratica, onde o conhecimento e criado e partilhado dentro das organiza<;6es e desenvolvem-se as competencias emocionais, que actualmente sao um requisito importante no activo das organiza«;oes.
A bstract: The present research paper aims at analysing the competencies that an individual has or can develop in the work context, in the scope of "to know", "to know-making" and "to know-being". The performance evaluation is related with the individual abilities, allowing to define which are the necessary competencies for the task execution. The individuals' recruitment and selection are based on the necessary abilities for the tasks execution that must be performed with rigo1~ efficiency, and effectiveness in order to produce workers satisfaction and consequent increase of productivity. In this perspective, concepts and opinions are developed on competencies, as well as the main models associated to the subject of knowledge management. The papet~ on one hand, analyses the communities of practices, where the knowledge is created and shared inside the organizations and, on the other hand, develops the emotional competencies, which are currently an important requirement in the organizations' assets.
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Joiio Sousa Mendes c Manuela Sarmento
1.
Introd u~ao
A hist6ria tantas vezes nos tern demonstrado que o futuro pr6ximo acaba por scr uma generallza~ao da aplica~ao de teorias que os visionaries das gera~oes anteriores criaram, mas que no seu tempo foram lcvadas a serio por poucos. 0 conceito de competencia apareceu-nos pela mao de David McClelland, no infcio dos anos setenta, do seculo passado. Este psic61ogo americana publicou, em 1972, urn artigo denominado Testing Competence Ratller Than Intelligence, onde Se interrogava porque e que OS testes de personaJidade e outros tipos de testes e criterios usados, ate ao presente, para a selec~ao das pessoas, se revelavam tao falive is. Foi esta interroga~ao que trouxe ao mundo a no~ao de competcncias. 0 autor constatou. que as formas de recrutamento c selec~ao u.sadas apresenlavam dois grandes inconvcnicntes. Por urn lado, nao produziam ou antedpavam as performances futuras nas fun~oes ou na vida e, por outro lado, eram freguentemente pouco abonat6rios para as minorias, para as mulheres e para as pessoas de estratos inferiores da sociedade. Com estas conclusoes procm路ou novas formas de predizer com mais fiabilidade, os desempenhos futuros das pessoas, o que o levou a procurar as diferen~as entre os que apresentavam desempenhos considerados excepcionais e aqueles que a presentavam um desempenho mfnimo para se manterem empregados. Foram estas diferert~as que McClelland denominou de competencias. E nesta perspectiva, que se vao revisitar os conceitos e os pontos de vista de alguns autores, que completaran1 o trabalho iniciado por McClelland.
2. Conceitos A problematica das compet~ncias nao constitui um campo te6rico estabilizado no ambito da Sociologia Industrial, das Organiza~oes, do Trabalho e das Emprcsas dada a pr6pria juvcntude do conceito e do seu uso no discurso sociol6gico.
No domfnio cientffico, o conceito de competencia sucede, quer hist6rica, quer teoricamente, do conccito de qualifica~ao, amplamente desenvolvido e trabalhado no ambito das problematicas classicas desta espccialidade da Sociologia. A no~ao nao e nova6 e 0 scu LISO tambem nao e recente. Porem, a intensidade da sua utiliza~ao na lileratura sociol6gica e da Economia do Trabalho data J Etimologicamente o termo ~ originario do Jatim compclelllin que significa o que esta para vit; o que csta para se manifestar.
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A importAncia da gestao de competencias nas organizac;Cies, p. 111-139
dos anos oitenta, porque ate enUio era a problematica das g ualifica~oes, que dominava a produ~ao sociol6gica. 0 conceito de compet(!ncia remete, por urn !ado, para as mudan\aS no sistema organizacional e tecnico-prod utlvo e em particular na gestao dos recu rsos h lllnanos e, por outro, para as novas condi\6es de trabaJ h.o (profissionais e formativas) dos trabalhadores. CE1TJL (2006, p . 24) identifica quah:o perspectivas relativamente a abordagem das competencias: -
As competencias como a tribu i~oes; As comp etencias como qualifica~oes; As competencias como tra~os ou caracterfsticas pessoais; As competencias como comportamentos ou ac~oes.
Assim, a competencias como atribui~oes sao considcradas como um elemento externo ao individuo c sao definid as como atribulos, quer sejam ou nao utilizados. Na gestao de recursos humanos esta persp ectiva e ulilizada em alguns sistemas tradicionais de descri~ao e qualifica\ao de fun~oes, onde se designa por competencias aquilo que, em conceitos mais classicos, se designaria por responsabilidades e conhecimentos, inerentes ao exercfcio de determinadas func;oes. Quanto as competen cias como qualifica~oe s sao urn conjunto de saberes ou de domfnios de execuc;ao tecnica que as pessoas adquirem, quer por via d o sistema formal de ensino, quer por via da formac;ao profissional. Estas duas ultimas p ers pectivas de competen.cias sao entendidas como independentes do desempenho, isto e, uma pessoa pode ter determi:nadas atribui\oes e q ualificac;oes sem, todavia, as exerccr e sem que se reflictam necessariamente no seu desempenho. Na perspectiva de competencias como tra~os ou caractel"isticas pessoais, as competencias sao consideradas com o ca1路acterfsticas intra-pessoais e sao definidas como capacidades. Se a perspectiva das atribuic;oes pode ser considerada como a mais classica das p erspectivas sobre as competencias, ados trac;os ou caracteristicas pessoais e seguram ente a mais conhecida c ate aplicada nos actuais sistemas, que se afirmam como sendo de gestao, avaliac;ao e desenvolvimento de competencias. De facto, sao caracterfsticas ou trac;os das pessoas, p rofunda e solidamente estruturados n a sua personalidade. Alias, e esta estruturac;ao profunda que da realmente consistencia as competencias, diferenciando as pessoas que sao consistentemente competentes daquelas que apresentam bons desempenhos apenas de forma esporadica ou ocasional. Po r ultimo, as competen cias com o comportam entos ou ac~oes sao competencias consideradas como fen6me nos inter-pessoais e sao definidas como resultados de d esempenho ou modalidades de acc;ao. Neste sentido, a competencia s6 existe e s6 pode ser con sid erada como tal, na acc;ao, isto e, apresenta as compctencias como interacc;oes, como resultados concretes de urn desempenho. Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n.0 9/2009
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As competencias sao comportamentos especfficos que as pessoas evidencirun, com uma certa consistencia e regularidade, no exercicio das suas fun<;:6es. Assim, as competencias sao modalidades de ac<;:ao, que sao realmente exercidas face a um detenninado contexto, existindo por for<;a da propria ac<;ao e sendo aferidas relativamente a objectives operacionais previamente estabelecidos. Por outro lado, CAsc.~o (2004, p . 17) destaca tres abordagens sobre as competencias: - Comportamental; - Funcional; - Construtivista. A abordagem comportamental come<;a por analisar a pessoa no seu local de trabalho, nao fazendo suposi<;:6es acerca das caracterislicas que sao necessarias para realiza-Jo da melhor maneira. A abordagem funcional e orientada fundamental mente pru路a as fun<;6es que servem os objectives estrategicos da organiza<;ao. Nesta perspectiva a competencia pode ser definida como a combina<;ao de requisites funcionais subjacentes a um desempenho bern sucedido na resolu<;ao de problemas. Esta abordagem procura integrar requisitos e desempenhos, atraves de conhecirnento, capacidades e atihtdes aplicadas num determinado contexte real de trabalho. Na perspectiva construtivista a competencia nao reside no conhecimento, capacidade e atitudes, mas sim na mobiliza<;:ao dessas caracteristicas, as quais sao as ferrrunentas e a condi<;ao da competencia. Varios autores consideram as compeh~ncias, como sendo um conjunto de saberes: saber-ser (competencias sociais e comportamentais), saber-fazer (competencias praticas) e saber-saber (competencias te6ricas). Para LE BOTERF (1999), a competencia e um sistema, uma organiza<;ao estruturada que associa de forma combinat6ria diversos elementos, e para ZARTFIAN (1999) a competencia e a tomada de iniciativa e de responsabilidade do individuo, nas situa<;:6es profissionais com que e confrontado. Um aspecto importante para a Gestao de Recursos Humanos eo da abordagem ao conceito de competencias (no plural) que se diferencia da no<;ao de competencia (no singular). Geralmente sao distinguidas duas abordagens no conceito de competencias: a abordagem anglo-sax6nica e a abordagem francesa . A abordagem anglo-sax6nica divide as competencias em: - Hard: incluem-se neste grupo os conhecimento& de um indivfduo sobre urn domfnio especifico (knowledge) e o saber-fazer que corresponde a realiza<;ao ou execu<;:ao de urn conhecimento (skills);
- Soft: englobam-se neste grupo a percep<;:ao que um individuo tem do seu "eu" enquanto lfder ou membro de um grupo (behaviours), os trac;os de persona1idade que contribuem para um determinado comportamento (traits), e as motiva<;oes que correspondem as for<;as interiores recorrentes e que geram os comportamentos no trabalho (motives) . 116
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Nesta dicotomia, as competencias do tipo hard sao as essenciais para que urn indivfduo seja considerado competente no seu trabalho, enquan.to que sao as competencias do tipo soft que p ermitem diferenciar as petformances entre os indivfduos. Por outro lado, a abordagem francesa das competencias, distingue: - saberes (savoirs) que traduzem na dimensao te6rica das competencias; - saber-fazer (savoir-Jaire) que correspondem as competencias de caracter pratico; - saber-ser (savoir-etre) que abran.gem as competencias sociais e comportamentais. No Quadro 1 apresentam-se as abordagens anglo-sax6n.ica e francesa de competen.cias. Quadro 1. Abordagens anglo-saxonica e francesa as competencias Abordagens Abordagem anglo-sax6nica as com petencias
Abordagem francesa as competencias
Dimensoes das competencias Hard: Competencias essenciais
Conhecimento e Habilidade
Soft: Competencias diferenciadoras
Comportamentos e Tra~os
Competencias te6ricas (Savoir) Competencias praticas (Savoir-faire) Competencias comportamentais (Savoir-etre)
Fonte: Sire e Trembla)' (1999) citado em Almeida e Rebelo (2004, p. 72).
Com o intuito de sistematizar o conceito de competencia HARVEY (1991) construiu um modelo que designou de KSAO (Knowledge, Skill, Ability and Other):
- Knowledge (conhecimento) e a informac;ao necessaria e especifica para realizar as tarefas de uma func;ao; - Skill (habilidade) e a proficiencia no uso de instrumentos e equipamentos na func;ao. Esta habilidade deve ser adquirida num ambiente educacional ou aprendido na func;ao de forma informal; - Ability (capacidade) resulta de conceitos tais como a inteligencia, orientac;ao espacial e tempo de reacc;ao, As capacidades sao medidas frequentemente por testes que fornecem estimativas acerca da capacidade espedfica que uma pessoa tern para realizar uma tarefa; Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n.0 9/2009
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- Othe1' (outras) sao as caracterfsticas adicionais necessarias para fazer bern urn trabalho. Como por exemplo a atitude e a personalidade.
Este modelo tem sido, de certa forma, contestado pelas orientac;oes mais comportamentais que tern procurado suprimir o aspecto psi.cometrico das competencias. Neste sentido, varios autores como McCLELLAND (1973), BOYATZIS (1982) e mais recentemente SPENCER E SPENCER (1993) definem de forma mais ou menos consensual a competencia como uma caracteristica subjacente de um individuo, que tem uma relac;ao causal com criterios de eficacia e/ ou de realizac;ao superior nwn trabalho ou situac;ao. Segundo PARENTE (2003, p . 206) e no contexto social de intensificac;ao da aplicac;ao das Tecnologias de Informac;ao e Comunicac;ao (TIC) que, do ponto de vista te6rico e paxticularmente no ambito da Sociologia do Trabalho, se inicia a utilizac;ao do conceito competencia, onde este comec;a a ganhar espar;o em detrimento do conceito qualificac;ao, para dar conta, quer da dimensao organizacional implicada na sua formac;ao e desenvolvimento, quer dos saberes de carckter informal e implfcito que o conceito de qualificac;ao nao deixa transparecer, nomeadamente os saberes relacionais. Assim, o paradigma de analise das competencias vai permitir estudar a introduc;ao e difusao da TIC's e de novos metodos de organizac;ao e de gestao do trabalho, ao integrar novos requisitos no domfnio dos saberes, em termos do processo, do conteudo e da natureza. E dentro desta linha que se destaca urn soci6logo frances que ven1 desenvolvendo a sua actividade de investigac;ao no seio deste paradigma. ZARIFIAN (1994) apresenta tres axgumentos sobre competencia. No primeiro afirma que a qualifica<;ao nao se reduz ao conjunto de saberes detidos pelos sujeitos e utilizados na actividade profissional, na medida que esta abordagem ignora o papel da organizac;ao. No segundo argumento mostra que a concepc;ao de qualificac;ao do emprego exclui a possibi1idade dos indivfduos modificarem e modelarem o conteudo da actividade de trabalho como resultado da sua acc;ao. Finalmente, no terceiro argumento, enfatiza que a concepc;ao da qualificac;ao do trabalhador impoe o impasse do nao reconhecimento dos saberes detidos pelos sujeitos, mas nao utilizados no ambito do emprego ocupado e da organizac;ao onde se inserem. As noc;oes de qualifica<;ao do trabalhador e do posto de trabalho remetem para uma 16gica prescritiva e objectivada, tfpica dos modelos Taylorista de organizar;ao do trabalho e de gestao dos recursos humanos, adaptados a uma envoivente estavel, face a uma nova 16gica dinamica, flexfvel e de instabilidade que faz apelo a competencia dos trabalhadores. Nos artigos cientificos sobre competencias, cada vez mais adquire pertinencia a analise dos processos de trabalho e dos saberes concretos, os quais nem sempre estao tipificados em w1idades cuniculares ou em diplomas. 0 objectivo 118
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A importancia da gestao de compct~ncias nas organiza<;i>es, p. 111-139
nao e apen.as definir perfis te6ricos de postos de trabalho, mas construir algoritmos que descrevam o trabalho real, concretamente desenvolvido pelos trabaJhadores, poise este que permite compreender as competencias. GILBERTe PARLIER (1992) PARE 'TE (2003, p. 279) a(irmam tres caractcrfsticas principais do conccito de competencias: - A xefen~ncia explicita ao dominio de uma actividade profissional; - A articulac;ao da competencia com os saberes tc6ricos; - A capaddade de mobilizac;ao desses saberes. Esta definic;ao introduz, em relac;ao ao conceito de gualifica<;ao do posto de trabalho, uma nova dimensao analftica, que reside na capacidade de mobilizac;ao dos saberes e na forma como estes se articulam em competencias. este mesmo sentido, MEIGNANT (1999, p. 281) define competencia, como sendo um saber-fazer operacional validado. As definic;oes contidas no conceito de competencia sao: - Saber-fazer: e a capacidade de executar, mas nao e simplesmente a capacidade de reproduzir um acto aprendido, mas de o fazer com inteligencia incorporando conhecimentos, experiencias anteriores, uma apreciac;ao da siluac;ao e tambem qualidades esteticas e relacionais. Exemplifica com a seguinte afirmac;ao: "Conhecer o alfabetico e bom . Saber fazer uma frase e melhor. Comunicar eficazmente n:\Obilizando esse saber no momento certo, e ai que esta a verdadeira competencia. E se, alem disso tiver estilo, e isso que faz a diferenc;a"; - Operacional: e a legitimidade para executar, e da o seguinte exemplo: "muitas pessoas sabem assinar, mas poucas tern delegac;ao de poderes para o fazer". - Validado: eo reconhecimenlo, pela classificac;ao, pelos pares e/ ou pelos clientes. Para LICHTE DERGER (1999, p. 69-85), a compet~ncia designa uma relac;ao entre empregador e empregado, na qual o primeiro conta com a vontade de cnvolvimento do segundo nas actividades que este desempenha em situac;ao profissional. Ser competente implica ser responsavel, pois s6 e compctente quem assume a sua responsabilidade numa determinada situac;ao profissional. Tambem afirma que a competencia, e uma forma alargada da qualificac;ao, acentuando as capacidades intelectuais, operat6rias e s imb6licas que sao mobilizadas na execuc;ao das tarefas do trabalho. LICHTENDERGER define competencia como o conjunto de tres elementos, como que se iluslra na Figura 1. - Saber: os conhecimentos e os saber-fazer adquiridos pela formac;ao ou pela experiencia constituem a base de toda a qualificac;ao. De entre estes saberes, a competencia acentua os saberes procedimentais, a capacidade Lusfada. Economia & Emprcsa, Lisboa, n. 0 9/2009
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joao Sousa Mendes e Manuela Sarmento
para analisar uma situac;ao, cstabelecer urn diagn6stico, resolver um problema, cooperar e comunicar. - Poder fazer: este poder dcpcnde dos meios pr6prios do trabalhador ou daqueles que Jhe sao atribufdos pela organiza<;ao, incluindo-se os meios materiais e de formac;ao, assim como a dcfinic;ao clara por parte da empresa do campo de responsabilidade do trabalhado1~ das suas margens de cvoluc;ao e de explorac;ao, dos objectives e da importancia da sua acc;ao para os resultados da empresa. - Querer fazer: este e traduzido pelo envolvimento do trabalhador na tomada de responsabilidade sobre as actividades que lhe sao confiadas. A questao do querer ren1cte para a presenc;a concreta de uma motivac;ao para agir. Esta mobiJizac;ao da vontade do trabalhadm evidencia formas de reconhecimento empresariais, nao s6 no plano material e financeiro como no plano simb6lico. Figma 1. A competencia na defini\ao Lichtenberger (1999)
,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, ~
Actividadcs em situa ~ilo pro fissional
~
~ , ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,
Responsal>ilidlHic
~ __jl I II
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Poder fazcr
Qucre1路 fuzcr
Fonte: Adnptndo de Almeida c Rebelo (2004, p. 61).
0 ACAP 2000- Accord sur Ia Conduite de L'Activite Professionelle2- define a competencia do trabalhador como um saber-fazer opcracional validado, os seus conhecimentos e a sua experiencia, aplicaveis numa organizac;ao adaptada, confirmados pelo dominio de ftmc;oes sucessivamente exercidas. Assim, este acordo nao se limita as competencias requeridas pcla func;ao dcsempenhada pelo trabalhador num dado momento, vai mais Ionge, cstabelece uma conexao com a h路aject6ria do trabalhad01~ centrando-se nas competc~n颅 das detidas e no potencial, e motivando os trabalhadorcs para alargarem o seu campo de qualificac;ao. 2 0 ACAP 2000 (oi assinado pelo CESIM (G rou pemenl des En treprises Sidcrurgiques et Minieres) e pelas organiza<;6es sindicais. 0 ACAP reprcsentava, no inicio da decada de 1990, todo o sector da siderurgia francesa.
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A importancia da gestao de competencias nas organizao;oes, p. 111-139
Segundo o ponto de vista de ZARIFIAN (1999, p. 20) o ACAP 2000 apresenta novos referenciais para uma gestao baseada na L6gica da competencia e podem-se encontrar h路es aspectos essenciais e inovadores, confonne se apresenta na Figura 2.: - 0 reconhecimento da competencia adquirida por cada trabalhado1~ pelo emprego que este ocupa e, portanto, a remunera~ao em fun~ao desta competencia adquirida. - 0 reconhecimento do direito a urn percurso profissional qualificado para cada trabalhad01~ direito associado a ideia de urn percurso mfnimo de carreira que tinha sido reivindicado pelos sindicatos para evitar ou eliminar uma diferencia~ao interna com efeitos de exclusao para algumas das populac;oes da empresa. - A introduc;ao do principia de rela~ao dialectica entre competencias e organizac;ao, sendo que as competenci.as nao fazem senao adaptar-se a organizac;ao. Figura 2. A competencia na defini~ao do ACAP 2000
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Actividades em situa<;iio profissional
~
~,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,
Organiza<;iio
Trab<llhador
~ Sabca路cs
Conheci men tos
Percurso min imo de
cxpcl"icn cias
qualifica~ao
opcraciomlis validados
Ponte: Adaptado de Almeida c Rebelo (2004, p. 63).
Em termos praticos, a cria~ao de valor e susceptive! de transfonnar as organizac;oes e de introduzir um aumento da pe1jormance econ6mica, em particular na tomada de responsabilidade relativarnente a qualidade dos produtos, cada vez mais personalizada e individualizada. ALMEIDA e REBELO (2004: 61). Tambem a principal associac;ao em.presarial francesa - MEDEF (Mouvement des Ent1-eprises de France), procurou dar o seu cont.ributo para a definic;ao de competencia, como mostra a Figura 3. Para esta associa~ao "a competencia profissional e uma combinac;ao de conhecimentos, saber-faze1~ expedencias e comportamentos, exercendo-se num contexto precise. Ela constata-se a partir da sua execuc;ao muna si.tua~ao profissional a partir da qual e validavel. Eentao a empresa que compete referencia-la, valida-la e faze-la evoluir". Lus(ada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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Figura 3. A compe h~ncia na defini'< ao do MEDEF , ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,~
~ Actividades em s itu a ~'io IH'Oiissional ' ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,~
Organiza~ii o
Recursos
Sabercs
Sab er-fazeâ&#x20AC;˘Âˇ
Oil
0 11
Conhecimentos
Ex periencia
Comport amentos profissionais
Fon te: Adaptado de Almeida e Re belo (2004, p. 64).
ZRtFIEN (1999, p . 65-69), prop6e uma defini<;ao alternativa de competencias, a qual comporta tres aspectos essenciais, como se ilustra na Figura 4:
- Primeiro aspecto: por competencia entende-se a tomada de iniciativa e de responsabilidade do individuo sobre situac;oes profissionais com as quais ele e confrontado. Esta ideia destaca uma mudanc;a essencial na organizac;ao do trabalho, permite a abertura de espac;os de autonomia e de auto-mobilizac;ao dos individuos. Do ponto de vista dos sujeitos directamente envolvidos, esta competencia ou se assume ou niio se assume, visto que ninguem pode decidir no Iugar do trabalhador. Trata-se de adoptar uma atitude de iniciativa, de mobilizac;ao e de escolha da regra adequada a seguir. Depois, trata-se de uma tomada daresponsabilidade, onde o trabalhador responde pelas iniciativas que torna e pelos seus efeitos, nao apenas em func;ao dos julgamentos sociais que os outros podem fazer, mas tam.bem em func;ao do seu sentido de responsabilidade. - Segundo aspecto: por competencia entende-se a inteligencia priltica mobilizada para as situac;6es que se apoia sobre os conhecimentos adquiridos e os transforma, com tanta ou mais forc;a quanto mais a diversidade das situac;6es aumenta. 0 termo inteligencia remete para as dimensoes cognitiva e compreensiva das situac;oes. Compreender uma situac;ao e saber aprecia-la, tendo em conta os comportamentos dos seus constituintes, quer se tratem de elementos materiais ou humanos.
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Lusfa da. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
A im portancia da gestae de competencias nas organizac;oes, p. 111.-139
- Terceiro aspecto: por competencia entende-se a faculdade de mobilizar redes de actores em. torno das mesmas situa~6es, de partilhar esses objectives, e de assumir os dominies de co-responsabilizac;ao. A situac;ao, desde que seja urn pouco complexa, ultrapassa as competencias de urn unico indivfduo. Sintetizando, para ZRIFIEN a competeucia corresponde a tomada de iniciativa e ao assumir de responsabilidade do indivfduo sobre os problemas e os acontecimentos com os quais este se confronta no contexto das situac;oes profissionais. Figura 4. A competencia ua
de fini~ao
de Zarifian
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Actividades e.m s itu a~ao profissional
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Ac~ao
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Mobiliza ~1io
de
rcdes e coresponsabiliza~ao
pelos 1路esnltados
Fonte: Adaptado de Almeida e Rebelo (2004, p. 67).
Onde a competencia comporta simultaneamente elementos de mobilizac;ao de uma inteligencia pratica e situacional, remetendo para a validac;ao de um saber social, com efeitos considerados validos e adaptados a concepc;ao de produtividade. Por serem testemunhos importantes proferidos por personalidades, quer da vida academica quer do meio empresarial porhtgues, que tern trabalhado e estudado esta problematica das competencias, reproduz-se seguidamente a investiga~ao realizada por CEITIL (2006, p. 389-434). Para o efeito, foram colocadas tres quest6es iguais a todos, sendo a primeira, e a gue mais importa para o presente trabalho, a seguinte: "Qual e, no essencial, a sua perspectiva sobre o conceito de competencias?" Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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joilo Sousa Mendes e Manuela Sarmento
Sobre esta questao vai-se aqui reproduzir as respostas obtidas pelos varios inquiridos: considera as competencias como conjuntos de comportamentos instrumentais que permitem alcanc;ar os resultados propostos ou realizar as tarefas desejadas. Diz que estao fortemente ligadas ao comportamento observavel, onde as competencias sao urn instrumento poderoso para a gestao das pessoas e constituem uma linguagem comum para os gestores c os seus colaboradores, e permitem exprinur os objectivos, a cultura e os valores de cada organizac;ao em termos de comportamentos esperados dos empregados.
- JORGE HORTA ALVES
entende as competencias como demonstrac;oes observaveis e mensuraveis de caracterfsticas duma pessoa que a capacitam para o desempenho eficaz de uma determinada tarefa. Isto e, as compeh~ncias sao o conjunto de conhecimentos, capacidades e atitudes/ comportamentos que uma pessoa deve ter e aplicar para contribuir para o sucesso da organizac;ao.
- JosE BANCALEIRO,
para esta profissional de recursos humanos as competencias sao caracterfsticas ou padroes comportamentais que o titular de uma func;ao tem de apresentar, demonstrar ter, para a desempenhar de modo eficaz, ou seja, com os resultados esperados. Estas caracteristicas podem ter por base conhecimentos (saber), aptidoes (saber-fazer) ou atitudes (saber-ser I eslar).
- MARCARIDA BARRETO,
cosluma definir a competencia, quer no sentido restrito do termo quer quando se refere aos comummente designados modelos de competencias como o uso das capacidades e comportamentos que os indivfduos adoptam voluntariamente, no elevado desempenho de tarefas concretas em contexlos de trabalho.
- Lufs BENTO,
ao reflectir sobre a afirmac;ao que urn ilustre orador numa dada confercncia sobre recursos humanos, em que dizia: "nesta area, nada se tinha inventado nos (tltimos 30 anos e todos se lirnitavam a ajustar e aperfeic;oar conceitos que vinham da decada de 60 do seculo passado", partilha, assim, da mesma opiniao ao dizer que os grandes avanc;os, nesta area, ja lem cabelos brancos, e justifica exemplificando com a seguinte afirmac;ao: "a gestao por objectivos foi proposta por PETER DRUCKER em 1954, a variabilidade dos salarios e a partilha do sucesso nas empresas ja eram uma realidade, na decada de 60, e a gestao de carreiras em ziguezague era praticada, na decada de 70, onde a unica excepc;ao a esta regra foi o aparecimento dos modelos de competencias nos anos 90, embora baseados em investigac;oes anteriores. E levanta a seguinte questao: Mas sera que o aparecimcnto dos modelos de competencias teve verdadeiro impacto na forma de gerir pessoas?
- PEDRO CAMARA,
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A import<lncia da gestao de competencias nas organiza<;5es, p. 111-139
Para este autor as competcncias transfonnaram-se num elemento pivot que passou a permitir as empresas enfocarem-se nos aspectos essenciais do seu neg6cio e disporem de um capital humano que tivesse a flexibilidade, adaptabilidade, inova<;ao e criatividade necessaries para dar resposta aos desafios da envolvente. - BRUNO W. LEHMANN, engenheiro mecanico de forma<_;ao de base, tem por defini<;ao que a competencia surge da busca constante para qualificar o que ate agora ainda nao foi possivel, nomeadam.ente as caracterfsticas tecnicas e profissionais de um gestor. E interroga: 0 que vale um gestor de uma empresa? Como conseguimos evitar erros caros de promo<;oes ou nomea<;oes erradas? Como se identificam os talentos de topo de entre os gestores? Para ele a analise das competencias responde, como instrumento central, a pergunta do potencial de um gestor. - Artur Lemos, profissional de recursos human.os e que desenvolve a sua actividade no ambito da Consultoria e Forma<;ao Profissional, considera que nos ultimos vinte anos se generalizou a utiliza<_;ao da palavra competencia e atribuiram-se-lhe significados particularmente apropriados para equacionar e resolver problemas na gestao dos recursos humanos. Entende por competencia como a capacidade, do dominio essencialmente intelectual, construida pelo sujeito em si proprio para realizar algo concreto que resulta. A competencia assim definida leva a en.carar os trabalhadores como autores da actividade e nao apenas meros actores que representam um papel elaborado por outrem e a focalizar a actividade na obten<;ao de resultados concretes no domfnlo quer do se1~ quer do opera1~ quer do viver em conjunto, quer mesmo do compreender. E considera ainda adequada a relevancia que, actualmente, se ah路ibui as com.peten.cias emocionais sob a designa<;ao de inteligencia emocional e as competencias transversais que, em boa parte, sao competencias relacionais ou sociais e que umas e oul1路as tanto contribuem para o exercicio das competencias operativas, dirigidas principalmente ao exercicio da actividade profissional. - JoRGE MARQUES diz que as competencias sao um conjunto de saberes, infonna<;ao, conhecimento, atitudes, comportamentos emo<;oes, enfim, tudo o que permiti1~ contribuir e estiver presente num desempenho superior. Conhtdo, considera ainda que ha pressupostos de base, sem o qual nao se pode considerar a existencia de competencias. Primeiro ela resulta da aprendizagem, segundo s6 existe quando exercida e terceiro e contextual, podendo ser inibida ou refor<;ada num determinado ambiente. Acrescenta ainda as competencias sao tudo o que estiver presente num desempenho elevado, dando assim mais vida as questoes comportamentais. Lusiada. Econon<ia & Empresa, Lisboa, n.0 9/2009
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Joilo Sousa Mendes e Manuela Sarmento
- Para MIGUEL PINA E CUNHA, o conceito de compet~ncias representa uma forma mais dinamica de abordagem da contribui~ao dos indivfduos para as organiza~oes. Considera que a enfase deixa de ser colocada em criterios relativamente est<Hicos como a func;ao, a idade, a formac;ao ou a experiencia, para passar a ser colocada na contribuic;ao individual especifica de cada indiv(duo, par ser mais dinamica, mais individualizada e mais adaptada a um mw1do organizaciona l instavel que exige mudan~as rapidas. A relac;ao de trabalho ganha novo equilfbrio, com os indivfduos mais competentes a tornarem-se gestores do seu proprio capital intelectual, social e emodonal. - ARMENIO REGO, define como competencias as caracterfsticas individuals e os comportamentos que podem conduzir o indivfduo a bans desempenhos e ao exito no desempenho das actividades organizacionais. Considera ainda que as competendas abarcam aptidoes, comportamentos, conhecimcntos, atitudes e valores. Para l~ EGO o modelo tradicional pretendia encontrar individuos cujas aptidoes se coadunassem com os requisites do posto de trabalho enquanlo que o modelo das competencias presume que as organizac;oes mudam, que as actividades organizacionais tem que mudar em conformidade. Dai que factores como a auto-gestao, responsabilizac;ao pelo pr6prio desempenho, competencias de inovac;ao, orientac;ao para o trabalho em equipa, capacidade de relacionamento e de comunicac;ao sao cada vez mais as apostas das organizac;oes e que o modelo de competcncias vem contemplan.do. Um estudo desenvolvido por D IAS (2006, p. 259-271) com vista a construc;ao e aferic;ao de urn instrumento de colheita de dados que defina e valide cientificamente um perfil de competencias do enfermeiro com o grau de licenciado. Como metoda, utilizou um princfpio multidimensional que teve por base uma categorizac;ao de competencias do seu estudo explorat6rio e da revisao da literatura. Com os resultados elaborou urn inventario de competencias que foi sujeito a uma avaliac;ao por urn pa ine! de peritos. Depois foi submetido ao teste-reteste, aplicando o mesmo teste a 160 sujeitos extrafdos da populac;ao em dois mementos e com um intervale de trcs a quatro semanas. Com aquelas dimensoes estabeleceu uma definic;ao previa de competencias: Competencias pessoais ou genericas, competencias cienlificas, competencias tecnicas, competencias s6cio-efectivas e relacionais e competencias etico-morais. No final da inves tigac;ao, DrAS (2006, p. 372) sintetizou o perfil de compett~ncias, segundo urn modelo que tern quatro dominies, conforme se mostra o resumo no Quadro 2.
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A importancia da gesUio de compet~ncias nas organiza<;oes, p. 111-139
Quadro 2. Sintese do modelo de competencias de Dias (2006) Compet_ericias · Pessoais ou Genexicas .. • • • •
Atitudes pessoais Atitudes sociais Atitudes profissionais Atitudes existenciais ou eticas • Atitudes emocionais • Atitudes relacionais • Atitudes d e eficacia pessoal
Saber • .Competencias Cientificas
..;
..
• Conhecimentos gerais e especializados do §mbito da profissao • Acesso e aplica~ao de conhecimentos especializados e transdisciplinares • As estrategias cognitivas • Capacidade para trabalhar em grupo • Sentido de organiza~ao
Saber-fazer Competencias .Tecnicas
Saber-ser (no contexto de trabalho).
• Comportamentos do domfnio psico-motor • Ttk nicas e procedimentos que determinam as performances
• S6cio-efectivas • Relacionais • Comunica~ao • Etico-morais
Fonte: Ada ptado de Oias (2006, p. 386).
3. Conhecimento e habilidades Uma vez que s6 as pessoas detEhn a capacidade de cria1~ inovar e inventar novos bens e servic;os, eles tomam o lugar da maquina como factor primordial no processo produtivo. Por isso, as pessoas sao o activo mais importante para a organiza<;;ao. Desde a Grecia Antiga que fil6sofos e religiosos se interrogaram sobre o que e o conhecimento, como se cria e qual o seu significado. 0 objective deste estudo e integrar o conhecimento numa perspectiva actual nas organizac;oes. Assim, neste ambito, foi PETER O RUKER, nos anos 60, quem. utilizou pela primeira vez a expressao trabalhador do conhecimento, comec;arldO dai a surgir a con.vicc;ao de que o sucesso de uma organizac;ao nao se deve centrar somente nos factores de produ<;;ao tradicionais, como a terra, o trabalho eo capital, mas tambem no factor intelectual. PETER DRU I<ER (2001, p. 9-26) con.sidera que daqui a mais uma decada a tfpica empresa de grande dimensao em comparac;ao com as de hoje tera menos de metade dos nfveis hienhquicos de hoje e nao mais de um terc;o dos seus gerentes. Quanto a estrutura e aos problemas e preocupa<;;6es de gestao, a nova empresa apresentani poucas semelhan.c;as com a empresa industrial tipica, nos moldes da decada de 1950, onde ainda hoje mui.tos manuais consideram o padrao. A empresa tipica sera baseada no conhecimento, organizac;6es compostas sobretudo por especialistas, que d irigem e disciplinam o seu pr6prio desemLusfada. Econom ia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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joiio Sousa Mendes e Manuela Sarmento
penho, por meio do feedback sistematico dos colegas, dos clientes e da alta administxar;ao. Sao o que o autor chama de organizar;ao baseada em informar;oes. As empresas, e sobretudo as de maior dimensao, nao vao ter muita escolha sc nao a de se converterem em organizac;oes baseadas em infonnar;oes. Onde o centro de gravidade do emprcgo desloca-se rapidamenle de trabalhadores .manuais e de pessoal de escrit6rio para trabalhadores do conhecimento, que resistem ao modelo de comando e controle copiado das organizar;6es militares de cem anos att路as. Tambem a economia induz a mudanc;a, especialmente ao impor a necessidade de que as g1:andes empresas sejam inovadoras e empreendedoras. Mas, acima de tudo a mudanr;a e exigencia da tecnologia da informa<;ao. A informac;ao e dado investido de relevancia e prop6sito, por conseguinte, a conversao de dados em informac;ao requer conhecimento. As organizac;oes baseadas em conhecimento dcmandam objectives nftidos, simples e comuns que se traduzem em acc;oes cspecfficas, segundo uma estwtura em que todos assumam responsabilidade pel a infor1nac;ao. Este autor considera que desde o surgimento do primeiro empreendimento de neg6cios moderno, depois da Guerra Civil nos Estados Unidos e da guerra Franco-Prussiana, na Europa, ocorreram duas grandes evoluc;oes no conceito e estrutura das organizac;oes. A primeira deu-se num perfodo de dez anos, entre 1895 a 1905, eo processo consistiu na diferenciac;ao entre gestao e propriedade, e transformou a gestao em func;ao e profissao por seus pr6prios meritos. A segLmda mudanc;:a evolutiva ocorreu vinte anos mais tarde onde se lanc;ou o conceito da actual organizac;ao de comando e controle, com sua enfase na descentralizac;ao, no staff de apoio central, na administrac;ao de pessoal e em todo o aparato de orr;amentos e controles, e com a imporlante distin~ao entre politicas c operac;oes. Hoje esla-se a cntrar no terceiro perfodo de transformac;ao, onde a conversao da organiza~ao de comando e controle, da organiza~ao de departamentos e divisoes, em organizac;ao baseadas em informac;oes, em organizac;ao de especialistas do conhecimento. 0 autor sustenta a ideia de que e possivel identificar exigencias e apontar problemas, mas o trabalho de construc;ao ainda esta por ser executado. OmiL (2006, p. 68-69) da uma pequena ideia deste tipo de gestao e explica a parlir de um exemplo classico da gestao de recLu路sos humanos como e a Analise e Descric;ao de Func;oes que sempre funcionou numa perspectiva centrada na func;ao e nunca na pessoa que a executa. Um dos atributos da gestao do conhecimento e a sua preocupac;ao com as pessoas e as suas necessidades, de modo a conseguirem transportar para a sua actividade profissional as tao desejadas criatividade e inova~ao. Paxa as organiza~oes poderem definir as estrategias que perrnitam atingir vantagens competitivas, torna-se necessario que saibam distinguir 0 que e informa~ao e conhecimento para assim se poder concluir sobre o que realmente podcra levar as empresas a melhorarem a sua performance e crescerem com sucesso. 128
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Segundo MEN!CHE (2004, p. 7) para gerir 0 conhecimento e mais do que gerir a informa~ao, nao assentando apenas no aspecto tecnol6gico, mas tambem no aspeclo cultural e social e exemplifica com a argumentac;ao do que esta nos livros ou nos computadores e informa~ao e o que esta denh路o da cabec;a das pessoas e conhecimento. SPENCER & SPENCER (1993) recomenda que a forma mais pratica para descrever as habilidades pessoais com base em comportamentos e iniciar a frase com: e capaz, e depois continuar com urn verba de acc;ao susceptfvel de evidenciar o que a pessoa faz quando utiliza essa habilidade. Numa perspectiva da empresa scr criadora de conhecimento surge lKUJJRO NoNAKA (2001, p. 27-49). Este te6rico organizacional japones considera que numa economia a unica certeza e a incerteza, apenas 0 conhecimento e fonte segura de vantagem competitiva, onde as empresas de sucesso sao aquelas que, de forma consisten.te, cria m novas conhecimentos, disseminam-nos profusamente em toda a organizac;ao e rapidamente os incorporam em novas tecnologias e produtos. NoNAKA refere que sao este tipo de actividades que caracterizam a empresa criadora de conhecimento, cujo neg6cio exclusive e a inovac;ao continua, onde, no seu entender, poucos sao os gerentes que aprendem a verdadeira natureza da empresa criadora de conhecimento e muito menos sabcm como geri-la porque entendem de maneira impr6pria o que scja conhecimento eo modo como as empresas sao capazes de explora-Io. 0 grande problema e que os gestores ocidentais tern uma visao muito estreita do que seja conhecimento e da maneira como as empresas sao capazes de explorar esse conhecimento, porgue acreditam que o (mico conhecimento util sao os dados duros (quantificaveis) e veem a empresa como uma especie de maquina de processamento de informa<;ao. Enquanto que o elemento central da abordagem japonesa eo reconhecimento de que a criac;ao de novos conhecimentos nao e uma simples questao de processamento de informac;oes objectivas, pelo contrario, depende do aproveitamento dos insights, das intui<;oes e dos palpiles tacitos c muitas vezcs altamente subjectivos dos diferentes empregados, de modo a converter essas contribui~oes em algo sujeito a testes e possibilitar o seu uso em toda a organiza~ao . Na sua opiniao a empresa nao e uma rmiquina, mas um organismo vivo. Da mesma maneira como as pessoas, a organiza~ao e capaz de desenvolver urn sensa de identidad.e e urn prop6sito fundam ental colectivos. NONAKA considera ainda, que os novas conhecimentos originam-se sempre nas pessoas e a conversao do conhecimento individual em recurso disponivel para outras pessoas e a actividade central da empresa criadora de conhecimento e este processo de transforma<;ao ocorre continuamente em todos os niveis da organiza~ao. Sabre este prop6sito este autor considera a existencia de dois tipos de conhecimento: o conhecimento tacito eo conhecimento explrcito. 0 conhecimento tacito e altamcnle pessoal, e de dificil fonnaliza<;ao e a sua transferencia tambem nao se torna facil. Por vezes este tipo de conhecimento encontra~se profundamente arraigado na acc;ao e no comprometimento do inLusiada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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divfduo com determinado contexte. 0 conhecimento tacito consiste em parte de habilidades tecnicas do tipo de destreza informal e de diffcil especifica~ao. Ao passo que o conhecimento explfcito e formal e sistemico, assim e facilmente comw1icado e compartilhado por meio de especifica~oes de produtos, f6rmulas cientfficas ou programas de computador.
4. Comunidades de pratica
Apesar da consensualidade que o conhecimento e um factor essencial para o sucesso competitive das organiza.;oes ainda ha quem tenha duvidas sobre como o mesmo e criado e partilhado dentro das organiza.;oes. WENGER (2000) MENTCH E (2004, p. 18) defende que as abordagens ao conhecimento baseadas essencialmente na tecnologia acarrelam alguns problemas, isto e, quanto a tecnologia apenas capta o conhecimento explicito3, enquanto que grande parte do conhecimento e tacito4, por outro !ado estas abordagens assumem que o conhecimento pode ser separado de quem o detem, isto e, segundo o autor, como propriedade de uma comunidade, o conhecimento nao e autentico, envolve interac.;oes, conversa~6es, ac~oes e inven~oes. Salienta que sao as comunidades que lhe dao vida. Daqui depreende-se que o conhecimento e parte de uma cornunidade que o cria e partilha. Uma comunidade de pnitica tern tres elementos essenciais: - Saber o que e, no senlido de empresa comum que une todos os seus membros, onde estes se identificam e se organizam em torno de um dominic de conhecimento comum; - Como funciona, o compromisso mutuo, as inter-rela~oes entre os membros que os mantem unidos, onde eles podem confiar e aprender uns com os outros, interagir e h路abalhar em conjunto em pro! de urn objectivocomum. - Qual a capacidade das suas praticas, e o conjunto de recursos partilhados por todos os membros: linguagem, normas, retinas, ferramentas de trabalho, cultura empresarial, etc., e todo urn conjunto de fac tores comuns que permite a comunidade acumular conhecimento, assim como tambem lhe permite fazer face a novas situa.;oes e por conseguinte criar novo conhecimento. 3 Conhecimento explfcito ~ visfvel nos processos, procedimentos, nas bases de dados, nas rela垄es estabelecidas corn o exterior, corn os clientes. Age como se fosse a mern6ria das organiza~ees, contendo as solu~ees ja aplicadas na empresa e os seus resultados. (NONAKA e TAKEUCHI, 1995). 4 Conhecimento tacito passa pela experi~ncia, pelo poder da inovac;ilo e pela capacidade dos trabaJhadores realizarern as tarefas rnais rotineiras, do dia-a-dia. E um tipo de conhecimento muito pessoaJ. (NONAKA e TAKEUCHI, 1995).
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As interac<;oes existentes entre as pessoas, mesmo as informais, sao cruciais para o modo como realizam e melhoram o seu trabalho. Quando se faz parte de um dado grupo, as pessoas passam a ter interesses comuns, partilham experiencias e inforo<a<;oes, debate-se novas ideias, criam urn espfrito de entre ajuda. Quantas mais comunidades existirem, maior e a capacidade das organiza~oes em aprenderS e assim conhecer maior as suas potencialidades, maior e a base para a cria<;ao e partilha do conhecimento. Quanto as unidades funcionais ou de neg6cio as comunidades de pratica nao envolvem rela<;oes hienirquicas, mas sim rela<;oes de companheirismo, camaradagem onde o objective da comunidade prende-sc como partilha de conhecimento e nao com a gestae de recursos e de pessoas. As diferen<;as de poderes dentro da comunidade deriva da capacidade de contribuir com experi€ncias e conhecimentos e nao de autoridade ou de postos hien'irquicos. No que respeita as equipas e a partilha de interesses e experiencias que mant~m os membros unidos, dai que elas nao se iniciem com urn dado projecto e acabem quando as tarefas estejam terminadas, nao se regem por planos de trabalho institucionalmente estabelecidos. Relativamente as redes de trabalho, as comwudades constituem-se sobre qualquer coisa, nao sao meros conjuntos de rela~oes, existe uma identidade entre os seus membros que ao Iongo do tempo vao partilhando praticas e constituindo urn processo colectivo de aprendizagem. GARVIN (2001, p. 50-81) considera que a organiza<;ao que aprende e a que dispoe de habilidades para criar, adquirir e transferir conhccimentos, e e capaz de modifi.car seu comportamento, de modo a reflectir os novos conhecimentos e ideias. Com esta defini<;ao considera que as novas ideias sao essenciais para o desenvolvimento da aprendizagem, onde por vezes surgem cria<;oes originais, por meio de percep<;oes subitas de ideias ou como resultado de acessos de crialividade. Sobre este assunto ARGYRIS (2001, p. 82-107) considera que o sucesso dos mercados depende cada vcz mais da aprendizagem, mas tambem acha que a maioria das pessoas nao sabe aprender. Pior ainda, acha que os membros das organiza<;oes em que muitos presumem ser os melhores em aprendizagem, nao sao de facto, muito bons nesse oficio. E refere-se directamente aos profissionais de alta qualifica<;ao, fortemenle energicos, extremamentc comprometidos e que ocupam posic;oes-chave de 1ideran<;a nas corporac;oes modernas. A aprendizagem eficaz nao e uma questao de atitudes ou motiva<;oes certas. Ao contrario, e o produto da maneira como as pessoas raciocinam sobre 5 Learn Organization- As organiza~oes que aprendem caractcrizam-se por serem as que procuram a mudanc;a contfnua de forma a satisfazerem as necessidades dos scus clientes, ah·av~s da maximiza,.:ao da aprendizagem individual, gru pal e organizacional. (liMANATOR 2001: 405).
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Joao Sousa Mendes e Manuela Sarmento
o seu pr6prio comportamento. Quando se pede a essas pessoas que examinem o seu pr6prio papel num determinado problema organizacional, a maioria torna-se defensiva. "Atribuem a culpa a out1路o". Esse raciocfnio defensivo impede que as pessoas examinem de maneira critica o modo como contribuern para o agravamcnto dos pr6prios problem.as que se empenham em resolver. Como solw;ao ARGYRJS pensa que as empresas precisam converter a maneira como os gerentes e empregados raciocinam sobre o seu proprio comportamento no foco critico dos problemas de aprendizagem organizacional e de melhoria continua. Ensinar as pessoas a raciocinar sobre o seu comportamento de um modo novo e mais eficaz que rompe as defesas que bloqueiam a aprendizagem organizacional.
5. Competencias emocionais
No ambito das compet~ncias emocionais procuramos neste ponto abordar algumas teorias sabre o conceito de Inteligencia Emocional (IE). As emoc;oes nas organizac;oes nao sao urn tema recente de investigac;ao, conludo na decada de 90, do seculo passado, as emoc;oes passaram a ter maior enfase devido a emergencia de uma nova area de estudo das emoc;oes nas organizac;oes -路a inteligencia emocional - que tern vindo progressivamente a ganhar importancia no meio academico e conhecimento e atracc;ao do grande publico. Segundo CEITJL (2006, p. 242) ba um consenso entre os investigadores de que a fonte primaria da motivac;ao sao as em.oc;oes, pois despoletam, sustentam e mantem a acc;ao humana. Para esse efeito Ceitil rcfere tres eventos fundamentais que influenciam as condic;oes de criac;ao do conceito de inteligencia emocional: - A emergencia do conceito de competencias como um indicador mais preciso que o quociente de intelig~ncia (Ql) para a medic;ao do desempenho de um trabalhador; - A diminuic;ao da importancia do conceito de inteligencia geral (QI), devido a emergencia da teoria das inteligencias multiplas; - 0 facto da teoria das inteligencias multiplas ter contcmplado dais tipos de inteligencia semelhantes ao conceito de inteligencia ernocional, designado por inteligencia intra-pessoal e inteligencia in.terpessoal.
0 conceito de inteligencia emocional surgiu num contexlo em que, durante uma decada de investigac;oes, nomeadamente nos anos 80 e 90, demonstrou-se a insuficiencia do Quociente de Inteligencia (QI) como indicador do sucesso de um indivfduo na sua vida pessoal e profissional, particularmente no que diz respeito a sua performance nas organizac;oes. Em oposic;ao ao conceito de QI e do nfvel de qualificac;oes e conhecimcntos tecnicos de um profissional, surge entao o conceito de competencia.
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A im portancia da gestao de compctencias nas organizat;oes, p. 111-139
Os prim.eiros investigadores a rotularem. o nome de Inteligencia Emocional foram MAYER e SALOVEY, em 1990, que na discri~ao de CEITIL (2006, p. 249) estes autores definiram inteligencia emocional como a capacidade de perceber e expressar emo~oes, de comp.reender e usa-las, e de geri-las de forma a gerar crescim.ento pessoal. Assim, de um.a maneira mais formal, e tendo por base esta defini~ao, o au tor considera que a inteligencia emocional e: - A capacidade de percebe1~ avaliar e expressar emo~oes de forma precisa; - A capacidade de ter acesso e gerar emo~6es que facilitam a cogni~ao; - A capacidade de compreender e fazer uso da inform.a~ao e do conhecimento emocional; - A capacidade de regular e gerir as emo~oes, de forma a gerar crescimento emocional, intelectual e bem estm~ em si pr6prio e nos outros. Neste contexto, surgiram entao alguns modelos de inteligencia emocional, n.omeadamente o modelo de MAYER e SOLEVEY da inteligencia emocional, ilustrado no Quadro 3. E composto por quatro partes, uma primeira parte destinado a percep~ao, avaliac;:ao e expressao da emo~ao, a segunda parte destina-se a facili tac;ao ernocional do pensamento, a terceira parte refere-se a compreensao e analise da informac;:ao emocional e a ultima paxte diz respeito a regulac;:ao das emoc;:6es, de sendo que cada uma representa um conjunto de capacidades, ordenadas de forma crescente de complexidade, ou seja, a aquisic;:ao de urna aptidao posterior depende da aquisic;:ao de uma aptidao anterior prevista no modelo. Qnadro 3. Modelo de inteligencia emocional de Mayer e Salovey (1997) Percep~ao, avalia~ao
• • • •
• •
•
. '
'
Capacidade para identificar a emo<;ao em estados ffsicos e psicol6gicos . Capacidade para identificar emo<;ao em outras pessoas. Capacidade para expressar emo<;ao de forma precisa e expressar as necessidades relacionadas com esta emo<;ao. Capacidade de discrirninar as emo~oes enh·e precisas e imprecisas, honestas e desonestas. ' :,1:; .;.~·,,:,:·;;,,_, ,," ~. . · Facilita~ii.o e~odonal do, ..Pensan~~~to ,, '·
•
e expressao da emo~ao ·.
·'
Ca.pacidade de redireccionar e priorizax o pensamento baseado nas emoc;oes associadas a objectos, eventos e outras pessoas. Capacidade para gerar ou desencadear emo~oes intensas para faci litar julgamentos e mem6rias dos eventos. Capacidade para capitalizar as flutua<;oes de humor para pennitir a constru<;ao de diversos pontos de vista, capacidade de integrar as diversas perspectivas geradas pelas flutua<;oes do humor. Capacidade para utilizar os estados emocionais para facilitar a resolu<;ao de problemas e promover a criatividade.
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Joao Sousa Mendes e Manuela Sarmento Compreender e analisar a informa~ao emocional e aplicar o conhecimento emocional • Capacidade para compreender como as diferentes emo~oes estao relacionadas. • Capacidade para perceber as causas e consequencias das emoc;6es. • Capacidade para interpretar· emo~oes complexas, tais como estados emocionais ambivalenles e contradit6rios. • Capacidade para compreender c prever transic;oes saudaveis entre as emo~oes . Regula~ao
das emo~oes
' • Capacidade para estar aberto as emo~oes, tanto de prazcr como de dor. • Capacidadc par·a monitorar e rcfleclir sobre as emoc;oes. • Capacidadc para gerar, prolongar ou desligar-se de um cstado emocional, dependendo da utilidade do julgamento da informa~ao emocional. • Capacidade de gerar emoc;oes em si pr6prio enos outros. Fonte: Adaptado de Ceiti l (2006, p. 250).
Outro modelo e o de BAR-ON (1997) a inteligencia emocional c um conjunto de capacidades nao cognitivas de competencias que influenciam a capacidade de ser bem sucedido ao lidar com as pressoes e exigencias do meio. Este modelo divide-se em cinco grandes areas de competencias: Competcncias intra-pessoais; Compet~nci as interpessoais; Adaptabilidade; Gestao do stress e Humor geral. Embora alguns autores considcrarem que o humor nao tem nenhuma correl a~ao com a inteligencia. Por esse facto BAR-Ol abre espac;o para uma serie de outros ah·ibutos, trac;os de personalidade e caracter.fsticas que extrapolam o ambito da inteligencia e das emo~6es, como nos mostra o Quadro 4 sabre o seu modele de inteligencia emocional. Quadro 4. Modelo de lnteligencia Emocional de Bar-Ou (1997)
Intrapessoais
In terpessoa is
Adaptabilidade Gestao do stress Humor geral
• Auto-conscicncia emocional Assertividade Auto-estima • Auto-realiza~ao • Independencia • Rela~oes inlerpessoais • Responsabilidade social • Empatia • Resoluc;ao de problemas • Realismo • Flexibilidade • Tolerancia ao stress • Conh·olo da impulsividade • Felicidade • Optimismo
• •
Fonte: Adaptado de Ceitil (2006, p. 254).
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A importancia da gestao de competencias nas organizac;oes, p. 111-139
GoLEMAN (1995) foi o autor responsavel pela populariza~ao do conceito de inteligencia emocional, atraves da divulga~ao do seu livro "Inteligencia Emocional" junto do grande publico, tornando este conceito famoso e atraente para os gestores e a sociedade em geral. Para este autor a inteJigencia emocional inclui auto-controlo, entusiasmo e persistencia, e a capacidade de se auto-motivar. Compara as qualidades da inteligencia emocional ao caracter. Este aspecto deixa claro que o autor exh·apolou o ambito de estudo da inteligencia emocional para alem do que se considera inteligencia e emoc;oes, por .incluir as caracterfsticas de caracter e persistencia. Este seu modelo abrange cinco grandes areas: Conhecer as pr6prias emo~6es; Gerir as emoc;oes; Auto-motivar-se; Reconhecer as emoc;oes nos outros e Gerir relacionamentos, conforme se apresenta no Quadro 5. Quad ro 5. Modelo de Inteligencia Emocional de Goleman (1995) Conheceras pr6prias emoc;:oes
• Reconhecer as emoc;:oes no momento em. que elas ocorrem • Monitorar as emoc;:oes a cada momento
Gerir as emoc;:oes
• Gerir as emoc;:oes a fim de serem apropriadas • Capacidade de se acalmar • Capacidade de ultrapassar emoc;:oes de ansiedade ou irritabilidade
Auto motivar-se
•
• Direccionar as emoc;:oes a servic;:o de um objective Adiar a recompensa e controlar a impulsividade • Capacidade de entrar em fluxo
Reconhecer as emoc;:oes nos ou tros
• Empatia • Compreensao do que os ouh·os querem ou precisam
Gerir relacionamentos
• Capacidade de gerir as emoc;:oes dos outros • Interagir de forma construtiva com os outros
Fonte: Adaptado de Ceitil (2006, p. 255).
Mais tarde, em 1998, GOLEMAN volta a escrever urn novo livro intitulado "Trabalhar com Inteligencia", onde modifica algo do modelo apresentado em 1995, como se pode ver no Quadro 6, e um modelo de forma a ser aplicado nas organiza<;6es. Neste modelo o autor teoriza a existencia de cinco blocos de competencias da inteligencia emocional: Auto-consciencia; Auto-regula~ao; Auto-motivat;ao; Empatia e Competencias sociais. GOLEMAN, com a teoria da performance distingue inteligencia emocional de competencia emocional. Porque segundo ele as competencias emocionais sao baseadas na inteligencia emoci.onal, porque e necessario a um indivfduo urn certo nfvel de inteligencia em.ocional para apreender uma competencia emocional. Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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Joao Sousa Mendes c Manuela Sarmento
Quadro 6. Modelo de Inteligencia Emocional de Goleman (1998)
Auto-consciencia
Au to-regula~ao
Auto-motivac;ao
Empatia
Competencias sociais
• Auto-consci€\ncia emocional • Auto-avaliac;ao precisa • Auto-confianc;a • Auto-controlo • I lonestidade/integridade • Ser consciente • Adaptabilidade • Inovac;ao • Orientac;ao para a realizac;ao • Implicac;ao e cmpenhamento • lniciativa • Optimismo • Compreender os outros • Desenvolver os outros • Orientac;ao para o servic;o • Gerir a diversidade • Consciencia politica • Jnfluencia • Comunicac;ao • Gestao de conflito • Lideranc;a • Ca talizador de mudanc;a • Construtor de uma rede de relac;5es • Colaborac;ao c cooperac;ao • Capacidade para trabalhar em equipa
Fonte: Adnptndo de Ceitil (2006, p. 256).
Para validar empiricamente este seu modelo, GOLEMAN uniu-se a outros investigadores como BOYATZIS e M EKEE de forma a aperfei~oar o seu modelo de competencias, como se podc ver no Quadro 7.
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A importancia da gestao de compeU!ncias nas organiza~Oes, p. lll-139
Quadro 7. Modelo de Inteligencia Emocional de Goleman, Boyatzis e Mckee (2002) ·'
• Au to-consciencia
. .;; ,,;,:,·;
• •
.,,
.,_..
.
Auto-conscienda emocional precisa
Auto-avalia~ao
Auto-confian~a
• Auto-controlo emocional • Transparencia • Adaptabilidade • Oricnta~ao para a realiza~ao • lniciativa • Optimismo
Auto-gestao
.,
.-.
Competencia Pessoal
·-·
Competencia Soc~al
•
Consciencia social
.;·_.
·'
. ::· ... .\:L,:
Empatia • Consciencia organizacional • Orienta~ao para o servi~o
• Gestao de relacionamentos
Lideran~a inspiradora • lnfluencia • Desenvolvimcnto dos outros • Catalizador de mudan~a • Gestor de conflitos • Trabalho em equipa e colabora~iio
Fonte: Adaptado de Ceitil (2006, p. 258).
6. Conclusoes A l6gica de gestao de recursos humanos mais estatica tem dado Iugar a uma 16gica mais proactiva, estrategica, adaptativa e inovadora, onde as compeh~ncias sao cruciais. A sua interferencia e ac~ao faz-se sentir quer no recrutamento e na sclecc;ao, no desenvolvimento de carreiras, na avaliac;ao de desempenho, na formac;ao e desenvolvimento e, nos mecanismos destinados a reter taJentos. Inllineros foram os autores que a seguir a McCLELLAND continuaram o seu trabalho quer directa ou indirectamente. 0 que faz com que haja mais do que uma unica definic;ao pa1·a o conceito de competencia. Hoje, nao basta falar-se de qualifica~oes, e necessa ria reconhecer as compet~ncias adquiridas atraves da formac;ao certificada e as adquiridas ao Iongo da vida. A Comissao l nternacional sobre Educa~ao para o seculo XXI, constitufda por DELORS e outros (1996, p. 127) pensa que e indispensavel procedet~ de Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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Joao Sousa Mendes e Manuela Sarmento
acordo com as condi<;oes pr6prias de cada regiao e de cada pais, a um exame profunda dos processos de qualifica<;ao, afim de que sejam tidas em considera<;ao as competencias adquiridas ap6s a forma<;ao inicial. Considera que o diploma adquirido no final da escolaridade constitui ainda, muitas vezes, a unica via de acesso a empregos qualificados, e os jovens nao diplomados, nao tendo nenhuma competencia reconhecida, nao s6 se acham em situa<;ao de insucesso no plano pessoal como tambem esUio em situa<;ao de inferioridade perante o mercado de trabalho. Esta comissao considera importante que as competencias adquiridas, especialmente durante a vida profissional, possam ser reconhecidas nao s6 pelas organiza<;oes mas tambem pelo sistema educativo formal incluindo o universitario. 0 entendimento e a sua conceptualiza<;ao tem vindo a evoluir nos ultimos anos. Ha wna tendencia para se deixar de falar em quociente da inteligencia e comer;ar a falar-se de quociente emocional. Na verdade, as emo<;6es condicionam as nossas vivencias e influenciam os estados de humor e os estados efectivos. As competencias etico-morais que orientam o exercfcio do saber-ser sao traduzidas em termos de capacidades de autonomia para tomar as melhores decisoes, liberdade de escolha e independencia, respeito e aceita<;ao pelo valor das pessoas, responsabilidade, solidariedade e confidencialidade. Estas capacidades implicam a existencia de outras, tais como: a capacidade para se valorizar a si e aos outros, realismo, sentido de obediencia e respeito as normas, sentido cooperativo da justi<;a, livre adop<;ao de valores pessoais e capacidades para formular jufzos morais, fazer as melhores escolhas e estabelecer prioridades. Na base destas competencias situa-se a capacidade de reflexao que permite pensar os objectivos das interven<;6es, sua hierarquizar;ao, defini<;i:'io de prioridades, escolher as melhores alternativas profissionais, estimar os riscos que certas interven<;oes comportam e analisar a rela<;ao entre os objectivos e os meios. A capacidade de discernimento prepara e c01路responde a avalia<;ao dos actos.
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A importilncia da gestao de compct~ncias nas organizat;<>es, p. 111-139
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A LIDERAN <;A E 0 TRABALHO EM EQUIPA
Jose Carlos Dias Rouco Docente na Academia Militar e no h<stituto Superior Tecnico Doutorando em Ciencias da Gestao na Universidade Lusfada
Manuela Sarmento Professora Associada com Agrega\aO da Academia Militar Professora Catedratica Convidada da Universidade Lusfada
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n.O 9/2009
Resumo: Esle estudo de caso realizou-se durante a realiza~ao de um curso de lideranc:;a, com a durac:;ao de 12 dias consecutivos, em varias provas de situac;ao e diferentes nfveis de in tensidade de esfor<;o, ministrado pela Acaden1ia MiJitar a alunos finalistas Universitarios. A populac;ao em estudo constituiu-se de 18 indivfduos, atraves da observac;ao directa na realizac:;ao de provas de situac;ao- liderar e trabalhar em equipa. Pretendeu-se caracterizar e relacionar os comportamentos de lideranc;a dos lfderes emergentes, assim como verificar se os seus comportamentos sao significativamente difcrcntes dos outros membros em diferentes niveis de fadiga e durante a execuc;ao de varias provas de situac;ao sem lfder formal. Para avaliar os varios comportamentos de lideranc:;a percepcionados pelos observadores foram adaptadas as competencias definidas por Spencer & Spencer (1993) com diferentes niveis de desempenho. Do estudo concluiu-se que os lideres emergcntes tern comportamentos especificos para se afirmarem como tal, assim como existem alguns significativamente d iferentes dos comportamentos dos restantes membros. De rcalc;ar as dimensoes "impacto e influencia", "raciocfnio analftico" e "direcc;ao" que sao competencias fundamentals para a lideranc;a emergente perante os diferentes desafios. Pa lav 路ras-chave: Formac;ao; Competendas; Uder emergente; Trabalho de equipa; Lideranc;a de equipa.
Ab stract: This case study occurred during a 12 days leadership course with different levels of effort, conducted by the Military Academy, to senior college students. The population in analysis was formed by 18 individuals, that, through direct observation on their performance in the different situational challenges leading and working as a team- had their behaviours characterized and related to as emergent leadership behaviours amidst some of them arose, as well as to check if these behaviow-s were so much different from other members, concerning fatigue levels and situational challenging events without nominated formal leader. To evaluate the various leadership behaviours acknowledged by the observers the skills adapted were defined by Spencer & Spencer (1993) with different levels of performance. Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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Jose Carlos Dias Rouco e Manu ela Sarmento
From this study the conclusion is that emergent leaders have specific behaviours as to prove themselves as such, as well as some of these behaviours ate significatively different from the other members. Dimensions as "impact and influence", analytic thought'' and "direction" do stand out, which are fundamental skills for emergent leadership conceming the different situational challenges.
Key-words: Training; Skills; Emergent Leader; Team work; Team Leadership.
1. Introdu\;aO Com a mudan<;a economica a Lm1a escala global, os lfderes dos dlferentes nfveis podem afirmar "os que nao estao confuses, e porque nao compreendem o que esUio a fazer e nem para onde vao" (CHIN, Gu & STEWART, 2001, p. 23), esta frase representa exactamente a necessidade actual do desenvolvimento te6rico e pratico de um modelo global de competencias de lideran<;a para dotar os lf.deres com competencias capazes de se afirmarem em todas as situa<;oes ambientais internas e externas as organiza<;oes. VICERI & FULMER (1997) realc;aram a importancia para o desenvolvimento da lideranc;a como urn dos factores mais importantes para manter as organi:r#lc;oes sempre em posic;oes competitivas. As investlga<;oes recentes na ~rea da lideran<;a focam o desenvo.lvimento de competencias de lideran<;a. Por exemplo, GOLEMAN (1997, 1998) e GOLEMAN, BOYATZIS & MCKEE (2003) identiflcaram duas categorias de competencias, pessoais e sociais. BERGMAN, HuRSON & RussEFT (1999) identificaram 18 competencias especificas para a conduc;ao da mudan<;a, escuta pro-activa, coaching e controlo das emoc;oes sob pressao. Apesar dos varios esforc;os para encontrar um modelo de desenvolvimento de competencias de lideran<;a, estes continuam a traduzir as necessidades reais de um modelo que se apllque as diferentes situa<;oes e sobretudo culturas e valores socials. Os estudos mais recentes realizados por RosEN et al. (2000) e SANCHEZ, SPECTOR & CooPER (2000) apresentavam modelos globais de desenvolvimento de competencias de lideranc;a. As teorias da lideran<;a contingencial descrevem como os llderes sao eficazes em contextos especificos (FIEDLER, 1967; VROMM, 1993; HERSEY, BLANCHARD & JOHNSON, 1996), no entanto verifica-se que quando o contexte muda, tambem os comportamentos dos Jfderes mudam. Segundo CHIN et a1. (2001) para o desenvolvimento de urn modelo global de competencias que se aplique as diferentes culturas deve criar-se uma hierarquia de competencias como as necessidades de MASLOW e que seja suficientemente flexfvel para incluir competencias especificas aplicadas a contextos especfficos.
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A Jideran<;a eo trabalho em equipa, p. 141-162
Actualmente, a estrutura e o processo das organiza<;oes assenta em equipas base, por isso as pesquisas centram-se sabre factores que estao associados a eficckia da lideran<;a e do trabalho em equipa, pelo que neste contexto e necess;hio continuar a investiga<;ao para encontrar as com.petencias nucleares comuns a maioria das situa<;oes. E na diversidade do trabalho em equipa, as m(dtiplas perspectivas e aproxima<;oes para a resolw;ao de problemas por parte de cada membro que dao a identidade colectiva (KNIPPENBERG & SCHIPPERS, 2007), mas o lider desempenha urn papel fundamental de mediador para que a equipa obtenha desempenhos eficazes. Assim, neste estudo e de acordo com as competencias de SPENCER & SPENCER (1993) colocaram-se 18 indivfduos, de urn curso de lideran<;a ministrado pela Academia Milita1~ a realizar varias provas de situa<;ao durante 12 dias consecutivos e com niveis de intensidade de esfor<;o e fadiga diferentes para se observarem e caracterizarcm os comportamentos e identificar o dos lfderes cmergentes eleitos. Atraves da caracteriza<;ao dos comportamcntos- ac<;ao procurou-se ainda isolar os que se reladonam directamentc com as dimensoes da lideran<;a e trabalho de equipa. Face ao exposto, pretendemos com este estudo verificar: Quais sao os comportamentos que os indivfduos praticam para se afirmarem como lideres emergentes nos diferentes contcxtos? Face ao problema estabelecido, as hip6teses que orientam o estudo sao as seguintes: H1: Existem diferen<;as sign ificativas nos comportamentos enh路e os lideres
emergentes e os restantes membros da equipa. H2: A intensidade e a dura<;ao do esfor<;o alteram as caracterfsticas dos
comportamentos dos lfderes.
2. Competencias
A diversidade de conceitos que estao associados as competencias, em termos concretos e no que diz respeito as praticas de intervcn~ao organizacional, faz-nos deparar com interven<;oes e sistemas muito difcrenciados e, naturalmenle com consequencias e resultados tambem substancialmente diferentes. Segundo CEITIL (2007) as compctencias estao associadas a comportamentos ou reac<;oes, em que sao consideradas como fen6menos inter-pcssoais e sao definidas como resultados de desempenho ou modalidades de ac<;ao. SHIPPMAN et al. (2000) a competencia e definida como o desempenho de uma actividade ou tarefa com sucesso ou o conhecimento adequado de urn certo dominio do saber e com enJase no inctivfduo. BOYATZIS (1982) define-a como uma capacidade de demonstrar um sistema e uma sequencia de comportrunentos que se relaciona funciona lmente com a prossecu<;ao de urn objectivo. Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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0 conceito dos modelos de formac;ao para o desenvolvimento de competencias tambem nao e consensual dentro da comunidade cientffica, dado que alguns autores concebem as competencias comportamentais essencialmente como trac;os de personalidade, que se encontram profundamente enraizados e dificilmente podem mudar, tratando-se de uma visao basicamente intuitiva, uma vez que as evidencias e1n pfricas apresentadas para a suportarem sao pouco consistentes. No entanto, para B LAKE e MOUTON (1964), HERSEY e BLANCHARD (1977) a fonnac;ao em competencias sugere que a formac;ao focalizada em competencias comportamentais produz melhorias no desempenho individual e organizacional. Tambem MCCLELLAND (1973) sugere que os resultados devem estar concentrados nos desempenhos- acc;ao, apesar de haver a necessidade de os relacionar com preditores intrinsecos aos indivfduos. Acluahnente e segundo CH IAV ENATO (2004) dois fen6menos estao invadindo as organizac;oes, os gestores procuram novas form as de lidar com os seus colaboradores e cada vez mais o Lrabalho deixa de ser individual e passa a ser em equipa. Por isso, e de acordo com K INlCKI e KREITNER (2006), formar equipas e incentivar os lideres e os colaboradores a trabalhar em equipa e um caminho para obter equipas eficazes, aut6nomas e com elevados desempenhos. Para STACL, SALAS e BURKE (2007) a Lideranc;a eo trabalho em equipa sao competencias fundamentais para elevados desempenhos e as que permitem ter a capacidade de enfrentar os desafios internos e externos da organizac;ao.
3. Com petencias de
lideran ~a
directa
Nesta uwestigac;ao serao estudadas as compet~ncias da lideranc;a que consideramos estarem presentes no desenvolvimento de aptidoes para o exercfcio da lideran~ e gestao de equipas e tendo sido adaptadas as de SPE1 CER & SPENCER (1993).
Assim em provas de situac;ao- simulac;ao procura-se caracterizar os comportamentos dos indivfduos em interaq:ao e como contribuem para a compreensao do processo de lideranc;a (HOMANS, 1950). Para a caracteriza\ao dos comportamentos de lideranc;a dos indivfduos em interacc;ao encontramos em BALES (1970) uma metodol ogia mais adaptada ao trabalho de campo, ou seja atraves da observa\ao directa. Na me todologia indicada por BALES (1970) podemos atraves da analise dos comportamentos de lideranc;a verificar quais os gue identificam o lider emergente e assim identificar quais os individuos que tern aptidao para liderar, devendo no entanto salvaguardar as caracterfsticas muito pr6prias e circuns tanciais em que estas provas sao realizadas, devendo-se inferir com muita prudencia. Tambem destas observac;oes pod emos identificar os diferentes papeis de cada membra e a forma como intera146
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A lideran.,a eo trabalho em equip<l, p. 1.41-162
gem para a prossecw;ao dos objectives propostos e sobretudo o papel do Jfder na eficacia da equipa.
4. Liderar equipas
Segundo GIBSON et al. (2006, p. 244) "a atenc;ao esta voltada para urn tipo de especial de grupo, a equipal . A adopc;ao de esquemas de trabalho em equipas tem-se tornado cada vez mais comum em todo o tipo de organizac;oes" . Urn dos objectives principais e o de resolver problemas, portanto a solw;ao de problemas e uma das actividades das equipas. Para GIBSON et al. (2006) as equipas devem ser capazes de identificar problemas e oportunidades existentes nas organizac;oes a fitn de buscar solw;oes alternati vas e compreenc;oes viaveis e to mar as decisoes necessarias que materializem e concretizem resultados excelentes (JACKSON, JOSHl, & ERHARDT, 2003).
No entanto, ainda para GIBSON et aJ . (2006) o consenso eo conhecimento dos problemas enfrentados e das decisoes necessarias nao ocorrem sem comunica<;;ao eficaz e conflito construtivo, o que depende muito das habilidades interpessoais. Nestas relac;oes interpessoais o lider desempenha urn papel fundamental na mediac;ao dos varios factores, como sejam as exposic;oes ao risco, critica construtiva, objectividade, capacidade de ouvir atentamente, de conceder o beneficio da d(tvida, de apoiar, de reconhecer os interesses e as realizac;oes dos outros (WAYNE, SHORE, BOMMER & TETRICK, 2002). 0 papel de lideranc;a em grupos formais2 e informais3 e uma caracterfstica crucial, porque o lfder desempenha urn papel fundamental para a detenninac;ao do sucesso do grupo (GIBSON et al., 2006). Para l<OUZES & POSNER (1997, p . 79) a lideranc;a e "a arte de mobilizar os outros para que estes queiram lutar por aspirac;oes compartilhadas", onde existe uma diferenc;a entre conseguir apoio e dar ordens, e que os verdadeiros llderes "mantem a credibilidade em consequencia de suas ac;oes - ao desafiar, inspirar, permitir, guiar e encorajaro os outros membros do grupo. Para liderar uma equ.ipa tern que haver a intenc;ao e desejo para assurnir o papel de lfder, acompanhado boas qu.alidades tecnicas e humanas (ADAIR, 1986).
1 Considera-se lideranc;a directa, quando o lfder esta em contacto directo com o colabo rador "face to face". 2 Formados por decisao adminitrativa para atingir metas dedaradas da organiuu;:ao (GIBSON, 2006, p. 234). 3 Formados mediante esforc;os individuais e desenvolvimentos em torno de interesses comuns e de amizade (GIBSON, 2006, p. 234).
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Segundo SPENCER e SPENCER (1993) os comportamentos de lideranqa de equipas incluem: - informar os outros (deixar as pcssoas afectadas pela decisao e saber o que vai acontecer); - fazer um esfon;o pessoal para tratar todos os indivfduos de forma justa; - usar estrategias complexas para promover a moral da equipa e a produtividade; - garantir que todas as necessidades prcHicas (basicas) do grupo sao garantidas; - assegurar que os ou tros aderem a missao, objectives, planeamento, clima e polfticas organizacionais. Na maioria das teorias sobre a relat;ao entre os Lfderes e os membros da equipa verifica-se uma interdependencia em varios factores (STEWART & JOHNSON, 2009). Um Hder eficaz requer uma visao, criatividade, metas claras, disposit;ao para trabaJhar tanto com pessoas do mesmo nfvel como com pessoas do nfvel inferior ou superior, boas habilidades de comunicat;ao e a coordenat;ao de esfor~os para os objeclivos (GJ ~SON et al., 2006; STEWART & JOfiNSON, 2009).
5. Trabalhar em equipa lndependentemente dos papeis esperados dos indivfduos e do estatuto que t~m na organizat;ao, todos os membros estao integrados em equlpas com menor ou maior dimensao. Para K1NJCI<! & KREITNER (2006) uma equipa e definida como dois ou mais individuos que interagem voluntariamente, em que partilham normas e objectivos colectivos e tem uma identidade comum. Segundo KATZENBACH & SMITH (2001) uma equipa e urn pequeno numero de pessoas com habilidades complementares que cstao comprometidas com urn objectivo, metas de desempenho e abordagens comuns pelos quais se responsabilizam mutuamente. As eguipas sao fundamentais nas organizat;oes porque o seu trabalho colectivo na maioria das vezes e mais eficaz que o trabalho individual (HOEGL & GEMUENDEN, 2001). Durante o trabalho de equipa, os membros necessitam de urn lfder-membro que garanta estrutura e direct;ao para auxiliarem os restantes membros a organizarem o scu trabalho. Estes lfderes-membros tern que ter a flexibilidade s uficien te para lamar em considerac;ao todas as ideias dos restantes mcm.bros e implementa-las (AMABILE, SHATZEL, MONETA & KRAMMER, 2004; DRUSKAT & WHEELER, 2003), "0 lider deve ser tanto aberto (incentivando a participac;ao dos componentes) como autoritario (intervindo semprc que necessa ria para cumprir as metas do grupo" (GIBSON et al., 2006, p. 241), na verdade, o lider deve procura exercer papeis sociais, de media~ao e de organizat;ao.
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Alidcran~a eo
trabalho em equipa, p. 141-162
0 trabalho de equipa pode ser exibido no desempenho de qualquer papel de uma equipa; ninguem precisa de ser um lider ou ter uma autoridade formal. Os lfderes formais devem procurar urn estilo de lideran'):a participativo, colocando-seem "posi'):ao de igualdade" ou utilizando essa autoridade para facilitar o funcionamento da equipa. Conforme ja foi referido, a arte de liderar reside na capacidade que urn lider tern em combinar o trabalho de equipa com a sua autoridade form al. Segw1do SPENCER & SPENCER (1993) os comportamentos tfpicos de trabalho de equipa incluem: solicitar ideias e opinloes para ajudar a tamar decis6es especfficas; manter as pessoas informadas e actualizadas sabre o processo do g.rupo; partilhar toda a informar;ao relevante ou uti I; expressar expectativas positivas aos outros; valorizar publicamente os outros pelas suas contribui~oes e desempenhos; - encorajar e refon;ar os outros de modo a faze-los senfuem-se fortes e importantes.
-
Definir objectivos A base fundamental para expressar objectivos claros reside na visao do lider e na forma como estes sao explicados. Antes de indicar objectivos e as tarefas necessarias para a sua concretizar;ao, e importante que o Hder visualise todas as fases do planeamento, desde a sua fase inicial ate asua concretizar;ao e sobretudo como as difcrentes fases se encadcam. Para que a distribuir;ao do trabalho e coordena~ao das tarefas se torne num processo mais haxmonioso e essencial que o Hder utilize a autoridade informal (TATA & PRASAD, 2004). Durante a comunicar;ao, o lider deve estar aberto as sugest6es e adaptar-se para se assegurar de que sua mensagcm seja recebida. Dado que o sucesso ou a falha de toda a comunicac;ao sao da responsabilidade do U:der, e importante assegurar-se que a mensagem foi recebida e compreendida correctamente. Uma lideran~a competente tern resultados que dependem de uma boa comunica~ao. Embora a comunicac,;ao seja vista geralmente como um processo de fornecer informac,;ao, a comunica ~ao deve asscgurar que haja mais do que a transmissao simples da informar;ao. A informac,;ao critica deve ser "comwucada de uma forma clara, simples e consciente'' (ADAIR, 1986, p. 18). Saber transmitix os pensamentos, apresentar recomenda~6es, construir pontes entre diferentes sensibilidades e a culturas esta a chave para gerar consensos. Os lfderes nao podem conduzi1~ supervisionat~ aconselhar, ou comandar os colaboradores sem a habilidade de comunicar claramente.
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
149
Jose Carlos Dias Rouco e Manuela Sarmento
6. Impacto e influencia
0 Impacto e a influencia expressa uma inten<;ao de persuasao, de convenou impressionar os outros, utilizando-os para cumprir os objectives organizacionais; ou os desejos de ter um impacto especifico o.u efeito nos outros (SPENCER & SPENCER, 1993). Quando o impacto e a influencia sao usados nos ouh路os individualmente e suportado pela compreensao interpessoal. E muito diffcil ou impossfvel influenciar os outros eficazmente e consistentemente sem os conhecer. Similarmente, as necessidades individuais na sensibiliza<;ao organizacional influenciam a organiza<;ao eficazmente. No exercfcio de fun<;oes de "chefia" todos os indivfduos tern que ter a capacidade para influenciar os seus colaboradores. A influencia atraves do compromisso geralmente produz efeitos de longa dura<;ao, alterando atitudes e cren<;as, assim como os comportamentos dos colaboradores. Para KATZENBACH & SMITH (2001) o pilar fundamental de uma equipa baseia-se no compromisso comum que se estabelece entre os seus membros. Sem este compromisso os membros continuam a desempenhar tarefas de forma individual, com ele, tomam-se uma unidade de desempenho colectivo e de excelencia. Os lideres usam varias tecnicas especfficas para influenciar os seus colaboradores que se materializam entre a concordancia e o compromisso. Esta influencia define-se "como uma rela<;ao entre duas pessoas na qual uma altera a atitude ou o comportamento da outra por persuasao" (DEVJLLARD, 2001, p. 165). Para ter sucesso e criar compromisso, a influencia tern que ser compreendida como autentica e sincera. A influencia positiva vem dos lfderes que fazem o que e correcto pm路a a sua organiza<;ao, missao, equipa e para os colaboradores. Tambem, as caracteristicas da situa<;:ao e dos colaboradores determinam quais as tecnicas mais apropriadas. A influencia reflecte a preocupa<;:ao individual subjacente a afecta<;ao sobre os outros, conhecida como a necessidade de poder4. 0 poder desta motivac;ao eficaz e geralmente influenciado pelo comportamento de realizm desempenhos para o cumprimento dos objectives organizacionais. Em todas as competencias, a inten<;:ao e acc;oes que pontuam no nfvel positivo devem ser razoavelmente socializados - o efeito desejado deve ser do interesse geral, ou pelo menos nao prejudicial. A competitividade dentro de uma organiza<;:ao ou a utilizac;ao da influencia para beneffcio pessoal em detrimento da organiza<;ao de uma forma global tern urna pontua<;ao negativa para o Impacto e lnfluencia. 0 lmpacto e a influencia expressa uma inten<;ao de persuasao, de convencet~ influencia1~ ou impressionar os outros, utilizando-os para cumprir os objectives organizacionais; ou os desejos de te.r um impacto especffico ou efeito nos outros. cel~ influencia1~
4
150
Capacidade de fazer que os outros realizem aquilo que a pessoa deseja que eles fa~am.
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n.0 9/2009
A lideranc;a eo trabalho em equipa, p. 141-162
Segundo SPENCER & SPENCER (1993) influencia incluern:
OS
indicadores cornw1s de irnpacto e
antecipar os efeitos de urna ac~ao ou irnagens pessoais do orador; apelar a razao, dados, factos e figuras; usar exernplos concretes, ajudas visuais e dernonstra<;oes; usar estrategias cornplexas, construidas "nos bastidores" para apoiar as ideias apresentadas; - deliberadarnente dar inforrna~oes para obter efeitos especificos; - usar "habilidades do processo de grupo" para conduzir ou dirigir urn grupo.
-
7. D eseuv olver inspira~ao e motiva~ao
0 lider~ atraves da sua inten~ao fornece aos colaboradores wna direc<;ao, enquanto a rnotiva~ao e a inspira~ao providenciam a for~a motriz para a materializa~ao dessa inten~ao que converge para o cumprirnento dos objectives. Para KOUZES e POSNER (2007), o lfder tern a capacidade da antecipac;ao e "fazer o futuro" tendo no entanto que partilhar essa visao com os seus colaboradores e inspini-los a tornar reais os objectives. A rnotiva~ao ou o nivel de entusiasmo e a razao para fazer algo. A motiva<;ao vem de urn desejo interiot~ em p6r empenho numa realiza<;ao e que va de en.contro as necessidade de cada mernbro da equipa. Atraves da empatia, os lfderes usarn o conhecimento que tern dos colaboradores para os influenciar, sabendo o que os motiva, ou seja quais as suas necessidades de realiza<;ao (CHOT, 2006). Conhecendo os seus colaboradores e outros que possam ser influenciados, da aos lfderes maior discernimento para orientar as equipas e alcan<;ar rnelhores desernpenhos. 0 Ifder deve ter consciencia exacta de como os mecanisrnos da rnotiva<;ao funcionam para mobilizar os seus colaboradores. Uma das caracterfsticas do lider e a sua capacidade de perceber, entender e compreender aspira~oes, expectativas, anseios e desejos dos seus colaboradores (JUDGE, SPECTOR & COOPER, 2004). Segundo KouzEs e POSNER (2007) a inspira~ao emocional e outra forma de urn lfder aumentar a motiva~ao. Providenciar uma visao inspirada de objectives a atingir pode aumentar o desejo intrfnseco de um colaborador para os concretizar. Por outro lado, os lfderes podem encorajar os colaboradores a estabelecer os seus pr6prios objectives e do grupo. Quando os objectives sao aceites, todos focam as suas aten~oes e ac<;6es para aumentar o esfor<;o colectivo e persistem mesmo face ao fracasso, e desenvolvern estrategias para a concretiza~ao desses mesmos objectives.
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
151
Jos~
Carlos Dias Rouco e Manuela Sarmento
Os refor~os positivos sob a forma de incentivos ou reconhecimento sobre os desempenhos podem aumentar a motiva~ao. Os lideres eficazes nivelam os valores e os objectivos partilhados dos que estao na sua esfera de influencia. Em algumas situa~6es, os colaboradores podem motivar-se apenas pelas tarefas que executam. Geralmente, se alguem tiver satisfa<;ao na realiza<;ao de uma tarefa e for internamente motivado, o reconhecimento simples de urn trabalho bern feito pode ser bastante para sustentar o desempenho. Nenhurna outra recompensa ou incentivo sao necessarios para motivar o colaborador na realiza<;ao da tarefa. Neste caso, a aprecia<;ao da tarefa fornece a recompensa interna que motiva urn colaborador a continuar ou a terminar uma tarefa. Os colaboradores querem frequentemente que Ihes sejam dadas oportunidades de serem responsaveis pelo seu pr6prio trabalho e serem criativos, assim como querem receber autoridade. Conceder autoridade aos colaboradores e uma indica<;ao poderosa da confian<;a e uma forma de desenvolve-los como lfderes. Eimportante in.dicar que conceder poder tambem implica a aceita<;ao da responsabilidade para a liberdade de tomar decis6es, salvaguardando no entanto que estas devem sempre ir ao encontro da inten<;ao do lider. A motiva<;ao eficaz e conseguida quando a equipa ou a organiza<;ao querem alcan<;ar desempenhos de excelencia de acordo com as suas capacidades. Para motivar os colaboradores a cumprir uma missao com esfor~o intenso e persistente, o lider tern que ter a capacidade para usar o poder das palavras e inspil路a-los atraves do exemplo. A motiva<;ao tambem e exaltada quando o colaborador sente que participa nos grandes desafios da organiza<;ao.
8. Escuta activa Uma competencia importante para alcan<;ar uma compreensao partilhada e saber escutar activamente durante uma comunica<;ao (conversa) . Embora a finalidade mais importante de escutax seja compreender os pensamentos dos colaboradores, os lfderes devem fomecer sinais aos colaboradores de que se encontram atentos. Escutar activamente envolve evitar interrup<;6es e fazer anota<;6es para posterionnente esclarecer. Bons ouvjntes estao cientes do conteudo da mensagem, mas tambem da urgencia e da emo<;ao de como esta e transmitida. Para o lider e critico manter-se ciente das ban:eiras existentes no processo de escutar. Os lideres devem evitar formular uma resposta enquanto estiverem a ouvir. 0 Jider nao deve permitir que a distrac<;ao, o desacordo, ou outras coisas, o impe<;arn de ouvir. Estas barreiras impedem o lider de ouvir e de absorver 0 que e dito.
152
lusfada. Economia & Eropresa, Lisboa, n. 0 9/2009
A lidcran~a eo trabalho em eq uipa, p. 141-162
9. Trab alho de campo 9.1. Enquadramento
A populac;ao em aprec;o sao alunos finalistas Universitarios que foram seleccionados pela sua Universidade, para frequenta1路 urn curso de lideranc;a ministrado pela Academia Militat~ com a durac;ao de 12 dias consccutivos e que foram sujeitos a urn programa de formac;ao para o desenvolvimento de competencias de lideranc;a. 0 curso foi realizado em regime de internato onde os alunos viveram em contexto militar e com tres pressupostos: a falta de tempoi niveis de stress elevadose desafios que apenas fossem ultrapassados ern equipa. Para a realizac;ao deste estudo, a recolha de dados foi executada atraves da observac;ao e divida em duas observac;oes: Na primeira, os 18 alunos foram divididos em cquipas de 4 e 5 elementos e distribufdos por 4 provas de situac;ao diferentes. Aleatoriamente, todas as equipas executaram tres provas de situac;ao. Em cada prova de situac;ao, o coordenador le a todos os membros da equipa qual o objectivo. A prova de situac;ao tern uma durac;ao de 5 minutos para planeamento e 20 minutos para execuc;ao. Para o cumprimento dos objectivos da prova de situac;ao nao e nomeado nenhum lfder. Ap6s a realizac;ao de cada prova de situac;ao cada observador tern que entregar uma grelha de comportamentos de lideranc;a devidamente preenchida e nomear o lfder eme.rgente de acordo com a sua percepc;ao. Na segunda1 os 18 alunos foram dividos em duas equipas e realizaran.1 uma prova de "sobrevivencia" com a durac;ao de 24 horas e num contexto "tipicamente rnilitax" com uma intensidade de esforc;o apropriado a condic;ao ffsica de todos os elementos para alcanc;arem corn sucesso individual e colectivamente todos os objectives. Durante esta prova os observadores foram registando todas as interacc;oes entre os membros de cada equipa e os seus comportamentos face as diferentes solicitac;oes. Ap6s a realizac;ao da prova cada observador en tregou urna grelha de comportamentos de lideranc;a devidamente preenchida e nomeou o lider emergente de acordo com a sua percepc;ao.
9.2. Observapio
A obtenc;ao de dados foi realizada atraves da observac;ao directa (SARMENT01 2008). Foram utilizados cinco observadores especialislas nao participativos, seguindo uma tabela de cornportamentos de lideranc;a adaptada de SPENCER
&
SPENCER
(1993).
Lus(ada. Economia & Emprcsa, Lisboa, n. 0 9/2009
153
Jose Carlos Dias Rouco e Manuela Sarmento
A observac;ao consistiu em registar cada unidade de interacc;ao entendo-se por tal um acto iniciado ou recebido pelos membros entre si, procurando o observador concentrar-se nos comportamentos- acc;oes (BALES & SLATER, 1955t assim como foram considerados tanto as interacc;oes verbais como nao verbais. A recolha de dados foi feita entre o dia 1 e 12 de Setembro de 2008. Para cada dimensao dos comportamentos de lideranc;a foi utilizada uma escala entre 1 e 9 que representam diferentes nfveis de intensidade de comportamentos. Os dados foram introduzidos na base de dados do SPSS (Statistical Software for Social Sciences) versao 15.0. Utilizaram-se varios metodos estatfsticos, nomeadamente para: • determinar a frequencia das dimensoes dos comportamentos da lideranc;a, aplicou-se a estatistica descritiva; • testar a normalidade utilizou-se o teste Holmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk; • testar a homogeneidade utilizou-se o teste Levene; • verificar se existe uma media significativamente diferente das restantes utilizou-se a comparac;ao multipla de medias (ANOVAt atraves do teste post-hoc de comparac;ao multipla de medias Tukey. • calcular se existem relac;oes entre as variaveis dependentes utilizou-se o teste de independencia do qui-quadrado - coeficiente de correlac;ao de Bravais-Pearson (r), por serem dados de distribuic;ao normal (parametricos), o qual mede a intensidade e o sentido (positivo ou negative) da assodac;ao entre duas variaveis minimamente ordinais, de distribuic;ao parametrica ou normal. Como nas ciencias sociais nunca se obtem indices de correlac;ao perfeitos, cabendo ao investigador pre-estabelecer os seus critc~rios de intensidade com o objective de melhor adaptar a compreensao das diferentes intensidades de correlac;ao obtidas no estudo, decidiu-se, adaptar a escala da correlac;ao conforme se descrimina no Quadro t valendo tanto para o sentido negative como para o positive da correlac;ao. Quadro 1. Criterios de Intensidade de Correla~ao 0,00 >0)0 >0,50 >0,95
Escala de correla~ao Ausencia Fraca Moderada Forte Perfeita
1 A
con-ela~ao
correla~ao
esignificativa para p < 0,05.
Todos os testes estatfstkos aplicados a amostra tern o nivel de signifidincia a = 5%, o nivel de confianc;a A= 95% eo erro e = 5%. 154
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n." 9/2009
A tideranc;a co trabalho em cquipa, p. 141-162
10- Analise de Resultados
De acordo com o Quadro 2 (observa<;ao I) e segundo a percep<;ao dos observadores quanta aos diferentes nfveis verificamos que os indivfduos eleitos como lfderes manifestam com maior frequencia os seguintes comportamentos: tern confian<;a nas pr6prias capacidades e tomam decis6es do desagrado dos restantes membros da equipa; respondem de forma calma; adaptam as pr6prias estrategias e objectivos as situa<;6es; reconhecem as oportunidades imediatas e sao decisivos em situ.a<;oes de crise; usam a persuasao directa e utilizam mais que dois argumentos diferentes durante as discussoes; veem multiplas rela<;oes, geralmente antecipam os obstaculos e tem solw;oes para as etapas seguintes; fazem planos e analises, conseguindo sistematicamente simplicar problemas complexos e resolve-los por partes; dao razoes para as suas solu<;oes ou outros suportes; delegam as tarefas de rotina para que os outros as possam executar sozinhos c dao orienta<;oes detalhadas; falam de forma assertiva e em. situa<;oes extremas procuram manipular a opiniao dos outros; fazem mais do que e normal; expressam expectativas positivas para os outros; falam para os membros da equipa com termos positivos e moslram respeilo por todos apelando a razao e promovcm a eficacia da equipa usando estrategias complexas para promovcr o desempenho. Q uad1路o 2. Tipos e f requencia dos comportamentos de lideran10a Niveis de comportam en tos
Dimensoes
Observa10ao I
1
2
1
4
1 1
3 4
Auto-Confianr;a
4
2
Auto-Controlo
1
4
1 1
2
1
1
1 3
2
2
2
1 1
6
7
Ob serva10ao II
1
8 9
3
5
Niveis d e comportam entos 2
3
4
5
6 7 4
9
8
3
Flexibilidade
2
6 3 2 13 1
3
ln iciativa
2
5
1
Ajudar os outros
2
Escuta activa
1 1
1
1
6
4
4 4
4
Raciodnio analitico
1
1
7 8
2
3
2
Intensidade de orienta~ac
6
1
2
2
3
4
1
2
9 5 2
2
1
1
1
4
1
9 6
Impacto e influencia
Direc~ao
4
2
Trabalho de equipa
3
Uder de equipa
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
4
1
1
4
6 3 1
1
2
4
2
13 2
1 3 1
1
2 11 4
2
Intensidade de trabalho
8 9
9 3
1
2
4
6 4 13
3
155
Jose Carlos Dias Rouco e Manuela Sarmento
Relativamente a observa<;ao II, verifica-se que os individuos eleitos como lideres manifestam com maior frequencia os seguintes comportamentos: sao voluntaries para os desafios; respondem de forma construtiva e· tranquilizam os outros; adaptam as tacticas as situac;oes ou a resposta dos outros; sao decisivos em situac;oes de crise; fazem um grande esfor<;o para enconh·ar as necessidades dos outros; fazem para estar disponfvel para escutar e confirmam as respastas ou reflectem com os outros; tomam ac<;6es para persuadir ou calculam 0 impacto das suas ao;oes e palavras; veem multiplas rela<;6es ou fazem analises e pianos complexes; expressam expectativas positivas aos outros; exigem bons desempenhos e monitorizam o desempenho dos outros; influenciam os outros para esfor<;os; constroem a equipa atraves da coesao e boa moral; tomam posi<;:oes de lider garantindo a execu<;ao dos objectives denb.·o dos prazos. Dos 18 individuos observados durante os 12 dias consecutivos verificou-se que os observadores elegeram em 80% dos casos os mesmos dois individuos e em 20% outros dois indivfduos. Dos indivfduos eleitos com maior freqw?ncia urn e do genero feminino e outro do masculino. De real<;ar que estes dois individuos exibiam comportamentos diferentes perante as caracterfsticas da situa<;ao e dos membros da equipa, ou seja o do indivfduo do genero masculine apresentava urn estilo de lideranc;a directive e direccionado para a tarefa, usando com maior frequencia as suas pr6prias capacidades, confonne preconiza ADAIR (1986) que para ser um lfder de equipa competente implica ter boas qualidades tecnicas. 0 indivfduo do genero feminino apresentava um estilo de lideranc;a participative, direccionado para o relacionamento humano e utilizava com maior frequencia a capacidade dos outros, conforme afirma GIBSON et al. (2006) em que as habilidades necessarias dos mem.bros devem ser usadas em prol dos melhores interesses da organizac;ao. Confonne I<ATZENBACH & SMlTH (2001) este Hder influenciou a equipa baseado no compromisso comum que estabeleceu com os seus membros. Observou-se ainda que esta equipa apresentava maiores niveis de conflito interpessoal e que perante os diferentes obstaculos os membros da equipa defendiam e mantinham o papel do seu lfder. De acordo com a tabela adaptada de SPENCER & SPENCER (1993) e os seus diferentes nfveis de comportamentos ilustrados no Quadro 2 verifica-se que em situa<;6es de maior dificuldade e fadiga os lfderes exibem niveis de comportamentos mais elevados e estes tendem a ser mais semelhantes.
11.
Compara~oes
multiplas de medias
Atraves da compara<;:ao multipla de medias procurou-se verificar se OS comportamentos de lideranc;a dos lideres emergentes sao significativamente diferentes dos restantes membros da equipa. 156
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n.• 9/2009
A lideran'>a eo trabalho em equipa, p. 141-162
Para conduir se existe uma media que e significativamcnte diferente das restanles, utilizou-se a compara~ao mCtltipla de medias (ANOVA), atraves do teste post-hoc de cornparac;ao mCtltipla Tukey, dado que esle teste e urn dos rnais robustos a desvios a normalidade e homogeneidade das varianc.ias. Quadro 3.
Oimensoes
Compara~ao
multipla de medias
Observa~ao
I
Observa~ao 11
Lfder emergente I membros
Lfder emergente/membros
Auto-confian~a
0,04
0,00
Auto-controlo
0,02
0,00
Flexibilidade
0,32
0,00
Jniciativa
0,16
0,01
Ajudar os outros
0,67
0,40
Escuta activa
0,82
0,00
Jmpacto e influencia
0,30
0,00
Raciocinio analftico
0,00
0,00
Intensidade de orientac;ao
0,05
0,00
Dirccr;ao
0,01
0,00
lntcnsidade de trabalho
0,01
0,00
Traba lho de equipa
0,28
0,00
Uder de equipa
0,00
0,00
A difCI'Cil\a de medias esignificativa para p < 0,05.
Conforme se ilustra no Quadro 3, podemos verificar que ern algumas dimensoes existem diferenc;as significativas entre os comportamentos dos lfderes emergentes e os restantes mernbros da equipa. Na observac;ao I, verifica-se que p-value < 0,05 nas seguintes dimensoes: auto-confian~a; auto-controlo; raciodnio analitico; direcc;ao; intensidade de trabalho c lfder de equipa. Na observac;ao II, verifica-se que p-value < 0,05 para todas as dimensoes excepto a dimensao ajudar os outros. Dos resultados apresentados no Quadro 3 e das observa~oes efectuadas no terreno, podemos afirmar que perante situac;oes de niveis de stress mais elevados os individuos eleitos como lfderes exibem comporlamentos que os distillguem com maior facilidade dos restantes membros da equipa, ou seja perante a intensidade de esforc;o e a sua dura~ao os lfderes emergentes adaptam os seus comportamentos face as caracterfsticas da situac;ao e dos membros. A medida que as caracteristicas da situac;ao sao mais exigentes e os membros das equlpas tendem a mostrar fadiga, os comportamentos dos lideres LusCada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
157
Jose Carlos Dias Rouco e Manuela Sarmento
emergentes nas diferentes equipas tendem a ser mais semelhantes. Apesar dos estilos de lideraru;a nao terem sido avaliados directamente, atraves da dimensao direc<;ao podemos afirmar que os Iideres emergentes tendem a ter um estilo directo. Como para KOUZES e POSNER (2007), verificou-se que os lfderes tem a capacidade da antecipa<;ao, tendo no entanto que partilhar essa visao com os seus colaboradores atraves de uma comunica<;ao eficaz confonne refere ADAIR (1986).
12. Correlac;ao entre as competencias de lideranc;a em estudo
Para encontrar a correlac;ao entre as competencias de li.deran<;a utilizou-se o indice de correla<;ao de Pearson que dimensiona o grau em que duas variaveis se encontram. associadas de forma linear. 0 fndice avalia em que medida o aumento (ou diminui<;ao) de uma variavel implica o aumento (ou diminui<;ao) da outra. 0 indice de correlac;ao Pearson (r Pearson) varia de -1 a 1. Quanto mais proxima de 1, mais forte e a associa<;ao. 0 sinal positivo indica que as variaveis estao positivamente associadas: quando uma cresce a outra tambem. 0 sinal negativo indica que o crescimento de uma variavel esta associado ao decrescimento de outra, ou vice-versa. Conforme o Quadro 4 (observac;ao I) e da analise efectuada as varias dimensoes dos comportamentos de lideran<;a e a sua associac;ao com a dimensao trabalho de equipa, verifica-se uma associa<;ao positiva fraca com r (entre 0,43 e 0,46) e p -value < 0,05 nas seguintes dimensoes: auto-confianc;a, auto-controlo, iniciativa, direcc;ao e intensidade de trabalho. Verifica-se uma associac;ao positiva moderada com r (entre 0,55 e 0,64) e p -value < 0,05 nas seguintes dimensoes: impacto e influencia, raciocfnio analitico e intensidade de orienta<;ao. Quanto a dimensao lideranc;a de equipa, ve1ifica-se uma associac;ao positiva fraca com r (entre 0,33 e 0,44) e p-value < 0,05 nas seguintes dimensoes: auto-controlo, flexibilidade, escuta activa, intensidade de orientac;ao e trabalho de equipa. As dimensoes auto-confianc;a, iniciativa, impacto e influencia, raciocinio analftico, direo;ao e intensidade de trabalho estao associadas positivamente com intensidade moderada com a dimensao Iideranc;a de eguipa. Quanto a observac;ao II e da analise efectuada as vru:ias dimensoes dos comportamentos de lideranc;a e a s ua associac;ao com a dimensao trabalho de equipa, verifica-se uma associac,;ao positiva fraca com r (entre 0,46 e 0,49) e p-value < 0,05 na seguintes dimensoes: auto-controlo, iniciativa, escuta activa, intensidade de orienta<;ao, intensidade de trabalho. Verifica-se uma associac;ao positiva com intensidade moderada com r (entre 0,51 e 0,77) com as seguintes dimensoes: auto-confian<;a, flexibilidade, impacto e influencia, raciocfnio analftico e direc<;ao. 158
Lusiada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
A Lideran~a eo trabalho em equjpa, p. 141-162
Quanta a observa~ao n e da analise efectuada as varias dimensoes dos comportru.nentos de lideranc;a e a sua associa~ao com a dimensao lideran~a de equipa, verifica-se uma associac;ao positiva fraca com r = 0,41 e p-value < 0,05 na dimensao iniciativa. Verifica-se uma associac;ao positiva com intcnsidade moderada com r (entre 0,52 e 0,78) com as scguintes dimensoes: auto-confian~a, auto-Controlo, flcxibilidade, Escuta acliva, impacto e in.fluencia, raciocfnio analitico, intensidade de orientac;ao, direcc;ao, intensidade de trabalho e trabalho de equipa. Quadro 4.
Correla~ao
(r de Pearson) entre as diferentes competencias de lideran~a em estudo Observa~ao
Dimensoes
Auto-Confian~a
Auto-Controlo Flexibilidade lniciativa Ajudar os outros Escuta activa lmpacto e influencia Raciodnio analftico lntcnsidade de orienta~ao Dircc~ao
lntensidade de trabalho Trabalho de equipa
Trabalho de equipa r p-valor
Observa~ao
I
Lideran~a
de equipa
II
Trabalho de equipa
de equipa
Lideran~a
r
p-valor
r
p-valor
r
p-valor
0,45 0,43 0,08 0,46 0,13 0,07 0,55 0,55
0,00 0,00 0,60 0,04 0,44 0,68 0,00 0,00
0,55 0,36 0,31 0,67 0,17 0,33 0,60 0,58
0,00 0,02 0,06 0,00 0,30 0,04 0,00 0,00
0,51 0,48 0,53 0,49 0,18 0,49 0,67 0,67
0,00 0,00 0,00 0,00 0,20 0,00 0,00 0,00
0,65 0,54 0,64 0,41 0,23 0,52 0,78 0,62
0,00 0,00 0,00 0,01 0,16 0,00 0,00 0,00
0,64
0,00
0,44
0,00
0,48
0,00
0,65
0,00
0,44
0,00
0,66
0,00
0,77
0,00
0,76
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-
-
0,43
0,00
-
-
0,72
0,00
A correla<;ao 4! significativa para p < 0,05.
De acordo com os resultados ilustxados no Quadro 4 (observac;ao I) e complementados como observado no ten路eno, o lider emergente e aquele que consegue de forma permanente e ate atingir os objectives resolver os problemas e apresentar as soluc;oes mais adcquadas procurando sistematicamente influenciar os restantes membros para as cumprir atraves de indica~oes persistentes, o que esta de acordo com KOUZES & POSNER (2007) quando afirmru.n a lideranc;a e a arte de mobilizar os outros para que estes queiram Lutar por aspira~oes compartilhadas. Na observac;ao II e de realc;ar que os lfderes emergentes assumem o papel de lfder e passam a ter um estilo de lideranc;a directive, com comportamentos na dimensao direcc;ao, o que esta de acordo com trabalhos de campo reaUzados por BALES (1970), em qLte os Hderes emergentes tern a iniciativa para conduzir a equipa como um todo na direc~ao da tare fa. Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n.0 9/2009
159
Jose Carlos Dias Rouco e Manuela Sarmento
13. Condusoes
A partir da analise e discussao dos resultados apresentados podemos referir que os individuos eleitos como lfderes emergentes na execu~ao de provas de situac;ao laboratoriais tern predominantemente os seguintes comportamentos: tern confian~a nas pr6prias capacidades e tomam decisoes do desagrado dos restantes membros; respondem de forma calma; adaptam as pr6prias estrategias e objectivos as situa~oes; reconhecem as oportunidades imediatas e sao decisivos em situa~oes de crise ou de impasse; usam a persuasao directa e utilizam mais que dois argumentos diferentes durante as discuss6es; veem multiplas rela~6es e geralmente antecipam os obstaculos e tern soluc;oes para as etapas seguintes. Fazem pianos e analises, conseguindo sistematicamente implicar problemas complexos e resolve-los por partes; dao raz6es para as suas soluc;6es ou outros suportes; delegam as tarefas de rotina para que os outros as possam executar sozinhos e dao orienta~6es detalhadas. Falam de forma assertiva e em situa~6es extremas procuram manipular a opiniao dos outros; fazem mais do que e normal durante a realizac;ao de uma tarefa; expressam expectativas positivas para os outros. Falam para os membros da equipa com tennos positivos, mostram respeito por todos, apelam a razao, promovem a eficacia da equipa usando estrategias complexas para promover o desempenho e certificam-se que as necessidades essenciais para a equipa sao encontradas. Quando a equipa e sujeita a elevados niveis de intensidades de esfon;o e com uma dura<;ao de 24 horas, verifica-se que os individuos eleitos como lfderes manifestam com maior frequencia os seguintes comportamentos: sao voluntarios para os desafios; respondem de forma constru tiva e tranquilizam os oub:os; adaptam as tacticas as situac;6es ou a resposta dos outros; sao decisivos em situa~6es de crise; fazem um grande esfor~o para encontrar as necessidades dos outros; fazem para estar disponivel para escutar e confirmam as respostas ou reflectem com os outros; tomam acc;oes para persuadir ou calculam o impacto das suas acc;6es e palavras; veem multiplas relac;6es ou fazem analises e pianos complexos; expressam expectativas positivas aos outros; exigem bons desempenhos e monitorizam o desempenho dos outros; influenciam os outros para esforc;os; constroem a equipa atraves da coesao e boa moral; tomam posi<;6es de lider garantindo a execuc;ao dos objectivos dentro dos prazos. Os lfderes emergentes tern comportamentos de lideranc;a significativamente diferentes dos restantes indivfduos, nomeadaro.ente nas dimens6es: auto-confian<;a; auto-controlo; raciocfnio analftico; intensidade de orienta~ao; direcc;ao; intensidade de trabalho e lideran<;a de equipa. Quando as caracteristicas das situac;oes sao adversas e exigem uma intensidade e dura~ao de esfor<;o acima do habitual as diferen<;as significativas entre a media das dimens6es estudadas aumentam, ou seja a diferenc;a entre comportamentos dos lfderes emergentes e os restantes membros da equipa sao cada vez mais acentuadas pratica-
160
Lusfada. Economja & Empresa, Lisboa, n.0 9/2009
A lideran~a eo trabalho em equipa, p. 141-162
mente em todas as dimensoes estudadas, com excep<;ao para a dimensao ajudar os outros. Os lfderes emergentes conseguem de forma permanente e ate atingir os objectives resolver os problemas e apresentar as solu<;oes mais adequadas procurando sistematicamente influenciar os restantes membros para as cumprir atraves de indica<;6es. Perante desafios que exigem maior intensidade de esfor<;o e persistencia os lfderes emergentes assumem o papel de lfder e passam a ter as iniciativas necessarias para conduzir a equipa como urn todo na direc<;ao da tarefa. Para liderar e trabalhar em eguipa devemos ter em considera<;ao as seguintes competencias: impacto e influencia, raciocfnio analitico e direc<;ao. Contudo devemos ter alguma prudencia ao inferir os resultados sem antes replicar este estudo.
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162
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n.O 9/2009
MEASURING CORPORATE IDENTITY: A CASE STUDY USING A CORPORATE PERSONALITY SCALE
Gaurav Bahirvani Masters in Busin.ess Administration by the University of Manchester
Natalia Teixeira PhD in Economics by the University of Manchester
Rui Vinhas Da Silva PhD in Business Administration by the University of Manchester
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n.0 9/2009
Abstract: Corporate identity is one arm of corporate reputation. The other is corporate image. We start from the premise established by DAVIES (2003) that the former influences the latter and aim to understand the way in which internal views, those of employees are formed. The purpose of the study is to draw from DAVIES et al's (2003) "Corporate Character Scale" and measuxe the views of employees of their own organisation along the various dimensions defined in that scale. The current research focuses on the internal side of the organisation and how it shapes corporate reputation. A corporate brand can provide a SLtstainable competitive advantage to a company if it is characterised by value, rarity, durability, imperfect imitability, and imperfect substitutability. The resecu:chers argue that certain dimensions of the corporate character scale may be useful in a particular context, but not in others. We argue that the application of the scale is context specific and the characterization of the corporate identity is different from organisation to organisation. This has implications when we link internal identity or external image to measures of employee and customer satisfaction, loyalty or even financial performance. Key-words: measuring corporate identity, the Utilities sector, profiling a corporate brand
Resumo: ldentidade corporativa e urn ramo da rcputa~ao organizacional. 0 outro e a imagem corporaliva. Partimos da permissa estabelecida por DAVIES (2003) que o primeiro influencia o segundo e pretende compreender o modo como perspectivas internas, das quais os empregados sao formados. 0 objectivo do estudo e, partindo da "Corporate Character Scale" de DAVIES et al's (2003), medir as perspectivas dos empresgados na sua propria organiza~ao nas varias dimensoes definidas na escala. A pesquisa foca a componente .interna da organiza~ao e como molda a reputa~ao organizacional. Um.a marca corporativa pode criar uma vantagem competitiva sustentavel a uma empresa se for caracterizada par valor, raridade, durabilid.ade, imita~ao e substituibilidade dificeis. Invesligadores argumentam que certas dimensoes da cscala de carckter corporativo podem ser uteis em determinados contextos, mas nao em outros. Neste artigo argumenta-se que a aplica~ao da escala e especf(ica ao contexto e a caracteriza~ao da identidade corporativa e diferente de organizac;;ao para organiza~ao. Esta situa~ao tem implica~oes quando relacionados identidade interna ou imagem external para mcdir n(veis de satisfa~ao dos empregados ou conswnidores, lealdade ou mesmo performance financeira. Palavras-Chave: nedi ~ao de identidade corporative, o sector de services primarios, perfil de marca corporaliva Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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Gaurav Bahirvani, Nat<!lia Teixeira e Rui Vinhas da Silva
1. Introduction 1.1. Background ofX X is a major operator of utilities sector and is also a leading provider of customer management services. X e mploys 17,000 people and is a member of the FfSE 1001 group of leading UK listed companies. X operates throughout the UK and internationally, in selected markets, frOITl Europe to Australia. X is divided into 5 regulated and non-regulated busiJ1esses which together for the X Group. The regulated businesses comprise of X Service Delivery (SD) and X Customer Sales (CS) and the non-regulated businesses comprises of X Contract Solutions, Y Communica tions (YC) and W (customer management services). YC and W operate have their own brand names but the remaining three businesses operate under the X brand name.
1.2. Research purposes The purpose of the current research is to identify which dimensions of the corporate character scale devised by DAVIES et al. (2003) are relevant for internal stakeholders in the particular context of the utilities sector. By focussing on a large utilities company, the researchers go through 57 items that make up the 4 dimensions of corporate character and evaluate their importance to employees. For the purposes of this study we limit the dimensions of corporate character 4: agreeableness, enterprising, competence and character. The reason for this is that according to DAVIES et al. (2003) the additional dimensions of chic, informality and ruthlessness have very few items loading onto them. We are then presented wilh the issues of internal communication that leads to a perceived failure for the organisation to differentiate itself and the strategic implications thereof.
2. Literature review 2.1. Corporate Brand - the reflection of an organisation Although the terms corporate branding, corporate reputation, and reputation management have become 'buzzwords' in business circles, they can often
l
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FTSE- It is the index provider o( choice for the world's leading investors. www.ftse.co.uk
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
Measuring corporate identity: a case study using a Corporate Personality Scale, p. 163-185
mean different things to different people. To further clarify the definition of corporate branding, the American Marketing Association defines brand as a 'name, term, sign, symbol, or design, or a combination of them intended to identify the goods and services of one seller 01路 group of sellers and to differentiate them from those of the competition'. Thus, a company engages in corporate branding when it markets the company itself as a brand. The 'goods and services' in this case would be part of the company's identity as defined above. Finally, corporate brand equity exists when constituencies hold strong, favourable, and unique associations about the corporate brand in memory (KELLER, 2002). A company's corporate brand provides consumers with expectations of what the company will deliver (a 'corporate brand promise' similar to the 'brand promise' of product brands). Accenture's logo, for example, is the company name with a 'greater than' symbol above the 't' that is meant to connote the finn's goal of pointing the way forward and exceeding clients' expectations. Certainly names and logos are only two elements of corporate branding; typically, companies use corporate advertising as another key channel for reinforcing the corporate brand . In terms of distinctions among the concepts discussed, a company can define and communicate its identity and corporate brand, but its image and reputation result from constituency impressions of a company's behaviour and are less within the company's direct control. Some argue that reputation is such an amorphous concept that a company cannot really 'manage' it at all. The authors maintain that a company in fact can do so, and that strong management of a corporate brand is an important part of that process.
2.2. Corpomte Branding- the 'buzzword' Corporate brancting, like corporate reputation, has come into the business spotlight in recent years- in fact, 2001 marked the debut of Business Week and ln terbrand's ranking of the 'Best Global Brands', which used a valuation methodology to assign dollar values to this important 'intangible asset' of sorne of the largest global companies. In 2003 some eminent authors teamed up with. an ICCO (International Communications Consultancy Organization) panel in San Francisco that focused on corporate branding. In preparation for the ICCO panel discussions, Porter Novelli queried 700 corporate communications professionals on their views of the importance of corporate brand management and conducted in-depth telephone interviews with those responsible for directing communications at 16 of the top global brands (BusiNESS WEEK, 2001). To understand what is driving the corporate branding trend, Porter Novelli asked them: 'Do you believe that in the future your organization will need to place greater emphasis on managing it's corporate or company name as if it were a brand?' In answer to this question, 64 per cent of the respondents said 'yes', Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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Gaurav Bahirvani, Natalia Teixeira e Rui Vinhas da Silva
30 per cent said they were already doing so, and only 6 per cent felt that lhis was not necessary. In terms of patterns within different market segments, business-to-business companies said they were more likely to place greater emphasis on m.anaging their name as if it were a brand and, to some degree, so did healthcare companies . Technology and consumer compani es were slightly more likely to say they were already doing so. Non-profit organizations were more likely to respond 'no'. In 2000 LEITCH and RICHARDSON developed the 'brand web' concept w hich aimed at helping organisations understand and manage the web of brand relationships in which they are enmeshed (see Figure 2, LEITCH and RICHARDSON, 2000). Figure 2. Brand Web (Leitch and Richardson, 2000)
!
C~mpetitor Product
~, ..Brand ..
/
------ Retailer
n
Competitor'
Service ___...13ranct
,.....~
~- ~
/ Brands are the conscious distillation and communication of a product, service or corporate identity (BALMER, 2001). Brands are not those things themselves in the same sense that a bottle of Coca-Cola and the brand Coca-Cola are two different thi ngs. According to the Brand web concept (LEITCH and RICHARDSON, 2000), each organisation sits at the centre of its own web with its corporate brand. The corporate brand is the communication interface between
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Luslada. Economia & Emprcsa, Lisboa, n. 0 9/2009
Measuring corporate identity: a case study using a Corporate Personali ty Scale, p. 163-185
the organisation and its stakeholders (HATCH and ScHULTZ/ 2001). It provides the hub of the corporate brand web and the organisation generally has considerable strategic and tactical control over the hub. The major exception arises in cases when several organisations share a corporate brand name, such as Virgin (BALMEH, 2001) and offer different products and services under that corporate brand umbrella, such as Virgin Airways, Virgin Records, and Virgin Brides. The brand web hub has no wealth creating capability without the addition of products or services, either under the organisational brand or as subsidiary brands (AAKER and JOACHJMSTHALER, 2000). Organisations must, then, decide which branding strategy to pursue each time they offer a new product or service to the market (SAUNDERS and GuoQuN, 1997). Radiating zones of brand interactions or 'nodes' surround the brand web hub. As the zones move away from the hub they are generally characterized by decreasing levels of control and increasing levels of interaction with the radiating zones of other brand webs. The second zone of the corporate identity brand web is the 'nuclear brand family'. These are the product, service or wholly-owned subsidiary brands that the organisation has created and fully controls. The third zone is the 'extended brand family'. It is composed of brands that are interdependent or close allies brands that the organisation does not fully control but with which it has a formal strategic relationship of some kind. Included in this zone are brands with which the organisation has co-branded itself or its products and services, or with which the organisation has formed some kind of alliance, for example X. Brand allies may be brands with which the organisation is closely positioned, such as the retail outlets that a company uses to offer its product brands. For example, Coca-Cola is closely allied with McDonald's as the only cola beverage on offer within McDonald's restamants. These brand allies are linked contractually, may have some cross-ownership, and jointly contribute to one another's brand identities. Product and corporate brands that are owned by more than one organisation such as Hilton, Volvo and Rolls Royce (BALMER, 2001) are also part of the extended brand family. These shared brands are only partially under the control of each organisation and so share many of the characteristics of co-branding. A shared brand name either through co-branding or multiple ownerships of brands offers the potential to both strengthen and weaken the brand partners (OLINS, 2000). The fourth zone of the brand web is the 'brand community' within which the nuclear and extended family of brands operates. The brands of competitors are part of the brand community, as are all brands with which the organisation is networked in some way. In sum, because the study of corporate branding is a relatively new field, the availability of measuring the quality of the brands is problematic. As a result, to measure the quality of the brand, most of the recent authors have turned towards the concept of reputation.
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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Gaurav Bahirvani,
at<llia Teixeira c Rui Vinhas da Silva
3. Research hypotheses
Hl. The corporate brand is seen by its employees as agreeable
1. Agreeable1tess - Cheerful, People Oriented, Open, Transpare11t, Straight-
forward, Concerned, Reassuri11g, Supportive, Agreeable, Honest, Sincere, Trustworthy, Socially Responsible, Helpful, Caring. H2. The corporate brand is seen by its employees as enterprising
2. Enterprising- Imaginative, Up to date, Exciting, Innovative, Extrovert,
Daring. H3. The corporate b rand is seen by its employees as competent
3. Competence - Reliable, Mature, Secure, Hardworking, Ambitious, Achievement Oriented, Leading, Controlling, Technical, Corporate, Original, Unique, Confident, Credible, Empowered, Professional, Exclusive. H4. The corporate brand is seen by its emp loyees as having character
4. Chara.cter- A1"rogan f, Casual, Pleasant, Aggressive, Tough, Selfish, Easy going, Inward looking, Authoritarian, Snobby, Elitist, Affluent, Independent, Refined, Simple, Sophisticated, Profit Oriented, Irresponsible.
4. Research method
The empirical work for this study consisted of a 3 month stay at X. 15 top executives and 600 employees in various areas were interviewed over the three months. The Corporate Character scale (DAVIES et al., 2003) was applied and qualitative data collected . A 5 point Likert scale was used where 1 expressed s trong disagreement and 5 strong agreement with the statement. Interviewees were asked to imagine th.al X came to li fe as a person. If he or she were a person, would he be friendly, honest, trustworthy, etc. Factor ana lysis on all items produced the table below with the seven pillars of corporate personality. The analysis that follows has the table below as the basis for comparison.
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Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
Measuring corporate identit)â&#x20AC;˘: a case study using a Corporate Personality Scale, p. 163-185
Table 1. The Seven Pillars of Corporate Personality Agreea!Jie11ess
Enterprise
Competence
Clzic
Ruth/ess11ess Machismo
lnfommlity
Cheerful Pleasant Open Straightforward
Cool Trendy Young Imaginative
Reliable Secu re Hardworking Ambitious
Channing Stylish Elegant Prestigious
Casual Simple Easy going
Concerned
Up to Date
Exclusive
Reassuri11g Supportive Agreeable Honest Sincere Trustworthy Socially Responsible
Exciting Innovative Extrovert Daring
Achievement-Oriented Leading Technical Corporate
Arrogant Masculine Aggressive Tough Selfish Rugged Inward-Looking Authoritarian
Refined Snobby Elitist
Controlling
SOURCE: Davies et al., 2003 (p.JSO).
5. Data analysis and Conclusions
For the purpose of this research, the findings and analysis will be divided into five sub-sections. Each sub-section will aim on focusing upon one aspect of the internal employees' view about the ' X' corporate brand:
5 .1. The Attitudes towards the corporate brand
The researchers feel Lhal after having analysed the initia l impression towards the brand and the feelings towards the organisation, the next logical step was to analyse the attitudes that the internal employees hold towards the corporate brand and the organisation. Extensive academic research offers substantial support for the notion that internal employees' attitude towards the corporate brand can influence the overall reputation and a lso the brand perceptions of the external stakeholders. In this section the researchers will deal with Queslion 12 of the online questionnaire sent out to the internal employees. This question consisted of a list of brand personality attributes used from The Corporate Personality Scale (DAVI ES et al. 2003), which required the respondents to state their level of agreeLusÂŁada. Economja & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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Gaurav Bahirvani, Natalia Teixeira e Ru i Vin has da Silva
ment or disagreement on a scale of 1-5. The opinions of the respondents have been based on the following assumption that the researcher required them to make, i.e. "X has come into life as a person. What according to you would his/her personalihJ be like?" There were a total of 57 brand personality attributes used for this research. For the purpose of simplifying the analysis the researcher has divided the 57 attributes into 4 broad categories narnely, Agreeableness, Enterprising, Competence & Character. Out of the four broad categories, DAVIES (2002) considers Agreeableness, Enterprising and Competence as Brand personality dimensions. The category of 'Character' has been added by the researchers which will enable to understand th.e attitudes of the internal employees in terms of how they feel the overall character of the brand would be if it came into like as a person. The researchers feel that this would in turn give an additional dimension in analysing the overall brand perception internally.
· 1. Agreeableness - Cheerful, Peopie Oriented, Ope11, Transpamit, Stt:aightforward; ,.· Concerned, 'Reassuri1ig,· Supportive; /igreeable, 'l-Ipnest, Si~cere, Tri1~!~vortliy, Socially , ,, I~esponsible; Helpful, Caring ·: · · · · 2.. · Enterprisin g. -Imaginative,
Up 'to date, Exciting, Innovative, fXti·ovcrt,.Darin$.
., _3•. Competence - · Re(ia.ble, Matit_re;_Secure, Hardworking, Ambitio_us, Achievemei1t . Orii~hted, L'eadhig, Controlli11g, Tecl~nical, Corporate, Original, Unique, Confident; Credible; Empowered, Profe$sional, Exclusi'l!e '· . . · . · '·, . ''.. ' ,.· ·. '· h
.
•
.
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.'4. Chai:a~ter -:- Arrogant,_Cti~1Jal, Piedspnl~ Agg,;essiv~,. Toy.gh, .Selfish,
·'·· .
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Easy goiug, lnivard lookil'tg, Aittiwritinian,- Snobby, Elitist,.!}f!liAel~t, fndepeJident, Refined, Simple;' .$ophist~cnied,· Profit Oriented,_Ir~·espon~·ible · · ··.•.
·,
For the purpose of simplifying the findings and analysis, the researchers feel that instead of providing the finding for each attribute separately and then analysing it, it would be better to provide a combined findings and analysis for each category. This will enable the reader to understand the attitude of the internal stakeholders towards the brand in a much broader perspective.
5.2. Finding - catego1'y 1 (Agreeableness)
Graphs 1 and 2 illustrate the percentage of responses that were received from the internal employees regarding their attitude towards the 'X' brand in terms of 'Agreeableness'. The researchers have used line graphs for this p urpose because the movements of the line can represent the level of agreement or
172
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n.0 9/2009
Measw·ing corporate identity: a case study using a Corporate Persona lity Scale, p. 163·185
disagreement in a more simplified and interesting fashion. The slopes of the lines can indicate the how the brand personality fit with the brand if it came into life as a person attributes as judged by the internal employees.
Graph 1. The attitude of the internal stakeholdets about the 'agreeableness' of the X brand
How 'Agreeable' is the X Brand'! Internal Stakeholder' attitude
Brand Personality Attributes
Graph 2. The attitude of the internal stakeholders about the 'agreeableness' of the X brand
~"'~
- 80.00% ~ !2:~~ 50.00% ~ 40.00%
How •Agreeable' is the X Brand?
l
lutenwl Stakeltolder' attitude
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Strongly Disagree Disagree ~
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Brand Personality Attiibutes
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The above two graphs represent the attitude of the internal employees towards the level of 'agreeableness' with the X brand. While 42% of the internal stakeholders disagree that the corporate brand is cheerful, 52% feel that brand is not at all straightforward. More than 53% of the internal employees feel that the brand is not at all open and only 30% feel it is transparent, though more than 60% feel that the brand is quite supportive, reassuring, concerned and caring. On an average about 60% of the internal employees feel that the brand is honest and can be trusted whereas 80% of the employees also feel that the brand is socially responsible.
5.3. Comments - An agreeable organisation Agreeableness is one of the most important and interesting dimensions of the corporate brand personality. It explains more variation between the way people see the organisations and the perceptions people hold of them. An agreeable organisation is one where employees feel confident and secured. Il is an organisation which is socially responsible and is strongly motivated to build a positive perception with its internal and external stakeholders. In the case of X, the employees of the organisation feel that the brand is agreeable in terms of its concerns for social responsibility, its people oriented attitude and the support employees gel from it; however, the employees also feel that the organisation is not open, transparent and straightforward due to the complexity of its business. Though the employees feel that the organisation treats them with integrity, they also have a strong concern about the openness and transparency of the business. According to the researche1~ most of the decisions taken at the corporate level do not involve employees to a large extent as a result of which employees feel isolated with the company's policies. In the last one yeru~ X conducted a 'Your Opinion' survey with all its employees around the business and that was the first time employees got a chance to give their opinions regarding their job satisfaction and the overall business. The researcher feels that if such activities are conducted on a much more regular basis, the ambiguity of the brand in terms of its openness and transparency will fade out in the due course.
5.4. Finding- category 2 (Enterprising)
Graph 3 illustrates the percentage of responses that were received from the internal employees regarding their attitude towards the 'X' brand in terms of 'Enterprising'.
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Measming corporate iden ti ty: a case study using a Corporate Personality Scale, p. 163-185
Graph 3. The attitude of the internal stakeholders about the 'Enterprising' natme of the X brand
How 'Enterprising' is the X Brnnd?
lntental Stakeltolder' attitude
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70.00% 60.00% 50.00% '0 40.00% 30.00% ~ 20.00% (<j
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Strongly Agree
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Brand Personality Attlibutes
The above graph represents the attitude of the internal employees about how 'Enterprising' the X brand is according to them. The researcher found very interesting findings in this category. Where 53% of the internal employees feel that the brand is 'imaginative' and 'innovative' nearly 70% of the employees feel that the brand is not at all 'extrovert' and 'daring'. Where 60% of the employees feel that the brand is 'up to date', only 35% of the employees feel that the brand is 'exciting' .
5.5. Comments -category 2 (Enterprising)
One needs to w1derstand that employees often like to work for enterprising organisations and customers like to buy from them. An important facet within enterprise is adventure and this is a creative facet. Most of the enterprising organisations are at the leading edge in its field. Now one might say that this applies to X as the company is one of the leading utility organisations in the UK. Howeve1~ this is true only in the case of its regulated businesses. And the reason for this is because the company more or less has a monopoly to provide the services in the North West England. In its non-regulated businesses, X is competing with a lot of other companies in the market. An enterprising organisation is also considered innovative. In case of X the company has come with innovative ideas only is its non-regulated businesses such as YC and W. The researcher does not suggest that X should totally change its Lusfada. Econo111ia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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brand's personality; however, the researcher feels that if the brand can utilise the enterprising capabilities of its non-regulated businesses and then reflect upon them, this would surely help ga in an 'enterprising' perception about itself at a corporate level.
5.6. Finding- category 3 (Competence)
Graphs 4 and 5 illustrate the percentage of responses that were received from the intemal employees regarding their attitude towards the ' X' brand in terms of its 'Competency'. Graph 4. The attitude of the internal stakeholders about the X brand in terms of its 'Competen cy'
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How 'Competent' is th e X Brand?
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Internal Stakeholders' attitude
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Brand Pea·sonallty Attributes
Graph 5. The attitude of the internal stakeholders about the X brand in terms of its 'Competency'
How 'Competent' is the X Brand? Internal Stakeholders' attitude
Brand Pe1·sonallty Attributes
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Looking at the above graphs it is not surprising to see that nearly 60% of the employees in Graph SA have a very positive attitude towards the 路brand in relation to competency attributes such as 'reliability', 'maturity', 'security', 'achievem.e nt orientation' and 'leadership'. The interesting views come out in Graph 5 where we can see a lot of movements in the line graph. In Graph 5 is surprising to see that in spite of a positive attitude towards the organisation's competency based on its corporate culture and professionalism, nearly 60% of the employees do not consider the X brand as 'original', 'unique' and 'exclusive'. Another 40% also think that the brand is not 'empowered'. 5.7. Comments- category 3 (Competence)
Competency is one of the major factors of employee and external stakeholder satisfaction. Most of the external stakeholders always want to feel that the company they are dealing with is reliable. Being in a competent organisation, employees will pride themselves on their hru:d work and long hours. They will be persistent in their search for handling their customers and other stakeholders well. Competent organisations also tend to employ those who score high on the equivalent human personality h:ait. In other words, the employees themselves will feel very confident and secure working with such an organisation. Organisation like X can demonstrate competence but they can also infer it in the way they present themselves to their external audiences. In case of X, competence should feature strongly in their communication strategies and their attempts to 'tangibilize' service quality. As a result, training rather than development is a more obvious strategy to use to improve upon its basic competencies. 5.8. Finding- category 4 (CHARACTER)
Before presenting the finding in this category, the researcher wants to justify why this category in understanding the overall attitude of the corporate brand is important. According to the researcher, brands are now more important that they have even been before. Like human beings, brands also have a 'character'; for example, if I relate 'Versace' to 'Marlin Brando', one can clearly understand the character of the Versace brand. What is important to realise is that using The Corporate Personality Scale (DAVJES, 2001) can help one understand how the stakeholders view the brand in terms of the various personality attributes. Howeve1~ the personality scale by itself does not provide a very rich understanding about the overall character of the brand. For example, a brand can be considered as competent, enterprising, stylish, reliable and achievement oriented. But all these attributes are just a part of the overall 'ch<u:acter' of the brand. The researcher feels that if there is only dimension that can help understand the overall character of a brand, then one does not really need to go about Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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doing an in depth research for each brand personality attributes. Let me give you an example. If we relate the 'Formula 1' brand's character to 'Michael Schumacher', it basically means that the 'Fl' brand is 'consistent' because Michael Schumacher has consistent wins, the brand is 'competent' because so is Michael, the brand is 'Agreeable' and 'reliable' because so is Michael, the brand is 'stylish' and 'enterprising' because so is Michael. What we see here is that relating the 'Fl' brand to 'Michael Schumacher' helps one understand the overall 'character' of the brand which includes all the possible brand personality attributes and its dimensions. For the purpose of this research, the researcher aims to understand the character of the X brand depending on the attitudes of the internal stakeholders. Graphs 6 and 7 illustrate the attitudes of the internal employees towards the overall 'character' of the X brand. Graph 6. The attitude of the internal stakeholders towards the overall 'Character' of the X brand What is the 'Character' of the X Brand? l11temal Stakeholders' attitude
, - Strongly Disagree ' - Dlsagt路ee Agree Stt路ongly Agree Brand Pet路sonality Attributes
G raph 7. The attitude of the internal stakeholders towards the overall 'Character' of the X bran d
W hat is the 'Character' of the X Bt路and'! I nter11al Stakeholllers' attit1ul e
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Measuring corporate identity: a case study using a Corporate Personality Scale, p. 163-185
The above graphs represent a very interesting view about the overall 'chm-acter' of the X brand according to the internal employees of the organisation. Both the graphs represent a lot of movements in the lines and it would be interesting to see in the analysis what the brand actually means to the internal employees. One of the interesting points to note in both the graphs is the movement of the 'strongly disagree' curve as compared to the pervious graphs. Looking at Graph 6, we can see that nearly 75% of the internal employees agree that the brand has a 'pleasant' character. On the contrary 20% also agree that the brand is 'aggressive'. This can be complemented with the rise in the 'agree' Iitle which shows that nearly 53% of the internal employees also feel that the brand is 'tough'. One interesting finding to see is that while a majority of the internal employees do not consider the brand as being 'selfish', nearly 55% of the internal employees do feel that the brand is 'inward looking' and 'authoritarian'. Alternatively, in Graph 7, the movement of the lines are very dramatic. Where less than 30% of the employees agree that the brand is 'snobby' and 'elite', more than 60% of the employees feel the brand is 'afflu ent' and 'independent'. One of the interesting points here is to note the dip in the agree ctuvc where less than 30% of the employees consider the brand as 'refined' and 'simple'. One of the striking featUJ-es of this graph is that nearly 60% of the internal employees consider the brand as 'profit oriented'.
5.9. Comments - category 4 (CHARACTER) Attitude can be defined as readiness to respond to a psychological object with some degree of favourab lcness. The evaluative reaction of favour or disfavour can range from extremely nega tive to extremely positive, through the neutral point, on a dimension such as: "good- bad", "pleasant- unpleasant", or "in favour- opposed" . "Attitude is a psychological tendency that is expressed by eva-
luating a particular entity with some degree of favour or disfavour" (Eagly & Chaiken, 1993). When referring to attitude towards a brand, il is very important to understand that small things in a brand really matter. Though the researcher does not merely argue that the apparently trivial can be important but more than that, the researcher argt1es that the most trivial and apparently inconsequential characteristics of b.rands can be the most important factors in shapi11g perceptions. This is precisely because they m路e so seemingly trivial. Indeed it is Lhe trivial characteristics of anyone and anything which are perhaps the mos t telling. Employees and external audiences, in forming impressions of brands, extrapolate massively from what little clues they are given. They also disregard the obvious main message in favour of small telling details. Just like people, brands have a 'character' about them, a certain set of emotions that m路e evoked by their very name and Lhe images associated with them. Combined with the brand's stated benefits, a brand's character helps distinguish it from its competition. A brand's character can reinforce its intellectua l advantages, and is a n
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essential prerequisite for helping to establish an ongoing relationship between the brand and its stakeholders. As it is said, "Character is what is inside of you that no one can see - it is what you do when no one is watching." At the end of the day, it comes down to this- what did you do today to live up to your brand? It's one thing to identify your brand, which is crucial to having an w1shakable knowing that no one can imitate you. However, it is another to live up to your brand day in and day out deepening your commitment and dedication to who you are, what you stand up for and the value you offer. Living up to the brand requires focusing the attention on self-improvement and on consistently doing your best. In the case of X, the researchers feel that having realized the overall 'character' of the brand as held in the minds of its internal stakeholders, the brand needs to renovate itself in. order to be perceived as more exciting to work for, more people oriented, more enterprising and more competent. The researchers argue that unless X makes an attempt to build a 'stronger brand character', it will not be able to reap the benefits that it is aiming for at present. There should be a level of excitement that needs to built internally because the internal employees are also the 'brand ambassadors' of the company and they play a very important role in building the overall perception of the corporate brand externally.
6. Discussion and Conclusions
Looking at the nature of the regulated business one might presume that it is quite difficult to differentiate youJself based on your product/services, since water will always be water no matter who is providing it. Howeve1~ the point of differentiation might then seem to be the 'quality' of your products and services. BUT, in the case of the regulated busiFailure to differentiate nesses in the United Kingdom, every region has one player in the market as a result of which differentiating on the basis of quality ca n increase customer satisfaction but not recognition. Hence the researcher recom.mends that along with differentiating yourself on the basis of your 'quality', X needs to differentiate itself on the basis of its brand essence and brand parity.
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In the non- regulated business, X faces competition. Differentiating itself from com petition means basing the company on a solid foundation. However, with the lack of integrated communi路 cations and the inability of the core brand to leverage its values across its non-regulated businesses, X faces a dilemma between what it wants to be looked as and how the external stakeholders actually perceive the brand. As a result, the researcher re路 commends tha t the strength of the core brand should act as a differentiating factor for the nonregulated businesses. This seems possible only if the external stakeholders view the non-regulated businesses as a part of the X group rather than individual brands competing in the market.
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Measuring corporate identity: a case study using a Corporate Personality Scale, p. 163-185 Table 2. The Branding mistakes that X shou ld avoid Looking at the nature of the regu.lated business one might pres ume that it is quite difficult to differentiate yo urself based on your productI services, since water will always be wate1路 no matter who is providing it. Howeve1; the point of differentiation might then seem to be the 'quality' of your products and services. BUT, in the case of the regulated busiFailure to differentiate nesses in the United Kingdom, every region has one player in the market as a result of which differenti ati ng on the basis of quality can increase customer satisfaction but not recognition. Hence the researcher recommends that along with differentiating yourself on the basis of your 'quality', X needs to differentiate itself on the basis of its brand essence and brand parity.
Presenting yourself with poor or no visuals
In the non-regulated business, X faces competition. Differentiating itself from competition means basing the company on a solid foundation. Howeve1~ with the lack of integra ted communications and the inability of the core brand to leverage its values across its non-regulated businesses, X faces a dilemma between what it wants to be looked as and how the external stakeholders actually perceive the brand. As a res ult, Lhe researcher recommends that the strength of the core brand should act as a differentiating factor for the nonregulated businesses. This seems possible only if the external stakeholders view the non-regulated businesses as a part of the X group rather than individual brands competing in the market.
The human brain re tains a visual image much longer than a mass of verbiage. As a result an organisation tha t presents itself using grap hics and multimedia elements s uch as animation, audio, and video is stays in the minds of its sta keholders far longer than without it. X uses its 'Green' logo very effectively in its internal communications via the intranet, published materials, posters, promotional materials etc., howevet~ it fails to do this externally. Depending on its vans with the x logo painted on them does not indicate effectiveness. The organisation needs to build its visual identity much more consistently to its external audiences through corporate advertising, sponsorships, print medium, television, promotional materials etc and it shOltld also be in line with its overall branding campaign. This will generate a positive psychological effect on its external audiences. Think abou t the positive feeling and the sense of identity that 'Sony' products create in the minds of its external stakeholders. One point that X needs to take care of is its non-regulated business brands. So when the organisalion builds its visual identity it should incorporate the non-regulated brands in such a way that it not only generates integration but also creates an image of an organisation with one brand (X) and united strands (W, YC).
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Inconsistent design of your website
A web site needs a lot more than a "cool look." It's got to sell your company and its products and services to people with very short a ttention s pans; prospects w ill surf to a competitor's s ite in seconds flat if they don't see immediately that you can meet a burning need. In today's marketplace, your Web s ite should be the cornerstone of your brand communications strategy. Every communication tool you create must drive prospects to your site-for s ubstanti ation, educati on, ins piration, and motivation. Website has always been considered as a marketing communications tool; however, this is not true. In today's world more than just marketing, a website stands fo r an organisation's overall brand values. For example, X recognised three core brand values: Responsible, Ente rpri s ing a nd Competent. Does its website reflect these valu es? According to the researcher, it does not. The website of X is very consumer focussed. If the organisation needs to create a strong corporate brand image, the website needs to communicate something for every external stakeholder. Also the non-regulated brands shou ld be clea rly highl ighted with every non-core brand show n to be associated with the corporate brand based on the ove ral l core brand values. So for exa mple, W and YC should reflect the 'enterprising' character of X. Contract Solutions shou ld reflect 'competency' .
Improper internal employee training concerning the corporate brand message
Since branding occurs anytime someone in your company comes in contact with your public, don't forget abou t your walking, talki ng billboards- your employees. They may be on the phone w ith clients, schmoozing prospects at networking events, or simply talking with friends and associates. In order to develop an integrated corporate brand image, X needs to train its employees across all its businesses to conduct themselves in a manner consistent with your brand message (e.g. responsible, enterpris ing, consistent), and they wi ll surely turn out to be goodwill ambassadors fo r the external stakeholders of the organisation. Training can be instructor-led or computer-based; both are effective as long as they're performed consistently.
Failure to integrate all forms of communication
It is important to realise that m ul ti ple impressions from different media motivate a prospect to buy more effectively than the same number of impressions from one med ium. X must shower its prospects with a strategically deployed combination of print, direct-mail, a web site, telemarketing, aggressive public relations, and sales presentations etc. all communicating a consistent branding message. The combined impact will be golden to your bottom line. In short, failure to integrate all forms of communication between the regulated and non-regulated businesses will not only create an inconsistent perception of the organisation, but will also fa il the organisation to be recognised as one brand with united strands ('strands' represent a ll the businesses).
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Measuring corporate identity: a case study using a Corporate Personality Scale, p. 163-185
Inconsistent and ineffective corporate identity
There is no surprise to see that the corporate identity of X in the regulated businesses is very different that in its non-regulated services. The company does not seem to have a consistent corporate identity across all its businesses and one of the major reasons for this is the lack of integration between what the regulated business communicates to its external stakeholders and what the non-regulated business communicates. Ineffective corporate identity is a sign that no matter the company is called X, there is no unity that exists in real terms, which in turn not only hampers the employees morale and perception but also affects the company's overall reputation at a corporate level. As a result, the researcher recommends that X has to develop a uniqlle value proposition for itself, its products and its services. This will result in distinct and relevant corporate identity that consistently conveys the vision, values, prominence and the corporate brand personality.
In this study, the researchers tried to understand the similarities and differences in the perceptions of the corporate brand of X within the organisation. The findings of the research revealed son1e very interesting issues that the organisation failed to recognise which in turn has led to the development of a 'confused brand image'. Most of the reasons for the 'communication gap' were found within the organisation. The researcher identified that there was a misaJigmnent between the purpose and values of the organisation and the corporate brand. There was also a misalignment found between the values of the corporate brand and the values of the non-regulated business brands of the organisation. As a result, the researcher has made several recommendations which will help the organisation bridge the communication gap across all its businesses and stakeholders. The three critical considerations that the researcher has recommended for developing the corporate brand of X are: â&#x20AC;˘ Clarity to cut through the complexity and confusion that exists in the overall perception of the corporate brand. â&#x20AC;˘ Integration of communications across all the businesses and development of the corporate brand which is consistent in terms of its values for both the regulated and non-regulated businesses. â&#x20AC;˘ Consistency both in the behaviour of those in the leadership positions (the senior executives of each business within the group) as well as in the core messages that are communicated within and outside the organisation. Adhering to these first principles is likely to diminish the 'communication gap' that currently exists, and in turn enable X to become more effective in commw<icating consistently across all its businesses and stakeholders. It will also Lusiada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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help the organisation develop a stronger corporate reputation and much more positive corporate brand perception.
7. Managerial implications Summa1·y of the overall brand perceptions held by the intemal stakeholde1·s
Branding. When most people hear the word, they think of branding in terms of prospective customers, or the existing ones. Essentially, they think of branding as an externally focused business function. But what about communicating the brand to your internal customers - your employees? Employees are walking, talking advocates for your brand. Howeve1~ most companies spend little time, attention, or money on internal marketing and branding, such as making sure employees understand the brand and communicate it well. In many ways, selling the brand on the inside is more important than selling the brand on the outside. There is no shortage of reasons why companies should embrace the concept of internal branding: it leads to increased corporate loyalty and job longevity; employees are better able to serve customers because they understand the brand promise; employees who believe in the brand work harder, and better. But most importantly, when employees are brand champions, they create brand differentiation for your external audiences. This is something haxd for cornpetition to replicate. This differentiation becomes part of art organization's brand edge on the competition, and employees add the edge. It is important to understand that employees as part of the brand differentiation are critical on the brand battlefields of the future. "The 4 P's (product, p1·ice, promotion, and placement) are all 1·eplicable by competitors; the only thing not replicable is the fifth P, the personality of the organization, its brand or its people." To truly get the greatest benefit, internal branding must be a dialogue. After all, employees are a great resource of information on the brand. In the case of X, it was found that the overall brand perception of the internal employees was 'fairly positive'. . · In a nutshep, the internal employ~ees ~f the ~r~anizatio~t, v\ew the . 'X' b1and as ma,t ure, reliable, !?·~cure, faitJy coiupetent and fairly enterpris)ng. On the conh·ary, the inten1al employees also consider the brand as profif oriented, unoriginai,_ no.t" u~ique, and fai~ly. selfish witll lack of tra~t~par~ncy.',.
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GESTAO DA MARCA N O AMBITO DOS SERVI<;OS: 0 TRABALHO TEMPORARIO
Joana Madureira Mestre em GesU'io pela Universidade Lusfada de Lisboa
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n.â&#x20AC;˘ 9/200~
Resumo: Com o intuito de analisar a gestao de uma marca no mercado de em particular no sector do trabalho temporario, elaborou-se uma ca1·acterizac;ao dos servic;os em conh·aposic;ao com os produtos. Cumulativamente, desenvolveu-se o tema da marca nos servic;os numa perspectiva bipolar: aspectos tangfveis e intangfveis, tomando o exemplo da empresa Manpower, pioneira em Portugal na cedencia temporaria de trabalhadores, desde 1962. A partir de uma analise ambiental e concorrencial ao mercado de servic;os de trabaHlO temporario, verificou-se a existencia de 262 cmpresas de trabalho temporario a laborar em Portugal. Atraves de um inqwhito aplicado, observou-se a primazia de determinadas marcas em relac;ao a outras. OperacionaUzaram-se hip6teses para inferir o reconhecimento da Manpower no mercado. Tendo em conta as constantes alterac;6es econ6mico-empresariais, (e. g., fus6es e aquisic;6es), o trabalho temponirio surge como uma tematica a carecer de constante investigac;ao, uma vcz que, por um !ado, permitiria informa~ao actualizada sobre o sector e, por outro, ajudaria a realc;ar a necessidade de investimento na marca de forma a combater o desconhecimento e desconfianc;a relativamente a esta actividade. servi~os,
Palavras Chave: Servic;o; mercado de servi~o; marketing-mix; trabalho temponirio (TT); marca; gestao; Manpower Portuguesa, S. A.
Abstract: The goal of the present work was to analyse the way in which a brand in the service mru·ket can be managed, particularly in the temporary work sector. The chal'acterisation of services, in contraposition to products, was carried out. Additionally, the brand theme was developed in two different perspectives: tangible and intangible aspects, taking Manpower- pioneer in the Portuguese temporary work sector since 1962- as a prime exa mple. The analysis carried out on the environment and competition led one to conclude that there ru·e 262 temporary work agencies operating in the Portuguese market. Likewise, a brief survey turned out that some brands are more reputable than others. A few approaches were undertaken to ascertain whether Manpower is considered a «top of mind» company. Taking into consideration the constant economical and entrepreneurial changes (joint-ventures and acquisitions) and the near non-existence of temporary work-related studies, this theme lacks ongoing research in order for one to have an accurate and cunent understanding of the subject. Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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Joana Madureira
1.
Introdu~ao
Quando se menciona os conceitos mm路keting e marca, tender-se-a a evocar um produto associado, mas com menos frequencia se pensa num servi~o . Mesmo a um nfvel te6rico ou ate academico, a exemplifica~ao da gestao de wna marca e facilitada quando se refere a algo palpavel, ffsico como urn. produto, ja que pennite a visao, a associa~ao, a experimenta~ao fisica. Contudo, nos servic;os nem sempre e assim. Por tudo isto, torna-se pertinente explorar as diferenc;as entre um produto e um servi~o. Sendo o sector dos servi~os tao Jato, a escolha de um sub-sector de actividade demonstra-se essencial para uma melhor explorac;ao do tema: o mercado de servic;os de trabaJho temporario (IT) e a forma como estas empresas podem levar a cabo a gestao da sua marca. Assim, ao longo deste artigo, procurar-se-a explorar as quatro caracterfsticas de urn servic;o e o composto de marketing (marketing-mix) necessaria para a gestao de uma marca nos servic;os, em particular no Trabalho Temporario. A marca e os atributos que a compoem tambem serao abordados, recorrendo sempre que possfvel a informac;oes sobre a Manpower Portuguesa, Servi~os de Recursos Humanos (Empresa de Trabalho Temporario), S. A (doravante Manpower). Por ultimo, elaborar-se-a uma breve analise ao mercado concorrencial do TT e a Lilll inquerito aplicado a uma amostra aleat6ria de individuos para apurar as cinco ETT mais evocadas. Segue-se a operacionaliza~ao estatfstica de algumas hip6teses para saber ate que ponto a Manpower se revelava a empresa mais mencionada em func;ao quatro variaveis genero, idade, distrito de residencia e situac;ao laboral e a analise de conteudo aos possfveis factores considerados mais importantes numa ETT. Antes porem, procurar-se-a clarificar o conceito de mercado de servi~os.
2. Mercado de
Servi~os
A palavra servi~o tem associado a si varios conceitos. 0 servic;o, no ambito !aboral, pode ser entendido como uma acc;ao de alguem (ou algol) prestada a outrem (e. g., urna ernpresa a urn cliente, normalmente em troca de algo). Para KOTLER (1998, apud COTA, 2006, p. 18), servic;o e qualquer acto ou desernpenho que uma parte pode oferecer a outra, que detenha a qualidade de intangfvel e nao seja resultado da propriedade de algo, ainda que a "sua prodw;ao pode ou nao estar vinculada a um produto ffsico" .
J Autores como ElCUI'.R e LANGEARD (1998: 16), consideram. que os servio;os tambem sao prestados por maquinas.
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Gcstao da marca no ~mbito dos scrvi~os: o trabalho temponi.rio, p. 187-215
De acordo com LOVELOCK (1983, apud COTA, 2006: 18), independente da sua tangibilidade, um servic;o pode favorecer directamente algo ou alguem. Em ambos os casos, e ainda de acordo com aquele autor, verifica-se que: ~
Se tiver a propriedade de tangfvel, o acto do servic;o pode ter como finalidade o bem ffsico das pessoas (e. g., sat'tde, restaurac;ao, ginasios, etc.), ou bens e outras posses ffsicas (e. g., transportes de carga, manutenc;ao, entregas, etc.);
~
Se tiver a propriedade de intangivet o servic;o pode beneficiar o espfrito das pessoas (educac;ao; Jazer; cultura; trabalho; etc.) ou permitir posses intangfveis (seguros, acc;oes, banca, etc.).
Assim, tal como indica COTA (2006: 18), a noc;ao de servic;o nem sempre permlte uma clara distinc;ao de produto, ja que a sua prestac;ao pode estar associada a cste ultimo. Frulo da reestruturac;ao do sistema produtivo e do desenvolvimento da economia e crescente induslrializac;ao, impulsionado pelos avanc;os tecnol6gicos e mudanc;as estruturais ao Iongo das ultimas decadas, denolou-se um crescimento dos servic;os especialmente na actividade terciaria (comercio, educac;ao, saude, servic;os pessoais em geral, entre outros). Os servic;os podem ser orientados para a satisfac;ao da procura final (traduzem-se no auxflio prestado diariamente, reduzindo o tempo de execuc;ao das tarefas), ou voltados para o auxflio as empresas (areas muitas vezes externas e/ ou paralelas ao core business); ou am.bas, como no caso das ETT2 - as empresas de prestac;ao de servic;os de 1T, visam prilnordialmente salisfazer as necessidades de mao-de-obra no m.ercado de trabalho (empresas e candidates, dada a relac;ao tripartida), sempre que estas sao imprevisfveis, pontuais e de curta durac;ao, ou seja, tem.ponhias. Segundo fonte da OCDE3 (2000; apud COTA, 2006, p. 12), aponta-se uma trfade de factores que explicara o recurso a servi~os em gerat em regime de outsourcing: custo e eficiencia; competencia; e especializac;ao.
2.1. Caracteristicas dos Servi9os
De acordo com alguns autores, de entre os quais COTA (2006: 17), KOTLER e ARMSTRONG (1991 : 413) e LINDON eta/. (2000: 536), os servic;os detem quatro
2 Empresa de trabalho temponhio: pcssoa individual ou colectiva que cede trabalhadores tcmporariamente a utilizadores (empresas clicntcs ou Empresas utilizadoras - EU), de acordo com lcg isla~iio para o efeito. 3 OCDE: Organiza~ao para a Coopcra~ao eo Dcsenvolvimento Econ6mico.
Lus(ada. Economia & Empresa, Lisboa, n.â&#x20AC;˘ 9/2009
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Joana Madurei(a
caracterfsticas que condicionam toda a actividade deste sector e constituem a principal preocupa<;ao no que se refere a sua gestao. Sao eles: A Intangibilidade - "Os servic;os sao imateriais" (LINDON et al., 2000: 536), "i:ncorp6reos". Ao conh·ario dos produtos, nao se observam caracteristicas fisicas nos servic;os, ja que nao se podem comparar ou experimen-
tax antes de se adquirirem; A Inseparabilidade - refere-se ao facto dos servic;os serem simultaneamente produzidos e consumidos. 0 cliente encontra-se no local onde estes se «produzem», ou seja, assiste a «servucc;ao» dos mesmos (EIGUER e L ANGEARD, 1991; apud LINDON et al., 2000: 540); A Heterogeneidade - "A qualidade dos servic;os e heterogenea" (LINDON et al., 2000: 536). Os serv:ic;os nao sao prestados de forma igual como nos produtos. Ao inves, eles sao totalmente dependentes de quem o presta e do seu desempenho; A Perecibilidade - os servic;os tendem a atingir um limite maximo de «Servucc;ao» e nao podem ser acwnulados em stock (o conceito mais aproximado poderao ser as filas de espera para se obter um servic;o) (COTA, 2006: 25);
2.2. Distinqiio de Produto e Servirro
Verifica-se diariamente uma dificuldade em identificar produtos e servic;os estritamente «puros>>. A maior parte das empresas trabalham num continum intermedio- um. produto tendera a depender sempre de urn servic;o associado, assim como o servic;o tendera a depender sempre de algo ffsico. Veja-se a figura seguinte (Fig. 1): Fig. 1. Continum de (in)tangibilidade entre produtos e servi~os .
Scr,·i,o associado a um Pn.l{hno
Alimentos con feccionndos (en l:•fados)
•
Aquisi-.:ao de um
P•·onto a comC!r
Viagcm de nvii\o
nutom6vel
(se{(-ser••i ce)
(I1'011Sp. acrCO)
Compo nent< lllng ivcJ do l'roduto
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1
~ Consulto rhl (de IHI); Tl':lbnlho
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1\'0 <.: Pun m
Comi)()I1Cillc imangivcl do f>rodutc..l
I f
- - __ , - · ·- - - ·- ... _j Fontes: Adaptado de Berry e Parasnman, 1991 (npud Cota, 2006: 23); adaptado de Lindon et nl., 2000: 537.
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Cada uma das quatro caracterfsticas dos servic;os apresenta problemas e exige estrategias (KOTLER e ARMSTRONG, 1991: 422), razao mais que suficiente para que o Ma-rketing-Mix dos servic;os se distinga do dos produtos, ao incluir mais componentes. A tabela 2 serve como ilustrac;ao dessas distinc;oes: Tabela 2. Marketing-mix de produtos e de
Mnrketi11g-mix do Produto 4 P's
Product- Produto; [Service]- Servi~o (e. g. p6s-venda; conceito e posi~ao segundo Doyle, 1993: 23); Price- Pre~o; Promotion- Comunica~ao e Promo~ao; Place- Distribui~ao.
'
servi~os-
os P's constituintes
Markeli11g-mix do Servit;o
''
~
Product - Servi~o; Place- mom en to e local; People - Pessoas; Process- Processo e prestac;ao; Produtivih;- Produ tividadc e qualidade; Promotion - Comunica~ao e Promo~ao; Physical evide11ce- Prova I evidenda fisica; Price - Pre~o e outros custos do servi~o.
Fonte: Elaborar;iio propria, com base no 11mrkeli11g·mix; (Kotler e Armstrong, 1991: 403-122).
De seguida explora-se cada urn dos componentes do marketing-mix dos servic;os tendo em conta a possivel gestao no mercad.o de servic;os, em especial noTT.
3.1. 0
servi~o
prestado
No marketing-mix dos servic;os, o P de product e representado pelo servic;o a prestar. No entanto, ele faz parte do momento da prestac;ao. Para EIGLIER e LANGEA RD (1998: 16), o servic;o eo objectivo de todo o processo de «Servucc;ao» (con\0 o produto o e da produc;ao), assim com.o o e o seu resultado. 0 servic;o resulta da interacc;ao entre tres elementos fun.damen.tais: o cliente, o suporte ffsico eo pessoal de contacto. No caso do IT, os dois tipos de clientes principais serao entao os candidatos e as empresas. No caso da prestac;ao de urn servi~o de IT, sera essencial que este servic;o detenha, no minimo, as caracterfsticas base (ou nucleares) que o cliente habitualmente considere imprescindfveis. Adicionalmente, o servic;o pode apresentar a possibilidade de personaliza<;ao, ou acrescentar oulras mais valias (servi~o periferico ou suplementart como forma de beneffcio ou maior agrado para o cliente. 194
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Gestao da 111nrca no ~mbito dos sc rvi'>os: o trabnl ho tcmpor<l rio, p. 187-215
A presta~ao de scrvi~os, de urn modo geral, tambem varia de acordo com quem (pessoal) ou o que (maquinas) o presta (KOTLER, 1998: 412). Se por um !ado isso influencia na homogeneidade dos servi~os a presta1~ por outro facilita a presta~ao de servi~os personalizada (desenhado a medida do cliente vs. stn 11dard dos produtos identicos c produzidos em serie), q\.1e pode.ra ser a aposta forte no mercado dos servi~os, na tenlativa de combater outros factores (e. g., concorrencia). Sendo diffcil de manter a originalidade de urn servi~o, como comprova CorA (2006: 46), assim como surgir com o factor inovat;ao, nao deverao ser descurados no marketing-mix de servit;os os elementos estratcgicos, especialmente no que conceme o envolvimento de clientes, novos servic;:os e factor tempo. Retomando a perspectiva de DOYLE (1993: 23), poder-se-a incluir outro derivado do serv i~o: o servi~o de apoio, uma vez que o servit;o (equivalente ao produto) pode apresentar inconformidades (falhas) na sua prestat;ao.
3.2. 0 processo de
presta~iio
de
servi~os
0 servic;;o tarnbem pode ser considerado urn processo semelhante ao de produt;ao, composto por urn metoda e uma sequencia. 0 conceito de «Servuq;ao» - «SERVice» e «prodUC1'/0N» -surge por ElGUER e LANGEARD (1998: 7-8) com a ambi~ao de transpor para os servic;;os o rigor habitual no fabrico de produtos, em que nada e deixado ao imprevisto. 0 modelo «servucc;:ao» da empresa de servic;;os e definido como: "a organiza~ao sistematica e coerente de todos os elementos, fisicos e humanos, incluindo no interface cliente-empresa, necessaria para a reaJizat;ao de uma presta~ao de serv i ~o cuja caracterfsticas comerciais e nfveis de qualidade foram pre-determinados" (idem, 2002; apud COTA, 2006: 48). No entanto, a dificil padronizat;ao dos servi~os complexifica a gestao do processo. A inclusao do cliente como elemento do sistema e urn factor que levara a alguma hetcrogeneidade (sem prejufzo da personalizat;ao), assim como a presta~ao ser feita por pessoas. Entao, tender-se-a a concordar com EIGLIER e LANGEARD (1998: 21), quando indicam que implicitamente o servit;o emanifestamente inexacto. No caso dos clientes habituais, o valor do conhecimento podera ser wna mais valia. Para GRONROOS (in SWARTZ e lACOBUCO, 2000: 15), "the heart of marketing of services is how the service production process and service consumption process match each other, so that costumers perceive good service quality and are persuaded to continue patronizing the same service firm". No TT, o servit;o tem duas fases: as fw1t;5es de back office da EIT e a selec~ao final dos trabalhadores pela EU, momentos com parti cipa~ao distinta na «Servuc~ao» .
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3.3. 0 prefO do servifO De acordo com KOTLER (1998: 435), este eo (mico elemento do composto do marketing que (directamente) gera receita, uma vez que os restantes componentes (P's) do marketing-mix geram custos. 0 prec;o refere-se a todo o tipo de custos em que o consumidor incorre para obter urn. determinado scrvic;o. Apesar das tentativas de fidelizac;ao de clientes por parte das marcas, fornecendo valor acrescentado aos seus servic;os, a intensa concorrencia nos servic;os representa uma das principais dificuldades no estabelecimento de prec;o (idem, ibidem). Perante o vasto mercado concorrencial de servic;os de TI, com ofertas personalizadas e o mesmo nfvel de qualidade (percebida), o cliente tenden:'\ a optar prec;o mais acessivel/justo ou tendera a negociar o valor final. 0 prec;o e considerado como uma caracterfstica do servic;o e urn elemento determinante na formar;§.o da preferencia/ lealdade do consumidor pela marca (OLlVElRA, 2004: 35) e tambem pode ser usado como uma tecnica promocional (BROCllAND et al., 1999: 542). No TI, OLIVEIRA (2004: 35) menciona o dumping4 (cobram comissoesproximas de zero) existente, que afecta os prec;os praticados e a forte concort:ehda neste sector. De acordo com Lindon et al. (2000: 546), o equillbrio entre a oferta e a procura pode igualmente passar pela politica de prcc;os capaz de :~ctuar sobre a procura. A gestao ideal da marca de servic;os, sera aquela que con.~egue prestar o servic;o que acrescente algo mais do que os seus conconentes.
3.4. A produtividade e a qualidade do servifO
Para PAVIA (2004: 161), a produtividade sera a "relac;ao existente entre a produ<;ao e os recursos usados na mesma" ou o "partido ou proveito que, em termos de poupanc;a de tempos e de volume e qualidade de prodw;ao, se pode obter de uma equipa, instalac;ao, produto [ou servic;o], etc.". Nesta definic;ao, quer o termo «produtividadc», quer o termo «qualidade», se interceptam e nem sempre se demonstram de pacifica distinc;ao. Se, nos produtos, a produtividade tern uma componente quantitativa (e. g., n(tmero de outputs ou unidades produzidas), no mercado de servic;os a produtividade percepdonar-se-a de forma diferente - a capacidad.e de resposta perante a procura e alcance do servic;o requisitado. No caso particular dos servi~os de TT, estando o conceito de produtividad.e intimamente ligado a qualidade, 0 segundo poder-se-ia percepcionar pela celeridade do servic;o prestado, tendo em conta o primeiro (grau de eficiencia ou resultado alcanc;ado). 4 Dumping- "pratica de venda de um bem (... ) ou a u m pre<;o inferior ao praticado internamentc no mercado, ou a baixo dos custos de produ<;iio" (MATGUS & MATEUS, 2002: 676).
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Gestao da marca no ilmbito dos servic;os: o trabalho temponirio, p. 187-215
A avaliac;ao do consumidor tambem pode incluir o conceito "tempos de espera" . As autoras SwARTZ e IACOBUCCI (2000: 174-175) analisaram um conjunto de pesquisas ao fen6meno "wait experience", efectuados tanto em contexte laboratorial como em contexte de campo e identificaram tres variaveis-chave na "wait experience": Durac;ao percebida; Reacc;oes afectivas; Avaliac;oes do servic;o. Para PAVIA (2004: 169), a qualidade pode ser entendida como a "capacidade de urn produto de satisfazer as motivac;oes para cuja satisfac;ao foi concebido, quer sejam emocionais quer racionais". De acordo com COTA (2006: 47), a avaliac;ao da qualidade de urn servic;o "e revestida de elementos subjectivos''. Ainda no campo do TT, o trabalhador temporario tam.bem poderia percepcionar a qualidade pelas condic;oes de t·rabalho que tern, pelo cumprimento do que fora acordado, entre outros.
3.5. Local de prestariio dos servifos
Enquanto que ao nfvel do produto aqui se desenvolveria, por exemplo, a distribuic;ao (KOTLER e ARMSTRONG, 1991: 405), ao nfvel dos servic;os trabalha-se o local da sua prestac;ao, considerado um elemento tangfvel e visivel, associado ao servic;o5. EIGLIER e LANGEARD (1998: 66) referem-se ao local da prestac;ao do servic;o o suporte ffsico onde se encontra todo o material necessaria a prestac;ao do servic;o, seja ele ao nfvel de instrumentos a utilizat~ quer seja a nfvel do pr6prio ambiente - o que envolve o material, ou seja, a localizac;ao, as instalac;oes e a decorac;ao. No caso do TT, a secretaria do consultor (escrit6rios abertos ao publico) costuma ser, na grande maioria das vezes, o local onde este «produz» o servic;o a candidates e clientes. SWARTZ e IACOBUCCI (2000: 21) avanc;am a metafora "service as theater", em que o local de prestac;ao do servic;o pode ser visto como urn cenario teatral, o "setting", e o pessoal de contacto os seus actores. Tudo o que e visfvel para o cliente, pode funcionar como urn «cartao de visita» e urn convite a voltar: a organizac;ao do espac;o, os equipamentos utilizados, a decorac;ao adequada a imagem e valores da marca, combinado com a estrategia de posicionamento que se pretende, o ambiente (clima) percebido, assim como a capacidade organizativa dos consultores de servic;o - quer em termos de objectos ffsicos, quer em tennos de intercomunicac;ao de equipa. EtGUER e LANGEARD (1998: 67) admitem que a concepc;ao de um suporte fisico funcional e de ambiente, ou nas suas palavras, "performante", nao e facil. 5 0 canal utibzado para a "entrega" do servic;o pode ser presencia! e/ou electr6nico, dependendo do cariz do servic;o a prestar.
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Assim, nao havendo solw;oes ideiais, os autores (ibidem) sugerem a procm路a de compromissos inteligentes, na procura pelo equilibria entre o relacional eo fundonal na gestao do pessoal de contacto e seu suporte fisico. Neste seguimento, surge como pertinente na estrategia de marketing de servi~os incluir a decisao sobre a conveniencia do momenta e do espa<;o da presta~ao do servi~o, assim como a rapidez da sua entrega (factor tempo), condic;ao cada vez mais determinante para o consumidor dos servic;os.
3.6. A evidencia fisica De acordo com GROVE, FISK e JOHN (in SWARTZ e IACOBUCCI, 2000: 21), "you can observe a lot just by watching". No caso dos servi~os as evidencias fisicas constituem comunica~ao do que e intangfvel e pode ter varias representa~oes: "the service workers scurrying about creating the service product, the ambience of the service establishment, the other customers sharing the service setting, and the acumen with which the service is enacted". Apesar se encontrar no local de prestac;ao de servi~os a evidencia maior - o asseio, a luminosidade, a comodidade do espac;o, entre outros aspectos este conceito pode ser bem mais abrangente, podendo inclusivamente estender-se aos pr6prios colaboradores (GROVE, FISKe JOHN, in SWMTZ e IACOBUCCI, 2000: 33). Assim, de acordo com autores como GROVE, FisK e JoHN (in SWARTZ e IACOBUCCI, 2000: 33), o como o servic;o e prestado e tao importanto como o que e prestado, sugerindo que a prestac;ao visfvel do servic;o seja encarado pelo pessoal de contacto como uma performance teatral, num esfor<;o para manter o interesse e o agrado da sua audiencia (clientes). Para assegurar uma performance credivel, e necessaria uma forte orienta~ao para o cliente.
3.7. As pessoas na prestar;iio de servir;os
Seja directa ou indirectamente, a prestac;ao de urn servi~o depende sempre da interacc;ao directa entre um cliente e urn prestador ErGLIER e LANGEARD (1998: 16). E esta relac;ao interactiva que tambem condidonara a percepc;ao de qualidade de servi<;o por parte do cliente (idem, 1998: 48). Aqueles autores ainda acrescentam outro elemento: a importancia da organizac;ao interna entre o pessoal de contacto e o suporte fisico. EIGUER e LANGEARD (1998: 17) consideram con1o organizac;ao interna todas as fw1c;oes classicas da empresa, como finan~as, marketing, pessoal, assim como func;oes de apoio necessarias a realiza~ao do servic;o como a limpeza, manuten~ao, entre outros. 0 pessoal de contacto que ocupa a posi~ao critica do ponto de vista do marketing: "personifica a empresa aos olhos do cliente" (idem, ibidem). 0 sector 198
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Gestiio da m arca no ambito dos servi<;os: o trabalho temponhio, p. J87-2J5
de TT insere-se num ambiente altamente competi.tivo e homogeneo, em que os consultores de contacto podem constituir a diferen~a, atraves da sua orienta~ao para o cliente e na medida em que, na u1tangibilidade, se tornam responsaveis pela qualidade do servi~o que prestam. A literatura refere aind que ter colaboradores motivados, bem formados e justamente remunerados e a triade base para o bom desempenho profissional.
3.8. A comunicar;iio e a promor;iio
A intangibilidade tfpica dos servi~os dificulta a materi.ali.za~ao das suas caracteristicas e beneficios, representando uma barreira a comunica~ao (em contrapartida, os produtos tem um suporte material visfvel) . A comunica~ao da marca de servi~o pode ser efectuada com base em todos os aspectos anteriormente desenvolvidos e todos eles constituem evidencias para o seu pl1blico-alvo. Quer internamente (colaboradorest quer externamente (dientest a comunica~ao do servi~o e vital em varios aspectos: presta informa<;ao, por sua vez importantes a persuasa.o do pl1blico-alvo relativamente aos beneffcios de um servi~o e transmite a sua forma de obten<;ao pelo cliente em m.omentos espedficos. Cre-se que a presen~a de um factor visual, tangivel, constitua um elemento de com.unicac;ao da identidade da marca. DUARTE (2005: 113) indica que "a inclusao de imagens melhora a crenc;a na marca, a avalia~ao do produto [ou servi<;o] e a atitude (.. .)" face ao bem que aquela presta. A marca e um elemento comllln entre produtos e servi~os. A principal diÂŁeren<;a da comunicac;ao do primeiro para o segundo recai no mom.ento do consum.o, uma vez que a essencial comunicac;ao a venda do produto precede a mesma. A comunica<;ao pode ser veiculada atraves de varios instrumentos promocionais (BROCHAND, 1999: 44): individualmente, atraves da for<;a de vendas, consumidores ou mass media.
3.9. Os factores situacionais
Para alem de todas as variaveis ja exploradas no presente trabalho, sera relevante mencionar m.ais uma: o factor da situac;ao. 0 factor situacional "compreende os factores presentes num determinado momento e Iugar que nao resultam das caracterfsticas do consumidor ou do objecto (altemativa) da escolha, mas possuem uma capacidade irrefutavel de influenciar o comportamento" (BELK, 1974 e 1975; apud DUARTE, 2005: 117).
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4. AMarca
A cada servi<;o prestado por uma empresa, procura-se atribuir uma identifica<;ao que o diferencie dos restantes no mercado: urn nome e/ ou uma imagem associada- marca, como intuito de o divulgar e comercializar- marketing. Mas tal como DUARTE (2005: 13) constatou na sua pesquisa sobre o tema, a defini<;ao e delimita<;ao do conceito da marca nao parece ser pacffica. Autores como GOODYEAR (1993, apud DUARTE 2005: 14) e KELLER (2003, apud idem, ibidem), entendem a defini<;ao da marca como "urn produto ao qual foram adicionadas outras dimensoes, que o diferenciam de alguma forma de outros produtos concebidos para satisfazer a mesma necessidade". L ENCASTRE, (2007: 39), indica que a Uniao Europeia6 (UE) encara a marca de uma forma mais abrangente: "Todos os sina is que possam ser objecto de uma re presentac;ao grafica, nomeadamente palavras, incluindo nomes de pessoas, d esenhos, letras, numeros, a forma do produto ou a sua embalagem, desd e que tenham capacidade d e distin guir os produtos e servic;os de uma empresa dos de outras empresas" .
Apesar da men<;ao da marca aparecer habitualmente mais associada ao conceito de «produto», pelas caracterfsticas avan<;adas na literatura parece que tambem o servi<;o pode ser abrangido nas defini<;6es de marca. Alias, KELLER (2003; apud idem, ibidem) acrescenta que as dimensoes identificadas naquela defini<;ao podem ser racionais e tangfveis ou simb6licas, emocionais e intangfveis, caracterfsticas estas divididas entre o produto eo servi<;o a que a marca se propoe identificar. Assim, a marca consiste num agregado de elementos, geralmente imageticos, que permitirao distinguir o(s) produto(s) e/ ou servi<;o(s) de uma empresa do(s) das restantes concorrentes. E habitualmente subjugada pela gestao das organiza<;6es a urn nome sugestivo, sfmbolo, sinal ou desenho emotivo, ou a urn simples somat6rio de todos estes elementos, criando uma identidade pr6pria e unica de urn produto I servi<;o, visando agir sobre o me rcado com o intuito comercial de venda.
4.1. Agestiio da marca eo mercado de servi{:OS
Ao nfvel de estrategias de marketing, existem autores, como KOTLER (1998: 431), que defendem que o mercado dos servi<;os se encontra menos desenvolvido que o mercado dos produtos, apesar de gradualmente se estar a modificar.
Regulamento (CE) n. 0 40 / 94 do Conselho, de 20 de Dezembro de 1993 - regime legal s upranacional que institui a «Marca Comunitaria», valid a para todos os pafses da UE (LENCASTRE et nl., 2007: 77). 6
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Gestao da marca no ambito dos servic;os: o trabalho tempor<hio, p. 187-215
Outros, como COTA (2006: 44), admitem que o marketing de produtos e o marketing de servic;os, nao diferem muito na sua essen.cia. Autores, como GRONROOS (in SWARTZ e IACOBUCCI, 2000: 13), avanc;am com criticas argumentanto que os servic;os nao diferem assim tanto dos produtos e que as suas caracterfsticas nao sao s6 apanagio dos primeiros, podendo mesmo serem aplicadas aos segundos. No ponto de vista de SANTOS e Roxo (in EIGLJER e LANGEARD, 1991: 210), deve-se encarar "o Marketing de Servic;os como uma identidade, nem igual nem djferente, mas uruca". Assim, parece comum a ideia que na concepc;ao e implementac;ao do marketing de servic;os, sera necessaria uma adaptac;ao a 16gica da especificidade dos servic;os em si. Para a representac;ao de uma marca, ehabitual a atribuic;ao de um simbolo. Deve-se ter em atenc;ao que uma marca conduz a va.rias significac;oes, de entre as quais KOTLER (1994: 394) destaca seis: Tabela 3. Niveis de significado da marca- aplica~ao do exemplo na marca Manpower
I.:"
••~,,;;'::. J.''
. At.i-ibuto' ·'
"
;.
Beneffcios ,.,i!,;
Trabalho Contemporaneo
Por sua vez, os beneffcios sao aquilo que o cliente "compra" ao adquirir o produto ou servic;o, e podem ser funcionais e/ ou emocionais (e. g. Sucesso do servic;o e Prestfgio na parceria com a marca).
Recorrer aManpower e obter uma solw;ao a medida, e uma parceria de prestigio, a prec;o justo.
A marca tambem transmi te muito sobre o seu criador
e os valores pelos quais se rege (e. g. Oportunidade
Valores'
de emprego sem preconceitos de ida de, genero, ra<;a, cren<;a ou deficiencia) .
. ,.
A cultura de uma m.arca tambem e transmitida aos seus clientes (e. g., nacionalidade ou regiao).
Cultur<i'. ~,,
A rna rca pode levar-nos a associar a dimensao ' de personalidade, personificando a marca num ser ~ersop~lldade·,
·'.
,.;-·
.. .
:::
Manpower What do you do?
A marca leva-nos a evocar determinados atributos que associamos a urn produto ou servi~o, tal como prec;o ou rapidez de execw;ao, e os quais geralmente sao usados na publicidade a marca (e. g. slogan).
ou objecto, ou ate assumir trac;os de personalidade da pessoa conhecida que a publicita.
·c;. ;!;.''8',. '·' .,, Sugere tambem o perfil do seu utili zador, fmto ,,, das associac;oes que se cria em torno do produto ou servic;o daquela marca. De igual forma, Utilizad.9r este utilizador dever-se-a identificar com os valores, ' a cultu ra e a personalidade. .,
.. ..
Tema Manpower 2007oportunidade de emprego sem preconceitos Manpower = EUA Manpower= poder masculine Vs. chefia e emancipac;ao da mulher no mundo do trabalho Manpower- dientes: empresarios; candidatos: com algum grau de maturidade.
Fonte: Adaptado de Kotler (1994: 394).
Nao obstante ter presentes os seis atributos (Tab. 6), uma empresa pode optar por centrar a sua marca com maior profundidade em determinados Lusiada. Economia & Empresa, Lisboa, n .0 9/2009
201
joana Madureira
nfveis. Assim, de acordo com KOTLER (ibidemt os nfveis que apresentam maior consistencia e firmeza a uma marca sao os valores (terceiro nivel), a cultura (quarto nfvel) e a personalidade (quinto nivel) sabre os quais se rege e com os quais o seu utilizador (sexto nivel) se identifica. Sendo urn domfnio complexo, optou-se par se explorar os componentes que mais interferem na gestao de uma marca nos serv i<;os. De acordo com DuARTE (2005: 20), estes componentes podem-se subdividir em elementos tangfveis e intangivcis. Como exemplo surgem as pessoas, o nome da marca, o logotipo e o slogan associado, o local da prestac;ao do(s) scrvi<;o(s), a identidade da maxca, e a imagem.
4.2. Componentes da marca
,,,,,
Fig. 2. Logotipo da Manpower e d ivisoes profissionais, desd e 2006
l
fl
Manpowor
l~ fl Manpower ProfCSSIOl\i'll
Mnnpovvcr ,. .. "'
g
l
.~
~
l'ontc: Manpower. Elabora~3o pr<lpria.
Nome e Logotipo Segundo LENCASTRE et al. (2007: 53), para alem do conceito de marca propriamente dito, acresce outra definic;ao complementar - nome da marca ou brand name. Esta seria a vertente nominativa da marca, a qual pode ser vocalizada (ALEXANDER, 1960; apud LENCASTRE et al., 2007: 53). Ainda segundo LENCA5TRE et al. (ibidem), a definic;ao de marca adoptada pela UE, preve ainda "todos os sinais que possam ser objecto de uma representac;ao grafica". Para alt~m disso, cxiste ja legislac;ao, incluindo em Portugal, que integram expressamente os ÂŤSonsÂť na enumerac;ao das possfveis representac;oes da rna rca.
0 letteri11g Segundo LENCASTRE et al. (2007: 54) "o logotipo e composto pelo lettering,. a form.a especffica de escrever o nome, a qual pode estar associado um desenho, e urn coloring (...) por vezes o lettering e o desenho podem aparecer autonomizados", sendo mais habitual acontecer quando o desenho goza de elevada notoriedade. 202
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
Gestao da marca no ambito dos servic;os: o trabalho temporario, p. 187·215
Assim, o nome da marca apresenta-se escrito de uma detenninada forma (e. g., italico) ou num estilo de letra especffico (e. g., Times New Roman). Segundo ALEXANDER (1960, apud LENCASTRE et al. 2007: 53) lettering, ou brand mark, sera "a parte da marca que pode ser reconhecida, mas nao vocalizada". 0 logotipo Tambem designado por «logo» ou. «log6tipo» (LINDON, 2000: 220), o logotipo e gerahnente uma imagem ou desenho que se associa ao nome de uma marca. Para PAVIA (2004: 122), o logotipo e a "marca constitufda por imagens, sfmbolos e elementos que nao tem leitura, mas que servem para diferenciar a empresa de outras e ser reconhecida no mercado pelos consumidores" . Assim, qualquer marca devera conter o seu. logotipo, com o intuito de levar o cliente do servi~o a sua memoriza~ao e distin~ao das concorrentes. Segundo LENCASTRE et al. (2007: 171t o nome eo logotipo sao "o grau zero de existencia de uma marca. Sao os seus signos mais elementares, mas tambem os mais essenciais e generalizados", independentemente de serem figurativos (imagens com liga~ao ao mundo sensfvel, como seja um personagem., frutos, animais, entre outros) ou abstratos (e. g., siglas), mas que a ele se podem fazer outras associa~6es. 0 uso d a cor no logotipo 0 uso da cor no logotipo, ou coloring, segundo ALEXANDER (1960; apud LENCASTRE eta/., 2007: 53), e considerado com um ou.tro grafismo da marca (para alem do sfmbolo e lettering). Para LENCASTRE et al. (2007: 54), o coloring e a respectiva cor ou c6digo cromatico especffico do logotipo, sfmbolo, desenho ou mesmo nome e lettering. 0 slogan d a marca nos
servi~os
De acordo com LENCASTRE eta/. (2007: 54), o slogan e um sinal nominativo, registavel como marca e de uso circunstancial entre ouh·os sinais. Juntamente com o slogan, podemos encontrar o jingle. Este ultimo, segundo LINDON (2000: 220), designa geralmente um refrao publicitario, cujo papel pode ser efemero: "o jingle da marca e uma musica, passive! de se identificar com a marca para depois a representar para sempre" (idem, ibidem). 0 slogan. associado ao logotipo, tende a agudizar a nossa aten~ao para com a marca. No caso da Manpower, o slogan e «What do you do?>>. Amilise concorrencial ETT Conclufda a analise interna aos componentes passfveis de gestao directa por parte da empresa, direcciona-se o foco para o mercado que envolve os serviLusiada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
203
Joana Madureira
9os de TI: a concorrencia. Em Setembro de 2007, foi levada a cabo uma mega opera<;ao da IGT, em que cerca de 200 ETI foram suspensas ou proibidas de operar no nosso pais, confonne se pode verificar na tabela 4. Tabela 4. Resultado da opera~ao do IGT a ETT (Setembro/2007) Nao cumprimento dos requisitos legais
124
Nao autorizadas a exercer actividade
71
Cessaram funr;oes
47
Suspenderam a sua pr6pria actividade
13
TOTAL
255
Fonte: IEFP.
Elabora~ao
pr6pria.
Ap6s esta opera<;ao, e segundo o registo nacional do IEFP, passaram entao a existi1路 a nfvel nacional (a Outubro de 2007) a seguinte distribui<;ao de ETI, conforme tabela 5: Tabela 5. ETT licenciadas por regiiio e local da sede Regiao Norte
48
Centro
15
Lisboa e Vale do Tejo
184
Alentejo
6
Algarve
5
Madeira
4
TOTAL Fonte: IEFP.
Elabora~ao
262
pr6pria.
Apesar dos mais de 500 alvaras atribuidos, a data desta pesquisa encontravam-se em funcionamento 262 ETI licenciadas, o gue representa que antes da opera<;ao do rcr, somando as 255 empresas cessadas, encontrar-se-iam a operar mais de 500 empresas em PortugaL De acordo com Dr. NOEL PENA COSTA (s. a., 2006: 2-3), entao membra da administra<;ao da Manpower Portuguesa, S. A., 204
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
Gestao da marca no ilmbito dos servic;os: o trabalho temponhio, p. 187-215
atribuir tantos "alvanis a empresas deste ramo, (... ) em termos de mercado e excessivo"7 . Para MARCELiNO PENA COSTA, Presidente da APESPE, considera que "ha urn ntimero assustadoramen.te grande destas empresas em Portugal, e grande dispersao geografica, o que e estranho num mercado pequeno"8. Na mesma entrevista, MARCELINO PENA COSTA deu igualmente a conhecer a grande rotatividade de empresas no mercado naciona.l: "todos os meses nascem duas ou tres novas empresas. No mesmo perfodo, tambem duas a tres empresas perdem o alvara e deixam de funcionar".
5. Breve inquerito sobre as ETT mais evocadas Considerou-se pertinente analisar as ETT em Portugal mais mencionadas (top of mind9) pelas pessoas, verificando ainda de que forma estas escolhas alterariam em fun~ao de quatro variaveis econ6micas e demograficas: genero, idade, vinculo laboral e distrito de residencia.
5.1. Metodologia A metodologia foi a habitualmente adoptada nos trabalhos de ciencias sociais, elaborando-se analises quantitativa e qualitativa, tal como sugerido por PATTON (1990: 14). Como ponto de incita~ao ao inicio desta investigac;ao, colocaram-se quatro hip6teses em fun~ao das 4 variaveis supra mencionadas e, tendo em considera~ao os objectives e as hip6teses, elaborou-se urn questionario com seis questoes (sujeito a um pre-teste). Foi aplicado a aproximadamente 1.000 indivfduos (amostra de conveniencia), tendo-se utilizado como meio de aplica~ao o correio electr6nico. Complementarmente, a sexta e ultima questao do questionario ÂŤImaginese utente de uma Empresa de Trabalho Temporario (ETT), para si, o que e mais importante para o manter como cliente (particular)?>>, remete o investigador para uma analise de conteudo sobre os principais factores crfticos de sucesso de uma ETT, percepcionado pelo pr6prio publico-alvo. A analise estatfstica foi realizada em SPSS. Entrevista concedida ao jornal 0 Primeiro de Janeiro, a 29 de Outubro de 2006. Fonte: entrevista ao jorna l Publico, 07 de Dezembro de 2007, atraves do site www.ver.pt 9 Top of Mind- marcas famosas que ficam retidas na mente do consumidor e geralmente sao as pl"imeiras a serem evocadas como modelo ou pioneira n.um detenninado segmento de mercado/area de actividade. 7
8
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205
Joana Madureira
A partir dos resultados obtidos, realizou-se a testagem das hip6teses, resumiram-se as principais conclusoes e elaborou-se a sua aferi<;ao, que serviu de suporte ideol6gico a realiza<;ao deste trabalho de investiga<;ao.
5.2. Objectivos 1. Analise das ETT mais mencionadas (top of mind) por urn grupo de indivfduos; 2. Analise da altera<;ao das ETI mais mencionadas em fun<;ao das variaveis econ6micas e demograficas: genero, idade, residencia e vinculo !aboral; 3. Am'ilise de conteudo dos principais atributos, ou factores crfticos de sucesso, de uma ETI mencionados pelos ing uiridos.
5.3. Amostra Participaram neste estudo 203 sujeitos, 65 do sexo masculine, que corresponde a 32% da amostra e 138 do sexo feminine, correspondendo a 68% da amostra. A idade dos inquiridos di.spersam-se entre os 19 anos e os 55 anos, com maior frequencia os 24 anos. Quante ao distrito em que residem os sujeitos inquiridos, aproximadamente 48% mencionou residir em Lisboa, 40% no Porto e os restantes 12% nos distritos de Braga, Aveiro, Coimbra, Santarem, Setttbal e Viseu. Lisboa e Porto sao OS distritos onde se foca a analise. Em termos da situa<;ao !aboral actual, aproximadamente 21% dos sujeitos estavam desempregados, 10% eram estudantes, 10% eram trabalhadores por conta propria, aproximadamente 40% eram trabalhadores por conta de outrem atraves de contrato directo com a entidade empregadora e cerca de 19% eram trabalhadores por conta de outrem atraves de contrato temponhio de trabalho. Preferencias dos sujei tos da amostra Os sujeitos da amostra com as caracterfsticas supramencionadas, demonstraram a sua preferencia relativamente a questao numero 5 do inquerito em estudo, a saber: ~
ÂŤlndique 5 empresas de Trabalho Temporc:lrio que se lembra de forma imediataÂť.
As cinco empresas mais mencionadas pelos 203 inquiridos, apresentadas na tabela 6, emergiram de um grupo de 120 empresas que no total foram mencionadas pelos sujeitos. Sendo que estas cinco ETT em conjunto sao mencionadas mais de 50% das vezes o que representa bern o peso destas empresas no mercado.
206
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Gestao da rna rca no ambito dos servit;os: o trabalho tcmporti rio, p. 187-215
Tabela 6. ETT mais mencionadas pelos sujeitos da amostra Empresas mais mencionadas
Frequencia
Select
13,2%
Randstad
12,4%
Adecco
11,9%
Manpower
10,0%
Vedior
6,9%
Egor
4,5%
Fonte: GrMico do 5PS5.
Elabora~ilo
pr6pria.
Registe-se ainda que, se juntarmos as empresas mencionadas pelos sujeitos como Select (13,2%), Vedior (6,9%) e Select Vedior (1,2%), como pertencentes ao grupo Select Vedior, este representaria no total 21,3% das ETI mencionadas, ou seja, aproximadamente urn quarto do mercado de empresas percepcionadas pelos s ujeitos como ETT. Acresce-se ainda que neste caso, como a quinta empresa mais mencionada surgiria a Egor (apesar de nao ser uma ETT) com 4,5%, perfazendo agora o cluster das empresas m ais mencionadas pelos sujeitos uma quota de 60%. Estes resultados vieram ao encontro do que Mario Costa, entao administrador delegado d a Select Vedior, referiu sobre o sector de IT, em entrevista ao Jornal PublicolO: "em termos globais, o sector fica dominado por tres grandes empresas: a Select Ved iot~ a Adecco e a Manpower". Considerada a ordem na qual as EIT foram mencionadas pelos sujeitos, verificamos o que as seguintes tabelas (7, 8, 9, 10 e 11) resumem: Tabela 7. ETT mais mencionadas na 1.â&#x20AC;˘
posi~ao
l."ETI (top of mind) %
1." ETI frequencia
1." ETI frequencia
relativa
acumulada %
Select
24,1
49
24,1
Adecco
17,7
36
41,8
Manpower
ETI mais mencionadas
14,3
29
56,1
Rands tad
5,4
11
61,5
Ved ior
5,4
11
66,9
Fonte: Elaborac;ilo pr6pria, a partir dos outputs do 51'55.
10
Fonte: jornal P(lblico, 07 Dezembro de 2007.
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n.0 9/2009
207
joana Madureira
Tabela 8. ETT mais mencionadas na 2.•
ETT mais mencionadas ' Select
2.• ETT frequencia relativa
2."ETI %
; :.\,)~~
posi~ao
17,7
·'·
36
2.• ETI frequencia acumulada %
.·.
17,7
Randstad
14,3
29
Manpower
13,8
28
45,8
Adecco
11,3
23
57,1
5,4
11
62,5
Egor Fonte:
Elaboro~.Jo
32
pr6pria, a partir dos outputs do SI'SS.
Tabela 9. ETT rna is mencionadas na 3. • posi~ao
·.~andstad
~ ··'~ {; ..
3.a ETI frequencia relativa
3 .• ETT%
ETT mais mencionadas
J.•
··. ,:< ..
.14,8
30
,...~
3." ETT frequencia acumulada %
.,. .
14;8 .
Adecco
10,8
22
25,6
Manpower
10,3
21
35,9
Vedior
9,9
20
45,8
Select
9,4
19
55,2
Fonte: Elabora~ao propria, a partir dos outputs do SPSS.
Tabela 10. ETT mais mencionadas na 4.•
ETT mais mencionadas Ran,dstad
~~:)~_,;_i
4 .• ETT% .·16,7
.-,,
posi~ao
4." ETI frequencia relativa . .) .~~.
34
~--
4.• ETI frequencia acumulada % 16,7.-
Adecco
8,9
18
25,6
Vedior
7,4
15
33
Select
6,9
14
39,9
Manpower
5,4
10
45,3
Fonte: Elabora¢.lo pr6pria, a partir dos outputs do SPSS.
208
Lus1ada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
Gestao da marca no ambito dos servi<;os: o trabalho temporario, p. 187-215
Tab ela 11. ETT m ais men d on ad as n a 5. • p osi~ao
s.•ETT%
5." ETT frequ~ncia relativa
10,8 .
22
10,8
22
21,6
Select
7,9
16
29,5
Vedior
7,4
15
36,9
Egor
6,4
13
43,3
ETT mais mencionadas
'Adecco
'
.,
.z;~:.:
Rands tad
..
5." ETT frequencia acwnulada % . 10,8
Fonte: Elaborac;iio pr6pria, a partir dos oufputs do SPSS.
Como se pode verificar pelos dados obtidos, nao ha grandes varia~6es nas ETT mencionadas pelos sujeitos, de acordo com a ordem de 1 a 5. Nao obstante, pode-se constatar que as cinco principais ETT vao perdendo percentualmente peso global em fun~ao da ordem pela qual sao mencionadas. Nas tabelas anteriOl·es, as 5 ETT mencionadas na 1.• posi~ao apresentam uma frequencia acumulada de aproximadamente 69% enquanto que as cinco ETT mencionadas na s.a e ultima posi~ao totalizam apenas cerca de 43%.
5.4. Teste de hip6teses
Fonnularam-se algumas hip6teses com o prop6sito de analisar em que medida certos factores econ6mico-demograficos influenciam as preferencias dos sujeitos da amostra. Utilizou-se para o efeito alguns testes parametricos e o manuseamento da estatfstica indutiva. Nas hip6teses A, B e C, utilizou-se como primeira prioridade a estatistica parametrica, nomeadamente, o T-student (Teste T para Medias- Means), sendo que para a utiliza~ao desta ferramenta, foi sempre testado previamente o teste da homocedasticidade (condic;ao imprescindfvel para utiliza~ao da estatistica parametrica). No caso de impossibilidade de utilizac;ao do T-Student, pelo facto de nao confinnar;ao da homocedasticidade, utilizou-se a estatfstica nao parametrica equivalente ao T-Student, ou seja, o teste Mann-Whitney (PESTANA e GAGEIRO, 2000: 311). Por sua vez, na hip6tese D foi utilizada como primeira referenda a analise de variancia univariada (ANOVA). Contudo, tal como foi referido anteriormente, no caso do T-Student, na nao confirmar;ao da homecedasticidade utilizou-se a estatistica nao parametrica equivalente ao teste ANOVA, que neste caso foi o teste Kurskal-Wallis (idem, 2000: 327).
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209
Cestao da marca no ambito dos scrvir;:os: o trabalho temporario, p. 187-215
Hip6tese D
Como, teoricamente, pessoas que ja tem experiencia no TI reconhecerao mais facilmente a Manpower que, por exemplo, os estudantes, a seguir procm·a-se percepcionar se existem diferenc;as estatfsticas na amostra inquirida para se poder extrapolar genericamente este conceito. H 0: A Manpower e mencionada como ETT top of mind pelos sujeitos <<Desempregados», «Estudantes», «Trabalhadores por Conta Propria», «Trabalhadores por Conta de Outrem (contrato directo)» e «Trabalhadores por Conta de Outrem (Trabalho Temponhio)», de modo igual. H1: A Manpower e m.encionada como ETT top of mind pelos sujeitos «Desempregados», «Estudantes», «Trabalhadores por Conta Propria», «Trabalhadores por Conta de Outrem (contrato directo)» e «Trabalhadores por Conta de Outrem (Trabalho Temporario)», de modo diferente.
Comentarios as Hip6teses A, B, C e D
Consumatoriamente, surgiram evidencias estatfsticas para considerar nao existirem diferen<;as significativas, relativamente as vezes em que a Manpower e mencionada pelos sujeitos masculines e feminines, com idade inferior a 26 anos e superior a 27 anos e residentes no «Grande Porto e Norte» e na «Grande Lisboa»t na primeira posi<;ao (top of mind), com wn intervale de confianc;a de 95% . A mesma evidencia estatfstica se aplica aos sujeitos em fun<;ao da situa<;ao laboral em que se encontravam.
Analise de conteudo- factores c1·fticos de sucesso das ETT De acordo com os dados obtidos pela ultima pergunta do questionario ''Imagine-se utente de uma Empresa de Trabalho Temporario, para si, o que e mais importante para o manter como cliente (particular)?", os resultados evidenciam que o principal factor valorizado nas ETI foi a «Qualidade do processo de Recrutamento e dos seus Recursos Humanos», factor mencionado por 11,3% dos inquiridos.
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
211
Joana Madureira
Tab ela 12. Factores proven.ientes da analise de conteudo
Valid
Acornpanhamento Atendimento Personaliz.ado Boas Garantias de Trabalho Born Relacionarnento Bons Sah\rios Competencia Comunicayao das Ofertas Comunicacao da nao escolha dos candidates Condi~oes de Trabalho Contacto Pr6ximo- Pcrsonaliza~ao Contratar Colaboradorcs Rcsponsaveis Credi bi I idade Defender l nteresses dos Colaboradorcs Diversidade de Oferta Eficaeia e Efieicncia Enquadramento Vivencia Profissional Candidate B-qt.OOramcnto Viv&x:ia Profissioml e ~ Camdalo Esclarecimento Questoes Laborais Estabilidade de Ernprego Etica e Lealdade Fiabilidade Fonnar Colaboradores Honestidade lmparcialidade do Entrevistador Maximo Esclarecimento Preoeupacao corn RH Profissionalismo Qualidade Atendimenlo Qualidade Reerutamento/RH Rapida Execu91lo do Servi9o Respeito Respeito pelo Clienle Rigor e Transparencia Seriedade Simpatia Transparencia Total
frequency
Percent
15 I 3 1 2 2 ll 2 I 13 2 1 2 13 15 I 14
7,4
2 1 3 I 2 I I I 22
5 23 13
5 I 16 4 I 203
,5 1,5 ,5 1,0 1,0 5,4 1,0 ,5 6,4 1,0 ,5 1,0 6,4 7,4 ,5 6,9 ,5 1,0 ,5 1,5 ,5 1,0 ,5 ,5 ,5 10,8 2,5 11 ,3 6,4 2,5 ,5 7,9 ,5 2,0 ,5 !00,0
,5 1,5
,5 1,0 1,0 5,4 1,0 ,5
6,4 1,0 ,5 1,0 6,4 7,4 ,5 6,9 ,5 1,0 ,5 1,5 ,5 1,0
,5 ,5 ,5 10,8 2,5 I 1,3 6,4 2,5
.s 7,9
,5 2,0 ,5 100,0
unu at1ve Percent 7,4 7,9 9,4 9,9 10,8 11,8 17,2 18,2 18,7 25,1 26,1 26,6 27,6 34,0 41,4 41,9 48,8 49,3 50,2 50,7 52,2 52,7 53,7 54,2 54,7 55,2 66,0 68,5 79,8 86,2 88,7 89,2 97,0 97,5 99,5 100,0
Fonte: 1'abet.' do SPSS.
Outros factores como, por exemplo: «Profissionalismo» mencionado 10,8%, «Acompanhamento dos Candidatos» e «Efic<kia e Eficiencia» no processo, ambos mencionados por 7,4%, fizeram na sua totalidade os principais factores com os quais as ETr se devem preocupar na prestac;ao do servic;o. Por outro lado, de entre outros, sobressaiu que factores como a «Transpar@ncia», «Sededade», «Respeito pelo cliente», «Etica e Lealdade», ligados a valores mora is, parecem nao ter tanta importancia (mencionados 0,5%) quando comparados com valores de carckter mais profissional. 212
Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n.0 9/2009
Gestao da rna rca no ambito dos servic;os: o trabalho temponlrio, p. 187-215
Sese optasse pela divisao dos 36 factores obtidos pcla analise de conteudo, em dois grandes grupos de valores - Morais e Profissionais, igualmente se verificaria que seriam mais os itens relacionados como profissionalismo a surgirem.
6. Principais conclusoes retiradas do estudo Apesar de ser uma empresa. com fortes tradi<;:oes no mercado de TT e a mais antiga em Portugal, a Manpower ocupou no estudo o quarto lugar no ranking das empresas com maior reconhecimento no mercado; 0 grupo Select Vedior apresentou-se, aquando do estudo, como a empresa area de neg6cio. Apesar de haver diferenc;as nas respostas obtidas em ftm<;:ao das variaveis em estudo, como por exemplo, genero, idade, distdto e situac;ao !aboral, em nenhum dos casos estas diferenc;as se revelaram estatisticamente significativas, ou seja, nao foi possfvel retirar daqui conclusoes, generalizaveis para os grupos emestudo. De acordo com a analise de conteudo supramencionada, os factores profissionais que se relacionavam mais com a imagem de qualidade do servic;o, pareceram ser sobrevalorizados em. contraposic;ao com os factores mais morais ou eticos relacionados com. a profissao.
7. Conclusoes do trabalho Hoje, parece rcconhecer-se o imprescindfvel a uxflio dos servic;os como uma ferramenta de parceria, que permitirao as ernpresas nao descurarem o seu core business. A com.ercializac;ao de servic;os, em contraposic;ao com o produto, revelou ser urn constructe mais complexo, a carecer de maiores cuidados por parte de empresarios e gestores e a necessidade de promover novas formas de lrabalhar o marketing-mix dos servic;os. 0 maior destaque foca-se nos oito P's do composto de 路marketing de servic;os. Fruto da sua crescente importancia no seio empresarial, verifica-se que cxiste ja urn elevado numero de ETr a operarem no mercado. AtJ.路aves de uma analise concorrenciallevada a cabo para o presente trabalho, verificou-se a existencia de 262 ETr devidamente autorizadas em Portugal, nao contando com as respectivas delegac;oes, um numero que se ere excessive. Ap6s a realizac;ao do estudo por inquerito, verificou-se que a ETT com maior visibilidadc no mercado revelou ser o grupo Select Vedior, com m.aior destaque para a Select, de acordo com os dados obtidos da amostra de sujeitos. A Manpower ainda foi uma das empresas mais reconhecidas, jtmtamente com Randstad e Adecco. Lus(ada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
213
Joana Madut'eira
Tendo-se testado algumas hip6tese para aferir de que forma as variaveis genero, idade, distrito de residencia e situa<;ao !aboral, influenciavam as vezes em que a Manpower era mencionada como top of mind, e apesar da existencia de diferentes percep<;6es na amosb:a, estas nao se revelaram estatisticamente significativas para uma generalizac;ao. Executou-se uma analise de conteudo as respostas dos sujeitos e, da totalidade dos itens recolhidos, sobressafram com maior nl'unero de menc;oes os valeres profissionais («Profissionalismo» 10,8%, «Acompanhamento dos Candidates» 7,4% e «Efi.cckia e Eficiencia no processo» 7,4%), em detrimento dos valores morais («Transparencia», «Seriedade», «Respeito pelo cliente», «Etica e Lealdade», mencionados 0,5%). Apesar de importante a existencia de cuidados eticos e morais para com os candidates, o peso de uma imagem profissional e bern sucedida torna-se preponderante na fonnac;ao da preferencia dos sujeitos, ou ate na tomada de determinada EIT como modelo. Aqui encontram-se indiciades quais os factores crfticos de sucesso das ETT. Em suma, as empresas de servic;os, em especial as ETT, podem fazer a gestao da sua marca a varios nfveis. Para alem da possibilidade de operacionalizarem os oito P' s do marketing-mix, a criac;ao de uma identidade forte e profissional, com uma estrutura coesa, sera utna mais valia para a forma como a marca e percepcionada pelos clientes. Adicionalmente, a presenc;a de factores situacionais pode interferir na prestac;ao dos servic;os, pelo que nao se deve descurar do que se passa externamente. Apesar dos possiveis investimentos que se torna necessaria realiza1~ a permanente vigflia do meio concorrencial e contextual podera representar uma forma de antecipar factores circunstanciais e minimizar a sua interferencia na prestac;ao dos servic;os, ja que surgem como diffceis de controlar.
Bibliografia BROCHAND, B., et al. 1999. Publicitor. Lisboa: Publicac;oes Dom Q uixote. COSTA, J. A., MELO, A. S. 1994. Dicionario da Hngua portuguesa. 7.' ed. Porto: Porto Editora. CorA, B. V. 2006. Manual de Marketing de Sen;it;os. Lisboa: Universidade Lusfada Editora. DOYLE, P. 1993. Marketing Planning: segmentation and positioning for higher growth and profits. [Manual de apoio ao video]. Brussels: Video Management S.A. and ASLK-CGER BANK, partner. DUARTE, P. 2005. A preferencia pela marca: estudo dos factores que contribuem para a format;iio da preferen.cia. Covilha: Universidade da Beira Interior. EIGLIER, P., LANGEARD, E. 1998. Servuction: a gestiio marketing de empresas de servit;os. Ed. Traduzida e adaptada. Lisboa [etc.]: Editora McGraw-Hill. Gu(;GUEN, N . 1999. Manual de estat{stica para psic6logos. Lisboa: Climepsi Editores. KOTLER, P., ARMSTRONG, G. 1991. Prindpios de Marketing. 5." ed. Rio de Janeiro: Prentice Hall do Brasil.
214
Lusiada. Economia & Empresa, Lisboa, n. o 9 I 2009
Gestao da marca no ambito dos servil;os: o trabalho temponlrio, p . 187-215
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A ERA VIRTUAL DAS TECNOLOGIAS DE INFORMA<;AO E COMUNICA<;AO -ARTE E EXPRESSIVIDADE EM MULTIMEDIA
Maria Edu.arda Carvalho Doutoranda em Psicologia Clinica Docente na Universidade Lusiada de Lisboa
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Resumo: 0 presente artigo tem o prop6sito de promover o conhecim.ento da intercep<;ao entre a psicologia da expressividade e a linguagem de comunica<;ao multimedia. Organizado em dois blocos, o texto come<;a por desenvolver uma especula<;ao te6rica em que o pensamento se exprime no domfnio do absolute verbal e da abstrac<;ao. Na Era virtual das tecnologias da informa<;a0 e comunica<;ao, a autora procUl路a desconstruir alguns erros de sema:ntica e concep<;ao de conceitos, como por exemplo, entre o virtual e o real. Releva o papel da percep<;ao e expressividade na narrativa multimedia, quer do ponto de vista cognitive quer do po:nto de vista sistemico. A componente empirica do texto evidencia a importancia da pnitica cientffica e pedag6gica no ensino superior em comunica<;ao multimedia, bem como da validade dos trabalhos criativos produzidos, em ambiente de sala de aula criado para o efeito.
Palavras-chave: multimedia, virtuat real, percep<;ao, expressao.
Abstract: The present article has the aim to promote knowledge in intersection between psychology of expressivity and multimedia communication language. It is organized in two blocks, the text starts by developing a theoretical speculation in which the thought, expresses itself in the domain of absolute verbal and the abstraction. In virtual Era of information and communications technologies, the author tries to deconstruct some semantic and conception errors in concepts, such as between virtual and real. Put forward the role of perception and expressivity on multimedia language whether from cognitive or from system point of view. The empirical element of the text shows the importance of scientific and pedagogic practices in. communication and multimedia high studies teaching, as well of creative work produced in a especially created teaching class environment.
Keywords: Multimedia, virtual, real, perception, expression.
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Maria Eduarda Carvalho
A ultima gerac;ao humana cresceu no advento da era digital. Neste perfodo, os meios de comunicac;ao, em particular os electr6nicos, juntaram-se a informatica e as telecomunicac;oes, dando origem a um novo sector que passou a apelidar-se de tecnologia de infonnac;ao e comunicac;ao. 0 advento da Internet, sobretudo depois da implementac;ao da World Wide Web, veio aumentar ainda mais o potencial deste mega sect01~ agregando em definitivo e abrindo as portas ao mundo virtual, ou seja, a uma nova dimensao da realidade. Os desenvolvimentos que lhe estao subjacentes sao notaveis e estao na base de profundas transformac;6es econ6micas e sociais. Este novo tempo perfila-se, verdadeiramente, como uma nova Era, onde a informac;ao e o conhecimento, atraves do formato digital, estao a determinar os modelos, as organizac;oes, as sociedades e as pr6prias pessoas. Multimedia e audiovisual assumem cada vez mais um papel de relevo em todas as areas. A revoluc;ao digital redimensionou a importancia dos conteudos na nova cadeia de valor das tecnologias de infonnac;ao e comunicac;ao. 0 conceito de conteudo passou a ser entendido como querendo significar conteudos escritos, audiovisuais e multimedia. A importancia assumida pelos conteudos e de tal forma relevante que a existencia de uma industria audiovisual, poderosa e influente, passou a inscrever-se na lista de preocupac;oes dos Estados. E conhecida e sentida a influencia dos padr6es culturais norte-americanos no mundo inteiro, muito por forc;a da supremacia da sua produc;ao audiovisual, sobretudo cinematografica e televisiva. Mas, se por urn lado, a industria de conteudos audiovisuais e muito forte, com um desenvolvimento claramente assimetrico, a nfvel mundial, por outro lado, o estado dos conteudos multimedia nao e muito diferente. Apesar de se tratar de uma industria ainda embrionaria, sobretudo sea quisermos comparar com a dos conteudos audiovisuais, tambem ela se encontra numa fase de evolu<;ao muito mais acentuada nos Estados Unidos da America, do que noutros blocos geopoliticos, como a Europa eo Japao. De uma forma simples, definem-se conteudos multimedia tudo o que pode ser transportado por redes. A raiz etimol6gica do termo junta duas palavras latinas: multus (numeroso ou multiplo) e medium (meio ou centro). Portanto, multimedia significa multiplos meios (ou intermediaries). 0 termo mediae utilizado em varios contextos, mas sempre relacionado com a manipulac;ao de informac;ao. Comporta, entre muitos outros, texto, video, som, software, jogos, e tambem aplicac;oes e transacc;oes electr6nicas, a par dos servic;os publicos como educac;ao, fonnac;ao e saude. A abordagem do presente artigo procura promover o conhecimento da intercepc;ao entre a psicologia da expressividade e a linguagem de comunicac;ao multimedia. 0 texto tern dois blocos: um de especulac;ao te6rica em que o pensamento se exprime no domfnio do absoluto verbal e da abstracc;ao; outro em
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Empn~sa,
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que se descreve a pnitica cientffica e pedagogica na aprendizagem da arte e exprcssividade aplicada aos produtos multimed ia.
2.
Especula~ao
te6rica
2.1. 0 actual e o virtual
Existe uma concepc;ao, facil e enganadora, da oposi~ao entre real e virtual. Correntemente, o termo virtual e mencionado para significar a pura e simples ausencia de existencia, uma prescnc;a tangfvel. Deste modo, enquanto o real e considcrado da ordem do "eu tenho-o", o virtual e da ordem do "tu o teras", ou da ilusao. Geralmente, isto permite uma ironia facil para evocar as diversas formas de virlualizac;ao. 0 termo virtual tern origem etimo16gica no latim. virtualis, sendo esta derivada de virtus, forc;a, potencia. Em rigor filos6fico, o virtual nao se opoe ao real, mas ao actual: virtualidade e actualidade sao apenas duas maneiras de ser diferente (LEvv, 2001). A virtualidade nao tern nada a ver com o que a televisao nos mostra. Nao se trata de urn mundo falso ou imagimirio. Ao inves, a virtualizac;ao e a propria dinamica do mundoi e atraves deJa que partilhamos uma realidade. Longe de estar circunscrita ao reino da mentira, o virhtal e precisamente o modo de existencia de onde surgem tanto a vcrdade como a mentira. Cada forma de vida inventa o seu mundo- desde o micr6bio a arvore, da abelha ao elefante, da ostxa a ave migrat6ria - e, com este mundo, urn espac;o e um tempo espedfico. 0 universo cultural, proprio dos humanos, estende ainda mais esta variabilidade de espac;os e de tempos. E assim que cada novo sistema comunicacional modifica o sistema de proximidades praticas, ou seja, o espac;o perlinente para as comunidades humanas. De igual modo, varios sistemas de registo e de transmissao - tradic;ao oral, escrita, registos audiovisuais, redes mimeticas- constroem ritmos, velocidades ou qualidades de historias diferentes. Cada novo arranjo acresccnta um espac;o-tempo, uma musica singular a uma especie de enredo elaslico e complicado onde as extensoes se sobrepoem, se deform.am e se ligam; onde as durac;oes se opoem, interferem uma nas outras, respondem-se mutuamente. Esta multiplicac;ao contemporanea dos espac;os faz de n6s uma especie de n6madas de urn novo estilo. E assim que, em lugar de seguirmos um caminho no seio de uma extensao, saltamos de redeem rede, de um sistema de proximidade a outros. Com a forc;a das tecnicas de comunicac;ao e de telepresenc;a, estamos simultaneamente aqui e ali. A virtualizac;ao actual dos cat路pos - tal como a virtualizac;ao das informac;oes, dos conhecimentos, da economia e da sociedade - e uma nova etapa na aventura da autocriac;ao que sustenta a nossa especie. A arte, em si mesma, pode torTtar possfvel, acessfvel aos sentidos e as emoc;oes, Lus(ada. Economia & Empresa, Lisboa, n.O 9/2009
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o saJto vertiginoso em direc<;ao a vhtualiza<;ao que damos, mui.tas vezes, sem nos apercebermos. A arte ja nao consiste na composi<;ao de uma mensagem, mas em criar um dispositive que permita, a parte ainda muda da criatividade c6smica, expressar-se. Aparece urn novo tipo de artista; um artista que ja nao conta uma hist6ria. E urn arquitecto do espa<;o dos acontecirnentos; urn engenheiro do mundo de milhares de hist6rias que estao ainda por vir. Ele esculpe o vi1tual. Segundo LEvY (2001), o possfvel e o virtual tE!m urn tra<;o comum que explica a confusao que muitas vezes fazemos: os dois estao latentes, nao se manifestam. Eles anunciam o devir, nao mostram uma presen<;a. 0 real e o actual, em contrapartida, sao ambos manifestos ou patentes. Desprezando as possibilidades, eles estao l;:i. 0 real e parecido com o possfvel, enguanto que o actual corresponde ao virtual. Possuindo uma essencia problematica, o virtual e como uma situa<;ao subjectiva, uma configura<;ao dinarnica de tendencias, de forc;as, de finalid adcs, de constrang imentos que conduzem a uma actualiza<;ao, a urn acontecimento. A articula<;ao d o actual com o virtua l anima a pr6pria dialectica do acontecimento, do processo do ser enquanto cria~iio. I o fw1do, o real, o possfvel, o actual eo virtual sao quatro maneiras de ser d iferentes, mas quase sempre constituem urn conjunto em cada fen6meno concreto que pode mos analisar. Qualguer s itua<;ao viva activa uma especie de motor ontol6gico em quatro tempos, e na.o deve nunca ser "fechada" em blocos, como mostra o esquema da Fig. 1,
Fig. 1. Dialtktica da actualiza~ao e da (adptado in LEvY, 2001) P6lo do latentc
Processo
OPOTENCIAL SUBSTANCIAS
Ordem da
...
Con junto de possfveis pre-determinados
Reati za~ao -+
Potencial izm;iio de recursos
P6lo do manifesto OREAL Coisas persisteutes e realizmtfes
SUBSISTE
OVIRTUAL
Ordem da cria(ao
...
OACTUAL
Problemas, tende11cias, constrangimenlos, Jor(as eji11s
Actuatiza~lio -+
Solufao particular de um problema aqui e agora
EXISTE
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selec~ao
Pmdu~ffo
INSISTE
ACONTECIMENTOS
virtualiza~ao
Vir/ ual izafiiO Soht(ifo pam uma Problemrftica
CHEGA
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A era virtual das tecnolog ias de infonnao;ao e comunica,.ao, p. 217-230
2.2. A atitude perceptiva
Uma das func;oes somaticas, que explica o funcionamento do processo contemporaneo da virtualizac;ao do corpo, diz respeito a percepqffo. A func;ao simetrica da percepc;ao e a projecc;ao no mundo tanto da acc;ao como da imagem, claramente exteriorizada pelos sistemas de telecomunicac;ao. 0 telefone atraves da audic;ao, a televisao atraves da visao e a interacc;ao sensorio-motora, virtualizam o sentido. Por exemplo, as pessoas que vern a mesma emissao televisiva partilham do mesmo grande olho colectivo. Os sistemas de realidade virtual transmitem mais do que simples imagens: transmitem uma quase presenc;a. Etimologicamente, derivado do latim perceptum, a percepc;ao emprega-se com propriedade do mesmo modo que se utiliza o termo concepto, a par do tenno concepc;ao. Devemos dar a maior importfmcia ao estudo das transformac;oes que se depa.ram a nossa atitude - nao s6 psicol6gica, mas justamente fisiol6gica acerca do mundo externo, e daf o transformar incessante, embora imperceptive!, dos nossos modos de percepc;ao. Por exemplo, e indubitavel gue, a maioria das vezes, a musica nao e outra coisa senao a pura expressividade de imagens sonoras, sem nenhuma vontade significativa e, portanto, absolutamente afim da pintura hoje dita "nao-representativa" ou a certa arquitectura nao utilitaria. No entanto, como refere DORFLES (1999), sabe-se que a actividade pensante e sempre levada a completar as nossas defeituosas ou insuficientes percepc;oes, mediante os dados extrafdos da nossa experiencia passada, das nossas ilac;oes e expectativas. Este elemento ganha importancia relativa na an<'ilise da fruic;ao, pois explica alguns dos efeitos obtidos, no passado como no presente, aproveitando a capacidade do nosso "ouvido" - em sentido musical- de preceder e antecipar a frase musical mediante o fluxo continuo do passado para o futuro da recordac;ao musical. E este fluxo que nos permite prever ou a prognosticar os desenvolvimentos possfveis de uma determinada pec;a. Do mesmo modo nos faz saborear as modificac;oes inesperadas de tal desenvolvimento. ARMES (2003) acrescenta ainda a possibilidade de utilizac;ao de metaforas e sfmbolos como recurso de expressividade: "Os rufdos ambientam as cen.as ou. reforfa111 o efeito de realidade de algumas acr;oes, em con tar a mUsica que eformada como rico recurso expressivo. Por meio de elipses e justaposiqoes de imagens e sons complementares ou em contraponto, e possfvel criÂŁ11' rnetdforas e sfmbolos". Segundo o auto1~ a linguagem sonora tern grande importancia na narrativa multimedia, na linha que define citando Jacques Attali, urn economista com. interesse nos problemas sociol6gicos: "Mais do que cores e formas, sao os sons e suas combinar;oes que modelam as sociedades. Com o ru(do nasce a desordem e o seu oposto - o mundo. Com a musica nasce o poder e o seu oposto -a subversiio. No ruido podem ser lidos os c6digos da vida, as 1'elar;oes entre os homens. Clamor, melodia, dissoniincia, harmonia: quando moldado pelo homem com ferramentas especificas, quando invade o tempo humano, quando se 1
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torna o som, o rufcro e n fonte de poder e prop6sito, do son11o, a musica. Ele estn no amago da progressiva mcionaliza{:tio da estetica e e urn refugio para a irracionalidade residual; eum meio de poder e uma forma de entretenimento" (in ARMES, 2003).
2.3. A abordagem Gestalt da exp1'essividade Os psic6logos gestaltistas afirmam que o significado da percep~ao advem directamente do comportamento expressive. 0 objective desta corrente psicol6gica visa definir os princfpios que determinam e organizam a nossa percep<;ao, ou seja, o modo como estruturamos a realidade: â&#x20AC;˘ urn conjunto e mais que a soma das partes que a constituem; â&#x20AC;˘ a forma e a melhor possfvel nas condi<;oes presentes (princfpio da boa forma ou pregnancia). Os percursores desta teoria, criada nos princfpios do seculo XX, foram OS psi.c6logos alemaes MAX WERTHEIMER (1880-1943), WOLFGANG KOHLER (1887-1967) e KURT KOFFKA (1885-1940), professores na Universidadc de Frankfurt. 0 ponto de vista da teol"ia Gestalt assenta no isomorfismo, segundo o qual os processes que ocorrem em meios diferentes podem, apesar disso, ser semeJhantes na sua organiza<;ao estrutural. Aplicado ao corpo e a mente, isto signilica que se as for<;as que determinam o comportamento corporal forem estruturalmentc semelhantes aquelas que caracterizam estados mentais correspondentes, entao compreende-se a razao porque se pode extrair significado psfquico directamente da aparencia e comportamento de uma pessoa. As cxperiencias Gestalt sobre a percep<;ao indicam que os estimulos retinianos sao sujeitos a processes organizacionais no cerebro. Como resultado destes processes, os elementos das configura<;oes visuais sao percebidos como sendo agrupados segundo as regras de WERTHEIMER. A tabela da Fig. 2 exemplifica urn certo numcro de niveis psicol6gicos e ffsicos, na pessoa observada e no observad01~ nos quais as estruturas isom6rficas devem existir para que a explica<;ao Gestalt seja possfvel. Fig. 2. Niveis de isomorfismo (in ARNt-IEIM, 1997) A
Pessoa observada B
Observador
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1. Estado de espu:ito II. Correlate neural de I Ill. For~as musculares IV. Correia to cinestetico de n V. Forma e movimento do corpo
Psicol6gico Electroquimico Medinico Psicol6gico Geomt'!trico
VI. Projec~ao retiniana de V VII. Projcc~ao cortical de VI VIH. Correlate perceptual de VII
Geometrico Electroqufmico Psicol6gico
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(1997) explica com mestria a leitura deste esquema. Suponhamos que a pessoa A executa um gesto amavel, que e experimentado como tal pelo observador B. Devido ao paralelism.o psicoffsico na sua versao Gestalt, e de ARNHEIM
supor que a suavidade do sentimento de A (nfvel I) COl-responde urn processo hipotetico no sistema nervoso de A (nfvel II) e que estes dois processos sejam isom6rficos, isto e, semelhantes na estrutura. Continuando, o processo neural dirigira as for<;as musculares que produzem o gesto do bra<;o e da mao de A (nfvel III). Novamente supor-se-a que a configura<;ao dinamica particular da ac<;ao e inibi<;ao mecanica nos musculos de A corresponde estruturalmente a configura<;ao das for<;as fisiol6gicas e psfquicas nos nfveis I e II. A ac<;ao muscular sera acompanhada de uma experil~ncia cinestesica (nivellV) que, de novo, devera ser isom6rfica com os outros nfveis. A amabilidade percebida no gesto da pessoa sera experimentada por ela como wna manifesta<;ao justa do seu estado de espfrito. Finalmente, as for<;as musculares do nivel III irao fazer com que o bra<;o e a mao de A se movam, digamos, numa curva parab6lica (nivel V); e de novo a forma<;ao geometrica desta curva teria que ser isom6rfica com a estrutura dos processos nos nfveis previos. Neste ponto, a descri<;ao desloca-se da pessoa observada A para o observador B. Os olhos de B recebem uma imagem (nfvel VI) do gesto executado pelo bra<;o e mao de A. Porque e que esta imagem produz em B a impressao de assistir a um gesto amavel? E possivel que tanto a configma<;ao geometrica do gesto como a configura<;ao de for<;as musculares que criaram essa forma possam ser caracterizadas estrutmalmente como contendo compromisso, flexibilidade e cedencia. No entanto, este facto em si nao e suficiente para explicar a experiencia directa que se diz que B recebe atraves da sua observa<;ao perceptiva. Neste ponto, torna-se evidente que a teoria de expressao Gestalt esta perante nao s6 do problema de mostrar como os processes fisicos podem ser inferidos do comportamento corporal, como tambem de que a sua tarefa primordial consiste em tornar plausivel o facto da percep<;ao da configura<;ao, movimento, etc, poder transmitir ao observador a experiencia directa de uma expressao que e estruturalmente semelhante a organiza<;ao da configura<;ao estimular observada. 0 gesto de A projecta-se na retina dos olhos de B e tambem, atraves de imagens retinianas, no cortex visual do cerebro de B (nfvel VII). Esta teoria torna a expressao uma parte integrante dos processos elementares da percep<;ao. Deste modo a expressao pode definir-se como "o contraponto psicol6gico dos processes dinamicos que dao Iugar a organiza<;ao dos estimulos perceptivos" (ARNHEIM, 1997). Esta defini<;ao sugere que a percep<;ao e mero instrumento para o registo da co1~ da forma, do som, etc., desde que seja considerada separadamente do organismo que faz parte. No seu contexto biol6gico adequado, a percep<;ao surge como o meio com que o organismo retira informa<;ao sobre as for<;as ambientais favoraveis, hostis, ou de outra relevancia as quais Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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cle tem de reagir. Essas fon;:as revelam-sc mais directamente alraves do que foi descrito como expressao. Por outro !ado, a expressao e muitas vezes descrita como "perceber com imagina~ao". Ao faze-to, GoTSIIALK (in ARNHEJM, 1997) ex plica que "algae percebido como se estivesse presente no objecto de percep<;ao, apesar de literalmente ser apenas sugerido e nao estar lana realidade. A musica, por exemplo, nao e literalmente triste, alegre ou amavel; s6 podem se-lo criaturas sens{veis ou dotadas de sensibilidade, tais como os seres humanos". Esta abordagem sugere que o fen6meno da expressao nao esta primariamente sob o comando das emoc;oes ou da personalidade, onde e costume trata-lo. Varios estudos sobre a cxpressao tern guardadas muitas descobertas neste campo da psicologia mas, por enquanto, estao praticamentc todas por revelar. Por ora, os psic6logos gestaltistas demonstraram que o olho nao acolhe igualmente bem todas as combinac;oes possfveis de elementos. 0 que "normalmente" vem.os e o agrupamento que proporcionar a mais ampla das estruturas possfveis e que reduzir ao mfnimo a tensao no campo visual. A palavra "normal" pode entender-se de duas maneiras diferentes. Mais superficialmente, refere-se ao comportamento que segundo a "lei de Gestalt" e tfpico das pessoas, o que estatisticamente urn maior n(unero de indivfduos submetidos a um teste experimental denotara. Mais exactamente, significa que tal comportamento c tfpico da percepc;ao; quando a percepc;ao e p ura e neutra, sem ser influenciada pelo que a pessoa necessita ou espera, prevalece a estrutura mais simples possfvel. Na vida quotidiana, perceber na.o significa nonnalmente esquadrinhar objectos de interesse m(nimo com a unica finalidade de fazer urn favor a um qualquer psic6logo experimental. No cntanto, se nao estudarmos primeiro os processes sensoriais em si mesmos, isto e, num quase completo isolamento, nao e de esperar que possamos aprender de que maneira interage a percepc;ao com as esperanc;as e necessidades da pessoa.
3. Experiencias de aprendizagem abertas e flexiveis 3.1. Dinamica do ensino em comunicafiiO multimedia
Hoje, a area cientffico-tecnol6gica das artes de cena e da comunicac;ao multimedia esta muito diferente do que era algumas decadas atras. Os mercados do cinema, da televisao e da comunicac;ao multimedia sao uma realidade inegavel, onde interagem uma multiplicidade de agentes, com as mais diversas fun~oes e interesses. Nesle quadro, urn pouco indefinido, surge a necessidade de construir para o domfnio do espect<kulo, da televisao e da comunica~ao, nomeadamente multimedia, e as suas praticas, urn novo perfil de forma~ao superi01~ com competâ&#x201A;Źncias, capaz de responder a urn novo mercado de trabalho de potencia-
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Jidades aliciantes. Profissao que pode abarcar a realizac;ao e direcc;ao, como a prestac;ao de servic;os e neg6cios na actividade privada ou nas diversas estruturas da Administrac;ao Publica. Justifica-se assim a necessidade de se faze rem novas opc;oes cientfficas e pedag6gicas em materia de educac;ao nos dominios da formac;ao superiot~ que passam pelo empenho em dar resposta as necessidades sociais, no domfnio da comunicac;ao multimedia. Esta nova realidade vai criar urn sem ntimero de oportunidades para as novas gerac;oes em busca dum cspac;o de afirmac;ao pessoal e profissional, nomeadamente nas mt:iltiplas areas artisticas. Neste campo de ensino superior, a pratica cientffica e pedag6gica deve consti luir urn campo fertil de explorac;ao na busca pela consolidac;ao de curricula fl exfveis e adaptaveis a nova realidade do mercado multimedia. Assim. como ajustados as caracterfsticas diferenciadas de aprendizagem dos alunos, permitindo-lhes maior independencia e autonomia na sua formac;ao academica c profissional. Uma nova postura de ensino em ambientes construtivistas informalizados possibilitam nao apcnas maior disponibilidade de bases de informac;ao audiovisuais, mas tambem a criatividade de expressao fundamental no desenvolvimento do conhecimento e de novas fat路mas de comunicac;ao multimedia. A conjugac;ao de novos metodos de ensino, no ambiente de sala de aula, eJuiquece a criac;ao de simulac;oes que reproduzem as circunstancias reais, incluindo os aspectos culturais, afectivos e comunicativos que se dao no con.texto da pratica profissional. Do ponto de vista da sua estrutura e possivel organizar bases nao lineares de conhecimento- hipe1textos c hipcrmedia- dando ao aluno liberdade para criar soluc;oes, buscar e consultar as informac;oes de acordo com o seu nfvel, necessidade e interesse de aprofundamento no conteudo de temas que lhe sejam apresentados. Por outro lado, o potencial de comunicat;ao e interactividade das tecnologias em multimedia possibilita romper barreiras de espac;o e de tempo, uma vcz que a "comunidade de aprendizagem" pode estar em diferentes local izac;oes geograficas, podendo coneclar-se a qualquer momenta, sem prejuizo para o acesso as informac;oes e a interactividade.
3.2. Metodologia e trabalho empi1'ico
No ambito da nossa actividade docente, varias experil!!ncias de ensino tem sido implementadas e avaliadas. As motiva~6es para as explorar na educat;ao do ensino em comunicac;ao multimedia estao ligadas a um princfpio basico: os principais instrumentos de trabalho n.a comunicac;ao multimedia sao, sobretudo, o computador e a camara de filmar. No entanto, estes aparelhos n.ao sao um fi m em si mesmo; nao resolvem os problemas do ensino nesta area espedfica. Nao reproduzem o professor e/ou a relac;ao professor-a luno, mas podem colocar em questao os paradigmas tradicionais e propor transformac;oes nesta Lusfada. Economia & Empresa, Lisboa, n. 0 9/2009
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relac;ao. 0 aluno ~ o agente activo da construc;ao do seu proprio conhecimento; o computador e a dimara serao apenas uma "ferramenta cognitiva", como extensao das capacidades mentais dos aprendentes. A multim~dia, como linguagem emergente, oferece-nos um campo extremamente rico e desafiante sobre as formas de representac;ao do conhecimento cientffico e das nossas percepc;oes sobre os fen6menos, sobre conceitos como lugat~ tempo, espac;o, realidades e culturas. Mas, do ponto de vista da investigac;ao, enfatizamos o papel da pesquisa que aborda a multimed ia nao apenas como mais um recurso instrumental, mas como urn caminho- como se fosse o nosso olho magico -para emiquecer o conhecimento sobre o processo de comunicac;ao e de constrw;ao. Se damos a ler por imagens, e necessario que as saibamos ler n6s pr6prios. E, no minimo, e imperative que saibamos pre(-)ver o que se pode ver, o que se pode sentit~ o que se pode leJ~ quando olhamos para uma imagem . Nao nos devemos escusar a esse esforc;o de decifrac;ao, tomando por 6bvio e simples o que de facto e misterioso e complexo. Edgar Morin (1992), soci6logo, fil6sofo e epistem6logo, considerado um dos principais pensadores da complexidade, traduziu numa curta frase urn aspecto de extrema relevancia: "Saber let~ ver e discernir eq uivale a wn dificil e aleat6rio esforc;o de decifrac;ao e nao a possuir-se uma capacidade verificadora como a dos aparelhos que detectam as notas de banco falsas". No ambito da responsabilidade como docente da unidadc lectiva "Psicologia da Arte e da Expressividade", na liccnciatura em "Comunicac;ao e Multimedia", ministrada na Universidade Lusfada de Lisboa, procuramos estruturar o conhecimento a lransmitir aos alunos, no sentido de adquirirem, de modo proprio, um jufzo crftico e analitico dos produtos de multimedia, incentivando a qualidade e eficacia da sua produc;ao e a plicac;ao. No decUl路so das aulas praticas sao propostas metodologias em estilo de "conferencia de imprensa", isto e, um grupo faz a recolha e apresenta~ao de um material em multimedia e outro grupo solicita esclarecimentos acerca dos fundamentos de analise psicol6gica do produto exposto pelo primeiro. Do trabalho empfrico desenvolvido pelos discentes, ern oficina multimedia, foram realizados varios produtos, abarcando um leque variado de temas, alguns dos quais podem ser visionados na Internet, por exemplo no YouTube e em outras plataformas digitais. Do ponto de vista metodol6gico, a realizac;ao de urn produto multimedia obedece ao desenvolvin1ento dos seguintes passos: 1) Escolha do tema: e.g. "Criatividade";
2) Reflexao de conceitos: e.g. pensamento divergente, sign o e sonho, comunicac;ao multimodal e transmodal; 3) ConstituiftlO do grupo de traballw: numero restrito de alunos, geralmente 4; 4) Pesquisa digital: levanlamento de campo sobre imagens c sons su.gcridos pelo tema e conceitos correlacionados; 228
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A era virtual das tecnologias de infonnac;lio c comunicac;ao, p. 217-230 Selec~iio do material de pesquisa: apresentac;ao, em ambiente de oficina multimedia, da sequencia de imagens e sons alusivos ao tema; 6) Realiza~iio do produto: gravac;ao em suporte de vfdeo do material de pesquisa seleccionado; 7) Analise crftica: Debate sabre o material produzido, com intervenc;ao de outros gmpos de trabalho e apreciac;ao final da docente.
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0 processo nao curricular deste laborat6rio decorreu com grande empenho e interac~o dos alunos e destes com a docente. Desenvolveu-se nao a custa de urn programa formal mas de urn desejo ou vontade de fazer e viver a arte e a expressividade. Na educac;ao, como alias na pr6pria vida, alguem sabiamente dizia: "nao interessa qual o programa, mas sim o que se faz dele, com ele e atraves dele".
4. Conclusao A chamada nova Era digital e virtual esta a determinar os modelos, as organizac;oes, as sociedades c as pr6prias pessoas. A comunicac;ao multimedia assume um papel cada vez mais relevante, redimensionando a importancia dos conte(tdos na nova cadeia de valor das tecnologias de informac;ao e comunicac;ao. No texto apresentado desmistifica-se a concepc;ao errada na oposic;ao entre real e virtual. Em rigor filos6fico, o virtual nao se opoe ao rea l, mas ao actual: virtualidade e actualidade sao apenas duas maneiras de ser diferente. A virtualizac;ao e a pr6pria dinamica do mundo, atraves da qual partilhamos uma realidade. A percepc;ao constitui uma das func;oes somaticas que explica o funcionamento do processo contemporaneo da virtualizac;ao do corpo. Atraves da projecc;ao no mundo tanto da acc;ao como da imagem, a percepc;ao e exteriorizada pelos sistemas de telecomunicac;ao, virtualizando o sentido via visao e interacc;ao sensoriomotora. Relevou-se a teoria Gestalt para mostrar que o significado da percepc;ao advem directamente do comportamento expressivo: corrente psicol6gica assente nos princ.fpios que determinam e organizam a percepc;ao; o modo como estmturamos a realidade. A explicitac;ao sobre o mecanismo de aprendizagem da "arte e expressividade" aplicado na licenciatura em "Comunicac;ao e Multimedia", na Universidade Lusfada de Lisboa, mostra que a produc;ao multimedia realizada, em ambiente de sala de aula, beneficiou da pratica experimental assente numa operacionalidade conceptual e expressiva no contexto estetico do produto projectado. Mostra tambem a importancia na coerencia entre as variaveis corpo, musica, imagem, luz, objecto, movimento, som, silencio; variaveis interactivas em constante pergunta e procura de Iugar e sentido. 0 seu suporte assenta em ideias em torno de outros tennos, como integrac;ao, interdisciplinaridade, transLus(ada. Economia & Empresa, Lisboa, n.0 9/2009
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versalidade, flexibilidade, sequencia, 'gestalt', taxonomias da area cognitiva e afectiva, pluralismo estilistico, universalidade, interactividade de conceitos e competencias, vivencia, expressividade ou ainda, som antes da teoria, compreensao, sequencia, audi<;ao, improvisa<;ao, estrategias de grupo. A metodologia aplicada releva, sobretudo, a importancia de como a motiva<;ao, compreensao, transferencia, integra<;ao, aprendizagem pela descoberta, conhecimento intuitivo ('insight'), ou ainda, pessoalidade, aprendizagem centrada no aluno ('tornar-se pessoa'), liberdade para aprender, atmosfera emocional positiva, afectividade, podem scr encontrados em diferentes movimentos de pensamento, todos eles centrados na criatividade da arte e expressividade. A busca incessante da originalidade, do ins6lito, do novo tra<;o, contorno, textura, material, hknica, estilo, linguagem, enfim, paradigma estetico, e no ÂŁundo a principal finalidade de qualquer aprendizagem artistica.
5. Leituras recomendaveis ARMES, Roy (2003), On vfdeo: o significado dos vtdeos nos meios de comunicar;ao, Sao Paulo, Sununus. ARNHEJM, Rudolf (1997), Pata uma psicologia da atte: atte e e11lropia, Lisboa, Dinalivro. AusuBEL, D. P. eta/ (1978), Educational psychology: a cognitive view, New York, l lolt, Rinehart & Winston. BARBOSA, P. (1995), Metam01joses do real: arte, imagintirio e conhecimento esteHco, Lisboa, Edi~oes Afrontamento. BENJAMIM, Walter (1973), A obra de arte 11a em da reprodutividade l~crticn, Paris. CANCLJNI, Nt'!stor G. (1984), A socializar;ffo da arte, Sao Paulo, Editora Cultrix. CASPURRO, Helena (2004), A prop6sito de Bach2Cage ... surgem discursos sobre cduca1~ e ns inar musica ... a prop6sito ... quando e q ue a arte morreu? In "Comunicarte: Revista de Comunica<;ao e Arte", Departamento de Comunica<;ao e Arte da Universidade de Aveiro. OORFLES, Cillo (1999), 0 devir das aries, Lisboa, Dom Quixote. FRANCASTEL, Pierre (1998), A imngem, a visiio en irnaginnr;ao, Lisboa, Edi<;6es 70. }OLY, Martine (2007), llttrodur;iio il ancilise da imagem, Lisboa, Edi<;oes 70. }OLY, Mar tine (2003), A inwgem e a sun interpreta~iio, Lisboa, Edi~oes 70. }UNQUEIRO, Raul (2002), A idade do conhecimento: a nova era digital, Lisboa, Editorial Notfcias. Li:VY, Pierre (2001), 0 que evirtual? Coimbra, Quarteto Editor a. MARTIN, Marcel (2005), A linguagem cinemntografica, Lisboa, Dinalivro. MORIN, Edgar (1992), As gra11des quesloes do nosso tempo, Lisboa, Editorial Noticias. AITIEZ, J-J eta[ (1977), Semiologia da musicn, Lisboa, Edi<;6es Vega. SAFRA, Gilberto (2005), A face esteticn do self: teoria e clfnica, Sao Paulo, Unimarco Editora. STROGMAN, K. T. (2004), A psicologia da emor;ao, Lisboa, Clime psi cditores.
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