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Revista do lnstituto Superior de Lisboa
Servi~o
Social
Ano IV- n. 0 10- Dez. 1994
Plig.
EDITORIAL
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ART!GOS Jmporll)ncia do Metodo C/fnico ou de Explrmt(.路lio Crftica no Estudo do Personalidade Joaquim Reis
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0 Trabalho Social ... da Organi:arrio para o Morimento- 0 Caso da E1periencia CERCI Maria Jose Queir6s B. Alfreclo Henriquez C.
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Plan(ficacidn y Emluacir5n: un Conjunto de Re/aciones e lntercambios Jmprescindibles y Pernwnentes Maria Jose Aguilar lclaiiez
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Jmpacte da Utilizarlio do Fax em Organismos da Adminisrrarlio Priblica Joao Pissarra
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Pre-Senecentes, unw Nova Realidade: Que Desafios para o Serri('O Social Conceiyao Ferreira Cristina Cruz M.' Clara Godimho M." de Fatima Ramos
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INFORMAc;:6ES Sessao de Lanyamento do Livro ,,As Representarries Sociais do Pr'l!fi.mio de Serviro Social - wna wuilise empfrica em cmllexto autlirquico" - Hironclina Chitas -Jose Paulo Netto -Jose Bragan~a cle Miranda - Maria Augusta Negreiros
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fNDICE DOS NUMEROS ANTERIORES
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EDITORIAL Coma publica~ao do presente numcro, damos por conclufdo o volume I da edide "Interven~ao Social". Apesar do papcl importante e insubstitufvel que, em nosso entender, a Revista tem desempcnhado na difusao da reflexao e das investiga~oes sobre a tcoria e pratica do Scrvi<;o Social realizadas durante a ultima decada, o modelo inicialmente desenhado prccisa de se adaptar as mudan~as entretanto oconidas. A Revista que come<;ou por ser a tcnuc visibilidade da investiga~ao que entao clava os primeiros passos no contexto da institucionaliza~ao academica e cientffica, hoje afirma-se como espa~o privilcgiado da divulga~ao da constru<;ao do conhecimento na area do Servi~o Social. A progressiva qualifica~ao dos prol'issionais e docentes desta area, os principais artifices mas igualmente os primeiros dcstinatarios e naturalmente os mais numerosos leitores da Rcvista, provoca a ncccssidade de novas formas dial6gicas entre esta e aqueles. 0 crescente relacionamento c protagonismo internacional do Servi~o Social "portugues", nomeadamente no amhito academico, precisa de sever mais reconhecido nas paginas da Revista. 0 reclamado dialogo interdisciplinar no dominio das ciencias sociais e humanas ( disciplinares ou de projecto) neccssita uma loca~ao mais amp la na Revista, tanto de textos versando directamente a problcmatica da interdisciplinariedade como de artigos qualificados como sociol6gicos, hist6ricos, psicol6gicos, etc. 0 campo editorial portugues na area do Servi~o Social tambem sofreu significativas e muito positivas altenl~ocs, com o aparecimento de novas revistas e o recente lan~amento de uma colcc<;ao dcstinada a publicar pesquisas produzidas no ambito da P6s-Graclua~ao. E, como al'irma Durkheim, maior densidade populacional determina maior diferencia~ao ...
~ao
Relativamente ao conteudo desta revista, Joaquim Reis no primeiro artigo, numa perspectiva cognitivista e no quadro do construtivismo piagetiano, aborda a utiliza<;ao do metoclo clfnico ou de explora~ao crftica, nas dimensoes da personalidade evidenciando igualmente as potencialidades e limita~oes do mesmo metodo. Maria Jose Queir6s e B. Alfredo Henriquez resgatando a pnitica dos trabalhadores sociais analisam uma experiencia CERCI onde explicam a emergencia deste
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Editorial
movimento (que comemorou os seus vinte anos) e o papel de protagonismo e mediagao dos Assistentes Sociais neste processo. Maria Jose Aguilar Idanez analisando as relagoes entre planificagao e avaliagao nos processos de intervengao social, diferencia a planificagao estrategica da planificagao normativa relevando a importancia da avaliagao na tomada de decisoes e reorientagao de programas e projectos. Conceigao Ferreira e alii, apresentam, baseadas num trabalho de pesquisa em equipa, a realidade dos pre-senescentes e a sua vulnerabilidade resultante da safda precoce do mercado de trabalho, analisando o papel desta nova categoria social. Por ultimo, Joao Pissarra, situando-se na tematica das novas tecnologias de informagao/comunicagao, analisa a utilizagao do fax e o seu impacto nos organismos da Administragao Publica. 0 proximo numero, que inicia o volume II de Intervengao Social, sera dedicado exclusivamente ao material produzido e transmitido no Seminario "Investigar o Agir" realizado corn base nas investigagoes produzidas no ambito das teses de Mestrado e Doutoramento cm Servigo Social.
Maria Augusta Negreiros
ARTIGOS
IMPORTANCIA DO METODO CLINICO OU DE EXPLORA<;AO CRITICA NO ESTUDO DA PERSONALIDADE Joaquim Reis * Este artigo visa caracterizar o 1m:todo clfnico ou de explora<.;ao crftica utilizado no contexto do construtivismo piagctiano. Posteriormente, e referida a sua importancia no estudo das dimensocs da pcrsonalidade. Finalmente, sao indicadas algumas potencialidades e limita<.;ocs dcslc metodo e alguns cuidados a ter na sua utiliza<.;ao.
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Introdu~ao
Socrates: Ora diz-me ea, mo<.;o: rcconheces que um espa<.;o quadrado e assim como este? Escravo: Sim Socrates: E, portanto, o quadrado um cspa<.;o que tem igual todas estas linhas, que sao quatro? Escravo: Certo Socrates: E estas linhas que o atravcssam ao meio nao sao iguais? Escravo: Sao Socrates: E nao poderia ser tal cspa<.;o ou superflcie maior ou mais pequena? Escravo: Podia Socrates: E se este !ado fosse 2 pes c aquele de outros 2, o total de quantos pes seria? Agora observa a figura. As si m va! Se este !ado ti vesse 2 pes e aquele 1 somente, nao e verdade que a dita supcr!'fcic tem lx2 pes? Escravo: sim Socrates: Mas visto que este tem tambem 2 pes, nao e verdade que assim faz 2x2? Doutorado em Psicologia. Professor no Instituto Superior de Scrvi~o Social de Lis boa
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Intcrven~ao
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Escravo: Faz Socrates: Em conclusao, a tal superffcie e de 2x2 pes. Escravo: Sim Socrates: Quanto e 2x2 pes? Calcula la e diz-me Escravo: 4, Socrates Socrates: E poder-se-fa arranjar uma outra figura que fosse o dobro desta, mas semelhante a ela e que tivesse todas as linhas iguais como esta? Escravo: Podia Socrates: Assim, quantos pes de superffcie tcra? Escravo: 8 Este dialogo, inclufdo no Menon de Platao, mostra Socrates a questionar urn escravo amedida que vai desenhando no chao as figuras geometricas de que prccisa para confirma<;ao da sua teoria. Socrates utiliza cste tipo de dialogos para demonstrar que o escravo ja tem conhecimentos de geometria, mesmo sem receber instru<;ao. Talvez pela primeira vez na historia da humanidade se tentou explorar ou estudar a natureza do conhecimento atravcs de um dialogo. Corn efeito, pretenclia-se com este metodo responder a questoes como: Donde vem o conhecimento? Como e que o conhecimento esta representado na mente humana? 0 conhecimento e inato ou aprcndido? Apesar das suas potencialidades e da sua elegancia, o dialogo socratico apresenta duas fraquezas eviclentes. Em primeiro lugar, Socrates indt!Z as respostas no sujeito. Influencia, de forma muito sugestiva, a resposta do seu interlocutor, acabando esta por ser co-construida (Ivey, 1986). Em segundo lugar, Socrates nao pede ao escravo que justifique as suas respostas, de modo a tornar explfcito o seu raciocfnio. 0 que torna impossfvel analisar os seus argumentos. Apenas se pode dar conta de um rendimento ou resposta nao se percebendo, pois, como e que o escravo chega amesma. De facto, Socrates conduz o dialogo de modo a que ele confirme a sua teoria, a sabcr: o conhecimento ja esta em nos, apenas temos de recorda-lo. Sabemos ja tudo. 0 clialogo pretende, pois, provar que nao ha ensino, mas sim reminiscencia. 0 metodo clinico ou de explora<;ao critica piagetiano tambem se traduz num dialogo com o interlocutor e visa uma explora<;ao do conhecimento deste. Contudo, clifere do metoclo socratico nalguns aspectos significativos, como se tornara evidente.
2. Metodo clinico e sua evohu;ao Piaget consagra a introdu<;ao da sua obra La representation du monde chez 1'enfont ( 1926) aexposi<;ilo e ajustifica<;ao do metodo clinico. Piaget tinha como
Jmporti\ncia do melodo clfnico
Oll
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crftica
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objectivo estudar a estrutura do pensamento dos sujeitos e nao um rendimento. Deste modo, o metodo de avalia9ao adoptado deveria permitir captar os raciocinios dos sujeitos avaliados. Como referiu Piaget, noutro trabalho, este metodo teria de ser diferente dos testes classicos: "As respostas obtidas (nos testes tradicionais) sao limitadas pelas pr6prias questoes que o experimentador coloca, sem possibilidade de sair-se de um tal quadro. Assim, um metodo desse tipo, implica, por um !ado, que se saiba de antemao o que se deseja obter na crian9a e, por outro, que acreditemos sermos capazes de interpretar as respostas percebidas (... ) contentamo-nos, em geral, em avaliar cssas respastas como certas ou CJTadas, sem procurar analizar a razao nem o mecanismo dos erros, porque visa-se calcular um rendimento e nao compreendcr a estrutura do pensamento do sujeito." (Piaget e Inhelder, 1962. p.16). Piaget pretendia, pois, urn metodo de avalia9ao que analisasse os processos psicol6gicos e nao apenas os rendimentos ou pe1j'ormances dos sujcitos. Face aimpossibilidade dos testes classicos em permitir avaliar os processos psicol6gicos, Piaget adaptou um metodo da psicopatologia para sua utiliza9ao em Psicologia Experimental. Tal metodo tem aver simultaneamente com o dia1ogo psicoterapeutico (daf o qualificativo de clfnico) e coma psicologia experimental, no sentido em que visa por em evidencia 0 que e de ambito do geral- OU passfvel de generaJiza9a0- ao nfve] do comportamento de um sujeito. Por outro lado, o experimentador coloca hip6teses e controla-as amedida que avalia os raciocinios que decorrem cla convcrsa9ao. 0 metoclo clfnico Piagetiano sofreu, contudo, evolu9oes. Com efeito, no primeiro perfodo da sua obra (1920-1930) Piaget estuclou, sobretudo, a 16gica infantil. Registou as verbaliza9oes espontaneas clas criarwas, conversou livremente com elas sobre a representa9ao que faziam do mundo e apresentou-lhes ainda algumas provas verbais adaptadas dos testes de inteligencia classicos. Estcs interrogat6rios inspiraram-se, pois, na entrevista psicoterapeutica ou psiquiatrica. Num segundo perfodo (1930-1940) Piaget estudou as primeiras manifesta9oes da inteligencia. As observa9oes desta fase foram conduzidas como verdadeiras experiencias, como eo caso da coloca9ao de uma hip6tese expllcita e da varia9ao sistematica das condi9oes experimentais. (Vinh-Bang, 1966). Trata-sc, pois, de uma observa9ao mais dirigida, um "metodo baseado quer em situa9oes livres, quer em situa9oes provocadas experimentalmente." (Inhelder, Sinclair e Bovet, 1974, p. 37). Pretendia-se demonstrar determinadas hip6teses. Num terceiro perfodo (1940-1950), Piaget da-se conta da necessidade de renunciar ao metodo de conversa9ao simples pois revelou-se insuficiente para explorar a genese das primeiras no9oes operat6rias. E assim que decide adoptar um metodo misto, que continua a fazer intervir a linguagem, mas agora em rela9ao com a actividade dos sujeitos. Baseia-se num interrogat6rio maleavel e adaptado a cada crian9a e enriquecido de uma dimensao experimental. As crian9as cram interrogadas em presen9a de objectos observaveis e manipulaveis e a partir dos quais cram
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convidadas a raciocinar. Este metodo, sendo critico, visava colocar em questao, de forma sistematica, as afirma~5es do sujeito. Nao se procurava medir a solidez das suas convic~5es mas sim investigar a sua actividade 16gica profunda (Vinh-Bang, 1966). Em resumo, a escolha do metodo clfnico por Piaget teve a ver corn a sua insatisfa~ao corn os metodos de observa~ao simples e corn os testes estandardizados. 0 metodo clfnico, embora estruturado, e suficientemente flexfvel de modo a permitir a crian~a "mover-se" espontaneamente em direc9oes congruentes com o seu raciocfnio. Paralelamente, permite obter informa~ao sobre o estadio de desenvolvimento do seu raciocfnio. E, acima de tudo, uma interac~ao verbal, que pode incluir a realiza~ao de uma determinada tarefa, entre o cxperimentador e o sujeito. 0 objectivo consiste em compreender de que modo o sujeito age sobre o seu meio ambiente ffsico e reage as modifica~5es deste. Numa situa~ao tfpica, apresenta-se a crian~a uma tarefa, a quallhe permite raciocinar sobre uma determinada area do conhecimento da realidade (e.g., conscrva~ao do numero ou da classifica~ao ). 0 entrevistador regista os raciocfnios da crian~a, expressos nas suas verbaliza~5es, e observa o seu comportamento. Bascado numa hip6tese, relativa ao estadio do desenvolvimento do raciocfnio dessa area de conhecimento da realidade, o entrevistador vai colocando quest5es ate se convencer que foram alcan9adas as exigencias de tal nfvel. Durante a entrevista, a crian~a ncm sempre responde de acordo corn os seus raciocfnios ou as suas convic~5cs. Pode responder aleat6riamente ou seguir uma sugestao implfcita na pergunta do cxperimentador. As reflex5es mais validas sao, entao, as que se baseiam na convic~ao. E a melhor forma de separar respostas "boas" de respostas "inuteis" consiste em fazer contrasugest5es, as quais consistem em contrariar ou contradizer as respostas da crian~a para se saber em que medida e que elas fazem realmente parte das suas convic~5es. Wadsworth (1978, p. 236) exemplifica o metodo clfnico piagetiano numa situa~ao em que se pretende avaliar se a crian~a ja adquiriu a conserva~ao do numero (pensamento operat6rio) ou se, pelo contrario, se deixa ainda "guiar" pelas suas percep~5es (pensamento pre-operat6rio ). 0 experimentador coloca em cima da mesa uma fila de nove cubos azuis, ligeiramente separados entre si: Experimentador: Es capaz de fazer uma fila de cubos igual a minha, utilizando os cubos cncarnados? (A crian~a constr6i uma fila de cubos simetrica a construida pelo experimentador, colocando primeiro os dois cubos referentes aos dois extremos da fila e, depois, oito cubos entre esses dois, mas sem comparar a sua fila com a do experimentador). Experimentador: Alguma destas filas tem mais cubos do que a outra, ou tem ambas o mesmo numero? Crian~a: Tern o mesmo numero de cubos.
Jmporl<)ncia do metodo clfnico
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cxpJora~ao
crftica
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E: Tens a certeza? C: Sim. E: Como sabes que tem o mesmo numero de cubos? (pedido de raciocfnio) C: Posso conta-los. (A crian<;a conta os blocos de cada fila. Conta nove na fila azul e dez na vermelha.) Sao clifcrcntes. Ha mais cubos vermelhos. E: Podes fazer corn que as filas tenham o mesmo numero de cubos? (A crian<;a retira um cubo vermelho do mcio da fila e alinha os restantes com os cubos azuis.) E: Agora ambas as filas tcm o mesmo numero de cubos? C: Sim. E. Bem, vou mover os meus cubos azuis deste modo. (A fila de cubos azuis e agora mais pequena, pois o cxperimentador aproximou-os mais entre si). Agora existem mais cubos na minha fila ou na tua, ou temos os dois o mesmo numero de cubos? C: Eu tenho mais cubos. E: Pm路que? (Pedido de raciocfnio) C: A minha fila e maior (raeiocfnio pre-operat6rio). E: Agora vou fazer com que a minha fila fique igual atua. Quem tem agora mais cubos, ou temos o mesmo numero de cubos? (0 experimentador fez com que a sua fila ficasse com o mesmo comprimento que a cla crian<;a). C: Temos o mesmo. E: Como sabes? (Pedido de raciocfnio) C: Olhe, as duas chegam aqui e aqui. (A crian<;a aponta para ambos os extremos de cada fila) E: Agora se eu colocar os teus cubos mais perto uns dos outros (a fila da crian<;a fica mais curta em virtude da diminui<;ao do espa<;amento entre os cubos), temos os dois o mesmo numero de cubos ou um de nos tem mais cubos do que o outro? C: Voce tem mais. E: Como sabes que tenho mais? (pcdido de raciocfnio) C: Ecomo ha bocado; a sua fila 6 maior. E: Pm路que e que nao contas o numcro de cubos em cada fila? (e feita uma sugestao para determinar se a contagem influencia o raciocfnio) (A crian<;a conta nove cubos em cada fila) E: Quantos cubos existem na tua fila? C: Nove. E: Quantos cubos existem na minha fila? C: Nove. E: Quale a fila que tem mais cubos, ou tem as duas o mesmo numero de cubos? C: Voce tem mais cubos. E: Diz-me, pm路que e que eu tenho mais cubos do que tu? (pedido de raciocfnio) C: Voce tem mais cubos. Eles chegam mais longe (aponta para os extremos da fila do experimcntador)
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Neste ponto a entrevista podia ter terminado, e poder-se-fa concluir que a ainda e pre-operat6ria, em rela~ao a correspondencia termo-a-termo. A entrevista continuou para avaliar melhor o conceito de numero. E: Bem, vou tirar um cubo da minha fila. Quem tern mais cubos agora, ou temos os dois o mesmo numero de cubos? C. Temos o mesmo. E: Como sabes? (pedido de raciocfnio) C: Porque posso ver. E: P01路que e que nao contas novamente o numero de cubos em cada fila? (A crian~a conta ambas as filas. Conta oito cubos na fila do experimentador e nove na sua. A seguir acontagem a crian~a fica baralhada). Como refere Wadsworth, parece claro que a crian~a nao consegue conservar o numero. Quando e exposta a urn conflito entre a sua percep~ao visual e o seu raciocinio, a crian~a escolhe a avalia~ao perceptiva. Este metodo clfnico veio a designar-se metodo de exp/ora~"ao crftica por Inhelder, Sinclair e Bovet (1974) numa obra centrada sobrc a aprendizagem e as estruturas do conhecimento no contexto do construtivismo psicogenetico. Os procedimentos de aprendizagem, utilizados por cstas autoras, apoiaram-se largamente em interrogat6rios clinicos. A escolha do metodo clfnico tem a ver com o facto de um tal tipo de aprendizagem nao tcr corno objectivo unico a constata~ao dos progressos provocados mas sobrctudo a e.\plrmt(路ao crftica dos processos subjacentes ao desenvo/vimento mental. Neste metodo, o papel do expcrimentaclor consistc, por urn !ado, em fazer incita~oes que visam exigir solu~oes autenticamente operat6rias e, por outro !ado, em evitar uma apreensao dos problemas atraves de mecanismos perceptivos. Os interrogat6rios, destinados a estudar a genese das opera~oes concretas, incidiam nao apenas sobre os julgamentos que variam em fun~ao da idade ou do estadio de desenvolvimento da crian~a, mas sobretudo sobre os argumentos que os acompanham. De facto, da perspectiva das autoras, considera-se que silo os argumentos que podem esclarecer sobre a natureza dos obstaculos inerentes ao pensamento da crian~a e aresistencia que o real opoe aforma~ao das estruturas operat6rias. Este metodo exige uma analise qualitativa das condutas observadas, permitindo detectar (a) a forma~ao de estrategias cognitivas pelo sujeito em fun~ao de situa~oes experimentais e, sobretudo, (b) captar os pr6prios processos de aquisi~ao. Conclui-se, nesta obra, entre outras coisas, que uma situa~ao experimental que deseje conduzir a uma aprendizagem teni que considerar a ac~ao da crian~a e a cria~ao de situa~oes conflituais. Sao os conflitos que provocarao, pela sua supera~ao, o progresso do conhecimento, devido a uma nova diferencia~ao e coordena~ao. Um aspecto importante do trabalho de Inhelder, Sinclair e Bovet, e que o metodo clfnico ou de explora~ao crftica come~ou a ser utilizado pelas autoras, de uma forma crian~a
路 lmporlancia do metodo clfnico ou de cxplora<;ao crftica
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clara, como metodo promotor do crescimento e do progresso intelectual, isto e, como metodo capaz de provocar ou estimular mudanc;as conceituais.
3. Utilizac;ao do metodo clinico no estudo das dimensoes da personalidade 0 metodo clinico ou de explorac;ao crftica era utilizado por Piaget e seus colaboradores com crianc;as que manipulavam problemas e acontecimentos dizendo respeito aos objectos do mundo ffsico. Contudo, como referiu recentemente Joyce-Moniz (1993), este sujeito epistemico acaba por desvendar as regularidades desses movimentos e transformac;oes. 0 experimentador conhece bem a situac;ao experimental e os movimentos c transformac;oes dessa situac;ao sao previsfveis e regulares. As hip6teses do experimentador tambem estao estabelecidas apriori e nao apresentam ambiguidades. As coisas sao desta maneira e nao sao de outra. Com efeito, quer o sujeito, quer o experimentador, talvez sintam mais duvidas e mais dificuldade em prever os acontecimentos no mundo dos objectos sociais ou imaginados. Este e, de facto, um mundo que apresenta muitas incoerencias e contradic;oes. As coisas nao sao palpaveis e manipulaveis do mesmo modo que os objcctos do mundo ffsico. Em questoes que dizem respeito apersonalidade das pessoas, e que envolvem, portanto, as dimensoes psicol6gica e social, o investigador nao se preocupa apenas com problemas epistemol6gicos mas tambem com problemas ontol6gicos. Com efeito, as teorias que se fundam exclusivamente em problemas epistemol6gicos tendem a enfatizar problemas racionais e 16gicos negligenciando problemas existenciais fundamentais. Como refere Gonc;alves (1992), os modelos racionalistas e 16gicos tendem a ser mais apropriados para questoes como: "Sera que tenho memoria suficiente no computador para aquilo que estou a escrever?"; "Hoje vou areuniao com o Director?"; "Sou casado?". Estas questoes podem ser facilmente respondidas atraves duma resposta sim/nao e raramente representam problemas existenciais. Contudo, questoes como: "Sera que aquilo que estou a escrever vale alguma coisa?"; "0 que e que senti na reuniao com o Director?"; "Porque e que casei?", representam problemas existenciais e exigem mais do que uma explicac;ao l6gica ou uma resposta sim/nao. Assim, quando pretendemos investigar as dimensoes da personalidade, levantam-se mais incertezas e ambiguidades do que acontece quando estudamos problemas referentes ao mundo ffsico ou 16gico. Apesar disso, o metodo clfnico ou de explorac;ao crftica pode e deve ser utilizado no estudo das dimensoes da personalidade. Alias, e o principal metodo utilizado em Psicoterapia Cognitiva (Beck et a!, 1979; Beck e Emery, 1985; Beck e Freeman, 1991; Ellis, 1962; 1987). Com efeito, os autores deste modelo psicoterapeutico, asemelhanc;a de Piaget, optam por recolher preferencialmente clados qualitativos, isto e, processos de
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Interven~ao
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conhecimento. Os processos cognitivos inadaptativos sao identificados e modificados atraves de urn dialogo em que o cliente tern de justificar as suas respostas e compara-las corn justifica~oes alternativas, supostamente mais racionais e adaptativas. Habitualmente, sao as racionaliza~oes do terapeuta que servem de criterio de racionalidade, funcionalidade ou adapta~ao. 0 paciente e, pois, convidado a exp6r o seu raciocfnio, sujeitando-se, posteriormente, a contra-sugestoes. A Psicoterapia Cognitiva adere ao primado da media~ao cognitiva sobre as reac~oes emocionais e as atitudes verbais ou motoras. Sao as significa~oes da realidade, ou dos acontecimentos percepcionados, que provocam a resposta emocional e atitudinal. Por exemplo, no modelo de psicopatologia cognitiva de Beck os esquemas representam estruturas cognitivas profundas das quais o paciente habitualmente nao tern consciencia. Urn esquema e mais geral e abstracto do que urn pensamento. Assim, dois exemplos de esquemas cognitivos podem ser: (1) "devo ser sempre aceite" e (2) "se alguem discorda de mim, significa que nao gosta de mim". Por seu !ado, os pensamentos estao a urn nfvel mais superficial. Sao mais facilmente acessfveis a consciencia do que os esquemas. Sao cspecfficos, concretos e ligados ao contexto. Exemplo de dois pensamentos relacionados corn os esquemas anteriores: "Nao aguento ser rejeitado pela Clara"; " E horrfvel quando o Joao nao concorda comigo". 0 modelo beckiano refere ainda a existencia de processos cognitivos disfuncionais, os quais podem conduzir a reac~oes emocionais excessivas. Por exemplo, o pensamento dicot6mico refere-se a tendencia para interpretar os eventos em termos de tudo-ou-nada. Eo caso de urn estudante que acha que ou tern urn dezoito no teste de matematica e sera um exito ou entao, se a nota for inferior, significa que nao sabe nada. Uma asser~ao metodol6gica basica da Psicoterapia Cognitiva refere que os esquemas, pensamentos e processos cognitivos disfuncionais e consequentes significa~oes e afectos sintomaticos, podem ser mudados por meio do confronto com processos racionais ou empfricos. Neste contexto, visa-se, primeiro, uma identifica~ao dos pensamentos e esquemas e processos cognitivos disfuncionais e consequentes significa~oes e afectos sintomaticos e, depois, uma modifica~ao dos mesmos. A principal metodologia utilizada pela Psicoterapia Cognitiva e o confronto racional. Atraves dele, o terapeuta procura saber como o cliente pensa e quais os seus argumentos. Questiona-o relativamente as suas asser~oes ontol6gicas e epistemol6gicas. Trata-se, pois, do metodo clfnico ou de explora~ao crftica, ja que o terapeuta confronta (contradiz, questiona) as asser~oes do paciente. As perguntas habituais do terapeuta sao abertas e visam explorar a organiza~ao cognitiva e os processos cognitivos do paciente: Que evidencia tem para pensar dessa maneira? Existem outras formas de interpretar essa situa~ao? E realmente tao catastr6fico, mesmo sendo verdade? Quais sao as vantagens e desvantagens de manter esta cren~a?
Importancia do metodo clfnico ou de
explora~ao
crftica
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Beck (197 6) designou este metodo de experimental. Para este aut or, o paciente deve ser capaz de testar as hip6teses antes de as aceitar como validas. 0 conhecimento valido depende, em ultima ana]ise, de uma base de informayaO suficiente de modo a poder fazer-se uma escolha entre hip6teses alternativas. Numa obra fundamental do modelo beckiano publicada em 1979 (Beck et al., 1979) e referida a funyao deste metodo: (1) abrir portas para a organizayao cognitiva do cliente; (2) identificayao dos pensamentos il6gicos e a determinayao das re gras de acordo corn as quais o paciente organiza a realidade; e (3) "chegar" a representayao que o paciente faz da realidade. Paralelamente, sao feitas as seguintes recomenday6es: (I) as perguntas do terapeuta e outras tecnicas verbais derivam da sua propria teoria; deve, pois, evitar "colocar as suas ideias na cabeya do cliente" e, (2) o terapeuta deve ter consciencia das suas perguntas indutoras, da sugestionabilidade do cliente e do seu desejo de !he agradar, respondendo, pois, de acordo com as expectativas do terapeuta. Em sfntese, o confronto racional ou exp1orayao crftica do pensamento do paciente visa ajudar os pacientes na (1) identificayao dos pensamentos que causam as emoy6es excessivas; (2) analise desses pensamentos, atraves da verificayao da sua validade e utilidade; e (3) modificayao dos pensamenlos disfuncionais ou irracionais para pensamentos mais racionais ou funcionais, de acordo com o modelo te6rico do terapeuta. Este metodo e, pois, de grande utilidade quando se pretende investigar a organizayao cognitiva do paciente e respectivos processos cognitivos. Por exemplo, as investigay6es cognitivistas em Psicologia da SaUde tem privilegiado tres tipos de significay6es ou interpretay6es que as pessoas fazem relativamente a alteray6es corporais percebidas (Joyce-Moniz e Reis, 1991 ): (1) significay6es sob re os se us processos de saude e doenya; (2) significay6es sob re sintomas emocionais (e.g., ansiedade, depressao ); e (3) significay6es sobre processos de confronto, is to e, possibilidade de modificayao dessas significay6es para promover comportamentos em pro! da saude, da prevenyao da doenya e das emoy6es excessivas ou da reabilitayao. Assim, no estudo dos processos hipocondrfacos o metodo clfnico ou de explorayao crftica torna possfvel identificar as significay6es ou interpretay6es do paciente em relayao a uma determinada alterayao corporal (e.g., sintoma ffsico) ou em relayao a sintomas emocionais. Permite ainda analisar as significay6es de confronto do paciente, isto e, os processos que utiliza na prevenyao ou modificayao das suas significay6es sintomaticas e, finalmente, pro mover modificay6es das significay6es sintomaticas ou inadaptativas por outras mais adaptativas. Segundo o modelo da Psicoterapia Cognitiva, nos processos hipocondrfacos o paciente selecciona apenas a informayao que e consistente com a sua eventual doenya e ignora as evidencias que apontam para a normalidade do estado de saude (Warwick e Salkovskis, 1989). Os sintomas do paciente tendem a ter um efeito de
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confirma~ao das suas interpreta~oes. Urn sintoma (i.e., uma percep~ao de altera~ao corporal: dor, tonturas, etc.) e interpretado como sendo sinal de uma doen~a. Isto e, o paciente nao reflecte sobre interpreta~oes alternativas para esses sintomas. 0 dialogo que se segue ilustra, de forma muito sintetica, a utiliza~ao do metodo clinico corn urn paciente hipocondriaco que tinha a convic~ao de ter uma ulcera no estomago. Depois de ter sido examinado pelos medicos, foi-lhe comunicado que o seu estomago estava 6ptimo, sem quaisquer sinais de ulcera. Apesar disso, o paciente ainda continuava ansioso e convencido que tinha uma ulcera: Terapeuta: Pensa que existe uma liga~ao entre a sua dor de estomago e o que lhe aconteceu no trabalho? Paciente: Sim! Tenho estado debaixo de uma grancle tensao ultimamente e se calhar o meu enervamento naquele clia prejudicou-me a digestao. T: Mas se voce tern uma ulcera no estomago, por路que e que os medicos nao conseguiram encontrar nacla? P: Nao sei. Talvez seja tuclo imagina~ao minha ... nao sei. Mas realmente sin to uma dor no estomago. A dor nao e imagina~ao minha! T: Nao duviclo que voce tenha uma clor no seu estomago. Aquilo que pretenclemos saber e a razao cla sua existencia. Consegue pensar noutra explica~ao para a sua clor no estomago que nao tenha aver coma existcncia de uma ulcera? P: Nao. T: Nota alguma liga~ao entre a sua clor no estomago e a sua ansieclade? P: Sim. Quanto mais me cloi mais ansiosa fico ... T: Quer dizer, quanto mais ansiosa fica mais clores tem. P: Esta a pretender dizer que tudo isto que eu sinto e causado pela minha ansiecl<Ide? T: Estou a perguntar-lhe. Nao !he estou a dizer. Eclaro que tenho algumas ideias sobre aquilo que se passa consigo, mas gostaria de identificar os seus pensamentos disfuncionais. Aquilo que me intriga na sua situa~ao e quando voce cliz que o seu problema de estomago se clesenvolveu, espontaneamentc, trcs mcses atras num clia de muito stress. Nunca teve problemas de estomago e os meclicos nao encontraram a mfnina evidencia que puclesse inclicar a existencia de uma ulcera. De modo que volto a perguntar-lhe: acha que as suas dores no estomago sao deviclas a uma ulcera ou existe outra razao? P: Bem, de facto nao tenho uma prova real que me !eve a acreditar que o problema esta no meu estomago. Mas sempre que sinto a dor fico assustacla. T: Eclaro. Mas o que eque voce cliz a si propria sempre que sente dores no est6mago? P:(pausa de 30 segundos) Que estou a ter uma hemorragia no estomago. (pausa) Ah! Estou a ver on de quer chegar. Talvez me sinta assustada porque me conven~o a mim mesma naquele momento que tenho uma ulcera!
.l?J
lmportflncia do mctodo clfnico ou de explorw;ao crftica
Como se pode constatar, o terapeuta explora, de forma crftica, o pensamento do paciente, confrontando-o corn raciocfnios ou interpretay5es alternativas no sentido de promover mudanyas conceituais. A utiliza9ao do metodo clfnico nao e apenas utilizado em Psicoterapia Cognitiva. Outros modelos psicoterapeuticos servem-se deste metodo. A este proposito, Rosen (1991) defende que todos os modelos psicoterapeuticos se baseiam na ideia de que a promo9ao no paciente do conflito e da contradi9ao leva a uma reequilibrayao dos seus processos cognitivos ou a uma reorganizayao cognitiva. Em apoio desta tese, Ivey (1986) refere: "A psicoterapia pode ser definida como a arte da perturbayao- o acto de confrontar as discrepancias e as contradiy5es do cliente ... 0 confronto eficaz do comportamento do cliente e 0 principal percussor do crescimento, do desenvolvimento e da integra9ao do conhecimento." (p.191-192). Por exemplo, na Terapia Gestalt (Perls, 1973) utilizam-se metodos que Ievam o paciente a envolver-se em "experiencias" que contradizem ou confrontam os seus conhecimentos. Numa metodologia tfpica, o paciente envolve-se num "dialogo" entre duas partes opostas de si proprio. Este confronto de opostos expoe e acentua o conflito da pessoa promovendo tentativas de reso!uyao da perturbayao. Neste caso, 0 metodo clfnico e utilizado pelo paciente consigo proprio. Parece claro. pois, que a exposiyao do paciente a raciocfnios e formas de pensar alternativas ou contraditorias das suas, pode conduzir ao progresso do conhecimento e a resoluyao da perturbayao. Esta parece ser tambem a ideia de Inhelder, Sinclair e Bovet (197 4) quando referem: "a fonte do progresso deve ser procurado no desequilibrio que incita o sujeito a ir ale m do seu estado actual na busca de novas solu96es" (p.264 ).
4. Potencialidades e limita~.;oes do metodo clinico ou de
explora~.;ao
critica
Como se viu, a utilizayao do metodo clfnico ou de explorayao crftica permite o acesso a organizayao cognitiva do paciente e as suas estruturas ou processos cognitivos. Contudo, talmetodo nao e uma panaceia e deve ser utilizado de acordo com alguns cuidados. A seguir serao referidas as principais potencialidades e Iimitay5es deste metodo e alguns cuidados a ter na sua utilizayao. Em primeiro lugar, este metodo permite a recolha de dados qualitativos, incidindo em processos e nao em resultados ou estados finais. Esta caracterfstica do metodo vai ao encontro de propostas recentes no domfnio da psicologia e da psicoterapia (Ban路os, 1990; Joyce-Moniz, 1990; Louren9o, 1990; Mahoney, 1991; Peixoto, 1990; Reis, 1990) as quais defendem que os metodos de investigayao tradicionais, baseados na quantifica9ao de variaveis "independentes" e "dependentes", devem ser expandidos ou complementados de modo a incluir metodos qualitativos
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Intcrven~ao
Social
que se adequem ao estudo dos processos individuais de constru~;ao de significa~;oes. Com efeito, as metodologias de avalia~;ao qualitativas, permitem investigar diferentes padroes individuais de mudmwa e de evolu~;ao, tornando possfvel explorar e compreender melhor as diferen~;as individuais e o seu papel nos processos de adapta~;ao e de perturba~;ao. Assim, as diferen~;as entre os indivfduos deixam de ser consideradas "erros de variancia" para serem uma fonte de explora~;ao e reflexao te6rica de padroes individuais. Segundo, este metodo nao tem uma ac~;ao estritamente avaliadora, pois tem um forte poder terapeutico. Como se viu, permite que o paciente identifique os seus processos de conhecimento (e.g., a natureza da sua forma de pensar, as suas contradi~;oes ou a sua rigidez conceptual) e, paralelamcnte, promove o pensamento alternativo, a dialectica ea mudan~;a, caracterfsticas dos processos adaptativos; contraria a "fixa~;ao" do paciente em processos de cstagna~;ao ou tautol6gicos (Joyce-Moniz, 1993). Relativamente as limita~;oes do metodo clfnico podem referir-se as seguintes: Em primeiro lugar, a sua caracterfstica qualitativa nao permite a recolha de dados quantitativos para tratamentos estatfsticos. Segundo, este metodo privilegia a actividacle verbal e os processos de conhecimento racionais, negligenciando os proccssos de conhecimento relacionados com a experiencia emocional. Com efeito, alguns autores tem defendido a existencia de dois modos de representa~;ao do conhccimcnto, um mais racional, proposicional ou 16gico e outro mais experiencial, afcctivo c narrativo (Bruner, 1986 e Epstein, 1994). Esta seguncla forma de conhcci men to parece ter um papel fundamental nos processos de mudan~;a nao devenclo scr desprezada durante o processo terapeutico (Epstein, 1994; Mahoney, 199 J ). Terceiro, o metodo clfnico parccc aclaptar-se melhor a pessoas que funcionam habitualmente em nfveis superiores de desenvolvimento s6cio-cognitivo. Corn efeito, se estabelecermos uma equivalencia entre nfveis de significa~;oes do paciente e metodologias de interven~;ao (Joyce-Moniz e Reis, 1991 ), o racional e os objectivos deste metodo sao melhor compreendidos pelos pacientes de nfveis superiores, pm路que mais consentaneos com as possibilidades dialecticas desse paciente. Deve ainda referir-se que a utiliza~;ao do metodo clfnico durante o processo terapeutico tem um "timing" proprio. A falta de arte e engenho do terapeuta, pode levar a uma resposta do paciente bem conhecida dos psicoterapeutas: "percebo o que voce diz e acho que tem razao, mas mesmo assim continuo a sentir-me mal!". Nem sempre a simples explora~;ao crftica leva a uma modifica~;ao emocional. Com efeito, Kegan (1982) defende que o paciente ja esta em desequilibrio e, em determinadas alturas, precisa mais do apoio emocional do terapeuta do que do confronto racional e verbal dos seus pensamentos. Na mesma linha, Bowlby (1988) salienta a importancia das "comunica~;oes emocionais entre o paciente e o terapeuta" (p.l57) nos processos de perturba~;ao e de mudan~;a. Tambem Greenberg e Safran (1987) de fen-
Importancia do mctoclo clinico ou de explorw;ao critica
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dem que existem perfodos, ao longo do processo terapeutico, em que o cliente quer expressar emoyoes intensas e nao esta disponfvel para receber confrontos verbais. Ao contrario, sao bem vindas tranquilizayoes e empatia. 0 dialogo que se segue (Lazarus, 1977) pode exemplificar a insistencia de um terapeuta no confronto racional, numa altura em que o paciente parece ter compreendido bem as suas "irracionalidades" e os pensamentos alternativos "racionais" mas, apesar disso, nao consegue sentir-se melhor. Possivelmente, nesta altura do processo terapeutico, o paciente estaria mais necessitado de uma atitude compreensiva e empatica: Terapeuta: 0 que aconteceria se o seu patrao lhe dissesse que o fa despedir? Cliente: Eu sei onde quer chegar. Nao seria o fim do mundo, nao seria catastr6fico nem horrfvel. Mas nao era apenas um simples aborrecimento. Primeiro que tudo, tenho um salario 6ptimo nestes tempos dfficeis da economia e, alem disso, tenho hip6teses de ser promovido para uma posiyao que excede tudo o que poderia querer. Li os livros de Ellis e devo dizer-Ihe que nao estou a exigir ou a insistir que devo ficar com este emprego, mas e diffcil pensar em deixar um modo de vida ao qual ja estou habituado. T: Apesar das suas palavras em contrario, penso que voce esta a insistir ea exigir que nao deve comprometer o seu modo de vida. C: Deixe-me perguntar-Ihe uma coisa. Suponha que o obrigam a deixar a psicoterapia e as aulas de psicologia. Como e que se sentiria? T: Esta a querer dizer que a perda do seu trabalho seria identico a eu ser expulso da psicoterapia e da psicologia? C: Nao, aquilo que estou a pretender dizer e que voce investiu muito tempo e esforyo na sua carreira e que seria muito mais do que uma "inconveniencia" se tivesse de ser obrigado a ter outro estilo de vida. T: Claro!, seria muito aborrecido e perturbador, mas nao catastr6fico. C: Ah! Deixe-se disso ...
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0 TRABALHO SOCIAL ... DA ORGANIZA<;AO PARA 0 MOVIMENTO- 0 CASO DA EXPERIENCIA CERCI Maria Jose Queir6s * B. Alfredo Henrfquez C.
*
Introdu~ao:
0 presente artigo e fruto de uma reflexao iniciada no ambito do primeiro curso de Mestrado em Servir;o Social. No contexto desta reflexao tornaram-se relevantes, por urn !ado, a lacuna ao nfvel do conhecimento do percurso hist6rico do Servir;o Social Portugues (S .S .P.), por outro e como consequencia daquele, o desconhecimento do protagonismo dos assistentes sociais em diferentes conjunturas hist6ricas. Para a sua elaborar;ao, tivemos o cuidado de realizar entrevistas corn colegas que participaram diretamente neste proceso, bem como fizemos uma pesquisa documental que incidiu sobre o proprio objecto, assim como sobre o seu contorno hist6rico. 0 suporte bibliografico que acompanhou esta reflexao foi fundamentalmente obtido a partir das leituras sugeridas no referido Mestt路ado. Como se podeni verificar, esta am'ilise foi sendo aprofundada atraves de diferentes artigos e trabalhos publicados (oportunamente identificados para o leitor) na perspectiva da realizar;ao de um primeiro trabalho explorat6rio de investigar;ao que visava elucidar, no percurso da profissao, experiencias de intervenr;ao social significativas. Neste sentido, a experiencia que neste trabalho se analisa conesponde a um trabalho profissional realizado num momento importante para o S.S.P. pela emergencia de experiencias inovadoras, articuladas ao movimento social que incidiu na esfera da reprodur;ao social. Esta experiencia, conjuntamente corn outras, contribuiu para a construr;ao de novas bases de legitimar;ao social da profissao, evidenciando as potencialidades do Servir;o Social para intervir no sentido da autonomia dos grupos exclufdos.
' Docentes do I.S.S.S .L., investigadores do CPIHTS (Centra Portugues de Jnvestiga9ao em Hist6ria e Trabalho Social) e membros da SOCIARE.
Interven~iio
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Social
Assim, escolhemos, porque substantiva, a experiencia de assistentes sociais inseridos profissionalmente numa entidade cmprcgadora cstatal (a Caixa da Industria) que esteve na base da emergencia do Movimcnto Cooperativo no domfnio da cduca~ao e reabilita~ao de crian~as deficicntcs cm Portugal: - o Movimento CERCI, -que se inicia no perfodo a seguir ao 25 de Abril, que envolveu e envolve a participa~ao de milhares de pessoas, de Nortc a Sui de Portugal, incluindo crian~as, pais, trabalhadores indiferenciados, profcssorcs c tecnicos de cduca~ao, e uma mass a associativa e solidaria,regular c acti va. Mantemos os tra~os fundamentais dcstc trahalho na mcdida cm que os seus pressupostos basicos se mantem actuais, dccorridos mais de 20 anos cla Revolu~ao de Abril. Os graves problemas sociais que hojc cnfrcntam largas camadas populacionais (dos quais a pobreza e a exclusao soda I sao os mais gritantes) a inexistencia, de respostas institucionais, obriganHws a rcpensar, ou melhor, recolocar o papel dos movimentos sociais no actual panmatna politico-social e econ6mico portugues. Os presentes clesafios ao Servi<.;o Social c its profissoes que se confrontam corn as manifesta~oes da questao social, n;lo se conl'ormam corn praticas reprodutivas institucionais, pelo contrario, nilo sr'l itnpcrativos eticos clemandam uma nova interven~ao social, mas tambem e, sobrctudo, a mudan~a social e exigida como horizonte ut6pico tangfvel, como alternativa it ntanuten~ao do status quo.
Amilise da Dinamica Organizacional Situados na esfera da reprodu~.:;\o social alargada, os servi~os sociais "auto-representados" como instancias de rcsolu<.;ilo dos problemas da popula~ao, na verdade, exercem uma fun~ao de adtninistra9ilo e enquadramento desses problemas atraves do atendimento, triagern c L'ttcaminhamento dos "casos". Adoptando esta perspectiva de analisc, Karsch e ainda mais radical quando afirma: "... 0 atendimento bascado cm criterios de racionalidade administrativa e/ou competencia tecnica, nunca podcr;\ resultar numa solu~ao na medida em que o que esta em jogo e a propria situ:H,:ilo das pessoas no contexto das rela9oes sociais em que os problemas sao gcrados." 0 reconhecimento dos dircitos sociais inscreve-se num processo contradit6rio em que os servi9os, se por urn !ado, constituem respostas as necessidades sociais postas pelo desenvolvimento do capitalismo, por outro, provocam a recupera9ao e o controle das reivindica9oes que, na base, lhes deram origem. No contexto dum funcionarncnto baseado na racionalidade burocratica, os interesses dos tecnicos sobrepocm-sc aos da popula9ao utente, contribuindo para a 1
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Ursula Karsch, 0
Servi~o
Social na Era dos
Servi~os,
p. 33 ..
0 Trabalho Social -
0 caso da expericncia Cerci
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reprodu9ao das situay5es de sujeiyao das pessoas que, despossufdas do seu proprio saber, ficam alienadas da responsabilidade de orientar a propria vida e desacreditam das possibilidades de desenvolver capacidades proprias para enfrentar as situa96es que vivenciam e as dificuldades que enfrentam. Por outro !ado, e considerando o caso particular dos servi9os sociais, as organizay5es implementadoras das polfticas de saude, seguran9a social, educayao, etc., obliteram o verdadeiro significado da doen9a, da pobreza, da deficiencia, do insucesso escolar, pela ideologia do senso comum que reproduzem, atribuindo a responsabilidade dos problemas aos indivfduos. A crenya resultante de uma tal atitude e a de que sao as instituiy5es e os tecnicos que possuem a capacic!ade de mudar as situay5es problerm!ticas com que as pessoas se defrontam. Dcste modo, a populayao que procura os serviyos e vista como produto fatalista da incapacidade de organizar a propria vida e a actuayao dos tecnicos adquire um sentido paternalista, enquadrador e controlador. Nesta perspectiva, a troca horizontal de saberes, experiencias e conhecimentos, e inviabilizada perdendo-se, assim, a oportunidade dos tecnicos socializarem os conhecimentos que possuem. Por outro !ado, e relembrando Merton 2 a administrayao burocnitica, ao erigir as normas como o fim mesmo da organizayao, produz uma inversao entre os fins e os meios, transformando a existencia ea reproduyao dos serviyos, no principal objectivo da organizayao. A dominayao dos tecnicos sobre os utentes, dominayao subtil interiorizada e confirmada pela instituiyao, no caso das assistentes sociais manifesta-se " ... atraves das fichas que preenchem, cumprindo a rotina institucional que designara a elegibilidade do caso para atendimento e atraves da entrevista que nao explicam, durante o qual penetram no intimo da vida dos individuos, retirando-lhes dramas e segredos para, no fim, encaminha-los a outro servi~o, sem nenhum retorno efectivo on profissional." 3 (s/n) Quando os tecnicos se identificam coma instituiyao eles estao a reproduzir, atraves da sua acyao, um tipo de racionalidade burocnitica que, em ultima analise, serve aos objectivos da instituiyao no seu processo de auto reproduyao mais do que responde as necessidades dos utentes. "A super valorizayao da racionalidade tecnica, sobreposta a falta de experiencia polftica, impede a sfntese que poderia transformar as necessidades sociais num projecto comum da populayao e dos tecnicos." 4 Face a estas condicionantes, como e que os profissionais de servi9o social podem, contornando burocracias e clarificando o seu espayo de manobra nas organizay5es empregadoras, redefinir as suas
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Robert K., Merton, Sociologia: teoria e estrutura. Ursula, Karsch, op. cit., p. 36. Idem, p. 33.
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fung5es e o seu papel, corn vista aresposta mais efectiva por relagao as necessidades das populag5es? As alternativas sao necessariarnente difcrcntcs conforme a posigao que os servigos ocupam no sisterna institucional rnais vasto. No caso dos servigos assistenciais publicos, o assistente social tern rnais autonomia para cxcrcer um papel rnediador entre os sectores populares e o Estado. Ncssc contcxto institucional o assistentc social pode perspectivar politicarnente a sua pratica cm ravor dos oprimidos. 5 No segmento assistencial da polftica social podcm cmcrgir cspagos de cxpansao dos direitos sociais, permitindo a passagcm da cxclusao para a inclusao 6 Nesse ambito, o trabalho dos assistentcs sociais, quando crftica c politicamcnte perspectivado, tem potencialidades para, articulando os intcrcsses dos utentes e das organizagoes populares ainstituigao, definir uma cstratcgia a favor dos utentes aos quais o seu trabalho se dirige. Recuperar e valorizar este espago tradicionalmente cornetido ao servigo social, pode contribuir ainda para o refon,;o da idcntidade profissional e para a reconciliagao com "o leito hist6rico da projissc7o''. 1 As possibilidades hist6ricas do assistcntc social aproveitar estes espagos potenciadores da autonornia dependem do papcl de mediagao que o profissional fOr capaz de exercer entre a organizagao c o movimcnto social, o que pressup5e, por um !ado, uma leitura atenta da dinamica organizacional, e,por outro !ado, a amilise da conjuntura s6cio-polftica. Esta hipotcsc, do nosso ponto de vista, confirma-se na experiencia profissional, objecto do prcscntc trabalho. A percepgao das possibilidadcs c limitcs da acgao profissional torna-se rnais apurada quanto mais os assistcntcs sociais procedem a amllisc concreta das situag5es do trabalho corn o auxflio de rcfcrcncias te6ricas arnplas c articuladas. 8 Considerando os scrvi~;os sociais como servigos cujos objecto, objectivos, papeis e fung5es se redefincm no cspa~;o organizacional concreto onde se efectiva a acgao profissional, torna-sc necessaria uma avaliagao cuidadosa do movimento interno da organizagao. A am1lise da dinamica intcrna da organizagao tendo em conta a compreensao do sistema institucional e do sistcma social mais amplo, assim como das determinag5es sobre a polftica da organizagao, permite a compreensao do campo de rnanobra do profissional.
CELATS, Servi~o Social Crftico, Problemas e Perspectivas. Aldaiza Sposati et alii, A Assistencia na Trajet6ria das Politicas Sociais Brasileiras. Uma Qucstao em Analise. 7 Diego, Palma, A Pratica Polftica dos Profissionais. 8 Celats, idem, op. cit. 5
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0 Trabalho
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A propria legitimayao do seu poder e autoridade como elemento do sistema burocnitico " ... abre urn espa\O de aq;ao que precisa ser dimensionado." 9 (s/n) A experiencia profissional, objecto do presente trabalho, como foi explicitado anteriormente, refere-se a ac9ao desenvolvida pelo servi9o social no ambito de uma organiza9ao de presta9ao de beneffcios aos segurados da Previdencia Social. Nesta organiza9ao do sistema previdenciario portugues, e numa fase de integra9ao da Previdencia Social no sistema unificado da Seguran9a Social, na conjuntura s6cio-polftica do 25 de Abril de 1974, os assistentes sociais desenvolveram um projecto de trabalho definido e implementado com a popula9ao abrangida, sem se desvincularem da institui9ao, aproveitando as possibilidades abertas no seu interior e que contribufram para ampliar. 0 projecto desenvolvido pelo Servi9o Social da Caixa da Industria visava, essencialmente, enfrentar a problematica dos beneficiarios com filhos deficientes, situa9ao que ressaltava como uma das mais graves devido as carencias quase absolutas de equipamento s6cio-pedag6gico para educayao e integra9ao social destas crian9as. Este problema era agravado pela morosidade na obten9ao de subsfdios pecuniarios a que estes pais tinham direito, na medida em que o Fundo de Assistencia da Caixa mobilizava verbas insuficientes e a verifica9ao burocratica dos processos era demorada. Deste modo, os utentes, depois de apresentarem o pedido ao servi9o, ficavam inscritos em extensas listas de espera durante um tempo prolongado. Em suma, os beneficiarios, trabalhadores de diferentes empresas industriais correspondentes a varias zonas do Distrito de Lisboa, apresentavam-se individualmente solicitando apoio ao Servi9o Social da Caixa da Industria. Este servi9o recolhia informa96es dos utentes a partir dos quais elaboravam um estudo que constitufa o fundamento da atribui9ao do subsfdio. 0 dilema que se colocava aos assistentes sociais era por um !ado, a demora na concessao de subsfdio e, por outro, o numero insuficiente de escolas de ensino especial onde os beneficialios pudessem inscrever os seus filhos. Constitufa, assim, na conjuntura anterior ao 25 de Abril, um problema sem hip6tese de soluyao. A estrategia que os profissionais vieram a implementar foi possfvel num contexto de profundos abalos institucionais que atingiram toda a sociedade e vieram a provocar mudan9as no funcionamento das organiza96es, na orienta9ao da polftica social, e sobre os pr6prios beneficiarios e a populayao em geral, que desencadeou, nesta altura, processos reivindicativos varios incluindo o alargamento dos esquemas de cobertura da seguran9a social.
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Ursula, Km路sch, op. cit., p. 163.
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Interven~ao
Social
As linhas de for9a desta estrategia consistiram, fundamentalmcnte, em: - Informayao dos utentcs, individualmcnte e em grupo, das dificuldades de solu9ao do problema c sensibilizayao para a necessidadc de uma ac9ao organizada junto as estruturas (Caixa de Previdencia da Industria e Est ado). - Participa9ao no processo de democratiza9ao cm curso na organiza9ao, conjuntamente corn os outros trabalhadores, tecnicos, administrativos, Comissao de Trabalhadores, etc. - Negocia9ao com a estrutura dirigente da Caixa da Industria corn vista a alterar os procedimentos de trabalho e actuar em novos espa9os. - Participayao em projectos de Acyi'iO inter-serviyOS, junto da areas de residencia dos beneficiarios, numa actua9ao conjunta tecnicos e popula9ao organizada. - Apoio e refor9o na constitui<;ao de uma comissao, integrando pais e assistentes sociais, com vista ao debate e encontro de respostas para os problemas das crian9as deficientcs mentais e respectivas familias. - Implcmentayao duma ac9ao colcctiva, envolvendo os pais e a comunidade, na cria9ao das cooperativas de ccluca9ao e reabilita9ao das crian9as inaclaptaclas- CERCI- e na sensibilizayao cla opiniao publicae dos responsaveis pelas decisoes da politica social, em particular no dominio dos direitos dos deficientes.
Ede salientar, neste proccsso, a articula9aO dum trabalho interno a instituiyaO, a ac9ao desenvolvida com outros tecnicos e utentes organizados, culminando um projecto conjunto dos tecnicos com a popula9ao. A Ac~ao Profissional Na Perspectiva da Totalidade Numa leitura dialectico-marxista, a totalidade nao e urn somat6rio de fen6menos, e um todo em que objectos e fen6menos se apresentam organicamente ligados entre si, interdependentes, condicionando-se reciprocamente. Nesta perspectiva o "concreto" nao se reduz ao individual, e uma situa9ao particular cstruturalmente articulada a outras situa9oes, sendo nas rela9oes que se estabelecem entre si, que o significado dos processos se revela. 0 pensamento concreto exige a considera9ao dos fen6menos e das suas rela9ocs. Estas, nao sendo imediatamente dadas, exigem a media9ao da teoria para que o seu desvelamento se processe. Assim, na perspectiva dialectica, a teoria e uma componente indispensavel ao conhecimento do concreto.
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A perspectiva da totalidade esteve presente na pnitica dos profissionais da Caixa da Industria, no seu trabalho com os beneficiarios, assim como com os grupos de pais com crian~as deficientes e outros grupos da popula~ao, nao s6 na analise que foi feita sobre a problematica da deficiencia e sobre o funcionamento institucional enquanto (nao) resposta aos problemas, mas ainda, nas ac~oes implementadas pelos profissionais. Senao vejamos: A importancia pratica da assump~ao pelo profissional, da perspectiva da totalidade, para a compreensao e para a acttw~ao sobre as situa~oes de trabalho que lhe sao postas, pode ser entendida segundo tres aspectos principais: 1. 0 )
Um fenomeno nao pode ser compreendido isoladamente do conjunto dos fenomenos que compoem a totalidade;
2. 0 )
As situa\i'ies, os acontecimentos ou ac\i'ies devem ser analisadas em rela\aO as condi\OeS que as determinam;
3. 0 )
A interven\ao profissional tem um efeito multiplicador sob re outros fenomenos e/ou ac\i'ies.
Analisando a pratica que constitui o nosso objecto, aluz deste referencial, verificamos: - 0 primeiro aspecto esteve presente na forma como os assistentes sociais equacionaram a problematica da deficiencia mental infantile juvenil, analisada em rela~ao a uma realidade social mais ampla, a sociedade portuguesa, na qual se verificava a exclusao destas crian~as e respectivas familias, exclusao cultural, ideol6gica e social das crian~as, consideradas como potencialmente improdutivas e despossuidas dos dotes intelectuais que dao acesso a instru~ao e a cultura, e isolamento/segrega~ao das familias num sistema social estigmatizante e espoliador dos direitos humanos fundamentais para numerosos segmentos da popula~ao. Relativamente ao segundo aspecto- toda situa~ao deve ser analisada em relaas situa~oes que a determinam- ele esteve presente na analise conjunta que os profissionais, os pais e a popula~ao fizeram sobre os factores que determinam ou condicionam a deficiencia, nomeadamente: as mas condi~oes sanitarias do pais, a ausencia de assistencia aos partos, a falta de informa~ao e de instru~ao de uma percentagem significativa da popula~ao, a pauperiza~ao, a falta de infra-estruturas de apoio, a ausencia de subsfdios (e/ou a sua insuficiencia) as familias das crian~as, resultado de uma politica social supletiva e ineficiente. Relativamente ao terceiro aspecto considerado - toda interven~ao profissional tem um efeito multiplicador- podemos concluir que este efeito se verificou, como consequencia do trabalho realizado, na medida em que as iniciativas tomadas no ~ao
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decurso do processo - cria9ao de equipamentos necessarios a cobertura das necessidades educativas e de inser9ao social das crian9as e dos jovens- despoletaram e concretizaram iniciativas semelhantes por todo o pafs, assim como abriram novas perspectivas pedag6gicas ao ensino em geral, e ainda, alertaram os responsaveis pelas decis5es das politicas sociais e a opiniao publica, para outras situa96es de exclusao. Outro impacto significativo do trabalho realizado, foi a divulga9ao publica do Movimento CERCI e da filosofia em que assentava (Cooperativismo, Participa\aO, Pedagogia Activa), e a desmistifica9ao do fen6meno deficiencia mental, tal como ele era socialmente representado. Esta desmistifica9ao contribuiu para a cria9ao de novas atitudes face as crian9as deficientes, possibilitando a mudan9a de uma "atitude piedosa" para uma atitude de solidariedade activa. Contribuiu ainda, convergindo e articulando-se corn outros movimentos e dinamicas sociais, para a elabora9ao de uma politica nacional de preven\ao. Se recuperarmos uma outra componente da categoria da totalidade- a teoria e urn elemento indispensavel ao conhecimento do concreto - podemos avan9ar um pouco mais nesta reflexao. Conforme referido na dcscri9ao da experiencia 10, houve, da parte dos profissionais envolvidos, uma preocupa9ao em reflectir e aprofundar os seus conhecimentos sobre a teoria e mctodologia do servi9o social e, neste aprofundamento, insatisfeitos com o corpo de conhecimentos que sustentavam a sua pratica (que consideravam nao contribufrem para a compreensao do que se estava a passar na sociedade portuguesa, nem para a elabora9ao de uma estrategia profissional que respondesse as situa96es de pauperismo e/ou exclusao da sua clientela de trabalho ), recorreram as experiencias e contribui96es te6rico-metodol6gicas do Movimento de Reconceptualiza9ao da America Latina 11 que sentiram corresponder e dar resposta as suas inquieta96es profissionais, vindo a definir uma estrategia profissional, assente em novos pressupostos e finalidades. Este trabalho de reflexao sobre as perspectivas te6rico-ideol6gicas apontadas pela Reconceptualiza9ao, contribuiu, ainda, para o desenvolvimento de uma postura profissional em que revelou a necessidade do dimensionamento politico da pratica, e consequentemente, refor9ou a tendencia destes profissionais a vincula9ao corn o movimento social.
10 Veja-sc o nosso trabalho em co-autoria, Maria Jose Queir6s e B. Alfredo Henrfquez, "Media96es e Estrategias Profissionais I A Ac9ao do Trabalho Social na Emergencia do Movimento Cooperati vo CERCI. 11 M." A. Negreiros; M." J. Queir6s eM. Andrade, A Constru9ao do Conhecimento do Servi9o Social em Portugal. Perfodo de 1974 a 1978.
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Assente em perspectivas te6rico-polfticas que operaram um salto qualitativo no pensar e no fazer profissional, a sua ac9ao foi "praxis", por路que tomada de consciencia da consciencia da pratica, que possibilitou a defini9ao de uma finalidade, a concep9ao de um projecto e o desenvolvimento de um processo com vista a sua concretiza9ao, provocando uma efectiva transforma9ao na realidade inicialmente posta.
A passagem do individual para o colectivo As institui96es sociais, espar,:os privilegiados de actuar,:ao profissional, estao organizadas para responder a problemas especfficos colocados por utentes individuais. Ao dar respostas parcelares a problemas particulares, as instituir,:oes reforr,:am a atomizar,:ao/sectorizar,:ao do social participando, assim, do processo da reprodu9ao da domina9ao e da alienar,:ao. Classificando e categorizando os problemas, oferecem respostas fragmentadas, operando, deste modo, a separar,:ao das pessoas dos seus grupos sociais de pertenr,:a e da sua classe. 0 servir,:o social, actuando no contexto institucional, pode romper ou reforr,:ar, conforme a estrategia profissional adoptada, esta separar,:ao. Mas o processo de categorizar,:ao encena em si uma contradiyao: se por um !ado se constitui como acto separador e, simultaneamente, momento de unificar,:ao, na medida em que, sendo os individuos identificados numa categoria comum, um acr,:ao profissional que vise a sua organiza9ao em torno da discussao das vivencias e problemas comuns, pode constituir um espa9o de refor9o e fortalecimento pessoal, assim como, possibilitar o desenvolvimento de uma consciencia colectiva dos problemas. A passagem do trabalho individual para o colectivo e uma forma de romper com este processo de pulverizayao das necessidades e de atomiza9ao dos individuos, restituindo-lhes a sua dimensao de seres totais. Uma outra dimensao que pocle contribuir para compreender as possibilidades de actua9ao a favor dos utentes e da populayao, e o atendimento da institui9ao como instancia de reprodu9ao e, simultaneamente, como espa9o onde se jogam contradiy5es resultantes da correlayao das for9as sociais. "E nesta reuniao dos p6los em contradiyao que se inserem as possibilidades de pressao popular para influir na ac9ao das institui96es." 12 A incorporayaO dos interesses/necessidades da populayaO abrangida sera tanto maior quanto mais efectiva seja a pressao exercida pelas classes trabalhadoras e se us aliados (entre outros, os profissionais ), numa determinada correlar,:ao de for9as.
12
Diego Palma, op. cit., p. 183.
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Nesta perspectiva, o papel dos profissionais comprometidos com os interesses dos utentes e da popula~;ao, consistini na adop~;ao de uma estrategia que, em ultima amllise, vise a altera~;ao da correla~;ao de for~;as institucionais, estrategia essa que implica o estabelecimento de uma alian~;a entre os profissionais eo grupo dos utilizadores, ou potenciais utilizadores, da institui~;ao. 13 Os processos utilizados nesta media~;ao podem ser variados, desde a informa~;ao dada aos utentes sobre os mecanismos e circuitos institucionais e sobre as disposi~;oes regulamentares que podem ser utilizadas em seu beneficio, ate aos procedimentos com vista ao desbloqueamento de entraves burocraticos. 14 0 trabalho no interior da propria organiza~;ao, tendente a cria~;ao de alian~;as entre as diferentes profissionais, assim como a pressao sobre as estruturas dirigentes, e outro aspectos a ter em conta na implementa~;ao desta estrategia. 15 Simultaneamente, a ac~;ao profissional entronca na estrategia mais vasta que visani o refor~;o da organiza~;ao popular, de modo que esta, de fora, pressione a institui~;ao no sentido de negociar as respostas as suas necessidades. "Esta mobiliza~;ao" ... e a unica garantia de que os interesscs populares sejam inclufdos nas polfticas sociais. 16 No ambito da cxperiencia das assistentes sociais da Caixa da Industria, estas perspectivas foram viabilizadas pela media~;ao indiviclual!colectivo e pela articula~;ao institui~;ao/utentes/movimento social. Relcmbranclo o processo desenvolvido poclemos pontuar os seguintes aspectos:
- 0 atenclimento individual pcrmitiu a idcntifica~;ao de necessidades que afectavam um numcro significativo de bcncficiarios. Destas, ressaltou, por exigir uma resposta imediata, a dos familiares com crian~;as cleficientes. - Com base neste diagn6stico iniciou-se um trabalho de organiza~;ao dos pais, no decurso do qual estes foram informados das longas listas de beneficiarios a espera da obten~;ao de subsfdios para a inscri~;ao em escolas especializadas. Igualmente foram informados do escasso numero de escolas existentes no pafs. Neste processo os pais foram alertados para a necessidade de pressionarem as cstruturas, nomeadamente a administra~;ao central, para a resolu~;ao do problema, conforme referimos na primeira parte de nosso artigo.
L' 1 '
15 16
Vicente de Paula Faleiros, Saber Profissional e Poder Institucional. Diego Palma, op. cit., p. !30. Idem, op. cit., p. 183. Ibidem.
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Este processo constitui o primeiro momento de passagem do trabalho individual para o colectivo: organizac;ao dos utentes em torno da discussao da problematica das crianc;as inadaptadas, analisada como problema colectivo. - 0 trabalho dos assistentes sociais, no interior da organizac;ao empregadorano caso, a Caixa da Industria - assumiu, ainda, uma outra institucionalidade: participac;ao com outros trabalhadores da instituic;ao, no processo de democratizac;ao dos servic;os; dialogo com a estrutura dirigente, da qual os assistentes sociais dependiam directamente, com vista a sensibilizac;ao dos responsaveis para a necessidade da acc;ao do servic;o social se desenvolver no exterior da instituic;ao, nas areas de residencia dos beneficiarios, em conjunto com outros profissionais de outros servic;os de assistencia e saude. (Este trabalho junto as areas de residencia da clientela dos servic;os, comec;ara a surgir como tendencia, a partir das novas orientac;ocs da politica social, no p6s 25 de Abril, que preconizavam a descentralizac;ao e a articulac;ao de respostas, assim como a racionalizac;ao na distribuic;ao dos rccursos). 0 trabalho realizado junto a comunidadc possibilitou o encontro dos profissionais com os pais, organizados e inseric!os nos movimentos populares de base territorial. 17 Esta abordagem diagn6stica conjunta, tecnicos e populac;ao, constituiu um salto qualitativo em termos de tomada de consciencia colectiva e de organizac;ao dos grupos oprimidos. Foi um momento particulannente importante pm路que tornou visivel a relac;ao entre os problemas. Assim a dimensao do homem total: o beneficiario dos servic;os sociais sendo o mesmo homem que !uta por melhor habitac;ao, por condic;oes mais dignas de trabalho, pelo direito a melhorar servic;os de saude e assistencia, etc ..
Este foi o momento em que se viabilizou, pelos vinculos criados, a articula\i'io institui\ao, utentes e organiza\ao popular, atraves da media\ao profissional. -A Organizac;ao, ao nivel da consciencia, reforc;ou-se quando a Comissao, integrando pais e tecnicos, se constituiu e empreendcu o trabalho que conduziu a criac;ao das CERCI.
Amedida que o trabalho foi avanc;ando a dimensao de projecto colectivo foi-se tornando mais visivel e constante, passando a envolver outros pais, outras organizac;oes populares e o movimento social mais amplo. 1
~
Idem, p. 130.
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Interven~ao
Social
Neste contexto, a consciencia e a organiza~ao dos pais superou o nfvel de respasta imediata ao problema particular para se constituir como ideia-for~a que mobilizou e envolveu, de forma progressivamente mais ampla, novos grupos de pais e outras organiza~oes populares, multiplicando as Cooperativas de Educa~ao e Reabilita~ao das Crian~as Inadaptadas, por todo o pafs. Nesse momento da-se a passagem do projecto colectivo para o projecto colectivo global, constitufdo como Movimento Social.
A capacidade instituinte do Movimento Expoente maximo da participa\aO e autonomia da popula\aO Dum primeiro momento em que se estirnulou a reuniao das pessoas que viviam problemas sernelhantes (colectiviza~ao da problematica) para passarem da solu~ao do seu problema individual, para a visao de uma solu~ao colectiva, transita-se para um nfvel qualitativamente superior ern que a popula~ao estruturou institui~oes aut6nomas face as institui~oes do poder. A medida que se foi estendendo este movimento a toda a comunidade, o grau de institucionaliza~ao das organiza~oes aut6nomas atinge o nfvel nacional (inicialmente Uniao de CERCI, UNICERCI, posteriormente Federa~ao Nacional de CERCI, FENACERCI) o que lhes confere um poder negocial que, conjuntamente com outras institui~oes de base similares, vai exercer pressao no sentido de influenciar a Polftica Social em geral, e em particular, a que diz respeito a problematica em causa. Neste sentido pode afirmar-se que a cria~ao da primeira CERCI, constitufda como cooperativa, foi um estfmulo e teve o seu efeito multiplicador que se projectou a nfvel nacional, configurando uma organiza~ao de grau superior, podendo participar, junto com outras organiza~oes similares, como parceiro social, na defini~ao das polfticas de Ensino Especial em Portugal. Esta situa~ao aconteceu no momento conjuntural e polftico a que nos temos reportado. Uma consequencia colateral, mas nao menos importante a referir, e que a nova de "ensino especial" obrigou as estruturas existentes dentro deste campo (apoiados pelo anti go regime) a mudar momentaneamente de estrategia, na medida em que ja nao detinham o monop6lio que lhes era conferido pelo Estado Novo face aproblematica em causa, e tambem, na medida em que o seu referencial ideol6gico (doutinario-assistencialista) fOra posto em causa. Neste aspecto, podemos afirmar que as estruturas mais conservadoras fazem uma inflexao, conjuntural, para reaparecer em cena posteriormente ao 25 de Novembro.
concep~ao
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Mesmo assim, por um efeito de arrastamento, sao obrigadas pelo movimento social, neste caso das CERCI, a actualizar o seu discurso no campo da psico-pedagogia e educa9ao ea "reformular" o seu proprio assistencialismo. Para a disputa da "possfvcl clientela", ja nao basta a visao moralista dos quadros ideol6gicos anteriores ao 25 de Abril, c necessaria responder ao problema concreto das crian9as deficientes em condi96es diferentes. Pode dizer-se que a qualidade e condi9ao de vida da crian9a deficiente e do seu nucleo familiar, desde o 25 de Abril, tera melhorado substancialmente.
Conclusoes 1. o A experiencia do movimento CERCI deve ser compreeendida no enquadramento mais vasto da !uta das classes trabalhadoras, dos exclufdos do Estado Novo, e a relatividade da sua importi\ncia dcvcra ser vista no momento conjuntural que viveu a sociedade portuguesa. Assim,dcveremos ter em considera9ao que esta expcriencia que vimos analisando como praxis de colegas assistentes sociais, tem como pano de fundo:
- A !uta de operarios e trabalhadorcs pela apropria9ao dos meios de produ9ao e pela gestao de emprcsas c servi9os. -A !uta de trabalhadorcs agrfcolas e pequenos produtores pela posse da terra (Reforma Agraria) contra a situa9ao de pauperismo gerada pclo capitallatifundiario. - A !uta pela independencia nacional face ao capital estrangeiro paralelamente a!uta dos povos africanos das ex-col6nias portuguesas. Paralelamente, a situa9ao de ruptura gerada pelo 25 de Abril, tera despoletado um conjunto de lutas a nfveis da reprodu9ao das rela96es de produ9ao: !uta pela habita9ao; por equipamentos sociais; no domfnio cultural; pelo direito da mulher; pelo direito asaude, cada uma delas criando as suas pr6prias estruturas e desenvolvimento diferentes la9os de relacionamento. Ora, a experiencia da CERCI, s6 pode ser compreendida neste contexto, fazendo parte de uma experiencia colectiva que, num dado momento conjuntural fez convergir a luta pelos meios de produ9ao (posse) e a !uta pelo melhoramento das condi96es de vida, no sentido de uma mudan9a radical do modelo de sociedade. 2. 0 A experiencia CERCI, no contexto anteriormente descrito, comportou reivindica96es de natureza quantitativa, que conduziram a cria9ao de equipamento social, e de natureza, e de natureza qualitativa, na medida em que propugnou e lutou
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Intervcn(,Oito Social
pelo direito adiferen~a do proprio deficiente, gerando urn movimento de solidariedacle face a esta problematica. Ainda conduziu ainstala~ao de rela~oes pedag6gicas de um tipo novo (divulga~ao das experiencias Freiner e Piaget) na sociedade portuguesa. 3. 0 Tendo contribuido para a cria~ao de uma consciencia diferente sobre os problemas sociais das crian~as inadaptadas, podemos afirmar que, num espa~o-tempo cleterminado, houve uma transforma~ao nas rcla~oes entre os diferentes actores deste processo, assim como deles pr6prios com a sua situa~ao. As necessidades colectivas, sendo definidas no contexto colectivo, geraram uma cadcia de solidariedade e novas formas de viver as rela~oes sociais. A vivencia de autonomia no seio duma cxperiencia que conduz a resultados com projec~ao na sociedade, e qualquer coisa que, pensamos, pcrmanece nos actores como interioriza~ao de capacidades que em qualquer momento podem, em conjunturas favon1veis, fazer surgir, de novo, o novo. BIBLIOGRAFIA CELATS, SetTi(.'O Social Crftico, Problemas e Prspectil'(ls, S. Paulo, Cortez Editora, 1985. FALEIROS, Vicente de Paula, Saber Proj/ssimwl e f'oder lnstitucional, S. Paulo, Cortez Eclitora, 1987. KARSCH, Ursula, 0 Serviro Socialtza Era dos Servi('OS, S. Paulo, Cortez Editora, 1987. NEGREIROS, M." Augusta, Queir6s, M." Jose c Andracle, Marilia, A Construcclo do Conhecimento do Servico Social em Portllgal- Perfodo de 1974 a 1978, Lisboa, Estudos c Pesquisas, Doe. N. 0 5, Dep. de P6s-Graclua~ao do ISSSL, !992. MERTON, Robert K., Sociologia:Teoria e Estmtura, S.Paulo, 1970. PALMA. Diego, A Prdtica Polftica dos Pr!Jflssionais, S. Paulo, Celats- Cortcz Eclitora, 1986. QUEIROS, M." Jose e Henrfquez. B. Alfredo, MediacDes e Estrategias Profissionuis --A Ac9ao do Trabalho Social na Emegencia do Movimento Cooperativo CERCI, Lisboa, Pol., 1992. SPOSATI, Alclaiza et alii, A Assistencia na Trajet6ria das Polfticas Sociais Brasileiras, Uma Qucstao em Am\lise, S. Paulo, Cortez Editora, 1985.
PLANIFICACION Y EVALUACION: UN CONJUNTO DE RELACIONES E INTERCAMBIOS IMPRESCINDIBLES Y PERMANENTES Maria Jose Aguilar Idm1ez
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Siempre se ha venido sosteniendo la necesidad de relacionar la planificaci6n y la evaluaci6n en los programas de acci6n social. Sin embargo, en la practica, esto ha sido mas una formulaci6n de intenciones, ya que no se ha plasmado en el desarrollo de medidas concretas. Actualmente, uno de Ios problemas metodol6gicos y gerenciales que se confrontam es, precisamente, elmodo en que deben articularse ambas cuestiones, consideradas como "dos caras de una misma moneda". En este articulo presentamos c6mo debe entenderse la relaci6n entre ambos conceptos, desde la perspectiva de la planificaci6n estrategica y la moderna evaluaci6n de programas. Asimismo, se abordam algunas acciones clave del processo metodo16gico, donde planificaci6n y evaluaci6n son indisolubles. todo ello, atendiendo a las necessidades que la practica del Trabajo Social y los servicios sociales requiren hoy dia, y que suponen um cambio con respecto a la perspectiva que, tradicionalmente, se ha mantenido en nuestra profesi6n. Planificaci6n y evaluaci6n: he qui dos terminos estrechamente ligados a los metodos de intervenci6n social, y particulannente al Trabajo Social, asf como a la gesti6n de servicios, pero que en el desarrollo actual de los problemas metodol6gicos y gerenciales necesitan una revis6n diferente a lo que se ha venido planteando hasta ahora. Tradicionalmente, cuando se han definido los componentes de la estructura met6dica subyacente en las diferentes metodologias de intervenci6n social (trabajo social, desarrollo comunitario, educaci6n de adultos, investigaci6n acci6n-parti-
* Dr." em Sociologia e Diplomada em Trabalho Social, Professora de Planifica<;:ao e na E.U.T.S. de Cuenca
Avalia~ao
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Interven~ao
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cipativa, animaci6n sociocultural, educaci6n social, etc ), se han estabelecido o incluido Ios siguientes: - estudio-investigaci6n y diagn6stico; planificaci6n y programaci6n; - ejecuci6n o fase operacional; - evaluaci6n y control. Pn'iticamente toda la bibliografia metodol6gica mas al uso en Espafia casr sm excepci6n - plantea el processo de intervenci6n social en estas etapas o momentos, independientemente que se les denomine asi o de outra forma: Este esquema metodol6gico aborda !as relaciones entre planificaci6n y evaluaci6n de la siguiente forma: es necesario planificar la intervenci6n (disefiarla por anticipado) para asegurar una ejecuci6n mas efectiva); - es preciso evaluar (valorar Ios resultados de la intervenci6n) para poder verificar hasta que punto se logran los objectivos propuestos en la planificaci6n, y si hay que estabelecer reajustes en la ejecuci6n. Dicho en otras palabras, la evaluaci6n se pcrcibc como um medio que permitc rcajustar la programaci6n (sucesiva y pcrmancntemente), a la vista de Ios resultados obtenidos. Nos cncontramos pues, ante una conccpci6n "fasica" de Ios metodos de intcrvenci6n social, donde Jas relaciones entre !os diferentes componentes se justifican y realizan, en tanto que cada fasc o etapa se apoya en la anterior. Esta concepci6n plenamente vigentc hoy dia si observamos lo que se enscfia en !as escuelas de formaci6n de profesionales de la intervcnci6n/aci6n social - se fundamenta en el paradigma de la planificaci6n normativa.
De la planificacion normativa a la planificacion estratt~gica: el papel de la evaluacion. De acuerdo a la concepci6n de la planificaci6n normativa, la realidad social cs "algo" que esta ahi, que es "objeto de intcrvenci6n" por parte de uno o varios profesionales, y que se quiere modificar en algun aspecto. Para lograr ese "cambio", los "agentes" de la intervcnci6n "planifican/disefian" una acci6n dcterminada que luego trataran de llevar a la practica. Es dccir, se analiza, se piensa y se actua en la rcalidad social como si Ios agentcs "planificadores/intervcntores" fueran los unicos que pretendicran introducir dimbios planificados de antemano. Y, ademas, se analiza, se picnsa y se actua como una fotograffa que se toma en el momento del estudiolinvestigaci6n, y sobre la que luego uno se guia para planificar y actuar.
Planificacion y cvaluaci6n: un conjunto de relaciones e intercambios
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A poco que examinemos nuestra propria experiencia y las muchas experiencias ajenas que se han difundido, podemos constatar la pobreza de los cam bios que estas planificaciones han logrado. Y ello por dos razones obvias: a) La realidad cambia permanentemente, sin importarle cw'intos y cmin concienzudos estudios se hayan hecho de la misma; b) Existen numerosos acto res sociales que tratan de inducir cambios en esa realidad, en multiples direcciones, muchas veces contrapuestas. Por tanto, existe tambien un conflicto permanente mas o menos expreso - entre actores sociales que tienen sus proprios interesses y racionalidades en el ambito. area 0 aspecto de la realidad social sobrc el que se quiere actuar, sea cual sea. La toma de conciencia acerca de las limitaciones practicas y errores conceptuales como los sefialados precedentemcntc, hicieron posible el surgimiento de una nueva perspectiva de la planificaci6n: la denominada "planificaci6n estrategica" que, justamente, pretende incorporar toclos Ios elementos de conflicto y cambio existentes en la realidad, a las tarcas de la planificaci6n, hacienda de ellas el cje principal de sus formuladores. De acucrdo a este nuevo plantcamicnto, que solo muy recientemente se csta incorporando a Ios metodos de intcrvcnci6n social 1 es necesario entender: I. Que la "16gica de la formulaci6n" es muy difercnte de la "16gica de la realizaci6n", lo que implica nuevas formas de emprender las tareas de la planificaci6n; 2. Que lo importante cs discfiar la direccionalidad del processo, y no tanto las acciones concrctas y coyunturales, tratando - en la practica - de lograr el menor desajustc posible entre el "arco direccional" y el "arco de coyuntura". Graficamcntc podrfa quedar expresado de la siguintc forma:
ARCO DIRECCIONAL
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lnterven9ao Social
Para decirlo en breve, si la planificaci6n (entendida en su concepci6n normantiva) es el "processo de preparar un conjunto de decisiones para la acci6n futura, dirigidas a! logro de objectivos por medios preferibles" 2 la "planificaci6n estrategica no contempla !as decisiones futuras, sino el futuro de !as decisiones de hoy dia" 3. En este nuevo paradigma de la planificaci6n que permite la adaptaci6n constante a Ios cambios, !as relaciones con la evaluaci6n son totalmente diferentes: mientras que en la planificaci6n normativa la evaluaci6n cumple la funci6n de verificar resultados obtenidos: en la planificaci6n estrategica la evaluaci6n es una tarea que forma parte del mismo processo de planificaci6n y ejecuci6n del programa. Es decir, la tarea de evaluar es inherente a! processo de planificaci6n estrategica, asi como a la operacionalizaci6n o puesta en pnictica del plan, programa o proyecto (segun el nivel de que se trate). Esto no quiere decir como algunos autores pretenden que planificar y avaluar sean una misma cosa: dentro de esta nueva perspectiva, si programar es introducir organizaci6n y racionalidad en la aci6n, para lograr determindas metas y objectivos, evaluar es enjuiciar y valorar esa racionalidad, estableciendo la capacidad de alcanzarlos que tiene cada una das posibles alternativas de acci6n.
La evaluacion en el processo de planificacion Si consiclerarmos esta propuesta, poclemos observar como lo hace Matus 4 - cuatro "momentos" de la planificaci6n que no cleben considerarse en el significaclo "temporal" del termino, sino concerbirse como moclos de organizaci6n de la acci6n planificadora: - Momentos analitico/explicativo (que pasa?, cwll es la situaci6n?) Momento normativo (a cl6nde queremos llegar?) - Momento estrategico (que camino hay que ir hacienclo?) - Momento tactico/operacional (c6mo hacer para el logro de Ios objectivos?)
1
ANDER-EGG, E.: lntroducci6n a la planificacidn. Siglo XXI, Madrid, 1991. DROR, Y.: ''The planning process: a facet design", en A. FALUDI, (ED.), A Reader in Planning Theorv. Pergamon Press, Oxford, 1973. ) DRUCKER, P.: The Practice cJf Management. Harper & Row Pub., New York. 1954. 1 MATUS, C.: Planificacir5n, libmlad\路 conflicto. IVEPLAN. Caracas. 1985. 2
PlaniCicacion y cvaluaci6n: un conjunto de rclaciones e interciimbios
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Todo esto, aplicado en el terreno pnictico, se traduce en una serie de actuacines y medidas. Estas acciones consideradas clave dentro del processo de planificaci6n son las siguientes 5 : -
Pron6stico Identificaci6n de las necessidades de cambio u oportunidades de mejora Selecci6n de polfticas y estrategias Estabelecimiento de prioridades, asignando recursos entre demandas y objetivos competitivos Disef\o y control de proyectos - Medida del desmpef\o, cumplimiento o cjccuci6n - Planificaci6n de contingencias En este listado de actuaciones, podcmos comprobar hasta que punto la tarea de evaluar aparece como interpenetrando cl proccsso mismo de la planificaci6n: 1. Salvo que el pron6stico se rcalicc por procedimientos de cxtrapolaci6n - persperctiva que cac!a vcz se considera menos adecuada en Ios estudios prospectivos, como se acaba de poner de manifiesto en Europrospectiva III 6 - s6lo sobrc la base de una evaluaci6n/valoraci6n sistematica de Ios posiblcs "csccnarios futuros" es posible desarrollar pron6sticos realistas. 2. Para identificar ncccssidadcs y problemas, asf como oportunidades de cambio, es preciso dctcrminar tanto su naturaleza y magnitud, como su gravedad y posiblcs mcjoras, ademas de estabelecer la percepci6n social que se tiene de !os mismos y recursos potenciales. Todo ello, constituye lo que algunos autorcs ban clenominado "evaluaci6n de neccssidades" 7 y que forma parte del proccsso de diagn6stico social en que - necessariamente" ha de apoyarsc la programaci6n. 3. La selecci6n de polfticas y estrategias no puede realizarse de manera racional e inteligente, si no csta baseada en la evaluaci6n sistematica de cada una de las posibles alternativas. Evaluaci6n que convendra incorpore una valoraci6n sobre beneffcios futuros e impacto de cada una de
5
FALK. N. y LEE, J.: Planning de Social Services. Saxon House, Wcstmead, 1980. FAST PROGRAMME.: Europrospective Ill. Science and Technology for the eight billion people of the planet by 2020. Comissi6n de las Comunidades Europeas y Programa Fast (documentos policopiados), Wiesbaden, junio, I993. i ALVIRA, F.: Metodologia de la evaluaci6n de programas. CIS, Madrid, 1991. 6
44
Interven~ao
Social
!as posibilidades de elecci6n, asf como sus costos. Todo ello en terminos no solo financeiros, sino sociales y politicos, en el mas amplio sentido de la expresi6n. 4. fntimamente ligado a lo anterior esta el establecimiento de prioridades entre demandas y objetivos que resultan competitivos por Ios mismos recursos. Si dichos fines no pudieran compatibilizarse, la determinaci6n de prioridades inherente al proceso mismo de planificaci6n, conlleva la utilizaci6n - desde el punto de vista tecnico - de uno o varios procedimientos mas o menos formalizados de evaluaci6n. Se ha dicho que "si la polftica es ellenguaje de !as prioridades, quiza la planificaci6n sea la gramatica" 8 nosotros agregamos que, de ser asf, la evaluaci6n podrfa ser una parte importante de su sintaxis. De este modo, procedimientos tales como el "metodo Hanlon", el modelo "PRECEDE", el metodo "DARE", la "parrilla de analisis", "ponderaci6n de criterios", o el "metodo SIMPLEX"; constituyen tecnicas de priorizaci6n basadas en diversos criterios de evaluaci6n de Ios problemas y/o sus soluciones.
S. El diseiio y elaboraci6n de proyectos es- sin duda- uno de Ios instrumentos clave de la programaci6n en el ambito de la acci6n social. Podemos afirmar que es este elemento el que pennite- dentro del proceso global de planificaci6n- operativizar Ios planes en acciones especificas. Un proyecto es "el conjunto de actividades que se propane realizar de una manera articulada entre sf, con el fin de producir determinados bienes y servicios capaces de satisfacer necesidades o resolver problemas, dentro de Ios lfmites de un presupuesto y de un perfodo de tiempo dados" 9 . Para lograr esto, un buen proyecto, bien disef\ado, "debe especificar Ios elementos esenciales que se requieren para crear un sistema de seguimiento para la ejecuci6n del proyecto y la evaluaci6n consecutiva de Ios efectos e impactos del mismo" 10 â&#x20AC;˘ Y ademas, una de !as tarcas que comprcndc la claboraci6n misma del proyecto, es su evaluaci6n ex-ante, o evaluaci6n del disef\o, que sera lo que permita su justificaci6n tecnica.
x FALK, N. y LEE, J.: op. cit. " ANDER-EGG, E. y aguilar, M. J.: C6mo eleborar un prowcto. Gufa para diseiiar proyectos sociales y cultura/es. ICSA-Humanitas, Buenos Aires, 1989. 111 FAO: Pautas para la e/eboracir5n de pmrectos de cooperacir5n tecnica. Servicios de Eva1uaci6n. Roma. 1984.
Planificacion y cvaluaci6n: un conjunto de relacioncs c intcrcambios
45
6. En relaci6n a la medida del desempeiio, cumplimiento o ejecuci6n de !as acciones previstas, ello no es otra cosa que cl seguimiento y control operacional. En tanto que una acci6n de monitorizaci6n de la intervenci6n, esta medida permanente constituye una forma de evaluaci6n continua, que debe realizarse durante la ejecuci6n de los programas y proyectos, asi como durante la prestaci6n de servicios. 7. Por ultimo, en lo que se refiere a la planificaci6n de contingencias, procedimientos tales como cl "balance social" o la "evaluaci6n del riesgo cualitativo y Ios problemas potenciales", pueden emplearse como formas de evaluaci6n ex-ante (para seleccionar o priorizar proyectos) o como formas de eleboraci6n de un plan de acciones para riesgos y contigencias que incluya !as medidas preventivas, cautelares y reactivas que permitan aprovechar cl mayor "tiempo de reacci6n" posible y aumentar la capacidad de maniobra en !as situaciones cambiantes que puedan resultar negativas. Acabamos de explicar alguns hechos y razones que muestran c6mo la evaluaci6n se relaeiona e incardina con cl proceso de planificaci6n. A continuiaei6n examinaremos, desde la otra perspectiva, c6mo la planificaci6n tambien forma partede alguna manera- del proceso de evaluaci6n.
La planificacion en el processo de evaluacion. Si tenemos en cuenta las definiciones mas difundidas del concepto de evaluaci6n, asi como sus rasgos esenciales en tanto que proceso sistematico de valoraci6n o enjuiciamiento; podemos considerar que, la evaluaei6n, es una forma de investigaci6n aplicada, que proporciona de manera vaJida y fiable datos e informaci6n en que apoyar un juicio de valor sobre un programa o conjunto de actividades; de forma tal que sirva de base para la toma de deeisiones 11 â&#x20AC;˘ De acuerdo a ello, y como ya indicamos en un trabajo anterior 12 , la investigaci6n evaluativa solo tiene sentido si esta encarninada a la toma de decisiones. En efecto, una evaluaci6n que solo sirva para ser archivada en una biblioteca o para decir que se ha evaluado algo, carece de sentido y no es justificable desde el pun to de vista tecnico e inclusive etico. La necessidad de la evaluaci6n viene dada pm¡que
11 AGUILAR, M. J. y ANDER-EGG, E.: Evaluaci6n de servicios y programas sociales. Siglo XXI, Madrid. I992. 12 Idem.
46
Interven<;:ao
Social
permite una retroalimentaci6n acerca de lo que se esta hacienda y los errores que se cometen o han cometido, a fin de que se puedan ir subsanando, mejorando o evitando en sucesivas ocasiones. Asi mismo- y ya sea que se trate de una evaluaci6n del disef\o y conceptualizaci6n del programa, una evaluaci6n de algun aspecto de la instrumentaci6n e implementaci6n del mismo, o una evaluaci6n de resultados sirve para proporcionar informaci6n objectiva que pueda fundamentar las decisiones de los responsables de un programa o proyecto, hacienda que disminuyan las posibilidades de fracaso del mismo. Tampoco debemos olvidar que en ese sentido, la evaluaci6n es un instrumento util para mejorar polfticas e intervenciones sociales, haciendolas mas cficaces y eficientes, mas id6neas y pertinentes. No es que se puedan tomar decisiones sin evaluaci6n previa (lamentablemente es lo que se hace con frecuencia). Lo que hacemos es llamar la atenci6n acerca de que si lo que pretendemos es una toma de dccisioncs racional c intcligente, la evaluaci6n se torna imprescindible. Es lo que nos permitira clcgir la alternativa de acci6n mas conveniente, corregir una cstratcgia de acci6n inadecuacla u obsoleta o moclificar actividades previstas, en funci6n de Ios rcsultados que se pretende obtener. Por ello, la evaluaci6n no cs un fin sf rnisma. si noun instrumento a! servicio de Ios objectivos y la planificaci6n que pretende resolver algun problema o necessiclacl, clando cuenta de Ios factores que pueclen haber contribufclo al exito o a! fracasso de la acci6n. solo de esta forma se podran corrcgir errores, aprcncler de la experiencia y, en definitiva, mejorar la acci6n social. Para clecirlo brevemente una evaluaci6n es uti! solo cuanclo se emplca para introducir modificaciones en la planificaci6n inicial, o cuanclo da origem a una mejora o nuevo disef\o de programas y proyectos 13 . Una acci6n evaluaclora que no genere ningun cambio en la programaci6n posterior es futil o inutil: !as cvaluaciones que no recomienclan ningun tipo de cambio en la acci6n, suelen ser "rituales", basaclas
L' Algunas de !as dcfinicioncs de cvaluaci6n que hacen rmis hincapie en la funci6n que cumplc para la planificaci6n. son !as de:
DUTRENIT, J. M.: "Evaluation du travail social. Aide ala Mutation路路. en Revue Rencontre. n. 0 5 I. !984. HA YES, S. P.: Emluacicin de prorectos de dc.wrrollo. FOESSE- Euramerica, Madrid, 1969. NACIONES UN ID AS: Scguimiento r t\'(/luacicin. Pautas basicas pam el desarrol/o mral. Grupo de Trabajo del CAC, Roma, !984. NATARAJAN, R.: 路'Adult Education Program: Methodology for Evaluation'', en Indian Journal ofAdu/t Education, mayo. 1983. OMS: Emluaci6n de Ios progranws de Salud. Ginebra, !98!. PINEAULT. R. y DAVELUY, C.: La planificacidn sanitaria. Conceptos, mhodos, estrategias. Masson. Barcelon. !987. WEISS. C. H.: "Evaluation Research in the Political Context''. en E. L. STRUENING. y M. B. BREWER (Eels.): Handbook onl:'mluation Research. Sage. Londres. !980.
Planificacion y C\'aluaci<)n: un conjunto de relacioncs e intcrcfimbios
47
en las relaciones publicas, o estan polfticamente controladas, ya que no existe el plan "perfecto" ni la ejecuci6n "perfecta". Por ultimo, hemos de sefialar que, aun cuando se plantifique y se evalue la intervenci6n social o la prestaci6n de un servicio, si ambos aspectos no se retroalimentan, retroactuan antre sf, y se potencian mutuamente de manera sinergica; ni la polftica social, ni los servicios sociales, ni el trabajo y la acci6n social, podran estar a la altura que ]os tiempos, presentes y venideros de crisis y cambios permanentes y constantes - nos exigen, Este es uno de los retos metodol6gicos a que debemos responder aquf y ahora, sin esperar siquiera el corto plazo.
Este trabalho merece muito mais rdlexao do queaqudaqueaquipode ser fcita e nesse sentido gostaria de desafiar todos os profissionais de Servi~o Social e de outras prot]ssoes aflns, sobretudo os que estiverem ligados ao ensino, a JC-lo c a estucLi-lo corn algwm profi.mdidade, na medida cm que h(l nesta investiga\ao nuteria muito interessante para uma reelabora~ao do percurso te6rico que devera constituir a base da fi:mna~ao dos assistentes sociais no fi1turo. Em segundo lugar sinto bastante entusiasmo com o facto de uma materia que e especifica da psicologia social (o estudo das representa~oes sociais) ter constituido o ponto de partida para esta pesquisa que procura descer ao interior da profissao. Achei particularmente interessante as quatro interpreta~oes, propostas ;] nossa reflexao, do pensar colectivo sobrt' a protl.ssao dos assistentes sociais. E algo que se apresenta extremamente bem construido, que vale a pena reler, retrabalhar e reverificar. Albino Lopes (Pro/i'ssor do ISCTL:)
MARIA AUGUSTA NEGREIROS AS REPRESENTAc;<)ES SOCIAlS DA PROFISSAO DE SERVI<;:O SOCIAL - Uma analise empirica em conrexto autarquico INSTITUTO SUPERIOR DE SERVI<;:O Departamento de P<ls-Graduas:ao
SOCIAL
DE LISB0/1. -
IMPACTE DA UTILIZA<;AO DO FAXE EM ORGANISMOS DA ADMINISTRA<;AO PUBLICA Joao Pissarra *
1 - INTRODU<;AO A tecnologia acompanhou sempre a evoluyao da humanidade. 0 desenvolvimento da tracyao animal, dos barcos, das maquinas a vapor, dos telefones e dos autom6veis, foram mar·cos importantes da civilizayao ate aos nossos dias em que a tecnologia e urn elemento dorninante na vida das sociedades (Oskamp & Spacapan, 1990). As interacy5es entre tecnologias e organizay5es sao complexas e, naturalmente, o seu estudo tern seguido orientay5es diferentes. Entre as vertentes estudadas, assinalam-se as relay5es corn a estrutura eo exito das organizay5es (Woodward,1965), e entre a estrutura tecnol6gica e a produtividade (Pugh, 1973, 1981 , citado em Steers, 1988). Segundo Pugh (1981) a tecnologia e urn factor geral de natureza flufda que integra as situay5es de trabalho e engloba vmiaveis como: interdependencia das tarefas, 1igidez dos processos de trabalho, automayao, controlo e avaliayao de qualidade. Embora reconhecendo o impacte das tecnologias da comunicayao e de informayao nas organizay5es, e diffcil generalizar os seus efeitos (Steers, 1988, Andriessen, 1991 , Ellis e al. 1991 , Nunamaker e al. 1991 ), parecendo por isso mais COtTecto discutir o efeito de determinado sistema ou ferramentas tecnol6gicas em deterrninados contextos organizacionais. No caso das tecnologias de informayao e comunicayao (TIC's) o seu impacte nas organizay5es e diverso e interfere com o processo comunicacional, a estruturayao de tarefas, as relay5es entre grupos, departamentos ou outras unidades organicas e corn o desempenho global da organizayao. A complexidade das interacy5es, multiplas combinay5es e diferenciayao destas variaveis molares, ilustra bem a dificuldade em realizar estudos aprofundados desta materia, bem como a generalizayao de resultados ou conclusoes. *
Docente do ISSS Lx. e Bolseiro de In ves ti ga~ao do LNC.
lnslilufo Superie< d-, 5erv:co l I S 11 0 A ___..,....,_
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52
Intervenr;ao Social
A utiliza~ao de TIC's nas organiza~oes e na sociedade cresceu vertiginosamente na ultima decada. Resultando do cruzamento de conhecimentos cla ciencia computacional e clas telecomunica~oes muitos sistemas tem sido criados (Oskamp & Spacapan, 1990, Pinsonneault & Kraemer, 1990) para apoiar a tomada de decisao, gestao e negocia~ao. Fundamentalmente, quando tentamos compreender a inova~ao num contexto de mudan~a, lidamos com algumas das seguintes questoes: Pm·que e que sao certas inova~oes adoptadas e outras rejeitadas? Por·que e que certas inova~oes sao bem sucedidas e outras falham? Quais e que sao os obstaculos inerentes aos processos de inova~ao? Que factores facilitam e estimulam a inova~ao? Quem determina o curso da inova~ao nas organiza~oes e na sociedade? Quem define criterios? Quem toma decisoes? • Quale o impacte real da inova~ao? Por·que e que alguns desses impactes sao menos discutidos e estudados do que outros?
• • • • •
Derivada da palavra latina innovare, inova~ao significa renovar, fazer de novo. pode ser a introdu~ao de qualquer coisa objectivamente diferente (em termos de tempo ou lugar) ou subjectivamente percebida como nova. Kanter (1983, pp. 20) define inova~ao como a "gera~ao, aceita~ao e implementa~ao de novas ideias, processos, produtos ou servi~os". Daft (1983) tambem as sinal a que a mudan~a ou inova~ao podem ter lugar nos campos da tecnologia (novas tecnicas para fazer produtos ou servi~os), dos produtos (modifica~ao em produtos existentes ou desenvolvimento de novas linhas de um produto ), da administra~ao (mudan~as na estrutura organizacional, nas metas, na informa~ao e outros sistemas) ou nas pessoas (mudan~a na lideran~a, na comunica~ao, nas capacidades de resolu~ao de problemas e por af fora). Fundamental para a no~ao de inova~ao e o elemento de mudan~a, ou seja, o infcio no piano material ou social de processos que envolvem altera~oes no padrao de rela~oes, na maneira de fazer as coisas e na mudan~a de perspectivas. 0 registo das pesquisas sobre inova~ao e prolffero. Rogers (1983) conta para cima de 3000 estudos sobre inova~ao conduzidos ate aquela data e o recente ressurgimento do interesse por este fen6meno tem alargado este numero. Pondo de parte o dominio do comportamento organizacional, na investiga~ao sobre inova~ao sao celebres os trabalhos de Daft (1982), Kanter (1988), Kimberly (1980), Utterback (1975), entre outros. A maioria dos estudos sao centrados em: Inova~ao
a) Difusao cla inova~ao entre a popula~ao das organiza~oes; b) Identifica~ao das fases do processo de inova~ao fora do contexto organizacional, Foi proposta a considera~ao de tres fases: (1) inicia~ao de uma ideia; (2) adop~ao; (3) implementa~ao (Pierce & Delbecq, 1977);
c)
Categoriza~ao menta~ao
de
das inova~oes nas dimensoes do produto- processo e impleradicais;
mudan~as
Impacte da
utili;_a~ao
do faxc em organismos da
Administra~ao
Publica
53
d) Identifica~ao das caracterfsticas de estrutura (organica mecanicista), de pro-
cesso (modelos de comunica~ao e fun~oes) e do contexto organizacional que afectam a adop~ao e implementa~ao de variadas inova~oes; e) Identifica~ao das causas do sucesso e do insucesso de inova~oes; f) Compreensao dos meios pelos quais a inova~ao pode ser gerada e/ou a resistencia amudan~a (ao nfvel individual e de grupo) que pode surgir nas organiza~oes.
Geralmente, a abordagem feita ate ao prcsente tem seguido um caminho tradicional de pesquisa quantitativa com identifica~ao de variaveis para gera~ao de numerosos modelos contingcnciais de inova~ao. Por exemplo, foram identificados por Downs e Mohr (1976), Kimberly ( 19RO, 1987) e Rogers (1983 ), a enfase nos aspectos quantificaveis da inova~ao c a uma rclativa negligencia das dimensoes qualitativas e polfticas do processo de inova<.;ao (Tushman & Rosenkopf, 1992). A questao de agregar escalas de atributos da inova~ao e organiza~ao levou a uma prolifera~ao de dad os (cross-sectional) e a intcrprcta~oes enviesadas dum mecanismo tao complexo como a inova~ao tecnol6gica c os scus efeitos nas organiza~oes e sociedade em geral. Essencialmente, o proccsso c mais apropriadamente representado por um modelo multiplicativo de dinamica social em que a inova~ao e uma fun~ao de interac~ao entre motiva~ao para inovar, poder dos obstaculos contra a inova~ao e disponibilidade dos recursos para veneer tais obstaculos (Frost Egri, 1991, Tushman & Rosenkopf, 1992). 0 ciclo da inova~ao tecnol6gica ea sua aplica~ao e um proccsso influenciado por factores internos atecnologia, mas igualmente por factores sociais e politicos (Frost Egri, 1991 ). Eigualmente um processo descontfnuo como ilustra o modelo de Tushman & Rosenkopf (1992) (figura 1). Figura 1 CICLO DA TECNOLOGIA VARIAC::AO Descontinuidade tecnol6gica /
~
'-----------'
Era de fermento
Era da mudan~a e incremento
substitui~ao,
~
SELECC::AO
mudan~as
DESIGN DOMINANTE
(Adapta~ao
de Tushman & Rosenkopf, !992)
tccnicas
54
Interven~iio
Social
Nesta perspectiva as mudan<;as tecnol6gicas sao caracterizadas por uma evolu<;ao sociocultural, onde estao presentes diferentes fases: descontinuidade, selec<;ao, fermento e desenvolvimento. Eum processo dinamico onde varios actores sociais jogam papeis importantes. No caso das tecnologias de informa<;ao, o seu impacte nas organiza<;oes e diverso. 0 modelo heurfstico de O'Reilly & Pondy (1979), (citado em Andriesen, 1991 pp. 38) pretende ilustrar de forma global o fen6meno (figura 2).
Figura 2
TECNOLOGIA DE INFORMAt;:AO
~ CARACT.
ESTRUTURA ORGANIZA- ~ COMUNICACIONAL CIONAIS
~
l
• PERFORMANCE [• TAREFAS PROCESSO DE ~ • RELAt;:OES DE COM. UNICAt;:AO GRUPO __ _ • ORGANIZAt;:AO
Os efeitos da tecnologia cstendcm-sc por todos os espa<;os organizacionais, alterando procedimentos, cstruturas, rela<;oes entre profissionais e obviamente o desempenho dos grupos e da organiza<;ao no seu todo. Em rela<;ao autiliza<;ao das tecnologias de informa<;ao nas organiza<;oes estao envolvidos 4 factores principais (Nunamaker, Vogel & Konsynski, 1989): perfil do utilizador, tarefa e a tecnologia propriamente dita e a propria cultura da organiza<;ao. Relativamcnte ao impacte da tecnologia nas organiza<;oes e possfvel distinguir (Andriessen, 1991) quatro perspectivas: - Determinista- a tecnologia, nesta perspectiva, for<;a as organiza<;oes a
mudar e e uma solu<;ao racional e naturalmente boa para a resolu<;ao de problemas; - Gestao - as mudan<;as tecnol6gicas sao encaradas como a expressao de uma filosofia organizacional e de gestao. Por exemplo: organiza<;oes burocniticas tendem a introduzir tecno1ogias de informa<;ao que garantam um maior e melhor controlo; por outro lado, organiza<;oes mais abertas, exploram vantagens criativas das tecnologias nas diferentes redes de traba1ho; - Gmdualista- a tecnologia penetra gradualmente a organiza<;ao produzindo efeitos nao esperados que e preciso corrigir e controlar, razao pela qual e
Impactc da
utiliza~ao
do faxc em organismos da AclminisWt<;:i\o Pttblica
55
preciso integrar gradualmente a tecnologia na cultura e ambiente organizacional; - Contingencial!Interactiva - combina argumentos das anteriores, mas conceptualiza a mudanc;a organizacional como um processo resultante de mtiltiplas interacc;oes, sendo a tecnologia uma opc;ao das organizac;oes para apoiar as mudanc;as que elas pr6prias engendram. As sociedades distinguem-se pelo padrao de interacc;ao na relac;ao entre os seus membros. Na actualidade, as novas fenamentas tecnol6gicas provocam mudanc;as no padrao de interacc;ao e nos meio de participac;ao social dos cidadaos (Clement, 1994, Schuler, 1994), na vida social e no seu espac;o de trabalho. A crescente utilizac;ao de TIC's ehabitualmente associada a um aumento da produtividade, da eficiencia e por vezes da eficacia, da ve1ocidade e precisao na troca de informac;ao e reduc;ao de custos fixos nas organizac;oes e das novas exigencias da envolvente e do ambiente turbu1ento que as economias vivem na actualidade. 2- INVESTIGA<;AO EMPIRICA
2.1 - 0 Problema
E corn frequencia afirmado que a utilizac;ao do faxe e de outras tecno1ogias de informac;ao esUi a provocar mudanc;as radicais nas organizac;oes (Warneryd & Ho1mlov, 1992). A utilizac;ao generalizada do faxe seria assim um factor fundamental nas mudanc;as organizacionais, influenciando o aumento da eficiencia e eficacia na comunicac;ao organizacional e contribuindo para a reduc;ao dos custos fixos da generalidade dos neg6cios. Em continuidade do pressuposto de que emais plausivel estudar o efeito da utilizac;ao de uma determinada tecnologia numa organizac;ao a nos sa preocupac;ao sera centrada no impacte da uti1izac;ao do faxe no desempenho de organismos da administrac;ao publica. Com a utilizac;ao do faxe em organismos da administrac;ao publica que ganhos (em termos de produtividade, velocidade e precisao de troca de informac;ao, desburocratizac;ao de procedimentos ... ) sao percepcionados pe1os funcionarios publicos nos organismos em que exercem as suas func;oes? 0 uso generalizado do faxe na Administrac;ao Publica vem alimentando a crenc;a de que este instrumento tecnol6gico eum forte factor de modernizac;ao. 0 problema central que tentaremos discutir, neste trabalho, diz respeito as vantagens percepcionadas pelos funcionarios pub1icos na utilizac;ao do faxe (rapidez e precisao na troca de informac;ao) na realizac;ao das suas tarefas e na modernizac;ao da administrac;ao publica.
56
Intcrven~ao
Social
2.2 - Hip6teses Partimos das seguintes hip6teses: H1: 0 tempo de utiliza~;ao do faxe afecta positivamente a percep~;ao dos ganhos provcnientes da utiliza~;ao do faxe. Esperamos que os sujeitos que ha mais tempo utilizam o faxe tenham uma opiniao mais favoravel e reconhe~;am mais vantagens sobre o uso do faxe na administra~;ao publica. H2: Os profissionais de secretaria- administrativos - apreciarao a utiliza~;ao do faxe de forma menos vantajosa do que os tecnicos superiores. A nossa previsao aponta para que o pessoal das secretarias tenha uma opiniao menos favoravel quanto as possfveis vantagens introduzidas pelo faxe, na administra~;ao p(Jblica. H3: Os sujeitos que tern uma predisposi~;ao mais favoravel para a utiliza~;ao de tecnologias de informa~;ao terao igualmente uma predisposi~;ao para percepcionarem a utiliza~;ao do faxe como mais vantajosa para a eficacia da administra~;ao publica.
0 nosso pressuposto e de que existe uma forte correla~;ao entre a aceita~;ao generica dos beneffcios da tecnologia e a aprecia~;ao positiva das vantagens do faxe. Os sujeitos que manisfestam uma atitude mais favoravel face as tecnologias de informa~;ao, tenderao a reconhecer mais vantagens na utiliza~;ao do faxe. H:4 0 uso do faxe no envio e recep~;ao de documentos, aumenta com o tempo de uso do faxe. Esperamos que o aumento da utiliza~;ao do faxe cres~;a com o tempo de uso, ou seja, quem tern faxe ha mais tempo tendera a utiliza-lo com mais frequencia.
2.3- Metodo 2.3.1 - Sujeitos
A amostra e composta por 103 sujeitos, 33 homens e 70 mulheres, funcionarios da Administra~;ao Publica nas areas das finan~;as e educa~;ao. Media de idade = 35.9612 e sd = .0758.
Impacte da
utiliza~ao
do faxc cm organismos da
Administra~ao
Pt1blica
57
Grafico 1 Distribui\iiO por sexo
: Mulheres
\
68%
Ho mens
A amostra e constitufda por dois grupos profissionais: tecnicos superiores e pessoal administrativo (grafico 2 c 3). Os locais de trabalho situam-se na regiao de Lisboa. A recolha de informa<;ao dccorreu entre a ultima semana de Janeiro e primcira semana de Fevereiro de 1995.
Grafico 2 Distribui\iiO por areas e sexo
Educa<,;ao
>Homens .Mulheres Finan<,;as
0
10
20
30
40
lnterven~ao
58
Social
Gnifico 3
Administrativos
_Finan~as
.Ecluca~ao T. Superiores
____ J.__________ ][ _ _ __
0
10
20
30
40
2.3.2 - Design
Foi utilizado urn design factorial 2 X 2 X 2, area funcional (finan~as versus educa~ao), tempo de utiliza~ao do faxc (menos de cinco anos e cinco ou mais anos), categoria profissional (tecnico superior e pessoal administrativo ).
2.3.3 - Procedimento
Foi construfclo um question<1rio que, antes da sua versao final, foi testado em 30 sujeitos donde resultaram as necessarias adapta~5es. 0 questionario na primeira parte integra uma escala tipo Likert ancorada em 7 pontos (concordo totalmente, discordo totalmente ); na segunda foi recolhida informa~ao referente a utiliza~ao do faxe e dados demograficos dos sujeitos. A primeira parte integra 17 item. Os item 1, item 2, item 3, foram retirados de Lee ( 1970) e Brooks e al. (1994) e pretendem medir a predisposi~ao ou atitude dos indivfduos face as tecnologias de informa~ao, factor importante na aprecia~ao subjectiva dos ganhos ou vantagens no uso destas ferramentas. Os questionarios foram entregues as pessoas dos respectivos servi~os, que se dispuseram a colaborar, e recolhidos pelos elementos do grupo uma semana ap6s a distribui~ao em data combinada com os inquiridos. Tal procedimento pode ter permitido que os sujeitos tenham "combinado" respostas ou gerado mecanismos de inf1uencia mutua que eventualmente poderao ter condicionado os nossos dados.
59
Impacte da utilint<;ao do faxe em organismos da Aclministra<;ao Ptiblica
3 - ANALISE DE RESULTADOS Em termos gerais, os sujeitos da nossa amostra concordam em que o faxe seja urn instrumento uti] na troca de informa~iio entre servi~os (envio e recep~iio de documentos) e da comunica~iio em geral (conforme tabela 1).
Tabela 1 Educar;ao
Finan\=aS + 5 Anos
~5
anos
+ 5 Anos
~
5 anos
-~路
T. sup.Admi.
T. Sup.Admi. T. Sup.Admi
T. Sup.Admi.
A T
Meel Item Item Item Item Item Item Item Item Item Item Item Item Item Item
4 5 6 7 8 9 10 !I
12 13 14 IS
16 17
EFEITOS
7.0 4.5 6.0 2.5 6.5 3.6 4.) 4.7 6.75 4.5 6.0 5.0 6.5 5.5
Legenda: ***p<.Ol
6.75 7.75 5.88 1.12 6.62 4.25 5.12 4.38 6.0 3.8 5.8 4.7 6.5 5.3
6.5 4.4 5.2 2.9 6.11
7.0 路1.17 5(;:2 IKl hKl
tl,7;~
\.)
!1.'71]
路1.8.1
4.19 ) 8 4.4 5.9 4.'1 6.6 6.0
),Sl
5.67 路U 6.2 5.9 6.2 5.1
6.8 6.2 6.8 4.8 7.0 4.77 5.25 6.20 6.6 5.5 6.7 5.2 6.5 6.7
6.4 4.9 6.0 2.64 5.91 4.82 5.18 6.09 6.4 4.8 6.7 4.6 6.7 5.3
6.4 4.6 6.0 3.5 5.7 6.2 4.7 5.4 5.9 4.5 5.5 4.1 5.8 5.7
6.87 5.07 6.13 2.93 6.2 3.82 4.83 5.07 6.7 3.7 6.2 4.2 6.4 6.0
c INTER
n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s ** n.s *** n.s n.s n.s n.s n.s ** n.s n.s CxT''' n.s n.s n.s n.s ** n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s n.s
** p<.05 *p<.07 ALP/\= .55 sd=.56.
Os nossos dados, tabela 1, diio apoio a ideia de que os funciomirios publicos reconhecem ter o faxe um impacte positivo na eficiencia dos servi~os. A nossa hip6tese, H: 1, admitia que os indivfduos que ha mais tempo usavam o faxe teriam uma opiniiio mais favoravel sobre o faxe, a ANOVA niio apoia a nossa hip6tese. 0 tempo de utiliza~iio niio parece ser determinante para diferenciar a aprecia~iio subjectiva que os indivfduos da nossa amostra fazem sobre os efeitos do faxe nos servi~os. A variavel tempo (T) em interac~iio com a categoria profissional (C), F(l ,3)=3.77 p<.055, revela um efeito sobre o item 9 (0 faxe niio e um bom instrumento para envio e recepyiio de documentos). Este efeito de interac~iio e necessariamente complexo e de diffcil interpreta~iio, mas podemos ver pela tabela que os tecnicos supe-
60
Interven~ao
Social
riores sao mais concordantes em considerar o faxe um bom instrumento para o envio e recep~ao de documentos, ocorrencia que da algum apoio a nossa hip6tese, H:2, pois esperavamos que os funcionarios administrativos manifestassem uma opiniao menos positiva face ao faxe. Curiosamente, a variavel tempo, neste item, parece ter um efeito negativo, ou seja, os sujcitos que ha mais tempo usam o faxe sao menos concordantes em considerar o faxe um bom instrumento para enviar e receber todo o tipo de documentos. Eventualmente a experiencia, em termos de tempo, pode facilitar uma atitude mais crftica face a utiliza~ao indiscriminada do faxe na troca de documentos. Mas, os dados revelam igualmente que a variavel area funcional, F(l,3)=3.185 p<.07, afecta o item 9, facto que refor~a a ideia de que as variaveis contingenciais do servi~os sao igualmente importantes e talvez por essa razao os indivfduos a trabalhar nos servi~os de educa~ao sejammais concordantes em reconhecer o faxe como um bom instrumcnto na troca de documentos. Da manipula~ao das nossas variaveis independentes resulta um efeito da area funcional, F(1,3)=7.58 p<.006, e categoria profissional, F(1,3)=7.346 p<.008, sobre o item 7 (0 faxe contribui para alterar as relav)es hierarquicas), facto que aponta para que a introdu~ao e uso do faxe nao implica altera~oes nas rela~oes hierarquicas. A tecnologia por si s6 nao altera clcmcntos da estrutura organizacional (Steers, 1988), nem os procedimentos. Verificamos igualmente com esta informa~ao que a administra~ao publica, ainda que introduza tecnologias, nao muda o padrao tradicional de rela~ao hierarquica. Outro efcito cl a variavel area, F(l ,3)=4.11 p<.046, sob re o item 11, ilustra que os indivfduos a trabalhar nos servi~os de educa~ao sao mais concordantes em considerar que o faxc dificulta o controle da comunica~ao nos servi~os. Provavelmente, a velocidade, rapidez e facilidade no envio de mensagens torna mais dificil aos funcionarios controlar a circula~ao de documentos e comunica~ao. Outra hip6tese que podera ajudar a compreender este dado, estara relacionada com a possivel sobrecarga de informa~ao e consequente stress, que o uso do faxe poder gerar em a1guns servi~os. A nossa escala, ancorada em 7 pontos, apresenta fraca consistencia interna (Cortina, 1993), ainda que dentro dos valores encontrados por Brooks e al. (1994) na analise de outros instrumentos de medida sobre o efeito das tecnologias, escalas ancoradas em 5 pontos, referenciando valores de alpha num intervalo de .5 a .75. Ainda assim os valores sao aceitaveis.
61
lmpacte da utilizw;ao do faxe em organismos cla Aclministra<;:ao Publica
Tabela 3 FACTOR I ITEM I6 ITEM I7 ITEM I4. ITEM I2 ITEM II ITEM 8 ITEM4 ITEMI3. ITEM IO ITEM 7 ITEMS ITEM 6 ITEM 9 ITEM IS
FACTOR 2
FACTOR 3
FACTOR4
FACTOR 5
FACTOR
6
.82583 .64386 .80S33 .698II .6II84 .780411 .6334S .77872
.84S3I .76092 .73870 .64266 .SII89
Tabela 4 FINAL STATISTICS VARIA VEL ITEM 4 ITEMS ITEM6 ITEM 7 ITEM 8 ITEM 9 ITEM IO ITEM I1 ITEM 12 ITEM 13 ITEM 14 ITEM 15 ITEM 16 ITEM 17
COMUNALIDADE ' ' FACTOR .68862 .74077 .60732 .85003 .68375 .62732 .39223 .68856 .76412 .67440 .72098 .58056 .74422 .56396
' ,
* * * * *
2 3 4 5 6
EIGENVALUE
o/c DE VAR
o/c ACM
2.40933 1.94003 1.46834 1.28096 I. 1S936 1.06883
17.2 13.9 10.5 9.I 8.3 7.6
7.2 3LI 41.6 S0.7 59.0 66.6
,
* , ,
*
Sujeitando a nossa matriz de dados, do item 4 ao item 17, a uma am'ilise de componentes principais, foram extrafdos 6 componentes principais, responsaveis por 66.6 % da variancia (tabela 3 e 4). Para melhor interpreta9ao dos resultados denominemos os factores: Factor I - Moderniza9ao da Administra9ao Publica
62
lnterven~ao
Social
Factor II- Meio de comunicayao Factor Ill Velocidade na comunicayao Factor IV- Redu9ao de custos -Factor V- Relay5es hierarquicas -Factor VI- Importancia do faxe no servi9o. Manipulando as nossas variaveis independentes (area funcional - finanyas e educayao -, tempo de utilizayao do faxe mais ou menos de cinco anos -, e categoria profissional t. superiores e aclministrativos -), observamos um efeito principal da variavel area funcional, F (1 ,3)=3.491 p< .06, sobre o factor II. Os indivfduos a trabalhar na area da educayao sao mais concorclantes cm considerar o faxe um bom meio de comunicayao. Encontramos tambem um efeito principal, F(l,3)=3.610 p<.016, sobre o factor Ill, cla responsabilidadc da variavel categoria profissional, F(l ,3 )=5. 720 p<.O 19, e da area funcional, F(l ,3)=4.76 p<.028. Verificarnos aincla um efeito de interacyao entre a area funcional eo tempo de utili1.ayao do faxe, F(l,3)=4.702 p<.033, sobre o mesmo factor. Relativamentc a este factor os tecnicos superiores, em especial os que trabalham nos serviyos das finan9as, silo mais concordantes em que o faxe seja ummeio rapido de estabeleccr a comunicayiio. Facto que e consistente com a nossa hip6tese, H:2. Relativamente ao factor IV encontramos um efeito de interacyao, area funcional X tempo de utilizayao, F(l,3)=4.806 p<.033. Embora de diffcil interpretayao, este efeito revela uma tendencia para que os sujeitos percepcionem o efeito do faxe na reduyao dos custos, nomeaclamente do papel, diferido no tempo em conjugayao com a frequencia da utilizayao desta ferramenta. Encontramos igualmente um efeito da variavel area funcional, F(l ,3 )=5 .119 p<.026, sobre o factor V e, F(l,3)=5.66 p<.02, para o factor VI. Esta ocorrencia demonstra que os sujeitos a trabalhar na area das finanyas sao quem menos concorda que a introdu9ao do faxe tenha alterado as relay5es hierarquicas no servi9o ou que tenha pcrmitido maior autonomia dos funcionarios. Esta diferen9a e compreensivel dadas as finalidades e procedimentos especificos destas duas <lrea de trabalho. Relativamente ao factor VI sao os funcionarios dos serviyos de educayao quem mais concorda em considerar o faxe um instrumento importante na realizayao clas suas tarefas. A manipulayao das nossas variaveis independentes, sobre o numero meclio de faxes enviados e recebidos, apresentou os resultados da tabela 2.
Impactc da utiliza~ao do faxe em organismos da Administra<;flo Publica
63
Tabela 2 Finan<;as
+ 5 Anos T. sup.Admi.
Educa<;ao
- 5 anos T. Sup.Admi.
+ 5 Anos T. Sup.Admi
Med N. o med. de faxe enviados
42.0
3.2
4.95
6.25
7.5
N. 0 mcd. de faxe recebidos
32.0
5.25
5.58
3.92
7.25
-
5 anos
T. Sup.Admi. A T
EFEITOS C
INTER
1.64 4.26 8.0 n.s ** n.s AxTxC"'*'''
18.27 4.79 7.6 n.s
1" 1'
n.s AxTxC*'''''
Legencla: ** p<.002 *** p<.001
Verificamos a existencia dum efeito da variavel tempo de utilizac;:ao. F( 1,3)=3.521 p<.002, sobre o numero de faxes enviados e, F(1,3 )=3.731 p<.002, sobre o numero de faxes recebidos. 0 padrao destes resultados apoia a nossa hip6tese, H:4, a qual previa que o uso do faxe no envio e recepc;:ao de documentos cresceria com o tempo e indirectamente a nossa hip6tese, H:2. Estes resultados parecem-nos ser concordantes com Warnery & Holmlov (1994), segundo os quais o uso do faxe efortemente influenciado pelo tempo de uso e pelo numero de utilizadores, ou seja, o numero de faxes enviados e recebidos aumenta com o numero de servic;:os que usam faxe e com o tempo da sua instalac;:ao efectiva. Relativamente ao tipo de documentos cnviados e recebidos por faxe, conforme grafico 4 e 5, dominam os offcios, informac;:oes e convocat6rias. Nao existem diferenc;:as entre as areas funcionais e categorias funcionais. A troca de informac;:6es privadas surge com alguma expressao e de certo modo demonstra que os sujeitos da amostra recorrem com alguma frequencia a este novo canal de comunicac;:ao. Ta1vez isto possa demonstrar alguma tolerancia dos servic;:os e dos sujeitos em trocar informac;:6es privadas sem garantia de controlar a sua exposic;:ao a curiosidade alheia. Os estudos sobre as atitudes face as tecnologias de informac;:ao, tem ilustrado que existem varias dimens6es na disposic;:ao atitudinal (Lee, 1970, Gardner, 1989, Brooks & Sulsky, 1994) dos sujeitos: a) a crenc;:a na utilizac;:ao da tecnologia como ferramentas uteis para o indivfduo e sociedade, b) crenc;:a de que as tecnologias controlam os indivfduos e superam as suas capacidades. A predisposic;:ao para os sujeitos verem a tecnologia como algo benefico ou algo de que desconfiam, influencia a apreciac;:ao que fazem sobre as vantagens ou ganhos que podem ser adquiridos com a sua utilizac;:ao.
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Interven~ao
Social
Gratico 4
40r
35
30
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Neste trabalho utilizamos alguns itcns scmelhantes aos utilizados noutras escalas para medir a predisposi9ao ou a clisposiyao atitudinal dos sujeitos face as tecnologias de informa9ao. A esca\a tipo Likcrt, l'oi ancorada em 7.pontos. A consistencia interna, medida pelo alpha (tabcla 5) de Cronbach, e de .75 e e comparavel com outras do mesmo genero, rcl'cridas cm Gardncr ( 1989), e Brooks & Sulsky (1994 ).
Gnifico 5 45
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Se tivermos por base os scores totais dos iteml (Gostaria de realizar grande parte do meu trabalho utilizando novas tecnologias (computadores, modemfaxes,
ete), item2 (A introclu~ilo de tecnologias de infonml~ilo no meu servi~;o aumentou a minha satisfa~ilo no trabalho) e item3 (Eu gostaria de aprender a utilizar as tecnoJogias de infonmt~;ilo no meu trabalho) e correlacionarmos eo m o scores totais dos item 4 a 17, verificamos o seguintc coeficiente de correhll;ilO r=.287 p<.()], Estes dados dilo apoio a nossa hip6tesc. H:l ou seja, os indivfcluos que tem disposi~;ilo atitudinal mais favor8vel face as tecnologias de infonmt~ilo em geral tenc!erilo a percepcionar a utiliza~ilo do faxe na administra~ilo publica como mais vantajosa. Com o objectivo de cleterminar qual dos items L 2 e l seriam os melhores pre-clictores dos scores totais dos items 4 a 17. construimos um modelo de regressilo considerando o scor total dos iten.\ . } a 17 como variavel depenclente c os itens 1. 2 e 3. como vari<1veis inclependentcs. Fm seguida realizamos uma analise Stepwise. No modelo cle regressilo aprcscntado. verificamos que o item 2 eresponsavel por 309( cl a variancia do resultado finaL R2 =30 desta forma a percep9ilo das vantagens da tecnologia da informa~;lio parecc scr fortemente influenciada pela satisfa~;lio que gera no local de trabalho.
4- DISCUSSAO Os clados agora apresentados indicam uma aprecia\~lio positiva das vantagens na do faxc. No entanto, a nossa hip6tese, H: 1. nilo aprcscnta suporte. ou seja. o tempo de experiencia na utiliza~ilo do faxe nlio contribui para uma opiniilo mais favoravel do seu uso, aincla que ini'lucncie o aumento da sua uti1iza~;ilo. H:2. Eventualmente o tempo de expericncia podera facilitar o conhecimento e percep~ilo de aspectos menos positivos na cornunica~;ilo via faxe ou de situa~oes de trabalho geradas a partir do faxc. Corrobora esta hip6tese o facto de os nossos dados revelarem igualmente que muitos sujeitos tem a icleia de que o faxe clificulta o eontrole das comunica~oes nos scrvic;os. A velocidacle na transmissilo e circula~ilo de infonm1~;ilo introduzicla pelo raxc podera nalguns casos favorecer um sentimento por parte dos trabalhadores, de pcrda de controlo facto que podera gerar alguma incomodidacle. 0 nosso trabalho reabre a discusslio sobre o impacte da tecnologia, no caso o f)txc, na estrutura da organint~ilo c na redefini~;ilo dalguns processos de trabalho. E uma rela~;ilo complexa que s6 podera ser compreendida a partir da analise de variaveis contingenciais e intcrnas aos pr6prios servi~os. No entanto. os dados parecem dar razilo atese de Schein ( 1965). no caso do faxe, ou seja. este ao ser introc!uziclo pouco altera as tarefas e estruturas da organiza~;ilo. Outra imp1ica~;lio dos nossos daclos refere-se arela~ilo entre a disposi~;ilo atitudinal face atecnologia e ao uso do f~1xe, facto que econsistcnte com outros estuclos (Chao & Kozlowski, 1986. Brooks, 1994) e re for~; a o interesse ncstc tipo de informa~lio para a gestlio de processos de mudan~;a tecno16gica dentro das organiza~;ocs. utiliLa~ilo
66
IntcrYen~ao
Social
Por exemplo, Chao & Kozlowski, (1986), mostram que uma atitude negativa face a tecnologia, gera elevados niveis de ansiedade e acidentes de trabalho em processos de introdu~ao de novos sistemas tecnol6gicos. No futuro interessa aprofundar a constru~ao e aperfei~oamento das escalas utilizadas e confronta-las com medidas objectivas de modo a discutir a rela~ao entre ganhos percepcionados e ganhos reais gerados pela introdu~ao de sistemas tecnol6gicos nas organiza~oes. Seria igualmente interessante dar continuidade a analise desta tematica e aprofunclar outras areas de estudo que nos permitissem por exemplo tipificar os ganhos produziclos pela introclu~ao do faxe ou outras tecnologias e comparar cliferentes organiza~5es publicas e privadas. A compara~ao entre varias areas funcionais cleveria ser igualmente aprofunclacla de modo a iclentificar variaveis contingenciais determinantes para a aclop~ao com sucesso de tecnologias de informa~ao. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ANDRIESSEN, J. H.. ( 1991 ). Mediated commutticati(ltl and new organizational forms. International Rn·ie11· of lwltwrial and Organi;ational Psrclwlogv. o. 17 70. BROCK, D. !3.. Sulsky, L. M.. ( 1994). Attitudes tuw<ml cotnputcr: Construct validation and relations to computer use. Joumal of Orgwti;ational Elchlll'ior, 15. I 7..15. CHAO. G.L Kozlowski. S. W. J., ( llJB6J. Employee pcrccpctions on the implementation of robotic manufacturing technology. Joumo/ ofAIIf!/icd Psrcltologr. 71. 70-76. COOK.T.D .. Campbell, D. L ( 1976). The design and conduct of quasi-experiments and true experiments in field settings. in M. D. Dunnette (eel), Handbook of industrial and organi;ational Psrc!tologr. Chicago. Rand McNally. CORTIN A, J. M.. ( 1993 ). What is coefficient alpha' 1 An examination of the theory and applications. Joumal ol ,J.pplied Psrclwlogr. I. 98-104. DOWNS. G.W .. iV!ohr. L. B.. ( 1976). Conceptual issues in the study of inno1ation. Administratil'e Scimce Quarterlr. 21. 700-714. ELLIS. C. A.. Gibbs. S.J .. Rein. G.L. ( 1991 ). Group ware some issues and experiences. Communication of' rite ACM. f. 39-58. ELLUL. Jacques ( !967). Lo societe techno/ogiiJIIC. P.U.F .. Paris. FROST. P.J., Egri. C.. ( 1991 ). The political process of innovation. Research in Organi;ationol Beln·iur, 13. pp. 229-295. HOLMLOY. P.G .. Warnerycl. K.E.. ( 1992). The fax machine: ;\ re1·olution in communication? in Ne~r dirccti· ons in Economic P.1rc!tologr: T!tmn·.e.\jJfriment, and oplication. Stephen E.G. Lea: Paul Wcbley: & Brian M. Young tecls). Vermont (US/\), Edwarcl Elgar Publishing (eh. 12. pp 195-2!3).
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PRE-SENESCENTES, UMA NOVA REALIDADE: QUE DESAFIOS PARA 0 SERVI<;O SOCIAL? * Conceiciio Ferreira Cristina Cru:;, M." Clam Godin/w M." de Fatima Rwnos
**
Resumo 0 presente artigo constituf uma breve sfntese de uma pesquisa, esta traduz-se na primeira abordagem da pnitica profissional dos Assistentes Sociais com indivfduos pre-senescentes 1 • Estes individuos constituem interesse de estudo devido as vulnerabilidades a que ficam sujeitos, decorrentes das actuais muta~oes polftico e s6cio-econ6micas, nomeadamente a safda precoce do mercado de trabalho. Com base no referencial te6rico de Aldaiza Sposati constatamos que a pratica profissional do Assistente Social tende a nao visualizar nem contextualizar os problemas dos indivfduos pre-senescentes nao desenvolvendo estrategias no sentido de os colocar na homogeneidade.
IntrodU(;ao A pertinencia do tema - 0 Servi~o Social enquanto mediador de Polfticas Sociais- decmTe do actual contexto em que se encontra o Servi~o Social enquanto profissao, na medida em que a interven~ao social justifica-se da "( ... )profunda inte-
Trabalho efectuaclo no ambito do Semimirio de Investiga<;i\o em Servi~·o Social e Politicas Sociais "0 Ser1·i\o Social enquanto mediador de Politicas Socias" ( 1993/94 ). sob orienta<;ao da Dr." Beatriz Couto. Licenciadas em Servi<;o Social. 1 Conceito iclentificado porE. Greppi. como antcceclenclo a t~1se cla Senescencia, no qual se enquadram os inclividuos entre os 50 e o' 65 anos.
70
fntcn'en~ao
Social
raccao entre as vulnerabiliclades sociais e os contextos de mudanca na sociedacle" 2â&#x20AC;˘ Ed~ste modo fundamental conhecer e r~flectir so/m a pratica p;¡ofissional do Serl'i~o Social para repensar a sua actzw~ao. 0 estudo da pnitica profissional do Assistcnte Social com indivfduos pre-senescentes revestiu-se de enorme importancia, na medida em que o Servi~o Social e uma profissao cuja pnitica se contextualiza na media~ao das polfticas sociais face as vulnerabilidades dos indivfduos. Nesta perspectiva, sendo os pre-senescentes um grupo vulneravel e emergente, coloca-se ao Servi~o Social a necessidade de reflectir sobre o desaflo de wn poss(vel protagonismo na visuali::.acao daquele problema. Atraves da aproxima~ao aos problemas dos indivfduos pre-senescentes verificou-se que esta popula~ao pode constituir-se como grupo com caracteristicas especiais: situa~oes de desestrutura~ao familiar; isolamento; necessidade de ocupa~ao, etc, sao motivos que por vezes levam os individuos a recorrerem ao Servi~o Social das institui~oes. Com as actuais muta~oes politicas e s6cio-econ6micas em curso, acresce a este quadro o eventual problema da safda precoce do mercado de trabalho. Este conjunto de dificuldades associada a incipiente protec~ao social, coloca estes indivfduos em situa~ao de maior vulnerabilidadc. Neste contexto, pretendeu-se com esta pcsquisa deixor tmnsparecer aos profissionais de Servif'O Social a necessidade de opemr 110\'US c dijerentes mediar;t5es, porforma o semn constitufdos novos dircitos sociuis. 0 universo que constituiu a pcsquisa foram toclos os profissionais de Servi~o Social que trabalhavam cm institui~ocs num concclho X e que, de algum modo, respondiam aos problemas colocados por indivfduos pre-senescentes. A tecnica aplicada para a recolha dos dados foi a entrevista por questiomirio, na medida em que requer por parte das entrevistadas um esfor~o de reflexao e sfntese sobre questoes pouco exploradas por parte dos Assistentes Sociais. Pelo facto do grupo etario tomado como exemplo para o estudo da pratica profissional constituir um grupo com problemas emergentes, nao sendo identificado como objecto especffico do Servi~o Social, csta pesquisa assume um caracter explorat6rio. Deste modo, este estudo visou apenas descortinar tendencias da pratica profissional e nao tecer conclusoes.
' GUERRA, IsabcL "Estrcttegias c Metodologias de Inova~ao cm Ac9ao Social".---- A ,\q.'i/o Socialji:tce rws noms impcrlllims sociuis, Primciras Jornaclas Nacionais. 1991. p. 121
PrC-Scncsccntes, uma no\'a realidade: que desafios para o ser\'ic;o social'!
71
I - DO PROBLEMA ACONSTRU(,:AO DO OBJECTO 1.
1
Caracteriza~ao
da
Popula~ao Pn~-Senescente
"0 envelhecimento do ser humano c um processo cujos componentes morfol6gicos, psicol6gicos, fisiol6gicos e sociologicos se encontram estritamente interligados (, ,)" 1. "No conceito de E. Greppi, a primeira rase do idoso vai dos 50 anos ate aos 60 ou 65 anos (pre-senescencia); a segunda rase extende-se dos 65 aos 70 anos (senescencia); a terceira fase vai ate aos limites extremos da existencia, constitui o perfodo da verdacleira velhice; a partir dos 85 anos passa-se afase cla senilidacle'' ~. Os inclivfduos pre-senescentes sao colocados na charneira cla "iclade de trabalho" e cla "idacle cla velhice", situa9ao que requer a organiza9ao do seu modo de vida 5. Comummente sao reveladas por estes indivfduos necessidades sociais e culturais, que mais niio silo do que um modo de vida, onde ocupam um lugar importante os tempos livres, num perfodo da vida L'l11 que os problemas de saude nao sao ainda preclominantes 6 . Embora este grupo da popula~;ao nao seja ainda idosa, a~safda precoce do mercado de trabalho contribui para que seja considerado como tal, sendo comum ouvir falar-se na.distin9iio entre "novos idosos" e "velhos idosos". Numa sociedade como a actuaL que encara os indivfcluos como meros elementos de produ9ao, e que os concebe do ponto de vista econ6mico, o afastamento do mercado de trabalho e indicador da pmla do valor social. 0 fen6meno de desemprego tem vindo a agudizar-se a partir dos anos 90 7, mais recentemente come9a a incidir nao apenas nas camadas mais jovens mas em especial, em indivfduos a partir dos 50 anos x. As situa96es de safda precoce do mercado de trabalho constituem uma realiclade recente em Portugal, mas a sua importancia poden1 aumentar num curto ou mcdio prazo. Este factor deve-se sobretuclo a uma altera9ao da estrutura do mercado de trabalho decorrente clas muta96cs polftica e s6cio-econ6micas, nomeadamente cla aclcsao de Portugal aComuniclade Europeia. 7
DESTREM. Ilugnes. A 1路ida depois dos cinquen!u unos, 1975, p. 13/1-1. Idem, ibidem. p. 13/1-1. s Cf. DELATTE, Janinc c PELLEM-BERNARD. Monique. "Les 55-65 ans: L'Ete lndien de la vie. Un enjeu Municipal" in La l'iei!lusse: L'enjeu?- Les collier de la recherche sur le rramil social, p. 75. '' Cf. Idem, ibidem, p. 79. 7 Cf. MARQUES. Fernando, "Dcmografia. Emprego e Seguran~a Social". Seminario sobre a Seguranra Social- Defender e melhorar a Segurwu;a Social. 1994. ' Cf. !NE, lnquerito ao emprego 4. 0 rrimestre de 1993, Nota para a Comunica~i\o Social. '
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[nterven<;i\o Social
Neste contexto, a evolu~ao social opera-se a urn ritmo de tal forma acelerado, que a elabora~ao de polfticas sociais para responder aos problemas sociais nao o consegue acompanhar. Concretamente, o sistema de Seguran~a Social depende das contribui~oes, quer das entidades empregadoras, quer dos pr6prios trabalhadores. Deste modo, com a actual situa~ao de envelhecimento demograt'ico, a crescente taxa de desemprego, a falencia de um nLimero considenivel de empresas e a dfvida do sector empresarial, tem como principal consequencia a diminui~ao das receitas destinadas aSeguran~a Social, num contexto onde ha um aumento considen1vel das despesas, nomeadamente para as categorias de desempregados e pensionistas. Ecorrente hoje em dia pm·em-se em causa as vantagens do sistema de Seguran~a Social, com frequentes referencias aos seus custos e sobretudo aequidade dos servi~os que presta. "As correntes liberais e neo-liberais advogam abertamente a substitui~ao, pelo menos parcial, por um sistema de seguros privados (... )" 9, bem como a organiza~ao dos pr6prios indivfduos. Embora a Lei de Bases do Sistcma de Seguran~a Social advogue uma protec~ao aos indivfduos em situa~ao de precaridade relacionada com o trabalho esta e incipiente,na medida em que estao sujeitos a hiatos de protec~ao que os coloca em situa~ao de desvantagem social. Face a csta contextualiza~ao, a popula~ao entre os 50 e os 65 anos encontra-se num ""terreno instavel", pois a tendencia actual ea de progressiva rcdu~ao dos clireitos sociais. Disto resulta que, em muitos casos, esta camacla cla popula~ao fique isenta de qualquer protec~ao social ou beneficfe apenas de uma escassa cobertura. Em suma, embora o envelhecimento humano fa~a parte do desenvolvimento normal dos indivfduos "( ... ) no decurso dos quinze an os da pre-senescencia, a scnsa~ao de envelhecer e geralmente ilus6ria (... )" 10 pm·que "( ... ) ainda nao existe base fisiol6gica ou psicol6gica que permita marcar o infcio cla velhice. 0 envelhecimento tracluz-se por uma climinui~ao de capacidacles aclaptativas ao meio (... )" 11 • Considerando o meio como sendo o actual contexto s6cio-politico e econ6mico, obviamente que a tendencia natural para o decrescer clas capaciclacles destes inclivfcluos ira contribuir para as crescentes vulnerabilidades a que fica sujeito. Daqui clecorre o interesse e pertinencia do estuclo clesta faixa etaria, por estar sujeita as cliferentes formas de cessa~ao antecipacla da activiclacle profissional.
" iv!ACHADO. Joao. ''Da Assistencia a Scguran~a Social- A cvollll;ao do Servi9o Social" in Rn·isw do Servi1·o Social. n. 0 I. 1992, p. !4. 1 DESTREM. Hugnes. ,\ 1·ida depois dos cinquentil wws. 1975, p. !7. " 11 GARCIA. ivlanuela de Oliveira. "0 cnvclhccimento humano" in Gerearria. vol. 2. n. 0 !3. 1989. p. 26.
Pre-Sencscentes, uma nova rcalidac!e: que c!csafios para o
servi~o
sociaP
Tl
Este grupo da popula~ao (pre-senescentes) constitui-se corno grupo vulnen1vel, sobretudo pela fragilidade econ6mica e desinser~ao social, rnais do que por urn novo estado resultante da sua idade 12 .
2. A Pnitica Profissional do Assistente Social corn Indivfduos centes
Pn~-SenesÂ
A pn1tica profissional, objecto de estudo da investiga~ao, baseou-se no referencial teorico de Aldafza Sposati 13 . Esta autora descortina duas dirnensoes da pnitica profissional: Inser~ao polftica e Inser~ao profissional. A pratica profissional do Assistente Social tem uma dimensao polftica que transcende a propria pnitica, na medida em que e inata ao proprio Servi~o Social. Deste modo, esta sempre presente na interven~ao do Assistente Social que, enquanto indivfduo iminentemente social, possui uma apreensao propria da realidade, a qual subjaz uma dada consciencia polftica. Sendo o Servi~o Social uma profissao que trabalha com e na realidade social, a consciencia politica que o profissional tem da sociedade, direcciona a forma como ele articula as for~as, saberes e poderes 14 . Assim sendo, segundo Sposati, a pratica profissional pode ter duas direc~oes distintas, ou o Assistente Social trabalha no sentido de manter os individuos na heterogeneidade (excluidos) ou trabalha no sentido de os colocar na homogeneidade (construir novos direitos sociais), ou seja, a interven~ao e estruturada casuisticamente ou colectiviza os problemas colocados individualmente pelos utentes. "A questao e, pois, a rela~ao entre a homogeneidade (isonomia legal) e a heterogeneidade (desigualdade social) posta na rela~ao de mercado-direito" 15 . Para o Servi~o Social existir enquanto profissao e inevitavel uma rela~ao organizacional, ou seja, e a propria institui~ao que legitima a pratica do Assistente Social. 0 enquadramento institucional define fun~oes, a popula~ao-alvo eo grau de autonomia do Assistente Social, as quais esta subjacente a polftica institucional vinculada e alicer~ada na politica social global, factores que, entre outros, fazem da inser~ao profissional tambem uma inser~ao polftica. Enquanto profissional que se encontra vinculado a uma institui~ao, o Assistente Social pode assumir um caracter institucionalizador, ou seja, "( ... ) o profissional
12 Cf. DELATTE, Janine e PELLEN-BERNARD, Monique, "Les 55-65 ans: L'Ete lndien de la vie, un enjeu Municipal" in La Jâ&#x20AC;˘ieil/esse: L'enjeu?- Les Cahiers de la recherche sur le rravail social, p. 76. 13 SPOSATI, Aldaiza, "Servi~o Social em tempos de democracia" in Se11'i'ro Social e Sociedade, n. 0 39, p. 5-30. Idem, ibidem, p. 21. 15 Idem, ibidem, p. 26. 1
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Intervcn~ao
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Social
sofre a endogenia de «ser de casa» institucionalizando a sua capacidade crftica aos marcos e limites do organismo onde opera" 16 • Nesta perspectiva, o Assistente Social reduz a sua pnitica aos objectivos da institui9ao. Em contraponto, quando a pratica assume uma direc9ao instituinte, o profissional posiciona-se criticamente face as directivas da organizayao, tendendo, nomeadamente, na sua pnitica, a implcmentar ou alargar as respostas institucionais. A pn!tica profissional do Assistente Social, pocle revelar, ainda, um car:kter imediatista, sendo a intervenyao caracterizacla pcla resposta pontual no peclido apresentado pelo utente. Nesta perspectiva, 0 profissional nao procede a constru9aO da situayao-problema, o que nao favorece a colectivizayao dos problemas apresentaclos pelos utentes e, consequentemente a sua visibilidade social. Componente vital na pnitica profissional c a populayao-utente, na medida em que e por ela e com ela que se consubstancia a interven9ao do Assistente Social. A forma como o profissional posiciona o utente no processo de intervenyao tern subjacente uma climensao polftica. Segundo Sposati, muitas vezes os Assistentes Sociais "( ... ) assumem a fun9ao de «super-ego cl a a9ao estatal» operando uma regulayao tutelar em no me cl a clientela- ( ... ) inibem a possibiliclade da propria populayao exercer o seu papel de alter no jogo da negociayao de interesses" 17 . Desta forma as capacidades do utente no processo de interven9ao sao subalternizadas a posi9ao que o Assistente Social pode assumir. Para retomar o que consideramos ser a questao de fundo da nossa investiga9ao, e de acordo com o pensamento de alclafza Sposati, a pn\tica profissional pode ter duas direcy5es distintas, uma que mantcm os indivfcluos na heterogeneidade e outra que tencle a coloca-los na homogeneiclade. Cabe ao Assistente Social escolher a direcyao que da a sua pr:'itica. Na heterogeneiclade existe o risco de centrar os problemas somente nas caracterfsticas indivicluais. 0 clesejavel sera, segundo Sposati, trabalhar visando a homogeneidade, ou seja, sempre que ocorra uma situa9ao que esteja fora da «realidade-padrao», ela devera ser identificada como universal, a fim de superar o caracter de necessidade individual" 1R. "A rela9ao de inclusao/exclusao abre um vasto campo de acyao com os grupos discriminados, secundarizados" 19 , colocando-se ao Servi9o Social um importante desafio perante a popula9ao pre-senescente, que podera ser excluida, mantendo-se na heterogeneidade, ou inclufda, passando a homogeneidade; onde os seus problemas passarao a ser encaraclos nao como individuais, mas como comuns a um grupo especffic9 da popula9ao para o qual poderao ser constituidos novos direitos sociais. 16
17
l.s 19
Idem, Idem, Idem, Idem,
ibidem, p. ibidem, p. ibidem, p. ibidem. p.
21. 24. 26. 27.
Pre-Sencsccntcs, uma nova realicladc: que desafios para o scrvi<;o social'?
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Os pre-senescentes, como urn grupo alvo de uma protecyao incipiente, estao sujeitos a16gica da selectividade, urn a vez que o "( ... ) Assistente Social e o profissional institucionalmente legitimado a afirmar a quem cabe o merito da includencia" 20 . Esta 16gica nao favorece a legitimayao de direitos sociais reclamaveis. "Nao se trabalha corn a 16gica das certezas/garantias mas de controle/avaliayao do merito para enquadrar/excluir" 21 â&#x20AC;˘ Assim, a forma como o profissional concebe o utente como cidadao ou assistido, vai determinar a sua pratica, podendo actuar casuisticamente ou, por outro !ado, contribuir para o alargamento dos direitos sociais. Em suma, pode afirmar-se que a pratica profissional e realizada pelos Assistentes Sociais de acordo com a sua visao do mundo, como tal, toda a pratica tem uma direcyao polftica. Assim sendo, a pratica profissional esta em estreita ligayao com o profissional que a exerce, pesem embora outros elementos, como sejam a instituiyao na qual o indi vfduo se ins ere. Deste modo, face a populayao pre-senescente, enquanto grupo vulneravel que coloca novos problemas ao Serviyo Social, o profissional assume primordial importancia em to do o processo de intervenyao, na medida em que "( ... ) possui um grau de autonomia no exercfcio do processo de inclusao das demandas nas polfticas sociais" 22 .
Em Sintese: A situayao dos pre-senescentes pocle nao advir das caracterfsticas biol6gicas e psicol6gicas inerentes aidade, mas clas transformay5es decorrentes da safda do mercado de trabalho. Esta populayaO e substancialmente atingida por estas transformay5es, na medida em que ja nao possuem as mesmas capacidades adaptativas que a populayao mais jovem. Existe alguma protecyaO social, toclavia e insuficiente para cobrir os hiatos que ocorrem entre a safda precoce do mercaclo de trabalho e a idade de reforma. Mecliante o actual contexto econ6mico e social, que subjaz aos principais problemas da popula9ao em estudo, a tcndencia sera para um crescente aumento de situayi5es-problema que requerem num futuro proximo o reequacionamento das formas de interven9ao social. 0 Servi9o Social, enquanto profJss~io que tem uma pratica junto das popula96es em situayao de desvantagem social e que e um potencial mediador de polfticas
211 21
2 '
Idem, ibidem, p. 20. Idem, ibidem, p. 15. Idem, ibidem, p. 30.
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Intcrvcn~ao
Social
na institui~ao onde opera, pode desenvolver estrategias no sentido de adaptar/criar medidas de politica social, nomeadamcntc no ambito !aboral e socio-cultural; que contemplem a popula~ao em estudo. Para que tal seja viavel, existem elementos essenciais a pratica do Assistente Social que se podem consubstanciar pela sua capacidade critica face ainstitui~ao onc!c opera, aleitura da realidade social e asua propria interven~ao. 0 esfor~o de colectiviza~ao dos problemas dos individuos em estudo, com o objectivo de constru~ao de novos dircitos sociais pode ser operado diferentemente, conforme a visao do mundo que tem o Assistcnte Social. Esta enforma a pratica profissional na perspectiva da inclusao/cxclusao social ao fazer a regula~ao social, contextualizada na 16gica econ6mico-polftica da sociedade capitalista. Os pre-senescentes sao um grupo "por cxcelencia", exemplo para observar a direc~ao/inten~ao da pratica do Assislcnlc Social, na medida em que podem situar-se na heterogeneidade, com problcmas cmergentes, pondo a prova a capacidade critica do Assistente Social, a qual se traduz na operacionaliza~ao de estrategias que tenderao a colocar os individuos na homogeneidade. Apratica profissional que tende a colocar os indivfduos na homogeneidade subjaz uma inten~ao de eonstru~ao de direitos sociais para os indivfduos, e uma coneep~ao de «Estado Provideneia», it qual preside a conseieneia de que a protec~ao social dos individuos, ainda que mfnima, e condi~ao «sine quanon» para a coexistencia harmoniosa das soeicclacles de hojc. Contudo a capacidade crftica do Assistente Social pode encontrar-se limitada a um quadro de interven~ao que nao tcndc a considerar os pre-senescentes como um grupo com caracterfsticas especfficas. Deste modo, o profissional comprometera o processo de operacionaliza~ao de cstrategias tendentes a manter os indivfduos na homogeneidade.
II - Discussao dos Resultados Com base no modelo de analise construfdo, ao qual subjaz o referencial te6rico de Alclaiza Sposati, traduzido no conceito Pratica Profissional do Assistente Social com indivfduos pre-senescentes, surgiram componentes que cruzadas se traduziram na Discussao dos Resultaclos. Ressalve-se que, por se tratar de um estudo de caso, as considera~oes que se segeuem poderao apenas ser entendidas como tendencias da pratica do Assistente Social considerados no nosso universo de estudo, nao podendo extrapolar-se ila~oes para outras realidades profissionais.
Prc-Senesccntes. uma nova realidade: que desafios para o
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1. Canicter Imediatista no Atendimento ao Utente
A agrega9ao das componentes Caractcr Imediatista e Utente, justificou-se pela necessidadc de analisar o caracter imecliatista da pratica profissional, atraves da informa9ao relativa a caracteriza9ao do utcnte pre-senescente, a qual se revelou de extrema importancia para percebermos se cste grupo e visualizado enquanto grupo alvo. 0 caracter imediatista podera cstar prcscnte na pnitica profissional, assurnindo grande importancia na nao visualizac;i1o c contextualizayao dos problemas dos pre-senescentes. Isto e, a uma intcrvcnc;ao caractcrizada por uma resposta pontual aos problemas colocados pelos utentcs ea uma interven9ao que atribui a causa da situayao ao proprio indivfduo corresponder;\, tendencialmente, uma pratica que nao favorece a visibilidade social dos problemas. Atraves da informa9ao recolhida, apercebemo-nos que as profissionais tiveram dificuldade em dar respostas rclativas a caracterizayao dos indivfduos pre-senescentes. A dificuldade em caracterizar o grupo etario dos pre-scnescentes, pode ser um indicador da ausencia de sistemati;.ac;fio da informa9ao (registos), traduzindo assim, pouca preocupa9ao com a construc;fio social da situa9ao-problema dos pre-senescentes. Os principais tip os de problcmas identi ficados pelos profissionais situaram-se ao nfvel da carencia econ6mica e de problcmas de saude. Ao colocarmos esta informayao em contraponto com as respectivas institui96es as quais pertencem os profissionais, verificamos que ha tcndcncia para identificarem os problemas consoante a resposta que a institui9ao dispoe. Paralelamente, as causas dos problemas identificados pclos inquiridos em primeiro lugar, foram a ausencia de presta9oes pecuniarias de protec9ao social e a safda precoce do mercado de trabalho, que tambem parecem corresponder a vocayao da institui9ao e ao tipo de trabalho que as Assistentes Sociais desenvolvem. Nao fora este aspecto, poderia afirmar-sc que as profissionais visualizam os principais problemas dos pre-senescentes, poclcndo no entanto este facto traduzir um imediatismo da pratica, p01路que os profissionais ao inves de aprofundarem os problemas tem tendencia a limitar a sua analise a"filosofia" institucional. A forma como os Assistentes Sociais contcxtualizam a origem dos problemas, pode constituir tambem elemento indicador da cxistencia de um caracter imediatista na pratica profissional. A principal tendcncia das respostas, aponta no sentido de atribuir a origem dos problemas as muta96es polfticas e socias, o que poderia significar que ha preocupa9ao com a constru9ao social do problema. Contudo, pm路adoxalmente num numero consideravel de justifica96es relativas aquela op9ao, as respastas sao apresentadas de forma difusa, ou entao nao justificadas.
Interven~ao
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Social
2. Rela\ao Organizacional e Canicter Institucionalizador da Pnitica Profissional do Assistente Social As componentes Rela~ao Organizacional e Cankter Institucionalizador estao agrupadas pelo facto da rela~ao organizacional ser determinante na manifesta~ao de uma pn'itica institucionalizadora do Assistente Social. Sao os diversos elementos que constituem a rela~ao organizacional, nomeadamente anos de exercfcio na profissao; anos de exercfcio na institui~ao; autonomia do Assistente Social e categoria profissional, que serao equacionados de modo a verificar se a pnitica do profissional assume um caracter de tendencia institucionalizadora ou, contrariamente, um caracter instituinte. Uma pratica institucionalizadora, como sendo aquela que nao se posiciona criticamente face as directrizes da institui~ao, pocle por em causa o desenvolvimento de estrategias tendentes a colocar os individuos na homogeneidade. Assim sendo, atraves dos dados obtidos, constatamos que a media de anos de exercfcio profissional, assim como os anos de servi~o na institui~ao sao elevados, o que, em contraponto com o facto clas profissionais tendencialmente identificarem os problemas dos pre-senescentes e as suas causas de acordo coma voca~ao da institui~ao, podera constituir urn elemento bloqueador de uma atitude critica que favoreceria um distanciamento dos profissionais em rela~ao aos limites da institui~ao.
Por outro lado, a categoria profissional dos Assistentes Sociais que se registou com maior frequencia c a de Tccnica Superior de Servi~o Social Principal. Esta constata~ao pode ser revelac!ora cla autonomia dos Assistentes Sociais, uma vez que esta categoria profissional, sendo atribuida atraves dos anos de exercfcio da profissao e/ou concursos pCtblicos, e indicadora da conquista de um espa~o de actua~ao por parte dos profissionais. Partindo deste pressuposto, pensamos que poderiam estar criadas algumas condi~5es para a implementa~ao ou alargamento das respostas institucionais, o que se pode denotar na elabora~ao de programas e projectos que maioritariamente sao propostos pelos profissionais e submetidos a aprecia~ao supenor. Em contraponto com o grau de autonomia que os profissionais parecem deter, regista-se que a maioria dos Assistentes Sociais nao desenvolvem ac~5es tenc!entes ao funcionamento de grupos de indivfduos pre-senescentes, alegando o facto da institui~ao nao se direccionar para este grupo etario. Saliente-se ainda que um numero significativo, considera que nao deviam existir respostas especfficas para o grupo etario dos pre-senescentes. Atraves das justifica~oes dadas pode transparecer um descompromisso dos profissionais perante esta questao, remetendo para a institui~ao a impossibilidade de serem criadas respostas.
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3. Rela<_;ao Regula\ao Tutelar e Heterogeneidade!Homogeneidade A regula9ao tutelar esta intimamente ligada com a rela9ao heterogeneidade/homogeneidade, uma vez que e fundamental a forma como o profissional concebe o utente ou enquanto cidadao ou enquanto assistido. Um Assistente Social que considera o utente como cidadao de direitos, nao tendera a assumir uma postura directiva e tutelar, na medida em que o seu eonceito de utente tem subjacente o reconhecimento absoluto da pessoa e do cidadao exigindo de si proprio uma pratica que reconhece o protagonismo dos indivfduos na conquista dos seus direitos. Se o conceber como assistido defininiuma rela9ao de dependencia na qual o utente sera subalternizado. Face a uma postura deste tipo, e com a analise anteriormente referida, a inclusao dos idivfduos prc-senescentes na homogeneidade estara comprometida. Um primeiro indicador po(lc observar-se pelo consideravel numero de profissionais que sao de opiniao que nao devcriam existir respostas especfficas na instituiyao e a maioria dos que defendem que tais respostas deveriam existir, apresentam justifica96es difusas, centrando-as essencialmente na institui9ao e no indivfduo. Eainda de rcferir o numero de profissionais que nao tem um procedimento especffico face aausencia de respostas institucionais. Estes posicionamentos, denotando uma falta de iniciativa para alargar as respostas institucionais, nao deixam transparecer um dos objecti vos inerentes ao Servi9o Social: enquadrar as novas necessidades dos grupos em situa9ao de desvantagem social na sua propria pratica profissional. Ao constatar-se esta tendencia no sentido do nao alargamento das respostas institucionais, podem os profissionais enquadrar ou exclufr os pre-senescentes, arbitrariamente, dos direitos instituidos, segundo uma logica pautada na selectividade. Como aspecto ilustrativo do que anteriormente foi referido destaca-se que a maioria dos profissionais que reabam anima9ao socio-cultural, incluem os pre-senescentes em actividades organi:;_adas em fun9ao da popula9ao idosa, o que podeni criar uma margem de arbitrariedade por parte dos Assistentes Sociais. Os Assistentes Sociais responclcram maioritariamente no sentido da implementayao de medidas especfficas para o grupo dos pre-senescentes, no entanto, pelo numero de respostas difusas ou se m justi fica9ao, acrescido das profissionais que nao consideram esta op9ao, podera vislumbrar-se que existe uma tenue consciencia da necessidade de constru9ao de direitos sociais reclamaveis para os indivfduos pre-senescentes. Quanto ao modo como o profissional posiciona o utente no processo de intervenyao, a maim路ia dos Assistentes Sociais consideram que a atitude predominante na interven9ao consiste em orientar o utente no sentido de procurar resposta para o seu proprio problema, o que podera traduzir a constitui9ao de condi96es de protagonismo do utente. Contudo, foi identificado, por parte de alguns profissionais uma
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atitude inibidora da participagao do utente/pre-senescente no processo de intervengao, na medida em que, tentam por si s6 mobilizar os recursos necessarios na resposta ao utente. Outro aspecto que podera contribuir para a inibigao do protagonismo do utente, e o facto da maior parte dos Assistentes Sociais nao desenvolverem acgoes tendentes ao funcionamento de grupos de reflexao corn individuos pre-senescentes. Este aspecto podera ser revelador da auscncia de uma estrategia de colectivizagao dos problemas colocados individualmente pelos utentes/pre-senescentes e a implicita falta de preocupagao corn a construgao de direitos sociais. Considera~oes
Finais
Considerando que os Assistentes Sociais tern pouca preocupagao com a construgao social da situagao/problema dos pre-senescentes e uma tendencia para identificar os problemas destes indivfduos, bem como as suas causas, filtrados pela resposta institucional, entao parece estannos perante uma pratica imediatista no atendimento ao utente que, em t:iltima analise, bloqueia a visualizagao e contextualizagao dos problemas dos pre-senescentes. Considerando que, na generalidade, os Assistentes Sociais com uma longa experiencia profissional associam o tipo de problemas apresentados pelos utentes aresposta institucional e, considerando ainda, que nao actuam no sentido de alm路gar as respostas promovidas pela institui<;ao apesar de terem autonomia para o fazer, entao estes profissionais, tendencialmente, nao possuem um posicionamento crftico fomentador do desenvolvimento de estrategias tendentes a colocar os pre-senescentes na homogeneidade. E, por l1ltimo, considerando que a pratica profissional dos Assistentes Sociais com individuos pre-senescentes nao tende a enquadrar as suas necessidades de acordo coma especificidade de um grupo em situagao de desvantagem social e, que existe arbitrariedade no processo de inclusao/exclusao destes indivfduos nas respostas institucionais, entao nao se verifica a operacionalizagao de estrategias de colectivizagao dos problemas individuais por forma a criagao de direitos sociais. Assim, os Assistentes Sociais mantendo os individuos pre-senescentes na heterogeneidade, nao estao a actuar no sentido de os colocar na homogeneidade. De facto, atraves do tratamento e analise da informagao, verificou-se que algumas profissionais identificam os principais problemas dos pre-senescentes, embora na generalidade paregam nao conseguir visualiza-los e contextualiza-los na sua pratica. Nesta medida, o processo de desenvolvimento de estrategias tendentes a colocar os individuos na homogeneidade fica comprometido. Parece-nos estar perante um Assistentes Social corn reduzida capacidade critica, demasiado institucionalizado e pouco sensibilizado para a construgao de direitos
Prc-Scncsccntcs, uma nova realidade: que desafios para o servir;o social' 1
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sociais para estes indivfduos, trabalhando no sentido de os manter na heterogeneidade. Esta pesquisa veio alicerc;ar a consciencia da necessidade premente de uma intervenc;ao social que acompanhe as mutac;oes polfticas sociais e, como tal, contemple os pre-senescentes enquanto grupo em situac;ao de maior vulnerabilidade, apontando no sentido da construc;ao de clircitos sociais. Ao finalizarmos gostariamos de acrcsccntar que pelo canicter explorat6rio cleste estudo nao e possfvel transmitir aos profissionais a visibilidacle social que cste fen6meno ex1ge. Pensamos, face aamplitude que cstc fcnomcno assumira no futuro, ser fundamental a aposta em estuclos que clem a visibilidadc necessaria a modificac;ao da polftica social, na qual o Servic;o Social cncontra o scu grande desafio. Fica entao lanc;ado o desafio! BIBLIOGRAFIA ANTES, Michel. Tra\'{/il Social et PmnTete, Syros- Alternatives Paris. 1992. ANDER-EGG, Ezcquiel. Tccnica de lnvestigafcio Social, Ed. llumanitas. BARROCO, M." Lucia Silva. "0 Novo C6digo de Etica Prolissional do Assistenrc Social", Sen·i~·o Social e Sociedade.n. 0 41, Ano XIV. Cortez Editora. Abril, 1993. BERNARDO, M.' Helena Cadete. Algumas Forma.\· de Resposra tl l'robli'llliitica da Pessoa ldosa, Junho, 1985. BERNARDO, M." Helena Cadete, "Interven~ao da Seguran~a Social ---- Ac~ao Social - Junto da Popula~ao ldosa" in Col6quio- A Popular;cio ldosa 110 Municfpio da i\madom, 27 de Novembro de 1987. BERNARDO, M." Helena Cadete, 0 Processo de Em•elhecimento. Man;o 1993. BRANCO, Francisco, "Cri se do Estado Providencia. Universalidadc c Cidadania". 0 11. 41. Ano XIV, C01·te~ Editora, Abril 1993.
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INFORMA(:OES
SESSAO DE LAN(:AMENTO DO LIVRO: AS REPRESENTA('(JES SOCIAlS DA PROFISSAO DE SERV/(:0 SOCIAL Unw andlise empfrica em contexto autdrquico, de Mariu i\ugusta Geraldes Negreiros No dia 12 de Dezembro de 1995 na Sociedade Nacional de Belas Artes, realizou-se a sessao de lanyamento do livro "As Representcu;oes Sociais da Profissc/o de Servi~o Social - Uma an{ilisc Clllpfrica em contexto autarquico" da autoria de Maria Augusta Geraldes Negreiros. Estiveram presentes no acto de lanyamento, alcm da respcctiva autora, a Dr." Hirondina Chitas - Presidente da Direc9ao do Instituto Superior de Serviyo Social, CRL, o Prof. Jose Paulo Nctto da Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Prof. Jose Braganya de Miranda da Universidade Nova de Lisboa, que comentaram a obra. Este livro editado pelo Instituto Superior de Servi9o Social, C.R.L.- Departamento de P6s-Graduayao, inicia a actividade editorial no ambito das publica9oes nao peri6clicas.
Dr." Hirondina Chitas: "Estou nesta sessao de lanyamcnto do livro da Dr." Maria Augusta Negreiros na qualidade de Presidente da Dirccyao da Cooperativa do Instituto Superior de Servi9o Social de que faz parte o Departamento de P6s-Graduar;ao enquanto entidade editora. Eesta a primeira obra de uma linha de publicayoes que adirecyaO se afigura imp6rtante a mais do que um titulo. Em primeiro lugar trata-se de dar a conhecer as teses de Doutoramento e
Mestrado, reconhecendo o esfor9o e merito dos seus autores, nas suas diferentes orientayoes de investigayao. Trata-se, em 2. 0 lugar, de criar um incentivo para investigay5es desenvolvidas por profissionais que, eventualmente, venham a ser propostas e aceites. Assim, pensamos que esta iniciativa representa um passo significativo no cspayo social a ocupar pela Escola e pela profissao. Naturalmente vou dispensar-me de comentar o livro da Dr." Maria Augusta
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lnterven~ao
Negreiros ja que esta tarefa incumbira aos dois brilhantes comentadores, aqui presentes e bem nossos conhecidos: o Prof. Dr. Paulo Netto, homem de altos voos, dos quais os maiores nao sao mesmo os que faz entre S. Paulo e Lisboa; o Prof. Dr. Bragan~a de Miranda, com a sua finura analftica, sobrevoa, entretanto, seculos e seculos de Hist6ria, e bem nos levou corn ele nas aulas de Mestrado ... Quanto aautora, a festejada, ainda e mais nossa conhecida! Penso quc a Escola !he deve bastante e a publica~;ao deste livro e mais um estimulo - tambem dado a ela propria- no sentido de encorajar os profissionais, docentes ou nao, a investigar e a tomar a palavra. Agora, vamos ter o prazer de ouvir o Prof. Dr. Paulo Netto."
Prof Paulo Netto: "Eu queria come~ar a agradecer o convite para estar aqui, ao Prof. Bragan~a, aProf.'! Augusta, a Prof." Hirondina ... Acho que esse e um momento, de facto, muito importantc para a categoria profissional independentemente da figura da autora. Ontem a noite quando eu estava pensando no que e que vinha fazer aqui, um amigo meu disse: "Mas voce nao fica eonstrangido de falar de um livro de uma amiga sua?". E uma coisa meio complicada. As minhas rela~oes de amizade corn a autora sao sobejamente conhecidas: a Augusta foi das primeiras pessoas com
Social
que eu contactei em Portugal, num perfodo muito dificil da minha vida. Eu tive a felicidade de encontrar no Instituto, nos companheiros do Instituto c companheiros aqui em Portugal, uma solidariedade muito grande num perfodo muito duro da !uta pela democracia no Brasil mas a Augusta teve urn papel muito importante: ela foi a minha primeira referencia portuguesa e que se conserva ate hoje. E a questao que o meu amigo me colocava era muito pertinente: "Isso de falar do livro de urn amigo nao te constrange?" Eu disse: "Olha, s6 me constrange quando o livro e ruim". Porque e muito dificil voce ter que falar bem de um livro que e ruim mas pm路que e do seu amigo ... Como o livro e muito born nao fico em absoluto constrangido e gostaria desde ja assinalar que eu nao sou apenas urn leitor mas sou um leitor que quando vi o livro ha alguns meses atras (logo no seu lan~a颅 mento) fui logo protestando pm路que nao fui o primeiro a recebe-lo. Feita essa observa~ao de caracter pessoal eu queria dizer que este livro e um livro muito importante. Tenho aprendido com o meu amigo Alfredo (que esta presente aqui no fundo da sala) que, ao contrario do que se diz, sempre se escrcveu sobre o Servi~o Social em Portugal. A visao que se tem e que nao se escreve. E o Alfredo nas pesquisas dele e dos companheiros que estao trabalhando no CPIHTS tem feito levantamentos muito significativos de uma produ~ao precoce do Servi~o Social portugues. Mas o que e facto e que aqui em Portugal ainda nao se criou urn circuito de debate em torno do Ser-
As
Rcpresenta~oes
Sociais da Profissao de Scrvic;o Social
vi9o Social pm·que o proprio Servi9o Social nao tem sido capaz de socializar as suas produ9ocs, as suas clabora9oes e os seus ganhos. Entao, nesse scntido, cste nao eo 1. 0 livro do Servi9o Social portugues (eu lembro que nos anos 80, salvo crro, os companheiros de Coimbra: a Anabcla Carvalho c a Hclena Mouro - me parece que a unica assistente social do livro era a Helena), mas fez-se um esfor9o de divulga9ao. Mas cu estou convencido que esse livro c um livro muito peculiar. Muito peculiar por tres razoes: pm·que cle reline uma pcrspectiva profissional e e urn livro escrito, nao de uma posi9ao corporativa, de uma visao particularista mcnor, de dcfcsa do pequeno cspa9o profissional mas de uma dcfesa da perspectiva te6rico-pn1tica, reflexiva, interventiva do Scrvi9o Social. Ele junta a essa expcriencia profissional, que gar·ante essa pcrspcctiva pnitico-profissional, uma pcrspectiva de forma9ao, ou seja, ele cum livro que contribui para a constru9ao do perfil intclectual do assistentc social e, sobretudo, eu acho que e um livro que assinala uma fina sensibilidade tcorico-social por parte da autora. Eu diria que e um livro criativo cm termos de pesquisa. Eum livro que tem uma grade de amllise que nao e a minha, que e a perspectiva da leitura pela via das representa9oes sociais, mas eu diria que com extrema congruencia a Augusta se inseriu nesse veio heuristico, nesse veio de amilise e, sobretudo, cu diria que esse livro e muito importante para nos por duas razoes que eu gostaria de pontuar rapidamente. Qual e
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a pergunta que a Augusta faz? Despida de todas as convctwoes academicas (pm·que esse e um livro academico) a pergunta e a seguinte: 0 que e que e 0 assistente social nas autarquias aqui cm Portugal? Essa e a pcrgunta. la procurar responder de duas maneiras: uma primeira maneira e pela recolha que eu diria sistematica, rigorosa, atraves de uma pesquisa que eu suponho que ela vai rapidamente sintetizar ou historiar, e a recolha da reprcsenta9ao social que ha cm torno desse profissional. E ela levante quatro pontos de agrcga9ao, quatro polos dessa representa9ao: a figura do assistente social numa perspectiva assistencialista-humanista, a figura do assistente social cnquanto um joguete das for9as politicas, um joguete das for9as institucionais, um joguetc do podcr, ou a figura do assistentc social como um pronto-socorro social com fun9oes indefinidas e nebulosas que cla chama de pragmatista-imediatista e uma quarta condcnsa9ao de representa9ocs que e a do assistente social como um tecnico especifico para a intervetwao social. Ela levanta as quatro reprcsenta9oes mas, sobrctudo (e isso e que me pareccu extremamente fecundo) ela busca o movimento dessas rcpresenta9oes e insere esse movimento corn muita propriedade na dinamica socio-politica do pais no pos 74. Ate pm·que o univcrso de assistentes sociais que ela pesquisou e as proprias institui9oes sobre as quais ela laborou devem muito ao Portugal posterior a 74, Portugal de Abril, seja do ponto de vista do ordenamento juridico-polltico, a constitui9ao de 76, seja
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Interven~ao
dos pr6prios processos formativos nas escolas. E af me pareceu (nao sei o que e que a Augusta vai dizer, nem o Prof. Braganga) muito animadora, para um leitor que fica a 9 mil quil6metros de distancia mas que se sente comprometido corn o Servigo Social portugues, me pareceu animador a detecgao do movimento de tendencia que a M." Augusta loealiza. 0 que ela localiza precisamente e urn transito, um deslocamento daquela primeira visao, daquela primeira representagao assistencialista-humanista para a representagao do profissional que somos, do nosso profissional como tccnico especffico para a intervengao social. Ou seja, num primeiro momento ela se ateve ao exame dessas representagoes mas o que me pareceu interessante e que ela buscou mais do que isso e esse me parece o aspecto mais importantc do trabalho que tomou conta dessc livro. Eque a Augusta nao ficou nas rcpresentagoes. A minha grancle clivcrgcncia com esse referencial te6rico c que frequentemente ele fica nas representagoes e esquece dos suportes s6cio-polfticos, s6cio-materiais clessas representagoes. A Augusta da o segundo passo: ela busca identificar nas autarquias que ela pesquisou as fungoes dos profissionais, ou seja, ela foi alem do significante, ela buscou o significaclo. Eu penso que nessa pesquisa, ao articular as vinculagoes particulares, concretas, hist6ricas, situadas, das representagoes com o desempenho efectivo de fungoes profissionais esta um ganho para todos nos que eu assinalaria pontuando o seguinte: nao basta que o
Social
assistente social conhega a realiclade na qual ele se insere e preeiso que o assistente social se conhega para conhecer essa realidade. Nesse sentido eu diria que o segundo passo do livro da Augusta transcende largamente uma pesquisa academica e ganha uma relevancia profissional extraordinaria o que nos permite, antes de mais, localizar quais sao efectivamente nao "os" mas ''alguns" dos problemas da afirmagao profissional. A contribuigao da Augusta me parece, sobretuclo, muito relevante porque mostra as possibiliclacles de reflexao do fazer profissional que o Servigo Social contem e que frequentemente n6s subestimamos e que frequentemente reduzem, nao apenas a imagem social e a gratificagao social da profissao mas reduzem a propria consciencia que os assistentes sociais tem do seu papel. Trocanclo em miuclos eu diria que a leitura do texto, alem de trazer um contributo significativo do ponto de vista da analise te6rica, traz um outro contributo num perfodo em que os assistentes sociais estao um pouco perplexos, estao meio perclidos, nao sabem exactamente para oncle e que o barco vai e eu acho que ha razoes objectivas para essa perplexiclade. A perspectiva cla Augusta vai no senticlo de mostrar que o movimento da realidacle portuguesa regista uma tendencia, nao e mais que uma tendencia, de ultrapassagem de velhas identidades profissionais para a construgao de uma nova iclentidade profissional e os assistentes sociais sujeitos clesse processo frequentemente ignoram esse movimento. Nesse sentido eu estou
As Rcprcscnta<;ocs Sociais da Profissao de Servi<;o Social
convencido que a contribui~ao da Augusta e uma contribui~ao relevante, significativa e eu acho que a todos n6s, depois de ler o texto, s6 nos resta dizer muito obrigado por voce te-lo feito." "- Obrigada, eu."
Prof. Braganra de Miranda: "Quero come~ar por agradecer o amigavel convite da Prof." M." Augusta para falar sobre o seu livro, tanto mais porque sabem que eu nao sou do Servi~o Social. Teria alias muito pouco a dizer sobre o assunto depois do que disse o Prof. Paulo Netto mas de qualquer maneira imagino que quando me convidou sabia disso. Aceitei porque aborda um tema que me tem interessado e sera basicamente sobre isso que eu irei dizer qualquer coisa. Mas antes queria clizer que tambem senti, de facto, o problema do que e que se pode dizer de uma pessoa de que n6s gostamos, a nao ser dizer que gostamos dela! Podemos falar do tema e tentarei faze-lo mas antes queria dizer que eu sou uma pes so a que gosta de li vros e ha uma coisa que me impressionou neste livro: sendo um trabalho cientificamente rigoroso Je-se muito bem, e um livro muito bem escrito, cumpre plenamente os seus objectivos ret6ricos e e bastante persuasivo. Claro que ha coisas que me escapam embora uma das que mais me impressionou foi essa capacidade, que o Prof. Paulo Netto referiu, de pensar uma experiencia concreta da profissao. Porque realmente penso que seria um mau
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caminho partir cla teoria, mais ou menos geral, para depois tentar perceber como e que ela se articula com os funcionamentos profissionais e com as representa~iSes no senticlo lato. Isso impressionou-me e faz-me pensar que, contrariamente ao que a teoria das representa~oes sociais implica, ou seja, sabemos que desde Durkheim ha essa tentativa de apreencler algo mais etereo na ac~ao social que o conjunto das partes positivamente consideradas, e normalmente isso levava a uma cisao abrupta entre a pratica e as grandes ideologias. Einteressante verificar que a problematica da representa~ao, tal como aqui c abordada, consegue evitar dois escolhos importantes: um e 0 misticismo durkheimiano que no fundo pressupoe uma entidade mfstica pairando sobre todas as consciencias e sobre toda a experiencia social, entidade que e a das representa~oes, esse misticismo vem de muito longe, pelo menos desde Rosseau, claf a cria~ao de entidades, se quisermos, mfticas, imaginarias para explicar fen6menos que sao muito mais pequenos, muito mais pr6ximos da realidade, muito mais pr6ximos da experiencia. Por outro lado o ter evitado um tipo de concep~ao que seria desenvolver uma teoria das ideologias a prop6sito do Servi~o Social. E um facto que me parece muito positivo. A teoria das ideologias alem de nos reservar a n6s o bom papel de compreendermos como e que os outros se enganam, tem a tendencia, no fundo, de reduzir demasiado rapidamente essa rela~ao entre o pratico, o experiencial e, se quisermos, o
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Interven~ao
nfvel da representac;ao, da imaginac;ao constitutiva da experiencia. Esse escolho e bem evitado pela maneira como a teoria da representac;ao e apresentada aqui pela Prof." M.a Augusta Negreiros aprofundando bastante, pareceu-me, as teses do Moscovici sobre a psicologia social. A sfntese que faz parece indicar que se colocam problemas radicalmente novos ao proprio Servic;o Social. 0 facto e que introduzir esta problematica aparentemente tao afastada dos interesses te6ricos e profissionais corporativos (num primeiro momento receei um bocado o corporativismo do Assistente Social que rapidamente se verifica nao existir) tem muito a ver, se calhar, com o servic;o social pelo menos da maneira como eu o entendo hoje, (o pouco que entendo do Servic;o Social aprendi um pouco tambem com voces), que se colocam desafios que hoje ja ni\o sao os mesmos. E ha algumas indicac;oes neste livro (que nao silo muito desenvolvidas la, mas que clararncnte estao nos sftios certos e nos mornentos certos) que mostrarn que rnuitas das inquietac;oes, hoje, do Servic;o Social ou pelas quais o Servic;o Social passa, tern a ver com tres questoes que aludirei de uma forma muito lata: o problema da cidadania, o problema da comunicw~ao e o problema da mediac;ao no sentido pratico do terrno. Einteressante verificar que o tipo de interrogac;oes que e feito sobre a represcntac;ao nao esta muito longe do que noutras disciplinas esta a ocorrer sobre o problema da figura ou das figurac;oes, das configurac;oes, isto que faz com que hoje, nas nossas areas, o problema da
Social
figurac;ao ou aquilo que o Castoriadis chama a consti tuic;ao imaginaria da experiencia da sociedade, mostra que se calhar a situac;ao das ciencias humanas, como n6s entenderfamos, mudou, mudou brutalmente, e isso tem a ver corn o tipo de sociedade que n6s ternos hoje. 0 que faz com que certos conceitos, que no tempo de Durkheim se apresentariam como aparentemente mfsticos, para nao lhe chamar outra coisa, hoje parece ter outro tipo de pertinencia e a evoluc;ao da ideia da representac;ao podera af ser de muito interesse. Por rnim confesso que me inscrevo mai s na linha que vai, dentro desses problemas, do Keneth Burke ou do Norbert Elias sobre as "human figurations" mais do que no ponto de vista da representac;ao. Mas penso que M grandes afinidades nessa nova procura que tem a ver justamente coma principal transformac;ao que nos estamos a verificar hoje, que e o facto de as relac;oes sociais serem crescentemente constituidas e mediatizadas pela tecnologia, pelo discurso, pela imagem. Ou seja, a representac;ao ja nao e algo que se colocaria a um outro nfvel da experiencia que se faz, mas hoje ja nao se pode pensar essa experiencia, a sua constituic;ao, sem o problema da imagem, sem "representac;ao". Fen6meno que hoje e massivo e que no seculo passado era apenas sintomatico. Lembro-me, se quiserem um exemplo, de uma rcpresentac;ao que teve alguns efeitos terrfveis no seculo passado, o Werther do Goethe que serviu de modelo a muito suicida na Europa. Havia, portanto, um processo que clava uma eficacia imediata, uma
As
Rcprescnta~iics
Sociais da Profissao de
efectividade a uma imagem, a uma representa~ao. Isso que desde sempre nos encontnimos na cultura, tornou-sc dominante no nosso tempo a partir do momento em que a comunica~ao surge com outra for~a e em que a tecnologia coloca, nas rela~oes sociais, novos condicionamentos. Parece mfnimo, mas saber que boa parte das rela~oes ou saber, que passam por computador, como as bases de dados, e da rela~ao entre os homens e as mulheres passam por coisas como o telefone, ou as rcclcs, ou a televisao ... As coisas mudaram: nao e possfvel continuar a pcnsar que esses meios sao exteriores a ac~ao, nao, eles estao hoje incluidos na pr6pria ac9ao, no desenrolar do dia-a-dia. Uma televisao numa sala de estar acaba por ser um parceiro indesejavel ou dcscjavel numa famllia mas tem tanto peso como os componentes da familia c isso e estranho. Ha novas queslocs que fazem com que, realmente, o problcma da imagem, da figura, da represcnla~ao seja importante e realmente estc livro referc alguns deles. Uma das questoes essenciais c claramente que boa parte da constitui~ao da imagem, da representa~ao dos assistcntes sociais hojc passa-se tambcm por esse universo mais lato e por outro !ado, no seu funcionamento, nao poclc dcixar de tomar em conta esse dado, e isso c dito la especificamente. Portanto, no fundo, a primeira conclusao que tiraria para depois avan~ar para uma breve exposi~ao para terminar e a seguinte: as ciencias sociais estao a sofrer uma muta~ao que faz com que elas tenham passado de ciencias da
Servi~o
Social
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identidade a ciencias da rela~ao. Hoje cada vez mais o problema c da rela~ao e nao o problema das identidades estaveis. Qualquer possibilidade de haver o mfnimo de estrategias identitarias passa-se pela maneira como se posiciona nesse campo lato da rela9ao. E esse e um campo extremamente complicado de analisar mas no fundo, ha dois tipos de conceitos que nos sao apresentados que podem ser extremamente uteis para isso. E a vantagem de termos passado da identidade ilus6ria, por exemplo, do sujeito ou da profissao para a compreensao do caracter problematico da propria identidade. Isto torna-nos muito mais responsaveis pelo tipo de imagem que queremos dar, ou o tipo de imagem que queremos representar, ou o tipo de imagem que queremos, de certa maneira, fazer passar. Isso prende-se com os tais aspectos que eu vos disse: maior aten~ao ao relacional, tal como hoje o paradigma comunicacional obriga a pensar, maior aten~ao ao problema da cidadania. Conlrariamente aos regimes e as dimensoes estanques vigentes ate meados deste seculo, hoje a ac~ao dissemina-se a partir de qualquer ponto da experiencia, sobre o conjunto da experiencia e tem maior capacidade de dissemina~ao do que tinha e isso obriga a maior aten~ao aos aspectos de participa9ao dos assistentes sociais nos dois ambitos. Isso parece-me absolutamente essencial. Ora, um dos aspectos da cidadania tem a ver com a capacidade que o assistente social possa ter ou nao de participar nessa forma~ao mais lata da opiniao e nao servir simplesmente de paliativo ou
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Intervcn~ao
de urn tecnico neutro ou tecnico corn urna alrna rnais ou menos grande, etc. Tudo passa por urna razao verdadeiramente polftica e esse aspecto parece-me que nao pode ser posto de !ado se quisermos perceber o que esta a ocorrer numa profissao que tern caracterfsticas muito especiais, na maneira como o texto a apresenta e nao por acaso. Para o fim do livro a Dr." Maria Augusta vai afirmar que e o problema da mediat;:ao. Foi essa uma das questoes que me pareceu mais fascinante no livro. 0 que ha hoje, de novo, no papel de certas profissoes e de certo tipo de saber, e que alguns tem mais capaciclade de funcionar como mediaclores do que outros. Realmente e no interior cla pr6pria experiencia, na act;:ao quoticliana tal como ela se clesenvolve e nas estratcgias de publicitat;:ao, que alguns sao capazes de "ocultar" o seu saber c scrvir de catalisaclores em relat;:ao as paixocs, em present;:a do sofrimento, a pobrcza, tuclo aquilo que constitui uma boa parte da experiencia que n6s j<i conhecemos.Bem dificil a tarefa: servir de catalizador sem se destruir. A lit;:ao que tirei para mim e que ter uma certa frieza na auto-representat;:ao pocle impedir a auto-destruit;:ao nesses processos de mediat;:ao extremamente complicados. Mas esses processos tem que ser feitos, ninguem pode escapar a eles. A Prof." Maria Augusta Negreiros refere quatro formas de mecliat;:ao. Se calhar ha muitas mais mas aquilo que parece ser vital e que (volto novamente a uma figura do Goethe) nao ha verdacleira act;:ao sem mediadores. A act;:ao exige a mediat;:ao: e preciso saber, estar
Social
no meio das coisas sem perder o pe mas tambem sem uma crispat;:ao sobre a identidade. Eessa a grande lit;:ao que eu tirei deste livro."
Dr." M." Augusta Negreiros: "Depois de ouvir este feedback sobre o texto publicado e produzido por mim nao posso deixar de, primeiro que tuclo, agradecer a estes dois amigos o tcrcm-se, por um !ado, clisponibilizado para estar aqui e por outro !ado !er com tanto cuidado e analisar, desta forma, o conteudo do livro. Eu penso que com aquilo que e!es disseram praticamente esgotaram, por assim dizer, o proprio livro. Apenas poderei, para aqueles que nao o conhecem, dar alguns flashes do seu conteuclo. Este texto nasce da tal interrogat;:ao que o Prof. Paulo Netto referiu que e a primeira interrogat;:ao que n6s fazemos quando queremos fazer uma pesquisa, temos alguma indagat;:ao a fazer. E essa indagat;:ao era exactamente, para mim, o tentar perceber se esta profissao que toclos n6s sabemos que tem um determinado tipo de representat;:6es, que para n6s ate nao sao estranhas ... Representat;:6es que n6s conhecemos, que quase assimilamos, e como um jogo entre a vitima e aquele que a produz e eu interrogava-me se, de facto, isto seria sempre assim ou se alterando o quadro contextual, se se fizesse esse tipo de busca em instituit;:6es que nao tinham uma tradit;:ao do "fazer profissional" se iria a! encontrar outro tipo de representat;:6es.
A' Rcpre,cnla~oes ----------------~--~
Sociais da Profissiio de Servir;o Social
Assim eu estava a partir de um principio que a tal representa9ao, que n6s sabemos que existe e que n6s temos analisaclo ja e que, como disse o Prof. Paulo Netto, ultimamente tem sido bastantc analisada em termos de algumas pesquisas feitas (o que e que nao estao publicadas ainda) que e a perspectiva 0 tal lastro onde nasceu a profissao que aparece funclamentalmente numa postura de assistencia, numa postura junto da pobreza, mas com uma determinada carga. Ora bem esta e a grancle reprcscnta9ao que n6s sentimos que existe cm tcrmos sociais e que, de certa forma. muitas vezes assimilamos, outras vucs recusamos. Questionava-me se num oulro quadro, sem esta hist6ria, sem cstc peso, sem esta carga institucionaL cvcnlualmente, havera outro tipo de rcprcscnta96es. E e a partir desta interroga<;ao que eu vou fazer entao a pesquisa num quadro que e novo para a profissao, que c() quadro autarquico. Sabemos que o scrvi9o social e relativamente rcccntc, cm termos hist6ricos, no quadro autarquico. Esta pesquisa e latwada em tres autarquias da zona metropolitana de Lisboa, e eefectuada, como ja foi clito, a parlir da teoria das representa96es. A partir dessa pesquisa eu vou chegar, cu vou tentar fundamentalmente estudar, dctcctar quais as representa96es que, evcntualmente, se encontram no quaclro analisado. 0 quadro analisado e0 quadro autarquico organizacional, portanto, os sujeitos que vao ser inquiridos sao autarcas tecnicos e administrativos que tem uma rela9ao estreita com esta pro-
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fissao, rela9ao fundamentalmente de caracter funcional. A partir desta pesquisa eu vou entao tentar detectar quais as representa96es que se encontram nesse quaclro estudado e YOU tambem trabalhar COI110 C que sao produzidas essas representa96es. E cvidente que eu nao vou agora aqui clescrever isso, seria extremamente moroso e nao e exactamente esse o nosso objectivo, apenas clizer, como ja aqui foi referido, que, vou detectar quatro tipo de representa96es naquele quadro autarquico. Nao e de forma nenhuma minha inten9ao, nem pocleria ser, fazer uma extrapola9ao sequer para todo o quadro autarquico. Eu penso que e um quadro autarquico especial, que e a zona metropolitana de Lisboa. E af, vamos encontrar funclamentalmente quatro representa96es: a reprcsenta9ao assistencialista-humanista cujo quadro n6s conhecemos, que tem as caracterfsticas, em tnl90s largos, da caracterfstica assistencialista que a profissao tem desenvolvido e tem, inclusivamente, analisado. E a figura que aparece referida como dominante, a figura que e atribufda, em termos de representa9a0 C, a figura de "salvador" ou "anjo-da-guarda". Numa seguncla posi9ao n6s vamos encontrar entao uma re~resenta9ao pragmatista-imediatista que se caracteriza funclamentalmente por atribuir a esta profissao uma fun9ao de resposta imediata aos problemas que se colocam sem buscar as causas dos problemas. Euma resposta imediata. A imagem que !he aparece atribufda e a imagem do "pronto-socorro" ou o "bombeiro", que
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Interven<;ao Social
e textual. Este tipo de figura e uma figura que aparece textual na propria fala dos entrevistados. Depois vamos ter uma terceira posigao que e uma posigao que aparece neste quadro, muito residual, que e posigao de "joguete do poder". A profissao e vista como urn intermediario, e uma visao, digamos assim, ilusoria da profissao de se colocar como intermediario entre a instituigao, enquanto instancia de poder, e a sociedade. No entanto e uma posigao em que, de facto, nao !he e atribufda a capacidade de resolugao dos problemas e !he e deixado apenas o espago de ser jogado nas situagoes, de ser um joguete do pocler. A figura que aparece atribufda c, de facto, a imagem de "confom1ista", aquclc que e o conciliador, o conformista. E na quarta posigao e ultima aparccc entao uma outra imagem, uma outra representagao que considera a profissilo como "tecnico especifico para a intcrvengilo social" em que aparccc uma imagem, de facto, que para mim foi nova. Nova enquanto pensamento social dos sujeitos, em que a imagcm, a figura central aparece definida como o interlocutor privilegiado no contacto com as populagoes. Sao estas as quatro grandes representagoes que depois sao apresentadas em tennos quantitativos e com surpresa minha a maior tendencia aparece exactamente nesta quarta posigao. De facto isto vai levar-me a algumas das interrogagoes subsequentes que o Prof. Paulo Netto referiu, ou seja, estas representagoes estao estabilizadas ou encontram-se em transformagao? Eu
vou ten tar responder a essa interrogagao enraizando est as representagoes, tentando buscar a sua fundamentagao no percurso que a propria profissao foi fazendo ao longo dos seus 60 anos neste pafs. No final intenogo-me sobre as consequencias destas representagoes em termos da relagao da profissao com a sociedade e af acho que nao vou dizer mais nada porque aquilo que o Prof. Braganga de Miranda disse, fe-lo de uma forma tao clara em termos de uma pcssoa que esta do exterior, que captou perfeitamente e enriqueceu esse quadro. Assim quando ele diz que ha tres questoes fundamentais que e a questao da cidadania, que e a questao da comunica<;ilo e da mediagao, de facto, silo estas as questoes que na pesquisa me ressaltam fundamentalmente. Aquela minha primitiva interrogagao vem ter uma respasta que e: ha um quadro que se altera, em termos institucionais. E o quadro que se altera e que o social, no quadro autarquico, alter a a sua posigao re sidual, porque a propria autarquia em termos de estruturagao e em termos de constituigao, tambem se alterou no pos 75. Portanto, o social entra no jogo do proprio poder, o social e moeda que vai ser jogada no jogo polftico e entao essa questao vai mexer directamente com a questao da cidadania, com a questao da importancia do social, daqueles que trabalham com aqueles que tem determinado tipo de problemas, entao se o social ganha um outro papel tambem a este profissionallhe esta a ser atribufdo um outro papel. E daf essa posigao de interlocutor privilegiado. Porque? Por-
As Representa<;:6es Sociais da Profissao de Scrvi<;o Social
entre a institui~ao e a e, em termos do jogo polftico, uma rela~ao extremamente importante. E o profissional que aparece como mediador nesta rela~ao pode ter tambem aqui um papel importante. Quando digo papel importante e um papel que tem visibilidade, que ganha outro espa~o, que ganha outro rosto, portanto, aparece entao o problema da media9ao e, desta forma, aparece entao a necessidade da comunica9ao. Que n6s ja tinhamos, nao e nova corn certeza. Eu penso que nao e. Esta profissao tem-se definido, para si, nos ultimos 30 anos, como uma profissao de rela9ao. Agora, o ser olhada do exterior, desta maneira, eu penso que tem alguma noviclade e para mim foi tambem uma certa novidade, uma certa surpresa, o cncontrar este tipo de olhar sobre a profissao. Era apenas isto. Agrade~o a todos o estarem aqui" que a
rela~ao
popula~ao
* Prof. Paulo Netto (2." parte): "Eu queria fazer tres observa~oes, agora fora daquele quadro inicial. A primeira e a seguinte: eu sou muito irresponsavel e eu ja vou adiantando aqui. Eu li o livro da Augusta logo que ele saiu, ha dois ou tres meses atras. Eu o li no Brasil. Ha enormes diferen9as entre a hist6ria do servi9o social brasileiro e a hist6ria do servi9o social portugues, enormes diferen~as. Embora o servi9o social no Brasil tenha nascido numa conforma~ao politica que tinha o curioso nome de Estado Novo
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(nao por acaso), o desenvolvimento politico do servi9o social brasileiro foi muito distinto do servi9o social portugues. Nao apenas pelo quadro politico e pela particularidacle hist6rica portuguesa mas pm路que os dois protagonistas importantes nesse processo de institucionaliza9ao, o Empresariado e a Igreja, tem caracter!sticas muito distintas nos nossos dois paises. No entanto me chamou a aten9ao (e por isso e que eu avisei da minha irresponsabilidade) eu nunca fiz nenhuma pesquisa sobre as representa9oes do servi9o social brasileiro mas ha algumas pesquisas feitas com outras grelhas analfticas mas me pareceu, e eu quero deixar isso bem claro, eu nao tenho base impirica, nao tenho base para provar isso, mas eu me atreveria a dizer que ha uma enorme similitude entre as representa~oes aqui registadas e as la existentes. Isso me chamou muito a aten9ao e eu discuti corn alguns companheiros brasileiros que conhecem o trabalho da Augusta, nomeadamente a Orsula, e eu acho que e inspirador, pode ser inspirador e instigante essa minha irresponsabilidade de dizer "Tem muita similitude". Eu creio que o jogo de causalidades e diferente, sao hist6rias muito distintas mas deve haver alguma coisa comum ai nesse servi~o social. Deve haver um substrato que permita esse tipo de reflexo. A segunda e uma pergunta que eu queria fazer a Augusta (e e uma pergunta que tem muito a ver com a observa9ao final do Prof. Bragan9a): eu nao fiz nenhuma referencia, embora seja
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lntervcn9ao Social
especffico no texto e o Prof. Bragan~a de Miranda apontou, sobre a questao da cidadania. Isso aparece no texto, e eu acho que essa ... para nao ficar no conceito classico do Marshal, que me parece nao ser o seu ... a minha duvida e a seguinte: 0 que e que se entende exactamente por cidadania? Sabe parque e que eu fa~o essa pergunta? Pm路que a hist6ria que o texto resgata e capta e a hist6ria, digamos, muito seguramente posterior a 75 quando ha um ordenamento jurfdico, polftico no pafs, nao direi consensual mas que num certo momento galvanizou a sociedade civil portuguesa ou pelo menos aquilo que havia de activo nessa sociedade civil. Pois bem! Ao longo do processo que voce descreve voce faz a sua pesquisa ... (ate 85 a recolha de dados, nao c'?), ate af esse processo cfvico, de direitos, garantias que compoem esse elenco da cidadania me parece que nao estava sensivelmente vulnerabilizado na sociedade portuguesa. Ja havia um processo de revisao constitucional mas me parece que o grande arcabou~o estava la, inteiro. Ora dez anos depois (o livro e publicado em 95) muita coisa mudou em Portugal. A pergunta que eu fa~o e a seguinte: hoje, voce diria que o que sustenta o movimento que vai da primeira para a quarta representa~ao (mesmo que voce tenha tornado o cuidado de circunscrever: "nao e em todas as autarquias, nao e em todo 0 campo profissional, sao autarquias), se eu entendi bem a diplomacia da Augusta sao autarquias polarizadas por uma cidade onde coliga~oes de esquerda tem peso, nao e?
Tem perfis politicos af. A minha pergunta e: dez anos depois o que sustentava esse movimento continua vigente? Isso tem tudo a ver com a no~ao de cidadania porque se eu nao sou um observador da vida portuguesa muito inviesado (e alguns daqui ja conhecem os meus vieses) houve uma perda de substancia nesse processo de conquista cf vica. Me parece que certos sec to res da sociedade portuguesa veem isso com clareza embora seja muito polemico, e claro (depende do ponto de vista do observador). Mas no ponto de vista objectivo, precariza~ao do trabalho, recibo azul (ou verclc, sci la), isso tem implica~;ocs nos cstatutos de cidadania mcsmo que eles nao sejam definidos exclusivamente por garantias juridico-fonnais mas elas sao necessarias. Tambem pergunto: em 1995, corridos dez anos, esse movimento existiria? Eu sei que voce nao tem uma pesquisa sobre isso, aten~ao, nao estou te cobrando outra pesquisa, nao, mas a tua impressao. 路'路,.
Dr." M." Augusta (2." parte): "Mas e exactamente essa interrogaEu tambem me tenho colocado. Se hoje esta pesquisa, esta tendencia, se continuaria a manifestar ou se, eventualmente, haveria outras figuras. Nao sei. De facto, acho que ate ha aqui pessoas do meio aut<irquico que podem eventualmente pronunciar-se. Tern uma experiencia vivida, ate interessante ... ~ao ...
i\s Reprcscntaqocs Sociais da Profissao de
E evidente que nos sabemos que mesmo em termos da propria institui9ao autarquica o movimento em 85 era um movimento ascendente numa determinada linha, mesmo em termos legais, e depoi s ha um certo refluxo. Portanto provavelmente isto tera alguns reflexos aqui nesta questao das representa96es da profissao."
* Prof. B. Miranda (2." parte): "Quando li as quatro figuras que sao uma especie de "ideal-tipo" tambem me surpreendi com o fenomeno, pois j<1 tinha encontrado qualquer coisa de similar em sociologia, quando me formei. Aquelas velhas polemicas entre o positivismo e nao-positivismo, etc. Ha questoes que sao esperadas e esperado e tambem esse genero de inquieta96es de que fala o Prof. Paulo Netto, e quanto a mim pela seguinte razao: e que, realmente, as ciencias sociais no seu conjunto, por mais que se tenham dividido, desempenharam um tipo de fun96es na constitui9ao da experiencia moderna, formalizando-a, que e natural que se repitam algumas estruturas. E o que me pareceria mais interessante dizer, e eu tentei dize-lo delicadaI?ente, que nao e boa essa estrutura9ao. E uma estrutura9ao muito rfgida em termos de identidade, nao da essa flexibilidade que eu acho que e mais politica, no sentido lato, mas que e formada por esses elementos e todos os outros. Essas contraposi96es rfgidas tem muito a ver com a velha oposi9ao entre o tecnico
Scrvi~o
Social
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neutro e positivista, e o humanista. De uma forma diferida repetem esse mal constitutivo das ciencias sociais na modernidade que nos conhecemos: voces todos conhecem o Foulcaut, nao vou repeti-lo. Sobre a questao da cidadania so queria dizer que penso que e um problema essencial: depois do 25 de Abril ate 79, o problema da cidadania nem se punha pm路que havia cidadao, ou scja, estavamos a fazer coisas mais importantes do que estar a discutir os nossos direitos, estavamos a construir os nossos direitos estavamos a construir a nossa vida comum, etc. E isso certamente, e evidente, com todos os problemas. Havia, apesar de tudo, uma comunidade polftica, e a certo momento, quando isso desaparece, o que fica pouco mais sao que os direitos, e entao passamos a]uta por outros direitos como ultimo reduto. Imaginem o que e um assistente social que tem um ordenado da Camara e trabalha das 9 as 5. Nos na altura trabalhavamos enquanto nao dormiamos: trabalhavamos de manha, de tarde, de noite ... Quando a gente come9a a fazer esse genero de divisoes realmente a questao dos direitos tem um certo interesse e eu penso que hoje a situa9ao parece indicar isso: que o pior caminho que os assistentes sociais podiam seguir seria impedir, justamente, o servir de amortecedores, dos processos de publicitayao, de certo tipo de experiencias que sao marcantes na vida e marcantes para a propria constitui9ao da consciencia dos indi vfduos em certo tipo de situa96es. Esse amortecimento e conhecido, por exemplo: um hospital tem um
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lnterven9ao Social
servi9o para acolher as queixas dos tltentes mas aquelas queixas todas juntas comparadas corn urn caso que chega aos jornais tern muito menos peso. Epreciso ser capaz de mediar, bem como saber decidir, qual e o momento certo, o momento em que e preciso publicitar. A segunda questao e a seguinte: em que medida e que, realmente, a cidadania pode ser sentida de forma que a propria visao da institui9ao saia completamente transformada, ou seja, que seja um palco de !uta pela extensi'io da cidadania no seu interior? Af cada um e responsavel mas tambem, de certa maneira, os assistentes sociais. Eu na minha Universidade tento o mais possfvel para que nao haja ea fora uma democracia formal e depois dentro da minha Universidade uma ditadura sapiencial. Nunca a aceitaria e nenhum de n6s eternamente aceitaria isso. Ha lutas essenciais a travar em torno desses direitos. E fundamental uma estrategia que realmente impe9a que os velhos espa9os de despotismo que estavam !ado a lado da sociedade politica, jurfdica do Estado democratico e que se mantinham mais ou menos disfar9ados
sob estatutos inaceitaveis, corn os tecnicos, ainda por cima a ajudar, etc, etc, etc, Tudo hoje devera ser posto em causa por uma nova concep9ao do que e a cidadania, por uma nova concep9ao do que e a media9ao e isso exige uma ciencia do concreto, uma ciencia do singular e nao uma teoria geral. Em cada momento concreto ha um momento para publicitar, ha um momento para nao publicitar, ha um momento para lutar, ha um momento para nao lutar, mas deve-se saber ser capaz de ajuizar. Agora, o mau carninho seria que esse processo fosse, por exemplo, em torno da identidade do assistente social ou outro qualquer. 1:3uscando um sucesso corporativo. Este trabalho da Prof." M." /\ugusta pode contribuir para urna outra pcrspcctiva, menos centrada sobrc a "idcntidadc". Como sabem o Fernando Pessoa dizia isso num dos livros dele: "Da rnuito trabalho aprender a desaprender". Este trabalho, que explicita tao bem a maneira como foram construfdas, ao longo do tempo, as representa9oes, ajuda-vos tambem, de certeza, a desconstruir.
INDICE DOS NUMEROS ANTERIORES REVISTA N. 0 1 (Esgotada) • • • • • • • • • • • • •
DOSSIER: Interven~;ao Social em Comunidades Urbanas 0 Espa~;o como Poder e o Poder do Espa\;O. !sa bel Gucrra Dinamica Social e Produ~;ao de Arquitectura num Bairro Urbana. Porjfrio Alves Anos 60- Interven\;iiO Social em Comunidades Urbanas Ac\;6es de Promo~;ao Social cm Lisboa. lsabel Geada Trabalho Social de Comunidades nos Bairros Camararios do Porto, M." Augusta Negreiros Guiao de Caractcriza\;iiO duma Comunidade Urbana - Achegas para uma invesliga\;aO, Pedro L!Jff' Mesa Redonda: Opticas Sectoriais de Interven\;iiO Social em Comunidades Urbana, Francisco Branco, Manue/a Portas, Odete Sci e Tercsa S1i Preven<;ao em Saude Mental- Projcclo de Ac~;ao Directa numa Comunidade Urbana, Luisa Ferreira da Sih·a Para uma Reflexao sobre a Pr<ilica Profissional dos Jovens Assistentes Sociais, Nuno Caiado, Fcitima Arlllijo Pelo Munclo: Lille- Alma Jacquel, Estralcgias Populares, Paul Grimonpre; Informa<;6es Leituras
REVISTA N. 0 2/3 • • • • • •
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DOSSIER: Servi\;O Social, 50 Anos de Forma~;ao 0 Que Est<\ em Jogo no Trabalho Social, Yves Bare/ Piano de Estudos do Instituto Superior de Scrvi~;o Social de Lisboa Aprcndizagem Experiencial e Forma<;ao em Servi\;O Social, Francine Gullet -Dupe e Jocelm Lindsm· Estagios no ISSS de Lisboa no ano lectivo 1984/85, Fmncisco Branco A Importiincia dos Estagios na Formaqao em Servi~o Social no Sector do Trabalho no ISSS. Dinah Ferreira 0 ponto de vista Institucional sobre o valor dos estagios 0 Instituto Superior de Servi~o SociaL Cooperativa de Responsabilidade Lda., Jorge Cabral Programa de Interci\mbio entre a PUC deS. Paulo e o ISSS de Lisboa Noticia sabre o Projecto de Forma\;iiO para Agentes Rurais, Manuela Marinho 0 Palacio do Metelo, Segismundo Pinto A Evolu\;iiO da Forma~;ao dos Assistentes Sociais no Instituto de Lisboa, Emesto Fernandes Elementos para uma Cronologia do Servi<;o Social em Portugal, Ernesto Fernandes Apontamentos para a Compreensao do Ensino no Instituto Superior de Servi90 Social cle Coimbra 0 Instituto Superior de Servi<;o Social do Porto 0 Seminario sobre Trabalho Social e Promo91io Humana. Marflia Andrade Comcmora\;6es do Cinquentemirio. Ernesto Fernandes Uma Profissao c a sua Hist6ria na Cidacle do Porta A Associa\;ao dos Profissionais de Servi\;O Social 0 Sindicato Bibliografia
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Social
REVISTA N.o 4 • • • • • •
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A Pratica Social na Moclernidade. M." do Carmo Falcc7o Novas Pcrspectivas cla Participa(:ao na Ac~ao do Servic;o Social, Mrriam Veras Baptista Controversias sobre o Assistente Social, Alda(za Sposatti Um Perfil de Pobreza, Fernanda Rodrigues Algumas Rcflcx6cs sobre a EcluuH;ao Pre-Escolar, M" !!elena Teixeira da Silra I. o Mestrado em Serviyo Social Piano de Estuclos dos Cursos de Mestrado e Doutoramento em Servic;o Social Jornaclas de Servi<;o Social Encontro Nacional de Servic;o Social Departamento de Formayao Permanante Bibliografia (sobrc a termitica da pobreza, polftica social e acc;ao social)
REVISTA N.o 5/6 • • • • • • • • • • • • •
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DOSSIER: Licenciatura em Serviyo Social Genese e Emergencia do Servi(:o Social, Bernardo Alfi·edo HenrfiJliC~ C. Municfpios e Polfticas Sociais cm Portugal, Francisco Branco Mudanc;a Social: Novos Problemas de Hoje, Marco J\1/archioni Fronteiras do Comportamento clas Mulheres na Sociecladc Contemporanea, Josefina lv!cDonough eRoseman·Sarri Contribuic;oes cla Psicologia Social Cognitiva, filix Neto As Pniticas dos Asssistentes Sociais num Servi~o de ;\ssistcncia Publica. Alcina lvlonteiro, Fmwnda Rodrigues eM." Heiena Nunes Planeamento Social de Nfvel Comunitario corno Prcvcn<;ilo Prirnaria de Sat\de Mental, Luisa Ferreim da Si/\'{/ Education Popular en Nicaragua. tV!ilrc IBmmerink. (iemrdo Prinsen e M. Rlunca Diego LICENCIATURA EM SERVI(:O SOCIAL Licenciatura em Scrvi~o Social Elcrncntos Principais de urn Proccssl>. M." ;\ugustu Negreiros Memorandum Pareceres sobre os Pianos de Estudo do ISSS de Lis boa c/ou Porto cla: • Michigan State University • Fachochschule Mlinchen • University of Minnesota • Pontiffcia Universidade Cat61ica deS. Paulo • University College Dublin Pianos de Estudo Curriculares dos Cursos Superiores de Servi~o Social • do ISSS de Lisboa • do ISSS do Porto • do ISSS de Coimbra Portarias Entrega Solene dos 1."' Diplomas da Licenciatura de Servi(:o Social Delega~ao do ISSS cm Beja Departamento de Formayao Permanente Carreiras Profissionais Bibliografia
REVIST A N. o 7 • A Escola da Ciencia Social de Le Play na Constru~ao do Conhecimento do Servi9o Social Portugues, Alcina Martins • Servi~o Social, Habita9ao e Autarquias: Movimento e Liames da Pnitica e da Teoria, Marilia Andrade
fnclice dos Numeros Anteriores
I 03
• Que Forma9ao em Servi90 Social para os anos 90, Dinah Ferreim • 0 Servi9o Social Hoje, Jose Paulo Netto • Interven9ao do Servi9o Social na Divisao de Espa9os Verdes da Clmara Municipal de Sintra, Ana Moria Simclo • A Pdttica em Analise, Conceirilo Ferreira. Delia Caires e !dilia Cameiro • li Curso de Mestrado em Servi9o Social • I Curso de P6s-Gradtta9ao cm Administra9ao Social • Bibliografia
REVISTA N.o 8 • Estado e Profiss6es, M" Augusta Negreiros • 0 Surgimento do Servi9o Social nas lvliseric6rdias Portuguesas, Ana Fmwndes, He/ena Dim. M." Lurdes Ferreira, Teresa Cabrita • Participa9aos das IPSS nas Polfticas Sociais, Cora Ferreira, Manue/a Raimundo, Ruth Cama/hc7o • Crise do Estado Providencia. Univcrsalidade e Cidadania: um Programa de lnvestigayao e Ac91io para o Scrvi9o Social, Francisco Branco • A Pratica Profissional do Assistente Social numa Intervenyao nao Directiva, Jorge Ferreim • !I Curso de P6s-Graduayao em Administra9ao Social • Mestrados cm Scrvi90 Social • Centros de Investiga9ao • Bibliografia
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REVISTA N. 9 • • • • • • •
DOSSIER: Mestrado em Servi9o Social Servi9o Social: Traject6rias e Estrategias, Vicente de Pew/a Faleiros Le Contrat en Travail Social- Fondements Ethiqucs et Operationnalite, Critsina de Robertis Doentes Cr6nicos e Espayo Profissional do Assistente Social, Beatri~ Couto Pobreza, Marginalidad y Salud Mental, Macarena Diuana Crise Global Contemporanea e Barbaric, Jose Pauio Netto Dossier: Mestrado cm Serviyo Social • lnformayao • Piano Curricular do Mestrado em Serviyo Social o Regulamento do Mestrado o Portaria de reconhecimento do Mestrado