Lusíada Economia e Empresa - 2/3

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II serie, n. 2/3 (2003)

Economia & Empresa Universidade Lusiada • Lisboa

Universidade Lusfada Editora Lisboa • 2003


Lusiada. Economia & Empresa Mediateca da Universidade Lusiada -

Cataloga~ii.o

na Publ ica~iio

LUSiAOA. ECONOMIA & EMPRESA. Lisboa, 2003 Lusiada. Economia & cmprcsa I propr. Universidade Lusiada ; dir. Jose Eduardo Carvalho. -II sCric, n. 2/3 ( 2003) - . - Lisboa : Universidade Lusiada, 2003 Anual ISSN 1645-6750 CDU

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ISSN

1645-6750

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2003

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SuMARIO Nota de abertura ................................................................................ 7 Educa<;ao e investiga<;ao: especificidade da cit~ncia da economia Jose Eduardo Carvalho............................ ........................................... 9 Cultura e subculturas: gestao do sistema cultural nas organiza<;oes Antonio Correia Bernardo ................................................................... 41 A identidade e a imagem das organiza<;oes Maria Helena Faveiro ......................................................................... 71 A representa<;ao social do dinheiro: algumas perspectivas te6ricas e empiricas Vitor Pin a da Costa ................... ....................... .................................... 89 A analise do risco eo euro: que futuro em Portugal? PedTo Frouco Marques ........................................................................ 115 A industria da constru<;ao e obras publicas: a performance de Portugal face aUniao Europeia Luis Palma FeITO ....................................................................... ......... 145 A contratualiza<;ao em saude: modelos de financiamento Ricardo Silva Santos ............ ................................ ............... ................. 175 Seguradoras portuguesas: que futuro? Manuel Marques Valida ....................................................................... 205 Instru<;oes aos autores ....................................................................... 231


NOTA DE ABERTURA

Numa economia moderna o essencial de todo o desenvolvimento baseia-se, cada vez mais, nas ideias, nos conceitos e nas teorias, ou seja, no saber. A gestao tem por tarefa tornar o saber mais produtivo. Taylor levou a que se fizessem provas de inteligencia para aumentar a produtividade do trabalhador manual, mas nunca perguntou a si proprio em que consistia a produtividade do engenheiro, ou out:ro trabalhador intelectual, ocupado em fazer gestao cientffica. Hoje, toda a experiencia do desenvolvimento econ6mico prova que o nwnagem.ent constitui o fen6meno motor e que, como afirmou Peter Drucker, "nao ha pafses subdesenvolvidos, mas somente pafses subgeridos". A preocupw;:ao da produtividade do saber vem provocando altera<;6es na defini<;ao das estruturas econ6micas e empresariais, considerando a gestao simultaneamente como uma "ciencia" e um "humanismo". Etambem uma cultura, o meio para uma dada sociedade fazer frutificar o seu sistema de val ores, fazendo a ponte entre uma civiliza<;ao de voca<;ao mundial e uma cultura baseada numa certa heran<;a, em tradi<;6es, valores e cren<;as particulares. Neste enquadramento, a revista "Lusfada. Economia & Empresa" pretende ser um instrumento de informa<;ao permanente nos domfnios da ciencia da economia e da gestao das organiza<;6es, como contribui<;ao eficaz ao esfor<;o de adapta<;ao e do progresso que se imp6e numa sociedade que se deseja desenvol vida. Como instrumento de trabalho, visa responder a uma tripla necessidade dos economistas e gestores: • Detectar na sua interdependencia os problemas postos pela economia e pel as empresas numa situa<;ao global e sistemica;

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• Conhecer melhor as possibilidades de aplica<;ao e as condi<;6es de eficacia dos metodos de gestao econ6rnica e empresarial que tendem a multiplicar-se e a especializar-se; • Seguir o desenvolvimento dos metodos constantemente enriquecidos pelas contribui<;6es de diversas disciplinas cientfficas. Esta edi<;ao de "Lusfada. Econornia & Empresa" reune uma serie de contributos que incluem analises conceptuais nos dornfnios da educa<;ao e investiga<;ao, na ciencia da econornia, da gestao do sistema cultural, da identidade e imagem das organiza<;6es. Inclui abordagens te6ricas e empfricas na representa<;ao social do dinheiro e na analise do risco eo Euro. Em termos sectoriais, mostra algumas perspectivas econ6micas e empresariais com incidencia em tres actividades: constru<;ao, saude e seguros. Boa leitura.

Jose Eduardo Carvalho Director da Revista

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Educa~ao

e investiga~ao:

especificidade da ciencia da economia

por Jose Eduardo Carvalho Economista. Doutor em Gestiio (ISCTE) Professor Catedrdtico na Faculdade de Ciencias da Econornia e da Empresa da Universidade Lus(ada Membra da Comissao Tecnica Nacional de Biotecnologia (/NET/)

Resumo: • Cada ciencia, a medida que progride, tende a modificar o objecto da sua pesquisa para o adaptar aos seus pr6prios meios de concepr;ao e de expressao, alterando conseq uentemen te o nfvel de conhecimento cientffico anterior. • As ciencias socia is nao permitem uma compreensao do comportamento huinano compatfvel a compreenslio que as ciencias "naturais" dao para o resto da natureza. As atitudes que a seu respeito se assumem nao sao constrangidas pelas caracterfsticas ffsicas dos fen6menos em questao. • A econo mia, enquanto ciencia, pressupoe certos factos hist6ricos acerca das pessoas e das sociedades que em si mesmos sao parte da eco nomia. Sendo uma ciencia formali za da sistematicamente, nao e independente do contexto bio16gico, imune a Hist6ria ou ao estado de Direito. • A aq;ao humana pode considerar-se inteli gente quando a soluqlio nao e obtida por um simples calculo mecilnico, mas no termo duma serie de decisoes que implicam certa liberdade de escolha. A aprendizagem sign ificativa contrasta com a aprendizagem por memori zar;ao, em termos de funcionamento neurobiol6gico do cerebro. • A Universidade ens ina as questoes de hoje e deve preparar os alunos para que eles pr6prios saibam dar respostas as novas questoes de amanha. Deve, portanto, inculcar nos alunos as capacidades pessoais de comunicar;ao, relac;ao interpessoal, de apreensao dos sinais dos tempos, de iniciativa e de sentido crfti co.


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1. IntrodU<;;ao As politicas educativas estao presentemente num estado de alterac;ao continua. Nao s6 porque praticamente todos os estudantes tern hoje acesso ao ensino universita.rio, como tambem os adultos, inseridos profissionalmente, estao a voltar em numero cada vez maior as instituic;oes do ensino superior. Esta tendencia verifica-se porque o saber da humanidade tem tambem um crescimento exponencial. 0 homem subverteu profundamente o seu ambiente grac;as as novas descobertas cientfficas, mas, em retorno, essas inovac;oes modificaram no ser humano as maneiras de pensar, agir e de entrar em contacto comomundo. No fundo, e uma tendencia que tem a sua reminiscencia no pensamento de Descartes, partindo de uma "ideologia" fun dada no indispensavel conhecimento, porque "diz aos homens para sacudirem o jugo da autoridade, para s6 reconhecerem a autoridade confessada pel a sua razao". E este exercfcio da razao que da a todos os seres humanos o acesso aigualdade que na filosofia de Descartes torna-se, pouco a pouco, em igualdade cfvica. 0 ensino superior encontra-se, assim, em constantes modificac;oes quantitativas e qualitativas, mas, sao sobretudo estas ultimas que as Universidades estao mais confrontadas. Com efeito, o movimento para o controlo e avaliac;ao da qualidade e desempenho do ensino universitario comec;a a ter grande impacto no modo como a educac;ao evista pel a sociedade em geral e pelas pessoas nela directamente envolvidas,

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particularmente os professores. Ha, no entanto, urn perigo que tambem emerge como crescimento quantitativa do ensino superior: tornar-se numa "industria" identica a tantas outras, com indicadores de "inputs", processo e "output", bern como das "condi~oes de mercado" para o produto. Neste rumo, ha uma grande tenta~ao de pensar que a melhor maneira de ensinar urn assunto consiste em apresenta-lo na sua forma acabada. Trata-se de urn ensino mecanicista com a redu~ao do papel do professor a de urn tecnico, responsavel antes do mais pela implementa~ao de procedimentos prescritos, em vez do verdadeiro "saber" que aUniversidade cabe transmitir. Os professores sao centrais na questao da qualidade e relevancia da educa~ao, pois o modo como sao formados e preparados para o seu trabalho constitui urn indicador critico do tipo de qualidade que se procura na forma~ao universit:iria. 0 que a sociedade espera dos professores depende em grande parte do que ela pretende da educa~ao.

2. 0 dominio da ciencia Cada ciencia, amedida que progride, ten de a modificar o objecto da sua pesquisa para o adaptar aos seus pr6prios meios de concep~ao e de expressao, alterando consequentemente o nivel de conhecimento cientifico anterior. Esse processo nao e pacffico, antes pelo contr:irio. Existem tambem polemicas neste dorninio, mostrando como as no~oes cientfficas se alteram e de que modo elas sao influenciadas por factores sociais, morais, espirituais e culturais. Urn exemplo deste tipo foi a afirma~ao "0 Erro de Descartes", pelo neurocientista Antonio Damasio. De facto, e muito contundente referir-se a outro cientista, que argumentou aluz do estado da ciencia no seculo XVII, dizendo que o mesmo "errou", comparativamente com os avan~os da ciencia nos prim6rdios do seculo XXI. Por urn lado, porque nao existe "erro" e "verdade" no trabalho cientffico; e,

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Educa<;ao e investiga<;ao: especificidade da ciencia da economia

por outro, porque qualquer tese cientffica nao se esgota em si mesma. Pelo contnirio, pede-se ao seu autor que deixe a porta abe1ta para os trabalhos subsequentes de outros cientistas. Dizia Platao que quando adquirimos novos conhecimentos nao se trata de incorporar "mais" conhecimentos; o que realmente fazemos e aumentar a nossa compreensao das ideias anteriores. Platao tambem distinguia o "conhecimento puro" (episteme), sustentadonas "ideias", e a "opiniao" (doxa), a umnivel inferior de conhecimento, que considerava inculto. 0 conceito de ciencia "exacta" tambern merece alguma reflexao. 0 termo "exacto", aplicado as ciencias da natureza, faz subentender que essas ciencias representam adequadamente a realidade, o que nao e o caso. Por exemplo, quando os astr6nomos medem a distancia da Terra ao Sol, os resultados que obtem nao podem ser exactos, pela boa razao de que essa distancia nem sequer pode ser definida, porque se encontra em permanente mutac.;:ao. A medida obtida e sempre uma medida aproximada. A expressao con-ecta nao e "ciencia exacta" mas "ciencia rigorosa"; trata-se obviamente de urn pleonasmo porque 0 que nao e rigoroso nao e cientffico. Por outro lado, o progresso tecnico pennite-nos realizar experiencias que alm路gam e aprofundam o rigor cientffico; logo, a ciencia e a tecnica, sem se subordinarem uma a outra, apoiam-se mutuamente. No decmTer das ultimas decadas, assistimos a uma mudanc.;:a radical da nossa maneira de encarm路 a tecnica. Para o fil6sofo Francis Bacon (sec. XVII), a tecnica tinha como objectivo realizar tudo o que fosse possfvel. Pm路a Einstein, pelo contnkio, "ha coisas que seria prefelivel nao fazer", gtito que lanc.;:ou quando soube de Hiroxima. 0 que esta em causae deixar de considerar automaticamente como progresso toda e qualquer inovac.;:ao tecnica. Antes de mais, impmta definir o uso que fazemos dela. As normas tecnicas, ou cognitivas, de caracter epistemol6gico, dizem respeito aos criterios de validac,;:ao e predic,;:ao cientffica. As normas morais, ou sociais, dizem respeito aos valores e regras de conduta dos cientistas (Jesuino, in

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Gon<;alves, 1996). Albert Jacquard ( 1997) diz que nao ha progresso tecnico sem urn a compreensao do que se passa anossa volta. 0 objectivo de toda a tecnica e, assim, claro, obter efic;kia; o que estci em causa e obter urn bern util que a natureza nao disponibiliza. Por isso, as actuais sociedades dominantes colocaram o progresso tecnico ao servi<;o do exito econ6mico; escolha nao isenta de riscos, com custos sociais evidentes. Uma das consequencias dos progressos tecnol6gicos deste seculo e a difusao instantanea dainforma<;ao, a nipida circula<;ao dos produtos: todos as pessoas sao informadas dos mesmos acontecimentos e tern acesso aos mesmos objectos fabricados. Ora esses acontecimentos nem sempre sao os mais relevantes, nem esses objectos sao sempre os mais uteis. As redes de comunica<;ao e de comercializa<;ao tornaram-se os agentes desse grande movimento da uniformiza<;ao. 0 resultado a que se chegou nao e, todavia, uma fatalidade. Pelo contnirio, eo fruto da aceita<;ao pela sociedade dominante, a sociedade ocidental, de urn dispositivo econ6mico assente na competi<;ao. Parece urgente encontrar uma maneira de colocar esses meios tecnicos ao servi<;o da manuten<;ao da diversidade. Por outro lado, geralmente as pessoas s6 vern transforma<;6es cientificas nas mudan<;as tecnicas: passar da con versa presencia! para a conversa pelo telem6vel, a transi<;ao do habito de ler e ouvir musica para a discoteca e a televisao. Esta e uma visao da ciencia como criadora de conforto. Mas, a ciencia deve ser igualmente criadora de valores. Inovar e, fundamentalmente, descobrir rela<;oes novas, quer entre as coisas, quer entre conceitos.

3. Caracteristicas das ciencias sociais As situa<;6es sociais sao, no essencial, impossfveis ou diffceis de reproduzir; cada situa<;ao e uma situa<;ao quase unica, determinada por circunstancias

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Ecluca~ao

c in vcstiga9ao : espec ificidadc da cicncia cia economia

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hist6ricas e sociais unicas. Por is so, as ciencias sociais, em geral, nao permitem uma compreensao do comportamento humano compan'ivel acompreensao que as ciencias "naturais" dao para ores to da natureza. Searl ( 1997) justifica que nao existe uma ciencia do comportamento porque dificilmente se encontram as caracteristicas que todas as condutas humanas tenham em comum; e, por outro lado, as coisas particulares que se desejem explicar, podem explicar-se pelas ciencias ja existentes. A rela<;ao entre sociologia e economia, porum lado, e a ffsica, por outro, e efectivamente de todo diversa das rela<;5es, por exemplo, da geologia, biologia e out:ras ciencias naturais especfficas. De facto, as leis da sociedade e da Hist6ria nao capacitam os cientistas sociais a predizer guerras e revolu<;5es com a mesma precisao e rigor com que os cientistas naturais predizem a acelera<;ao da queda de um corpo no vazio a nfvel do mar. A razao porque a descoberta da estrutura do DNA foi tao importante para a biologia ou porque a teoria da bacteria na doen<;a foi tambem importante para a medicina e que, em cada caso, ela man tern a promessa de sistematicamente explicar caracteristicas de nfvel superior, como os tra<;os da hereditariedade e os sintomas, em termos de elementos fundamentais. Os fen6menos sociai s nao se fundamentam do mesmo modo que os fen6menos naturais. Porque? A resposta esta em que as caracterfsticas sociais sao, em parte, determinadas pelas atitudes que os actores sociais tomam em rela<;ao aos fen6menos que observam. Para um vasto numero de fen6menos sociais, o conceito que nomeia o fen6meno e tambem urn constituinte do fen6meno. Por exemplo, para que algo smja como um sindicato, ou propriedade ou dinheiro, ou mesmo uma guerra ou revolu<;ao, as pessoas implicadas nessas actividades devem ter certos pensamentos apropriados; para conseguirem comprar propriedades tem de pensar no que e que estao a fazer. Assim, as caracteristicas sociais em questao sao determinadas pelas atitudes - -- --------- - ------------ - - Lusfad a. Economia & Empresa, 11 serie, n. 2/3 (2003)

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que em rela~ao a elas se tomam; as atitudes que a seu respeito se assumem nao sao constrangidas pelas caracterfsticas ffsicas dos fen6menos em questao. 0 dinheiro, por exemplo, tomou sempre urn ambito lirnitado de formas ffsicas (ouro, prata, papel, cartao magnetico, etc.). No entanto, as pessoas ou a sociedade consideram mais alguma coisa como dinheiro para alem das propriedades ffsicas, contanto que a sua realiza~ao ffsica perrnita o uso do material como urn meio de troca e de rendimento. Ou seja, o pensamento de que algo e dinheiro e urn processo cerebral na mente dos actores sociais essencial para a sua existencia como dirtheiro. 0 mesmo e dizer que os fen6menos sociais definem-se, em grande parte, em termos de atitudes especificas que as pessoas tomam. 0 que caracteriza as diversas ciencias sociais (e humanas) e que a realidade por elas estudada e a propria "condi~ao humana", tomada objecto de urn metodo especffico (Gurvitch, in Nunes, 1987). A distin~ao entre as varias ciencias sociais esta em cada uma das disciplinas adoptar, em rela~ao a realidade social, uma 6ptica de analise diferente. Por exemplo, a econornia, a demografia e a ciencia politica diferem entre si porque encaram, abordam e analisam de formas diferentes os mesmos fen6menos sociais, os mesmos grupos, as mesmas sociedades. No fundamental, as ciencias sociais diferem umas das outras por o "centro de interesse da investiga~ao" ser, para cada uma delas, diferente do de todas as restantes. Mais precisamente- segundo Sedas Nunes ( 1987) - podemos destrin~ar quatro nfveis, ao considerar empiricamente, na sua visibilidade imediata, a forma como as diversas ciencias sociais se diferenciam umas das outras: - Os "fins ou objectivos" que comandam a investiga~ao, i.e., o que "interessa" aos investigadores analisar, explicar, compreender; -A natureza, condicionada por esses fins, dos "problemas de investiga~ao" que os investigadores definem como sendo aqueles sobre os quais a sua pesquisa deve incidir;

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Educ a~iio

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investiga~ao :

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especificidade da ciencia da economia

- Os criterios utilizados pelos investigadores, a fim de seleccionarem as "variaveis relevantes" para o estudo desses problemas; - Os "metodos e tecnicas" de pesquisa empfrica e de interpreta~ao teorica que os investigadores consideram adequados para trabalhar com as variaveis escolhidas, resolver os problemas de investiga~ao com que se defrontam e atingir os fins ou objectivos visados. Cada ciencia representa uma outra maneira de "ler" oreal, diferente dado sensocomum. Implica um outro codigo de leitura, uma certa forma de constru~ao de out.ros "objectos" que nao aqueles em que podemos "ler" oreal do dia-a-dia. No conjunto, as inumeras "formas" ou "imagens", de que somos portadores, constituem urn "codigo de leitura do real" que permite, nao apreende-lo na sua realidade ou materialidade propria, mas atribuir e perceber em cada urn dos objectos reais urn certo "significado" que para nos se reveste ou que lhe imputamos. A ciencia pressupoe ruptura com as "evidencias" do senso comum. Tern, pmtanto, de inventar urn novo codigo, o que significa que, recusando e contestando o mundo dos objectos do senso comum, tern de construir urn novo "universo conceptual", todo urn sistema de novos conceitos e de rela~oes entre conceitos, ou seja, todo urn corpo de novos objectos e de novas rela~oes entre objectos. Assim, o objecto cientifico de uma determinada disciplina e constitufdo pelo conjunto conceptual construido como fim de se dar conta de uma multiplicidade de objectos reais que, por hipotese, essa ciencia tern em vista analisar (Castells, in Nunes, 1987). 0 que cada uma das ciencias sociais faz, e de facto, a medida que se vai constituindo e desenvol vendo como disciplina cientffica, submeter a interroga~ao sistematica os aspectos do real-concreto social que sao postos em rela~ao pelas questoes decorrentes das problematicas teoricas por ela mesma elaboradas e reelaboradas. Eem fun~ao destas problematicas que, ao longo do tempo, o seu proprio objecto cientffico se vai progressivamente construindo, desconstruindo e reconstruindo.

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Fundarnentalmente, as vruias ciencias sociais diferem uma das outras por serem diferentes nos seguintes aspectos: -as "problematicas te6ricas" que elaboram; -as "interrogav5es" a que sujeitam a realidade; - os "objectos cientfficos" que a seu respeito constroem; - os "c6digos de leitura" do real-concreto que, para a decifrar, nos prop5em. No fundo, todo o conhecimento, por mais empfrico que se afigure, ede facto abstracvao e constru9ao.

4. Especificidade da ciencia da economia As ciencias sociais tratam em geral de varios aspectos de intencionalidade. No caso da ciencia econ6mica - produ9ao e distribui9ao de bens e servi9os - o economista em ac9ao pode simplesmente tamar como garantia a intencionalidade: pressup5e que os empresarios tentam fazer dinheiro e que os consumidores procuram adquirir os bens e servi9os que necessitam na rela9ao quantidadeprevo. Depois, as "leis da economia" referem os resultados ou consequencias sistematicas de tais suposi96es. Assim, dadas certas suposi96es, o economista pode deduzir que empresru路ios sensatos venderao onde o seu custo marginal iguala o rendimento marginal. Mas, a lei nao refere o conteudo da intencionalidade individual do empresario; limitase a elaborar as consequencias de tal intencionalidade. A teoria da firma, em microeconomia, elabora as consequencias de certos pressupostos acerca dos desejos e possibilidades dos consumidores e empresas empenhadas na compra, produ9ao e venda. A macroeconomia elabora as consequencias de tais pressupostos para a sociedade no seu todo, nacional e internacional. A parte sistematica da disciplina consiste em elaborar as

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Educayilo e

in vestiga~ao :

especificiclade cia ciencia da cconomia

consequencias dos factos a prop6sito da intencionalidade dos agentes econ6micos. A economia, enquanto ciencia, pressup6e certos factos hist6ricos acerca das pessoas e das sociedades que em si mesmas sao parte da economia. Porem, quando esses factos mudam, a economia deve tambem mudar. Por exemplo, ate M relativamente pouco tempo, a curva de Philips- constatac;:ao empfrica de uma relac;:ao decrescente entre a taxa de variac;:ao dos salarios e a taxa de desemprego- pareceu fornecer uma descric;:ao ex acta das realidades econ6micas nessas sociedades; mas, o fen6meno da "estagflac;:ao", (combinac;:ao de desemprego e inflac;:ao ), colocou em causa essa mesma constatac;:ao. A maior parte dos economistas diz que is so se deve a que ela nao descrevia exactamente a realidade ou talvez descrevesse exactamente a realidade tal como era naquelc tempo. 0 facto, e que ap6s as crises do petrol eo e out:ros varios acontecimentos, a pmtir dos anos setenta, a realidade econ6mica mudou. Edward Wilson, o bi6logo de Harvard conhecido pelos seus trabalhos de sociobiologia e pel as suas reflex6es sobre a ciencia moderna, e muito critico em relac;:ao as ciencias sociais. Diz que estas se tem recusado a criar modelos testaveis da realidade e que o p6s-modemismo as tem embrenhado numa espiral esteril de auto-referencias. Mas, Wilson abre uma excepc;:ao a economia, por considerar que "eo empreendimento que esta melhor colocado para estabelecer a ponte com as ciencias da natureza" e - a:firma- que tal se deve a utilizac;:ao da matematica nessa disciplina. De facto, historicamente, a economia conseguiu ganhar o estatuto de ciencia no final do seculo XIX, quando passou a incorporar a linguagem matematica. Na altura, a rainha das ciencias era a ffsica, a qual, na tradic;:ao newtoniana, utilizava abundantemente a matematica, tornando--se o sfmbolo da respeitabilidade cientffica de uma disciplina. A matematica entrou na economia pela mao do economista britanico Alfred Marshall (1842-1924) e de uma forma nao intencional. Na suaobra "Principles of Economics" (1890), Marshall apresentou os mgumentos em prosa, mas completou cada capitulo com um apendice descrevendo esses mesmos - -- - - ··--·······- · · - - - - - -·- ···- - - -·

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argumentos sob a forma matematica. Os professores universitarios, que adoptaram a obra de Marshall, decidiram leccionar a disciplina nao pelo texto principal do livro mas pelos seus apendices, com cerca de 800 paginas. Esta decisao dos academicos satisfazia os seus interesses corporativos, tornando a disciplina inacessivel ageneralidade dos cidadaos e, por outro lado, conferia-lhes uma pretensa respeitabilidade cientifica que, na aparencia, aproximava os economistas do estatuto que na altura era conferido apenas aos fisicos. Os economistas deparavam-se como mesmo problema com que se confrontavam outras ciencias nao experimentais: a impossibilidade de isolar variaveis e realizar testes em laborat6rio. Com a formulac;ao matematica, o metodo experimentalinstrumento de progresso das ciencias da natureza - deixava de estar vedado a econmma. Pretendendo formalizar e matematizar o seu campo de estudo, os economistas comec;aram por modelos simples, que evidenciassem o comportamento das variaveis econ6micas fundamentais. Como todas as circunstancias envolventes podem influenciar o efeito de uma determinada causa, esses modelos colocaram a hip6tese chamada "ceteris paribus", isto e, o pressuposto de que todas as circunstancias envolventes se mantinham constantes, excepto as variaveis em analise. Por exemplo, para estudar os efeitos da variac;ao dos prec;os na procura de pao, os economistas formalizavam urn modelo em que apenas o prec;o do pao variava. Porem, na realidade is so nunca acontece: a populac;ao e os seus gostos variam com o tempo, os rendimentos evoluem e os prec;os do pao nunca sobem sensivelmente sem, ao mesmo tempo, variarem os prec;os da farinha, da agua, dos combustfveis ou dos salarios. Assim, a hip6tese te6rica "ceteris paribus" nunca se verificava na pratica e parecia dificil ultrapassar esta dificuldade em testar as conclusoes dos modelos econ6micos. A estatfstica veio em auxilio dos economistas, fornecendo urn substituto para o

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Educa~ao

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e

investi g a~ a o:

es pecificidade da ·:iencia da economia

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metodo experimental. A estatfstica aplicada aeconomia, que se veio a chamar econometria, trabalha com grandes massas de dados, em que se verificam variac;5es em todos os sentidos das diversas variaveis. No entanto, essas variac;oes podem compensar-se mutuamente, pelo que e possfvel isolar os efeitos de algumas vmiaveis sobre outras. Para os econometristas trata-se de encontrar o "comportamento medio" das variaveis econ6micas, que assim revelam o seu movimento em condic;5es de "ceteris paribus". 0 raciocfnio e 0 seguinte: 0 comportamento humano e, efectivamente, erratico, os individuos comp01tam-se de fonna imprevisfvel; mas, tornados no seu conjunto, os individuos aparentemente desorganizados obedecem a "leis de erros" que representam desvios a um compmtamento medio. Em meados do seculo XX, a econometria veio a abrac;ar o estudo probabilistico dos dados estatisticos. A personagem central desta mudanc;a, conhecida como a "revoluc;ao probabilistica em econometria" foi o economista nomegues Trygve Haavelmo (1911-1999). N a sua tese de doutoramento (1944), Haavelmo mostrou que muitas conclus5es anteriores de estudos estatfsticos nao ermn validas, sendo necessario adoptar uma fundamentac;ao probabilfstica para permitir, mais do que simplesmente descrever, o comportamento das variaveis econ6micas. Adoptando uma metodologia rigorosa de testes estatfsticos, demonstrou, matematicamente, a forma da economia ultrapassm· a dificuldade de recurso a experimentac;ao Criou-se, assim, a tradic;ao de considerar que um bom economista tem de ser, em plimeiro lugar, um bom matematico. A evoluc;ao do ensino da disciplina tem mostrado que, nao obstante a necessidade de uma formac;ao minima em matematica, as disciplinas nuclem·es afmmac;ao em economia sao a Filosofia, a Hist6Iia, a Biologia eo Direito. A economia, sendo uma ciencia formalizada sistematicamente, nao e independente do contexto biol6gico, imune Hist6ria ou ao estado de Direito. Funda-se em praticas humanas, mas essas praticas nao sao intemporais, eternas ou inevitaveis.

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Contudo, a ciencia econ6mica- praticamente ainda em fase de consolidac;ao -

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parece condenada a uma morte prematura, pelos gurus ao servi<;o dos neg6cios mediaticos, face aemergente "nova economia": uma constru<;ao encantat6ria com que se mitificam e mistificam aspectos do actual estadio de mercantiliza<;iio do Mundo. Os pensadores do novo modelo econ6mico, identificam a economia com os neg6cios mais do que como sistema produtivo; com os titulos de propriedade mais que com os meios de produ<;iio; com as finan<;as mais que como capital produtivo; como capital mais que com os bens de equipamento; em resumo, com a terminologia e a forma de mercado mais que com a substancia econ6mica. A nova economia teve os seus falsos profetas, mas nao se baseou apenas em falsas expectativas. As inova<;oes tecnol6gicas e os ganhos de produtividade abriram oportunidades incriveis. As fraudes contabilisticas foram consequencias da necessidade de manter os lucros fabulosos depois que a bolha estourou ou simplesmente de esconder os prejuizos.Executivos rompem as regras do jogo em escala escandalosa depois do boom. As ac<;oes em alta dao urn senso de invensibilidade e quando o mercado vai para baixo e preciso maquilhar os numeros. Porem, nao faltaram as adve1tencias sobre os feiti<;os da nova economia, mesmo da parte daqueles que ajudaram a dar a sensa<;iio da sua invensibilidade. 0 mago Alan Greenspan falou da exuberancia irracional eo guru da bolsa, Warren Buffet, pontificou:fique temeroso quando os outros siio gananciosos e seja ganancioso apenas quando os outros estiio temerosos. Neste novo quadro de comportamentos atfpicos, qual a abordagem cientffica adequada? Provavelmente a politica subjacente a "nova economia", assumida ao mais alto nivel da finan<;a intemacional, encontrara melhor fundamenta<;iio na ciencia polftica do que, propriamente, na ciencia econ6mica.

5. A meta-aprendizagem do conhecimento A ciencia deve, fundamentalmente, tratar dos fen6menos objectivamente

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Eetuca.;;ao e investiga.;;ao: especificietade eta ciencia eta economia

observaveis. Para isso, os cientistas utilizam a sua "mente", ou seja,justamente, as sequencias de pensamentos, sentimentos e experiencias, quer conscientes quer incosncientes, que constituem a vida cerebral. Searl ( 1997) aponta quatro caracterfsticas dos estados mentais: consciencia, intencionalidade, subjectividade e causalidade. A primeira e a mais importante das caractelisticas porquanto a consciencia e o facto central da exisU~ncia especificamente humana; sem ela todos os outros aspectos especificamente humanos - linguagem, amor, humor e assim por diante - seriam impossfveis. A "intencionalidade" e a caracterfstica pel a qual os estados mentais se dirigem a, ou se referem a, ou sao acerca de, ou sao de objectos e estados de coisas no mundo diferentes deles mesmos. A caracterfstica da "subjectividade" diz respeito aconsciencia do estado mental interno de uma pessoa, inteiramente distinto dos estados mentais de outras pessoas; ou seja, corresponde ao ponto de vista que cada urn tem dos fen6menos que observa. A ultima caracterfstica, ada "causalidade", refere-se ao efeito causal da forma como se comportam os pensamentos e sentimentos da pessoa. Estas quatro caracterfsticas sao propriedades do cerebra humano. Mas, porque 0 cerebra e ainda pouco compreendido, alguns cientistas e tecn6logos sao constantemente tentados a usar a ultima tecnologia como urn modelo para o tentar compreender. Existem analogias humanas para quase tudo na natureza: o cora<;ao e uma bomba; 0 olho e uma Camara fotografica; OS genes sao receitas; 0 cerebra e feito de fios (conhecidos por ax6nios) e interruptores (sinapses); o sistemaimunitario e uma agencia de contra-espionagem. E, assim, por diante. 0 proprio Freud chegou a comparar o cerebra a sistemas hidniulicos e - -- -------

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electromagneticos; e Leibniz comparou-o a urn moinho. Alguns dos antigos gregos pensavam que o cerebra funcionava como uma catapulta. Hoje, a metafora eo computador digital e, com ela, emerge o conceito de inteligencia rutificial 11

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•

A argumenta<;ao, a favor desta metafora, diz que tanto os seres humanos como os computadores seguem regras. A metafora e totalmente in6cua. Mas, a confusao surge quando a metafora se torna aletra e se usa o senti do metaf6rico do computador de seguir regras para ten tar explicar o sentido psicol6gico do seguimento de regras. Existe uma diferen<;a crucial: os seres humanos, sempre que seguem regras, sao guiados pelo conteudo efectivo ou pelo significado efectivo da regras. Assim, no caso do seguimento de regras pelos humanos, os significados causam comportamentos. E, neste sentido, os computadores de nenhum modo seguem regras; apenas actuam de acordo com certos procedimentos formais. 0 programa do computador determina os varios passos que o maquinismo deve fazer; determina o modo como urn estado sera transformado num estado subsequente. Podemos falar metaforicamente como se se tratasse do seguimento de regras, mas no sentido literal, em que os seres humanos seguem regras, os computadores nao as seguem; apenas actuam como se estivessem a seguir regras.

Eenganador pensar no cerebra como urn computador por muitas razoes, mas uma das mais 6bvias e a de que num computador urn interruptor electrico e apenas urn interruptor electrico. No cerebra uma sinapse (jun<;ao entre celulas nervosas) e urn interruptor electrico irnplantado num receptor quirnico de grande sensibilidade. As caracterfsticas mentais do ser humano dao-lhe a liberdade de se alguem prediz que ele vai fazer alguma coisa, poder muito bern ele nao fazer essa coisa. Ora, este tipo de op<;ao nao esta adisposi<;ao de nenhum computador. A cerca dos chamados computadores inteligentes temos de nos por de acordo sobre uma defini<;ao de inteligencia. Esta nao e apenas a capacidade de compreender, memorizar, deduzir logicamente; e tambem a capacidade dos II

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Educa9ilo e in vestigaqao: especificidade da ciencia da economia

sentimentos, imaginar o futuro com esperan~a ou angustia, sentir-se ser. Is to nao esta ao alcance de nenhum computador. Pode ensinar-se urn computador a clizer "Amo-te" , mas nao se pode ensina-lo a amar (Jacquard, 1997). 0 ser humano age conscientemente com base em estados intencionais - cren~as, temores, desejos, etc. - e, nesse sentido, os estados mentais funcionam causalmente; mas, esta forma de causae efeito nao e determinfstica. esperan~as,

A ac~ao humana pode considerar-se inteligente quando a solu~ao nao e obtida por urn simples calculo mecanico, mas no termo duma serie de decis6es que implicam certa liberdade de escolha. Os especialistas destinguem os processos "algorftmicos" dos processos "heurfsticos". Os primeiros pertencem ao domfnio do calculo e necessariamente conduzem a urn resultado (no caso de o problema ser soluvel e de as regras serem respeitadas). Os processos hemisticos, cujo resultado nao e rigorosamente pre-determinado, assemelham-se aos que empregam urn ser humano perante urn problema cuja resolu~ao nao depende de pura dedu~ao, mas que apela para hip6teses, tentativas, avalia<;6es, recuos. Por isso, os processos heuristicos sao, geralmente, mais adequados, que os processos algoritmicos, no estudo das ciencias sociais. Na natureza como na sociedade, a ac<;ao exerce-se, duma maneira geral, em condi~6es incertas, nas quais as consequencias nao podem ser exactamente previstas. Agir inteligentemente consiste em tomar as incertezas em considera<;ao e em substituir os raciocfnios rigorosos por avalia<;6es provaveis. No entanto, se bern que o sentimento do aleat6rio, do incerto e do risco fa<;am parte da experiencia co mum, a manipula<;ao intelectual das probabilidades revela-se muitas vezes diffcil. Tal vez porque tudo o que se refere a probabilidades provoca certo malestar contra o qual as pessoas tendem a precaver-se na vida concreta por meio de varias receitas irracionais (personaficac;ao da sorte ou do azar, tentativas de conciliac;ao com os dois). A rubrica sob a qual se estuda o comportamento perante situa~6es incertas chama-se "decisao". Com a colaborac;ao dos matematicos, atingiu um notavel

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grau de abstrac~ao nas elabora~6es teoricas (e.g. Bresson, in Fraisse, Piaget, "Traite de psychologic experimentale"). As decis6es sao determinadas pelos valores, mas a par dos valores objectivamente estimaveis e sobrepondo-se-lhes, intervem a escala que o individuo construiu para si proprio, e que depende de multiplos factores (temperamento, educa~ao, imita~ao ). A conduta racional por excelencia implica uma tomada de consciencia e uma aprecia~ao dos elementos des sa escala, que exprimem orienta~6es essenciais porque relativas apropiia pessoa, do que os calculos sobre valores meramente objectivos. Mas, esta tomada de consciencia e uma forma de conhecimento de si mesmo, cujo processo defronta muitas dificuldades e reticencias.

6. A estrutura cognitiva no papel da educaÂŤ;ao Nao e de todo despiciendo que o educador deva conhecer alguns conceitos relacionados com a "ferramenta" que mais utiliza no de curso do trabalho de ensino e investiga~ao : o cerebro. Aprender e fazer novas liga~6es entre celulas do cerebro, processo que requer uma mistura judiciosa de relembrar e esquecer. Os genes constituem o pauimonio hereditario de natureza cognitiva que programa 0 funcionamento das celulas do cerebro. 0 genoma humano e 0 "livro" de que dispomos para nos ajudar no processo de aprendizagem, permitindo extrair a informa~ao do mundo numa questao de segundos e incorporar essa informa~ao no comportamento do cerebro. No cromossoma 16 estao alguns dos nossos "professores" naturais: os genes que permitem a aprendizagem e a memoria. No estado de arte da neurociencia actual, sabe-se que morfologicamente o cerebro apresenta-se como uma estratifica~ao com tres nfveis sobrepostos: -Urn piimeiro cerebro, ou "paleoencefalo", na continuidade da espinal medula e do cerebelo, comportando o conjunto das fun~6es ditas talfunicas. Este cerebro

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Educa9iio e investigar,:ao : especificiclade cia ciencia da economia

muito antigo (tambem denominado cerebro reptflico) compreende os mecanismos regulares do sono, os comutadores das vias opticas e auditivas, o centro coordenador principal da vida das v1sceras, e outras fun<;:oes; desempenha urn papel primordial no comp01tamento e na atitude pessoal; - 0 segundo cerebro, geralmente conhecido por "sistema lfmbico", e responsavel por certas fun<;:oes especfficas; participa no controlo central das mensagens sensoliais, desempenha urn papel na memoriza<;:ao de curta dura<;:ao e controla os comportamentos complexos (e.g. busca de comida, sexualidade); - 0 terceiro cerebro ou "neocortex" e, no ser humano, o mais complexo; nao so ocupa em volume a maior parte da caixa craniana, como desenvolve circunvolu<;:oes ao longo da sua evolu<;:ao, aumentando assim a superffcie ate 80 por cento do conjunto da superffcie do encefalo. Os comportamentos primarios provem de informa<;:oes sensoriais recebidas do mundo exterior ou do mundo vegetativo interior. Estes comportamentos comuns ao homem e ao animal (ou pelo menos aos mamfferos) fazem intervir os dois primeiros cerebros. Ao nfvel do primeiro cerebro- sede dos instintos- o hipotalamo desempenha urn papel essencial; eo centro coordenador do sistema nervoso encarregado da regula<;:ao do calor, dos movimentos cardfacos, do comportamento sexual, da coordena<;:ao do sistema das glandulas endocrinas, etc.; e tambem o centro da agressi vi dade. 0 cerebro lfmbico - sede dos afectos - intervem sobre o comportamento e as atitudes; tern a propriedade de reter as infonna<;:oes recebidas e pode ainda exercer o controlo central de diversas mensagens sensOJiais; contern em memoria os resultados de experiencias passadas e pode ainda compara-las com as percep<;:oes sensoriais do momento. As fun<;:oes de aprendizagem e de conhecimento fazem intervir um nfvel de organiza<;ao superior ao dos instintos e dos afectos, o qual e assegurado pelo neocortex. Neste cerebro humano, intervem uma particularidade no processo - - - - - - ···-··--

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de congnic;ao: a dissemetJia de funcionamento dos hemisferios direito e esquerdo. Enquanto o hemisferio esquerdo funciona de fonna analitica, 16gica e linear, o hemisferio direito procede por apreensao global do mundo exterior, usando o pensamento abstracto, espacial e associativo; e, assim, que a leitura ou o raciocfnio deduti vo apelam aintervenc;ao do 16bulo esquerdo, enquanto o artista ou o poeta trabalham preferencialmente com o 16bulo direito. Existe, no entanto, uma constante interacc;ao entre os dois hemisferios.

Neocortex Hemisferio esquerdo

<:::=::===>

Hemisferio direito

.[]. Analise ln fo rmagoes

Sintese

~

Decisoes

Memo ria activa

D

D Cerebro Jimbico

(memoria pennan ente- refle xos condicionados)

Fig. I - Processo de cognigiio do cerebro

Muitos pedagogos sao de opiniao que a educac;ao na cultura ocidental treina preferencialmente o hemisf6io cerebral esquerdo, minimizando o hemisferico cerebral direito, e, portanto, os pensamentos Ciiativos. Referem que a educac;ao em geral e o ensino em particular sao os vectores privilegiados de transmissao de valores sociais, pelo que as sociedades ocidentais, tecnicas e "avanc;adas" valmizam sobretudo um modo de pensamento analftico e racional, que favorec;a os indivfduos que possuam um "bom" cerebra esquerdo.

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Educa~ao

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e

in ves ti ga~ao:

especificiclade da ci enci a cia eco nomia

0 exemplo mais demonstrativo passa-se na sociedade norte-americana, e varios investigadores nos Estados Unidos, entre os quais Speny (in Mendoza, 1998), chamaram ja a atenc;ao dos responsaveis da politica educativa para este problema. Se o processo cientifico de validac;ao de uma hip6tese, que implica manifestamente o hemisferio esquerdo, e bern conhecido e ensinado na aula, ninguem parece a altura de formar OS alunos no proceSSO intuitiVO que leva a gerac;ao da hip6tese e que parece mais fazer apelo as aptidoes do hemisferio direito (Mendoza, 1998). Admitindo que esse desequilibrio, a favor de urn certo tipo de pensamento, possa ter consequencias muito negativas sobre o desenvolvimento harmonioso dos individuos, os investigadores pedagogos defendem a causa de urn reequilibrio dos program as de formac;ao a fim de que cesse o "imperialismo" do raciocfnio e da verbalizac;ao. Mendoza (1998) vai ao ponto de notar que a Franc;a, talvez pelo facto da sua antiga tradic;ao humanista, conhece uma situac;ao paradoxa!. Por intermedio do sistema escolar, urn papel essencial de selecc;ao e atribufdo as disciplinas cientfficas e, ao mesmo tempo, as sondagens mostram que os conhecimentos cientificos nao sao, geralmente, considerados pelos franceses como fazendo parte da cultura. Tudo se passa como se uma clivagem fosse operada entre "racional" e "cultural": o hemisferio esquerdo ocupa-se da racionalidade e considera-se o hemisferio direito como criativo e cultural. Esta e uma concepc;ao restlitiva da cultura e da criatividade, porque a verdadeira criatividade- que inclui a produc;ao dos conhecimentos cientfficos no mesmo titulo que as pesquisas esteticas ou artfsticas- combina intuic;ao e 16gica. V arias descobertas cientificas importantes nada devem ao raciocinio, e foram realizadas (ou mais exactamente imaginadas) ao longo de estados de consciencia pr6ximos do sonho ou da relaxac;ao.

7. A aprendizagem significativa Por que e que as pessoas tern tanta dificuldade em organizar, utilizar e criar

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conhecimento? Novak (2000) diz que o fundamento necessario para a compreensao da natureza e da cria9ao de conhecimentos esta em compreender a "aprendizagem significati va", teoria introduzida por David Ausubel, em 1962, sob o titulo "A subsumption theory of meaningful verbal learning and retention". A grande conuibuiyao de Ausubel foi a distin9ao que introduziu enu·e a sequencia continua "ensino por recepyao - ensino por descoberta" e a sequencia continua "aprendizagem memoristica- aprendizagem significativa". A aprendizagem significativa cont:rasta com a aprendizagem por memorizayao, em termos de funcionamento neurobiol6gico do cerebro. A aprendizagem por memorizayao pode ser util em algumas ocasioes, tais como quando se memoriza urn poema ou as tabelas de multiplicayao. Mas, o verdadeiro valor da aprendizagem surge quando se con segue compreender o significado daquilo que se memorizou, pois e este que confere importancia aprendizagem. A pessoa que simplesmente memoriza e, quanto muito, uma tecnica, enquanto aquela que compreende e inte1preta o seu significado e, de facto, detentora de conhecimento.

a

Novak (2000) diz que o conhecimento que se apreende significativamente, que se constr6i a partir de uma uniao das acy6es, sentimentos e pensamento consciente, e urn conhecimento que se controla. Pense-se em qualquer area de conhecimento onde se consegue relacionar o que se sabe com a forma como esse conhecimento funciona, para compreender o senti do da experiencia nessa area, e ter-se-a urn exemplo de conhecimento apreendido significativamente. Este e urn conhecimento que se consegue controlar e que da uma sensa9ao de posse e de poder. Depois, pense-se numa area de conhecimento que se aprendeu, na sua maioria, por memorizayao. Sera, pelo contrario, urn conhecimento que se esqueceu quase completamente, ou que se considera ter poucas rela96es com a experiencia e sobre o qual se sente pouco poder ou controlo.

0 problema resultante da aprendizagem por memorizayao versus significativa pode ser visualizado na Fig. 2.

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Eciucar;ao e investigac;ao: cspecificiciade cia cicnc ia cia economia

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Depressa

Aprendizagem signi ficativa Taxa de aprendizagem

Aprendizagem memoristica

I Devagar

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Fig. 2 - Aprendizagem memori stica versus aprendizagem significativa

No esquema da Fig. 2 observa-se que na fase inicial de um programa de aprendizagem, a memoriza<_;:ao das informa<_;:5es pode ser mais n\pida do que a aprendizagam significatica. Mas, quando ocotTe o esquecimento, ba inte1ferencias com a nova aprendizagem e erelativamente menor a rapidez da aprendizagem mecanica do que ada aprendizagem significativa. Nesta a recorda<_;:ao mais forte nao ocorre qualquer interferencia, m as, sim, uma facilita<_;:ao da aprendizagem (Novak, 2000).

e

Na teoria de Novak (2000), a aprendizagem significativa esta sujacente a integra<_;:ao construtiva de tres elementos- pensamento, sentimentos e ac<_;:5esque lev am acapacita<_;:ao human a quanta ao compromisso e aresponsabilidade. Todavia, o deb ate de ideias neste dominio do conhecimento nao e, de todo, pacifica. Entre a linguagem dos psic6logos e as abordagens de natureza antropol6gica, as diferen<_;:as sao significativas. Os psic6logos centram-se nos aspectos comportamentais e, nesse sentido, orientam as suas teses no campo das teorias da motiva<_;:ao.

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Na linguagem dos psic6logos, a motiVU(;'iiO e urn processo psicol6gico que, atraves de estfmulos internos e/ou contextuais, conduz aaltera9ao de alguns comportamentos do indivfduo por fonna a satisfazer necessidades. Nesta perspectiva, a motiva9ao pode ter natureza externa ou interna, consoante os factores que lhe estao na migem: - Os factores de natureza externa criam os tipos de motiva9ao compulsiva (aceita9ao for9ada dos objectivos) e de moti va9ao pecuniaria (aceita9ao dos objectives apenas em fun9ao do di nheiro ); - Os factores de natureza interna criam os tipos de moti va9ao de adaptar;iio (aceita9ao dos objectivos como afins ou complementares dos seus) e a motiva9ao de identificar;iio (aceita9ao dos objectives como superiores aos seus e como condi9ao para a sua realiza9ao pessoal).

Este corpo de doutrina vern na sequencia das muitas teorias que, ao longo dos tempos, se foram construindo, entre as quais se relevam as seguintes:

- Teorias de satisfar;iio, relacionadas com as necessidades do indivfduo em ter urn salario justo, uma posi9ao social e exito no trabalho (Maslow, Herzberg e Alderfer);

- Teorias do progresso, ligadas apercep9aO que 0 indivfduo tern da quantidade de trabalho distribufdo e dos requisites de desempenho e recompensa (McClelland, Vroom e Adams);

- Teorias de reforr;o, relativas ao sistema de recompensas e penaliza96es (Skinner). Numa outra perspectiva, as pessoas sao entes que sentem,pensam e agen1. E, agir e diferente de comportar-se. Agir e actuar de modo proprio e intencional para levar a cabo uma ac9ao; ao inves, comportar-se e actuar de forma adaptativa a urn estimulo (tipo treino).

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Educa~ao

e

investiga~ao:

especificidade da ciencia da economia

A atitude tern aver como modo como as pessoas agem. Nem todas agem (quando o fazem) do mesmo modo: umas sao mais diligentes (zelosas, prontas, nipidas), outras sao mais negligentes (descuidadas, nao aplicadas); umas sao mais eficazes (produzem o efeito esperado, apresentam resultados), outras sao mais eficientes (operam com rigor, competencia). 0 esquema seguinte pretende ilustrar a forma antropol6gica de atitudes do ente humano (gente):

ENTE(ser)

(passivo)

(age)

GENTE - - - - + AGENTE - - - - + NEGLIGENTE (activo) (nao age)

INDIGENTE

DELIGENTE

(o "que" faz

~

EFICAZ

\("como" faz) EFICIENTE

Fig. 3 - Antropologia de atitudes

As doutrinas baseadas na motivac;ao assentam numa pnitica implfcita cujo prop6sito e ajustar OS comportamentOS das pessoas a CUltura empresarial, vulgarmente visando processos standardizados e previsfveis, para tomarem o

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trabalho menos complexo, evitando, a todo o custo, a diversidade. Padronizar o compmtamento humano e alvo de estudo em todos os cursos de lideranva. Mas, existe urn aspecto importante que nao permite eliminar de vez com a diversidade: os seres humanos sao a complexidade irredutfvel em qualquer tipo de organizavao, pelo que o seu comportamento nunca pode (nao deve) ser standardizado. Este tipo de ideologia vai contra a natureza humana. Os seres humanos sao diffceis de mudar, mas podem aprender a usar o seu temperamento de forma eficaz. 0 exito de qualquer projecto depende, em grande parte, da forma como sao utilizadas as pessoas que nele trabalham. Existem, essencialmente, duas estrategias para mobilizar os trabalhadores nas organizac;oes: - Uma e tentar influenciar individual mente cada pessoa, no seio da organizac;ao, recorrendo a sistemas para orientar o seu comportamento (estrategia da motivac;ao); - Outra e transformar as atitudes das pessoas num conhecimento acciomivel em melhor petformance (estrategia da capacidade humana). A estrategia, que conduz a melhores resultados, e aquela que procura encontrar a ligac;ao entre as pessoas e a sua petformance. Emelhor canalizar as capacidades que as pessoas ja tern, em vez de ten tar melhorar as suasfraquezas. Em sentido figurado, observam-se do is tipos de pessoas: aqueles que jogam e aqueles que assistem ao jo.go. Os que .assistern vao para casa descansar depois de cumptir as suas tarefas (sao os tarefeiros). Os que jogam s6 se realizam com a concretizac;ao de resultados (sao os agentes de mudanc;a). Naturalmente, sao os jogadores que cometem mais enos; os observadores, porque nao jogam, nao podem perder, mas tambern nao podem ganhar. Por isso, muito pouca actividade humana e de tipo compmtamental, no sentido etol6gico. A maioria e de acc;oes intencionais e, pelo menos na mente do actor, a acc;ao faz sentido.

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Educa<;ao e investiga<;ao: especificidade da ciencia da economia ----~------------~------------------~

0 ser humano pens a, sente e age e tudo is to combina para fonnar o significado das experiencias. Assim, a aprendizagem significativa faz-se pela construyao de significados, por urn processo que envolve tres formas de aprendizagem: - Aprendizagem cognitiva, i.e., aquisiyao de conhecimento; - Aprendizagem afectiva, i.e., alteray5es dos sentimentos; - Aprendizagem psicomotora, i.e., aumento das acy5es ffsicas ou do desempenho. Nesta tricotomia pensar, sentir e agir Novak (2000) explica que uma das razoes pela qual prefere a pala vra agirll a comportar-se e que impJica urn caso consciente, intencional e cheio de sentimento, nao urn caso passivo que se associa, por exemplo, a urn animal treinado. Muito pouca actividade humana e compmtamental, no sentido animal. A maio ria e de acy5es intencionais e, pelo menos na mente do actor, a acyao faz sentido. 11

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II

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II

A pesquisa cientffica, fazendo uso da estrutura cognitiva dos dois hemisferios cerebrais, requer do investigador a aplicac;ao de uma meta-aprendizagem e,neste ponto, importa distinguir a aprendizagem Significativall que contrasta com a aprendizagem llmecanicista (memorfstica): 11

11

-A aprendizagem Significativa" (na teoria de AUSUBEL) processo atraves do qual uma nova informayao se relaciona com urn aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivfduo. Este processo envolve a interacyao da nova informayao com uma estrutura de conhecimento especffica; 11

- A aprendizagem llmecanicista" (memoristica) como aquisic;ao de novas informay5es com pouca ou nenhuma associayao a conceitos relevantes existentes na estrutura cognitiva do indi vfduo. A nova informayao e annazenada de forma arbitniria; nao ha interacyao entre a nova informayao e aquela j a armazenada. No processo operacional importa igualmente distinguir a aprendizagem por recepyao" - o que deve ser aprendido e apresentado na sua forma final- da aprendizagem "por descoberta" - o conteudo principal a ser aprendido deve ser 11

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descoberto pelo indivfduo. Por outras palavras, podemos distinguir duas formas de conhecimento: o conhecimento "explicito" que ja existe documentado e estruturado, "pronto a utilizar" eo conhecimento "tacite" que s6 se encontra no cerebro humane. As coordenadas desta meta-aprendizagem do conhecimento estao tra~adas no esquema da Fig. 4.

-

Aprendizagem significativa

Clarificar o problema a resolver

Fmmular o problema e as hip6teses explorat6rias de so!UI(UO

路-路

Aprendizagem mecanistica

Reproduzir a solul(ao conhecida

Procurar a solul(ao do problema por tentativa e erro

Aprendizagem por recepl(ilO

Aprendizagem por descoberta -

Fig .. 4 - Meta-aprendizagem do conhecimento

Urn processo de aprendizagem significativa e por descoberta requer uma atitude criativa no percurso de investigayao. A criatividade requerida e, simplesmente, uma reconciliayao integradora bern sucedida do conhecimento superorganizado (da aprendizagem significativa) eo desejo emocional (motivayao) para o fazer. Sternberg (in Novak, 2000) define a criatividade nao s6 a capacidade de descobrir novas ideias, mas como urn processo que exige o equihbrio e a aplica~ao dos tres aspectos essenciais da inteligencia: criativo, analftico e pratico. No fundo,os mesmos aspectos que, quando combinadas e equilibrados, contribuem para a "inteligencia bern sucedida". Este tipo de inteligencia, ao contrario da

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Educa~ao

e investiga'<ao: especificidade da ciencia da economia

"inteligencia inerte" (que se demonstra atraves de testes), leva a urn movimento ou acc;ao orientados por urn objectivo.

8. A eficacia pedag6gica As reflex6es anteriores com referencia anecessidade de uma aprendizagem significativa constituem uma preocupac;ao acrescida na acc;ao pedag6gica dos professores. 0 ensino nao e urna domesticac;ao. Por urn lado, ensinar consiste sirnult:aneamente em transmitir o gosto pelo comedimento e pela regra da disciplina. Por outro lado, cada vez mais, a qualidade e a relevancia educativas se definem por referencia aos resultados da aprendizagem dos alunos. Os efeitos da acc;ao multiforme do ensino tern aver com o domfnio do saber pelos alunos, o qual se mede, em geral, pelo nfvel de sucesso escolar destes e pelo grau de interiorizac;ao de certas normas de comportamento ou de valores, sob pena de 0 ensino se restringir a "instruc;ao", nao atendendo a "educac;ao". A competencia e a perfcia pedag6gicas dos docentes podem ser descritas atraves de varios indicadores, como sejam, os diplomas e os graus academicos obtidos e os tipos de estabelecimentos universitarios frequentados. Mas, sendo estes factores importantes e necessatios, nao sao, por si s6, suficientes para garantir a eficacia na acc;ao pedag6gica do ensino. Estudos de pesquisa realizados com incidencia nesta problematica mostram a relevancia de outros factores no sucesso escolar: • 0 mimero de anos de ensino tern uma influencia muito maior no sucesso do que o nivel academico do docente; • Quando o nivel de academico do docente aumenta, o sucesso tambem aumenta ligeiramente, ate urn limiar de cerca de tres anos de docencia, a partir do qual o sucesso estabiliza;

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• 0 sucesso escolar esta, frequentemente, mais relacionado com a capacidade do docente para controlar socialmente os alunos do que com a de lhes transrnitir exclusivamente o "saber"; • A influencia da eficacia do docente no sucesso escolar muda qualitativamente segundo a classe social de origem dos alunos e da area cientffica de estudo. Urn outro aspecto, tambem cada vez mais destacado, prende-se com a componente cultural do relacionamento entre inova<;ao e aprendizagem. Actualmente, estima-se que cerca de 8 por cento da popula<;ao universitaria frequenta cursos de p6s-gradua<;ao. A aposta em mais e melhores cursos sera a forma de revitalizar a investiga<;ao com base no ensino. A Universidade ensina as quest6es de hoje e deve preparar os alunos para que eles pr6prios saibam dar resposta as novas guest6es de amanha. E, no fundo, isso que os empregadores exigem dos profissionais que saem da Universidade. A capacidade desta dar resposta a novos problemas e de inculcar nos alunos as capacidades pessoais de comunica<;ao, de rela~ao interpessoal, de apreensao dos sinais dos tempos, de iniciativa e de sentido critico. Esta capacidade de dar resposta a problemas prende-se com as quest6es cada vez mais complexas, dificilmente susceptfveis de isolamento em rela~ao a outros problemas. Verifica-se, no entanto, ainda uma excessiva dependencia dos modelos tradicionais assentes na capacidade de "atmazenamento individual de informa<;ao", is to e, urn certo modelo de hipermercado didactico que o discurso pedag6gico condena, mas a realidade confirma. Consequentemente, um corpo docente de elevada qualidade- que esteja sempre a aprender - e condi~ao sem a qual nao se pode enfrentar a complexidade dinfunica de uma Universidade em mudan<;a. A unica alternativa e fonnar melhores professores. Se bern que a composi<;ao do professorado universitario esteja a mudar relativamente a fotma<;ao base dos docentes, 0 pelfil dos professores esta aquem das necessidades do modemo ensino superior com liga<;ao a investiga<;ao. Esta

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Educar;ao e investigar;ao: especificidade cia ciencia da economia

nao 6 uma lacuna exclusivamente nacional. A Uniao Europeia, no seu Livro Branco constata que, em varias disciplinas de ponta, a Europa nao dispoe ainda de recursos humanos necessaries para a execw;ao de projectos de investiga<;ao. Em Portugal, o perfil da investiga<;ao cientffica, elaborado pelo Observat6rio das Ciencias e das Tecnologias ( 1998), evidencia que o grau de cobertura da actividade de docentes e investigadores doutorados e baixa. 0 numero de doutoramentos realizados e reconhecidos por universidades portuguesas e da ordem dos nove mil. Deste total, mais de 70 por cento diz respeito as chamadas ciencias "exactas", natmais, tecnol6gicas e da saude, cabendo as ciencias sociais e humanas a quota remanescente abaixo do 30 por cento. Nestas circunstancias, a forma<;ao academica de nfvel superior, particularmente ao nivel de mestres e doutores, come<;a agora a ser alvo da aten<;ao especial das institui<;5es de ensino universitario, no papel que lhes cabe de impulsionadores da permanente renova<;ao do saber.

Bibliografia GON<;ALVES, M.Eduarda-coordena<;ao (1996)- "Ciencia e Democracia". Bertrand Editora. Lisboa. JACQUARD, Albert (1997)- "Pequeno manual de filosofia" Terramar. Lisboa MENDOZA, J.-L.Juan (1998)- "Cerebro esquerdo, cerebra direito". Biblioteca basica da ciencia e da cultura. Instituto Piaget. Lisboa. NOVAK, J. (2000)- "Aprender, criar e utilizar o conhecimento". Platano, Edi<;5es Tecnicas. Lis boa. NUNES, A.Sedas (1987) - "Quest5es preliminares sobre as Ciencias Sociais". Editorial Presen<;a. Lisboa. PORTELA, A.Gouvea (1994) - "Sociedades, Elites, Gestores". Col6quio Educa<;ao e Sociedade. Lis boa. SEARLE, John (1997)- "Mente, Cerebro e Ciencia" Edi<;5es 70. Lis boa - - -- - - --

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Cultura e subculturas: gestao do sistema cultural nas organiza~6es

por Antonio Correia Bernardo Licenciado em Gestiio (Universidade Lusfada) Mestre em Gestiio (ISCTE) Docente na Faculdade de Ciencias da Economia e da Empresa

da Universidade Lusfada

Resumo:

•A •

• •

ideia da organizac;ao como maquina, como um organismo vivo ou como um sistema politico, veio juntar-se a idcia da organizac;ao como sistema cu ltural. 0 mundo empresarial afasta-se, cada vez mais, do ideal consensual e harmonioso da integrac;ao por via da fonnalizayao e da hierarquia, dando Iugar a uma visao da organizayao como espayo da criayao de pertenc;as diversificadas ou antag6nicas, cuja explicayfio s6 pode ser dada com recurso a uma analise subjectiva e de ordem simb6lica. A complexidade das organiza96es imp6e, para a sua compreensao, o recurso a noc;ao de subculturas ou pluralidade cultural que deve corresponder a diversidade de interesses presentes. Porque a mudan9a da cultura e mais lenta do que as mudanyas da estrutura e do produto, as organizay6es sao confrontadas na sua necessidade de mudanc;a cultural, com "residuos culturais" dominantes nas fases anteriores. Mais importante do que possuir culturas fortes ou fracas, a organizayi'io deve criar e manter uma cultura eficaz que de respo sta a preservac;ao da sua identidade, sem se fechar face as envolventes (interna e externa) capaz de responder aos desafios da competitividade.


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Cullura e subculturas: gestao do sistema cultural nas organi zaqoes

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1. Introdll(;;ao Os fen6menos culturais nas organiza96es, conheceram nas ultimas decadas surpreendentes desenvolvimentos. Seja considerados como meros fen6menos de moda, seja como metaforas para facilitar a sua compreensao nas teorias da gestao, seja ainda como paradigma em que se procm·a aproximar a explica9ao dos fen6menos culturais do metoda cientffico, percorrendo varias fases, ate se chegar aformulayao de uma teoria que, entrando em crise, justifica o aparecimento de outra para a substituir, o estudo destes fen6menos impas-se definitivamente nas ciencias empresariais e nas ciencias organizacionais em geral.

Ecerto que, ate adecada de sessenta,

o mundo empresarial se caracterizava pela racionalidade, pela tecnica e como espa9o de aliena9ao por excelencia dos seus recursos humanos, porque influenciado ainda pelos paradigmas anteriores, mas, a partir daf, conheceu uma evolu9ao sem precedentes, em que a gestao pela cultura se foi afinnando progressivamente. Sinteticamente, podem distinguir-se tres fases distintas na evolu9ao das teorias organizacionais: - Uma primeira fase da empresa como sistema fechado, em que a enfase era colocada primordialmente na eficiencia dos processos e na racionalidade tecnica. Toda a 16gica organizacional se baseava na racionalidade do grupo tecnico-dirigente, que nao admitia interesses divergentes;

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- Uma segunda fase, caracterizada por uma progressiva abertura ao meio envolvente, mas em que a procura de ideias-tipo universalmente v:Hidas, era ainda o grande objectivo da gestao; - Uma terceira fase, caracterizada pela aceita<;ao da empresa como sistema auto-produzido e auto-referenciado, cuja estrutura e validada caso a caso e a todo o momenta e com a emergencia de duas novas variaveis: a cultura eo poder. Nesta evolu<;ao, e visfvel o progressivo deslocamento dos sistemas tecnicos para os sistemas humanos e em que, desde o infcio dos anos noventa, a gestao pela cultura passou a afirmar-se em muitas organiza<;oes, conhecida como corporate culture, particularmente nos Estados Unidos da America, depois de se constatar o seu enorme sucesso no Japao. A partir daqui, os gestores ocidentais come<;am a dar credito a alguns academicos que vinham chamando a aten<;ao para a importancia das variaveis culturais, na eficacia empresarial.

Eesta necessidade de garantir a eficacia, num mundo em concon路encia crescente e global, que explica o progressivo interesse pela aplica<;ao pratica desta tematica. A rela<;ao entre cultura e eficacia, pode ser vista segundo diferentes perspectivas (DENISON 1990- "Corporate Culture and Organizational Effectiveness", Wiley, New York): 路A eficacia e uma fun<;ao dos valores e das cren<;as cultivados pelos membros de uma organiza<;ao; 路 A eficacia e uma fun<;ao das polfticas e praticas de gestao utilizadas por uma organiza<;ao; 路 A eficacia e uma fun<;ao da transforma<;ao da essencia dos valores e das cren<;as em polfticas e praticas de gestao, duma forma consistente;

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Cultura e subculturas: gestao do sistema cultural nas organizas;oes

·A efid.cia e ainda uma fun<;ao da inter-rela<;ao da essencia dos valores e das cren<;as, das polfticas e pniticas de gestao e do ambiente econ6mico da organiza<;ao. Hip6teses foram formuladas, acerca da confirma<;ao ou nao destas asser<;oes: ·A hip6tese do envolvimento, segundo a qual altos nfveis de envolvimento e participa<;ao, cria urn sentido de dornfnio e responsabilidade; ·A hip6tese da consistencia, enfatizando o impacto positivo duma cultura forte na eficacia; · A hip6tese da adaptabilidade, enfatizando a rela<;ao estreita entre adapta<;ao e cultura; · A hip6tese da missao, acentuando a importancia da missao ou uma defini<;ao compartilhada da fun<;ao e prop6sito duma organiza<;ao e dos seus membros. Existem ja, urn pouco por todo o mundo, mas particularmente nos Estados Unidos da America, cobrindo o perfodo de 1979-1984, trabalhos produzidos por te6ricos e praticos, sobre esta tematica, segundo urn estudo efectuado por BARLEY e ALL em 1988, com base numa amostra de 192 trabalhos. Estes autores, identificaram duas direc<;oes distintas, na produ<;ao sobre a cultura: · Uma ptimeira, centrada essencialmente sobre as praticas de gestao, evidenciando uma maior complexidade das ciencias empresariais, pela considera<;ao de variaveis ate af desprezadas; · Uma segunda direc<;ao, mais te6rica, centrada no estudo simb6lico e da constm<;ao social de sistemas de significados. 0 primeiro gmpo integrou-se numa perspectiva de considerar a gestao pela cultura, como uma forma de implementar a eficacia das organiza<;oes.

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0 segundo grupo, mais te6rico, integrou-se na perspectiva de considerar a cultura organizacional, como a base para a formula<_;ao de urn novo paradigma revoluciomirio. An:ilises de conteudo rigorosas e suportadas por procedimentos estatfsticos avan<_;ados, demonstraram que os dois grupos se influenciaram mutuamente, mas em que na resultante final, evidenciaram uma certa fragilidade do discurso academico, a partir de 1982, prevalecendo o discurso dos pniticos. A evoluyao posterior desta problematica, dirigiu-se preferencialmente para o refor<_;o da ideia de cultura enquanto controlo, enfraquecendo urn pouco a tese da cultm路a enquanto paradigma alternativo. A ideia comum das duas comunidades e a associa<_;ao da gestao pela cultura a coesao e alealdade, em bora os estudos dos pniticos coloquem mais a enfase no facto da cultura constituir uma variavel organizacional, que pode ser manipulada e que esta manipula<_;ao esta associada a integra<_;ao social e ao aumento da eficacia e da produtividade. A componente te6rica destes estudos, foi mudando ao longo do tempo, ao contratio do que sucedeu com a componente pratica, acentuando o interesse da gestao da cultura, pela sua importancia econ6mica, assim como no controlo racional e na diferencia<_;ao, prevalecendo, no entanto, a componente comum de que, o poder de qualquer cultura organizacional se baseia na sua habilidade de controlar o comportamento dos indivfduos e dos grupos e daf influenciar a eficacia. Outras abordagens te6ricas, quantitati vase qualitativas foram tambem formuladas, especialmente a partir dos anos oitenta, nos EUA, designadamente urn estudo geral de trinta e quatro organiza<_;5es, seguido do exame detalhado de cinco delas (DENISON op. cit.). Estes estudos quantitativos e qualitativos visaram construir e testar uma teoria geral da rela<_;a.o entre cultura organizacional e eficacia. Os estudos demonstraran1 que a cultura organizacional apresenta uma rela<_;ao estreita com a eficacia.

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Os resultados quantitati vos mostraram que as medidas comportamentais, constituem uma fmte componente para previ sao futura da performance daquelas organiza<;:oes. 0 estudo detalhado dos casos referidos, em alternativa, estabeleceu as traject6rias da cultura corrente de cada uma destas organiza<;:5es, ao longo do seu desenvolvimento hist6tico e a seguir analisa os const:rangimentos e as vantagens competitivas que a cultura pode proporcionar. A combina<;:ao destas duas abordagens pode ajudar a estabelecer a evidencia quantitativa e a compreensao qualitativa acerca da rela<;:ao estreita entre cultura e eficacia. Estes estudos te6ricos, constituem essencialmente uma estrutura para apresenta<;:ao e discussao dos resultados.

2. A mebifora cultural A utiliza<;:ao de metiforas, com vista a facilitar a compreensao dos fen6menos organizacionais, nao e nova nas teorias de gestao.

A ideia da organiza<;:ao como maquina, como urn organismo vivo , ou como um sistema politico, veio juntar-se a ideia da organiza<;:ao como sistema cultural. A fun9ao da metafora e essencialmente heurfstica e visa ajudar a compreender os fen6menos organizacionais. Auto res como YELINEC e HALL (1983 ), ja tinham chamado a aten<;:ao para o facto de que a cultura como uma metafora adequada para estudar a organiza<;:ao, constitui uma ideia nova que permite afastar a nos sa aten<;:ao de factos normalmente aceites como importantes, como a estrutura ou a tecnologia. Esta metafora permite, assim, concentrar a nossa aten9ao em elementos ate agora considerados pouco impmtantes, como a visao partilhada, as nmmas e os valores.

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A pnitica da gestao pel a cultura, quer como moda quer como metafora, revela que, na realidade, algo mudou nos ultimos anos no paradigma tradicional da organizas:ao e da gestao. Se nos reportarmos as organizas:oes saidas da Revolus:ao Industrial, onde imperava apenas e exclusivamente uma racionalidade tecnica, elas afastaram a possibilidade de emergencia da realidade simb6lica, por a considerar perturbadora da organizas:ao e consequentemente ignoraram que as sociedades humanas. Como a antropologia cultural veio a evidenciar, nao se reduzem apenas a simples produs:ao de bens materiais, mas, paralelamente a essa produs:ao, existe uma outra, a de urn sistema de representas:oes com reflexes em actividades de caracter simb6lico. Mais recentemente, MOSCOVICI (1969), atraves da psicologia social, revela a importancia das representas:oes sociais e em 1981 e 1988, o mesmo autor amplia a aplicas:ao destas representas:oes ao domfnio da liderans:a, pondo em evidencia os processes psicol6gicos e a gestao do simb6lico.

3. A dimensao subjectiva da organiza~ao: a identidade Experimentando decadas de evolus:ao, na segunda metade do seculo XX, o mundo empresarial afasta-se cada vez mais do ideal consensual e harmonioso da integras:ao por via da formalizas:ao e da hierarquia e dan do Iugar a uma visao da organizas:ao como espas:o de crias:ao de pertens:as diversificadas ou antag6nicas, cuja explicas:ao s6 pode ser dada com recurso a uma amllise subjectiva e de ordem simb6lica. SANSAULIEU (1977), LAR(:ON e REITTER (1979) introduziram pela primeira vez o conceito de identidade para explicar o compmtamento dos grupos profissionais ou representas:oes colectivas da empresa. SANSAULIEU centrou a sua analise numa perspectiva cultural da acs:ao estrategica e introduz os conceitos de identidades colectivas cultura "valores "ideologia". II

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0 problema da integra9ao surge, assim, como consequencia da pluralidade de identidades e culturas dentro da organiza9ao, apontados por SANSAULIEU. LAR<;ON e REITTER aprofundam esta questao, come9ando por estudar o grupo dirigente e em particular o lider, enquanto empresario e criador de cultura, identificando o problema de fundo como sendo a identidade da propria organiza9ao, enquanto institui9ao cultural especffica. Em face das limita96es da organiza9ao tradicional, decorrentes de uma excessiva racionalidade, assente em modelos burocraticos que teve como consequencia grandes dificuldades de adapta9ao externa e de integra9ao interna, os autores demonstraram que a legitima9ao da organiza9ao passava pelo desenvolvimento de uma identidade assente numa 16gica de permanente adapta9ao e da existencia de uma lideran9a coerente com essa 16gica e como corpo social da organiza9ao. 0 paradigma da identidade baseia-se, assim, em tres constata96es: 1a- A identidade de cada indivfduo assenta numa representa9ao inconsciente elaborada no inte1ior do grupo;

2a- Esta representa9ao ao entrar em interac9ao com a cultura envolvente e com os problemas socio-econ6micos do meio, origina a constru9ao de um modelo sociocultural adaptado ou marginal, face ao meio;

3a- Este modelo sociocultural constitui a base do comportamento do grupo ao nfvel dos mecanismos de defesa, das tarefas e da ideologia.

4. Origens da cultura Numa concep9ao geral, a cultura pode definir-se como a programa9ao mental colectiva, que distingue os membros de uma organiza9ao dos de outra. (HOFSTED 1991).

Efrequente a cultura de uma organiza9ao ter origem no(s) seus fundadores; eo caso da SONAE portuguesa com Belmiro de Azevedo ou daMe Donalds e a

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Walt Disney americanas, cujos fundadores tern os names das respectivas empresas e que lhes incutiram urn modo de estar proprio no mundo empresalial. Mas, os valores pmtilhados pelos membros de uma organiza<;ao nao se limitam as ideias dos fundadores e podem ter origem em dominios diversos, designadamente a envolvente externa, a politica de pessoal eo processo de socializa<;ao (aprendizagem). Podemos, assim, considerar quatro fontes ou otigens da cultura:

· A hist6ria da organizafiio A cultura aparece como consequencia do conhecimento que os membros da organiza<;ao tern do seu passado historico e portanto, da forma como as coisas se fazem e que traduzem urn conjunto de valores estabelecidos a partida pelos fundadores e na circunstancia de terem funcionado sempre bern, acabam por ser refor<;ados. · A envolvente externa Esta fonte de cultura aparece como consequencia da necessidade que as organiza<;6es tern de se adaptarem a sua envoi vente externa. Assim, em envolventes instaveis predominando a incerteza, havera tendencia para as organiza<;6es desenvolverem uma cultura flexfvel que se adapte com facilidade as mudan<;as na envolvente. Sea envolvente e relativamente estavel, havera tendencia para desenvolver urn modelo cultural mais normalizado e formalizado (ex. Estado e Organismos Publicos em geral).

· A polftica de recursos humanos Muitas vezes as politicas de pessoal relativamente ao sistema remunerat6rio, recrutamento e selec<;ao de pessoal, carreiras, etc., reflectem de alguma forma a cultura da organiza<;ao, pais que havera tendencia pm·a seleccionar, remunerar e promover pessoas que apresentam caracterfsticas similares as que mais se identificam com a propria organiza<;ao.

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organiza~i5es

. 0 processo de aprendizagem (socializaf;iio) CmTesponde at:ransmissao da cultura aos novos membros an路aves da socializac;ao e constitui uma preocupac;ao fundamental de qualquer organizac;ao. Este processo procura tamb6m evitar que os novos membros constituam uma ameac;a, procurando incutir-lhes os valores culturais da organizac;ao eo que esta deles espera .

5. Gestao do sistema cultural 5.1. Considerac;oes gerais

Eponto assente que o paradigma politico-cultural se impos definitivamente nas teorias da gestao. Uma primeira implicac;ao deste paradigma resulta no facto de nao serem sepaniveis as quest5es do poder e da cultura (universo do simb6lico) De facto, a complexidade das organizac;5es imp5e, para a sua compreensao, o recurso anoc;ao de sub-culturas ou pluralidade cultural que deve corresponder adiversidade de interesses presentes. Nesta perspectiva, 6 preferfvel abordar a questao da cultura organizacional em termos de sistema cultural. Por outro Iado, porque fazem parte de universos distintos, 6 necessaria distinguir entre sub-sistema cultural e identidade da organizac;ao. Os dois universos sao, de facto, diferentes, designadamente quanto adimensao temporal. Na realidade, enquanto o sub-sistema cultural tern ciclos de ajustamento relativamente curtos, a identidade e caracterizada por uma permanencia relativamente longa.

5.2. Sistema cultural e subculturas Muitas vezes questionamo-nos seas organizac;5es possuem uma s6 cultura ou

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se existem sub-culturasoDe facto, quando nos referimos apenas a cultura, estamonos a referir a chamada macrocultura, isto e, a cultura dominante, que se mamfesta pelas normas, valores, cren<;as e sfmbolos que sao partilhados pelo conjunto dos membros de uma organiza<;aoo VANMAANEN e BRADELEY definem sub-cultura como "uma sub-serie de membros da organiza<;ao que interagem regularmente com uma outra, se identificam eles pr6plios com um gmpo distinto no interior de uma organiza<;ao, partilham um conjunto de problemas comuns, entendidos como problemas de todo o grupo, os quais resolvem de maneira rotineira na base de pressupostos colectivos e pr6prios desse mesmo grupo" Tambem Sansaulieu avan<;ou a ideia, suportada em investiga<;6es, de que se deve proceder a uma analise das rela<;6es de trabalho a fim de se detectarem sub-culturaso Estes trabalhos mostraram que, especialmente em organiza<;oes complexas e com grande estratifica<;ao social, existem sub-culturas pr6prias destes estratos ou grupos e nelas baseiam as suas estrategiaso A problematica das sub-culturas pode dividir-se em duas correntes de investiga<;ao: porum lado, onde se situam autores como MORGAN (1986), a identifica<;ao das fontes ou "locus" de sub-culturas e por outro onde se situa, por exemplo SANSAULIEU (1977), propondo uma tipologia das culturaso Como fontes ou 01igens de sub-culturas podem cita:r-se as seguintes: 째

0

0

0

Cultura de elite versus sub-culturas de base, isto e, a sub-cultura de direc<;ao e dominante face as outras sub-culturas (VAN DEN HOVE); Sub-culturas resultantes da divisao do trabalho (MINTZBERG); Sub-culturas resultantes da divisao horizontal do trabalho e das categorias profissionais (SANSAULIEU); Sub-culturas resultantes de unidades aut6nomas ( descentraliza<;ao das empresas ou fusoes (HOFSTEDE);

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Cultura e subculturas: gestao do sistema cultural nas

organiza~6es

. Sub-culturas derivadas da modemiza<;ao tecnol6gica (VAN MAANu'\J, BRADLEY e MORGAN);

. Sub-culturas derivadas do ciclo de vida das organiza(,:oes (SHEIN) Das fontes referidas cabe uma especial referencia, pela sua imporHincia, a das categorias profissionais, as derivadas do ciclo de vida das organiza<;oes e as funcionais. Podem existir numa unica organiza<;ao os seguintes modelos culturais:

· Operarios niio qualificados Desenvolvem dois tipos de modelos: de retirada sea implica<;ao na empresa e fraca e de unanirnismo sea implica<;ao e forte; · Operarios qualificados Desenvolvem tambem dois tipos de comportamento diferentes conforme sao confrontados com tecnicas dissicas (solidariedade democnitica) ou com tecnicas de ponta (separatismo). · Tecnicos 0 seu comportamento sendo atrafdo pelo posi<;ao de "quadro" e pela ideia da oficina, caracteriza-se pela existencia de afinidades selectivas. · Quadros 0 modelo seguido nesta categoria profissional e o da estrategia, pois que se encontram confrontados com os problemas de autori dade e da resistencia da organiza<;ao. · Empregados administrativos Distribuem-se geralmente por dois modelos: o individualismo ou o acordo e compromisso, em conforrnidade como seu grau de integra<;ao na organiza<;ao e nos grupos. · Dirigentes de topo Seguem geralmente urn modelo de integra<;ao pois que dao prioridade

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justifica<;ao da sua posi<;ao hierarquica. A evolu<;ao temporal da empresa e a propria evolu<;ao dos seus principais produtos esta na origem de particulares sub-cuh路uras. Porque a mudan<;a da cultura e mais lenta do que as mudan<;as da estmtura e do produto, as organiza<;5es sao confrontadas na sua necessidade de mudan<;a cultural, com "resfduos culturais" dominantes nas fases anteriores. Esta neste caso a chamada cultura da funda<;ao, que tendo surgido num contexto de vivencia informal e de coesao em torno de um projecto, tem tendencia a resistir quer inova<;ao quer normaliza<;ao, indispensaveis ao crescimento e evolu<;ao da organiza<;ao.

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Assim, a medida que esta, tendo em conta a sua longevidade, come<;a a fazer hist6Iia, as diferentes fases porque passou, dao origem a um verdadeiro mosaico de sub-culturas. Tem origem nas repercuss5es que os diferentes tipos de estrutura ocasionam nas percep<;5es e comportamentos dos actores sociais. As cinco for<;as identificadas por MINTZBERG em rela<;ao a estrutura organizacional, podem ser interpretadas luz das sub-culturas funcionais.

a

Assim, a centraliza<;ao, estandardiza<;ao, coopera<;ao, balcaniza<;ao e profissionaliza<;ao, conespondem a comportamentos distintos relativamente aos diferentes actores que actuam respectivamente no vertice estrategico, na tecnoestrutura, na equipa logfstica, no nivel intermedio e no centro operacional. Alguns autores, de forma mais pragmatica, tern identificado sub-culturas com rela<;ao com as divis5es meramente funcionais: Marketing, Produ<;ao, Finan<;as, Investiga<;ao e Desenvolvimento, etc.

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Cultura e subculturas: gestae do sistema cultural nas

organiza~oes

Com base nesta ultima divisao funcional, PUMPIN (1984), identificou subculturas funcionais associadas as seguintes vertentes:

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CULTURA

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Nesta tipologia a identidade de cada empresa resulta da enfase que e dada a cada uma destas vertentes e da gestao destas sub-culturas resultaria o sistema cultural de cada organiza9ao. Assim, a enfase dada a sub-cultura II custos II, significaria uma dominancia cultural dos depa:rtamentos de Produyao, Finan9as e Comercial, po:r exemplo. A orienta9ao pela IITecnologiall desenvolve a preocupa9ao pela qualidade, o orgulho pelo produto eo gosto pelo trabalho. A orienta9ao pelos Clientes II constitui a tendencia mais eficaz, numa economia de mercado. No entanto exige uma tensao permanente e pessoas dispostas a fazer sacriffcios. 11

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Nesta perspectiva, nao se deve falar de uma s6 cultura, mas de diferentes culturas e portanto nao de urn todo unit<irio e consensual, mas de urn sistema cultural em que prevalecem os conflitos de interesses e os jogos de poder. Deste modo, tal como as sociedades tern culturas diferentes, tambem as organiza~6es as tern em rela~ao a todas estas vertentes.

5.3. Tipologia das culturas As tipologias de culturas a seguir apresentadas, foram identificadas partindo do pressuposto de que a cultura eanalisada como uma nova variavel contingencial, em paralelo com a estmtura, a tecnologia ou a envolvente. Consideram-se normalmente os seguintes tipos de culturas:

a) De recrutamento WIENNER (1988), enfatiza a importancia do recmtamento e selec~ao nas organiza~6es actuais de tal forma que os candidatos podem ser classificados em fun~ao da sua predisposi~ao para se integrarem na cultura organizacional estabelecida pela tradi~ao e pela lideran~a carismatica e que pode ser de urn dos tipos seguintes: ( 1) Alta lealdade e alta congmencia (2) Baixa lealdade e alta congruencia (3) Alta lealdade e baixa congmencia (4) Baixa lealdade e baixa congmencia

Edesejavel que o recrutamento incida preferencialmente sobre indivfduos dos tipos (1) e (2); os restantes apenas deverao ser recrutados sea organiza~ao estiver disposta a iniciar urn programa de socializa~ao. Por seu lado JOUVE e MASSONI (1984) propuseram uma tipologia de culturas, a partir da forma como as organiza~6es recmtam o seu pessoal. Este autores partem do princfpio de que o recrutamento e, em si mesmo, urn -

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Cultura e subcul turas: gestiio do sistema cultural nas organiza96es

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acto cultural, uma vez que obedece a ritos definidos pelas organiza96es e em que o sucesso desse recrutamento depende do entendimento da cultura das mesmas. Assim, as tipologias propostas por estes autores, podem ser sintetizadas no quadro seguinte:

VARIAVEIS TIPO DE CULTURA

RECRUTAMENTO

Prudente (ao abrigo do rnercado)

Saber-fazer I concursos

Aventure ira (lfder do rnercado)

Adaptabilidade e abeltura face a mudanya

Saber-sere identifica~ao com a organiza~ao

Corporativa (enfase na profissao)

Competencia tecnica

Saber- tazer tradicional, coopera9ao

Familiar (paternalismo)

Confian9a e fidelidade

Saber-ser e conformismo

Competitiva (enfuse no sucesso)

Ambis:ao e persistencia

lndivid ualismo rneritocnitico

VALORES Rigor e

descii~ao

b) Em funr.lio do sistema de recompensas

Esta tipologia patte da premissa de que o sistema de recompensas da organiza9ao, implica uma determinada configura9ao cultural. SETHIA e VON GLINOW (1985) construfram uma tipologia a partir do diagn6stico dos sistemas de recompensas existentes na organiza9ao, tendo como vettentes o interesse centrado nas pessoas ou nos resultados, tendo identificado os seguintes tipos: • Cultura apatica, caracterizada por urn ambiente de desmoraliza9ao e de falta - -- -- - --

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de lideranc;a; • Pmdente, derivada de uma postura paternalista com origem nos fundadores ou dos sucessores; • Exigente, centrada na performance individual; • Integrativa, centrada no consenso entre a considerac;ao pelas pessoas e a necessidade de obterresultados. c) Gestao participativa

BOSCHEe All investigaram as probabilidades de exito duma gestao participativa como a que e exigida por exemplo em relac;ao a programas como os dos "drculos de qualidade", constatando uma relac;ao entre o estilo de gestao e formas de desenvolvimento de cfrculos de qualidade. Os autores construfram, assim, uma tipologia de culturas, da seguinte fmma: • Fenix, que se caracteriza por valores "de offcio", relac;6es personalizadas e submetidas a forte pressao de mercado. A vontade do grupo exerce aqui grande pressao sobre os circulos de qualidade para se desenvolverem; • Autoritiria, caractetizada pela existencia de sistemas rfgidos de procedimentos. Nesta cultura, os cfrculos de qualidade nao conseguem desenvolver-se; • De convfvio, emergente de relac;6es interpessoais fortes, ligada ao grupo e com hierarquia pouco rfgida. Os circulos de qualidade desenvolvem-se, nesta cultura, de forma natural, sao bern aceites pelo grupo embora possam existir dificuldades de imposic;ao de regras rigidas para o seu funcionamento; • Tecnocrata, ou management em que predomina o planeamento eo controlo rigorosos. Muita dificuldade de desenvolvimento dos cfrculos de qualidade e quando de constituem, sao impostos pelo topo da hierarquia.

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organi za~oes

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d) Grau de risco e velocidade de feedback Para autores como DEALe KENNEDY (1982), podemos identificar quatro tipos de culturas genericas, com base em duas avalia~oes: o grau de risco inerente aactividade e a velocidade de feedback (rapidez com que as infonna~oes sobre o sucesso ou insucesso das ac~oes de gestao, sao conhecidas). Assim, podemos ter:

• Alto risco, feedback lento Tipo de cultura associado a organiza~oes que fazem grandes investimentos e tern de esperar muito tempo ate obterem retornos (Ex. Empresas petroliferas e mineiras em geral);

• Baixo risco, feedback lento Tipo de cultura associado a organiza~oes em que os colaboradores sao cautelosos e com uma mentalidade proteccionista, isto e, que praticam uma cultura chamada de processo. (Ex. Bancos, Seguradoras, Estado, etc.):

• Alto risco, feedback rdpido

Eurn tipo de cultura associado a organiza~oes onde predomina a capacidade para tomar decis6es rapidas em ambiente de risco. Por isso esta cultura tamberne designada por cultura macho. (Ex. Industria de constru~ao civil, cinematografica, etc.);

• Baixo risco, feedback rdpido

a

Cultura associada a organiza~oes que tendem a dar grande imporU1ncia persistencia e perseveran~a em atingir objectivos; geralmente a sua actividade envolve urn grande volume de opera~oes (Ex. Industria hoteleira). Esta cultura e, por is so, designada por cultura de trabalho duro.

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Esquematicamente:

GRAU DE RISCO

ALTO RISCO FEEDBACK LENTO

ALTO RISCO FEEDBACK RAPIDO

BAIXO RISCO FEEDBACK LENTO

BAIXO RISCO FEEDBACK RAPIDO

0 D

D ~ c=================~====~=VELOCIDADE DE FEEDBACK

e) Grau de centralizar;;iio e de formalizar;;iio

Para ROGER HARRISSON e CHARLES HANDY, podemos tambem classificar a cultura em quatro tipos, com base em duas variaveis: o grau de centraliza9ao do poder eo grau de formaliza9ao da estrutura. Assim, HARRIS SON identificou quatro culturas, a saber: • Cultura de funr;;iio ou burocratica Esta cultura corresponde a organiza96es onde predominam alta centraliza9ao e alta formaliza9a0 e por isso edesignada por cultura do papeJ; • Cultura de tarefa ou adhocracia Em que predominam baixa centraliza9ao e alta formaliza9ao; • Cultura de poder ou autocratica Em que predominam alta centraliza9ao e baixa formaliza9ao. • Cultura atomista ou democratica Corresponde a organiza96es onde predominam baixa centraliza9ao e baixa formaliza9ao.

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Esquematicamente:

BUROCRATICA OU DE FUN<;Ao

DETAREFA OU ADHOCRACIA

DEPODER OU AUTOCRATICA

ATOMISTA OU DEMOCAATICA

FORMALIZA<;AO

0 0

D

~

c===========================CENTRALIZA<;AO

HANDY, partiu da classificayao de HARRISS ON e associou aos tipos culturais os nomes de deuses gregos. Assim, temos:

• Cultura APOLO, estd associada acultura do papel ou burocrdtica Apolo era o deus grego da ordem e das regras e o templo onde era adorado tinha a sua forya e beleza assente nos pilares. Estes pilares representam as funy5es e divisoes que se unem no topo e a cultura ebaseada na atribuiyao de papeis; • Cultura ATENA, estd associada a cultura de tarefa 0 sfmbolo associado e a rede e a deusa grega Atena. 0 poder nesta cultura assenta na formalizayao e portanto numa rede (ligay5es) e nao no topo da organizayao. Este tipo de cultura associa as ideias de juventude, energia e criati vidade e por is so esta associada adeus a grega A terra, da juventude, da sabedoria e da cute.

• Cultura ZEUS, estd associada acultura de clube, de poder ou autocratica A simbologia associada faz referencia ao deus Zeus e ateia de aranha, o que significa uma organizayao assente na divisao do trabalho e at:ribuiyao de funyoes. Como Zeus era, na mitologia grega o deus dos deuses, incu6a ternor e respeito;

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logo, este tipo de cultura esta associado a centralizac;ao do poder e a uma autocracia;

• Cultura DIONiSIO, associada acultura existencial, atomista e denwcratica 0 sirnbolo associado e urn conjunto de estrelas independentes, limitadas por urn drculo, sen do o deus respectivo Dionisio, deus do vinho e das canc;oes. Esta cultura etfpica de organizac;oes em que a sua cornpetencia se baseia nas pessoas enos profissionais (ex. medicos, economistas, advogados, tecnicos de electricidade, etc.). Esquematicamente:

APOLO (CULTURA DO PAPEL)

A1ENA (CULTURA DE TAREFA)

ZEUS (CULTURA DE CLUBE)

DIONISIO (CULTURA EXISTENCIAL)

FORMALIZA<;AO

D 0

D

~ c===================~=======CENTRALTZA<;AO

E pouco provavel que se encontre urn destes tipos puros de cultura, numa organizac;ao. 0 que acontece e que esta ao evoluir, passa norrnalmente por cada urn destes estcidios culturais ou por parte deles. A maioria das organizac;oes apresenta, no entanto, urn mix destes quatro tipos culturais, em graus diferentes consoante a sua natureza e necessidades de integrac;ao interna e adaptac;ao externa.

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f) Meio externo

AUROUX (1988), propos uma tipologia das culturas com base nos condicionamentos e potencialidades da envolvente, particularmente do mercado, da seguinte forma: • Empresas de conquista, em que os actores se assumem como "soldados econ6micos" e a cultura esta orientada pela conquista de mercados; • Empresas de subsistencia, que conesponde a organiza96es tradicionais com poucas ambi96es; • Empresas de convivencia, em que a cultura se orienta pela vivencia intensa de uma aventura econ6mica, envolvendo todo o gmpo; • Empresas de proximidade, em que a sua caractelistica cultural dominante e a satisfa9ao imediata de clientes; • Empresas de solidariedade, em que a cultura se orienta primordialmente para a inser9ao social de grupos profissionais em risco de exclusao, em face da evolu9ao econ6mica e tecnol6gica e em que se pretende a paz social.

6. Culturas fortes e culturas fracas A problematica da for9a de uma cultura tern sido objecto de alguma polemica, pois que ha quem argumente que uma cultura forte nem sempre e benefica para uma organiza9ao, especialmente em fases intermedias do seu ciclo de vida, pois que favorecera o "status quo" (SHEIN). No entanto os argumento a favor das culturas fortes fundamentam-se no facto de estas culturas possufrem urn grande impacto sobre os indivfduos eo resultado e baixar 0 "turnover" (abandono da organiza9a0) e favorecer elevados fndices de coesao, lealdade e empenhamento dos seus membros.

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路- - - - ---------路- -

A fon;a de uma cultura depende essencialmente de tres factores: - Da profundidade com que o conjunto de valores partilhados, as cren~as e as expectativas que orientam os comportamentos e atitudes, atingem as camadas profundas sobre que assenta a organiza~ao. Se aqueles elementos atingem a pen as a camada superficial (o clima organizacional), a cultura sera fraca nesta perspectiva e sera forte se aqueles mesmos elementos atingirem as camadas mais profundas. - Da extensao, com que uma determinada cultura epartilhada, isto e, do numero, maior ou men or de membros de uma organiza~ao que pmtilham essa cultura. Assim, se a cultura for partilhada apenas por um numero restrito de pessoas, digamos o grupo dirigente, a cultura diz-se fraca e sera forte no caso contrario. - Da simplicidade e clm路eza dos seus elementos fundamentais, isto e, se o conjunto de valores partilhados for confuso (seja em rela~ao aforma de lidar como cliente ou quanto ao modelo estrutural, por exemplo), os empregados terao dificuldade em interpreta-los e consequentemente estaremos perante uma cultura fraca. Se aqueles valores forem claros e de facil interpreta~ao, a cultura sera forte, neste aspecto pmticular. De urn modo geral, a cultura forte, bern cimentada nestas tres perspectivas, pode substituir ou pelo menos reduzir a formaliza~ao, na medida em que aumenta a consistt~ncia dos comportamentos. Embora na fase inicial do ciclo de vida das organiza~oes, seja claramente vantajoso a existencia de uma cultura forte, para manter a coesao do grupo, tao necessaria nesta fase, todavia, na fase de maturidade pode trazer algumas desvantagens pelo facto de favorecer o "status quo", a hermeticidade e a segmenta~ao, face a necessidade de mudan~a e inova~ao para alcan~ar competitividade.

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organiza~;oes

Assim, mais impmtante do que possuir culturas fortes ou fracas, a organiza~ao deve antes, criar e manter uma cultura eficaz, que de resposta a preserva~ao da sua identidade, sem se fechar face as envolventes intema e externa e que seja capaz de responder aos desafios da competitividade.

6.1. Fun~oes da cultura Embora nos t6picos anteriores, implfcita ou explicitamente, ja tivessemos abordado algumas fun~6es da cultura, vamos precisar mais concretamente, quais as fun~oes desempenhadas por aquela:

• Define as fronteiras organizacionais A cultura de uma organiza~ao, correspondendo a sua personalidade e identidade, fixa as fronteiras da organiza~ao, o que perrnite distingui-la de todas as outras; • Confere sentido de identidade aos membros de uma organiza~iio De facto, a cultura desempenhando uma fun~ao integradora em relac;:ao aos membros de uma organiza~ao, da-lhes urn senti do de identidade em rela~ao a esta; • Empenhamento com as metas organizacionais A cultura facilita a criac;:ao de condic;:oes para que os empregados se empenhem e se identifiquem com os objectivos organizacionais; • Alarga a estabilidade do sistema social Namedida em que, conferindo coesao ao grupo e, portanto, desempenhando uma fun~ao integradora, aumenta consideravelmente a estabilidade do sistema social; • Constitui um mecanismo de auto-controlo N a medida em que orienta e da forma as atitudes e comportamentos dos empregados. A cultura do ponto de vista dos empregados e muito importante pelo facto de reduzir a ambiguidade e orientar sobre o modo de fazer as coisas. Etransmitida --------------------------------------- - - - - -- - ------Lusfada. Economia & Empresa, II serie, n. 2/3 (2003)

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aos empregados an路aves de hist6tias, mitos, 1ituais, sfmbolos e linguagem. Com frequencia, nas organiza<;6es, sao contadas hist6rias acerca dos fundadores, onde sao descritos acontecimentos importantes da vida da organiza<;ao, estabelecendo-se assim, a liga<;ao entre o passado e o presente e conferindo legitimidade as pniticas actuais. Tambem, por vezes, a existencia de mitos relativamente a algo extraordimirio que teni ocorrido no passado e em que todos acreditam, confere urn sentido de orgulho e de responsabilidade aos membros actuais. Os rituais, constitufdos por cerim6nias ou actividades em que sao evidenciados os valores-chave da organiza<;ao, refor<;am esses valores, real<;am os objectivos fundamentais e a missao da organiza<;ao e dando a conhecer aos seus membros quais as pessoas importantes e com grandes responsabilidades dentro da organizayao. A simbologia usada pela organiza<;ao, designadamente o logotipo, arquitectura da sede, os fardamentos utilizados, as cores, o mobiliario, a decorayao, as viaturas utilizadas, etc. sao fmmas reveladoras de cultura eo modo como sao transmitidas aos colaboradores. A linguagem utilizada, com determinada terminologia tfpica, designadamente siglas para identificar certas categorias profissionais e alguns clientes, e igualmente de grande relevancia cultural. 6.2. Fusao entre organiza~oes e cultura

A fusao enn路e duas ou mais organiza<;6es e uma opera<;ao complex a e fragil, pois que todas as pessoas envolvidas neste processo, desde os administradores, passando pelos quadros e terminando nos trabalhadores, devem estm路 fmtemente implicados e moti vados com esta opera<;ao. Em termos de cultura, o que acontece e que dois ou mais sistemas culturais vao confrontm路-se e passar por urn processo de acultura<;ao, isto e, por urn conjunto

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organiza~6es

de mudan((as introduzidas nos dois (ou mais) sistemas culturais, em consequencia da difusao de elementos culturais nos sistemas em confronto. Na realidade o processo de acultura((ao e complexo e na pnitica o que se observa e que os rnembros de urn sistema cultural ten tam dominar os elementos do out:ro sistema. 0 sucesso dos esfor((OS de rnudan((a cultural nas fusoes e aquisi((5es e a maior ou menor propensao do indivfduo para aceitar as mudan((a ou para a acultura((ao. De facto, o maior ou menor grau com que os membros da organiza<;ao adquirida pretendem preservar a sua cultura, assim com os membros da organiza((ao adquirente pretendem manter a sua e se possfvel dominar a da adquirida, influenciam tanto o processo como o resultado da mudan((a cultural. As atitudes tomadas podem variar desde a assimila((ao e pluralismo cultural, ate asepara((ao cultural e perda de identidade. Assim, podem ocorrer quatro situa((5es num processo de fusao, na hip6tese simplificada de a fusao ocmTer entre duas organiza96es: • Assim.ilarao cultural Quando existe grande atracti vidade da parte da organizayao adquirente e quando os membros da adquirida apresentam uma fraca propensao para a preservayao da sua cultura; neste caso o parceiro adquirido aceita sem qualquer oposi((ao a identidade e a cultura da outra organiza((aO. • Pluralismo cultural Quando a organiza9ao adquirente apresenta grande atractividade cultural e da parte da adquirida os seus membros apresentam forte pro pen sao para preservar a sua cultura; oeste caso se houver uma boa adapta9ao e interac9ao entre os dois sistemas culturais, nao havera grandes perdas de identidade para ambos. • Separarao cultural Quando a organiza((ao adquirente nao apresenta grande atractividade em termos

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culturais e os membros da adquirida apresentam uma forte propensao para manterem a sua cultura; neste caso, a separas;ao traduz-se na pnitica nas tentati vas que os membros da organizas;ao adquirida fazem para se manterem separados e independentes, em termos culturais.

• Perda de identidade cultural Quando a organizas;ao adquirente nao eatractiva e os membros da adquitida tern pouca propensao para preservar a sua cultura; neste caso existe uma perda significativa de contacto cultural e psicol6gico tanto em relas;ao aadquirente como em relas;ao a adquirida, tendo como resultado o aparecimento de sentimentos de alienas;ao e de confusao colectiva e individual. Esquematicamente:

~

FORTE ATRAC<;AO l

ASSIMILA<;AO

PLURALISMO CULTURAL

PERDA DE IDENTIDADE

SEPARA<;AO

FRACA PRESERVA<;AO

FORTE PRESERVA<;AO

ORGANIZA<;AO ADQUIRENTE

FRACA ATRAC<;AO

0 0

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Cultura e subculturas: gestao do sistema cultural nas organiza96es

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A identidade e a imagem das organiza~oes

por Maria Helena Faveiro Licenciada em Gestao (Universidade Lusfada) Mestre em Gestao (Universidade Lusfada) Docente na Faculdade de Ciencias da Economia e da Empresa da Universidade Lusfada

Resumo:

e a expressao da missao da empresa e cullura, incluindo as s uas rcspon sabi lid ades soc iai s, em tcrmos de moclifi ca91i0 e me lhoramento das pr6prias mentaliclacles das pessoas e enticlacles que com clas se relacionam. Para enfrentar com exito as muta~;oes em curso, as empresas necessitam de modificar a forma como sao percebidas pelos seus publicos-chave (internos e externos) dando a conhecer de forma clara, coerente e eficaz o que e que fazem, como o fazem e como o pretendem f'azer e qual a sua fina lidade, os seus objectivos e a sua estrategia. A identidad e da organ iza9iio nao e apenas desenho grafi co mas tambem a forma como a empresa esta organizada e funciona, quais sao os objectivos, quais sao as suas marcas e como sao geridos. A comunica9iio empresarial e o processo que vai converte r a identidade organizacional em imagem organizacional. A imagem da empresa, ao contnirio da identidade, e uma concep~iio ou realidade do domfnio pC1blico ou do cliente a que respeita o interesse re lacionaclo com a empres a. A comunicabi liclacle e um dos caracteres essenciais de qualquer empresa porque, obv iamente, as operay6es que rea li za te m de se r proj ec taclas sobre o munclo exterior e nele produ zir efeitos conducentes ou co ndi c ionantes de relay6es econ6m icas.

• 0 desenvolvimento da identidade


A identidade e a imagem das organizac;:oes

1. A identidade Falar, no fnicio do seculo XXI, da identidade empresarial e da necessidade de construc;;ao, para tal concepc;;ao e realidade, de uma teoria e uma estrutura devidamente sistematizada, nao significa que se pretenda instaurar na tecnica e na ciencia empresarial, urn "produto novo". N a verdade, de ha. muito que vruiadas empresas de grande projecc;;ao no mundo econ6mico vern dedicando urn serio cuidado em relac;;ao asua identidade e aos efeitos que da mesma advem. Pode mencionar-se, a titulo de exemplo, tal como refere Wally Olins, 1994, 1 a AEG, que em 1907 iniciou urn programa de identidade da empresa desenvolvido pelo arquitecto e "designer" Peter Behrens e pela sua equipa. Com o seu trabalho, eles influenciaram cada aspecto da expressao visual da empresa, passando pelos empregados, fabricas, produtos de consumo, cabec;;alhos das cartas, catalogos e locais de exposic;;ao. Durante alguns anos a AEG foi urn parafso da identidade organizacional. A partir da decada de 80, tem-se verificado urn crescente interesse, por parte das organizac;;oes, relativamente a esta tematica. A identidade da organizac;;ao passa a ser vista como parte integrante do marketing e da sua generalizac;;ao. Empresas e organizac;;oes de todos os sectores, tamanhos e caracterfsticas comec;;aram a mudar logotipos, cores, fachadas, vefculos, e outros caracteres e elementos, realizando, ao mesmo tempo, grandes campanhas de comunicac;;ao, assim contribuindo para uma reestruturac;;ao da propria personalidade empresarial

1

Corporate Identity, p. 48

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e para a emissao de uma nova identidade. Nesta fase, os "designers" e os consultores de identidade nao se preocupavam, nem devem preocupar apenas com arte grafica e "design", mas tambem com os termos e meios de recep~ao e modifica~ao do comportamento dos consumidores. As empresas devern ser vistas mais do que como simples unidades econ6micas, como entidades que influenciam os valores, as percep~oes, as polfticas e culturas do nosso tempo. 0 desenvolvimento da identidade e a expressao da missao da em pres a e cultura, incluindo as suas responsabilidades sociais, em termos de modifica~ao e melhoramento das pr6prias mentalidades das pessoas e entidades que com elas se relacionam. Apesar de tudo, sao ainda uma rninoria os empresarios, gestores e especialistas que tern uma vi sao realmente eficaz do que e a identidade eo efeito que produz sobre a imagem da empresa e sobre os pr6prios gostos e comportamentos dos consumidores. Isso deve-se ao facto de a identidade organizacional ser uma face jovem do marketing, ainda pouco conhecida, com os inconvenientes tfpicos de tal caracterfstica. Todavia, pode afirmar-se que, nos mercados em maior expansao, as organiza~oes estao cada vez mais conscientes do papel estrategico da identidade. A sua 6ptica e objecto ten de a ser mais integrada, abarcando nao apenas os aspectos visuais. Alem dis so, as principais empresas de consultmia especializadas em identidade, apesar de, na sua origem, estarem muito focalizadas para o desenho, tern vindo a desenvolver esquemas multidisciplinares de acordo com as diversas implica~oes do problema. Por ultimo, perspectiva-se com seguran~a o futmo desenvolvimento da identidade dado o seu crescente papel na direc~ao estrategica das empresas. Sao multiplas as razoes pelas quais as empresas e organiza~oes em geral tern necessidade, cada vez mais acentuada, de cuidar da problematica da sua identidade. Problematica que, por vezes, respeita directamente aos seus produtos e as pr6prias mat'Cas pois que mesmo estes elementos da empresa tern por si identidade propria independentemente da identidade da empresa mas sobre ela se reflectindo.

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Podem, entre outros, considerar-se os seguintes eventos ou situa<;6es em que a necessidade de cuidar da identidade da empresa e manifesta:

1.1. Necessidade de adaptac;ao ao ritmo crescente de mutac;oes Novos concorrentes, novos mercados, novas tecnologias, novos produtos, novos neg6cios, novos accionistas, novas directrizes, sao, entre tantas outras, muta<;6es frequentes com que as empresas e organiza<;5es se deparam e que implicam fortissimos impactos sobre a sua identidade. Diversifica<;ao, concentra<;ao, aquisi<;6es, vendas de empresas ou de marcas, fus6es, absor<;6es, Opera<;6es Publicas deAquisi<;ao (OPA's), reestrutura<;6es, ou, simplesmente, amplia<;ao das linhas de produtos, sao fen6menos cada vez mais frequentes na vida das empresas, independentemente da sua dimensao. Por is so, para enfrentar estas muta<;6es com ex ito, as empresas necessitam de modificar a forma como sao percebidas pelos seus publicos chave, tanto internos como externos, dan do a conhecer de forma clara, coerente e eficaz o que e que fazem eo que pretendem fazer, como o fazem e como o pretendem fazer e, por ultimo, qual e a sua finalidade, os seus objectivos e a sua estrategia. Por vezes, as muta<;6es afectam a empres a no seu conjunto e, portanto, ela tern de dar grande aten<;ao ao reflexo sobre a sua identidade. Noutros casos, e cada vez mais frequentes, as muta<;6es afectam apenas uma parte da empresa (uma marca, c1ia<;ao de novas marcas para novos segmentos de mercado, extens6es da marca e/ou linha de produtos). De resto, pode considerar-se que a propria marca e o produto tern a sua identidade especffica que, por si, se reflecte na identidade da empresa, e que, por is so, tern de ser objecto de aten<;ao quando nelas ocorram muta<;6es. Nalguns casos, a revisao da identidade - da organiza<;ao, da marca, do produto - exige uma nova denomina<;ao, uma nova forma visual, urn novo estilo, em fun<;ao de novos mercados ou segmentos de mercado. Outras vezes, e na maioria dos casos, o que se pretende e uma evolu<;ao, estrutura<;ao e uma boa aplica<;ao do que ja existe. Dai a necessidade deter uma boa estrategia em seleccionar o

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modelo e a estrutura de identidade mais adequados: Uma estrategia empresarial clara ajuda a alcan9ar uma boa identidade da organiza9ao. A identidade da organiza9ao e muito importante pois empresas com identidades fortes atraem os melhores profissionais e tern mais facilidade em lan9ar novos produtos. Uma fmte identidade da organiza9ao influencia os pre9os dos stocks e cria uma boa impressao aAdministra9ao Central. Algumas pessoas, erradamente, pensam que a identidade institucional e apenas o desenho gnifico (sfmbolo, logotipo, entre outros) e muitas empresas tentam mudar a sua identidade adoptando apenas urn novo logotipo num novo e aparatoso ediffcio. Mas, actual mente, a realidade e bern diferente e muito mais complexa. A identidade da organiza9ao nao e apenas desenho gnifico mas tambem a forma como a empresa esta organizada e funciona, quais sao os objectives, quais sao as suas marcas e como sao geridas. A identidade institucional revela ao mundo quais sao as suas estrategias, no fundo, eo cartao de visita da organiza9ao.

1.2. Necessidade crescente de diferencia~ao dos produtos, da marca ou da propria empresa. Diferencia9ao e posicionamento sao conceitos habituais de marketing quando falamos de produtos. 0 que a nfvel de produtos e 0 posicionamento, a nfvel da marca e da empresa e identidade. A identifica9ao com a marca quer do produto quer da empresa, e urn factor cada vez mais importante numa envolvente competitiva, caracterizada por uma homogeneizavao na oferta de produtos e servi9os, criada pela progressiva concentra9ao de capitais, pela necessidade de reduzir os custos, pela disponibilidade de tecnologia e comunicavoes, e pela simultaneidade de processes de investiga9ao e desenvolvimento que sao levados a cabo sobre os mesmos temas e em lugares diferentes. Cada vez existem menos "produtos exclusives" e "mercados exclusives" e, perante isso, nao basta investir em investiga9ao e tecnologia em termos de estabilidade e unicidade,

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quer de produtos quer de mm路cas. Com uma ofetta homogenea e, ao mesmo tempo, com mercados cada vez mais segmentados, a questao que se coloca ja nao e a de saber qual e o melhor produto, mas sim, qual e a marca ou a empresa que merece mais confianc;;a, que mais atrai, com a qual o comprador melhor se identifica. As pessoas tendem a comprar o valor decotTente da identidade da empresa alem de comprarem produtos. A identidade da empresa, da marca e do produto convertem-se assirn, em factores chave de decisao, passam a ser urn produto em si mesmos. Os conceitos de diferenciac;;ao e de posicionamento nao sao, por si, nada de novo. 0 que e realmente novo e o reconhecimento da necessidade de que as empresas e as marcas projectem tal posicionamento da forma mais eficaz e atraves de todos os meios possfveis. 0 que importa, assim, e encontrar verdadeiras diferenciac;;oes que constituam vantagens competitivas e em saber projecta-las de forma adequada, energica e duradoura com rigor e coerencia em termos de urn programa de identidade quer em relac;;ao aos produtos e a marca quer em relac;;ao a propria empresa como unidade global.

1.3. Necessidade crescente de rentabilizar a comunica~ao 2 , conseguindo o maximo impacto ao menor custo. Perante a turbulencia eo ritmo de mutac;;oes atras referidos, ha uma tendencia crescente em tratar da empresa ou da marca e nao apenas dos produtos. Os produtos sucedem-se, as empresas e as mm路cas permanecem. Uma campanha publicitaria para lanc;;m路 urn produto requer urn conjunto de gastos especificos, enquanto que see a empresa toda a transmitir os seus atributos, a sua identidade atraves dos seus ediffcios, dos seus produtos e embalagens, o comportamento do seu pessoal, nao s6 o impacto e muito maior mas tambem o custo marginal tende a ser zero pois limita-se a "accionar" os seus pr6prios

2

Arranz, 1997, Gestion de Ia Identidad Empresarial, p. 35

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meios de comunicac;ao. 0 segredo esta em desenvolver uma identidade de empresa, de marca e de produto adequada e executa-la, com todo o rigor, desde a administrac;ao. A identidade nao e apenas uma ferramenta de marketing, ela e tambem urn dos activos mais valiosos, urn recurso estrategico da empres a e, por isso, deve ser da responsabilidade da administrac;ao. Sendo os produtos os elementos essenciais constitutivos do objecto das empresas econ6micas e sendo atraves deles que a empresa realiza os seus fins com elementos reais e especificos da sua actividade, sucede que os produtos constituem, por si, tambem uma das areas componentes da identidade empresarial ou da sua organizac;ao enquanto pela sua natureza e caracteres, tern em si mesmo urn posicionamento de relevo proprio e fortemente contributivo para a identidade da empresa e para a cotTespondente imagem organizacional e global. Produtos e servic;os, sao, afinal, tudo aquilo que o cliente procura e recebe da empresa e que leva para casa ou aufere a troco do prec;o que paga. Para algumas organizac;6es, o produto e os seus atributos constituem o factor mais significativo e determinante na percepc;ao da organizac;ao no seu conjunto. Geralmente sao empresas que oferecem produtos tangfveis duradouros (autom6veis, bens de equipamento, electrodomestlcos, etc.), ou servic;os (banca, consultoria, etc.), mas sempre com urn alto nfvel de implicac;ao por parte do comprador. Por exemplo, o aspecto e a performance de urn autom6vel determinam, em grande parte, a forma como percebemos a empresa que o produz. Como exemplo, podemos apontar a empresa Jaguar. 0 que in teres sa, a par da marca ou nome Jaguar, eo carro em si, o seu aspecto, o seu prec;o, o seu conforto interior, o seu cheiro, os barulhos que faz, como e que atTanca, se mantern em mm路cha e para. Sao estas qualidades que influenciam, na sua maior prute, a identidade da empresa como urn todo. 0 mesmo acontece com a Parker, com a Mont Blanc, com a Sheafer, com a Sony, entre outras. Sao empresas cuja identidade e, francamente, condicionada pelos seus produtos. Numa empresa que se apoia no seu produto,

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o produto e, em si, o elemento mais importante na cria<;;-ao e manuten<;;-ao de uma boa identidade.

2. Comunicac;ao Se o objecto de uma empresa econ6mica e a realiza<;;-ao de utilidades atraves da ac<;;-ao organizada e coordenada dos factores de produ<;;-ao, obviamente que uma das caracterfsticas da natureza das empresas e a de se ti路atar de entes de rela<;;-6es, is to e, de entidades que nao podem existir isoladamente, nem real izar-se senao atraves de actos de relacionamento com todos aqueles- pessoas ou empresas -a que respeitem os factores, de quem dependam os condicionalismos, ou a quem se dirijam os produtos ou servi<;;-os constitutivos de tais utilidades. Mas, seas empresas e as organizac;oes existem e pretendem desenvolver uma actividade com prosperidade e progresso, obviamente que as operac;oes que realizam tern de ser projectadas sobre o mundo exterior e nele produzir efeitos conducentes ou condicionantes de relac;oes econ6micas. A comunicabilidade e, assim, urn dos caracteres essenciais de qualquer empresa. E e tambem do domfnio comum que as primeiras impressoes produzidas atraves das relac;oes de comunica<;;-ao sao sempre mais fortes e diffceis de alterar, de fazer desaparecer ou de substituir. Daf o cuidado que importa ter neste tao importante campo das relac;oes. Toda a organizac;ao comunica com outrem, quer queira quer nao. Mesmo o ficar cal ado deliberadamente pode consistir na transmissao de uma mensagem. As mensagens formais e infmmais podem ser transmitidas com eficacia; no entanto, as mensagens formais transmitem conceitos precisos enquanto que as mensagens informais transmitem apenas impressoes, tendo embora uma importancia extrema para a organizac;ao. Nenhuma empresa, associac;ao, agmpamento, administra<;;-ao, entidade ou ac<;;-ao de qualquer tipo, e capaz de sobreviver isolada, sem uma acc;ao comunicativa adequada. Nesta fase contemporanea da comunicac;ao omnipresente, que e a era dos audiovisuais, todas as empresas tern de criar a sua propria imagem,

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caso contr:hio alguem a criani por elas mas, em tal caso, eventualmente contra elas. Geralmente, trata-se de tudo aquila que a empresa emite. Nao faz parte do seu activo, nem os clientes o levam para casa no acto da compra, mas chega a sua casa atraves do televisor, da caixa do correio, da imprensa, da radio ou da internet. A comunicas;ao da empresa e dirigida a uma variedade de audiencias intemas e extemas, utilizando material impressa (facturas, impressos, anuncios de imprensa, mailings, etc.) e outros meios (TV, radio, cinema, internet, feiras e apresentas;oes, lans;amentos de novas produtos, etc.) que influenciam a forma como a organizas;ao e percebida. Quando se fala em audiencias extemas estamos a referir-nos a: • Empregados de todos os nfveis, em diversas areas funcionais, em diferentes niveis hierarquicos, com diferentes graus de antiguidade e em diferentes zonas geograticas; • Accionistas; • Consultores; • Representantes sindicais; • Ex-empregados e pensionistas; • Famflias dos empregados. Relativamente a alusao as audiencias extemas temos em vista: • Administras;ao publica, a todos os nfveis; • Clientes reais e potenciais; • Colaboradores comerciais; • Prescritores; • Fornecedores; • Concorrentes; • Lfderes de opiniao, jornalistas e meios de comunicas;ao em geral; • Ambientalistas;

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• Analistas de investimentos, corretores de Bolsa, bancarios; • Potenciais empregados; • Escolas e universidades; • Associac;oes comerciais e empresmiais; • Publico em geral. Sea informac;ao e a comunicac;ao tern de comum a transmissao de conhecimentos ou realidades como objectivo de produc;ao de efeitos externos, sucede que, em principia, a informac;ao pode ser urn acto de mera exteriorizac;ao unilateral sem destinatario concreto, enquanto que a comunicac;ao e urn acto comum, is toe, transmissao- recepc;ao entre duas pessoas ou entidades.

2.1. A importancia da comunica~ao para a identidade e para a imagem A comunicac;ao empresarial e o processo que vai converter a identidade organizacional em imagem organizacional. Trata-se de uma parte fundamental do processo, pois a identidade organizacional s6 tern algum valor se se comunica a todos os publicos alvo. Sem comunicac;ao os valores e estrategias da organizac;ao nao se compreenderao nem se adoptarao e a empresa teni necessidade de urn sentido claro sobre a sua propria identidade. A comunicac;ao nao pode ser definida apenas no sentido estrito da palavra. Ela e algo mais do que a publicidade e relac;oes publicas. Comunicac;ao e tudo o que diz respeito aempres a, desde a forma como atende o telefone ate aforma como apresenta os seus folhetos explicativos dos seus produtos. Tal como afuma Wally Olins: 3 "A ideia fundamental que sustenta qualquer programa de identidade empresarial e a de que em tudo o que faz uma empresa, em tudo o que possui e em tudo o que produz deve projectar uma ideia clara do que e e do que pretende".

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The Wolff Olins Guide to Corporate Identity, 1984.

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Por exemplo, se uma empresa pretende transmitir a ideia de que possui determinadas qualidades, como ser grandiosa e eficiente, tal imagem pode criarse mediante representac;oes que sugiram tamanho e eficiencia. Mas, sem duvida que se a empresa nao chega a ser grandiosa nem eficiente, produzir-se-a urn a lacuna entre aquilo que foi percebido e a propria realidade. Ora, a comunicac;ao nao e uma panaceia. Ela nunc a proporcionara exito a uma rna empresa. 0 que se deve fazer e transmitir uma mensagem coerente e digna de credito sobre o que e a empresa, o que faze como o faz mantendo urn forte controlo sobre as mensagens que transmite. Se as ditas mensagens se contradizem, a mensagem geral tendera a mostrar-se confusa. A comunicac;ao e uma actividade continua,4 complexa e dinfunica e a sua fmalidade e informar, mas a informac;ao, como se sabe, e constituida por elementos pouco perceptfveis de factos abstractos. 0 que conseguimos captar da informac;ao, sao pensamentos e impressoes, sen do os primeiros transmitidos de uma forma consciente e os segundos transmitidos de uma forma consciente e inconsciente. A forma como n6s avaliamos a comunicac;ao e cognitiva eo factor cognitivo esta relacionado com a emoc;ao. Alem do factor cognitivo ha a considerar, tambem, o factor emotivo do receptor da mensagem. A mensagem formal pressupoe urn c6digo eo pensamento e transformado em Iinguagem apropriada, segundo o c6digo que o receptor entendee que consegue descodificar e interpretar. A recepc;ao da mensagem pedeita verifica-se quando o pensamento do receptor cmTesponde ao pensamento original do emissor. As mensagens informais sao mais complexas porque elas nao sao nitidamente pronunciadas, normalmente sao inconscientes dificultando o correspondente feedback por parte dos receptores. 0 conteudo de uma mensagem informal e, parcialmente ou totalmente, a personalidade do emissor, pois que ele expressa este tipo de mensagem atraves dos seus elementos de identidade.

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As mensagens formais transmitem pensamentos e impressoes enquanto que as mensagens infmmais transmitem apenas impressoes. As mensagens fmmais sao conscientes enquanto que as mensagens informais poderao ser conscientes e inconscientes, alem dis so, as mensagens formais e informais interagem entre si, podendo refors;ar-se ou subestimar-se uma a outra. Nenhuma empresa, associas;ao, agrupamento, administras;ao, entidade ou acs;ao de qualquer tipo e capaz de sobreviver sem uma acs;ao de comunicas;ao adequada. As empresas comunicam nao apenas porque a sociedade actual o exija ou devido a qualquer obrigas;ao legislati va mas sim porque elas pr6prias tem necessidade de se tornar conhecidas bem como os seus pontos de vista, com a finalidade de sobreviver. As empresas cada vez mais se vem obrigadas a dar resposta as alteras;oes do mercado, man tendo, ao mesmo tempo, uma comunicas;ao clara entre os seus empregados, os seus clientes, os seus accionistas, os seus fornecedores . 0 ingrediente essencial para estabelecer uma boa relas;ao entre a organizas;ao e os seus publicos e a comunicas;ao. Esabido que nao existe neg6cio sem existirem consumidores, pelo que todas as empresas trabalham para eles. Assim, a empresa comunica com os consumidores, primeiro que tudo, atraves dos seus produtos, servis;os e publicidade, pois raramente comunica com eles directamente, por sua propria iniciativa.

2.2. Os meios de comunica<_;ao 0 conjunto de tudo o que a empresa diz, faz e o que dizem dela, constitui a comunicas;ao da sua identidade que pode ser realizada atraves de uma serie de elementos ou tecnicas. 0 que a empresa diz e faz,. ou seja, os dois primeiros nfveis, podem ser totalmente controlados por ela; enquanto que o que dizem dela, isto e, o terceiro nivel, s6 pode ser controlado ate certo ponto: a analise dos efeitos revelados pelo comportamento do publico ap6s a comunicas;ao. 0 segredo esta no facto de a comunicas;ao ser deliberada, controlada e coerente, em funs;ao de uma estrategia predeterminada quanto ao objecto, quanta aforma e quanta aos destinatarios. - - - - -----路路-- - -- - -

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Apresentam-se, geralmente, dez meios atraves dos quais a empresa comunica com os seus publicos, ou seja, dez grupos especfficos entre os diferentes meios de comunica<;:ao5 : • Produto • A Correspondencia • As Rela<;:5es Publicas • A Apresenta<;:ao Pessoal • A Apresenta<;:ao Impessoal • A Literatura • Local de Venda • Os Media Permanentes • A Publici dade • Intemet

3. 0 conceito empresarial Sendo a empresa, essencialmente, uma organiza<;:ao unitaria dos factores de produ<;:ao, e sendo certo que s6 as materias primas, os equipamentos, o imobilizado corp6reo e os produtos possuem natureza material, obviamente que a imagem organizacional nao pode consistir separadamente, na mera representa<;:ao material de tais bens. Com efeito, nem o capital, nem o trabalho, nem as situa<;:5es de valor activo, passivo, creditfcio, de prestigio e projec<;:ao perante os mercados e todo o mundo de rela<;:5es econ6micas, pode ser representado matelialmente. S6 atraves da imagem ou representa<;:ao psicol6gica sobre a empresa e a organiza<;:ao como um todo unitario, de todos os que com ela se relacionem, ja que nao e urn elemento inerente ou componente da propria empresa capaz de a representar como tal, mas sim urn fen6meno externo, intelectual, formado e existente na mente daqueles que devam "ver" a empresa, e del a terem urn a ideia

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clara sabre o que ela e, para na base de tal ideia, com ela se relacionarem empresarialmente. A imagem de uma empresa, e, pais, exterior a ela, embora a sua forma<;ao dependa da identidade com que ela se exibe e se afirma no mundo econ6mico em que pretende realizar-se. See certo, assim, que a identidade da empresa constitui urn elemento essencial para a forma<;ao e configura<;ao da imagem que sabre ela exista na cidade, no pafs e no mundo em que ela se realiza, nao e menos verdade que a essencialidade da imagem consiste na opiniao que sabre ela tenham os diferentes publicos reais e potenciais de todo o ambito constitutive do mercado a que se destina. Assim, a imagem da empresa forma-se na mente de cada consumidor ou pessoa de urn determinado publico como resultado de uma abstrac<;ao psicol6gica das mensa gens emitidas ao longo do tempo pela organiza<;ao, relacionadas com esta. A imagem da empres a nao se confunde e, por vezes, nem sequer coincide com a identidade da empresa. 0 que uma empresa emite nao e imagem, mas sim a identidade. A imagem forma-se no mercado, forma-se na cabe<;a das pessoas, como sfntese dinamica de toda a informa<;ao, publicitaria ou de outro meio, que va recebendo ao longo do tempo. Claramente, a imagem constitui urn fen6meno de opiniao. De opiniao publica e individua16 . 3.1. A gestao da imagem Apesar de a imagem ser urn elemento ou valor estranho aacti vi dade e agestae da empresa- por ser urn dado ou componente da mentalidade do publico- e que a empresa nao pode dominar, sucede que a empresa pode, por si, exercer uma forte ac<;ao gestionlliia sabre os elementos que contJ.ibuem para a forma<;ao da imagem quer atraves de uma boa organiza<;ao e ac<;ao de forma<;ao da sua

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propria identidade e dos elementos relevantes da sua formac;ao- as marcas, os produtos e a identidade visual- quer atraves de um bom plano de comunicac;ao. Daf que, segundo a Doutrina, os responsaveis pela criac;ao e manutenc;ao da imagem das empresas consideram para tal gestao quau路o olientac;oes fundamentais: 1a- Assegurar que a gestao de topo esta envolvida- por forma a dar decisiva enfase aos aspectos fundamentais da identidade que se considerem mais operativos; 2a- Fazer os investimentos necessarios para levar a tarefa ate ao fim- tendo em conta que nem sempre e a gas tar pouco que se ganha, e que os gastos na promoc;ao da imagem se recuperam por vezes rapidamente e se convertem em ganhos repercutiveis em resultados imediatos e em progressao futura da identidade e da imagem; 3a- Nomear urn controlador de qualidade, que seja responsavel pela coerencia da mensagem e abordagem; 4a- Analisar a visao da imagem, uma a uma com a agencia publicitaria. Empresas com fmtes imagens positivas tem maior quota de mercado, custos de venda infeliores e lucros maiores. No en tanto, muitas empresas deixam ao acaso a construc;ao da sua imagem e investem na mesma pouco dinheiro. Pi or ainda, muitas empres as falham na combinac;ao das mensagens e imagens certas para ajudar os potenciais clientes a compreenderem e apreciarem as suas capacidades. Segundo Dennis Ritzel, director da publici dade de Eaton Corp., a publicidade visual com objectivos precisos pode ser reconhecida instantaneamente pcn路que o seu objectivo e facilmente compreendido pelo receptor. Apresenta-se a seguir o modelo da imagem da organizac;ao onde o "feed-back" produzido entre a comunicac;ao e a imagem e entre a imagem e a identidade e fundamental.

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Au·aves da

IDENTIDADE

Traduz-se em

COMUNICA<;Ao

IMAGEM

.................................. J •••••••• ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Fonte: Encyclopedia of Business

Sendo a identidade uma realidade imaterial ou conceitual extrove1tente, dirigida ao exterior, destinada a projectar-se, em termos de imagem, sobre o publico a que respeita o interesse econ6mico da empresa, tal efeito e realizado e depende da comunica<_;:ao ou da informa<_;:ao como meios reais de transmissao dos caracteres ou elementos da identidade aos seus destinat<hios. E dai a necessidade de identica polftica gestiomrria da escolha dos meios mais id6neos, dinfunicos, fiaveis e eficientes, de levar tais dados ao publico em geral ou a certo publico em especial; e de vigiar a efectividade da ac<_;:ao exercida por tais meios eo efeito por ela produzido. A imagem de uma empres a, - ao contr:ilio da identidade- e uma concep<_;:ao ou realidade do domfnio do publico ou do cliente a que respeita o interesse relacionado com a empresa. Consistindo em urn estado de natureza psicol6gica, de ideia ou sentimento formado pela recep<_;:ao ou introversao dos elementos ou dados da identidade das empresas transmitidos atraves da comunica<_;:ao ou da informa<_;:ao, e aimagem que se dirige e projecta todo o valor da identidade. Enquanto a empresa domina a identidade, nao domina a imagem. Por is so, toda a ac<_;:ao empresarial dirigida acria<_;:ao da imagem no publico em geral ou em certo publico em especial, tern de assentar e partir da forma<_;:ao e manuten<_;:ao de uma boa identidade, e de cuidar da boa ou rna comunica<_;:ao ou informa<_;:ao que a leve aos destinatarios para neles se formar a imagem pretendida. Sea boa identidade e por vezes diffcil, custosa e lenta mas estavel quanta asua forma<_;:ao, a imagem e muitas vezes de forma<_;:ao facil, rapida, e nem sempre constante e subsistente; e se se perde ou deforma, dificilmente se recupera.

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E pois, indispensavel que a empresa, cuidando da sua identidade e da sua comunica9ao di1igida a forma9ao da imagem, cuide igualmente da velifica9ao e vigiH!ncia dos termos em que a imagem se produza e se conserve nos seus destinatarios, e tire dessa observa9ao a li9ao correspondente para que, se necessario, reveja a sua identidade e a adapte as evolu96es que a imagem va sofrendo.

Bibliografia Corporate Identity, p.48 Arranz, 1997, Gestion de la Identidad Empresarial, p. 35 The Wolff Olins Guide to Corporate Identity, 1984. Bernstein, 1996, Company Image & Reality - A critique of corporate communications. Bernstein, ob. cit., p. I 08 Rolando, 1985- Desenho: empresalimagem, Barcelona, p.29

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A representa~ao social do dinheiro: algumas perspectivas te6ricas e empiricas

por Vitor Pina da Costa

Psic61ogo Mestre em Sociologia (Universidade Nova de Lisboa) Doutorando em Gestao (Universidade Lusiada) Professor-Adjunto na Escola Superior de Gestao do Jnstituto Politecnico de Santarem

Resumo : • 0 dinhe iro tern um papel central na vida moderna, mas a sua natureza tern sido pouco estudada por economistas e soci6logos e, portanto, uma questao pouco cuidada de investigac;ao nas ciencias sociais. • A ciencia econ6mica produz, habitualmente, defini.;:oes mais ou menos curvilineas sabre o dinheiro, considerando-o sobretudo como simples meio de troca, o que nao e suficiente para captar o significado e fun.;:oes do dinheiro na sociedade. • A antropologia descobriu factos interessantes acerca das origens, costumes e rituais sabre o dinheiro, salientando o facto de que, limitar a ideia de dinheiro a coisas que nao tem valor de uso, coloca uma grande restric;iio sobre o que pode funcionar como dinheiro. • Nao existe uma sociologia sistematica do dinheiro, mas reconhece-se que o mundo da rcalidade e o mundo do valor tem cada um o seu proprio modo de existir e o dinheiro surge no mundo dos valores porque faci lita a passagem da realidade ao valor. • No campo da psicologia social a perspectiva e a da formac;ao das atitudes face ao dinheiro, pelas va riaveis (genera, idade, posic;ao social, etc.) que elas possam estar relacionadas e, tambem, com a identificac;ao dos significados associados ao dinheiro. • A perspectiva cultural centra-se nas classifica.;:oes cognitivas e na evocac;ao dos significados do dinheiro. A ideia principal e que a cultura determina o que e o dinheiro, o que e usado como tal e como e usado, sendo o dinheiro frequentemente abordado como variavel dependentc.


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representa~ao

social do dinheiro: algumas perspectivas te6ricas e empiricas

1. Introdm;ao Sendo o dinheiro de capital importancia na vida econ6mica e social, e surpreendente a pouca atenc;:ao que tern merecido por parte das ciencias sociais em geral (economia, sociologia, psicologia, etc). Como refere Smelt (1980) "o dinheiro tern urn papel central na vida moderna, embora a sua natureza tenha sido pouco estudada por economistas e soci6logos". Parece que o dinheiro tern sido uma questao inapropriada de investigac;:ao nas ciencias sociais, primando pela quase ausencia tanto la literatura conceptual como empfrica (Doyle, 1982; Furnham, 1984; Yamauchi e Templer, 1982). Ora, este quase esquecimento nao pode deixar de nos espantar, ainda mais quando a sociedade de consumo contemporanea tern sido caracterizada como venerando o dinheiro, impregnando-o de significado, trantando-o com o maximo respeito e fazendo muitas vezes a apologia do dinheiro facil. Se o dinheiro e, sem duvida, o grande ausente das ciencias sociais, "como se explica que esse factor tao presentee tao poderoso nos tempos modernos ocupe tao pouco a pesquisa, enquanto dispendemos tanta energia para ganha-lo? porque eque essa linguagem que aprendemos desde a mais tenra infancia e que baliza as nossas relac;:oes, e censurada?" ( Moscovici, 1988). Talvez o facto de a educac;:ao cat6lica ter criado a ideia de que a riqueza era sin6nimo de egoismo e avareza, e que todos os vicios podiam ser atribuidos aos ricos, tenha lev ado a que o dinheiro seja urn assunto tabu, tal como o sexo o foi durante muitos anos. A riqueza, o desejo do dinheiro, sempre foi algo que atormentou os cristaos, ja

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que o perigo da riqueza e duplo: separa dos out:ros e separa de Deus. A riqueza e suspeita e a pobreza e exaltada como uma dimensao positiva, devido ao espa<;o que abre a uma alma liberta do desejo de adquirir e de possuir. Assim, o dinheiro e algo que e vista como " mau" e gerador de uma cu1pabilidade moral que nos atormenta. Mas, para la da religiao, tambern a filosofia se debm<;ou sobre os beneffcios e os perigos do dinheiro e da acumula<;ao da riqueza. Como o dinheiro e, na expressao de Marx, o "equivalente universal", is toe, pode ser trocado por qualquer coisa, resulta que tudo o que se pode comprar tern urn pre<;o, e tudo o que tern urn pre<;O pode comprar-se. 0 dinheiro nao e Uill bern COillO OS OUtl'OS, ja que e}e e o equivalente de todos, e e isso que faz a sua for<;a. Nao e urn bern real mas o acesso indefinido a todos os bens possiveis, ou, como refere Sponville ( 1992) "o dinheiro que se tern e a promessa de tudo o que se tera". Mas porque eque este "equivalente universal" nao e moralmente neutro? Eque "o desejo de possuir o mediador universal nao comporta em si mesmo nenhuma modera<;ao; nao faz sentido falar a esse prop6sito de modera<;ao" (Ricoeur, 1992). 0 dinheiro, devido a sua neutralidade e universalidade, ligado ao poder indeterminado de aquisi<;ao que permite, eo objecto sonhado, se assim se pode dizer, para urn investimento total. E esta paixao pelo dinheiro e moralmente condenavel, ja que corrompe os la<;os de afecto entre os homens, criando o "homo economicus" de que fala Ricoeur (1992). Ora, hoje o dinheiro penetra em todos os reconditos das rela<;6es e dos fen6menos sociais, impondo urn caracter impessoal as nossas rela<;6es pessoais. 0 dinheiro, desejado e repudiado, cobi<;ado e temido, e sempre objecto de jufzos marais, nao pode continuar a passar ao lado das diferentes disciplinas que constituem as ciencias sociais,ja que adquiriu urn poder antes desconhecido que o impregna de novas significados. De entre as diferentes ciencias sociais, tern sido a economia, a sociologia e a psicologia social que mais aten<;ao tern dado a problematica do dinheiro.

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2. A perspectiva econ6mica A. economia tern abordado o dinheiro como urn meio de pagamento de modo a tamar a troca mais eficiente. Assim, sera importante analisar o modo como o dinheiro evoluiu ao logo do tempo a fim se satisfazer as necessidades das trocas comerciais, ate se transformar numa mera construc;ao social baseada na crenc;a e na confianc;a. Ora, se numa primeira fase, a troca assumiu a forma de petmuta directa, que se pode caracterizar por "da-me uma certa quantidade de A, que eu dou-te uma certa quantidade deB", como desenvolvimento das trocas comerciais e preciso encontar urn processo que de resposta a essa complexidade crescente. A passagem da troca imediata dos produtos para a circulac;ao de mercadorias levou as comunidades antigas a criar medidas padronizadas de peso e volume, permitindo caminhar da permuta para a "sociedade monetaria". Com a entrada do poder politico em cena aparecem as moedas metalicas, cunhadas por uma administrac;ao publicae como seu valor garantido (Giges, rei dos Lidios entre 687 e 650 a.c., e geralmente considerado como o inventor da moeda no Ocidente). Segundo Ri voire ( 1985) esta e uma etapa essencial, ja que, podemos considerar que a hist6ria monetaria comec;a com a cunhagem publica da moeda, abrindo-se entao urn logo periodo, o da moeda metalica, que se estendera na Europa ate ao seculoXVI. A etapa seguinte na evoluc;ao do dinheiro vai dar-se no sec. XVII quando os bancos introduzem a "moeda escritural"; encontramos este tipo de "moeda" nos bancos das cidades com grande actividade mercantil, como, por exemplo, Genova, Veneza, Amsterdao, Hamburga, etc. E tal como ja tinha acontecido no pass ado , o Estado ( leia-se o poder politico) atraves do tesouro publico ou de urn banco sob o seu controlo, ira criar o que habitual mente se designa por "papelmoeda", assegurando, contudo, a sua convertibilidade para o padrao bimetalico (ouro-prata) . Masse o seculo XVill viria a ser caracterizado por problemas de convertibilidade

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e de desvaloriza~ao do "papel-moeda"' e a guerra de 1914 que, ao desorganizar a economia de urn grande numero de paises levou a que, desde a decada de quarenta, quase nenhuma moeda fosse convettfvel. E se ap6s ana Guerra Mundial assistimos ao nascimento do que se poderia designar de "padrao moeda" representado pelo "padrao d6lar", este deixou de ser convertivel a partir de 1971, e ap6s 1973, afaltadereferencia comum, as varias moedas come~ama flutuar umas em rela~ao as outras. Se, como refere Galbraith (197511987), "durante a maior parte do tempo o dinheiro foi urn metal mais ou menos precioso", hoje, como simbolo do valor, o dinheiro e uma mera abstrac~ao. 0 dinheiro s6 tem valor porque as pessoas concordam em aceita-lo em troca de produtos ou servi~os, ou seja, o dinheiro moderno baseia-se na cren~a de que vale algo, baseia-se na suposi~ao de que os outros tambem o aceitam quando chegar o momento de o utilizar na aquisi~ao de bens e servi~os. Para Simmel ( 1900/1987), este facto s6 e possivel devido a solidez e fiabilidade das interac~oes sociais, ja que, "estando pouco ligado a materialidade do seu substracto, ele e, com efeito, um fen6meno sociol6gico, uma forma de interrela~ao humana". A ciencia econ6mica produz, habitualmente, defini~oes mais ou menos curvilineas sobre o dinheiro, focando sobretudo o dinheiro como simples de troca, o que nao e suficiente para captar o significado e fun~oes do dinheiro na sociedade. Estas sao "a outra coisa" de que fala Galbraith, mas que no seu trabalho 0 Dinheiro, nao sao abordadas. Se muitos economistas consideram que a fmwao Msica do dinheiro e um meio de troca, e talvezporque a uma ideia difundida de que 0 dinheiro serve para resolver o inc6modo associado ao sistema de troca, ou, dito de outro modo, a "dupla coincidencia de quereres": se uma dada pessoa tem o produto "A" para trocar, e precisa do produto "B" e que tambem queira o produto "A". Assim, o dinheiro, ao serum meio universal de troca, elimina o problema de "dupla coincidencia de quereres", e, ao tornar-se urn meio de pagamento, faz do

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dinheiro com o bern ou servi<;:o pago, ou seja, faz do dinheiro um padrao de valor. Furnham e Lewis (1986) sumarizam " ... as fun<;:oes econ6micas do dinheiro comosendo: a) urn meio de troca, para evitar a necessidade de encontrar a dupla coincidencia de quereres; b) uma unidade de calculo, um meio de simplificar e sumarizar o valor dos bens que sao trocados; c) um padrao de pagamento difetido, a ser us ado para separar no tempo a troca de bens e servi<;:os, eo seu pagamento; d) uma provisao de valor "ser capaz de receber um pagamento num momento a adiar a compra para uma data superior". Real<;:ando as limita<;:oes desta abordagem, Lindgren (1991) afirma que, os economistas nao estao interesados no dinheiro enquanto tal, mas sim no modo como afecta os pre<;:os, o criteria, as taxas de juro, etc .. Para este autor " ... as temias desenvolvidas pelos economistas nao dao grande ajuda para compreender o comportamento quotidiano das pessoas perante e com o dinheiro, porque tais teorias dizem respeito ao comportamento de um "homem econ6mico" ideal, que se esfor<;:a de modo sensato e 16gico para melhorar a situa<;:ao econ6mica". Identica e a opiniao de Doyle (1992), para quem os economistas elaboram teorias elegantes sobre o dinheiro, mas a perspecti va que escolheram e somente a de estudar a maneira de aumentar a sua quantidade. Vemos assim que, esta abordagem tende a ignorar a fun<;:ao social e os significados do dinheiro, ou como referem Belke Wallendorf ( 1990) e necessaria " ... ir para alem de uma compreensao meramente quantitativa do significado do dinheiro ...", ja que,se esta perspectiva pode ser 1igorosa e pragmatica, falha quando se quer um compreensao mais emocional, qualitativa, do significado do dinheiro.

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3. A perspectiva antropologica A antropologia descobriu factos interessantes acerca das origens, costumes e rituais sobre o dinheiro, assim como, sobre o seu papel em diferentes sociedades e culturas, salientando o facto de que, limitar a ideia de dinheiro a coisas que nao tern valor de uso, coloca uma grande restri9ao sobre o que pode funcionar como dinheiro. Ha poucas duvidas de que nas sociedades "primitivas" uma grande variedade de objectos cumprem as fun96es de dinheiro para as respectivas comunidades. Einzig (1966), citado por Burgoyne (1991) define como dinheiro primitivo "... uma unidade ou urn objecto que se ajustem razoavelmente a algum padrao de uniformidade, que e utilizado para 0 calculo ou para fazer a maioria dos pagamentos usuais ness a comunidade... ", referindo como exemplos de dinheiro primitivo, desde dentes de baleia nas Ilhas Fiji e porcos nas llhas Novas Hebridas, ate arroz nas Filipin as e rum na Australia. Mas aquila que caracteriza a abordagem antropol6gica do dinheiro e a distin9ao que introduz entre dinheiro primitivo, considerado como "dinheiro com finalidade limitada", e dinheiro moderno, que seria "dinheiro universal". Como salientam Bell( e Wallendorf (1990) "... o termo dinheiro primitivo referese a uma forma de dinheiro que pode ser usado urn numero de finalidades ou cerimoniais sociais". Isto e, enquanto os produtos basicos seriam nonnalmente obtidos pelas obriga96es comunitarias, os objectos de prestigio seriam obtidos atraves do "dinheiro de finalidade limitada" (exemplo deste tipo de 'dinheiro' sao os tecidos de rafia no Zaire).

ContTariamente as sociedades primiti vas, as sociedades contemporaneas seriam caractelisticas pelo "dinheiro para todas as finalidades", que tanto pode comprar objectos vulgares, como objectos de prestigio, religiosos, etc., independentemente do estatuto do sujeito.

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Ora, esta distin<;ao entre dinheiro "ptimitivo" e "moderno" nao e facil de tra<;ar, e o dinheiro contemporaneo tambem seencontra limitado. Zelizer, uma soci6loga que investigou o dinheiro, partilha desta perspectiva, isto e, 0 dinheiro "moderno" nao e para todas as finalidades. Por exemplo, nao usual dar dinheiro apropria noiva ou amae no dia dos anos ... A pmtir do conceito antropol6gico de "dinheiro de finalidade limitada", Zelizer (1989) desenvolve o conceito de 'dinheiros especiais' (special monies no otiginal) para examinar "o modo como a cultura e a estrutura social marca a sociedade moderna atraves da introdu<;ao de controles, restris;oes e distin<;5es que sao influentes como as limitas;oes do dinheiro primitivo". Assim, o dinheiro moderno nao totalmente universal, reflectindo a tensao entre os pressupostos a perspectiva econ6mica (racional e funcional) e a perspectiva antropol6gica (desempenando tarefas oriundas de antigas praticas sagradas). Deste modo, o "dinheiro de finalidade limitada" e menos uma categoria e mais uma qualidade, que pode estar presente em diferentes graus, em diferentes culturas.

4. A perspectiva sociol6gica Embora a sociologia tenha dedicado alguma aten<;ao a este tema, nao existe uma sociologia sistematica do dinheiro, apesar de alguns autores nos terem dado perspectivas globais sobre o papel do dinheiro na sociedade contempora.nea. De entre esses autores, sobressaem os trabalhos de Marx, Smelt, Belk ,Wallendmf e Simmel, que se inserem numa preocupas;ao comum, que e a procura da essencia do dinheiro. Embora Marx analise o dinheiro no ambito da sua abordagem geral da economia, real<;ando a sua funs;ao de "equivalente geral" no processo de troca, procurou igualmente perceber como o seu carater influencia os homens, podendo tornarse, pelo seu poder, num meio de alienas;ao. Para Marx (1844/1971 ), e em vittude

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de possuir a propriedade de tudo poder comprar que o dinheiro de torna "o objecto por excelencia". Assim, ele torna-se o bern supremo e, para o seu possuidor, o seu poder e tao grande quanto o poder do seu dinheiro; "o que existe para rnirn atraves da rnedia<;:ao do dinheiro, aquilo que eu posso pagar (isto e, 0 que 0 dinheiro pode cornprar), tudo isso sou eu, 0 possuidor do dinheiro" (Marx, 184411971 ). 0 dinheiro e entao investido de urn poderdivino,jaque ele perrnite "transforrnar os rneus desejos, que sao rneras representa<;:5es e seres imaginados, em realidades e seres reais" (Marx, 1844/1971 ). Mas, este "rnediador universal" invette e confun de todos os atributos humanos e naturais, ja que torna equivalente a procm路a baseada na necessidade, com a procura baseada no desejo e na paixao; isto e, o dinheiro tern o poder de rnudar a representa<;:ao ern realidade, e a realidade em mera representa<;:ao. Para Marx, e este poder do dinheiro de confundir e distrocer tudo, que faz dele "uma for<;:a alienada da humanidade" (Marx, 1844/1971).

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Mas o dinheiro tern urna contradi<;:ao em si mesmo, j que, como representante universal da riqueza material, 0 dinheiro nao tern limites, porque e imediatamente transformavel em qualquer tipo de mercadoria. Mas qualquer soma real de dinheiro tern o seu limite quantitativa e apenas urn poder restrito de compra. "Esta contradi<;:ao entre a quantidade sempre definida e a qualidade de potencia infinita do dinheiro, leva a que o acto de o juntar e acumular seja comparavel ao trabalho se Sisifo: e como o conquistador cuja nova conquista s6 o leva a uma nova fronteira" (Marx, 185811974). E, assim, o dinheiro acaba por dominar os indivfduos, aprisionando-os numa teia que os confunde e aliena. Sem duvida que, a vi sao de Marx ( 1844/1971) e caustica: "o dinheiro eo proxeneta entre a necessidade eo objecto, entre a vida humana e os meios de subsistencia". Smelt, soci61ogo de orienta<;:ao marxista, vai analisar o dinheiro como entidade simb6lica, que tern a sua essencia pr6ptia, e que, por esse facto, conquista uma autonomia e desempenhauma fun<;:ao especffica, que e ligar 0 individuo ainfraestrutura econ6mica. Para este au tor, o dinheiro tern de operar na realidade mundana, tern de relacionar-se como mundo profano do dia adia. Assim, as moedas, as notas, etc. sao o simbolo (ao nfvel do indivfduo) da essencia do dinheiro, e a essencia e sua quantidade, que e estruturada atraves dos numeros

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(e a sua linguagem). Para Smelt ( 1980), "a quantia de dinheiro que urn individuo tern, determina a quantidade especffica da essencia do dinheiro a ser usada no dia a dia ... a caracterfstica principal do dinheiro que uma pessoa tern e a quantidade: a quanti dade e a sua caracterfstica de qualidade". Para este autor, poupar da enfase aessencia transcendental, sagt路ada, do dinheiro, enquanto investir da urn uso activo a essa essencia. Assim, para Smelt, o dinheiro tern uma natureza dupla como essencia e como sfmbolo, e o poder do dinheiro na sociedade moderna tern a sua origem na dualidade da sua natureza, que une o transcendental ao real. Mas, o que e que Smelt nos diz sobre o Iugar do dinheiro na sociedade? "Temos de olhar para la do tratamento que o indivfduo da ao dinheiro ... para examinar a natureza da rela9ao que o dinheiro cria entre o indivfduo e a sociedade" (Smelt, 1980). Ora, o dinheiro "integt路a verticalmente" o indivfduo com a economia, isto e, 0 dinheiro liga 0 indivfduo ou a familia aesfera econ6mica, tanto em termos de trabalho-rendimento, como em termos da actividade poupar-gastar. Fornecendo-se a si proprio como urn motivador da ac9ao, o dinheiro age como urn agente de controle, ja que cria urn a dependencia simu!Uinea em termos de trabalho e de consumo. Como o indivfduo esta ligado sociedade atraves do rendimento e do consumo, e o dinheiro influencia o desenvolvimento do capitalismo para urn aumento do consumo, Smelt (1980) conclui que "a pressao para o consumo e uma for9a ex6gena imposta pelo dinheiro ainfra-estrutura econ6mica".

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Para Smelt, os indivfduos podem escolher o que fazer com o dinheiro, e as diferentes escolhas expressam rela96es diferentes com a natureza dual do dinheiro, sendo que, e esta dualidade que toma possfvel a vmiedade de escolhas. Mas, "a escolha das rela96es como dinheiro reflecte-se na infTa-estrutura econ6mica ... e mudan9as na infra-estrutura vao reflectir-se natomad a de decisao dos actores au路aves do dinheiro. 0 uso individual do dinheiro nao e s6 uma escolha da rela9ao como dinheiro mas tambem com a infra estrutura econ6mica" (Smelt, 1980). Sea analise de Smelt ainda aprisiona o dinheiro ao funcionamento da economia, Belle e Wallendod vao dar uma nova dimensao aanalise sociol6gica do dinheiro, procurando a sua essencia na dualidade sagrado - profano, e ten tan do analisar o

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modo como as origens e os usos sociais determinam esta dupla essencia. Para Belke Wallendorf ( 1990) "o sagrado e algo que definimos como extraordimirio e coloca-se a parte da experiencia de todos OS dias. 0 sagrado e singular, totalmente unico e oposto ao vulgar mundo profano". Com a seculariza~ao da sociedade ocidental a defini~ao do que e sagrado nao se limita ao contexto religioso; o sagrado pode ser experimentado atraves de coisas tao difrentes como a na~ao, a ciencia, a natureza, a musica, etc. Como referem Belke Wallendorf (1990), "os objectos sagrados sao talvez melhor compreendidos em contraste com as meras utilidades profanas. Uma utilidade profana nao e avaliada para la do seu valor econ6mico e e facilmente substituida por urn objecto similar". Asim, urn objecto profano e valorizado, principalmente, pelo seu valor de uso mundano. Mas a natureza sagrada ou profana de urn objecto nao e uma caracterfstica intrfnseca a esse objecto; ela e individual e colectivamente definida. Para Belke Wallendorf ( 1990), "como o dinheiro e urn tipo pmticular de objecto, nao sera de surpreender que o dinheiro tambem possa ser investido de urn significado sagrado", porque "ele tern urn poder transformador, e esse poder extremo nao e vulgm路". Ora, o dinheiro pode transformm路 o born em mau e o mau em born, uma cm路acterfstica que mantem o seu estatuto sagrado. Se, "como fmma, o dinheiro actual e essencialmente profano ... o dinheiro como entidade pode ser born ou mau numa dada situa~ao. A questao clitica entao, e o que determina o caracter do dinheiro em circunstancias especfficas" (Belk e Wallendorf, 1990). Eo que determina que o dinheiro possa ser consierado sagrado ou profano, e a sua origem eo uso que dele se faz. Numa cultura onde o trabalho e valorizado, o dinheiro obtido sem esfor~o e considerado como mau ( e sabemos que sempre houve crftca religiosa aos ganhos funestos do dinheiro), ao contrano, por exemplo, do dinheiro obtido atraves da realiza~ao de uma paixao ou de trabalho arduo. Por outro lado, em usos mais sagrados do dinheiro, tais como, por exemplo, dar prendas ou comprar lembran~as, ou fazer donativos para obras sociais ou de caridade, a sua quanti dade nao eo mais importante. Assim, o cm路acter do dinheiro deriva, em muito, do facto de reflectir o significado sagrado ou profano dos processos em

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que participa, sendo que, estes processos nao sao em si mesmos sagrados ou profanos, mas socialmente definidos como tal. See com Belke Wallendorf que a sociologia actual come9a, de facto, a constituir o dinheiro como objecto de analise, a obra de Simmel- A Filosofia do Dinheiro - ocupa urn lugar fmpar na reflec9ao sobre este tema. Esquecida e ignorada durante decadas, ela procura clarificar o enigma do valor das coisas, como e que o dinheiro se toma uma medida do valor, e como e que ele ao constituir-se em sfmbolo, em representa9ao, acaba por dominar as relac;oes pessoais e a sociedade no seu conjunto. Para Simmel ( 190011987), o dinheiro poe aos homens a questao do valor das coisas e das trocas entre eles. Mas para existir urn valor, e depois o dinheiro que 0 objectiva, e preciso que OS homens tenham a faculdade de introduzir distancia entre eles e as coisas. Ao introduzir essa distanciac;ao, o homem representa o mundo das coisas, mas como estas sao influenciadas pelo seu desejo, o sujeito introduz-lhe uma parte de si mesmo; ou seja, eo modo como as coisas sao representadas que lhes introduz urn valor. Deste modo, o mundo da realidade e o mundo do valor tern cada urn o seu proprio modo de existir, e o dinheiro surge no mundo dos valores porque facilita a passagem da realidade ao valor. Mas o valor econ6mico surge da troca, seja ela troca de coisas ou da for9a de trabalho e, aquila que para Simmel ( 1900/ 1987), caracteriza a troca econ6mica e que esta "representa sempre o sacriffcio de urn bern que poderia ter sido utilizado de outra maneira". Para Simmel, eo sac1ificio de determina o valor econ6mico,ja que o sactificio nao e s6 a condic;ao dos valores individuais, mas, no dominio do econ6mico, e a condi9ao absoluta do valor; "o valor econ6mico nunca e urn valor em si, mas uma certa quantidade de valor determinada pela troca entre sacrificio e ganho" (Simmel1900/1987). Assim, para Simmel, o valor eo resultado do sacriffcio, e e a dificuldade em obter uma coisa, ou seja, a importancia do sacriffcio que e preciso investir na troca, que e o momenta constitutivo do valor; a economia da troca e, em substancia, uma economia do sacriffcio.

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Mas qual e, entao, o papel do dinheiro? Para Simmel (1900/1987), o sentido do dinheiro e exprimir a rela9ao de valor que os objectos tern entre si, e "adquire enquanto meio de troca o valor que tern enquanto tal; ele nao tem valor se nao houver nada para trocar". 0 dinheiro e assim urn meio de expressao da rela9ao e da dependencia recfproca entre os homens, substitufndo-se as coisas, servindo a troca, prestando-se a medida e ao transporte; e a sua natureza material. Mas na sua natureza intelectual, ele vale por algo, associa-se a signos, permite o d.lculo. Como refere Moscovici (1988), para Simmel "o dinheiro assegura a preponderancia do sistema de representa9ao, portanto da conven9ao e do sfmbolo, sobre o conjunto dos objectos e das rela<_;:oes efectivas". Assim, o dinheiro, ao tornar-se sfmbolo puro, permite a abstrac9ao da qualidade do valor, tornando-o puramente quantitativa. 0 dinheiro torna-se num meio, num instrumento, que pode servir um grande numero de finalidades, ou como afirma Simmel( 1900/1987), "nao tendo rela9ao com urna fin alidade em particular, relaciona-se com todas as finalidades.

0 dinheiro e portanto, o instmmento como maximo valor que se pode conseguir". E e devido a este facto que ele se vai tornar objecto da cobi9a fianl e elevar-se a categoria de valor psicol6gico absoluto. Como refere Simmel ( 190011987), "o dinheiro representa o exemplo maior e mais pelfeito da promo9ao psicol6gica dos meios a condi9ao de fins", e esta "transmuta9ao de meios em fins, justificase pelo facto de que, em ultima instancia, os pr6prios fins sao somente meios". E nesta promo<_;:ao de um meio a dignidade de finalidade ultima que reside a magia do dinheiro e a sua autoridade sobre tudo o resto. Elevando-se a significa9ao de fim absoluto, a sua quanti dade e a unica coisa que interessa,ja que a sua qualidade reside exclusivamente na sua quantidade; o "quanto" cada urn possui passa a ter urn valor proprio.

5. A perspectiva psicologica Alguns trabalhos no campo da psicologia social tem-se interessado pel a forma9ao das atitudes face ao dinheiro, pelas variaveis (genero, idade, posi<_;:ao social, etc.) que com elas possam estru· relacionadas, assim como, com a identifica9ao

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dos significados associados ao dinheiro (Pauvers e Urbain, 1998). Neste campo, os ptincipais trabalhos empflicos foram realizados por Wernimont e Fitzpatrick (1972), Yamauchi e Templer (1982), Furnham (1984), Tang (1992) e Rubenstein (1980 e 1981 ).

0 primeiro trabalho empfrico que investigou o significado do dinheiro foi realizado por Wernimont e Fitzpatrick (1972). Partindo da hip6tese de que a reaq:ao das pessoas ao dinheiro e resultado das suas experiencias de vida, en tao, grupos de pessoas com "biografias" diferentes (is toe, experiencias de vida e de trabalho e nivel s6cio-econ6mico diferentes) de vern apresentar diferenc;as significativas nos valores e significados que atribuem ao dinheiro. Utilizando a tecnica do diferenciador semantico de Osgood, inquiriu 533 sujeitos representando 11 grupos profissionais distintos, tendo submetido as respostas dos inquiridos a uma analise factorial em componentes principais. Esta analise permitiu isolar cinco factores, a saber: o plimeiro factor foi designado de "fracasso vergonhoso", ja que o dinheiro e visto como algo de negativo, como fonte de embarac;o e de constrangimento, sendo simultaneamente urn indicador de fracasso do sujeito; o segundo factor foi designado por "aceitac;ao social", sendo o dinheiro vis to como positivo e constitufdo por caracteristicas socialmente desejaveis; o terceiro factor foi chamado de "atitude de desprezo", e parece indicar que o dinheiro e visto como pouco importante ou atractivo, sendo algo que e desdenhado; 0 quarto factor, designado de "moralmente funesto", traduz uma avaliac;ao negativa do dinheiro baseada em princfpios morais; o ultimo factor, apelidado de "seguranc;a confmtavel", tern urn significado positivo, evidenciando o lado pratico, econ6mico e materialista do dinheiro. Na populac;ao inquirida, os factores que traduzem uma imagem negativa do dinheiro ( primeiro, terceiro e quarto factores) estao associados aos estudantes universitarios e as freiras que trabalhavam em hospitais, e os factores que traduzem uma imagem positiva estao associ ados aos grupos profissionais constituidos por vendedores, gestores e engenheiros. Para estes autores, o dinheiro tem um grande valor simb6lico, representando coisas diferentes para grupos com caracteristicas s6cio-econ6micas diferentes, nao se podendo, pmtanto, fazer afirmac;oes gerais sobre o significado ou o papel do dinheiro para a populac;ao em geral.

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Outra pesquisa impmtante foi a realizada por Yamauchi e Templer (1982). Tendo por base a literatuta psicanalftica, construiram uma escalade "tipo Likett" para avaliar as atitudes face ao dinheiro, que foi administrada a 300 sujeitos adultos com profiss6es diferenciadas. Ap6s analise factorial em componentes plincipais foram retidos quatro factores: o primeiro, designado por "poder-prestfgio", aponta para o uso do dinheiro como meio para impressionar os outros e como sfmbolo de sucesso; o segundo, chamado de "tempo-reten<;ao", descreve os comportamentos dirigidos para o futuro, como, por exemplo, acautelar a seguran<;a econ6mica; o terceiro, chamado de "desconfian<;a"' refere-se amanifesta<;ao de atitudes hesitantes, desconfiadas e de duvida face a situa<;6es envolvendo dinheiro; finalmente, o factor "ansiedade", que caractetiza urn conjunto de atitudes face ao dinheiro que revelam inquieta<;ao, nervosismo e angustia. Estes quatro factores foramen tao correlacionados com o rendimento anual dos sujeitos para determinar a rela<;ao entre rendimento e atitudes face ao dinheiro, mas as rela<;6es encontradas foram pouco significativas. Igualmente impmtante foi a pesquisa realizada por Furnham ( 1984), que procm路ou desenvolver urn instrumento para avaliar as cren<;as e comportamentos face ao dinheiro, assim como, analisar a sua rela<;ao corn urn conjunto de variaveis dernograficas. A partir de urna escalade "tipo Likett" corn 60 items, administrada a 256 sujeitos corn caracteristicas s6cio-culturais diversificadas, a analise factorial ern componentes principais isolou seis factores: o primeiro factor, designado por "obsessao", revela um certo nurnero de atitudes e cren<;as que traduzem uma preocupa<;ao constante e umahipervaloriza<;ao do dinheiro; o segundo, chamado de "poder-gastar", referese ao dinheiro como meio de poder; o terceiro, chamado de "reten<;ao", ilustra a atitude das pessoas que sao muito cuidadosas no modo como usam o dinheiro; o quarto factor- "seguran<;a-conservadorismo", traduz uma abordagem antiquada do dinheiro, o quinto factor, designado por "inadequa<;ao", refer-se ao sentimento de que nunca se tern dinheiro sufuciente; finalmente, o ultimo factor- "esfor<;ocapacidade", refer-se ao modo como se obtem o dinheiro.

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Furnham analisou seguidamente, a rela9ao entre urn conjunto de variaveis demograficas (genera, idade, escolaridade, voto politico e rendimento) e os seis factores da sua escala sabre crens;as e comportamentos face ao dinheiro. Verificou que os homens tendem a ser mais obsessivos do que as mulheres, enquanto estas sao mais conservadoras e conscientes no uso do dinheiro. Quanta aidade, as pessoas jovens tendem a usar o dinheiro como instrumento de poder e sao me nos cuidadosas e conservadoras no uso do dinheiro, enquanto as pessoas mais velhas acreditam que a quantidade de dinheiro que uma pessoa tern efuns;ao do seu esfors;o e capacidade. 0 nfvel de escolaridade tambem revelou diferens;as significati vas, ja que as pessoas com urn nfvel de escolaridade mais baixo tendem a ser mais obcecadas e a usar o dinheiro como urn meio de poder sabre os outros. A variavel voto polftico revelou que os votantes "trabalhistas", mais do que os "liberais" ou "conservadores" ( trata-se dos tres partidos mais votados em Inglatena), usam o dinheiro como urn meio de poder sabre os outros. Finalmente, a variavel rendimento, revela que as pessoas com menor rendimento mostram-se mais obcecadas e tendem a usar o dinheiro como urn meio de poder sabre os outros. Assim, o estudo de Furnharn veio confirmar que as atitudes sabre o dinheiro nao sao de modo nenhum unidimensionais, e que elas sao moderadas por urn conjunto de vmiaveis demograficas que t:raduzem "biografias" e posicionamentos sociais diferentes. Dentro desta linha de pesquisa, tambem Tang (1992; 1993) desenvolveu uma escalade avalias;ao sabre o significado moral do dinheiro, tendo isolado seis factores: 0 ptimeiro, presenta a ideia de que 0 dinheiro ealga de "born"' irnportante, valioso e atractivo, is toe, traduz atitudes positivas face ao dinheiro; o segundo factor foi designado de "mau" e revela atitudes negativas face do dinheiro; o terceiro, chamado de "realizas;ao", traduz a ideia de que o dinheiro representa as realizas;oes que cada urn consegue na sociedade, ou seja, eurn sfrnbolo se sucesso; o quarto factor - "respeito-auto-estima", traduz a ideia de que o dinheiro pode ajudar as pessoas a exprimir as suas competencias e capacidades, eater auto-estima eo respeito dos outros; o quarto factor revela o modo como as pessoas "gerem" o seu dinheiro e, finalmente, 0 ultimo factor, chamado de "liberdade-poder", esta associado a ideia de que com dinheiro pode-se ter autonomia, liberdade, segurans;a, ser aquila que se dejesa e influenciar os outros.

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Tal como Furnham, Tang ( 1992) explorou tambern a relayao entre as variaveis demograficas e os factores da sua escala, tendo encontrado que as pessoas mais velhas, assim como as do sexo feminino, sao mais cuidadosas na gestao do dinheiro. Verificou igualmente que os sujeitos com rendimentos mais elevados tendem a pensar que o dinheiro e revelador da capacidade de realizayao de cada urn, e que os jovens estao mais orientados para verem o dinheiro como "mau". Segundo Tang ( 1993), "parece que as atitudes das pesoas face ao dinheiro podem ser classificadas em tres componentes: a componente afectiva - borne mau, a componente cognitiva - realizayao, respeito e liberdade/poder, e a componente comportamental - gestao". Tambem Rubenstein (1980; 1981) levou a cabo urn inquerito sobre o dinheiro junto dos leitores da revista Psychology Today, tendo obtido mais de 20.000 respostas oriundas de leitores dos EUA e do Canada. Combinando o resultado das respostas a diversas perguntas do questionario este autor identificou dois grupos, que designou de "preocupados como dinheiro" e de "satisfeitos como dinheiro". Diz Rubenstein (1980), "que poderfamos estar aespera que o grupo dos 'preocupados' inclufsse em grande parte os inquiridos mais pobres. Mas tal nao e verdade. 0 factor mais importante e a frustrayaO das aspiray6es materiais". Os "preocupados" querem coisas que nao podem ter, estao sempre com dfvidas e pouco economizam. Acreditam que os amigos tern mais dinheiro do que eles e acham que mereciam ter mais do que aquila que tern. Outro factor que caracteriza este grupo e a falta de auto-estima, o sentir-se insatisfeito com as amizades e urn fraco sentimento de realizayao pessoal, mostrando-se igualmente tristes como trabalho e a vida familiar. Para Rubenstein ( 1981 ), "o modo como as pessoas se sen tern face ao dinheiro depende do modo como se sentem sobre si pr6prios e sobre o resto da sua vida ... os que se sentem mais satisfeitos com a sua situayao financeira, nao sao necessariamente os que tem urn rendimento mais elevado". Os economistas veem geralmente o dinheiro como variavel independente, e os soci6logos classicos (Weber, Simmel e Marx) tendem tambem aver o dinheiro como causa da rnudanya social, embora os soci6logos contemporaneos ten ham tendencia a inverter a questao.

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represe nta~ao

social do dinheiro: algumas perspectivas te6ricas e cmpfricas

Perspectiva Estrutural Micro nfvcl 0 dinheiro como variavel inclependente

Simmel

0 dinhei ro como vari avcl depcnclente

W eber

Macro nfvel

Pe rspecti va Cultural Micro nfvel

路-Macro nfvel

Simmel

Marx

Zeli zer

Parsons

Simme l Marx

Weber

Fig. I - Qu adro de Referencia para uma Sociologia do Dinheiro (Baker e Jimerson, 1992).

Para Baker e Jimerson ( 1992) a analise dos "modelos de papeis e relac;oes e a primeira preocupac;ao da perspectiva est:rutural". A micro-nivel, esta abordagem refere-se ao dinheiro como objecto das relac;oes interpessoais (por exemplo, como comunicac;ao e troca) e, a macro-nfvel, envolve a analise do papel regulador dos contextos de troca, tais como, os mecanismos legais e politicos que governam o comercio e os mercados.

Emais nesta perspectiva que podemos situar Gidens (1990), para quem o dinheiro e hoje urn exemplo dos mecanismos de descontextualizac;ao associados a modernidade, cuja existencia depende da confianc;a. Ele e hoje "... uma garantia simb6lica, urn meio de intercambio, que passa ao lado das caracterfstica especfficas dos individuos e dos grupos que o utilizam". A perspectiva cultural"centra-se na classificac;oes cogn:itivas e na evocac;ao dos significados do dinheiro. A micro-nivel, inclui os valores, as atitudes e as crenc;as dos indi viduos que influencia o seu comportamento em relac;ao ao dinheiro; a macro-nivel, envolve grandes sistemas de crenc;as e significados, tais como os valores civis e religiosos da sociedade" (Baker Jimerson, 1992). Esta perspectica e geralmente estranha para os economistas, que rejeitam as interpretac;oes sociais, os significados e as especificidades culturais que os sujeitos imp5em ao dinheiro, A ideia principal e que a cultura detemina o que eo dinheiro, o que e usado como dinheiro e como dinheiro e usado, sendo do dinheiro frequentemente abordado como variavel dependente.

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Eno ambito desta segunda perspectiva que situamos a nossa pesquisa, sendo que, a teoria das representav6es sociais serviu-nos de referencial te6rico para perceber OS significados SOCiais de que 0 dinheiro e investido.

6. Analise empirica da representa<;ao social do dinheiro Tambem nos pr6prios (Costa, 1996) investigamos a representavao social do dinheiro, concebendo e operacionalizando esta como urn conjunto articulado de crenvas, atitudes, esquemas de acvao e emov6es relativas ao dinheiro. Utilizando uma escalade "tipo Liketi" com 59 items, inquirimos 173 sujeitos (estudantes do ensino superior), cujas respostas, ap6s analise factorial em componentes principais de 2a ordem, permitiram identificar quatro dimensoes sobre a representavao do dinheiro: a) 0 primeiro factor, designado por "atracvao-seguranva", descreve o dinheiro como sendo algo de importante na vida das pessoas,ja que permite viver e gozar a vida, sendo uma coisa segura e sedutora, e que suscita emov6es positivas; b) 0 segundo factor, "poder-gastar", associ a o dinheiro asua impmtancia social, ja que ele da ao seu possuidor respeito, prestfgio e poder, servindo para gas tare adquirir aquilo de que se gosta; c) 0 terceiro factor, designado por "rejeivao-oculta9ao", traduz o sentimento de rejei9ao face ao dinheiro, ja que ele e associado a revolta, tristeza e desprezo, sendo visto como origem dos males sociais (disc6rdia, corrup9ao, etc), e sentido como algo de muito pessoal, acreditando os individuos que nao e pelo esfor9o I trabalho que se consegue ter dinheiro; d) 0 ultimo factor, chamado de "esfor9o-poupar", associa o dinheiro ao trabalho e ao esfor9o pessoal, sendo, por is so, algo de deve ser poupado e gerido de modo prudente. A fim de avaliar o contexto social da representa9ao do dinheiro, utilizaram-se

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representa~; ao

social do dinheiro: algumas perspectivas te6ri cas e empfricas

indicadores referentes a inser~ao social objectiva (genero e classe social de origem) e as posi~oes sociais subjectivas (posicionamento politico, posicionamento religioso, priva~ao social e ambi~ao) dos sujeitos. No que se refere ao primeiro conjunto de indicadores, verificamos que a variavel genero influi na representa~ao, ja que os sujeitos do sexo feminino sao os que mais associam o dinheiro a dimensao poder, e os do sexo masculino os que mais acreditam que e atraves do esfor~o e do trabalho que se consegue dinheiro. E tam bern a classe social de origem que melhor explica as varia~oes da dimensao esquemas de ac~ao,ja que, enos indivfduos de estratos sociais mais baixos que esta mais presente a concep~ao de que o dinheiro serve para gastar e, inversamente, enos sujeitos oriundos de estratos sociais mais elevados que o dinheiro esta mais associado a uma estrategia de poupar e economizar. No que respeita ao conjunto de indicadores sobre as inser~oes sociais subjectivas, encontramos que sao os sujeitos que manifestam menor priva~ao (isto e, ondee menor a diferen~a entre o rendimento actual da farm1ia de origem eo que achariam necessaria para viver confortavelmente) que associam ao dinheiro emo~oes posit:ivas, e sao os individuos mais ambiciosos (os que necessitam de mais dinheiro para se considerarem ricos) que associam ao dinheiro emo~oes negativas; sao igualmente os indivfduos que se mostram mais ambiciosos que atribuem a origem do dinheiro ao esfor~o I trabalho, e sao os indivfduos que se consideram mais religiosos que tendem aver o dinheiro como algo de pouco positi vo e importante.

7. Conclusoes As pesquisas realizadas permitem identificar urn conjunto de dimensoes que dao conta dos significados associados ao dinheiro, e que poderfamos sintetizar do seguinte modo: - 0 dinheiro, ora e vis to como algo de negativo, de "mau", que e desvalorizado, suscitando sentimentos de pudor e rejei~ao, ora e encarado como algo de positivo, valioso e sedutor, que permite viver melhor e ajudar a realiza~ao pessoal;

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-A ideia de poder encontra-se fortemente associada ao dinheiro, ja que este e encarado como urn meio de influenciar os outros, como sfmbolo de sucesso, permitindo transformar desejos em realidades; - Quanta aorigem do dinheiro, este tanto e vista como resultado do esforc;o, do trabalho, da capacidade e da ambic;ao, ou como resultante da avareza, da desonestidade ou da sorte; -Sabre os comportamentos como dinheiro, isto e, o modo como os indivfduos lidam com ele, trata-se fundamentalmente de dois padr6es de acc;ao, opondo poupar a gastar; - No que respeita ao modo como o dinheiro e vivido pelos sujeitos, sao identificadas duas caractedsticas centrais: por urn Iado, ele evis to como algo de secreta, que deve ser ocultado dos outros e de que einc6modo falar; por outro, ele e algo que e fonte de preocupac;ao, que e(hiper)valmizado, podendo tornar-se numa obsessao, ja que nunc a esuficiente; - Finalmente, ele suscita emoc;6es, tanto ''positivas (alegria, felicidade, etc.), como "negativas" (angustia, raiva, nervosismo, etc). A revisao dos estudos empfricos realizados no campo da psicologia social permite-nos igualmente identificar urn conjunto de variaveis que modulam os significados atribufdos ao dinheiro, tais como, o genera (masculino I feminino ), o nfvel educacional, a classe social, o rendimento familiar, o posicionamento politico eo posicionamento religioso. Em suma, o dinheiro e algo que encerra em si mesmo algo de contradit6rio (e algo de positivo/bom e de negativo/mau), que suscita sentimentos antag6nicos (alegria versus angustia/raiva), que se consegue por meios lfcitos ou ilfcitos (esforc;o/ trabalho versus desonestidade), que esentido como algo de pessoal e secreta (quase tabu), e que suscita comportamentos antag6nicos (poupar versus gastar). Mas apesar da importancia que lhe e atribufda e de a sua presenc;a ser uma constante na vida econ6mica e social, as investigac;oes sabre o dinheiro sao

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A representa<;iio social do d inhe iro: algumas perspecti vas tc6ricas e empfric.as

ainda pouco frequentes, apesar dos estudos de tipo explorat6rio ultimamente desenvolvidos.

Enecessaria realizar mais estudos e pesquisas, de modo a percebermos melhor como e que as atitudes e as representas;oes do dinheiro determinam os comportamentos, seja na nossa vida quotidiana (comportamentos filantr6picos, jogos de fortuna e azar, etc), seja em dominios mais especfficos como, por exemplo, os comportamentos frnanceiros (poupans;a, investimento, endividamento, etc.) ou os comportamentos de consumo (atitude face ao pres;o, escolha de produtos, etc). Mas os desenvolvimentos recentes da literatura te6rica e empirica levam-nos a crer que o dinheiro deixara de ser o grande esquecido das ciencias sociais,ja que, progressivamente, tern vindo a merecer a atens;ao, tanto da economia, como da psicologia e da sociologia.

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A rcpresenta9ao social do dinheiro: algumas perspectivas te6ricas e empfricas

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A analise do risco eo euro: que futuro em Portugal?

por Pedro Frouco Marques Licenciado em Gestao de Empresas (ISEG) Mestre em Gestao (Universidade Lusfada) Docente no lnstituto Politecnico Aut6nomo (JPA) Gestor e liquidatario judicial

Resnmo:

• 0 desafio da moeda unica implica mudan.;:as, a maioria das quais de curto prazo, nomeadamente no dominio financeiro, mas com repercuss6es positivas a medio e Iongo prazo. • lntegrados em mercados financeiros globais, os agentes econ6micos poderao intervir em balsas europeias com mai or potencial de cliversifica.;:ao, sem risco cambial e acedendo facilmente a produtos de outros Estados-Membros da Uniao Europeia. • Portugal, com a entrada na mocda unica, perde dois importantes instrumentos de interven.;:ao econ6mica - o monetario e o cambial - nomeadamente no combate aos defices ou cheques assi metricos. • Nao poclendo emitir mais moeda para financiar o defice or.;:amental, este passa a ficar dependente cia maior capacidade do Estado-Membro ser eficiente na cobran<;:a de impostos (pelo aumento das receitas fiscais) ou redU<;ao das despesas publicas, ou ainda de se poder endividar perante o recurso a dfvicla pl1blica. • Serao as empresas e menos o Estado a fazerem os mercaclos. Contuclo, a diminui<;:iio de premios de risco (nos mercados de capitais e cambiais) vai tender a uma maior liberta<;:ao de recursos para o in vestimento, co ntribuindo para o aumento da confi an.;:a nos agentes econ6micos. • A presta<;:ao do Euro num maior desenvolv imento econ6mico incen tivan\ a prazo um aumento do volume e qualidade do credito bancario, mais barato e especializado, fomentando seguran~a aos investidores atraves de adequada utiliza<;:iio de instrumentos de cobertura de risco.


A analise do risco e o euro: que fu turo em Portugal?

1. Introdm;ao Tudo na vida, esta sujeito a movimentos oscilat6rios de ascensao e queda, de oportunidades e derrotas, de perdas e de ganhos. Empresas, bancos, institui<_;6es, enfim agentes econ6micos agregados em qualquer actividade econ6mica vao continuar a lutar por maiores ganhos, mas poderao no entanto nao "sofrer" quaisquer perdas. Com a moeda unica e a maior profundidade e liquidez dos mercados dos EstadosMembros passou a haver maior divulga<_;ao dos instrumentos financeiros, derivados, de cobertura de risco ou investimento financeiro. Eque para alem de operw;:oes de hedging, estes produtos financeiros colocam-se lado a lado com produtos mobiliarios, quer para opera<;6es de maior arbitragem e/ou especula<;ao, quer mesmo em termos de obten<;ao de financiamento. E os diferentes agentes ou investidores que nao conseguem garantir resultados mais positivos, tern contudo a oportunidade, controlando os seus custos e "cobrindo" os seus riscos, de poder limitar ou anular aspectos mais negativos. Ora, o desafio da moeda unica implica mudan<_;as, a maioria das quais de curta prazo, nomeadamente no dorninio financeiro, mas com repercuss6es positivas a medio e longo prazo. Contudo a curto prazo, os diversos investidores e agentes econ6micos sentem o "peso" da mudan<_;a. Medos e receios, agravados com a falta de informa<_;ao e esclarecimentos, bern como de forma<;ao adequada nomeadamente por parte das entidades responsaveis, agravam nos tempos mais pr6ximos a percep<;ao legitima e adequada de como o risco, nomeadamente financeiro pode ser reduzido ou mesmo eliminado.

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0 objectivo deste texto nao e a divulgayao da forma como se gere o risco mas sobretudo a possibilidade do mesmo ser ultrapassado, pela sua reduyao ou mesmo eliminayao, garantindo-se a protecyao e seguran9a necessarios an路aves dos adequados insn路umentos de cobertura financeira, nomeadamente ao nivel dos produtos delivados, em Portugal. Eliminado ou reduzido o risco, os diversos intervenientes econ6micos poderiam nao s6 canter as perdas mas fundamentalmente consolidar maiores ganhos, garantindo maiores rendibilidades acusta de menor risco e maior liquidez dentro da UEM, se necessaria "aniscando" investimentos mais pe1igosos mas tambem mais atractivos do ponto de vista financeiro em mercados "out", nomeadamente em Zonas Emergentes, para "apetites mais gulosos" e apetentes ao risco. Atraves de urn inque1ito nacional efectuado a diferentes categmias econ6micas, verificou-se urn fraco conhecimento nacional destes produtos financeiros, quer para a cobertura de risco, quer para a obten9ao de maio res ganhos e sobretudo que os diferentes agentes econ6micos e investidores s6 poderao compreender estes assuntos quando estiverem completamente esclarecidos, recebendo adequada forma9ao e informa9ao das institui96es responsaveis pela divulga9ao, das implica96es preconizadas pela entrada em circula9ao do Euro em Portugal. 0 trabalho realizado pretendeu ainda demonstrar que nos seus mais diversos aspectos econ6micos, socais, polfticos e or9amentais e economias mais convergentes implicam menores incertezas, pois gerarao maiores investimentos pela redu9ao ou elimina9ao de custos e riscos. Integrados em mercados financeiros globais, os agentes econ6micos poderao intervir em balsas europeias com maior potencial dedi versifica9ao, sem risco cambial acedendo facilmente a ac96es, obriga96es, fundos de investimento e produtos derivados de outros Estados-Membros aderentes, ou do proprio Estado Nacional. Poder-se-ao constituir em "utilities", alargando cada vez mais o conceito de actividades econ6micas de menor risco, maior liquidez e maior capitaliza9ao bolsista no contexto da UEM. S6 assim agentes econ6micos e investidores nacionais poderao falar em novos ganhos com abrangentes iniciativas de menor lisco e maior liquidez, fomentando maiores rendibilidades e demonsn路ando que e

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A analise do risco e o euro: que futuro em Portugal?

possivel a Portugal conquistar urn lugar "sem sombra" no contexto europeu, porque o sol da UEM "queima" mas nao mais pode deixar de brilhar. Quem projecta urn determinado investimento ou aplica simplesmente os seus capitais, fa-lo sempre no intuito de ganhar algo mais, ou seja de obter mais valias deconente dessa aplica9ao. Hoje em dia, poderemos enquadrar a atitude das pessoas face ao risco do seguinte modo:

• 0 Prudente ou Avesso ao Risco- cmTesponde ao investidor que em termos financeiros prefere urn men or rendimento com maior certeza, a urn maior rendimento com menor hip6tese de ocorrencia. Ou seja, pondera o risco que vai COlTer s6 aceitando mais risco sea rendibilidade que dai possa advir seja compensat6ria.

• 0 lndiferente - assume o perfil de quem nao procura prever os riscos que cone, ou entao pondera os riscos, mas e neutro em rela9ao aos mesmos. Neste caso o premio de risco assume-se como nulo.

• 0 Jogador - traduz o tipo de investidor, perfeitamente enquadrado com o risco que pretende cmTer. Gosta de assumir riscos, sentindo-se bern nessa situa<;ao, talvez mesmo atra{do amedida que o risco vai aumentando. Perante este tipo de perfis, o que importa analisar e a necessidade de perante urn determinado investimento se procurar fazer face "ex- ante" a uma situa9ao que possa preconizar urn desvio, com maiores ou menores perdas em rela<;ao aos dados, previamente delineados. 0 risco nao pode ser assumido perante uma situa<;ao de certeza, no sentido de que cada decisao corresponde sempre ao inicialmente previsto, gerando sempre o mesmo (born) resultado. Daf, a necessidade imperiosa de cobertura do risco, a fim de garantir a seguran9a minima, em rela<;ao apolitica de investimentos definida a"prioli" de forma a concretizar em resultados os objectivos inicialmente formulados. No tipo de investimento efectuado pelo investidor, a nossa abordagem centra-

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se sobretudo ao nivel do investimento financeiro, contrapondo-o em relac;ao ao investimento nao financeiro ("Capital Investments"). Excluem-se de certa fmma os meios produtivos necessarios para produzir bens e servic;os que serao vendidos posteri01mente no mercado . A analise, que aqui fazemos, e a do Risco, entendido como algo mais previsivel num ambiente futuro desconhecido mas em que se podem atribuir probabilidades e garantir a sua cobertura. Esta cobertura procura relevar decisoes ou tomadas de posic;ao de curta, medio ou longo prazo, associadas a este risco (financial risk) e ocasionadas por variav5es na taxa de juro, nas moedas dos diferentes paises (divisas), ou no valor de outros activos mobiliarios, em funvao das disponibilidades dos mercados financeiros e dos seus respectivos produtos. 0 risco assume-se assim como previsivel e podera ser coberto porum seguro ou por qualquer instrumento disponivel de cobertura de risco financeiro. 0 estudo que esta na base deste texto incidira nos investimentos em carteiras de tftulos analisando o risco e a cobertura desse mesmo risco, com as alterac;oes financeiras inerentes acirculavao da nova moeda (EURO) em Portugal. Procurar-se-a, ainda que de forma sucinta, verificar eventuais diferenc;as preconizadas pelo euro nos produtos, nos prec;os, competitividade, etc. em torno do risco ligado ao ramo de actividade (business risk).

Euma realidade que desde 1 de Janeiro de 1999 Portugal iniciou uma viragem hist6rica ao assumir, como sua, a mesma moeda (Euro) que circulara nos restantes pafses europeus aderentes. A substituic;ao de uma moeda nacional por outra de cariz comunitmio evidenciara em Portugal gran des modificac;oes nas politicas monetaria e cambial e mesmo alterac;oes nas polfticas econ6micas e/ou orc;amentais. Os prec;os, as taxas de juro, os debitos das financ;as publicas poderao eventualmente baixar. Mas sera que todo este conjunto de situac;oes agregara mais investimentos, desenvolvimento, emprego e crescimento econ6mico, numa moeda que se pretende forte a nfvel internacional? --·--····---·- - - - - - - - - - - - - - - - - - -

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A analise do risco e o euro: que futuro em Portugal?

Provavelmente Portugal podeni ser parte de uma zona monetaria optima em que trabalho e capital sejam factores produtivos flexfveis gerando maior competitividade e conconencia face ao exterior. Mas sera que os cidadaos e empresas nacionais estarao devidamente preparados para a mudan<;_:a? E aceitarao de born grado as reformas estruturais ao nfvel da educa<;_:ao, saude, seguran<;_:a social e servi<;_:os juridicos, necessarias a saude publica do Euro? E em rela<;_:ao aos investidores, sera que altera<;_:6es verificadas como euro a nfvel financeiro nomeadamente no mercado de capitais implicarao maior liquidez e profundidade, nao induzindo qualquer risco? E se esse tisco existir, sera que os instrumentos de cobertura de risco tradicionais ou outros mais inovadores, poderao anula-lo ou reduzi-lo? 0 tema em si procura sobretudo dar respostas as questoes atras apresentadas, atendendo ao risco que lhe esta associado (sobretudo ao nfvel financeiro) e contrapondo instrumentos para garantir a sua cobertura e seguran<;_:a.

2. Os investirnentos financeiros ern fum;ao do risco Ao se ter em conta urn investimento, assume-se para alem da rendibilidade intrfnseca a minimiza<;_:ao do risco com a maior liquidez possfvel. Para esse efeito dever-se-a obter um conjunto de informa<;_:ao disponfvel que permita nomeadamente avaliar o risco e a profundidade do mercado em que decidimos investir. Dos modelos referidos, o das carteiras eficientes permite para investimentos de activos com riscos diferentes reduzir global mente o risco atraves do efeito da diversifica<;_:ao, fomentando a constitui<;ao de carteiras de risco limitado. No modelo de avalia<;_:ao de activos financeiros, come sem risco, o investidor aumenta a utilidade das suas escolhas repartindo as suas aplica<;_:6es financeiras em cmteiras de investimentos come sem risco em fun<;_:ao daquilo que ele proprio assume perante os riscos. Cada investidor constitui a sua propria cmteira situandoa na recta ( dita de mercado) , que liga a taxa das aplica<;_:6es sem tisco a carteira

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optima, de mercado. A inclinac;ao da recta ira determinar o prec;o do risco no mercado. Finalmente com o CAPM para alem do risco espedfico (medido por T nao remuneravel, por ser eliminado pel a di versificac;ao), surge-nos urn out:ro riscoo sistematico (medido pelo coeficiente B) . Este 1isco fomenta a rendibilidade de urn investimento com a carteira de mercado igual ataxa sem risco, acrescido do respectivo premia de risco. Este modelo permite detenninar o Beta, detenninando a taxa de rendibilidade exigida de urn investimento.

3. Os instrumentos de cobertura do risco financeiro Dada a existencia do risco conforme constatado no Capitulo II, visa-se aqui sobretudo a sua anulac;ao ou reduc;ao atraves da adequada cobettura financeira. Pela utilizac;ao dos adequados instrumentos de cobertura, procura-se controlar o risco dos mercados em que a empresa labora - abastecedor, cambial e monetario. Destes mercados, o nosso estudo incidiu sobremaneira no risco das divisas e das taxas de juro, em mercados avista/prazo e mercados organizados/

OTC. Os instrumentos da cobertura de risco a prazo, analisados, foram os seguintes : 1. Contratos Forward 2. Contratos FRA's 3. Swaps 4. Opc;oes 5. Futuros 6. Caps, Floors e Collars 7. Repos

Os contratos Forwards e FRA visam a cobertura de activos em prazos de curto prazo. No caso dos contratos forward visa-sea cobe1tura de valmizac;oes/ desvalorizac;oes de divisas e no caso dos FRA de taxas dejuro. - · - - -- -·------- -- - - - - - · - - Lu sfada . Economia & Empresa, II serie , n. 2/3 (200 3)

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Os Swaps (de divisas, taxas de juros ou ambas) agregam a cobertura de riscos de taxas de juros e de divisas a media e longo prazos, podendo haver combina~ao/interac~ao de taxas fixas/vmiaveis no sentido de assegurar custos de financiamento menos elevados . Nas Op-;oes existe o direito mas nao a obriga~ao de ser cumprido o contrato. 0 pre~o de exerdcio e fixo, o premia e que varia. Poder-se-ao obter ganhos elevadfssimos. As perdas ficam no maximo limitadas ao valor do contrato caso este sej a exercido . Existem op~oes de compra (Call) e de venda (Put), criadas inclusive para especular, para abranger um plano de investimento, para cobrir respectivamente posi~oes curtas ou longas e fixar pre~os maximos de compra ou venda de activos. Os Futums surgem em mercados organizados, afiguram-se negociaveis com pre~os e locais pre-definidos nao tern a figura do premia (como as op~oes) e raramente sao liquidados no final do perfodo de vencimento. Tal situa~ao de fecho antecipado (s6 normalmente 2% dos contratos chegam ao tim porque fecham posi~ao antes), leva normalmente a uma reversao ou modifica~ao da posi~ao inicial do investidor. A novidade deste instrumento financeiro e a existencia de Camaras de Compensa~ao (Clearing Houses), que asseguram o born funcionamento deste instmmento anulat1do o 1isco de credito da contraparte pela contabiliza~ao diaria de ganhos e perdas e actualizayao diaria dos preyos dos contratos. A garantia de liquidez e cobertura e dada pelo investidor atraves do pagamento de uma mm路gem inicial (1 0 a 15%) refor~ada naturalmente por montantes adicionais (de 60 a 85% da margem inicial) sempre que o valor do futuro cai abaixo desta margem (reforyo da margem de manuten~ao ). Os Especuladores, Arbitragistas e Hedgers actuam neste mercado com diferentes objectivos, procurando tirar partido ou simplesmente cobtindo o risco (intervindo no mercado SPOT), ao efectuarem contratos de futuros sabre mercadorias, fontes de energia, metais e inst1Umentos financeiros (sabre tftulos, divisas, Indices

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e taxas de juro). Nos futuros, para especular, pode-se ganhar com as quebras assegurando maior alavancagem financeira. NaB VLP, existem contratos sobre Indices de Cotac;oes (PSI20), sobre acc;oes (Portugal Telecom e Electricidade de Portugal) e sobre taxas de juro (de curto prazo- Lisbor a 3 meses ou de medio/longo prazo - OTlO), nao estando prevista a existencia de futuros de divisas. Os contratos de futuros sao urn instrumento poderoso de minimizac;ao do risco (limitando perdas mas tambem limitando ganhos) ou de estrategias de investimento. Neste ultimo caso, poder-se-ao comprar ou vender futuros visando a especulac;ao (se necessaria recorrendo a aplicac;oes de capital em titulos de rendimento fixo - sem risco), assegurando-se respectivamente a protecc;ao de posic;oes curtas ou longas e a fixac;ao do prec;o de compralvenda em func;ao de prec;os maximos/ mfnimos de urn detenninado bern. Os Caps, Floors e Collars poderao ser equiparados as opc;oes sabre taxas de juro, assegurando taxas maximas de financiamento (Caps), ourninimas (Floors) ou combinac;oes entre ambas (Collars). Os Repos funcionam como instrumentos de cobertura de risco de acordo bilateral, em que existe a possibilidade do vendedor de tftulos assumir posteriormente a sua recompra, assegurando os men ores custos de financiamento (via short-selling ou operac;oes de arbitragem). Atenda-se no entanto a maior importancia destes instrumentos quer como cobertura de risco, quer como investimento, arbitragem e/ou especulac;ao, nos pr6ximos capitulos em func;ao de alterac;oes a implementar com a circulac;ao da nova moeda comunitaria, em Portugal.

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4. 0 euro Tendo em linha de conta os modelos te6ricos que integram a globalidade dos investimentos nas empresas em fun9ao do risco financeiro e respectivos instmmentos de cobettura, e fundamental que seja analizado o contexto da moeda unica, pondo a nu as suas feridas, os seus riscos e os consequentes medos e receios que gera, mas tambem evidenciando as grandes oportunidades ctiadas a partir dos desafios que o Euro ira preconizar. Sendo a entrada de Portugal na moeda unica uma realidade factual, ultrapassadas com sucesso as barreiras limitativas dos criterios nominais de convergencia, o nosso pais perde no entanto dois importantes instrumentos de interven9ao econ6mica na sociedade- o monetario eo cambial - nomeadamente no combate aos defices ou aos choques assimetticos. Deixa assim de ser possfvel fomentar ou reduzir crescimento econ6mico, investimento, combate ao desemprego, infla9ao e altera96es no valor da moeda exclusivamente att路aves de mexidas nas taxas de juros e de secagem ou inunda9ao da Iiquidez pela menor ou maior oferta de moeda no mercado a partir do Banco de Portugal, via MMI ou MIT. Pela desvaloriza9ao da moeda, perde-se a oportunidade de pela via cambial embaratecer os produtos de exporta9ao e assegurar a consequente competitividade nacional. A polftica monetaria visando a estabilidade eo controle dos pre9os au路aves de instlumentos intermedios definidos, bern como a Polftica Cambial (com sentido apenas na cota9ao do Euro face as restantes moedas nao "In") passam exclusivamente para as maos do BCE, cabendo ao BP, apenas urn lugar no grupo dos SEBC. Tal atitude assume-se como necessaria, de urn ponto de vista global, tendo em conta a necessaria convergencia ao nfvel europeu de varios indicadores econ6micos, nomeadamente ao nfvel das taxas de juro que tenderao progressivamente a baixar. Consequentemente os bancos, principais perdedores neste processo monetario, verao reduzidas as comissoes cambiais em rela9ao as moedas dos pafses aderentes, for9ando o embaratecer o credito e reduzindo a cobertura de risco ao nfvel de

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instmmentos de divisas como sejam os contratos Fotward ou os Swaps. A limita~ao cambial, favorecera a redu~ao de especula~6es e arbitragens e consequentemente a redu~ao de ganhos financeiros. As tax as de juro limitarao ainda as emiss6es competitivas a nivel europeu dos mercados prim<hios de emissao. Para alem dos bancos, as empresas e os cidadaos terao que se adaptar ao novo "Euro". Cursos de fonna~ao e mudan~as ao nfvel contabilfstico, informatica e de tesouraria poderao gerar alguma resistencia ao risco e a mudan~a, mas terao de ser empreendidos para veneer desafios. No fundo, o poder nacional ficara limitado a Polftica Or~amental (dependente do PEC) e a polfticas (dependentes do ECOFIN) de fndole diversa, como sejam as de rendimentos, de pre<_;:os, do emprego e as politicas social e fiscal. Nao podendo emitir mais moeda para financiar o defice or~amental, este pass a a ficar dependente da maior capacidade do Estado-Membro ser eficiente na cobran<_;:a de impostos (pelo aumento das receitas fiscais) ou redu<_;:ao das despesas publicas, ou ainda de se poder endividar perante o recurso a dfvida publica. Os governos passam a ceder urn papel mais activo as empresas que procuram gerir os destinos econ6micos do pafs. Tal desafio ohriga estas a suportar maiores custos nacionais, de curto prazo e microecon6micos. Mas como urn dia Antonio Guterres afirmou: "0 Euro e urn t:revo amargo e doce que se tern de trincar". Urn desafio que tera que ser superado ja que, como em tudo na vida, nao ha rosa sem espinhos. Existem de facto oportunidades e beneffcios como consequencia directa da adesao a moeda unica. Empresas e estado beneficiarao de baixas taxas de juro, nao s6 ao nfvel de credito barato, mas sobretudo nas emiss6es de curto prazo, de menor risco, nos leil6es ou nas emiss6es de papel comercial. Sob o ponto de vista sectorial, a constru<_;:ao civile o turismo poderao usufruir de importantes vantagens. Com a elimina<_;:ao do risco cambial, reduzem-se os custos de conversao e de transac<_;:6es entreosEM.

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Reduzida a incerteza junto dos a gentes econ6micos, estarao criadas condic;oes para a fusao, ctiac;ao ou modernizac;ao de empresas, para o aumento da dimensao das empresas, e consequente estabelecimento de acordos com empresas de outros pafses visando o crescimento econ6mico, o aumento de investimento e da produtividade, reduzindo a inflac;ao, incentivando a poupanc;a e os acrescimos salariais, sobretudo atraves da desburocratizac;ao e flexibilizac;ao institucionais au路aves de adequadas reformas estruturais, que e urgente concretizar. 0 facto de nao ser possfvel recorrer a desvalorizac;ao da moeda e aos correspondentes chapeus ou b6ias de salvac;ao cambial permite-nos, no entanto, andar achuva ou nadar livremente sob o clima tipico da UEM. A competitividade nacional podera ser salvaguardada atraves de politic as de baixos prec;os, que tornarao os produtos mais transparentes, menos onerosos mas de qualidade superior, beneficiando sobretudo o consumidor, reduzindo o custo de vida, aumentando o poder de compra e a melhoria do nfvel de vida e do emprego. Durante o anode 1998, os pafses nao aderentes ao Euro (pre-in) sofreram graves desvalorizac;oes cambiais, face aos pafses in , mas no entanto melhores do que os pafses out (ou restantes mundiais). Com excepc;ao do Reina Unido que ate valorizou a libra devido aposic;ao de charneira econ6mica na Europa, a Grecia desvalorizou a sua moeda face aos restantes EM, a Dinamarca ou a Suecia sofreram "graves" revezes cambiais face avizinha Finlandia. Sera possivel que este pafses continuem a permanecer fora da UEM por muito tempo? Equal sera a atitude mais adequada a tamar no que respeita a paises de 'poupanc;a', como a Suic;a, com posic;ao charneira claramente evidente no contexto internacional? A prazo estas respostas serao encontradas. No entanto, tenden'i a haver maior procura de activos em Euro, incrementando os mercados financeiros, sobretudo a nfvel bolsista nas aplicac;oes de rendimento variavel e de maior risco em deu路imento das aplicac;5es de rendimento fixo, devido areduc;ao das taxas de juro. Os mais avessos ao risco, poderao recorrer a aplicac;oes mistas de rendimento e risco reduzidos mas de maior seguranc;a finance ira. Todos os instrumentos de cobertura de risco para activos financeiros fora da Europa se manterao inalterados.

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Contudo, dentro da Europa poderao surgir novos produtos financeiros, ganhando peso instrumentos de cobertura como sejam as Op96es, os Futures e os Repos. Em termos de lisco, o sistematico tendera a ganhar maior preponderancia dado as pequenas diferen9as de rating, 1isco e credito, que tornam o risco diversificavel mais quotidiano e comurn no contexte financeiro actual. Mantendo-se o prindpio da continuidade dos contratos no contexte da nao obliga9ao/nao proibi9ao nomeadamente no perfodo pre-arranque do Euro, Portugal tera uma palavra a dizer como EM no alargamento da Europa ao Leste ou para urn conjunto de decisoes econ6micas e polfticas em rela9ao a acontecimentos de fndole mundial. A medio/longo prazo existirao claros beneffcios internacionais, sobretudo macroecon6micos que tenderao a favorecer, a prazo, o desenvolvimento econ6rnico de Portugal. Porem enecessaria estar atento e ser perspicaz nao s6 ao nfvel da redistribui9ao dos fundos comurritffiios europeus para o nosso pafs, mas sobretudo analisar cuidadosamente as despesas do or9amento comunitario, bern como o seu financiamento. Sendo detentor, co-proprietario e co-fundador de uma das moedas mais fortes a nfvel mundial ao lado do d6lar, Portugal devera aproveitar as vantagens do processo de "aldeia global" em que se posiciona, nao s6 ao nfvel de investimento mas tambem do comercio e da coloca9ao dos produtos em novos mercados, atraves de novos processes de integra9ao econ6rnica e financeira. Flexibilizando maiores movimentos de mao-de-obra, capital, salaries e pre9os, Portugal de vera criar mais investimento, crescimento econ6mico e emprego, concretizando a convergencia real dos critetios e forman do a nfvel europeu uma plena uniao como Zona Monetana Optima. Para tal devera utilizar urn regime de cambios fixos com uma unica polftica monetaria e cambial do BCE (Uniao Polftica?), de forma a estimular uma plena liberdade de capitais, visando a maxirniza9ao de oporturridades e a consequente rninirniza9ao de riscos.

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5. Os mercados financeiros no contexto do euro 0 verdadeiro sucesso da UEM depende em ultima instancia de dois importantes conceitos. Por urn lado, o rigor das contas publicas, associado a redu<;oes do de:fice or<;amental e sua cobertura atraves de menores endividamentos publicos. Por outro lado, a consequente convergencia cambial e monet<iria nao s6 ao nivel dos pafses aderentes, mas sobretudo atraves dos "pre-in" evitando as tenta<;oes de desvaloriza<;ao da moeda atraves de uma integra<;ao plena no MTC II. Este segundo aspecto favoreceni, atraves de menores taxas de juro e de infla<;ao, uma maior dinamiza<;ao do mercado de capitais, fortalecendo investimento com redu<;ao de custos de :financiamento e maior crescimento econ6mico com maior competitividade, para os diversos intervenientes no mercado: emitentes, investidores e intermedianos financeiros apelando aatractividade do mercado e dos titulos nacionais. 0 mercado de capitais propiciani maiores ganhos e permitini aos hedgers e investidores melhores financiamentos em detrimento dos bancos que tenderao a perder areas de neg6cio, especialmente em materia de receitas no domfnio cambial com custos associados e acrescidos de transac<;ao, forma<;ao e adapta<;ao (contabilfsticos, informaticos e de tesouraria). Pela descida das taxas de juro e concmrencia entre institui<;oes financeiras , os bancos perderao areas de neg6cio nas mesmas propor<;oes em que o Estado e Empresas garantirao maiores ganhos (ou pelo menos menores perdas) em termos de custos de financiamento. A redu<;ao das taxas de juro sera visfvel nas dfvidas de curto prazo de menor risco, como sejam as emissoes deBT por parte do Estado e das emissoes de papel comercial e leiloes por parte das melhores empresas. Os bancos verao limitadas as suas oportunidades de aplica<;ao de fundos. A convergencia em termos de mercado primatio e secundario em uma ou duas pra<;as europeias (atraves de fusao, acordos ou concentra<;ao entre estas ), tendera a atrair os investidores para estes p6los financeiros e para os tftulos transaccionados em bolsas globais, fomentando a prazo a cria<;ao de uma super

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bolsa europeia, em detrimento dos mercados regionais e de menor dimensao, eficiencia e liquidez. Os pr6prios mercados, sobretudo os domesticos e regionais produzirao uma oferta de fndices "benchmark" de emissao eventualmente a par de um possfvel fndice super europeu que favorece a qualidade, liquidez e tipo de produtos derivados. Com uma maior diversificac;ao das carteiras, o mercado obrigacionista eo de dfvida publica em geral, bem como o das acc;oes eo dos fundos de investimento, tenden'i a ser mais lfquido. As obrigac;oes e tftulos de participac;ao estao ja redenominados nao em unidades monet<irias mas em percentagem do valor nominal inerente ao capital das empresas, enquanto se estuda a hip6tese de implementar um sistema identico para as acc;oes (acc;oes NPV), apesar da redenominac;ao destas exigir acrescimos ou diminuic;oes inerentes ao respectivo capital social. No mercado de emissao, as yields portuguesas tenderao a apresentar diferenciais mfnimos, pr6ximos de zero mas existentes, derivados de eventuais diferenc;as de rating emitente (em tetmos de risco de credito-empresa e risco de credito-pafs) gerando menor risco e maior liquidez, favorecendo inclusive aumentos de rendibilidade (pela consolidac;ao das obrigac;oes e eliminac;ao do risco cambial, face amaior con vergencia das economias). Apesar da eliminac;ao do risco cambial, quer no mercado de balcao quer no mercado organizado, os produtos de cobertura de risco agora redenominados em Euro, poderao beneficiar sobretudo do enquadramento de urn mercado europeu mais alm路gado. Este mercado procurara concentrar-se em bolsas de maior dimensao, onde os intermediarios financeiros e investidores procurarao garantir maiores di videndos especialmente a custa de menores custos de transac;ao, melhores financiamentos e melhor opc;ao de escolha para aquisic;ao de produtos financeiros das melhores empresas blue chips da Europa que ali estarao cotadas. A maior concorrencia bancaria, especial mente estrangeira, associada a menores

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taxas de juro favoreceni melhores taxas de financiamento para empresas e para o Estado na propor<;ao equivalente aredu<;ao verificada nas margens financeiras dos bancos em Portugal, aumentando nestes o risco das suas carteiras de credito. Estes, deverao especialmente "proteger-se" em certos nichos de mercado de menor dimensao, mais segmentados em actividades mais especializadas de menor liquidez, maior risco e men or informa<;ao sobretudo em certos espa<;os geogn1ficos (domesticos) com tradi<;ao hist6rica de relacionamento e aconselhamento ao publico e PME. Os bancos, principais perdedores do processo UEM, nao s6 ao nivel do aumento de custos mas tambem da diminui<;ao das receitas em opera<;oes e comissoes cambiais, deverao apostar na inova<;ao de produtos financeiros a oferecer e de servi<;os a prestar fomentando qualidade de servi<;o, melhor atendimento e informa<;ao a dar de forma a captar a maior numero possivel de clientes de forma a obter economias de escala, garantindo uma melhor especializa<;ao por mercado e por produto. Para se proteger do mercado bancario europeu, os bancos portugueses de vern cliar do is ou tres grandes grupos, fomentando uma maior concentra<;ao bancaria nacional. S6 assim sera possfvel competir ao lado dos grandes grupos bancarios europeus, interessados sobretudo em explorar produtos de impacto europeu e mesmo mundial, sobretudo ao nfvel das taxas de juro e de cambio do Euro. A presta<;ao do Euro num maior desenvol vimento econ6mico, incenti vara a prazo urn aumento do volume e qualidade do credito bancario mais barato e especializado em Portugal fomentando seguran<;a aos investidores atraves da adequada utiliza<;ao de instrumentos de cobertura de risco que se tenderao a generalizar fomentando novos ganhos, com maior liquidez e rentabilidade e menor risco. 0 mercado assume-se mais global, os produtos financeiros mais transparentes e a intermedia<;ao financeira eficiente. Convem no entanto nao vulgarizar os impactos da moeda unica no sector bancario em Portugal. Menos receitas cambiais, com maiores custos de adapta<;ao e transi<;ao significam menores margens financeiras para os bancos em Portugal. Por outro lado, havera me nos

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hip6teses de ganhos obtidos atraves de processos de arbitragem, com obten<;ao de men ores "spreads" de neg6cio e aumento do risco operacional, com entrada de bancos estrangeiros em Portugal. Numa vertente de valores mobilimios, os bancos deverao beneficiar sobretudo de urn mercado de capitais mais alargado, sobretudo ao nivel accionista gerindo carteiras de mercado mais alargadas de impacto europeu (e talvez mundial ). Tal como os bancos, tambem as seguradoras, sociedades gestoras de fundos, de pensoes e de patrim6nios perderao com a redu<;ao da taxa de juro das suas aplica<;oes, beneficiando contudo a medio prazo do potencial crescimento econ6mico induzido pel a circula<;ao da moeda unica. A diminui<;ao do premio de risco de mercado associado a redu<;ao das tax as de juro incentivani a banca portuguesa a obter ganhos de trading no mercado de capitais (ao nivel de ac<;5es e obriga<;oes). Pela maior extensao dos mercados domesticos na UEM, a tendencia e claramente de aposta em matelia de diversifica<;ao e dinamiza<;ao dos bancos portugueses no exterior da pr6plia UEM. A tendencia financeira, ao nfvel banc:hio de vera ser em suma de "caracol", istoe de saida para o exterior, fomentando crescimento em Mercados Financeiros Internacionais geradores de maiores ganhos em termos potenciais, mas tambem de maior risco em ccuteiras de activos e passivos financeiros sobretudo em mercados emergentes (pafses do Leste, America Latina e Sudeste Asiatico). Os bancos portugueses nao devern no entanto olhar pcu路a o seu "cantinho, a beiramar plantado". Elirninando o risco cambial, dever-se-a atender as sinergias que se poderao obter pelo facto de Portugal estar integrado na UEM. Poder-se-ao gerir por exemplo ccuteiras em Portugal, constitufdas por produtos financeiros comercializados e emitidos no espa<;o Euro, numa atitude clara de diversifica<;ao. A cobertura de riscos abrangera areas mais amplas e diversas em espa<;os geograficos mais distantes, em que a procura de ganhos nao funcione apenas de uma forma regional ou nacional mas sobretudo sectorial, no Espa<;o Euro. Portugal devera fazer jus ao facto de beneficiar actualmente de urn excelente rating internacional favorecendo nos investidores internacionais, a prazo, urn

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A anali se do ri sco e o euro: que futuro em Portugal?

crescente apetite de ganhos, tanto mais que o mercado accionista portugues beneficia de excelentes referencias a nfvel internacional em termos de dimensao e liquidez padendo assurnir uma posi<;ao demarcada junto das principais pra<;a. europetas. A curta prazo, sabe-se de antemao que serao os grandes bancos europeus (franceses, ingleses e alemaes ), a beneficiar do alargarnento do mercado. Tambem a curta prazo e urn facto que Portugal sofrera custos rnicroecon6rnicos, enquanto a longo prazo beneficiara de melhores vantagens macroecon6rnicas. Actualrnente, nos mercados de capitais e sobretudo ao nfvel dos intermedialios financeiros em Portugal, o impacto e paraja de "wait and see" utilizando a tetminologia econ6mica, vulgarmente aplicada nos EUA. A diminui<;ao das receitas e opera<;oes cambiais associada a maiores custos de adapta<;ao (informaticos, contabilfsticos e de tesouraria), transac<;ao e de forma<;ao poderao a prazo pela melhoria da "saude" da economia vir a gerar efeitos macroecon6rnicos positivos, incrementando maior investimento, ernprego e crescimento econ6rnico. Econornias desenvolvidas geram empresas lucrativas, dirninuindo a taxa de credito mal parado e incrementando maiores e melhores resultados nos bancos. Por seu lado, estes oferecerao mais produtos financeiros e inovadores, nomeadamente com indexa<;ao nova taxa Em路ibor (em detrirnento de outras taxas - Pibor, Lisbor, Libor, etc), com melhor qualidade de servi<;o prestado na area do corporate finance sobretudo ao nivel da consultolia financeira, incentivando os agentes econ6micos a aumentarern as suas transac<;oes.

a

Os servi<;os bancarios, em ciclos de repeti<;ao continua, tenderao a fornentar maior crescimento nas institui<;oes financeiras, maximizando oportunidades e minimizando riscos e custos, fazendo repercutir parte dos seus custos sabre os clientes, explorando ao nfvel domestico e da UEM, potenciais areas de neg6cio incentivadoras de men or lisco e maior liquidez e rentabilidade.

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6. 0 risco e os seus investimentos da cobertura no impacto da moeda unica Para a sociedade portuguesa em geral e para os diversos agentes econ6micos em particular, o risco financeiro e os respectivos instrumentos derivados de cobertura financeira conviverao cada vez mais lado a lado como Enro. Ha, no entanto, que aproveitar as suas novas potencialidades, dentro e fora da UEM, incrementando maiores investimentos nomeadamente financeiros e procurando tirar partido de opera<;6es de hedging, arbitragem e/ou especula<;ao. A maior procura de ganhos deve sobretudo ser conseguida acusta de maiores rendibilidades e melhor performance, procurando tirar-se partido de um mais elevado grau de liquidez e menor risco. Visando a obten<;ao de ganhos, deve sobretudo atender-se a uma maior cobettura de eventuais perdas, ati·aves de adequados instrumentos financeiros derivados, de cobertura de risco, aproveitando-se oportunidades geradas porum mercado de maior dimensao e profundidade (nomeadamente em sectores como a constru<;ao civil, o turismo eo sector bancario) e tendo sempre como objectivo final a minimiza<;ao do lisco. 0 real risco da UEM, assumido inicialmente como urn verdadeiro "Adamastor", nao e no en tanto assim tao elevado, porquanto existem riscos tradicionalmente grandes que tendem a desaparecer (risco cambial) ou a diminuir significativamente (risco da taxa de juro), compensando largamente a perda de instrumentos monetarios nacionais, importantes para alguns, mas sem grande significado num contexto em·opeu, para outros. Os investidores procurarao fomentar carteiras de produtos internacionais, mais diversificadas e de menor risco em tftulos mobiliarios (sobretudo ao nfvel de ac<;oes e obriga<;6es), aproveitando taxas de financiamento mais baixas em mercados de capitais mais concentrados nos Core Markets e com spreads concorrenc1a1s mms pequenos. 0 maior risco do mercado europeu (risco sistematico), sera "percebido" cada - - -- - - - - · ·

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A analise do risco e o euro: que futuro em Portugal'/

vez melhor pelos diversos agentes econ6micos, interessados preferencialmente em mercados accionistas mais amplose mercados obrigacionistas mais liquidos. Os diversos intervenientes econ6micos ja se aperceberam das oportunidade~ geradas pelo Euro, mas tambem assumem estar conscientes de riscos (contabilisticos, operacionais e de transac<;ao) dai decorrentes. Por is so, cada vez mais a tendencia sera para a protec<;ao a prazo, atraves de adequados instrumentos de cobertura financeira dentro e fora da UEM.

"Swaps, Forwards, Op<;5es e Futuros, todos de divisas serao oportunos exclusivamente para fora da UEM. Os 'dead lines', assumem-se como desafios intrinsecos amoeda unica pela redu<;ao das ajudas comunitarias a pafses afectados com maiores choques ex6genos. ( ... ) Por outro ]ado, os agentes econ6micos e sobretudo as empresas, dependerao mais de si mesmos e dos efeitos de maior globaliza<;ao mundial, desenvolvendo oportunamente maiores conceitos e leis de mercado liberais, praticas actuais e cada vez em maior expansao nos mercados mundiais e sobretudo europeus". De facto, serao mais as empresas e menos os Estados a fazerem os mercados. Contudo, a diminui<;ao de premios de risco (nos mercados de capitais e cambiais), vai tender a uma maior liberta<;ao de recursos para o investimento, contribuindo para o aumento da confian<;a nos agentes econ6micos. S6 assim podera haver aumento de competitividade e desenvolvimento econ6mico, motivando os eli versos intervenientes a veneer desafios anulando amea<;as e reduzindo os riscos, potencializando as oportunidades geradas pela moeda europeia, de forma a assegurar maiores rendibilidades acusta de menor risco e maior liquidez.

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Em suma e em termos de risco e respectivos instrumentos de cobertura, poderiamos sistematizar em te1mos da seguinte representa<;ao grafica:

Fig. I - Sistematizm;ao do risco e respectivos instrumentos de cobertura, face ao euro

7. Conclusoes A moeda unica e talvez uma das maiores mudan<;as deste seculo na vida do velho continente. Qualquer mudan<;a na vida de urn cidadao, empresa, banco, institui<;ao ou pafs, implica novas linhas estrategicas de orienta<;ao, novos rumos para novos horizontes, em fun<;ao de objectivos pre-definidos. Obviamente implica desafios e estes podem representar oportunidades, apesar dos custos e riscos que lhe estao associados.

Eclaro que qualquer mudan<;a provoca instabilidade e receio do desconhecido. Com o advento e a circula9ao do Euro, Portugal perde dois importantes instrumentos nacionais para assegurar maiores desenvolvimentos da politica econ6rnica e/ou monetaria, nomeadamente pelo facto de nao mais poder utilizar a taxa de cfunbio e/ou de juro para corrigir eventuais desequilfbrios da economia portuguesa e assegurar, face ao extelior, maior competitividade nacional. Por outro lado, resta ao nosso pafs a utiliza<;ao de politicas econ6micas e/ou or9amentais para fazer face a eventuais choques externos decorrentes de maiores custos e risco sistematico dada a cada vez maior interliga<;ao das economias europeias. Estas estarao cada vez mais longe de obter salarios, pre<;os, capital e - - -- - -- - -····- -- - -··- - - - -- - - - - - Lusiada. Economia & Empresa, II serie, n. 2/3 (2003)

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A analise do risco eo euro: que futuro em Portugal?

trabalho em condi~6es semelhantes para os diferentes Estados-Membros, dada a pouca flexibilidade e maior rigidez de desloca~6es de mao-de-obra com os consequentes custos, que pautam a UEM por maiores desajustamentos e dificultam que nesta, possa ainda ver-se realizado o sonho da concretiza~ao de uma Zona Monetaria Optima. Mas porque nao aceitar as vantagens que se nos deparam e continuar a olhar s6 para dentro, para a mesquinhez do medo, do incerto ou do risco, pautando apenas os custos de adesao e esquecendo os seus mais directos beneffcios? Obviamente que quando se fala em desafio, os custos poderao ser elevados, mas as oportunidades serao sempre infinitas, fomentando a prazo urn risco (estimado) que vale a pena suportar. Na moeda unica existem oportunidades que o risco nao conhece. Ede toda a conveniencia que Portugal possa como urn todo saber enfrenta-lo. 0 risco deve assim ser minimizado pela consequente redu~ao nos custos e maior incremento das receitas, ja que os custos tendem a ser mais de cmto prazo e microecon6micos, face a beneffcios de maior dura~ao e macroecon6micos, de forma a consolidar uma Europa unida e desenvolvida. A maior

integra~ao

e profundidade dos mercados com menores custos de

transa~ao, forma~ao e adapta~ao (contabilfsticos, informaticos e de tesouraria),

associ ados a menores perdas cambiais proporcionados pela moeda unica geram cambial e redu~ao do 1isco da taxa de juro, proporcionando maior concorrencia (entre empresas e bancos nacionais) fomentando uma maior u·ansparencia nos pre~os e credito mais barato, geradores de menores incertezas comerciais ou de investimento e incrementando maior emprego e crescimento econ6mico, associado a maiores ganhos. elimina~ao do lisco

As PME necessitando de mais forma~ao e adapta~ao, tern ainda urn longo caminho a percorrer. Nao existe uma clara concep~ao das implica~6es futuras decorrentes de urn mercado mais alargado e gerador de maiores ganhos. Uma pequena percentagem deste grupo esta no entanto ciente que mais e melhores oportunidades s6 serao conseguidas acusta de maiores e melhores indices de produtividade, sem sacriffcio do emprego, de forma a consolidar em Portugal - - -·· - - - --

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um maior crescimento econ6mico. 0 Governo, instituis;oes e departamentos nacionais encontram-se devidamente preparados para o Euro. Contudo, embora nao sintam tao intensamente os impactos da nova moeda, devem crim路 condis;oes para uma passagem sem sobressaltos, de maior hmmonia efectuando as adequadas reformas em dominios vitais a nfvel nacional, como sejam a saude, a educas;ao, a segurans;a social e os servis;os jurfdicos, incrementando maior desenvol vimento nacional pelo maior acrescimo das despesas fiscais face ao defice ors;amental e consolidando desta forma a regrade ouro das finans;as publicas.

E,no entanto, importante dialogar sob a mesma lingua financeira. 0 Emo aumenta a dimensao, a liquidez e a especializas;ao dos mercados financeiros, conduzindo a economias de escala, reduzindo custos de intermedias;ao financeira e incentivando maior t:ransformas;ao de poupans;as em investimento. Os Bancos Nacionais tem consciencia de que o Euro ira pressupor a crias;ao de um vasto mercado financeiro e comes;am agora a sua preparas;ao. Ponderam no en tanto mais custos que beneffcios e falta-lhes "informas;ao". Acreditam que s6 com polfticas de acordos, fusoes e aquisis;oes, sera possfvel consolidm路 posis;oes de fors;a em mercados tao grandes como a UEM. Com taxas de juro tao baixas, tornou-se quase insuportavel viver dos diferenciais de credito, face a menores taxas de poupans;a oferecidas. Os Bancos Nacionais, principais perdedores do novo conceito UEM, apostam agora na diversificas;ao das suas aplicas;oes oferecendo novas produtos financeiros index ados anova taxa Euribor. Cada vez mais a solus;ao passara pel a fidelizas;ao de clientes em pequenos nichos segmentados do mercado nacional e a cobertura as grandes empresas (interessadas sobi路etudo no mercado de acs;oes e obligas;oes) apoiando-as mesmo em operas;oes de financiamento em mercados de capitais menos onerosos junto a instituis;oes bolsistas (de maior concentras;ao em uma ou duas pras;as europeias) ou pm路a fora da UEM. Torna-se evidente a tendencia para a crias;ao, a prazo, de um grande mercado europeu de servis;os bancarios e financeiros. Contudo, a nfvel dos Estados-

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Membros os mercados de pequena dimensao europeia tenderao a declinar, tal como outros mercados com pequena liquidez de activos financeiros, ou de produtos derivados. Os Bancos Estrangeiros em Portugal tem consciencia desta situa~ao e aumentaram acentuadamente a ofe1ta de novos produtos financeiros, atraves de maiores eficiencias nomeadamente em termos de dura~ao e risco. Estes bancos encontram-se devidamente preparados para o Euro, sobretudo pela experiencia alcan~ada na Europa e no Mundo com a maior utiliza~ao de produtos derivados, para garantir a adequada cobe1tura de risco financeiro. Os diferentes agentes econ6micos em Portugal tern consciencia que cada vez mais os Estados Nacionais "pesam" menos na estrutura econ6mica de cada pafs. Assim, para intensificar estrategias de sucesso, ha que promover "destinos" via exporta~oes, agregando maior qualidade e valor, para neg6cios e mercados cada vez mais distintos. Para se protegerem dos riscos inerentes e fomentarem a prazo a consolida~ao de factores crfticos de sucesso existe a concep~ao cada vez maior das vantagens abrangentes, bem como do reduzido custo dos inerentes instrumentos de cobertura, do risco financeiro. Apesar de compreenderem que o risco sistematico (em detrimento do risco diversificavel) eo verdadeiro risco damoeda (mica e que cada vez mais liquidez e profundidade se vao transferindo das bolsas nacionais para as bolsas dos "Core Markets", os agentes econ6micos e investidores acreditam num maior dinamismo (financiamento e investimento) do mercado de capitais europeu, de valores mobiliarios em detrimento do mercado bancario. Para alem de salvaguardarem posi~oes de hedging ou fomentarem maior investimento, arbitragem e/ou especula~ao, agentes econ6micos e investidores tern ao seu alcance instrumentos financeiros interessantes nao s6 para garantir posi~oes de cobertura mas sobretudo para garantir maiores ganhos acusta de maiores rendibilidades, com maior liquidez e menor risco. Estes produtos financeiros (forwards, swaps, futuros, op~oes, FRA, Repos, Caps, Collars e Floors), continuarao a ser preponderantes para a obten~ao de mais valias em mercados "pre-in", ou "out" nomeadamente em mercados fora da UEM, e sobretudo em mercados emergentes (Sudeste Asiatica, America - - -- -Lusfada. Economia & Empresa, ll serie, n. 2/3 (2003)

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Latina e Paises do Leste), onde atitudes de apetencia finance ira a maiores graus de risco, poderao consolidar a obten<;ao de maiores ganhos, (mas tambem de maiores perdas, em caso de desequilibrio nos mercados). Como Euro e a consequente convergencia das economias, os instrumentos de cobertura tradicionais reduzem-se, porque o risco tambem se reduz (nomeadamente ao nfvel das taxas de juro e cambial). 0 mercado toma-se mais transparente, abrange maior investimento, consolida menores perdas, mas tambem ganhos limitados em opera<;oes de hedging, de investimento e de especula<;ao e/ ou de arbitragem, reconvertendo modelos de gestao do risco tradicionais. Novos produtos assumem-se agora no horizonte da UEM, para fazerem face a maiores riscos actuais de liquidez (como sejam de obriga<;oes e papel comercial) ou mesmo de credito/financiamento (risco band.rio ou accionista) em novos e integrados mercados de capitais europeus. Apesar da falta de informa<;ao e de forma<;ao acerca das repercussoes do Euro que urge ultrapassar, existem medos e receios decorre ntes do risco (nomeadamente financeiro) face as altera<;oes preconizadas pelas mudan<;as implementadas ao nfvel damoeda unica. Este risco financeiro pode, no entanto, ser reduzido ou mesmo eliminado, garantindo-se a protec<;ao e seguran<;a necessarios, atraves dos adequados instrumentos de cobertura financeira. Cabe aos diferentes agentes econ6micos e investidores ultrapassar este desafio, para de facto veneer a importante batalha da moeda unica.

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A analise do risco e o euro: que futuro ern Portugal?

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A analise do risco c o curo: que futuro em Portugal? -

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A industria da constru<;ao e obras publicas: a performance de Portugal face aUniao Europeia

por Luis Palma Ferro Licenciado em Engenharia Civil (Academia Militar) Mestre em Gestao (Universidade Lusfada) Docente Universitario Consultor

Resumo: • A industria da constru91io sofreu mudan9as radicais no dccUl·so da ultima ctecada do seculo XX: a compcti vao tornou-se extremamente agressiva na Europa e fo ra deJa em resu ltado da crescente globalizayao dos mercados, aumentando consideravelmente o risco do neg6cio das empresas do sector. • 0 factor crftico de sucesso no novo cemirio e representado pela maior ou menor capacidade de gerir o acrescimo de risco do neg6cio, identificanclo as suas detenninantes e indiviclualizando estrategias de opti miza9ao das sociedades de constru9ao. • As empresas do sector utilizam, quase exclusivamente, indicadores de cari z iminentemente financeiro, conduzindo a uma analise redutora e a conclusoes que nao cxpressam a real idade do neg6c io da construyao. • Revela-se a importancia e a necessidade de se definir um novo modelo de avalia9ao cia performance empresarial, onde se integre outras mcdidas de performance complementarcs. • Um cstudo, com inciclencia num paine! de empresas de constru91io nos pafses da "Europa do Sui" (Espanha, Italia e Portugal) mostra uma tendencia para um crescente impacto dos indicadores de performance entre si, com comportamentos cada vez mais explicados par varia96es integradas das variaveis quer de natureza econ6mica quer de natureza financeira. • A introdu9iio de variaveis econ6micas, no moclelo de avaliavao, mostra que as empresas portuguesas do sector apresentam valores de produtividade econ6mica inferiores aos registados pelas congeneres de Espanha e de Italia, e, consequentemente, a percla de competitividade econ6mica em relayao as mesmas.


A industria da

constru~ao

e obras publicas: a performance de Portugal face

a Uniao

Europeia

1. Introdm;ao 0 mercado actual eglobal, exigente, extraordinariamente competitivo e enformado por regras que de uma maneira ou de outra ob1igam os di versos acto res a incluir no seu processo de apoio a decisao informa<;6es que possibilitem quer uma visao prospectiva do comportamento da empresa em cenarios futuros, quer compara<;6es entre ela e os seus potenciais concorrentes. Como denominador comum ao cliente, a empresa e a estrutura econ6micosocial decorrente desta rela<;ao- muito especialmente, trabalhadores, estado, accionistas e gestores- identifica-se, aos mais variados nfveis, a permanente preocupa<;ao de maximizar a concretiza<;ao dos respectivos objectivos, sejam eles de natureza finance ira, social ou econ6mica. Prever, comparar e maxi mizar, assumem-se pois como termos - chave nos tempos de hoje, nao sendo pois de estranhar que eles dominem as prioridades dos gestores, condicionados que sao por numerosos vfnculos que variam de sector para sector e, dentro de cada urn deles, de empresa para empresa. Aproveitando o pensamento de Edward W. Deming, " Before you decide where to go, first determine where you are" , e conhecedores da realidade do sector da industria da constru<;ao, poderemos acrescentar que quem nao se adaptar aconcorrencia, as mudan<;as do ambiente e/ou nao se aperceber de eventuais sinais internos de deterioramento, caminha para o declinio e, muito provavelmente, para uma crise profundae irreversivel.

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Luis Palma Ferro ------路路路-----~~~~-

Nesta linha de pensamento pede-se pois que uma empresa moderna possua urn estruturado, assfduo e eficaz controlo da sua performance. E como equacionam os gestores das empresas de constru<;ao o fen6meno do controlo da performance? Como trabalham as suas diferentes variaveis modeladoras? A resposta pode-se dar com propriedade: - Privilegiando a analise comparada dos diferentes indicadores e resultados financeiros, orientando quase genericamente a analise da performance empresarial para as respostas requeridas pelo mercado accionista em geral e pelas estruturas financeiras em particular. Mas a analise da performance empresarial deve ser mais abrangente; a par da componente financeira, uma correcta medida de performance exige que os elementos e informa<;5es colhidos estejam integrados num esquema logico de identifica<;ao dos objectivos propostos pela e para a empresa ( seja pelos gestores, accionistas, clientes, trabalhadores ou estado), como por exemplo a maximiza<;ao da quota de mercado, a cria<;ao de valor econ6mico, a melhoria das condi<;5es de trabalho e dos salarios, a rela<;ao qualidade I pre<;o, a distribui<;ao da riqueza ou a maximiza<;ao do valor das ac<;5es. Citando CATHERINE ( 1998), a questao de base subjacente a qualquer analise da performance pode resumir-se a: "Quanto custa, em termos de recursos ou inputs, a produ<;ao de uma dada quanti dade de output?" Do seu conteudo e da actual natureza do ambiente empresarial, sobressai a necessidade de identificar indicadores que sejam simultaneamente representati vos da performance em sentido lato, e que permitam o estabelecimento de compara<;5es no tempo e no espa<;o, a partir de elementos de informa<;ao acessfveis e homogeneos.

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A industria da

constru~ao

e obras publicas: a performance de Portugal face

a Uniao

Europeia

Sera que a compara<;ao e hierarquizac;ao de empresas do sector da industria da construc;ao civile obras publicas, acusta de indicadores de performance de cariz eminentemente financeiro, e a forma mais fiel e valida para se avaliar estmtmas organizacionais tao peculiares como estas e como impacto s6cio- econ6mico que lhes e amplamente reconhecido? Ou importa identificar, medir e integrar de uma forma equilibrada num novo modelo, outras fonnas de avalia<;ao da performance empresarial?

2. Enquadramento do sector da constrU<;ao 0 sector da industria da constru<;ao sofreu mudan<;as radicais no decurso da decada de noventa do seculo que agora terminou. A competic;ao tornou-se extremamente agressiva, na Europa e fora dela, em resultado da crescente globaliza<;ao dos mercados. Os cortes nas despesas publicas europeias reduziu o numero de novas obras e dificultou o pagamento atempado aos empreiteiros das obras em fase de conclusao. 0 impacto no sector foi durfssimo: a competi<;ao comprimiu as margens de lucro e os encargos financeiros das empresas aumentaram significativamente, arrastando para crises profundas urn numero significativo de empreiteiros. Por outras palavras, pode dizer-se que em dez anos aumentou consideravelmente o risco do neg6cio para as sociedades de construc;ao, reduzidos que foram os niveis de procura das entidades publicas que asseguravam por si s6 boas margens de lucro e pagamentos atempados, e aumentados que foram os nfveis de competi<;ao fruto de uma crescente intemacionaliza<;ao do neg6cio. 0 factor crftico de sucesso no novo cenario e pois representado pela maior ou menor capacidade de gerir este acrescimo de risco, identificando as suas determinantes e individualizando estrategias de optimizac;ao da empresa no futuro irnediato.

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2.1. Caracteristicas gerais do Sector A analise efectuada permite-nos dizer que as empresas de constru9ao possuem geralmente modelos de gestao bastante rfgidos, normalmente resultantes das numerosas limita96es impostas pelo ambiente externo, pelo sector em si e pela propria estrutura empresarial, nao obstante terem que atender de um modo dinamico, a fen6menos como o andamento geral do mercado, as normativas e disposi<;:6es legais aplicadas ou as polfticas fiscal e de investimentos prosseguidas. Outro elemento caracterfstico deste espa<;:o econ6mico eo caracter n6mado da actividade, e a correspondente impossibilidade de concentrar a estmtura produtiva num unico lugar e de transportar o produto gerado, obrigando as empresas a adequar as suas estruturas produtivas a localiza<;ao ffsica da empreitada e a responder cabal mente ao nfvel do factor humano e dos custos de operas:ao, as exigencias de natureza organizativa, tecnica, econ6mica e financeira daf decon·entes. Relevante para a sua caracterizas:ao eo facto de estarmos perante uma industria de ciclos produtivos longos, que com relati va facilidade se estendem para la dos doze meses, podendo a duras:ao da empreitada ou a incerteza associada aos imprevistos tecnicos e ambientais, terem um impacto significativo na estrutura financeira da empresa. Uma quarta particularidade prende-se como elevadfssimo recurso ao outsomcing ou, se quisermos ser mais precisos a sub-empreitadas, onde coabitam empresas das mais variadas dimens6es, com implanta<;ao geografica mais ou menos limitada e formas muito diferentes de gestao . Se os subempreiteiros sao normal mente possuidores de um historial conhecido pela entidade contratante, nao poucas vezes sao chamados para a execw;ao das respecti vas tarefas, apenas em func;ao da sua proximidade geografica ao local da obra e I ou do pre<;o proposto para a realizac;ao da sub-empreitada. Um outro aspecto importante, tem aver com a influencia do clima e das condi96es atmosfericas em aspectos nucleares como a organizas:ao do estaleiro, a programa9ao das actividades e a carga de trabalho, a estrutura de custos fixos e

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A industria da constru9iio e ohras puhlicas: a performance de Portugal face

a Uniao Europeia

custos variaveis ao longo da empreitada ou a escolha dos materiais e metodos construtivos a empregar. Refira-se ainda e por ultimo, a heterogeneidade dos bens produzidos, ja que uma obra identica construfda pela mesma empresa, com os mesmos factores de produ~ao, dirigida para o mesmo mercado tipo, mas situ ada em locais diferentes, dificilmente possuira o mesmo pre~o de venda.

2.2. Factores influenciadot路es do cornportamento das ernpresas de constrm;ao e variaveis do neg6cio 0 comportamento das empresas e em geral bastante influenciado pelo meio envoi vente no qual operam e em pmticular, pelas condicionantes econ6mica2 e polftica3, pelo estado da Industria da Constru~ao 4 e pela natureza da procura5. As variaveis do neg6cio podem reduzir-se a tres: - 0 volume do neg6cio =montante contratado + trabalhos a mais- trabalhos a menos; - 0 custo dos factores de produ~ao; - 0 tempo (se bem que imposto pelo contrato, pode ser variado em fun~ao do tipo I quantidade da mao de obra, dos meios tecnicos empregues, ou das subcontrata~6es efectuadas ).

2.3. Tipo e garna de clientes no mercado da constru~ao Historicamente foram separados em dois grupos (o sector publico eo sector privado), de acordo com a fonte de financi amento requerida para o projecto. Segundo VOLPADO (1995) a procura dos clientes publicos pode enquadrarse num dos seguintes dominios:

Lusfada.

Economi~

& E mpresa, !I seric, n. 2/3 (2003)

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- Prodw;,:ao de bens e servi<;,:os (e.g. fablicas, esclit6rios, plataforrnas petroliferas oude gas); - Aumento ou rnelhoramento de infra-estruturas econ6rnicas (e.g. esta<;,:oes electricas, elevat6rias, de tratamento de aguas ou de esgotos); - Investimento social (e.g. hospitais, escolas, igrejas); - Investimento para utiliza<;,:ao/beneffcio directo (e.g. constru<;,:ao de fogos de habita<;,:ao social). Quanto aos clientes privados, o citado autor identificou os seguintes tipos de promotores e de necessidades, resultado directo dos objectivos definidos para a sociedade investidora: - 0 grupo privado, que pretende empregar uma nova constru<;,:ao como urn factor de produ<;,:ao, com uma fun<;,:ao social ou para habita<;,:ao; - 0 grupo de investimento, que procm·a urn investimento que lhe potencie o aumento do capital investido e a obten<;,:ao de lucros; - 0 grupo imobilidrio, que negoceia seja em imobiliario a medio, curto ou longo prazo, e cujos objectivos se mien tam prioritariamente para a constru<;,:ao nova ou para a recupera<;,:ao de edif:fcios ja existentes.

Num e noutro caso, a satisfa<;,:ao6 do cliente assume-se como urn factor relevante nos dias de hoje e com ela, a necessidade de se estabelecer entre ambos (empresa/ empreiteiro e cliente) uma verdadeira rela<;,:ao profissional, e nao uma rela<;,:ao conflitual. 2.4. Estrategias basicas do negocio

Existem essencialmente dois tipos de estrategias:

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A industria da constrw;:ao e obras pliblicas: a perform ance de Portugal face

a Uni ao Europeia

-As baseadas nos custos; -As baseadas na diferencia9ao. E como se podem diferenciar as empresas? - Pela maior ou menor dura9ao da empreitada. - Pela qualidade do trabalho. - Pela boa ou rna rela9ao entre empreiteiro e cliente. - Pela maior o menor aplica9ao do marketing 7 ao neg6cio da constru9ao. Eo produto por elas proposto? - Oferecendo uma vasta gama de formas de gestao do projecto. - Estendendo a fase da constru9ao a manuten9ao e gestao da infra-estrutura durante a sua explora9ao; - Pela extensao do projecto de concep9ao/execu9ao a fase de constru9ao, incluindo urn pacote de financiamento da empreitada (optima ferramenta de marketing, num ambiente econ6mico que favorece os investimentos privados).

2.5. Factores cri'ticos de sucesso no sector da industria da construc;ao A analise da conjuntura sugere que as determinantes do sucesso neste sector de actividade sejam as seguintes: - Solidez financeira ( projectos BOT) ; - Dimensao ( fusao e/ou joint-venture);

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Luis Palma Ferro

- Presen~a no mercado internacional (globaliza~ao ); - Diversifica~ao (diversifica~ao horizontal e/ou vertical). A crise do sector publico, a consequente redu~ao nas despesas de investimento e as crescentes necessidades de infra-estruturas nos pafses em vias de desenvolvimento, obrigou as grandes sociedades de const:ru~ao a desenvolverem projectos de financiamento privado, principal mente sob a forma de BOT, onde a obten~ao da concessao para construir e gerir a obra ap6s a sua conclusao, pennitisse ao privado recuperar o investimento realizado.

A opiniao generalizada e de que este e o unico e verdadeiro instrumento para relan<;ar as grandes empresas do sector, prevendo-se que no fim de 2002, os projectos do tipo BOT representem a nfvel mundial50% do total das empreitadas acompanhado a tendencia ja verificada na Asia, onde em 1996 tal valor ja se cifrava nos 60%. No caso concreto da Europa, estima-se que dentro de quatro anos 35% das obras publicas sejam financiadas por privados, como se espera que acontecera no nosso pafs com as ditas "mini-Brisas".

No que se refere adimensao, a tendencia mais evidente no sector da construc;;:ao na Europa aponta para uma concent:ra~ao. A ideia ede que o crescente risco do novo cenario pode ser mais facilmente gerido por grupos integrados, de grandes dimensoes, dispondo de uma nota vel massa crftica, que lhes penn ita gerir os grandes projectos internacionais. De facto, verifica-se que a pressao para a concentra~ao resulta de tres ordens de factores:

• A solidez financeira porum lado,ja que de joint-venture ou de fusoes resultam actores mais so lidos, aptos a participar e gerir projectos BOT; • A segunda razao, prende-se com a obten~ao de qualifica~oes complementares das existentes, de modo a completar a gama de produtos e mercados servidos,

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A indu stria da constru<;ao e obras publicas: a performance de Portugal face

a Un iao

Europeia

abordando com maior seguran<;a e numa 6ptica de redu<;ao do risco, as varia<;6es das carteiras de encomendas e potenciais quebras em determinados mercados; • A terceira razao decorre da possibilidade de reduzir custos gerais de explora<;ao e aumentar a massa crftica do staff disponfvel para o desenvolvimento da delicada fase de elabora<;ao de propostas, e satisfa<;ao das crescentes exigencias dos clientes cada vez mais dependentes das empresas para a identifica<;ao das melhores solu<;6es const:mtivas e dos melhores racios custo/eficacia. A globaliza<;ao constitui uma outra aposta nuclear para as grandes empresas de constru<;ao; de facto exceptuando os mercados ibericos, os restantes mercados europe us evidenciam baixas tax as de crescimento, razao pela qual a maior parte dos grupos do velho continente preten de intensificar a sua presen<;a no mercado internacional, nao s6 au¡aves da aquisi<;ao de sociedades locais, mas sobretudo atraves de joint-venture, que nos ultimos anos se tern revelado mais adequadas e portadoras de menos riscos . A redu<;ao das margens de lucro tornou os proveitos de investi mentos em sociedades de constru<;ao muito volateis; como intuito de os estabilizar e aumentar o seu valor no tempo, as sociedades de topo tern desenvolvido com relativo sucesso estrategias de diversifica<;ao vertical e horizontaL De acordo com os especialistas, as razoes subjacentes a urn processo de diversifica<;ao podem encontrar-se numa das seguintes respostas: - Como forma de au men tar a eficiencia, controlando a fonte de fornecimento dos materiais, de modo a evitar roturas no fornecimento , varia<;6es mai s ou menos prolongadas nos tempos de disu¡ibui<;ao, aumentos de pre<;o, ou men ores pad roes de qualidade; - Como forma de au men taro crescimento das receitas ou da rentabilidade dos investimentos, apostando em diferentes actividades em que tal pode ser conseguido;

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Luis Palma Ferro

- Por razoes de natureza financeira, fazendo born uso da aplicac;ao de cashflows positivos gerados e aumentando os capitais pr6p1ios; - Para aumentar a seguranc;a da empresa, minimizando os efeitos da dependencia das flutuac;oes sazonais dos seus outputs, em especial ao nivel de clientes e mercados, atendendo porem ao risco que representa a entrada num mercado completamente novo e anecessidade de disponibilizar um know-how diferente. 2.6. Enquadramento macroeconomico

Com 2,4 milhoes de empresas, o sector da industria da construc;ao e obras publicas, emprega qualquer coisa como 10 milhoes de pessoas, isto e mais de 7% do total do emprego nos diferentes sectores de actividade econ6mica da Europa dos 15, assegurando mais de 5% do respectivo VAB e onde as pequenas e medias empresas representam 87% do total de empregadores no sector.

100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% EU- EU15

B

DK

D

EL

E

F

IRL

I

L

NL

A

P

FIN

S

UK

11

ode 0 a 9 empregados 1!J de 10 a 49 empregados o de 50 a 249 empregados o mais de 250 empregados

Fig. I - 0 Sector da Constnt<;ao na Europa Comunitaria: divisao por grandes categorias de emprego (dados de 1995). Fonte: Eurostat, Enterpri ses en Euro pe, 5'.

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ed i~;ao ,

1998

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A industria da

constru~ao

e obras publicas: a performance de Portugal face

a Un iao Europeia

Da analise do relat6rio n°4l da Euroconstruct, constata-se ainda que 45% das empres as tern menos de 10 empregados, com particular enfase para o Reino Unido e Italia onde este valor atinge os 68 e 59%, respectivamente. As vinte maiores empresas da UE possufram nos ultimos anos urn volume de neg6cios medio compreendido entre urn mfnimo de 2, 039 e urn maximo de 9,228 milh6es de Euros9, estando organizadas em diferentes unidades de neg6cio, cada uma estruturada e equivalente a urn construtor de media dimensao e representando apenas uma das muitas empres as do grupo empresarial em que se inserem, grupo esse distlibufdo por varios sectores da actividade econ6mica, dos quais a industria da construc;;ao e apenas e s6 urn deles; U m numero muito elevado de empreiteiros sofre de uma rna imagem e reputac;;ao junto dos clientes e da sociedade em geral, em resultado das inumeras falhas de qualidade, do incumprimento dos prazos estabelecidos, e das permanentes reclamac;;oes de pagamentos acrescidos relativos a trabalhos nao constantes do contrato inicial.

8,0% 6,0% 4,0% 2,0% 0,0% -2,0% -4,0% 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998

-

0 Sector Europeu desde 1985

Fig. 2 - 0 sector EUJ·opeu da lncllistria da

Con stru~ao

Fonte: Euroconstruct, Relat6rio no 4 1 da FEIC

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-

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Uma analise complementar dos dados contidos no citado relat6rio e relativo ao peso das pequenas empresas nos diversos sectores de actividade econ6micano seio da Europa dos quinze, pennite-nos vetificar que mais de 60% das empresas europeias tern 10 ou menos ernpregados e, dentro destas, 30% nao tern rnesmo qualquer empregado, representando muitas delas o auto-emprego dos seus titulares. Tal facto e mais marcante nos pafses do sui como a Grecia, Italia, Espanha e Portugal, e rnenos sentido em pafses como a Alemanha, o Luxernburgo ou a Irlanda. Uma vez procedido ao seu enquadramento geral,julgamos conveniente apresentar ainda as linhas de fon;a da estrutura do sector da Construc;ao nos pafses que foram alvo do nosso estudo, Espanha, Italia e Pmtugal. Uma maior porrnenorizac;ao podera ser contudo obtida atraves da consulta dos estudos e relat6rios elaborados por organismos oficiais e privados, nacionais e europeus, ligados a esta actividade econ6mica e constantes na bibliografia.

Pais

Factor de Analise Espanha

tt<ilia

Portugal

UE - 15

Superticie Total (milhares de km2)

504,7

301,3

91,9

3240

Populac;ao em 1998 {milhares}

39371

56979

9 979

374 358

Populacao Estrangeira 1998 {% do total)

1,5

2 ,1

1,8

( ~,:,do

9,5

6,7

9,0

PIB em 1998 a precos correntes (8ili6es de USD)

659,2

1 253,5

152, 1

7 986,1

PIB per capita em 1998 a pr~os correntes ( USD)

16 740

21 739

15266

2 1 286 2,0

Volume de Emprego no Sector da Indus!. Conslrw;ao ern 1997

total)

~-:.)

2,5

1,4

2,9

Contribuitta.o do Sector da I Construqao para o PIB, em 1997 (~!o do total)

8,3

4,9

7,1

Taxa de Desemprego em 1998 {%do total da lorqa de trabalho)

20,8

12.4

5,0

Taxa de lnf!a¢o em 1998 (%)

2.0

1,7

2,2

Taxa media anuat de crescimento do PIS 1988·1998 (

Contribui~o da !ndl!stria para o PIB em 1998 ('%do total do PIB}

30,7

30.4

10,6

26,5

·-----Contribui~ao

dos Serviyos para o PIB em 1998 (%do total do PI B)

Taxa de Exposiyao

a competilividade Gslrangeira

1

em 1997 (%)

64,9

66,5

63,0

37,2

34,2

45,8

_ _L __ _ _~L__ _ __ L_ _ _ _~-------

Fig. 3 - lndicadores Gerais de Espanha, l talia e Portugal. Fonte: Relat6rio da OCDE, Pari s, 2000

-------------Lusfada_ Economia & E mpresa, II serie, n _ 2/3 (2003)

158


A industria da construqao e obras publicas: a performance de PorLugal face

a Uniao Europeia

Nos pafses analisados a taxa de crescimento anual do respectivo Produto Interno Bruto, para o perfodo 1993-1998, foi a seguinte:

Pafs I Ano

1993

1994

1995

1996

1997

1998

Espanha

-1 ,2

2,3

2,7

2,4

3,5

3,8

ltalia

-1,2

2,2

2,8

0,9

1,5

1,4

Portugal

-1,4

2,4

2,9

3,2

3,5

3,9

UE Monetaria

-1 '1

2,7

2,2

1,6

2,5

2,9

Fig. 4 - Taxa de Crescimento anual do PIB (1993- 1998), em alguns pafses cia Europa Comunitari a. Fonte: Eurostat e Comissao Europeia, 1999

3. Modelos conceptual e instrumental propostos Face ao exposto, importa pois delimitar quer a problematica a tratar, quer os actores intervenientes - ambos com tanto de heterogeneo como de relevante razao pela qual o estudo assenta na defini<;:ao de indicadores de performance, sua aplica<;:ao a um painel de empresas de constru<;:ao an cora dos pafses da dita "Europa do Sui" - Espanha, Italia e Portugal , e complementar analise dos resultados obtidos, tendo em vista a fonnula<;:ao das correspondentes conclusoes numa 6ptica integrada das componentes financeira, econ6mica e social. Embora o modelo proposto seja explicativo, os resultados oeste sector de actividade estao muito influenciados pelo ciclo econ6mico vivido na estrutura social e polftica mais o menos alargada em que as empresas estao inseridas, razao pela qual toda e qualquer analise nao deve ser descontextualizada do ambiente externo, comurn ou nao no todo ou em pmte, ao painel seleccionado. Por ultimo e aproveitando os elementos recolhidos e os indicadores propostos, procede-se a uma articula<;:ao matJ.icial de modo a projectar o painel de empresas sob a forma de um ranking, estruturado a partir do ca.lculo de um fndice de

Lusfada. Economia & Empresa, II serie, n. 2/3 (2003)

159


Lufs Palma Ferro

Performance (!Per).

3.1. Variaveis seleccionadas para indicadores de performance Relativamente aos indicadores de performance, como modelo te6rico que sao tendentes a simplificar a complexidade estrutural a que se referem, a respectiva eficacia e proporcional areal aplicabilidade ao universo empresatial em causa. Importa, pois, identificar face aos objectivos propostos, os indicadores mais apropriados ao sector em estudo, e cuja constrw;;ao possa decorrer das informa96es constantes nos diversos balan9os, sabendo-se antecipada e complementarmente que o poder informativo dos resultados por eles expressos e tanto maior quanto mais ampla for a sua difusao, e mais facil o seu calculo e interpreta9ao. Face aos pressupostos estabelecidos, a analise proposta assenta na defini<;:ao de urn indicador de performance financeira e tres indicadores de performance econ6mica, /j, a saber: - Indicador de Performance 11: Rentabilidade Financeira do Capital (Rf); - Indicador de Performance 12: Produtividade Econ6mica para o Accionista (PeA); - Indicador de Performance/3: Margem de Seguranr;a daActividade (MS); - lndicador de Performance /4: Competitividade Econ6mica da Actividade (CeA); A variavelfinanceira, Il, e considerada como suficientemente relevante na analise do sector, assumindo no nos so estudo a forma de variavel independente, atendendo ao facto de que estes indicadores de performance se continuarao a afirmar como os elementos essenciais de apoio ao decisor situado a nivel estrategico. 0 indicador seleccionado e a Rentabilidade Financeira do Capital (Rf) dete1minante dos investidores - expresso pm路a cada elemento do painel, atraves da razao entre o Cash Flow (CF) gerado num dado ano econ6mico eo

Lusfada. Econom ia & Empresa, II serie, n. 2/3 (2003)

160


A industria da

constru~ao

e obras publicas: a performance de Portugal face

a Uniao Europeia

conespondente Capital Proprio (CP). A Rf resulta por sua vez da combinac;ao entre os sensores Rentabilidade do Investimento Total (R!t) e a Autonomia Financeira (Af), sendo apurada pela equac;ao:

Rf= CFI CP = Rlt I Af, com Rlt = CF I Activo Lfquido e Af = CP I Activo Lfquido. Como primeira variavel dependente, 12, utiliza-se urn indicador de petformance de gestao, que exprime a capacidade de uma empresa libertar meios para a remunerac;ao de outros factores de produc;ao que nao o factor trabalho. A escolha recai sobre o indicador Produtividade Econ6mica para o Accionista (PeA)- determinante dos investidores- expresso para cada elemento do painel, atraves do complementar da razao entre o Valor Acrescentado Bruto (VAB) e os Encargos salariais com os trabalhadores (S):

PeA

= (VAB IS ) - 1

0 VAB IS ou Produtividade Salarial (Ps ), resulta por sua vez da cornbinac;ao entre os sensores Produtividade Econ6mica do Trabalho (Pet) eRemunerac;ao do Trabalho (Sm), sendo apurada pela equac;ao:

PeA

= (VAB IS) - 1 = (Pet ISm) - 1 ,

com Pet = VAB IT e Sm = SIT, sabendo-se que T trabalhadores nurn dado ano econ6rnico.

= numero rnedio de

Como segunda vatiavel dependente, 13, utiliza-se urn indicador de performance de gestao que evidencia o grau de risco da actividade, face a uma relac;ao estabelecida entre o volume de neg6cios realizado e os custos fixos e vruiaveis a ele associados.

Lusfada. Economia & Empresa, II serie, n. 2/3 (2003)

161


Luis Palma Ferro

Este indicador designa-se Margem de Seguram;a da Actividade (MS) determinante dos gestores- expressado para cada elemento do painel, atraves da razao entre o Volume de Neg6cios (VN) eo Lirniar de Rentabilidade (LR) da Actividade, num dado ano econ6mico:

MS

= (VN I LR ) - 1

0 LR resulta por sua vez da rela~ao entre os Custos Fixos (CFix) e os Custos Varidveis, (CVar), para urn dado Volwne de Neg6cios, (VN), sendo apurado pela equa~ao:

LR

= CFix

I (1 - (CVar I VN )).

Como terceira variavel dependente, 14, opto-se por urn indicador de performance de gestao que caracteriza a competitividade empresarial da actividade, em fun~ao da varia~ao num dado perfodo de tempo da produtividade econ6mica do trabalho e dos custos operacionais de explora~ao. A ultima variavel dependente escolhida e o indicador Competitividade Econ6mica da Actividade ( CeA) - determinante dos gestores- expressa para cada elemento do painel, atraves da razao entre a taxa de varia~ao da Produtividade Econ6mica do Trabalho (D Pet) e a taxa de varia~ao dos Custos Operacionais por Trabalhador ( D COp), em do is ciclos econ6micos sucessivos:

CeA

= (D Pet

I D COp ) - 1, com

D Pet= (VAB IT)nl (VAB IT)n-1 e D COp= (COp/ T)n/ (COp / T)n-1, havendo sido considerados como Custos Operacionais os somat6rios das rubricas Consumos, Custos como Pessoal e Amortiza~oes.

Lusfada. Economia & Empresa, II serie, n. 2/3 (2003)

162


A industria da construr;ao e obras publicas: a performance de Portugal face

a Unii:io

Europeia

3.2. Instrumentos e processos de recolha dos dados Os instrumentos e processos de recolha de dados sao fundamentalmente o aos anos de 1994, 1995, 1996, 1997 e 1998 dos diferentes sujeitos escolhidos, e os Indicadores de Pe1f ormance porn/ propostos e ja anterio1mente definidos. Balan~o e Demonstra~ao de Resultados relativos

Tendo em conta a natureza do primeiro, importava validar a sua harmoniza~ao no quadro dos paises seleccionados. Consultado NOBES C. (1993), verificouse que no seio da Uniao Europeia, atraves das Quarta e Setima Directivas, respectivamente sobre a estrutura do balan~o e seus criterios de valuta~ao e, sobre o balan~o consolidado, posteriormente convertidas para a legisla~ao interna dos estados membros, e hoje em dia possfvel comparar os diferentes dados contabilfsticos das empresas, com urn adequado grau de fiabilidade.

3.3. Instrumento de analise Como instrumento de analise fundamental recorremos a tecnica de benchmarking, aplicada a cada uma das variaveis supra definidas - de per si ou correlacionadas duas a duas- de modo a individualizar no paine] de empresas ja identificado e para o periodo referido, as melhores construtoras em cada urn dos indicadores e, tambem, no seu conjunto, mas agora tomando em considera~ao o peso ponderado atribufdo a cada uma das quatro variaveis de performance. Os valores de benchmark sao determinados para cada indicador ou pares de indicadores, atraves da elabora~ao de graficos construfdos maioritariamente a partir de par路es de valores (x, y), correspondente observa~ao grafica e analise da dispersao de resultados verificada, nao esquecendo a conveniente interpreta~ao dos valores extremos que se situar路am fora da fronteira de eficiencia estabelecida. Os resultados obtidos sao interpretados de urn modo agregado, de forma a se individualizar sempre que possfvel para cada urn dos indicadores, os correspondentes benchmarks, i.e., os valores passfveis de serem identificados como representati vos da eficiencia ou paradigma da excelencia, bern como os

- -- - - - --- - -- - - - - --- - -

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Luis Palma Ferro

motivos conducentes a esse primado. No processo de determina~ao dos benchmarks e sempre que tal se afiguro adequado, tem-se em considera<;ao o andamento temporal eo previsto para as variaveis macro-econ6micas que influenciaram de modo particular o sector da constru~ao, como por exemplo as taxas de juro ou o nfvel da despesa publica.

3.4. Determina~ao do indice de performance Estabelecidas as ideias chave sobre as quais se apoio o modelo de avalia~ao, importa agora definir os valores dos respectivos indices de Performance (/Per~, a partir da aplica~ao dos quatro indicadores de performance lj ja identificados (11 - Rentabilidade Financeira do Capital, 12 - Produtividade Econ6mica para o Accionista, 13 - Margem de Seguranr;a da Actividade e 14 Competitividade Econ6mica da Actividade), aos balan~os e demonstra~ao de resultados das empresas pertencentes ao paineI. As etapas percorridas ate a determinac;ao do /Per, foram as seguintes: 1) Para cada empresa inclufda no painel, e num dado intervalo de tempo, determinar os correspondentes valores dos indicadores de performance lj; 2) Construir para o indicador 11 e para cada par de indicadores 11 , lj, comj = 2, 3 ou 4, o correspondente grafico de dispersao, identificando para cada caso o benchmark Bj do painel de empresas e os desvios relativos, registados pelos restantes actores; 3) Conclufdas as diferentes analises, atribuir em cada uma delas para o indicador de performance ou pares de indicadores em causa, a nota~ao Nj, devida a cada empresa em fun~ao do seu desvio em rela~ao ao benchmark Bj ; A titulo de exemplo e para o indicador de performance generico Jj, ao qual C01Tesponde o benchmark Bj, atribuir-se-a a nota~ao Nj = 6 ao(s) actor(es) cujo valor se identifica como benchmark, ou dele difere com urn desvio Dj, tal que Dj ÂŁ 1Oo/o . Para as empresas com urn desvio Dj tal que, 10% < Dj ÂŁ 30%, atribuir-se-a a nota~ao Nj = 5 e, de igual modo e sucessivamente, para desvios

Lusfada. Economia & Empresa, II serie, n. 2/3 (2003)

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A industria da constrw;:ao e ob ras publicas: a performance de Portugal face

a Uniao

Europeia

Dj tais que 30% < Dj £50%, 50% < Dj £ 70%, e 70% < Dj £90%, atribuirse-ao respectivamente as nota96es Nj =4, Nj =3 e Nj =2. Por ultimo para valores de Dj, tal que Dj > 90% a nota9ao a afectar sera Nj = 1. 4) 0 valor do iNDICE DE PERFORMANCE, !Per da empresax, passfvel de analise e compara9ao no tempo e no espa9o sera dado por !Per= S Fj Nj, paraj = 1 a 4, tal que SFj = 1 e Fj obtido a partir da conversao ponderada das nota96es resultantes das respostas a urn questionario submetido a todas as empresas constantes no painel seleccionado, e a mais vinte diferentes institui96es I personalidades de me1ito reconhecido no domfnio em estudo.

3.5. Sujeitos do estudo Considerando o conceito anglo-sax6nico de General Contractors, nos quais se agrupam os grandes construtores que em todo o mundo trabalham por empreitada, independentemente do tipo de neg6cio ou do tipo de tecnicas de trabalho empregues, foram seleccionadas inicialmente- em fun9ao do respectivo volume de neg6cios em 1998 - as cinco maiores empresas de Espanha, Grecia, ltalia e Portugal que operam principal, ou mesmo exclusivamente, num ou em varios dos seguintes sub-sectores da industria da constru9ao: a) Construvao civil (habita9ao e escrit6rios); b) Transportes e obras publicas (aeroportos, estradas, auto-estradas, fermvias, pontes e portos, nomeadamente); c) Abastecimento de agua (barragens, diques, canais e aquedutos). Com este cliterio nao foram pois inclufdas deliberadamente as grandes empresas que operam no domfnio da energia (construvao de centrais electricas, centrais termicas e grupos electrogeneos, p. ex.), do petr6leo (refinarias, fabricas petroqufmicas e plataformas petrolfferas) e da constru9ao industrial (linhas de montagem). Como evoluir dos trabalhos, e em resultado das limita96es que nos foram impostas nomeadamente nos uni versos empresariais espanhol e grego - dada a dificuldade

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Lusiada. Econom ia & Empresa, Il serie, n. 2/3 (2003)

-

- - - - - - - - --

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Lufs Palma Ferro

havida em aceder ainformayao hist6rka, organizacional e econ6mico-financeira, relativa aos respectivos construtores nao cotados em balsa -, houve que reformular parcialmente a composiyao do painel de empresas, optando por se incluir urn total de vinte sociedades das quais seis nacionais, oito italianas e seis espanholas. Do exposto deve contudo acrescentar-se que o painel final construido nao desvirtuou significativamente o objectivo inicialmente preconizado - e que apontava para as cinco maiores empresas de cada pafs - ja que, uma vez excluidos os representantes gregos, incluimos os seis maiores construtores pmtugueses, os quatro maiores espanh6is, e os quatro maiores italianos. Deste modo, as empresas que integraram o paine} seleccionado para o desenvolvimento do nosso estudo foram as constantes no quadro seguinte:

Emprcsas Seleccionadas FomeniO de Construcciones y Contratas, SA .

Dmgados FCC

Espanha

Cinrpo Ferro\'ial Agroman, S.A

Gine::.__NaFarro! A CS, ActiPidad de Canst y Sen>.

__

Cu!Jierfas I Necso

Obra.\·con Huarte U.1in, S.A. lmpregilo

A1·toldi Cm1dotre r----------------------------------

COOPCOSTRUTTORI

It<llia

Trevi

!CLA

Bo11a11i Rizzani Sociedade de

Constru~·aes

Soares da Costa, S.A.

Tdreira Duarte -·· Engenharia e ConslntriJes, S.A. En gil, Sociedade de Construrl1o Civil, S.A.

Somague - SGPS, S.A.

Pmtugal

Ed(fer- Consrnu;Oes Pires Coelho & Fernandes, S.A. Grupo Mota & ComJ)(mhia, S.A.

Fig. 5 - Composi<;:iio do paine\ de empresas

---------·-· - - ·- -- - - - - · · - -- - -- - -- - - -·----

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A industria da

constru~iio

e obras publi cas: a performance de Portugal face

a Uniao Europeia

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3.6. Resultados A partir dos Relat6rios e Contas relati vos aos anos de 1994 a 1998 di vulgados pelas empresas integradas no painel seleccionado, estrutunimos uma folha de calculo onde se compilaram os dados requeridos para o preenchimento das rubricas volume de neg6cios, consumos, custos como pessoal, amortizac;oes, custos financeiros, activo lfquido e capital proprio, completadas com os val ores medios dos efectivos humanos em cada urn dos anos em analise. A partir destes dados de base calculamos os Resultados Liquidos Ajustados 14, o Cash Flow, o Valor Acrescentado Bruto (VAB ), os Custos Operacionais e os Custos Fixos, expressos em Euros, a prec;os correntes. Com a base de dados construfda, calculamos sucessivamente para cada uma das empresas e dos anos referidos, os valores assumidos pelas variavel de performance financeira RENTABILIDADE FINANCElRA DO CAPITAL (Rf) e variaveis de pe1formance econ6mica PRODUTIVIDADE Econ6mica PARA 0 ACCIONISTA (PeA), MARGEM DE Seguranc;a DA ACTIVIDADE (MS) e COMPETITIVIDADE Econ6mica DA ACTIVIDADE (CeA), bem como os respectivos sensores. Em ordem a possibilitar a amllise do impacto induzido das variaveis dependentes PeA, MS e CeA no indicador de performance financeira constitufdo como variavel independente, Rf, escolhemos urn metodo quantitativa que permitisse verificar se existe, ou nao, relac;ao entre os fen6menos em estudo, e avaliar o grau dessa rela<;ao. Para tale associando as variaveis duas a duas, utilizamos o metodo da correlac;ao linear simples,ja que a sua utilizac;ao permite tirar conclusoes sobre o universo a partir dos factos observados numa amostra, detenninando sucessivamente: - Os respectivos coeficientes de conelac;ao linear de Pearson, r, tal que r = (S x y- (S x) (S y) In) I SQR ((S x2 - S (x) 2 I n). (S y 2 - S (y) 2 I n )) com r I[- 1, 1]; -A equac;ao da recta de regressao linear, y = m x + b , com m = ( S x y- ( S x) (S y) In) I (S x2 - (S x) 2 In), e

Lusiada. Economia & Empresa , II serie, n. 2/3 (2003)

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Lufs Paln1a Ferro

b =( S y /n)- (( S xI n) * m), sendo possivel a partir daf estimar o valor de uma das va:riaveis, conhecido o valor da outra; _ 0 coeficiente de deterrnina~ao do modelo de regressao linear simples, r2, cujo valor indica a propor~ao da vmia~ao total da variavel y explicada pela vm路iavel x,ja que em termos de analise de regressao a variavel x e suposta sem eno, daf resultando que arela~ao entre x e y nao e do tipo y =f(x), mas sim y =f(x) + e, onde o valor dee , ou erro, contem as influencias sobre y nao devidas ax. Os resultados obtidos com a aplica~ao do metodo da conela~ao linear simples as variaveis estudadas- relativos aos ano inicial e final da observa~ao, 1995 e 1998, respectivamente -, apresentam-se nos quadros seguintes.

PeA

MS

CeA

Rf

PeA

1

f (-)

f (-)

f (-)

MS CeA

-0,238

1

f (-)

F

-0,120

- 0,162

1

mF (-)

Rf

-0,075

0,814

- 0,522

1

Fig. 6 - Matriz de correl a~ao simples das variaveis de performance para o ano de 1995.

PeA

MS

CeA

Rf

PeA

1

MF

MF

MF

MS

0,466

1

F

F

CeA

0 ,474

0,205

1

F

Rf

0,411

0 ,829

0 ,233

1

Fig. 7 - Matriz de correla~ao simples das vari<iveis de performance para o ano de 1998.

Lusfada. Economi a & Empresa, li serie, n. 2/3 (2003)

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A industria da

constru~ao

e obras publicas: a performance de Portugal face it Uniao Europeia

PeA

MS

CeA

PeA MS CeA

0,06

1

0 ,02

0,03

1

Rf

0,01

0,66

0,27

Rf

1

Fig. 8 - Matri z dos coeficientes de

detennina~ao

PeA

1

das variaveis de performance para o ano de 1995.

MS

CeA

PeA MS CeA

0,22

1

0,23

0,04

1

Rf

0,17

0,69

0,05

Rf

1

1

Fig. 9 - Matriz dos coeficientes de determinayao das variiiveis de performance para o ano de 1998.

Da sua analise integrada podemos extrair as seguintes conclus6es: -Entre 1995 e 1998 houve uma alterac;ao muito significativa no impacto das variaveis dependentes na variavel independente, reforc;ando o nivel de correlac;ao entre todas elas e passando de duas correlac;6es simples negativas e uma positiva, para tres correlac;oes simples positivas, das quais uma forte, uma moderadamente forte e urn a fraca. - Das tres variaveis dependentes, pode-se afirmar que a MS ea que apresenta urn maior impacto na Rf no tecido empresarial avaliado, explicando a sua variac;ao no ano de 1998, 69% dos resultados registados com a variavel independente. - Uma analise ponnenorizada intra-paises (vide Figura 12) permite-nos refe1ir, com a devida salvaguarda da dimensao dos correspondentes sub-paineis, que em 1998 o cluster portugues apresenta coeficientes de con·elac;ao simples superiores aos registados por todo o painel , enquanto que os italiano e espanhol evidenciam apenas identico comportamento para as variaveis PeA e MS, -

- ·- - · · - ·· --

-

- - - -·- - -· - - - · --

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·· · · - -- -··- - - · -- - - -

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Luis Palma Ferro

registando-se mesmo no caso espanhol uma correla9ao simples negativa entre aRfe a CeA.

Pars SP

Todo o Paine/

0,642

0,724

0,411

0,843

0,953

0,840

0,829

0,925

0,163

-0,316

0,233

PO

IT

PeA

0,657

MS CeA

Rf

Fig. I 0 - Coeficientes de

correla~ao

simples entre as variaveis dependentes

e a variavel Rf, por sub-paineis de empresas, para o ano de 1998.

4. Conclusoes A avalia9ao da performance empresarial das empresas deste sector acusta de urn conjunto de indicadores nao necessariarnente financeiros, conduz a resultados e conclus6es potencialmente diferentes, que encerram em si informac;:oes relevantes e cornplementares das obtidas exclusivamente atraves dos indicadores financeiros comuns. Retomando o teor do problema inicialmente formulado, onde questiomimos sea comparac;:ao e a hierarquiza9ao de empresas do sector da industria da construc;:ao civil e obras publicas, a custa de indicadores de performance de cariz eminentemente financeiro, seria a forma mais COJTecta para se avaliar este tipo de organizac;:oes, face ao exposto nos capftulos anteriores, e decOJTente da analise efectuada, poderemos extrair as seguintes conclus6es: a) 0 sector esta em profunda mudanc;:a, caminhando para uma crescente concentrac;:ao empresarial e diversificac;:ao de actividades, em que o recurso por pmte dos grandes empreiteiros aos subempreiteiros do tipo "supply-andfix contractors, i.e., aqueles que fomecem simultaneamente material e mao de obra, ou do tipo "labour-only subcontracting", i.e., aqueles em que a mao de - -- - Lusiada. Economia & Empresa, JJ serie, n. 2/3 (2003)

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,

........_ , _

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A industria da construyao e obras publi cas : a performance de Portugal fac e

a Uniao

Europeia

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obra tern o estatuto de empregado por conta propria, assume cada vez maior relevancia; b) As maiores empresas tornam-se tambem elas subempreiteiros de outras empresas I cons6rcios em que intervem, possibilitando uma redw;ao nas exigencias decorrentes da obten<;ao de capital e uma maior flexibilidade na aplica~ao do seu know-how; c) A gestao eo recurso principal eo mais escasso, e a sua quanti dade e qualidade determinam a maior ou menor eficiencia e efica~cia de uma empresa de constru<;:ao; d) Estamos perante urn sector de actividade de "decisao intensiva" aos mais variados nfveis- como refere MURRAY (1996) -, decorrente da incerteza provocada pelas condi~oes atmosfericas, caracteristicas do terreno e disponibiliza<;ao opmtuna dos meios materiais e humanos necessarios, razao pel a qual a diferen~a entre os concorrentes se manifesta imensas vezes atraves da forma como organizam e desenvolvem o processo da to mad a de decisao; e) 0 marketing continua arredado da maior parte das empresas, s6 se tornando recentemente uma parcela formal da organiza<;ao numa pequena percentagem delas, onde desenvolve uma aproxima<;ao proactiva- procurando os clientes, antes de terem um projecto definitivo em mente- e uma reactiva- respondendo formalmente a uma solicita<;ao especffica; f) Os factores crfticos de sucesso passam ao nfvel estrategico pela aposta em nichos de mercado com elevados requisitos de competencias tecnol6gicas e financeiras; complementarmente, importa diferenciar actividades, seleccionando interven<;5es em areas de neg6cio desfasadas entre si num mesmo ciclo econ6mico; g) Assiste-se a uma tendencia para urn crescente impacto dos diferentes indicadores de pedormance entre si- tanto a nivel nacional como internacional -com compmtamentos cada vez mais explicados por varia<;5es integradas das variaveis econ6rnicas e financeiras; h) Confirma-se a imporH'incia e a necessidade de se definir um novo modelo de avalia<;ao da performance empresarial, onde se integre de uma forma equilibrada outras medidas de performance, complementares das de cariz financeiro pois, a avalia~ao da performance empresarial no sector da industria da constru<;:ao dos pafses da Europa do sui, recorrendo exclusivamente a

Lu sfada. Economia & Empresa, II scrie, n. 2/3 (2003)

17 1


Luis Palma Ferro

indicadores de natureza financeira e redutora e conduz a conclusoes que nao expressam- quer quantitativa quer, muito especialmente, qualitativamente- a realidade eo comportamento das sociedades estudadas; i) De urn modo geral as empresas nacionais apresentam no seu todo, valores de Produtividade Econ6mica para o Accionista (PeA) inferiores aos registados pelas congeneres espanholas e muito especialmente, italianas, o que sugere a necessidade de projectar no futuro aptidoes com elevada capacidade para gerar riqueza, assentes numa estrategia de enorme efic;kia na utiliza<;ao do factor humano e correspondente remunera<;ao do seu desempenho; j) A Margem de Seguran<;a da Actividade, MS, nas empresas portuguesas e globalmente reduzida, apresentando mesmo nalguns casos valores menores do que zero. 0 seu crescimento passa, face aamUise efectuada, pelaredu<;ao dos custos fixos e pela necessidade de controlar para urn dado volume de neg6cios, o peso dos respectivos custos variaveis; k) Registe-se ainda a continuada perda de Competiti vi dade Econ6mica da Actividade, CeA, no seio das empres as lusitanas, necessariamente distante do desejado comportamento positivo patenteado pelas principais sociedades espanholas, e assente numa evolu<;ao consolidada no tempo deste indicador de performance, acusta do aumento da taxa de varia<;ao da Produtividade Econ6mica do Trabalho e da redu<;ao da cmTespondente taxa de varia<;ao dos Custos Operacionais.

Lusfada. Economia & Empresa, II serie, n. 2/3 (2003)

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A in dustri a da constru9ao e obras publi cas: a performance de Portugal face

a Uni ao

Europeia

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A contratualiza~ao em saude: modelos de financiamento

por Ricardo Silva Santos

Economista Mestre em Economia da Empresa (Universidade Lus{ada) Administrador Hospitalar

Resumo:

• Os consumidores no mercado da saude sao pouco sensfveis a dualidade pre~o/utilidade, assumindo um comportamento diferente daquele que assumiriam num mercado competitivo. • Em Portugal, como na maioria dos pafses da Europa Ocidental, um seguro nacional de saucle protege o consumiclor clos efeitos financeiros cia doen<;a, pagando pela maioria clos cuidados prestados aos cidadaos. • A contratual iza<;1io em saude e um processo de compatibilizac;ao dos interesses dos prestadores com os dos utilizadores, de modo que daf resulte a melhor soluc;ao possfvel para ambos. • Os mecanismos de contratualizac;ao sao cada vez mais utilizados na Europa, servindo como instrumentos de monitorizac;ao, de imp!ementa~ao de sistemas de planeamento e de fomento cia competi~ao entre os servic;os prestadores de cuidados de saucle, os quais, a diferentes tipos de contratos correspondem diferentes tipos de risco. • Os princfpios e metodologias seguidas no financiamento dos sistemas de saude, assumem particular importfmcia na definic;ao de linhas de orientac;ao estralegica, tendo em vista o seu desenvolvimento. • Em Portugal, o financiamento na saude provem maioritariamente do Or9amento do Estado. Uma forma de seguro implfcito, em que os cidadi\os beneficiados nao tem uma noc;ao exacta dos seus contributos para o financiamento cia saude, senclo que a imagem, normalmcnte, fonnada seja a cia gratuitidade do sistema. • A convergencia entre diferentes sistemas de saude, combinanclo princfpios de solidariedade e de equidade com mecanismos de competic;iio e uma realidade actual.


A

co ntratuali za~ao

em sat1de: mod elos de financiamento

1. Introdu~ao "0 equilibrio harmonioso que existiu, durante os 30/40 anos do p6s guerra, entre a equidade social, o crescimento econ6mico e a prospetidade, tern vindo a ser definitivamente afectado como crescimento de custos, o aumento das expectivas dos cidadaos e a impossibilidade de lhes fazer face numa 16gica de afectac;ao de recursos sucessivamente crescentes". (Lopes Martins, 1998) Urn mercado convencional usa prec;os para afectar recursos . Os prec;os representam custo para o consumidor, fazendo com que o consumidor compare a "utilidade" inerente ao consumo de urn produto com aquela que poderia ter derivado do consumo do melhor produto alternativo. Esses mesmos prec;os representam receitas para o produtor. Prec;os fixos por produto(s) incentivam o produtor a produzir ao me nor custo possfvel e a disponibilizar no mercado uma maior quanti dade daquele produto, ate que o seu custo marginal exceda o prec;o. A existencia de urn seguro faz com que o mercado funcione de maneira diferente. Em Portugal, como na maioria dos paises da Europa Ocidental, urn seguro nacional de satide protege o "consumidor" dos efeitos financeiros da doenc;a, pagando pela maioria dos cuidados prestados aos cidadaos. Assim, o incentivo do segurado para reduzir o consumo de cuidados e quase nulo. Por outro lado, os prestadores, e destes os medicos, estao mais bern equipados para julgar o "valor" da prestac;ao de cuidados do que os utentes. Assim, os consumidores, no mercado da satide, sao pouco sensfveis adualidade prec;o/ utilidade, assumindo um comportamento diferente daquele que assumiriam num mercado competitivo.

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0 que acima foi descrito pode ser vis to como urn exemplo de falha de mercado, porque nao consegue distribuir recursos escassos de forma eficiente. As varias propostas de reforma que estao, actualmente, a ser discutidas em muitos dos pafses da Europa Ocidental ten tam, de alguma maneira, modificar esta situas;ao mantendo a protecs;ao dos consumidores atraves de seguros de saude. Algumas destas propostas procm路am fomecer aos prestadores incentivos financeiros do tipo dos decorrentes do mercado concorrencial, por fmma a que estes produzam cuidados de uma maneira mais eficiente. Os exemplos incluem os pagamentos prospectivos/ors;amentos baseados em GDH (DRG), patentes, por exemplo, no caso pmtugues, pagamentos por capitas;ao, e capitas;ao, tambem como no caso portugues, para a prestas;ao de cuidados primarios. Outro tipo de propostas sao aquelas em que o que se pretende e que o consumidor possa escolher, de entre os diferentes seguros de saude, aquele que lhe pares;a ser o mais eficiente. Isto se1ia urn tipo de competis;ao geiida para os seguradores, em que estes teriam que assumir a gestao da prestas;ao de cuidados como forma de controlar os custos. Glennestar (1995) in Jacobs- Market Health Reform in Europe distingue diferentes esquemas unicamente pela extensao dos mecanismos de competis;ao que diferentes govemos introduziram, sugerindo uma grande similitude qualitativa entre as diferentes iniciativas. Saltman (1992) faz a distins;ao entre "modelo publico de competis;ao" e "modelo misto de mercado" nas reformas do Norte da Europa, considerando tambem ambos como vers5es do novo "paradigma". Segundo Lopes Martins (1998), uma questao interessante e a de saber se os modelos competitivos tern sucesso na contens;ao de custos e eficiencia. Segundo este autor, "E cedo para uma conclusao definitiva; a tendencia para a competis;ao encontra-se ainda num estado inicial."

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A

contratualiza~:ao

em sa(!de: modelos de financiamento

2. Da contratualizac;ao em geral 2.1. Conceito Num Servi~o Nacional de Saude reorganizado, as relas;oes hienirquicas entre as autoridades de saude e os prestadores de cuidados de saude (a urn nfvel macro) assumem urn caracter funcional. As mudans;as incluem tentativas de tornar a afectas;ao de recursos mais eficiente (Depmtment of Health and Social Security, 1976) e a introdu~ao de indicadores nacionais de desempenho do Servi~o Nacional de Saude (DHSS, 1972). Contudo, este tipo de politicas nao contempla nenhum tipo de solus;ao para os problemas de desvantagem econ6mico-social dos utilizadores. Em resposta a este tipo de preocupas;oes (DoH, 1989), a visao administrativa de gestao do servis;o de saude foi substitufda por um sistema baseado na negocias;ao ou na "competis;ao ge1ida" (Hunter, 1995). Um mercado interno baseado em fun~5es de oferta e de procura, fornece uma base na qual a presta~ao de cuidados deve ser negociada e as prioridades definidas (Hunter, 1995). Os utilizadores estao preocupados com a disponibilidade de recursos, com a forma como esses recursos sao distlibufdos e com a obten~ao do "melhor valor" do consumo desses recursos. Os prestadores, como organizas;ao independente tern que ponderar os Iueras e os custos de modo a gerarem poupans;as que lhes permitam reinvestir, desenvolvendo os servis;os. Deste ponto de vista, a contratualizac;ao nao se resume nem se esgota no processo negocial que conduz a efectivac;ao de urn contrato de prestas;ao de servi~os entre os utilizadores (ou uma terceira entidade pagadora que os substitui no processo) e os prestadores. A Contratualizas;ao engloba tambem a avalias;ao dos recursos disponfveis e das afecta~oes alternativas desses recursos tendo em conta as necessidades dos utilizadores, que sao tambem objecto de avalias;ao.

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A Contratualizac;ao assume, assim, urn papel determinante na definic;ao de: - Que recursos afectar; -A que necessidades; -A que utilizadores; - A que prec;o; -Com que objectivos. Nao se trata apenas de mais um cruzamento entre curvas de oferta e procura tentando atingirum equilfbrio econ6mico. Primeiro, porque existe um problema de informac;ao assimetrica entre utilizadores e prestadores, e em segundo lugar, porque a noc;ao de beneffcio social depende do tipo de abordagem defendida. Definir a Contratualizac;ao de maneira menos abrangente e numa perspectiva tradicional de "definic;ao" como qualificac;ao finita e bern delimitada seria, a meu ver, um erro e um exercfcio algo aniscado. Ediffcil delimitar a Contratualizac;ao porque ela pode desencadear imi meras reacc;oes que, nao estando englobadas no processo, nao sao verdadeiramente sepani veis da sua aplicac;ao, e gerarao outras reacc;oes, num processo encadeado. Contudo, de wna maneira muitfssimo simplista, poder-se-a dizer que a Contratualizac;ao e urn processo de compatibilizac;ao dos interesses dos prestadores com os dos utilizadores, de modo que daf resulte a melhor soluc;ao possfvel para ambos. Quanto aterceira entidade pagadora, Yen, Shut & Rutten ( 1994) definiram tres grandes tipos de func;oes (WHO, 1995): -A func;ao seguradora- a entidade pagadora actua de forma a reduzir o risco financeiro ao nfvel da utilizac;ao de cuidados de saude, absorvendo os custos dos tratamentos muito caros; - A func;ao de Agencia- reconhecendo o facto de que os utilizadores (na sua maioria) nao possuem conhecimentos tecnicos suficientes para discernir o que devem ou nao escolher ("comprar"), em termos de cuidados de saude (problema da informac;ao assimetrica), os terceiros pagadores, melhor informados acerca dos tratamentos medicos adequados, podem assumir o

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contratuali za~ao

em saucle: modelos de financiamento

papel de compradores mais prudentes, substituindo-se, neste papel, aos utilizadores; - A funs:ao acesso - A terceira entidade pagadora actua por forma a garantir o acesso universal aos cuidados de saude.

2.2. Algumas questoes Os mecanismos de Contratualizac;ao estao a ser cada vez mais utilizados nos pafses europeus. Estes mecanismos podem servir como instrumentos de monitorizac;ao, de implementac;ao de sistemas de planeamento e de fomento da competic;ao entre os servic;os prestadores de cuidados de saude. A diferentes tipos de contratos correspondem diferentes tipos de risco. Se os contratantes pretendem minirnizar o seu risco, preferirao contratos globais ou contratos do tipo custo-volume (como adiante se acentuani). Assim, a maior fatia do risco estara inerente ao pagamento de custos marginais em casos adicionais. Ao utilizar o custo por caso, os contratantes (compradores) tern maior liberdade, nao tendo que enviar os "pacientes" a nenhum prestador especffico. S6 que, se surgirem mais casos do que os previstos, terao que pagar por cada urn deles o custo total inerente ao tratamento do caso especffico (custos totais + custos marginais). Em teoria, os "compradores" deveriam actuar como representantes inteligentes dos interesses dos utilizadores. Isto implicaria que deveriam desempenhar um papel activo na tentativa de alcanc;ar maior qualidade, equidade e ganhos em saude ao menor custo possfvel. Contudo, o conhecimento dos "compradores" e normalmente limitado, impossibilitando o desempenho de urn papel mais activo. Uma perspectiva mais alm路gada, assume que os contratantes deveriam possuir uma visao de tipo publico, necessaria para garantir que os servic;os nao sao prestados apenas para satisfazer necessidades indi viduais, mas para gm路antir um beneffcio publico no uso de recursos escassos.

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Em termos de equidade, qualquer mecanismo que introduza competi<;ao ou liberdade de escolha, implica, em ultima analise, escolhas diferentes com consumos diferentes. Por outro lado, se os contratos forem feitos com base em criterios que dao prioridade a areas mais desfavorecidas ou aqueles que necessitam mais dos servi<;os, a Contratualiza<;ao pode introduzir algum grau de equidade. Os resultados dos contratos sao diffceis de avaliar. A obten<;ao de dados que demonstrem efectividade e diffcil, bern como a sua quantifica<;ao. Em parte, e devido a isto que se da maior aten<;ao aos processos em detrimento dos resultados. Dos contratos podem tambemresultar efeitos indesejados ou incentivos negativos. Por exemplo, nalguns contratos, os prestadores sao pagos para terminarem o "epis6dio de consulta". Urn epis6dio acabado implica que o utilizador tern alta ou morre. 0 problema e que muitas vezes a unica maneira de terminar urn epis6dio e com a morte do doente, o que significa que os prestadores sedio pagos de acordo como numero de mortes. A Contratualiza<;ao pode "obrigar" os participantes a serem mais explfcitos acerca do que contrataram. Pode ser urn instrumento de tomada de decisao mais transparente, uma ferramenta para coordenar as actividades. Para os decisores, os contratos podem espelhar com urn grande grau de especificidade aquilo que os prestadores se comprometeram a fazer, permitindo a compara<;ao posterior com o que realmente fizeram . Os contratos sao tambem importantes no estabelecimento de prioridades entre servi<;os, e podem for<;ar os prestadores a serem mais eficientes e a fazerem mais com os seus recursos. A Contratualiza<;ao nao se concentra verdadeiramente no pre<;o dos servi<;os, embora para os prestadores seria uma vantagem se urn custo fosse indisputavel, dado que assim, as terceiras entidades pagadoras apenas teriam duas alternativas, que seriam, a de pagar ou a de abandonar a aquisi<;ao do servi<;o. (WHO, 1995). Tern ha vido urn mau er:tendimento acerca da natw-eza dos contratos. Os contratos

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A contratualiza<;:ao em saude: modelos de financiamento

nao deveriam ser vistos apenas como instrumentos de compra, mas como ferramentas para facilitar o acordo entre os intervenientes. 0 enfase na tecnicidade dos contratos apenas tern servido para desviar as atenc;oes dos seus verdadeiros objectivos. A Contratualizac;ao nao pode ser urn instrumento de reforc;o da cadeia de comando em te1mos de poder governamental. Se isto acontecer, entao e provavel que a defesa de interesses politicos destrua o seu potencial para atingir outros objectivos.

2.3. 0 que a contratualiza~ao nao pode fazer A Contratualizac;ao nao sera capaz, por si s6, de criar recursos. Pode reafectar e introduzir mais eficiencia, mas o processo nao gera recursos extra. Ninguem sabe a resposta apergunta- A Contratualizac;ao funciona muito bern, bern ou menos bern? Existem muitas expectativas, mas a Contratualizac;ao nao pode resolver todos os problemas de urn pafs ou regiao. Uma grande parte dos cuidados e prestada de maneira informal, e isto nunca podera ser objecto de Contratualizac;ao. Por exemplo, muitos dos cuidados sao prestados pela famflia. Tambem alguns aspectos do exercicio profissional dos prestadores de cuidados esta para alem do que pode ser descrito num contrato. Os profissionais podem praticar certo tipo de actos porque tern urn compromisso como sistema e nao porque isso esteja patente no contrato. "A Contratualizac;ao nao e urn fim em si mesma, mas urn instrumento".(WHO,

1995).

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3. Modelos de financiamento 3.1. Principios e metodologias Os principios e metodologias seguidas no financiamento dos sistemas de saude, assumem particular importancia na definivao de linhas de mientac;ao estrategica, tendo em vista o seu desenvolvimento. 0 financiamento dos sistemas de saude assenta em dois pontos fundamentais: a) As fontes de financiamento, ou seja, a origem dos recursos; b) A distribuic;ao dos recursos, ou seja, como pagar OS cuidados de saude prestados (metodos de transferencia de recursos para a(s) entidade(s) prestadora(s)) Quanto as fontes de financiamento, OS sistemas podem ser: a) Compulsivos, em que os recursos sao obtidos atraves de impostos ou de seguros de saude obrigat6rios, estando as contribuiv6es normal mente ligadas aos rendimentos dos indivfduos e das empresas; b) Voluntarios, em que o utente, de sua livre vontade escolhe aderir a uma forma de seguro privado e/ou pagar directamente ("out of the pocket money") os cuidados recebidos. Quanto a distlibuivao de recursos, podemos apontar, essencialmente, dois tipos de sistemas: a) Integrados, assentando na dotac;ao ou pagamento directos porparte de quem os dirige e emprega; b) Contractuais, casos em que os prestadores sao independentes das entidades financiadoras, estabelecendo com estas cont:ratos de prestavao.

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A contratualiza9ao em saude: modelos de finan ciamento

Existem quatro fontes fundamentais de financiamento de cuidados de saude: 1 -Impastos; 2- Contribui~oes obrigat6rias em esquemas de seguro social; 3 - Subscri~6es voluntarias em esquemas de seguro privado; 4- Pagamentos directos ("out of the pocket money"). Nao ha contudo sistemas ditos "puros", existem sim (Lopes Martins, 1998): - Sistemas tipicamente baseados em impastos (Modelo Beveridge) que tambem incluem elementos de seguro social e de seguro privado; -Sistemas baseados em fundos de saude (Modelo Bismark) que tambem integram elementos de financiamento via impastos, seguros de saude aut6nomos ou complementares e mesmo pagamentos "out of the pocket" . Do primeiro tipo de sistemas sao exemplo a Dinamarca, a FinHlndia, a Irlanda, o Reino Unido e a Suecia. Pafses como a Espanha, Grecia, Italia e Portugal transitaram, nos anos 70 e 80 de modelos baseados em esquemas de seguro para modelos baseados em impastos. Do segundo tipo de sistemas sao exemplo a Alemanha, a Austria, a Belgica, a Fran~a, a Rolanda eo Luxemburgo. Os modelos de financiamento voluntarios, funcionando at:raves da rela~ao directa prestador-consumidor, tendem a rest:ringir o acesso as classes sociais de mais elevados rendimentos. Nao existem entidades reguladoras ou financiadoras e o Estado apenas intervem em aspectos especfficos de saude publica.

0 paradigma deste tipo de modelo de financiamento encontra-se nos E.U.A. em que os gastos em saude representam cerca de 14% do PIB (sendo que a media da Uniao Europeia e inferior a 8%) e 1/5 dos cidadaos nao tern nenhuma cobertura em cuidados de saude (Discurso de Bill Clinton).

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A novidade dos seguros voluntaries com contrato, reside no facto de se estabelecerem rela~6es contractuais entre seguradores e prestadores, permitindo aos plimeiros um controlo directo sobre a actividade dos segundos, e pe1mitindo a elimina~ao do reembolso ou indemniza~ao do utilizador. Entre o utilizador eo prestador deixam de existir quaisquer fluxos financeiros. Os modelos compulsi vos separam claramente o financiamento da saude da financiamento e feito a partir de contribui~ao obrigat6ria, em fun~ao dos rendimentos dos cidadaos e das empresas, enquanto que o consumo de cuidados e, em princfpio, gratuito e definido em fun~ao das necessidades. Este tipo de modelos preconizam a solidmiedade no financiamento e a equidade no acesso.

presta~ao de cuidados. 0

Integrado nos modelos de fmanciamento compulsives, o seguro publico obrigat6rio integrado e urn modelo em que nao existe urn mercado de saude, ja que o Estado funciona simultaneamente como segurador e prestad or. Eo modelo tipico das vers6es originais do SNS. Neste tipo de modelo, o monop61io do Estado no financiamento e na presta~ao e urn convite a sub-produ~ao e a degrada~ao das condi~6es de atendimento, e a aparente gratuitidade dos servi~os, pode gerar a utiliza~ao desregrada de cuidados de saude. A distribui~ao intema dos recursos, neste tipo de modelos, e feita essencialmente atraves da consigna~ao de oryamentos globais as institui~6es e de salarios para os profissionais. Alguns modelos de seguro publico obrigat6rio tern evolufdo para uma base contractual, como eo caso do SNS do Reino Unido. No essencial, de um lado passmmn a existir entidades financiadoras ("fundholders") e do outro entidades prestadoras (clinicos gerais, hospitais, etc.). Os recursos finm1ceiros sao transferidos pma as entidades financiadoras (geralmente autoridades regionais de saude) que funcionam como compradores junto dos prestadores.

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contratualiza~ ao

em saude: modelo s de finan ciame nto

Tais mudan~as, alteraram radicalmente o funcionamento do SNS do Reino Unido, introduzindo (CRSS, 1998): a) Autoridades regionais de saude dotadas de recursos financeiros, provenientes do Governo, para comprar cuidados de satide (calculados principalmente segundo processos de capita~ao ponderada); b) Existencia de competi~ao entre os prestadores; c) Contratualiza~ao de responsabilidades entre financiador e prestador; d) Introdu~ao da filosofia dos "managed care", ao facultar-se aos clfnicos gerais a possibilidade de serem responsaveis pela saude global dos seus clientes, nao s6 no seu apoio directo mas ainda pelo encaminhamento e pagamento dos cuidados realizados a juzante. Este tipo de modelo apresenta contudo alguns riscos: a) a possibilidade de os contratos privilegiarem o bin6mio quantidade-pre~o em vez da rela~ao qualidade-pre~o; b) A tendencia para a desnata~ao do sistema por parte dos clfnicos gerais, privilegiando os aderentes com melhor petfil; c) A possibilidade de alguns hospitais poderem exercer urn monop61io na sua regiao, perante urn poder de compra fragmentado entre autoridades regionais e alguns clfnicos gerais; d) Os custos gerados pel a implementa~ao e desenvolvimento dos sistemas de informa~ao e de gestao.

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3.2. Questoes-chave sobre o modelo actual de financiamento da satide em Portugal A questao do financiamento da saude em Portugal tern sido objecto de alguma controversia, inserindo-se no gmpo de questoes mais debatidas actualmente em rela~ao a este "sector". 0 financiamento, na saude, provem, maioritariamente, do Or~amento de Estado. Estas receitas correspondem a impostos directos e indirectos pagos por todos os cidadaos e agentes econ6micos individuais ou colectivos. Estamos, assim perante uma forma de seguro implicito, em que os cidadaos e as familias nao tem uma no~ao exacta dos seus contributos para o financiamento da saude, sendo que, a imagem normalmente formada seja ada gratuitidade do sistema. 0 tipo de comportamento que daqui resulta esta patente no baixo nfvel de exigencia dos utentes e na sobre-utiliza~ao dos servi~os de saude, bem como na duplica~ao de seguros de saude, porque se avalia malo que se paga. Hoje, mais de 30% dos portugueses estao dupla ou triplamente abrangidos por seguros de saude. Este tipo de atitude faz com que a capacidade de resposta dos servi~os se afaste cada vez mais das expectativas das pessoas, nao havendo incentivos para a • racionaliza~ao da presta~ao . Outro problema, e 0 de que OS impostos que estao na base do seguro publico obrigat6rio nem sempre sao totalmente canalizados para a saude, dependendo de decisao governamental, que tera como factorponderador a conjuntura politica.

3.3. Sistemas de financiamento baseados em incentivos Ha muito que e sabido que a maneira como os prestadores sao pagos tern grande influencia na forma como esses cuidados sao prestados. 0 desafio tern sido ir de

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contratuali za~ao

em saude: modelos de financiamento

encontro as necessidades dos utentes, tendo em aten<;ao a imposi<;ao administrativa de cont:rolo dos gastos. Por outras palavras, os gestores, ao nfvel da presta<;ao de cuidados de saude, tern, para cada caso, que encontrar o equilfbrio entre fornecer ao individuo os recursos medicos que ele necessita e assegurar que esses recursos tambem se encontrarao disponfveis para o consurr•J de futuros utentes. Fundamentalmente, OS sistemas de financiamento da saude podem funcionar atraves do "comando" e controlo directos sobre os prestadores, ou dando a estes incentivos financeiros que os levem a produzir eficientemente. Estes incentivos sao gerados pelas expectativas de obten<;ao de recompensas e pelo risco de existencia de perdas, que sao caracterfsticas dos mercados competitivos. No desenvolvimento de sistemas deste tipo podem ser utilizados diferentes unidades de medida, as quais se encontram associados diferentes nfveis de incentivos para a conten<;ao de custos. Estas alternativas percorrem urn espa<;o continuo que varia do menor para o maior risco financeiro para os prestadores.

~-S-e-rv_i_c;:o-In-d-iv-id~~~ - -f---- -_·- - - - - 1 - - - - - - - - - t - - - - - - - - il Capitac;:ao I (Pagamento p/servic;:o)

Dia

Admissao

Epis6dio

> incentivo/risco

< incentivo/risco Fi g. I - Vertrees, 1998

Em esquemas do tipo pagamento por servi<;o, o incenti vo a restti<;ao do numero de procedimentos e nulo, dado que quanto maior for 0 numero de "tratamentos" mais o prestador recebe. Por esta razao, nao existe risco em prestar mais servi<;os. Em oposi<;ao, nos esquemas do tipo capita<;ao, os seguradores/prestadores sao dotados de urn valor financeiro para prestar todos os cuidados de saude necessarios a uma popula<;ao definida durante urn ano. Por exemplo, o Governo

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pode pre-pagar urn dado montante por cada pessoa de uma regia.o em pmticular. Assim, os seguradores/prestadores assumem o risco de todo o volume de presta~6es, o que faz com que exista urn enorme incentivo a restringir os servi~os prestados aos utentes. De facto, cada uma destas unidades, e cada uma das suas combina~6es, desempenha urn papel importante no pagamento e na gestao de cuidados de saude. Por exemplo, urn govemo pode dotm路 uma regiao de recursos financeiros utilizando urn esquema de capita~ao, que por sua vez pode usm路 um esquema do tipo GDH para contrastar com os hospitais desse regiao. Contudo, o uso de modelos baseados em incentivos levanta um conjunto de quest6es fundamentais (Vertrees, 1998): a) Sera permitido que os hospitais atinjam situa~oes de falencia ? b) Se is so acontecer, quem prestm路a cuidados na area anteriormente abrangida pelo hospital ? c) Sera concedida aos hospitais a faculdade de despedimento de medicos e enfermeiros ? d) 0 que acontece aos lucros e as perdas ? e) Pode um plano/regiao recusar-se a um processo de contratualiza~ao com um hospital? f) Quem paga pelo ensino e pela investiga~ao ?

g) 0 que acontecera se um plano ou regiao falirem ? 0 fundamental, a reter, nao e que estas quest6es sejam impossfveis de resolver, mas sima sua importancia nos processos de decisao.

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3.4. A convergencia para os modelos contratuais A convergencia entre diferentes sistemas de saude, combinando princfpios de solidariedade e de equidade (em que a interven~ao do Estado, ao nivel da regula~ao, e indispensavel) com mecanismos de competi~ao (em que se procura obter maior eficiencia e equidade reconendo as regras de mercado), e uma realidade actual. Na Europa, a transi~ao que se verifica em modelos de saude do tipo SNS, como nos casos do Reino Unido e da Suecia, vai no sentido de se introduzirem mercados internos (mesmo dentro de urn sistema publico), separando-se claramente prestadores e compradores de cuidados de saude. (CRSS, 1998) A teoria da convergencia dos sistemas de saude, faz aproximar diferentes modelos em tomo de dois atributos fundamentais (CRSS, 1998): a) Os modelos de saude devem funcionar numa base contractual (WHO, 1996) em que os prestadores sao independentes dos financiadores do sistema, estabelecendo-se entre eles rela~oes de compra e venda de servi~os num mercado em que os diferentes agentes se encontram sem grandes assimetrias de infonna~ao; b) Os governos devem assurn:ir essencialmente urn papel regulador, que garanta a efectividade dos cuidados, a equidade no acesso, o controlo dos custos e a qualidade. 0 primeiro atributo impoe maior responsabilidade a financiadores e prestadores e toma as suas rela~oes mais transparentes, promovendo, tambem, uma "orienta~ao dos servi~os para o cliente". 0 segundo, funciona como garante dos direitos dos cidadaos, universaliza os cuidados, racionaliza as despesas em saude e fomenta a qualidade dos cuidados prestados.

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0 objectivo essencial destas refmmas e a obtens;ao de "more value for money", tentando racionalizar o sistema por forma a obter ganhos de eficit~ncia, sem descurar os valores basicos inerentes ao Servis;o Nacional de Saude, em que o papel regulador do Estado e, de facto, insubstitufvel.

3.5. Do SNS as regras de mercado

A medida

que o arsenal tecnico-cientffico se amplia e moderniza, mais necessidades tem os Sistemas de Saude de se munirem de processos racionais de gestao, que mobilizem convenientemente os recursos, organizem adequadamente a produs;ao de cuidados e concebam instrumentos de avalias;ao ajustados aos diferentes agentes e instituis;oes envolvidas. Nos ultimos 25 anos houve, em Portugal, um grande progresso em indicadores de saude como a mortalidade peri-natal e infantile a mortalidade materna. Se reconhecermos que a melhoria dos indicadores econ6micos e culturais tiveram a sua influencia, e tambem de reconhecer que a melhoria das condis;oes de prestas;ao de cuidados de saude, reals;ando um importante crescimento da taxa de cobertura do territ6rio nacional, possibilitada pela crias;ao no ambito do Servis;o Nacional de Saude de novos hospitais e centros de saude, foi um factorrelevante. Ap6s termos registado valores relativamente maus, estamos ja com nfveis em·opeus, embora baixos. A melhoria a introduzir neste momento tera que depender, fors;osamente, de uma intervens;ao mais profundae aJm·gada no sistema de saude. Urn dos pontos crfticos do SNS portugues e o facto de o cidadao nao ter liberdade de escolha e dos prestadores nao sofrerem qualquer tipo de pressao pm·a produzir mais e melhor, mimetizando de forma pouco perceptive} para os diferentes agentes, as funs;oes de financiamento e de prestas;ao. Recorrendo ao exemplo do Reino Unido, e de alguns outros pafses em·opeus, em que a nos;ao de "internal market" ou "quasi mm·ket" vem assumindo cada vez

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maior fon;a, epossivel alterar esta situac;ao sem que is so afecte os principios orientadores do SNS. Para que as regras de "mercado intemo" sejam introduzidas, toma-se necessario (Al Gore, 1996): 1 - Separar as entidades que financiam daquelas que pres tam os cuidados de saude; 2 - Estabelecer o principio de compra e venda de cuidados de saude entre as primeiras e as segundas (modelo contractual), a volta de criterios de necessidade, efectividade, qualidade e prec;o; 3 - Fomentar uma competic;ao entre agentes prestadores, regulada por aqueles critelios e controlada pelas autoridades que dirigem o SNS; 4- Facilitar aos cidadaos o acesso, em regime de escolhas condicionadas pelo seu medico assistente, a servic;os hospitalares altemativos, abdicando do conceito de area de influencia; 5- Descentralizar ate ao nivel sub-regional a capacidade de decisao das entidades financiadoras do SNS (os "fund-holders") sobre os criterios de compra de cuidados de saude enunciados em 2; 6 - Dotar os hospitais de autonomia tecnica, administrativa, financeira e patrimonial, libertando-os dos constrangimentos da administrac;ao publica, designadamente em materia de pessoal, aquisic;oes e orc;amentac;ao. Urn mercado a funcionar nestes termos, fara com que o financiamento passe a ser orientado em func;ao do que se produz e nao em func;ao do que se consome. A preocupac;ao essencial do financiador sera verificar se os gastos efectuados corresponderarn a ganhos ern saude, dentro dos compromissos custo-efectividade pre definidos, e nao saber exactamente qual a estrutura de custos da instituic;ao, a forma a pagar aos medicos ou o mocdo como adquirir novas tecnologias (CRSS, 1998). Esta ideia de mercado comporta em si uma especie de "confronto control ado" entre oferta e procm路a, sendo defensavel que, num primeiro momento, as entidades financiadoras assumam as necessidades de toda a populac;ao, fazendo uma op<;ao

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clara por aquila que, em cada momenta, se julgar serem essas necessidades. Num modelo deste tipo, aquila que determina o impacte econ6mico e que e decisivo para a efectividade e para a qualidade e decidido pelas entidades financiadoras e nao pelos cidadaos enquanto utilizadores. Ao nivel da defini<;ao dos pre<;os existem tres cemirios possiveis (CRSS , 1998): 1 - As entidades financiadoras podem impor as suas regras aos prestadores, at:raves da apresenta<;ao unilateral de tabelas de pre<;os (caso do financiamento porGDH) ; 2- Numa atitude mais aberta, podem negociar tabelas de pre<;os iguais para todos os prestadores; 3 - Outra alternativa sera a de aceitarem a concorrencia tam bern pelos pre<;os, nao havendo a preocupa<;ao de uniforrnizar os pre<;os para o mesmo tipo de cuidados. Nos dois primeiros casos a competi<;ao far-se-a apenas pela qualidade, dependendo essencialmente da forma como os utentes a reconhecem (quais as variaveis as quais sao mais sensiveis). Na terceira op<;ao, a escolha dos hospitais podera ser feita atraves da aplica<;ao simples do criteria do mais barato, preferindo institui<;oes que consigam produzir com grandes economias de escala, descurando a qualidade. Dar-se-ia a "macdonaliza<;ao" do mercado da Saude (Saltman, 1996). Urn Estudo encomendado pelo entao Ministro da Saude, Paulo Mendo, completado em Mar<;o de 1995 , propunha as seguintes recomenda<;oes estrategicas (CRSS, 1998): 1 - A evolu<;ao, a partir do sistema actual, deve ser gradual, o Estado deve usar fmmas de regulw;ao da concorrencia; 2- 0 estatuto das unidades publicas de presta<;ao deve ser gradualmente ajustado (sem o que nao poderao agir num mercado concorrencial); 3 - Estas unidades devem ter urn financiamento prospectivo e relativo aos servi<;os

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a pres tar; 4- Abertura para formas diferentes de organismos da concorrencia; 5 - A negocia<;ao com os prestadores deve ser descentralizada, possibilitando uma pluralidade de op<;6es ao longo do territ6rio nacional.

A medida que Pmtugal come<;a a considerar valios modelos de gestao/capita<;ao de cuidados de saude, existem, finalmente, dois pontos que vale a pena mencionar. Primeiro, para que um sistema de capita<;ao resulte e necessario que sejamos capazes de medir o status de saude num plano/regiao e de projectar o status de saude futuro . Segundo, is to vai exigir a disponibilidade de informa<;ao acerca do status de saude de cada indiv:fduo compreendido nesse plano/regiao. Segundo Miguel Gouveia (1998), Director Adjunto da Faculdade de Ciencias Econ6rnicas e Empresariais da Universidade Cat6lica Pmtuguesa, e para concluir, "0 fundamental e que os mecanismos de mobilidade funcionem onde os mecanismos de voz e patticipa<;ao ate agora falharam. Porque, no caso da saude, nao existe nenhuma superioridade intrinseca, teoricamente demonstravel, pma qualquer uma das solu<;oes, empiricamente e6bvio que o mecanismo da voz nao chega. E, o meu ponto final quanto ao qual nao tenho duvidas, a chave da possibilidade de mudm o sistema para ele servir os seus fins sociais, esta em dm路 poder as pessoas, o que se consegue pela introdu<;ao robusta de mecanismos de safda, da possibilidade de bater com a porta."

4. Perspectivas sobre a

contratualiza~ao

em Portugal

Quanto a forma de pagamento dos hospitais, existe ja algum consenso entre os economistas da saude e os politicos sobre o enquadramento geral da reforma que se desenha em Portugal, no quadro do actual SNS. A tendencia e para que o financiamento da saude em Pmtugal se aproxime de um modelo de contrato publico, combinando o financiamento publico com urn sistema de contratos entre pagadores e prestadores que se encontram funcionalmente separados (Bentes, M.), seguindo os passos das reformas dos

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sistemas de saude europeus durante as decadas de 80 e de 90 (OCDE, 1994). A contratualiza<;ao nao constitui, em si mesma, urn modelo de pagamento superior. A capacidade de gerar incentivos positivos depende, em grande parte, do esquema financeiro do contrato (Bentes, M.). A grande vantagem da contratualiza<;ao esta no seu potencial como instrumento de planeamento (Cairns, 1993), como forma de exphcitar os objectivos e de os transformar em mudan<;as reais, promovendo o financiamento adequado para que essas mudan<;as sejam operadas pelos prestadores (Bentes, M.). A boa informa<;ao e urn factor chave para que os contratos cumpram a sua fun<;ao de planeamento (Bates, 1996). Os pagadores necessitam de boa informa<;ao para poderem tomar decisoes correctas sobre os servi<;os a contratar. Os prestadores, para garantirem eficiencia na produ<;ao dos seus servi<;os. Finalmente, para exercer a sua fun<;ao reguladora e garantir a transparencia do "mercado", o Estado tambem necessita de boa infonna<;ao para avaliar os dois grupos de intervenientes (Bentes, M.). Mas sendo uma condi<;ao necessaria, a disponibilidade de informa<;ao nao e uma condi<;ao suficiente para viabilizar a mudan<;a que a contratualiza<;ao de servi<;os implica. 0 sucesso de uma reforma depende, tambem, e sobretudo, da capacidade pratica de implementa<;ao e da existencia de pre-requisitos para o sucesso (Bentes, M.). A mudan<;a tern que ser gradual, mas em passos seguros, para que o "processo progressivo, dinamico e sustentado" resulte, de facto, numa "mudan<;a estmtural" (WHO, 1996). Ern todo o caso, existem problemas que continuam sem resposta, tais como: -A capacidade de a contratualiza<;ao gerar monop6lios do Iado dos prestadores, atraves da exclusao das propostas menos atraentes, tornando diffcil a sobrevivencia de urn servi<;o, se o financiamento fosse todo contratualizado, e

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gerando dependencia da entidade pagadora, levando aeventual diston;;ao dos valores a financiar; - 0 problema da possfvel associac;;ao de hospitais com interesses comuns, inflacionando os valores acordados nos contratos; - A capacidade de recusa, por parte da entidade financiadora, de dete1minados hospitais para prestac;;ao de determinados tipos de cuidados; - A influencia das decisoes da entidade pagadora na gestao dos hospitais, se esta tiver caracterfsticas de monop6lio.

Enecessaria investir em metodos mais rigorosos de determinac;;ao de custos, resultantes da actividade produtiva, mas tambem das componentes nao produti vas. Para alem disto, tambem e necessaria a implementac;;ao de esquemas fiaveis de monitorizac;;ao ao nfvel da eficiencia da prestac;;ao, da qualidade da mesma (acreditac;;ao e certificac;;ao previa) e da satisfac;;ao dos consumidores, para que a introduc;;ao de regras de mercado (ou quasi-mercado) constitua, efectivamente, uma mudanc;;a positiva (Bentes, M.). A "fmwao agencia" eintermediaria entre o cidadao e os servic;;os prestadores de cuidados. Como instmmento desta relac;;ao existe o orc;;amento programa, que visa relacionar a actividade prevista numa organizac;;ao eo financiamento atribufdo. Este instrumento (contratualizac;;ao), actual mente a ser testado, com a criac;;ao das agencias de acompanhamento, comporta tres fases de desenvolvimento: aplicac;;ao em termos marginais; aplicac;;ao ageneralidade dos servic;;os; alterac;;ao dos modelos de financiamento (Direcc;;ao-Geral de Saude, Documento de Apoio).

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5. 0 pagamento prospectivo, a capita(_;ao e o risco financeiro Em qualquer analise de risco, considerado.

e importante

definir qual o tipo de risco

0 risco financeiro tern por base as incertezas inerentes a obten<;ao de "cash flows" esperados. Se todos os "cash flows" futuros associados ao reembolso de urn determinado contrato fossem certos (conhecidos com certeza), nao haveria risco financeiro (L.C. Gapenski and B. Langland-Orban, 1996). 0 risco financeiro pode ser classificado segundo varias dimens6es, mas duas delas assumem pmticular relevancia (Palisade Corporation, 1992): -Risco objectivo- quando econhecido com confians;a o risco inerente a urn rendimento incerto. Por exemplo o lan<;amento de uma moeda tern risco objectivo. E incerto se do lan<;amento resultani cara ou coroa, mas a probabilidade de qualquer uma das duas sair econhecida com confian<;a (50%); - Ri sco subjectivo - este tipo de risco ocorre quando a distribui<;ao de probabilidade e, em si mesma, incerta. Por exemplo, urn determinado meteorologista pode indicar que a probabilidade de chover e de 20%, mas diferentes meteorologistas podem indicar diferentes probabilidades para o mesmo acontecimento. Este trabalho foca-se na analise do ri sco financeiro objectivo inerente aos contratos de pagamento prospectivo e aos de capita<;ao, dado que por defini<;ao, o 1isco subjectivo nao pode ser medido.

Eimportante tambem sublinhar que em muitos dos tipos de reembolso, as taxas sao tao baixas que nao conseguem cob1ir os custos. No entanto o prestador nao assume necessariamente urn risco muito elevado, porque o risco efun<;ao da incerteza e nao do lucro. A questao eque muitos pagadores que oferecem contratos por capita<;ao tern

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A contralua liza<;:ao em saude: mod elos de financ iamento

urn grande poder de negocia~ao que pode ser usado para negociar contratos com cll:'iusulas muito apertadas. Estas clausulas, e as perdas daf resultantes, nao sao devidas ao risco financeiro inerente ao contrato, mas ao poder negocial do comprador. Devido ao crescimento do rendimento real dos portugueses e ao enraizamento de expectativas rna is exigentes quanta ao nivel dos cuidados e quanta aos padroes mfnimos de bem-estar necessarios para uma qualidade de vida condigna, a procura de cuidados de saude tern aumentado muito nos ultimos anos (Miguel Gouveia, Professor da Universidade Cat6lica Portuguesa). Ainda segundo Miguel Gouveia, o problema nao e aumentar a capacidade instal ada no sistema de saude, mas aumentar o nfvel de eficiencia. Quando os prestadores sao reembolsados com base em pre~os ou custos, os terceiros pagadores acordam no pagamento de cada servi~o prestado individualmente, e os seguradores assumem a maior parte do risco financeiro, inerente apresta~ao de cuidados de saude. Dentro desta metodologia, os riscos financeiros assumidos pelos prestadores sao a rna cobran~a e as perdas relativas acaridade, rna formula~ao de pre~os e volume insuficiente para cobrir os custos fixos (Davis, 1990). Nos ultimos anos, muitos "pagadores" tern aderido a sistemas de pagamento prospectivo, onde os prestadores recebem urn montante fixo por servi~o ou diagn6stico. 0 pagamento prospectivo aumenta o risco financeiro dos prestadores, porque acrescenta o risco de que os custos associados com determinado epis6dio exceda o montante do reembolso. Os prestadores, nomeadamente os hospitais, responderam tentando reduzir a quantidade de recursos utilizados no tratamento de determinado diagn6stico, investindo maior numero de recursos nos diagn6sticos com maior promessa de lucros e aumentando as taxas de admissao ate onde fosse possfvel (Baptist and Bachmann, 1986). - · · · · - - - - - · - --- · · - · - - -

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Hoje em dia, muitos pianos (" seguros") de saude esU:io a aproximar-se, cada vez mais, de sistemas de pagamento por capitayao, pelos quais os prestadores recebem urn montante fixo, muitas vezes ajustado por sexo e idade, por doente e por mes ou ano. Em 1995, mais de dois teryos das entidades terceiras pagadoras, do tipo Agencia de Acompanhamento, utilizavam a capitayao para reembolsar os cuidados de saude primarios, cerca de metade, para reembolsar as diversas especialidades medicas e cerca de urn quatto utilizavam a capitayao em hospitais (Interstudy Publications, 1995).

Ecomum argumentar-se que os prestadores enfrentam maior risco num sistema do tipo capitayao do que nas metodologias tradicionais de pagamento, porque os obriga a assurnirem todos os tiscos relacionados com a utilizayao dos serviyos e com os custos associados a essa utilizayao (Benz and Nagelhout, 1986; Coyn and Simen, 1994; Davis, 1990). Todavia, nao e claro que a capitayao seja mais "arriscada" do que os sistemas convencionais de reembolso, porque nestes ultimos, o risco associado ao volume tambem se encontra presente, no senti do em que este pode ser demasiado baixo para cobrir os custos fixos. Mais ainda, a capitayao representa uma receita fixa, enquanto nos sistemas convencionais de reembolso a receita esta associada ao volume (L.C. Gapenski and B. Langland-Orban, 1996). Para alem dos projectos especfficos contratualizados pelas agencias de acompanhamento, o Governo actual esta a implementar urn programa ACES SO ( 1999 - 2002), que consiste na realizayao de concursos publicos destinados a prestadores publicos, para que estes realizem as "interveny6es" em lista de espera.

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Seguradoras portuguesas: que futuro?

por Manuel Marques Valido Licenciado em Gestiio Mestre em Gestiio (Universidade Lusfada) Docente na Faculdade de Ciencias da Economia e da Empresa da Universidade Lusfada

Resumo:

• Os Estados-Membros da Uniao Europeia tern, entre si, diferentes estadios de desenvolvimento econ6mico e social e de dimensao demografica que, por si s6, representam sig11 ificativos factores condicionantes da actividade 110 sector dos seguros. • As quotas relativas de cacla pais mostram difere11qas muito significativas, tanto 110 ramo Vida como nos ramos Nao Vida . • A densidade de seguros BUill determil1ado pais e expresso, geralmel1te, pelo lll011tante medio gasto em seguros por habita11te. Este premio por hab ita11te coloca Portugal na penultima posic;ao no ranking dos pais europeus. • As segurado ras portuguesas enfre11tam fragilidades pera11te as concorrentes que optaram pela via cia internacio11alizac;ao e obtiveram importa11tes posic;oes em diversos mercados da Uniao Europeia e mesmo noutros continentes. Disp6em de grandes fluxos financeiros que lhes permitem ganhos substa11ciais e elevaclos i11vestimentos. • A inclusao de Portugal 11a zona Euro permite abrir novas oportunidades de neg6cio para as seguradoras multi11ac ionai s, tendo como atractivo a diversificac;ao clos seus in vest imentos e o facto de acederem a um mercado cujos resu ltados tec11icos sao ainda positivos. • Perspectiva-se que os pr6ximos anos serao caracterizados por dois factores determinantes na evoluc;ao da actividacle seguradora: o desenvolvimento das tec nologias da informac;ao e alte ra~ao profunda na evolu~ao demognifica das populac;oes .


Seguradoras portuguesas: que futuro~ 路 - - - - ----路路路- - -

1. Introdu~ao No momento em que se concretiza a adop<;ao plena da moeda unica europeia, verificam-se, nos Mercados Sectoriais, factores de perturba<;ao da sua estabilidade, cujas consequencias tenderao a modificar a rela<;ao de fon;as que oscompoem. Assim, a industlia seguradora portuguesa tern vindo a ser afectada e passan1 por altera<;oes mais ou menos profundas, onde as empresas terao de mudar o seu posicionamento no Mercado, atraves da adop<;ao de novas estrategias, que lhes permitirao competir no mercado alargado da UE. No entanto, a queda anunciada da barreira cambial, vai tornar mais vulneniveis e atractivos os Mercados dos paises da UE para as grandes seguradoras multinacionais que provavelmente tentarao ocupar quotas importantes, senao mesmo a sua lideran<;a. Neste contexto e lfcito questionar, que papel estani reservado as seguradoras detidas maioritariamente por capitais nacionais? Uma das primeiras interroga<;oes que se coloca quando se anuncia a queda da barreira cambial alivre circula9ao de capitais no espa9o da UE, consiste em determinar quais as diferen9as entre os diversos Mercados domesticos, tendo em considera9ao a perspectiva de convergencia que se preve a medio prazo. Nos anos que precedem a adop<;ao da moeda unica e natural que as principais Seguradoras Europeias e as que detem as melhores posi<;oes concorrenciais

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Manuel Marques Yalido

nos mercados restritos dos pafses membros, se preparem e adoptem as estrategias mais adequadas para o embate no Mercado global. Por isso, procura-se comparar a dimensao dos Mercados deste Sector de cada pafs membro, visando estabelecer afinidades e/ou diferen~as que possam influenciar a nova rela~ao de for~as.

2. Amilise comparativa dos mercados da Uniao Europeia Entre os pafses que constituem a Uniao Europeia, existem diferentes estadios de desenvolvimento econ6mico e social e de dimensao demogn'ifica que por si s6, representam significati vos factores condicionantes da actividade das Empresas Seguradoras, bern como do volume de neg6cios onde participam. No entanto, e imprescindfvel a sua quantifica~ao para podermos avaliar de forma objectiva os trunfos ou as limita~oes potenciais afectos as Seguradoras que tern operado apenas no seu mercado domestico. Na UE as quotas relativas de cada pafs no sector Segurador, enfermam de diferen~as muito significativas, tanto no ramo Vida como nos ramos Nao Vida. No ramo Vida, conforme se pode constatar no quadro I, a Gra-Bretanha ocupa a primeira posi~ao, logo seguida da Fran~a e da Alemanha. No grupo dos pafses com quota superior a 2%, destaca-se a Itatia e a Rolanda com 5,9% e 5,1 % respectivamente, enquanto Portugal, com a quota de 0,7%, se inclui no conjunto dos pequenos pafses, ocupando a penultima posi~ao nao obstante a recupera~ao verificadaentre 1992 e 1997. Nos ramos Nao Vida (Quadro II), a posi~ao relativa de cada pafs, sofre pequenas altera~oes. Embora, os tres pafses economicamente mais desenvolvidos, continuem ainda, a ocupar as melhores posi~oes , assinale-se a troca entre a Gra-Bretanha e a Alemanha, passando este a deter a lideran9a.

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1992

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1996

1997

3. 940 4.748 43.130 4. 764 8. 51 9 6.0 19 65. 902 70.355 502 2.387 11.413 2.123 13.974 1.824 4.955 244.556 163.980

3.288 5.518 44.426 5.1 91 9.844 5.969 70.725 78.148 548 2.952 15.908 3.407 13.772 1.857 5.965 267.517 177.666

L!. 97!96 -1 6,55% 16,21% 3,00% 8,96% 15,55% -0,82% 7,32% 11 ,08% 9,01% 23,64% 39,39% 60,47% -1,45% 1,80% 20 38% 939% 835%

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1992

1993

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1995

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5.175 5.340 5.484 5.552 5.528 5.801 5.850 5.843 5.931 5.909 55.746 52.720 59.390 6 1.735 61 .694 OK 2.909 2.968 3.181 3.312 3.063 10.305 ES 11.012 11.259 11.341 10.839 Fl 1.832 1.837 1.796 1.763 1.767 FR 39.153 43.204 42.786 35.696 37.414 GB 42.056 46. 117 46.230 43.510 41 .063 GR 433 460 469 493 538 IE 1.381 1.434 1.530 1.546 1.642 IT 16.963 18.002 18.238 17.481 17.625 LU 498 517 519 575 583 NL 10.025 11.556 11.889 10.595 11.222 PT 1.528 1.691 1.834 1.894 2.020 SE 3.380 3.249 3.393 3.576 3.487 TOTAL 192.693 203.771 210.802 215.798 213.282 ZONA EURO 143.916 150.977 157.648 165.039 164.882 Fonte de informa<;:ao: CEA - Comite Europeen des Assurances

1997 5.458 5.821 61.198 3.401 11.380 1.817 42.147 40.526 556 1.712 19.119 607 11 .975 2.065 3.440 213.219 165.296

1197/96

-1,27% -1,49% -0,80% 2,70% 4,99% 2,86% -1,49% -1,3 1% 3,40% 4,28% 4,83% 5,46% 0,73% 2,25% -1 34% -0 03% 025%

97/92

1,07% 0,07% 3,03% 3,18% 2,00% -0,17% 3,38% -0,74% 5,15% 4,38% 2,42% 4,05% 3,62% 6,21% 036% 2 05% 2 81 %

QUOTA 92 2,7% 3,0% 27,4% 1,5% 5,3% 1,0% 18,5% 21 ,8% 0,2% 0,7% 8,8% 0,3% 5,2% 0,8% 1,8% 100 0% 74 7%

QUOTA 97 2,6% 2,7% 28,7% 1,6% 5,3% 0,9% 19,8% 19,0% 0,3% 0,8% 9,0% 0,3% 5,6% 1,0% 1 6% 100 0% 77 5%

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97/92 -0,1% -0,3% 1,3% 0,1% 0,0% -0,1% 1,2% -2,8% 0,0% 0,1% 0,2% 0,0% 0,4% 0,2% -01 % 00% 28%

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Seguradoras portuguesas: que futuro?

QUOTAS DE MERCADO NAO VIDA

Num segundo grupo de pafses com quotas superiores a 5%, destaca-se a Italia e intromete-se a Espanha com 5,3%, logo seguida da Rolanda. No grupo das quotas mais reduzidas, aparece Portugal, com um ligeiro ganho sobre a FinHlndia e Irlanda, e ja distante das duas ultimas posi96es ocupadas pela Grecia e Luxemburgo.

3. Densidade de seguros na Europa A densidade de seguros num determinado paise, normalmente, expresso pelo montante medio gasto em seguros por habitante, independente do sexo ou da classe etaria. Este premio por habitante, e urn indicador que inclui contratos individuais ou de grupo, coberturas pessoais e industriais, transportes, etc.

Lusfada. Economia & Empresa, II serie, n. 2/3 (2003)

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Manuel Marques Yalido

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Contudo eurn n'icio aceitavel, quando se pretende comparar o nfvel de utilizac;ao dos seguros na Europa ou mesmo do Mundo, e muito particulmmente, quando as comparac;oes sao feitas em separado entre os ramos Vida e Nao Vida. Para melhorar estas analises, OS calculos devem incidir sabre valores deflacionados, convertidas ao Euro a taxa de cambia uniformizada. Pode-se verificar que no peliodo 1992-1997 (quadro III), o premio por habitante no ramo Vida cresceu 46,6% com particular incidencia no Luxemburgo, Portugal e Italia. Nao obstante, o espectacular crescimento deste racio, Portugal continua a ocupar a pemiltima posic;ao, aproximando-se, todavia, consideravelmente dos seus parceiros colocados nas posic;oes imediatamente superiores que sao a Espanha e altalia. Este racio apresenta crescimentos bastante altos neste segmento do Mercado, a que nao sera alheio o espectro que paira na Europa Ocidental da falencia do Estado Previdencia, o que conduz a necessidade crescente dos cidadaos comec;arem a planear a construc;ao das suas reformas futuras, como complemento da previsfvel reduc;ao do pilar do Estado na pmticipac;ao das pensoes de velhice e mesmo de invalidez. Este racio nao eobviamente aplicavel ao Luxemburgo, onde o seu aumento em flecha, nao pode ser explicado e limitado as subscric;oes dos seus residentes. Beneficiando de vantagens fiscais fmpares, seguradoras originarias de outros pafses, instalam-se no Luxemburgo oferecendo coberturas mais favoniveis e a prec;os muito competitivos. Os restantes pafses, onde os valores deste racio sao superiores a 1.000 Euros, sao a Gra-Bretanha, a Franc;a e a Finlandia (ainda que com urn a pequena reduc;ao relativamente ao ano anterior). Neste segmento sao esperados crescimentos elevados, com particular significado

Lusfada. Economia & Empresa, II serie, n. 2/ 3 (2003)

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Seguradoras portugucsas: que futuro?

nos pafses onde os cidadaos se encontram mais sensibilizados para participar na constru~ao das suas reformas futuras. No segmento dos ramos Nao Vida (quadro IV), Portugal obteve o maior crescimento no valor neste racio, nao deixando contudo, de ocupar a penultima posi~ao e ainda distante dos seus parceiros mais pr6ximos; Italia e Suecia. Ao longo do periodo 1992-97, verifica-se que os Mercados belga, finlandes, ingles e sueco sofreram pequenos decrescimos em termos reais, ao inves dos acrescimos importantes nos Mercados grego, irlandes e portugues. Na viragem 1996/97, este racio apresenta valores negativos ou inferiores a 3% em 9 dos pafses, o que e mais urn factor demonstrativo da "guerra" de pre~os que se desenrola, urn pouco por toda a parte, da UE.

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Lusiada. Economia & Empresa, li serie , n. 2/3 (2003)

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288 299 428 500 125 685 717 1.074 39 464 114 928 752 63 509

352 320 458 600 130 730 859 1.155 41 571 132 1.218 737 79 585

344 417 489 588 204 775 1.010 1.044 43 604 156 2.226 768 98 467

385 412 510 789 186 961 1.039 1.050 46 569 184 5.870 792 147 461

489 468 527 905 217 1.174 1.129 1.197 48 659 199 5.079 902 184 557

407 542 541 982 250 1.161 1.207 1.345 52 806 276 8.035 901 187 674

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41,3% 81,1% 26,5% 96,4% 100,3% 69 ,5% 68,4% 25,2% 33,7% 73,6% 143,3% 765,4% 19,9% 194,7% 324%

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568 493

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1992 656 578 654 563 264 363 622 725 42 389 298 1.282 660 155 390 524 504

1993 668 580 687 572 282 363 649 793 44 402 306 1.483 693 171 373 551 526

1994 683 577 730 588 288 353 676 792 45 428 308 1.301 730 185 386 568 547

1995 690 585 756 608 289 345 743 742 47 441 314 1.258 748 191 405 580 571

Fonte de informas;:ao: CEA - Comite Europeen des Assurances N

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1996 686 582 754 629 276 345 733 699 51 453 317 1.376 767 203 392 571 569

1997 I~ 97/96 ~ 97/92 I 676 -1,4% 3,0% 572 -1 ,7% -1,0% 746 14,0% -1 ,0% 644 2,3% 14,4% 289 4,8% 9,5% 353 2,6% -2,7% 719 -1 ,9% 15,6% 697 -0,2% -3,8% 53 3,1% 26,3% 468 3,1 % 20,1 % 332 4,7% 11,3% 1.431 4,0% 11 ,6% 784 2,2% 18,7% 2,1% 208 34,0% 389 -0 7% -03% 9,2% 572 00% 01% 13,1% 569

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Manuel Marques Valido

4. Dirnensao das principais seguradoras dos rnercados Nao obstante, a diferenc;:a anotada dos premios totais meclio por habitante, impmta conhecer a diferenc;:a entre as maiores Seguradoras de cada Mercado, comparando as suas receitas em 1997, nos dois segmentos Vida e Nao Vida. Esta divisao e indispensavel, porque existem Seguradoras que apenas exploram uma destas areas de Seguros. Com esta finalidade, foram construfdas tres classificac;:oes independentes por ordem descendente da sua dim en sao em volume de premios, tendo por crite1io, respectivamente, as maiores de cada pafs, uma outra onde se colocam as no 2 de cada mercado e uma terceira onde se incluem as D0 3. Pela leitura (quadro V) no ramo Vida podemos constatar: - Que as Seguradoras francesas ocupam em qualquer das classificac;:oes, a lideranc;:a, sempre seguidas das maiores inglesas, sucedendo-se as alemas, as italianas e as holandesas. - Que nas ultimas posic;:oes aparecem as gregas seguidas das luxemburguesas o que ecompatfvel com as dimensoes dos seus Mercados. - Que a maior portuguesa neste segmento encaixou uma receita cerca de 35 vezes men or que a lfder francesa e cerca de 20 vezes menor que a 2a maior deste "ranking". Esta diferenc;:a embora atenuando-se nas classificac;:oes das 11째. 2 e n째. 3 dos diferentes Mercados, representam ainda, menos de 5% da climensao das primeiras classificadas. Ao analisarmos as classificac;:oes hom6logas nos ramos Nao Vida (quadro VI), poderemos anotar: - Que persistem as Seguradoras francesas como as maiores em qualquer das classificac;:oes. - Que nas tres classificac;:oes, as primeiras cinco posic;:oes, sao ocupadas pelos

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Seguradoras porlu guesas: que futuro?

Seguradoras dos maiores Mercados. -Que, dado o equilibria entre os 3 maiores grupos portugueses neste segmento de Mercado, a diferenc;:a com as maiores de cada classificac;:ao vai-se atenuando, e no grupo das no 3, a seguradora portuguesaja consegue ocupar urn Iugar urn pouco mais acima, ultrapassando as hom6logas da Irlanda e Finlandia. - Se atentarmos ao facto de que esta comparac;:ao nao corTesponde as receitas consolidadas nos diversos paises da UE onde cada Seguradora opera e de que em termos de intemacionalizac;:ao as Empresas portuguesas reservam para si, quotas insignificantes nos poucos paises onde estao instaladas, enquanto as maiores de Franc;: a, Alemanha, Gra-Bretanha, ltalia e mesmo a Suic;:a detem Empresas com posic;:oes concorrenciais fortes na maioria dos pafses europeus o que faz alargar o fosso do volume dos Activos entre as grandes Seguradoras de dimen sao Europeia e aquelas que, em bora ocupando tuna posic;:ao forte no seu mercado domestico, nao tern expressao no Mercado externo

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N掳 2 EM CADA MERCADO PREMIOS AXA/UAP 10.358 STANDARD LIF E 5.605 HAMBURG-MANNHEIMER 2.575 2.298 INA 1.873 AEGON 1.229 SPP 1.224 PENSION-VARMA 1.054 DAN ICA SMAP/MEGA 999 684 EUROSEGUROS 423 GR UPO TRANQU ILIDADE WI ENER STADTISCHE 392 319 STANDARD LI FE ETHNIKI 154 LE FOYER 30

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PAiS PAiS N° 1 EM CADA MERCADO PREMIOS FR FR AXA/UAP 6698 IT ROYAL+ SUN ALLIANCE 5234 GB ALLIANZ 4975 GB DE 3411 DE IT RAS (ALLIANZ) 1585 NL NL ACHMEA BE FORTIS 923 BE MAPFRE AT ES 853 ALLIANZ ELEMENTAR 797 AT SE OK TRIG BALTICA 766 ES 718 OK SE LF·GROUP Fl Fl SAMPO-GROUP 671 IE PT SEGUROS E PENSOES 319 314 PT IE GUARDIAN/PMPA ETH NIKI 222 LU GR 151 LU LE FOYER GR Fonte de informa9ao: CEA - Comite Europeen des Assurances

N° 2 EM CADA MERCADO AGF GENERAL! GUARDIAN GERLING lNG ROYALE BELGE WIENER STADTI SCHE SKANDIA WINTERTHUR TOP DAN MARK POHJOLA-GROUP AGFIL GRUPO TRANQUILIDADE LA LUXEMBOURGEOISE PHOENIX

PR EM IOS 4052 2561 2480 2163 1350 900 791 703 587 489 483 290 284 96 81

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QUAD ROVI UNIDADE:MILHOES DE ECU ATAXA ANUAL PAiS N° 3 EM CADA MERCADO PREMIOS FR GROUPAMA 3614 COMM ERCIAL UNION GB 2412: FONDIARIA 2364 IT 1914 DE R+V STAD R'DAM NL 789 ERSTE ALLGEMEINE 712 AT FOLKSAM SE 636 ' BE SMAP/MEGA 588 CO DAN 454 OK MUTUA MAORI LENA 447 ES PT GRUPO IMPERIO 284 Fl TAPIOLA-GROUP 256 ROYAL SUN ALLIANCE 253 IE INTERMARICAN GROUP GR 54 LU ZURICH ASSURANCES 29

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Manuel Marques Valido

5. Contas

tt~cnicas

Nas contas tecnicas (quadros VII e VIII), por inexistencia de informac;.:ao disponivel, nao se incluem tres dos quinze pafses constitutivos da Uniao Europeia (Alemanha, Luxemburgo e Grecia). Quando se analisam as estruturas das contas tecnicas Nao Vida consolidadas por Mercados nacionais durante os anos de 1996 e 1997, nao se observam, no seu conjunto, vmiac;.:oes muito significativas no resultado final, averbando ambas no total da Uniao Europeia (corn as ausencias ja citadas) urn valor negativo sernelhante em ambos os anos, o que equivale a dizer que, apesar da forte concorrencia que estes Mercados atravessaram ao nfvel dos prec;.:os, com particular incidencia em 1997, nao contribuiu de forma decisiva, para a degradac;.:ao dos resultados tecnicos. Os custos com sinistros praticamente nao conheceu alterac;.:ao, enquanto os ganhos obtidos com a melhorias dos rendimentos das aplicac;.:oes financeiras foram absorvidas pelo aumento das despesas lfquidas operacionais, o que se traduz na melhoria de 0,54% no resultado final.

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CONTAS TECNICAS 1996

QUADRO VII

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PREMIOS LiOUIDOS DE INDEMN, E VARIAyAO DAS RENDIM. TECNICOS E RESSEGURO PROVISOES NAO TECNICOS o• VALOR % VALOR VALOR % '0 5.485 100,00% 3.997,90 72,89% 250,21 4,56% 100,00% 78,25% 1.309,48 20,15% 6.499 5.085,56 3.670 100,00% 2.936,81 80,02% 233,80 6,37% 11.86 1 100,00% 8.260,81 69,65% 257,21 2,17% 1.792 100,00% 1.621,01 90,46% 0,00 0,00% 100,00% 27.498,99 79,1 1% 3.146,54 34.760 9,05% 2. 192,29 5,74% 38.173 100,00% 28.780,93 75,40% 100,00% 1.555 1.425,38 91 ,66% 0,00 0,00% 16.177,73 321 ,74 1,68% 19.125 100,00% 84,59% 11.475 100,00% 8.715,57 75,95% 915,99 7,98% 2.11 4 100,00% 1.598,46 75,61% 291 ,43 13,79% 4.158 100,00% 5.067,84 121,88% 1.196.03 28 76%

DESPESAS LJQUIDAS OPERACIONAIS VALOR % 1.544,25 28,1 5% 33,20% 2.157,96 980,60 26,72% 4.432,36 37,37% 3 13,61 17,50% 6.990,21 20,11 % 12.085,99 31 ,66% 358,58 23,06% 5.259,49 27,50% 2.913,74 25,39% 670,53 31,72% 981,84 2361%

RESULTADO OUTROS TECNICO VALOR % VALOR % -402,2 -7,33% ·209,17 ·3,81% -1 70,5 ·2,62% 394,47 6,07% -1 ,90% ·69,6 ·83,21 -2,27% -74,5 -0,63% ·649,48 ·5,48% -171 ,2 ~9 , 55% ·313,79 ·17,51 % -1.786,4 -5,14% 1.630,97 4,69% -67,9 -0,18% -1 ,49% ·569,49 1,3 0,09% ·227,62 -1 4,64% ·233,5 ·1,22% ·2.223,93 -11 ,63% -224,9 -1 ,96% 4,68% 536,80 ·1 5 ,7 -0,74% 120,70 5,71 % -108,1 ·2,60% -803,73 -19,33%

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TOTAL

140.667

100,00%

111 .1 66,99

79 03%

10.114.72

7.19%

38.689 16

27,50%

-3.3231

-2.36% -2.397,48

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CONTAS TECNICAS 1997

PREMIOS LJQUIDOS DE INDEMN. E VARIAyAO DAS RENDIM. TECNICOS E PROVISOES NAO TECNICOS RESSEGURO PAiS VALOR VALOR % % VALOR % 4.039,87 4,81% AT 5.441 100,00% 74,25% 261,83 BE 6.613 100,00% 5.083,82 76,88% 1.674,45 25,32% OK 3.830 100,00% 2.952,92 77,10% 229,58 5,99% 100,00% 8.484,48 257,65 2,17% ES 11.868 71,49% 1.667,41 Fl 1.805 100,00% 92,38% 0,00 0,00% 27.474,14 FR 34.445 100,00% 79,76% 3.780,15 10,97% 42.252 100,00~{:, 31 .130,62 73,68% 2.661,39 6,30% GB 1.483,94 IE 1.579 100,00% 93,98% 0,00 0,00% IT 19.595 100,00% 16.6 13,69 84,79% 89,71 0,46% 11.984 9.336,06 77,90% NL 100,00% 1.301 ,66 10,86% PT 1.681 ,84 77,29% 428,1 1 2.1 76 100,00% 19,67% 4.741.66 979,39 SE 4.205 100,00% 11276% 23.29% TOTAL 100 00% 114.690 45 11.663 92 7.97% 146.295 78.40% Fonte de inlorma<;:ao: CEA • Comite Europeen des Assurances

QUADRO VIII

DESPESAS LfOUIDAS OPERACIONAIS VALOR 1.583,51 2.240,31 1.018,43 4.542,70 314,38 7.121,81 13.827,82 338,26 5.248,45 3.052,17 684,69 964,25

% 29,10% 33,88% 26,59% 38,28% 17,42% 20,68% 32,73% 21,42% 26,78% 25,47% 31,47% 22,93%

40.936.78

27.98%

OUTROS VALOR -343,3 -477,6 -92,5 -62,5 -153,8 ·2.041 ,3 ·295,8 0,0 -159,4 -269,3 ·1 6,6 -114,4

-4.026 5

% -6 ,31'%

RESULTADO TECNICO VALOR % -4,85% ·263,85 485,69 7,34% -4,31 -0,11 % -964,04 -8,12% ·330,56 -18,31 % 1.587,91 4,61 % -340,87 -0,81 % ·243,20 -15,40% -2.336,78 -11 ,93% 628,13 5,24% 221,01 10,16% ·635,89 -15.12%

·7,22% ·2,42% -0,53% ·8,52% ·5,93% -0,70% 0,00% -0,81 % -2,25% -0,76% ·272% -275% -1.694.76

-116%

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Manuel Marques Valido

Quando se an alisam os resultados das contas tecnicas em cada pais, ja se registam alguns factos que merecem referencia especial, dos quais destacamos: 1 - Que os resultados tecnicos mantiveram o mesmo sinal nos dois anos consecutivos, ou seja, continuaram negati vos ou positivos onde ja o eram. 2- Nos quatro pafses onde o resultado ja era positivo em 1996, ou melhoraram ou tiveram uma redu<;ao muito pouco significativa. 3 -Nos restantes oito pafses que tin ham obtido resultados negativos, em cinco deles, ainda se degradaram mais. Em dois deles houve uma ligeira recupera<;ao e apenas a Suecia teve urn a evolu<;ao francamente positiva. 4- Em Portugal, que em 1996 ja apresentara urn saldo favoravel de 5,71 %, conheceu o melhor resultado de 1997 com urn ganho de 4,45% relativamente ao ano anterior, este facto encontra explica<;ao na extraordinaria melhoria nos rendimentos dos investimentos, nomeadamente na evolu<;ao favoravel do Mercado de Capitais. Vemos, portanto, que os resultados tecnicos, apesar de terem obtido em 1997, uma melhoria geral, a que nao sera alheio o eli rna de confian<;a internacional (nomeadamente na Europa, devido aadop<;ao da moeda unica), continuaram a registar saldos negativos, com apenas quatro excep<;6es: Portugal (10,16%), Belgica (7,34% ), Holanda (5,24%) e Fran<;a (4,61 %), os quais contribufram com os seus resultados para que o saldo da Uniao Europeia pouco se afastasse do ponto de equilfbrio. Pela analise destes factores, as Seguradoras Portuguesas, embora apresentando resultados tecnicos medios invejaveis em termos europeus, revelam limita<;6es inerentes a dimensao do Mercado onde se inserem, onde as estrategias de internacionaliza<;ao foram mais para aproveitar os nichos de Mercado relativos aos nossos emigrantes do que por decis6es claras de competir com as suas congeneres com as mesmas armas e ambi<;6es. Ao abrirem-se os novos hmizontes da oportunidade hist6rica de aceder a urn Mercado de 350 milh5es de potenciais clientes, as Seguradoras Nacionais enfrentam evidentes fragilidades perante as suas concorrentes estrangeiras que,

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Seguradoras portuguesas: que futuro?

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desde longo data, optaram pela via da internacionaliza<_;:ao e obtiveram importantes posi<_;:6es em diversos Mercados da Uniao Europeia, quando nao mesmo noutros continentes, dispondo de grandes fluxos financeiros que lhes permitem ganhos substanciais e elevados investimentos. Para alem disso, estao imbuidas de est.rategias internacionais clm路as, ainda que ajustaveis a realidades espedficas, com grande experiencia no Sector, na area dos grandes riscos e, dentro destes, aqueles que se tern revel ado de particular sensibilidade aevolu<_;:ao das Sociedades desenvolvidas e com elevada percep<_;:ao ao conceito de cidadania, como acontece em coberturas associadas aos riscos da polui<_;:ao do ambiente ou da Responsabilidade Civil. A inclusao de Portugal na zona do Euro, vai, por seu lado, abrir novas oportunidades de neg6cio para as Seguradoras multinacionais, tendo como atractivo, nao s6 a diversifica<_;:ao dos seus investimentos na mesma actividade, expmiando o seu conhecimento e saber fazer, bern como aceder a urn Mercado cujos resultados tecnicos sao ainda positivos, pelo que e de esperar que as maiores Seguradoras europeias de ambito transnacional, pretendam ocupar uma posi<_;:ao concorrencial forte, como, alias, faz parte integrante da sua estrategia, atraves de aquisi<_;:6es de empresas ja instaladas em Portugal. Neste ambiente do cruzamento de interesses dificilmente conciliaveis e de perturba<_;:ao nos estados de equilibria dos Mercados, quais serao os factores principais que condicionarao a actividade Seguradora na proxima decada?

6. Principais factores de influencia 6.1. A adop~ao plena da moeda unica A adop<_;:ao plena da moeda tmica, constitui marco indestrutivel no rumo da globaliza<_;:ao dos neg6cios e na livre circula<_;:ao de capitais e contribui de forma decisiva para a convergencia de facto de todos os paises membros. Esta envoi vente que e ja uma realidade, esta a influencim路 de forma bern visivel a

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face dos Mercados europeus em todos os ramos de actividade econ6mica, onde os seguros nao constituem excep<;ao. A interpenetra<;ao dos Mercados pelas Seguradoras e a face visivel de uma transforma<;:ao, sem precedentes nas Ultimas decadas, nos instrumentos comerciais e financeiros, recursos de importancia primordial de uma actividade em cuja "pedormance" e bern patente a rentabilidade obtida atraves dos investimentos dos fluxos monetirios proveniente dos premios de seguros, como processo de gerar ganhos financeiros para equilibria das contas de explora<;:ao, tanto mais que os resultados tecnicos medios de explora<;:ao, sao deficitarios. A zona do Euro abre aos Investidores Institucionais, nomeadamente as Empresas Seguradoras, a vantagem hist61ica de aceder a uma gama alm·gada de Mercados Financeiros com isen<;:ao do risco cambial, o que oferece a vantagem, atraves de uma gestao dinamica e eficaz, de reduzir o risco pela via da diversifica<;:ao de Mercado como ainda, a facilidade de acorrer as melhores oportunidades de neg6cio da Europa. A defini<;:ao de estrategias adequadas decorrentes das novas variaveis e a capacidade de Gestao aliada a dimensao, alicer<;:ada numa s6lida componente financeira constituirao os trunfos, que num futuro proximo, conduzirao a diferencia<;:ao entre Seguradoras, criando a imagem de mm·ca internacional neste Mercado alargado. 6.2. A dimensao relativa dos mercados As seguradoras portuguesas, tern no contexto internacional, uma dimensao notoriamente infima quando compm·adas com as grandes Seguradoras europeias que ja laboram em multiplos paises, o que as coloca numa posi<;ao desvantajosa, quando seria desejavel que pudessem competir nos mesmos Mercados. A estrategia continuada na internacionaliza<;:ao nao foi feita e, nao e possivel, para as Seguradoras portuguesas, com os meios financeiros disponfveis, de acorrer a todos os Mercados domesticos da Uniao Europeia, pelo que nao

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poderao, neste campo e a curto prazo, competir com as suas congeneres mais fortes. Neste embate, a urgencia consiste, numa primeira etapa, em resistir ao presurnivel assedio de aquisic;:ao, por forma a que neste Sector possam sobreviver e com capacidade de crescer empresas controladas por capitais portugueses. Para isso, seria conveniente assistir-se a urn processo de fusao entre algumas das mais fortes e dinamicas empresas do nosso Mercado para competir com eventual vantagem com as multinacionais estrangeiras. Numa segunda etapa, seria conveniente a adopc;:ao de estrategias continuadas, consistentes e consolidadas de intemacionalizac;:ao por forma a progressivamente, intervir, com sucesso, nos restantes paises membros da EU.

6.3. Os canais de distribui~ao A estrategia a adoptar nesta vertente vai desempenhar urn papel preponderante na comercializac;:ao dos produtos, ja que a sua organizac;:ao presente assenta numa diversidade muito ampla entre os varios paises membros, o que gera a necessidade de soluc;:oes avulsas, por vezes, pouco ajustadas aos Sistemas infmmaticos, aos niveis de Fmmac;:ao e as suas disponibilidades, as acessibilidades de comunicac;:ao e a velocidade de processamento. A distribuic;:ao de seguros em Portugal assenta, numa rede de Corretores e Agentes, caracterizados por urn nfvel de formac;:ao geral e especifica deficiente, por uma grande capilaridade e tam bern, pelo aparecimento dos denominados novos canais, como sejam a via telefone, os balcoes dos bancos e os CmTeios. Estes novos canais, embora tendo ganho uma fatia de cerca de 20% na comercializac;:ao dos Seguros, nao trouxeram grande beneffcio para o consumidor. De facto, a venda atraves do canal bancario, aproveita, apenas, o momento da oportunidade da necessidade de seguro do cliente do credito, que para o obter e obrigado a sua realizac;:ao, muitas vezes, desconhecendo a extensao das coberturas que contrata. A prestac;:ao do servic;:o p6s venda revela grandes lacunas e desconhecimentos confrangedores do "front-office" em materia de seguros deste canal. Este estado de conhecimentos e extensive} ao canal dos

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Correios, onde a informac;ao e escassa sobre o ambito das coberturas e sobre os procedimentos em caso de sinistros, o que limita a qualidade do servic;o a prestar. 0 canal telef6nico, enferma do anonimato do recepcionista e de similares carencias de formac;ao e experiencia. Esta tarefa 6 executada com urn numero de efectivos mfnimo, por forma a reduzir os tempos de inactividade e consequentemente os respectivos custos, o que vai implicarpara estes profissionais a obrigatoriedade de funcionamento sob grande pressao psicol6gica, pouco compativel com os indices de resistencia medios aceitaveis pela estrutura humana o que conduz a uma elevada rotac;ao de pessoal. Para alem disso, a morosidade dos processos de sinistros, onde as formalidades se desenvolvem por via postal, muitas vezes, incompatfveis com as exigencias profissionais e pessoais dos lesados nos acidentes. Portanto, urge a transfmmac;ao dos canais de distlibuic;ao em redes profissionais com estabelecimentos de porta aberta, equipadas com soluc;oes informaticas ligadas aos Sistemas Centrais das Seguradoras, funcionando com larga autonomia, quer no processamento de riscos, quer na resoluc;ao responsavel dos sinistros "correntes", o que retirara as Seguradoras o peso administrativo de processos burocraticos, mais ou menos, pesados com reflexos indesejaveis de longos periodos de diferimento entre o momenta do acidente e o seu encerramento, com elevados custos de gestao nao reprodutivos. Uma vez ultrapassada esta fronteira, estarao criadas as condic;oes para impmtantes ganhos de eficacia e melhorias consideraveis na imagem no Mercado com evidentes beneficios nas economias de escala e dos sinistrados.

6.4. Visao prospectiva Os pr6ximos anos, para alem da adopc;ao plena da moeda unica, serao caracterizados por dois factores determinantes na evoluc;ao da actividade seguradora: que sao o desenvolvimento das tecnologias da informac;ao e a alterac;ao

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profunda que se esta a verificar na evolw;;ao demografica da sua populac;ao. A interpenetrac;ao da relac;ao "bancassurance", esta a gerar urn novo conceito de gestao de activos financeiros dos clientes e baseia-se em duas principais caracterfsticas do Velho Continente. A primeira relaciona-se com a tendencia do crescimento demografico e a segunda no desenvolvimento espantoso das telecomunicac;oes. A populac;ao europeia esta a envelhecer a ritmo acelerado. Actualmente, para cada reformado existem, em media, 4,5 activos e dentro dos pr6ximos 20 anos, essa relac;ao tera caido para 2,5. Como consequencia, os govemos transferirao a responsabilidade pelas pensoes de reforma para os pr6prios cidadaos. lsso vai exigit路 a necessidade de soluc;oes fmanceiras individualizadas, isto e, adequadas a cada caso. Em vez do tradicional mercado de massas, onde existia urn produto que se vendia a todo o Mercado, proceder-se-a a urn mercado de massas individual, com soluc;oes ajustadas as necessidades dos clientes. Sea esta tendencia, juntarmos a disponibilidade de melhores produtos financeiros grac;as ao grande desenvolvimento das tecnicas de telecomunicac;oes e dos inst:tumentos financeiros, e facil entender que as pessoas, a prazo, nao se satisfarao com meros investimentos passivos. Em todos os Mercados existem, ainda grandes importancias em dinheiro, aplicadas em depositos a ordem ou a prazo, o qual nao gera ganhos significativos, quando nao mesmo, perdas. Surgem assim, novas oportunidades de neg6cio cuja dimensao e taxa de crescimento nao e facil, ainda, determinar. Portugal, cujo Mercado tern uma pequena expressao no contexto de Mercado Global Europeu, pode ser utilizado como balao de ensaio para experiencias desta est:t路ategia das grandes multinacionais do sector, cujo maior interesse estara certamente em Mercados de potencial mais atractivo nesta 6ptica de neg6cio.

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7. Conclusoes 0 conjunto das variaveis enunciadas vao, certamente condicionar a actividade Seguradora no infcio do Seculo XXI, pelo que as Seguradoras Portuguesas s6 poderao competir neste Mercado se forem capazes de desenvolver as estrategias mais adequadas aos cenarios da realidade futura, numa visao prospectiva das necessidades das gera~oes vindouros, atraves da concep~ao de produtos de simples assirnila~ao, com solu~oes completas e flexfveis a medida de cada cliente e ajustaveis as suas necessidades de protec~ao e seguran~a, decorrentes da sua evolu~ao etaria, econ6rnico e financeira. Cabera a Seguradora prover-se dos meios informaticos susceptiveis de oferecer ao Cliente, em qualquer momenta, a panoramica fotografica dos activos financeiros, bern como de produzir simula~oes de evolu~ao futura para cemirios altemativos, atraves da altera~ao de algumas variaveis crfticas para o cliente. Para consolida~ao e fideliza~ao dos clientes e indispensavel deter uma elevada "pe1formance" de gestao, por forma a oferecer a melhor rentabilidade dos activos financeiros do Cliente, o que vai exigir capacidade de intervir nos Mercados Financeiros com dinarnismo, mobilidade e flexibilidade, s6 possfvel dispondo de uma equipa de Gestao de qualidade e de urn sistema de informa~ao sofisticado. A esta caracteriza~ao da Gestao nao pode dissociar-se a dimensao da Empres a como instrumento estrategico da gera~ao de ganhos de economia de escala e de diversifica~ao de Mercados por forma a obten~ao das melhores rentabilidades e com reduzido risco. Este constitui, sem sombra de duvida, o grande desafio colocado as Seguradoras Portuguesas, cujo volume de activos, dimensao da carteira e expressao internacional nao conseguem ombrear com as maiores Seguradoras Europeias e correm o risco de se verem conformadas a nichos de Mercado ou a restlingiremse a Mercados de caracter meramente regional. Todavia, a fusao entre as maiores Seguradoras Nacionais, como ja sugerido,

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poderia constituir urn nucleo de expansao internacional, ultrapassando a visao meramente regional tao arreigada nos horizontes nacionais, partindo, por este meio, adisputa do Mercado global, assim haja a ambic;ao dos nossos empresarios e sejam proporcionados, pelo poder politico, os meios e os estfmulos necessatios asua prosperidade.

ANEXO 1

Codificayao dos Parses da Uniao Europeia

COD2 DE FR GB IT NL ES BE AT SE Fl OK PT IE LU GR

PAIS ALEMANHA FRANQA REINO UNIOO ITALIA HOLANOA ESPANHA BELGICA AUSTRIA SUE CIA FINLANDIA OINAMARCA PORTUGAL IRLANOA LUXEMBURGO GRECIA

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COD2 DE FR GB IT NL ES BE AT SE Fl OK PT IE LU GR

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Bibliografia - Compagnie Suisse de Reassurance Marc he de 1' assurance dans le monde, 1964. - Mehr, Robert; Cammack, Emerson Principles of insurance CEA- Comite Europeen des Assurances EUROPEAN INSURANCE IN FIGURES Complete 1996 data - CEA- Comite Europeen des Assurances EUROPEAN INSURANCE IN FIGURES Complete 1997 data -ANNUAL REPORT OF THE SUPERINTENDENT OF INSURANCE TO THE NEW YORK LEGISLATURE Calendar Year 1998 - Mmteira, Bento Jose Ferreira PROBABILIDADES E ESTATISTICA Volume I McGraw-Hill de Portugal Lda.- 1979 - Murteira, Bento Jose Ferreira PROBABILIDADES E ESTATISTICA Volume II McGraw-Hill de Portugal Lda. -1981 - Kazmier, Leonard J. ESTATISTICA APLICADA A ECONOMIA E ADMINISTRA(:AO Shaum Mcgraw-Hill, 1982 - Reis, Elizabeth ESTATISTICA MULTIVARIADA APLICADA Edi96es Silabo -MODERN PORTFOLIO THEORY AND INVESTMENT ANALYSIS John Wiley & Sons, inc. - 1995 - Maria J oao Rodrigues, Pedro Dionisio e Jose Paulo Esperan9a STRATEGOR- POLITICA GLOBAL DA EMPRESA Publica96es D. Quixote - 1993

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Normas de Edi9ao

SUMARIO 0. Nota previa Parte I. Norrnas de redac~ao 1. Formato do documento 1.1. Texto 1.2. Material gnifico e ilustrac;oes 1.3. Estrutura do texto 1.4. Abreviaturas, siglas e acr6nimos 1.5. Unidades de medida 1.6. Formulas e equac;oes 1. 7. Apresentac;ao de datas 1.8. Numerais 1.9. Referencias bibliograticas 1.9.1. Aut01ias 1.9.2. Titulo e complemento de titulo 1.9.3. Edic;ao 1.9.4. Local de edic;ao 1.9.5. Editor 1.9.6. Data de edic;ao 1.9.7. Tipos de documento 1.9.7.1. Monografias 1.9.7.2. Conuibuic;oes em monografias 1.9.7.3. Publicac;oes em serie 1.9.7.4. A1tigos de publicac;oes em serie 1.9.7.5. Monografias electr6nicas 1.9.7.6. Contribuic;oes em monografias electr6nicas 1.9. 7. 7. Publicac;oes em serie electr6nicas 1.9.7.8. Artigos de publicac;oes em selie electr6nicas 1.10. Citac;oes 1.1 0.1. Metoda de citac;ao numerica 1.1 0 .2. Metoda de au tor-data

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Parte II. Instrm;oes aos autores 2. Declarac;ao de autoria e autorizac;ao de publicac;ao 3. Entrega dos 01iginais 4. Artigos aceites e recusados 4 .1. Artigos aceites 4.2. Artigos recusados 5. Revisao e correcc;ao das pro vas

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Nonnas de

Edi~ao

0. Nota previa A polftica editorial deste peri6dico pretende manter o rnais elevado padrao cientifico. Para isso, os autores interessados ern colaborar corn este objectivo devern seguir as presentes inst1u96es. A Revista recebera para publica9ao artigos originais que nao tenharn sido previarnente publicados, e nern venharn a ser ern outros peri6dicos, sern autoriza9ao do Editor. 0 Editor, reserva-se ao direito de rnodificar a estrutura do texto, quando necessaria, sern prejudicar o seu conteudo, corn o objectivo de uniforrnizar a apresenta9ao. As colabora96es serao agendadas para publica9ao por ordern cronol6gica de recep9ao, e devern ser enviadas ao cuidado do Director da Revista.

PARTE I. NORMAS DE REDAC<;AO 1. Formato do documento 1.1. Texto 0 m1igo deve ser redigido ern MS Word, versao 8.0 ou superior, corn as seguintes configura96es: • folhas A4 (210x197 rnrn); • margens de 3 ern (superior, infelior, esquerda e direita); • texto justificado; • pan:igrafos de 1,25 ern; • fonte Times New Roman, tamanho 12; • espa9o duplo; • 30 paginas no maximo, com 261inhas cada, incluindo as ilustra96es.

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1.2. Material grafico e ilustra<;oes: Devem ser realizados em MS Word, versao 8.0 ou superior, com as seguintes configurac;6es: • fonte Times New Roman, tamanho 8; • duas opc;6es de lm·gura (8,5 em ou 16 em); • a preto e branco ou a cores; • devem apresentm·-se dentro do proprio artigo; • o tftulo deve ser apresentado em Times New Roman, tamanho 8, a negro, antes da figura; • a legenda deve ser apresentada em Times New Roman, tamanho 8, depois da figura; • numeradas de forma sequencia!, em numerac;ao arabe.

1.3. Estrutura do texto • Pagina 1: Pagina de rosto Titulo e autoria(s) a) Tftulo e su btftulo em Times New Roman, tamanho 14; b) nome(s) e sobrenome(s) do(s) autor(es) sem abreviaturas, com a identificac;ao da instituic;ao; c) contactos: enderec;o postal, e-mail, te lefone, fax, para envio de correspondencia.

Resumo I Abstract 0 resumo deve ser escrito em Times New Roman, tamanho 10, em portugues e ingles. Deve apresentar tambem uma exposic;ao breve e clara e nao deve exceder as 200 palavras. Palavras-chave I Key-words Devem ser inclufdas no maximo seis palavras-chave em lingua portuguesa e em lingua inglesa.

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Sumalio Apresentar, de forma organizada, os capftulos e sub-capftulos do texto. • Pagina2:

Agradecirnentos Quando necessaria, podem ser feitos os agradecimentos relativos as assistencias cientffica, tecnica e financeira. • Pagina 3 e seguintes:

Capitulos e sub-capitulos Os capftulos e os sub-capftulos devem iniciar com Jetra maiuscula, sendo as demais letras mimisculas. Exemplo: Capitulo do a.rtigo

1. A subsidiariedade no pensarnento politico-juridico em¡opeu (Times New Roman, tamanho 12, a negro) Sub-capftulos do artigo

1.1. Regime de execu<;ao (Times New Roman, tamanho 12, a negro)

1.1.1. As principais opiniOes na doutrina (Times New Roman, tamanho 12, a negro)

1.1.1.1. Observa<;oes previas (Times New R01nan, tamanho 12, a negro)

Nurnera<;ao das paginas Os numeros das paginas devern ser inseridos no canto inferior direito, em nota de rodape .

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1.4. Abreviaturas, siglas e acronimos A utiliza~ao de abreviaturas, siglas e acr6nimos deve ser restringida aforma padrao, evitando a utiliza~ao das mesmas no titulo. A designa~ao completa a qual se refere uma abreviatura, uma sigla ou urn acr6nimo deve preceder a primeira indica~ao destas no texto, a nao ser que se trate de uma unidade de medida padrao. Nao utilizar pontos nas siglas (exemplo: UE em vez de U .E.).

1.5. Unidades de medida Deve ser usado o Sistema Intemacional de Medidas. As medidas de comprimento, altura, peso e volume devem ser expressas em unidades do sistema met:rico (metro, quilograma ou litro) ou seus multiplos decimais. A temperatura deve ser expressa em graus Celsius. Deve ser deixado urn espa~o entre os numerais e as unidades de medida que serao reproduzidas sempre em minusculas. Exemplos: 3,5 m ; 100 km 2 ; 25 1

1.6. Formulas e equa<;oes As equa~oes e as formulas devem ser colocadas numa nova linha e centradas em rela~ao ao texto. Exemplo:

X+Y=Z 1.7. Apresenta<;ao de datas A men~ao a datas de elevada grandeza cronol6gica, tais como II milenio, seculo X, segundo quartel do seculo XV, nao referindo especificamente o ano, seguini o sistema tradicional portugues de a. C. (antes de Cristo) e d. C. (depois de Cristo).

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1.8. Numerais Os mimeros, quando nao forem seguidos por unidades de medida, deverao ser apresentados por extenso, de primeiro a decimo e de urn a dez (inclusive), e por algarismos a partir deste ultimo numero.

1.9. Referencias bibliograticas As referencias e as cita<;6es bibliograficas devem ser elaboradas de acordo com as normas ISO 690-1, de 15 de Agosto de 1987,690-11, del5 de Novembro de 1997. A bibliografia deve ser apresentada no final do artigo, em listagem organizada por ordem alfabetica de todos os autores citados ao Ion go do texto.

1.9.1. Autorias

Ate tres autores Quando o numero de responsaveis da obra nao excede os tres, indicam-se todos, pela ordem de apresenta<;ao na obra. PEREIRA, Isabel, BOST, Jean-Pierre, HIERNARD, Jean. Fouilles de Conimbriga: les monnaies. Paris: Diffusion E. de Boccard, 1974.

Mais de tres autores Quando o numero de responsaveis da obra excede os tres, indica-se o nome do primeiro, seguido de vfrgula e a expressao et al. ETIENNE, Robert, et al. Fouilles de Conimbriga: epigraphie et sculpture. Paris: E . de Boccard, 1976.

Colectividades Quando aparece uma men<;ao de responsabilidade, de uma pessoa colectiva, a referencia deve ser feita conforme aparece na obra.

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NATO. NATO at a glance : a factual survey of issues and challenges facing the Alliance at the end of the 1990s. Brussels: NATO, 1996.

Autores espan/u)is Os autores espanh6is devern ser refe1idos pelo primeiro apelido. YZQUIERDO TOLSADA, Mariano. Responsabilidad civil contractual y extracontractual. Madrid: Reus, 1993.

1.9.2. Titulo e complemento de titulo 0 titulo eo complemento de titulo devern ser reproduzidos tal como aparecem na obra. A indica<;ao ao complemento de titulo deve ser feita depois da menc;ao ao titulo, precedido por urn espac;o, dois pontos e, novamente, urn espac;o. PECAUT, Jean Elie. A arte : palestras simples para uso da juventude. Pmto : Educac;ao Nacional, 1934.

1.9.3. Edi~ao Deve-se indicar o numero de edic;ao da obra (a excepc;ao da primeira edic;ao) e utilizam-se abreviaturas normalizadas e numeros arabes. Exemplos: 4 111 ed.; 2e ed. ; 3. 8 ed. VARELA, Joao de Matos Antunes. Das obrigm:;oes em geral. lOa ed., revista e actualizada. Coimbra : Almedina, 2000.

1.9.4. Local de edi~ao 0 local de edic;ao deve ser mencionado e escrito na lingua original do documento, tal como aparece na obra.

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Normas de Ediqao

varios locais de ediriio Sea fonte indica a existencia de varios lugares de edic;ao, devem ser referidos tal como aparecem na obra, separados por espac;o, ponto e vfrgula e, novamente, umespac;o. GOLITSYN, Anatoliy. The Perestroika deception : memoranda to the Central Intelligence Agency. 2"d ed. London ; New York : Edward Harle, 1998. Caso a fonte indique mais do que tres locais de publicac;ao, deve ser feita a menc;ao do primeiro local (ou o mais destacado) seguido da expressao etc. entre parenteses rectos. HICKS, Michael J. Problem solving in business and management: hard, soft and creative approaches. London [etc.) : International Thomson Bussiness Press, 1999.

Local de ediriio desconhecido Se na fonte nao for indicado qualquer local de edic;ao, deve ser utilizada a expressao S.l. (Sine loco) entre parenteses rectos.

HAUSER,Arnold.Storiasocialedell'arte. [S.l.): Einaudi, 1955.

1.9.5. Editor Nome do editor 0 nome do editor deve ser mencionado tal como aparece na fonte, podendo, em alguns casos, ser referido na forma abreviada ou atraves de sigla ou acr6nimo pelo qual seja conhecido. BERGERES, Maurice-Christian. Contentieux communautaire. 3e ect. Paris: PUF, 1998. GERADIN, Damien. Trade and the environment: a comparative study ofEC and US law. Cambridge : Cambridge University Press, 1997. Lusfada. Economia & Empresa, II serie, n. 2/3 (2003)

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Editor desconhecido Se na fonte nao houver indica~ao relativamente ao nome do editor, deve ser utilizada a expressao s.n. (Sine nomine) entre parenteses rectos. DIAS , Augusto Manuel Gomes da Silva. Os crimes defraudefiscal e de abuso de confianf;a fiscal : alguns aspectos dogmaticos e polfticocrim.inais. Lisboa: [s.n.], 1999.

1.9.6. Data de edi<;ao A data de arabes.

edi~ao

(ano)

etranscrita tal como aparece na fonte, em numeros

Edi9iio em varios anos Se uma obra for publicada em varias partes com diferentes datas de edic;ao, deve ser indicada a data de edi~ao do inicio e do fim de edi~ao. Se a obra ainda nao tiver terminado de ser publicada, deve ser indicada a data de infcio da edi~ao, seguida de urn tra~o. PAVON MALDONADO, Basilio. Tratado de arquitectura hispanom.usulmana. Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Cientificas, 1990-1999.

Data de edi9iio desconhecida Se o anode edi~ao nao puder ser determinado na fonte, pode ser substituido pel a data de copyright, de impressao, de Deposito Legal, ou por uma data presumida. ALIBONI, Roberto, AMMOR, Fouad, VASCONCELOS, Alvaro de. Integration et securite dans l 'espa ce euro-mediterraneen. Cascais : P1incipia, cop. 2002. COCKFIELD, Francis Arthur. The European Union: creating the single market. Chichester : John Wiley & Sons, imp. 1996. BLANPAIN, Roger. The Bosman case: the end of the transfer system?. Leuven: Sweet&Maxwell, DL 1996. Lusiada. Econom ia & Empresa, Tl serie, n. 2/3 (2003)

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Normas de Edis:ao

MALTEZ, Jose Adelino. Tudo pela Europa, nada contra a nar;ao: doze reflexoes sobre ser europeu em Portugal, na era p6s-maastrichtiana. Lisboa : Instituto Superior de Ciencias Sociais e Polfticas, [ 1996 ?] .

1.9.7. Tipos de documentos 1.9.7.1. Monografias Exemplo: WOLF, Mauro. Teorias da comunica~路ao. 6.a ed. Lisboa: Presen9a, 2001. Texto de apoio; 21. Tradu9ao de: Maria Jorge Vilar de Figueiredo.

1.9.7.2. Contribuic;oes em monografias Exemplo: MOREIRA, Adriano. 0 tempo tribulo portugues. In CONGRESSO NACIONAL DE BIBLIOTECARIOS , ARQUIVISTAS E DOCUMENTALISTAS , 5 , Lisboa, 1994. Multiculturalismo: comunicar;oes. Lis boa: Associa9ao Portuguesa de Bibliotec;:hios, Arguivistas e Documentalistas, 1994. V. 1: Bibliotecas, p. 17-23.

1.9.7.3. Publicac;oes em serie Exemplo: Neg6cios estrangeiros. Ministerio dos Neg6cios Estrangeiros, Instituto Diplomatico. No. 1- . Lisboa: Instituto Diplomatico, 2001- . ISSN 1645-1244.

1.9.7.4. Artigos de publicac;oes em serie Exemplo: FARIA, Mmia de Fatima. Microfilme em bibliotecas e arguivos portugueses : ponto da situa9ao. Cadernos BAD. 1991 , no. 2, p. 107-111.

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1.9.7.5. Monografias electronicas Exemplos: HILLMANN, Diane. Using Dublin Core [em linha]. [Ohio]: Dublin Core Metadata Initiative, 12 April2001 [referencia de 10 de Mar<;o de 2002]. Disponfvel na Internet em: <http://dublincore.org/documents/200 1/04112/ usageguide/>. UNIAO EUROPEIA. Agencia Europeia para a Seguran<;a e a Saude no Trabalho. The state of occupational safety and health in Europe [CDROM]: pilot study. Luxembourg: EUR-OP, 2001. Requisitos do sistema: Windows 95, 98, 2000, NT; 200 MHz Pentium MMX; 6xCD-ROM; 32 MB RAM; 800x600 display (1024x768 suggested); High color; Adobe Acrobat Reader.

1.9.7.6. Contribuic;oes em monografias electronicas Exemplo: COSTA, Jose Gon<;alves da. 0 poderjudicial numa sociedade democratica. In 0 poder judicial na viragem do seculo [em linha]. [Lisboa]: Associa<;ao dos Jufzes Portugueses, 1997 [referencia de 30 de Novembro de 2000]. Disponfvel na Internet em: <http://www.cidadevirtual.pt/asjp/congresso/ goncalves_costa.html>.

1.9.7.7. Publicac;oes em serie electronicas Exemplo: European economic perspectives [em linha]. London : Centre for Economic Policy Research, 1993- [referencia de 26 de Mar<;o de 2002]. Trimestral. Disponfvel na Internet em: <http://www.cepr.org/pubs/EEP/archive.htm>.

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Normas de

Edi~ao

1.9.7.8. Artigos de publicac;oes em serie electronicas Exemplo: MCCULLOCH, Neil, WINTERS, L. Alan, CIRERA, Xavier. Policies for the poor. European economic perspectives [em linha]. October 2001, no. 29 [referencia de 26 de Mar~o de 2002], p. 1-2. Disponivel na Internet em: <http://www.cepr.org/pubs/EEP/EEP29/policies_for_the_poor.htm>.

1.10. Citac;oes 1.10.1. Metodo de citac;ao numerica Os numeros em expoente ou entre parenteses remetem o lei tor para a referencia bibliogratica. Se forem feitas cita~oes de partes particulares de urn documento, o numero das paginas pode aparecer a seguir ao numero de cita~ao. As referencias sao apresentadas dentro de uma ordem numerica sequencia!. Exemplo:

Texto The notion of an invisible college has been explored in the sciences (24 ). Its absence among historians is noted by Stieg ( 13, p. 556 ). It may be, as Burchard (8) points out.. . Referencias bibliograficas 8. BURCHARD, J.E. How humanists use a library. In Intrex: report of a planning conference on information tran~fer experienu1ts. Cambridge : MIT Press, 1995, p. 219. 13. STIEG, M.F. The information needs of historians. College and research \ libraries, Nov. 1981, vol. 42, no. 6, p. 549-560. 路./

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24. CRANE, D. Invisible colleges. Chicago: University of Chicago Press,

1972.

Citac;oes em notas Os numeros, em expoente ou entre parenteses, seguidos das cita<;6es do texto, reenviam para as notas que sao apresentadas numericamente por ordem de apari<;ao no texto. Essas notas podem conter cita<;6es. Urn numero de nota pode ser utilizado por cada cita<;ao ou por cada grupo de cita<;5es. A nota correspondente pode citar mais do que urn documento. Se urn documento ecitado di versas vezes, as cita<;6es posteriores recebem numeros diferentes. Sempre que uma nota fa<;a uma remissiva para urn documento ja citado, a cita9ao deve ser repetida e deve ser dado o numero da nota anterior com os numeros das paginas citadas.

Primeira citac;ao Seas cita96es forem apresentadas em notas, a primeira cita<;ao a urn documento deve conter os elementos necessarios para assegurar a correspondencia exacta entre a cita<;ao e a entrada apropriada na lista de referencias bibliograficas. A ptimeiracita9ao deveconter no mfnimoo(s) nome(s) do(s) autor(es) eo tftulo completo, tal como figuram nas referencias bibliograficas, bern como o(s) numero(s) de pagina(s), se necessfuio. Se, o(s) autor(es) eo titulo, nao forem suficientes paradiferenciar as entradas na lista de referencias bib)jognificas, a cita<;ao deve incluir os elementos suplementares (edi9ao, anode publica9ao, etc.) necessalios para assegurar a cmTespondencia exacta com a referenda. Exemplo:

Texto The notion of an invisible college has been explored in the sciences 32. Its absence among historians is noted by Stieg 33• It may be, as Burchard34 Lusfada. Economia & Empresa, II serie, n. 2/3 (2003)

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Normas de

Edi~ao

points out...

Cita(:oes 32. CRANE, D., Invisible colleges. 33. STEIG, M.F., The information needs of historians, p. 556. 34. BURCHARD, J.E., How humanists use a library, p. 219.

Referencias bibliograficas BURCHARD, J.E. How humanists use a library. In Intrex: report of a planning conference on information transfer experiemnts. Cambridge : MIT Press, 1995, p. 219. CRANE, D. Invisible colleges. Chicago: University of Chicago Press, 1972. STIEG, M.F. The information needs of historians. College and research libraries, Nov. 1981, vol. 42, no. 6, p. 549-560. Se uma mesma referencia ecitada varias vezes, podemos abrevia-la de forma clara e explfcita na primeira citac;ao. Exemplo:

Primeira citaf{iio NATHANIEL, Shurtleff, ed., Records of the governor and company of the Massachusetts Bay in New England, Boston, [s.n.], 1853-54, 5 vols., vol. 1, p. 126 (citado afrente como Mass. Records).

Segunda citaf{iio e seguintes A segundacitac;ao de urn documento e as seguintes podem serreduzidas ao(s) apelido(s) do(s) autor(es) e a urn titulo resumido, seguido do(s) numero(s) de pagina(s) citada(s) ou da forma abreviada apresentada na primeira citac;ao.

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Exemplo: SUTTON, The analysis offree verse form, p. 246. Mass. Records, p. 128. Seas citas;;oes sao numeradas pela a sua ordem de aparis;;ao, a segunda citas;;ao e as seguintes podem ser reduzidas ao(s) nome(s) do(s) autor(es) e ao numero de referencia correspondente aprimeira citas;;ao, seguido do(s) numero(s) de pagina(s) citada(s). Exemplo Texto The notion of an invisible college has been explored in the sciences 32 . Its absence among historians is noted by Stieg33 . It rnay be, as B urchard34 points out ... Stieg35 has further noted ... Cita~oes

32. CRANE, D.Invisible colleges. Chicago : University of Chicago Press, 1972. 33. STIEG, M.P. The information needs of historians. College and research libraries, Nov. 1981, vol. 42, no. 6, p. 549-560. 34. BURCHARD, J.E. How humanists use a library. In lntrex : report ofa planning conference on information transfer experiments. Cambridge: MIT Press, 1995. 35. STIEG, ref. 33, p. 556.

1.10.2. Metodo de autor-data 0 primeiro elemento (apelido do au tor) eo anode publicas;;ao do documento citado sao referidos no texto.

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Normas de

Edi~ilo

Se o primeiro elemento e dado no decmTer do texto, o ano deve ser apresentado de seguida entre parenteses, caso contnirio, o apelido do autor e o ano de publicas;ao sao mencionados entre parenteses. Se dois ou mais documentos possufrem o mesmo apelido e o mesmo ano de publicas;ao, devem ser distinguidos por letras minusculas (a, b, c, etc.) a seguir ao ano, dentro de parenteses. As referencias dos documentos sao apresentadas em lista bibliognifica, por ordem alfabetica do primeiro elemento, seguido do ano de publicas;ao e, quando necessaria, a letra mimiscula. Exemplo:

Texto e

cita~oes

The notion ofan invisible college has been explored in the sciences (Crane, 1972). Its absence anwng historians is noted by Stieg (1981 , p. 556). It may be, as Burchard (1965, p. 219) points out...

Referencias bibliograficas BURCHARD, J.E. 1995. How humanists use a library. In lntJ-ex: report of a planning confererLce on il1fonnation transfer experiments. Cambridge :MIT Press. CRANE, D. 1972./nvisible colleges. Chicago: University of Chicago Press. STIEG, M .F. 1981. The information needs of historians. College and research libraries, Nov. 198 1, vol. 42, no. 6, p. 549-560. Para os documentos que tenham mais de dois autores, podemos abreviar a citas;ao e dar apenas o nome do primeiro autor, seguido de et al., tendo em conta que a forma abreviada nao deve entrar em conflito com referencia bibliognifica.

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Sea lista de referencias bibliograficas contiver varios documentos do mesmo autor, publicados no mesmo ano, junta-se uma letra (a, b, c, etc.) ao anode publica~ao. A letra deve ser colocada tanto na cita~ao como na referencia bibliografica para assegurar a correspondencia exacta entre as duas. Exemplo: (Pasteur, 1848a).

PARTE II. INSTRU(:OES AOS AUTORES 2. Declara<;ao de autoria e autoriza<;ao de publica<;ao Os artigos deverao ser acompanhados de uma Declara~ao de Autoria e Autoriza~ao de Publica<;ao, devidamente assinada. '

3. Entrega dos originais Os originais para publica~ao devem ser enviados em formato electr6nico (disquete e/ou CD-ROM), aos quais deve ser anexado urn Curriculum Vitae apresentado de acordo com o Modelo Comum Europeu. 1 Os originais podem ser enviados para os seguintes contactos:

Universidade Lusiada Editora Rua da Junqueira, 188-198 1349-001 Lisboa 路 e-mail: editora@ lis.ulusiada.pt

' Vide http://editora.lis.ulusiada.pt

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Normas de

Edi~ao

4. Artigos aceites e recusados Sera comunicado aos autores por telefone e/ou e-mail o resultado da avaliac;;ao dos artigos propostos para publicac;;ao.

4.1. Artigos aceites Os artigos aceites para publicac;;ao serao enviados aos autores para aprovac;;ao de eventuais alterac;;oes decorrentes do processo de edic;;ao e normalizac;;ao de acordo como estilo da revista. Os attigos aceites para publicac;;ao serao igualmente divulgados no sftio web da Editora.

4.2. Artigos recusados Os originais dos artigos recusados nao serao devolvidos, a menos que sejam solicitados pelos respectivos autores no prazo de seis meses. Os artigos recusados podem ser reformulados e reenviados como novo trabalho.

5. Revisao e correq;ao das provas Quando da publicac;;ao serao enviadas pro vas impress as aos autores para revisao, que devem ser devolvidas no prazo de tres dias uteis. Os artigos sao passfveis de revisao editorial, quando necessaria, para eventuais correcc;;oes de estilo e de forma. A Revista nao se responsabiliza pela publicac;;ao de en~os no texto final dos artigos: a revisao e eventual cmTecc;;ao das provas tipograficas sera da exclusiva responsabilidade dos autores. As despesas das alterac;;oes no cont~udo, depois das provas tipograficas, serao por conta dos autores.

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